Actions

Work Header

Rating:
Archive Warnings:
Category:
Fandoms:
Relationships:
Characters:
Additional Tags:
Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2024-12-26
Updated:
2025-01-17
Words:
23,701
Chapters:
2/?
Comments:
23
Kudos:
29
Bookmarks:
4
Hits:
472

Um Novo Começo

Summary:

"[...] Em Harrenhal ele pensou em ser o rei, em ter aqueles olhos mel olhando para ele procurando e pedindo proteção para ela e por seus filhos... Como ela tinha feito para o rei, em Driftmark e foi negada, sendo deixada só, decepcionada, magoada. Ele não a negaria isso. Nunca. Ele pensou em seus cabelos cor de fogo, grandes e encaracolados ao seu redor, rodeando ele e ela em um ninho quente, recheado de paz, carinho, compreensão, tudo isso enquanto ele passava seus dedos por entre os cachos sedosos que engoliam seus longos dedos, fazendo os seus anéis de aço valeriano com rubis e ônix sumirem em seus cabelos ruivos; ele pensou em enfiar seu nariz em seu longo e belo pescoço de cisne e beijá-lo, seu cheiro desconhecido nublando sua mente e seus gemidos sendo um dos melhores sons que ele já havia escutado, uma voz doce, harmoniosa, honesta... Uma mulher que foi feita para ser mãe, uma mulher perfeita para ser esposa, uma mulher maravilhosa em ser rainha.[...]"
"[...]Em pensar que ele tinha algo parecido com um Hightower... Como se tivessem sido feitos do mesmo tecido... Era realmente o fim para ele se ele estava pensando que tinham algo em comum. [...]"

Notes:

- Essa história está disponível apenas nessa plataforma, em Português e Inglês, apenas neste perfil.
- Inglês não é minha primeira língua, na verdade, é a 3°, por favor, tenham isso em mente quando comentarem.
- Por favor, comentem, a favor ou contra, estou a todo ouvidos, peço, apenas, para que todos prezemos pelo respeito.
- Essa história irá conter sexismo típico para o tempo, assim como todas as coisas típicas e já esperadas do mundo de GRRM.
- Sim, normalmente todos os meus capítulos são extensos e detalhados. Sinto muito se não for seu tipo preferido de leitura.
- Essa história pode ser considerada um arco de redenção (?).
- Se você gosta de Viserys, e o acha tolo e ingênuo, essa fanfic irá mostrar MINHA perspectiva sobre esse homem... Não vai ser algo tão simplório.
- Se Otto não é um simplório na série e livros, lidando com um Viserys bobo, acredite, esse homem, esse Otto, SERÁ muito mais complicado, afinal, ele estará lidando com um Viserys perigoso e mau... E Otto É um bom pai!
- Falando em simplório Daemon não é um simplório, tendo várias camadas e iremos perseguir muitas delas. Alicent não é nada simplória também, não importa que destino vocês DECIDIREM... Isso mesmo que você tá lendo.
- Eu tenho uma ideia de dois caminhos a serem seguidos nessa história:
1) Alicent também voltou porque, assim como Daemon, ela se arrependeu de tudo. Assim fazendo a personagem tendo de enfrentar tudo que ela passou e tendo de lidar com novas realidades, reencontrar antigos carrascos, lidar de frente com traumas, APRENDER a lidar com esse Daemon, ao qual ela nunca teve acesso e que certamente achou que nunca existiria, pelo menos não para ela. Alicent tendo de reaprender muitas coisas, aprendendo a amar e ser amada, aprendendo que sim, ela merece amor, respeito e proteção...
OU...
2)Alicent não volta, e Daemon tem de lidar com uma Alicent -que não se enganem, não será nada simplória, afinal, ela é filha de Otto- que não passou por tudo que ele passou e tudo que Daemon sabe que ela passou, inclusive muito dos sofrimentos na vida passada que ele sabe que causou a ela, uma Alicent que não sabe nada do que aconteceu e terá que tentar lidar da melhor maneira possível com intrigas, com políticas, novos sentimentos, raiva de Rhaenyra, medo de Viserys, uma proteção inesperada de Daemon. Uma Alicent que não está marcada pela dor da vida antiga, que não terá um pé atrás com os sentimentos que terá por Daemon, que não terá um pé atrás por tudo que teve de suportar (toda a dor, morte e angustia), uma Alicent que NÃO terá dificuldade em zelar Daemon, em tentar o entender e o procurar por proteção.
SE PUDEREM DIZER SUAS OPINIÕES, sobre qual caminho vocês gostariam que essa história fosse, por favor comentem e digam 1 ou 2.
- Saibam que levarei o caminho que a maioria de vocês desejarem ser seguido.
- Saibam, a história irá ter um final feliz, independente de qual rumo vocês escolherem, a diferença será com o que cada um dos personagens terão de lidar individualmente e entre si, no relacionamento de ambos.
- NÃO haverá traição entre o par principal aqui, pois esse tipo de história me dá ânsia e angustia.
- Sim, eu escrevi esse capítulo escutando So long, London de Taylor Swfit, por que? Bom:
"Eu mantive a calma e carreguei o peso da fenda
Puxei-o com mais força cada vez que ele estava se afastando
Minha coluna se partiu por nos carregar colina acima
Com minhas roupas molhadas, ossos cansados expostos ao frio
Parei de tentar fazê-lo rir,
Parei de tentar perfurar o cofre
Pensando no quanto você achou que eu estava triste,
Você achou que eu tinha em mim?
Ah, a tragédia [...]"
"[...]Parei a ressuscitação, afinal não adianta
O espírito se foi, nunca chegaríamos
E estou chateada por você me deixar te dar
Toda aquela juventude de graça[...]"
"[...] E você diz que abandonei o navio,
Mas eu estava afundando com ele
Meu apreensivo aperto
Segurando firme o seu ressentimento silencioso
E meus amigos disseram que não é certo ter medo [...]"
"[...]Quando você não tem certeza se ele quer estar lá[...]"
"[...]Você jurou que me amava, mas onde estavam as pistas?
Eu morri no altar esperando a prova
Você nos sacrificou aos deuses nos seus dias mais tristes
E estou apenas recuperando a cor no meu rosto
Estou muito furiosa porque adorei este lugar
Até logo, Londres
Tivemos bons tempos
Um momento de sol quente
Mas não sou eu[...]"
- Vocês conseguem ver um arrependido (por viver toda sua vida tentando manter o legado dos Targaryen vivos. Perseguindo sonhos. Tentando ser um bom irmão. Um bom marido. Um bom pai. Mas nunca o suficiente.) Daemon nessa letra? Porque eu juro que consigo!

- Espero que aproveitem o capítulo!

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: Nós somos 1, somos 7 e somos 14

Chapter Text

- Daemon -

Caindo de Caraxes para a caminho de sua morte certa, Daemon se arrependia de tudo.

Absolutamente tudo em sua vida.

Cada escolha.

Ele queria ser amado. Ele queria amar. Queria ser respeitado. Queria ser um homem que, pelo menos, sua família confiasse, que sua família o procurasse para que ele pudesse agir como seu protetor, como seu escudo e espada.

Ao invés disso toda sua vida ele foi tratado como um cachorro louco que deve ser mantido em coleira curta por toda essa família que ele queria tanto proteger e amar.

Ele foi tratado como, apenas, útil.

Útil para realizar atos de crueldade e matança, as vezes necessárias, mas que mesmo justificadas, o peso dessas mortes recaia sobre os ombros dele.

Só dele.

Sim, ele sempre foi arrogante sobre ser mais um dragão e mais perto dos Deuses do que qualquer um, embora, com o tempo, cada vez mais, muitas vezes mais, essas palavras se tornaram mais uma fachada do que deveria ser o Príncipe Rebelde, ele realmente não acreditava mais em tais palavras, mesmo assim, tentou manter a fachada desse Príncipe impulsivo e raivoso. Tolo, era isso que ele era. Assim ele só manteve as pessoas mais longe dele. Ele não tinha visto isso antes, mas via agora. Infelizmente, ele só via isso agora, perto do seu fim.

Sim, é verdade, talvez ele fosse mais dragão do que os outros, e mais perto dos Deuses do que todos os outros que não faziam parte da casa do Dragão, mas no final do dia ele era apenas um homem. Um homem que tinha de suportar o peso das mortes e toda a crueldade que fez, tudo em lembranças e de consciência pesada: das noites de pesadelos cheios de gritos de dor, vozes implorando por suas vidas, barulhos de espadas chocando, cheiro acre de carne de pessoas mortas pelo fogo de seu dragão, muitas dessas inocentes. Um homem torturado por memórias e traumas de infância. Um homem torturado por anos de guerra. Uma guerra que no final não valeu de nada para ele, nem em ouro, nem em títulos, nem em respeito, apenas longas noites de pesadelos.

No final, não importa o quão dragão ele fosse, e o quão mais perto dos Deuses ele achava que estava, ele era um homem carente, com uma vida cheia de dor, frustração, ressentimento e tristeza, era uma alma torturada que clamava todos os dias por paz.

A queda parecia ser infinita enquanto sua lamentável vida passava por seus olhos.

A perca de sua amada mãe e de seu irmão mais novo.

A perda de seu adorado pai, que antes mesmo de realmente morrer, estava morto em vida... E tentou por meio de palavras e espancamentos levar o seu próprio filho mais novo, o próprio Daemon, a morte, afinal...

Ele era tão parecido com Alyssa. Baelon não deveria ser torturado assim, certo? Não, não Baelon, então talvez Daemon devesse...

A traição de sua avó e amado avô que o forçou a casar com sua cadela de bronze, afirmando ser uma aliança com o vale, sendo que Aemma era da casa Arryn do vale, os Royce sendo vassalos deste, assim, sendo uma aliança estúpida, sem benefícios, e preso com uma mulher que não era apenas feia, mas que tinha um humor pior que sua cara e corpo, que não sabia ser elegante, modesta, e com certeza, não sabia ser feminina. E que mesmo que ele tentasse fazer o casamento funcionar no começo, foi apenas ridicularizado por essa, assim, fazendo com que ele fizesse o mesmo com ela... Anos perdidos. Anos de traição. Anos de solidão. Anos de dor. Anos cheios de palavras cortantes, que mesmo que ele fingisse que não... Sim, machucavam...

“Ah, nem seu irmão te suporta mais e te enviou de novo para cá? Quanto tempo o cachorrinho vai ficar dessa vez até ser chamado como um cão de caça para ajudar seu irmão a manter aquela monstruosidade, que chamam de trono, para si?”

Ha!

Se ele tivesse forças ele riria agora, ele riria dessa memória de sua cadela de bronze jogando essas palavras cheias de escárnio para ele. Bem, em pensar que sua primeira esposa tinha visto o que ele era para Viserys, algo que ele só percebia agora, perto da morte.

Seu irmão...

Tinha uma lista enorme de traições para seu, não mais amado, irmão.

A traição de seu irmão Viserys que quando se tornou rei, mesmo com todas as suas promessas, mesmo assim, mesmo ano após ano pedindo a anulação do seu miserável casamento, seu irmão o negou... Na verdade foram muitas as traições de seu irmão contra ele: os exilos, as humilhações públicas, as promessas de cortar sua língua ou execução, ignorar seus conselhos, o chamar de segundo Maegor, o lembrar que nem o pai o suportava, o machucar e o jogar longe todas vezes que não era mais necessário, e o chamar como um cachorro sempre que necessitava de um cachorro louco para fazer o necessário e depois o expulsar como se não fosse digno de estar na corte do seu próprio irmão... Daemon juntou um exército para Viserys no Grande Conselho, tanto para apoiar Viserys, como para estarem prontos para chamar e levantar os estandartes para uma guerra contra sua prima Rhaenys e seu marido Corlys... Para depois que Viserys se tornasse rei, na primeira semana, ele negasse a anulação do seu casamento e o mandasse para o Vale... E ainda tinha mais... A troca dele de um herdeiro legítimo homem, ele, por sua filha mais nova e imbecil Rhaenyra, a proibição de casamento de Daemon com Rhaenyra o que só o levou a ter mais curiosidade e mais fome para ter aquilo que ele achava que merecia... Uma mulher linda de sangue valeriano puro, que cavalgava uma dragoa que foi chocada no berço... Uma mulher que ele amou como sobrinha, desejou como mulher, amou e respeitou como mãe de seus filhos e sua rainha na guerra contra os verdes, e que agora, caindo em direção a morte, levando-a para uma muito provável vitória, ele ainda sentia o gosto amargo na boca...

Rhaenyra duvidava dele, se casou com ele, mesmo na frente dos Deuses da Antiga Valíria, as 14 chamas, apenas para ter ele ao seu lado, mas não como amigo, tio, amante, marido, ou rei consorte, nem mesmo seu protetor... E sim seu vassalo, um soldado que tinha Caraxes, uma ótima arma na guerra.

Usado, novamente.

Como foi usado com a cadela de bronze.

Como foi usado pelos Velaryons em sua guerra nos Stepstones.

Como foi usado como marido suplente de Laena, pois ela queria apenas diversão após a morte de seu noivo em um duelo (não que ele não a tivesse usado também, ele a usou como uma suplente para Rhaenyra), mas acabou grávida, e assim casada com ele e ele com ela.

Como foi usado por Viserys como seu cachorro louco e leal para proteger seu trono.

Como Rhaenyra fez o mesmo que Viserys.

Céus... Tudo que ele odiava em Viserys ela, sua antiga amada sobrinha, esposa e rainha, tinha: só ouvia e via o que queria; fazia e julgava como quisesse, na raiva, mesmo sem pensar nas consequências que viria depois; após explosões de raiva sempre vinha com discursos de paz e de família unida.

Hipócrita.

Todos eles!

Ele juntou Lordes a favor do seu irmão no Grande Conselho! Ele juntou homens para a patrulha da cidade para proteger a cidade de seu irmão que escutava mais Otto do que qualquer coisa! Ele juntou homens para lutar nos Stepstones! Ele juntou homens para lutar por sua rainha, sua sobrinha, sua esposa!

E para quê?!

Morrer só, não tão velho, mas com certeza não tão jovem, com muitos arrependimentos, e com poucas pessoas que chorariam por ele... Talvez ninguém chorasse. Ele não foi um bom pai para Baela e Rhaena, porque ele queria que elas fossem filhas dele com Rhaenyra e não com Laena, então as filhas acabaram se apegando a Rhaenyra e amando e respeitando mais os bastardos dela do que ele, o próprio pai...

Então tinha Aegon e Viserys, o qual ele mal passou tempo junto, pois eram jovens demais e ele nunca soube ser pai... E tinha o fato de que ele não acreditava muito que Viserys era seu filho... Ele tinha cabelos loiros dourados e olhos verdes... Como um Lannister, não como um Targaryen... Embora Rhaenyra justificasse que a própria mãe de Daemon tinha essas colorações, e mesmo isso sendo verdade, a cor quase dourada da pele da criança e não pálido leitoso que Aegon, Daemon e Rhaenyra compartilhavam em comum, fazia disto algo a ser difícil de engolir... No final, ele não era cego, muito menos estúpido, quem também tinha essas colorações era a nova espada juramentada de Rhaenyra em Pedra do Dragão, um Lannister da cabeça aos pés: cabelos loiros dourados, olhos verdes e pele dourada... E Daemon sabia como Rhaenyra gosta de dominar, gostava de estar no poder em tudo, principalmente na cama, e ela podia ser assim com esses homens idiotas ao qual a relação de poder dela perante eles era bem explícita, mas não com ele...

No fim, não só o sexo com Rhaenyra foi frustrante, o casamento o foi também.

Foi uma quebra de enormes expectativas que ele tinha perante o relacionamento deles.

Ele só queria uma esposa amável, doce, um pouco obediente, uma mulher que seria só dele, um tesouro para ele, que o desse amor e carinho e uma família!

Que o desse algo para ele guardar, cuidar e proteger!

Ao invés ele teve em sua vida: uma esposa grosseira, nada feminina, feia e a qual nunca se deitou; uma outra que era uma mulher descendente da antiga Valíria, e que, embora tivesse um dragão, o coração e alma era mais mar e sal, do que fogo e sangue, uma mulher extremamente temperamental como as marés, instável como o mar e o tempo, uma mulher que nem o queria e nem ele a queria, fazendo assim dividirem a cama com vários homens e mulheres, orgias infindáveis... Ás vezes ele se perguntava se foi realmente um casamento, tendo em vista que tanto ele como ela quebraram os votos mais de uma vez, e nem ao menos se arrependiam disto; e por fim teve seu sonho, uma esposa Valeriana pura, uma Targaryen, sua adorável e doce sobrinha, que ele lembrava de mimar, dela fazer beicinho e ter as bochechas coradas de raiva, ele teve um casamento Valeriano (não o rito completo, Rhaenyra não queria passar por todas as turbulências do rito completo e queria se casar rapidamente, pois queria que ambos se mostrassem como uma unidade, os negros contra os verdes, mas ainda assim, ele engoliu seco diante a mais uma quebra de expectativa e seguiu em frente, afinal era o que ele tanto desejava durante sua vida), e então com os dias ele foi percebendo que a sobrinha não era tão doce, sua sobrinha parecia muito com Viserys, que a sobrinha o tratava como uma prostituta que lhe dava filhos, uma esposa que quando iam transar brigavam até mesmo na cama (a posição tal, como ela gostava, como ela queria, não agora, agora sim, agora não), não era os gritos de prazer que ele queria, era de frustração, não era as mordidas e chupões doces de amor, era mordidas de raiva, arranhões e chupões doloridos, era como se tivessem competindo para quem dominaria... Não era o fogo da luxúria entre eles, era a porra de fogo de raiva, frustração... Ódio... Mas mesmo assim ele permaneceu fiel, mas toda vez que ele olhava o pequeno Viserys suas dúvidas apareciam, talvez todas as fofocas de libertinagem que tinham ao redor de sua sobrinha não eram falsas.

Mas ele tentou ser um pai, das maneiras mais diversas e talvez não tão usuais, mas ele tentou, tudo dentro do possível: ele se sentou e leu com Baela e Rhaena, voou com Baela, deu algumas aulas de espada e de arco e flecha para Aegon, colocou Viserys para dormir várias vezes quando Rhaenyra não tinha paciência, ele o aninhava no peito e cantava em Valeriano, ele até tentou ser pai para os bastardos, os ensinou Valeriano, e ensinou história, e estratégia militares... Mas ele nunca foi tão presente, tanto por Rhaenyra não permitir, como por fim ele perceber que as filhas preferiam sua sobrinha e seus filhos bastardos, até ele perceber que ele não sabia como se aproximar muito dos seus filhos mais novos, e Rhaenyra não o ensinava, ou pelo menos tentava o ajudar a se juntar com as crianças, na verdade, ela quase sempre o afastava, fazia ele se sentir indigno de ser um pai, um bom pai, afinal...

Como ele poderia ser um bom pai?

Ele nunca teve um bom exemplo!

Jaehaerys, seu avô, Daemon duvidava que ele lembrasse o nome de todos os seus filhos. Então tinha seu irmão... Ele não queria ser leniente como Viserys foi com Rhaenyra, nem queria ser totalmente ausente como ele foi com a prole Hightower, e aí tem o seu próprio pai... Não, ele não queria ser tão duro como seu pai foi com ele... Suas cicatrizes nas costas são a prova do que Baelon, o bravo, o rei que nunca foi, não era bom para ele, nunca foi, principalmente depois da morte de sua mãe Alyssa e de como ele teve de pagar com lágrimas e sangue, apenas por ser muito parecido com ela, no final, mesmo na morte, mesmo amando seu pai, ele reconhecia que tinha medo de ser como ele, mesmo que uma parte tivesse admirado o homem que uma vez ele foi quando sua mãe estava viva.

Então tem mais uma das lembranças das traições de Viserys... Daemon preso no tronco, sendo chicoteado por seu pai, apenas por perguntar se teria sobremesa ou não, e Viserys no canto do pátio, apenas olhando, não levantando nem se quer a voz para pedir clemência para que o seu pai parasse os abusos ao seu irmão mais novo, que tinha apenas 9 anos de nome. Viserys sempre um covarde.

Nunca mais comi doces.

Ele se sentia culpado por ter dormido com Rhaenyra no dia do funeral de Laena. Foi um enorme desrespeito. Foi pior ainda matar Laenor para que ele e Rhaenyra se casassem, e noivar suas filhas legítimas com os bastardos de Rhaenyra foi outro maldito erro.

Ele fez tanta merda em sua vida, perseguindo sonhos, tentando cumprir expectativas dos outros sobre ele, tentando manter a casa Targaryen viva.

E aqui estava tudo o que ele merecia. Uma morte facilmente esquecível, uma morte a qual ninguém sentiria falta.

Ao sentir-se afundar e a água preenchendo seus pulmões, ele pensou se teria paz... Ao menos um pouco.

Seu tempo na maldita fortaleza de Harrenhal o fez pensar, delirar, desejar... Sonhar.

Alicent.

Ele a chamou de muitas coisas: cadela verde, prostituta Hightower, cobra do Reach...

Mas ele viu em Driftmark o quanto ela sofria naquele casamento, o quanto ela era apenas um peão para o seu pai, um pequeno troféu para o rei e só.

Ele viu uma mulher tentando proteger seu filho de um olho perdido, o que era justo, e foi negado isso pelo rei, seu marido e pai dos seus filhos, principalmente do seu filho mutilado, no final, seu filho era menos importante do que a prole bastarda de sua filha favorita, só por ela ser filha de Aemma. O que é ridículo, tendo em vista que o próprio Viserys a matou, da pior maneira possível, apenas para que ele segurasse um menino no colo que não durou nem 1 dia.

Em Harrenhal ele pensou em ser o rei, em ter aqueles olhos mel olhando para ele procurando e pedindo proteção para ela e por seus filhos... Como ela tinha feito para o rei, em Driftmark e foi negada, sendo deixada só, decepcionada, magoada. Ele não a negaria isso. Nunca. Ele pensou em seus cabelos cor de fogo, grandes e encaracolados ao seu redor, rodeando ele e ela em um ninho quente, recheado de paz, carinho, compreensão, tudo isso enquanto ele passava seus dedos por entre os cachos sedosos que engoliam seus longos dedos, fazendo os seus anéis de aço Valeriano com rubis e ônix sumirem em seus cabelos ruivos; ele pensou em enfiar seu nariz em seu longo e belo pescoço de cisne e beijá-lo, seu cheiro desconhecido nublando sua mente e seus gemidos sendo um dos melhores sons que ele já havia escutado, uma voz doce, harmoniosa, honesta... Uma mulher que foi feita para ser mãe, uma mulher perfeita para ser esposa, uma mulher maravilhosa em ser rainha.

Ele não podia negar, ele viu, ele percebeu, sempre.

Mesmo jovem ela sempre teve a elegância e inteligência que faltava em Rhaenyra, tinha o cuidado com o povo pequeno, que antes ele achava ridículo, ele pensava que era ela tentando fingir ser uma rainha caridosa, até descobrir que ela fazia isso com seus próprios fundos, pois o conselho nunca deu atenção quando ela falava de melhorar a vida do pequeno povo e de caridade... Agora ele entendia que isso fazia dela ser uma boa pessoa, uma mulher linda, que poderia ter qualquer um, mas permaneceu leal aos seus princípios, leal ao marido, uma mulher que só queria ser protegida e amada, mas que foi negligenciada e usada, assim como ele...

Em pensar que ele tinha algo parecido com um Hightower... Como se tivessem sido feitos do mesmo tecido... Era realmente o fim para ele se ele estava pensando que tinham algo em comum.

Em meros milésimos de segundo ele lembrou de uma situação, uma jovem e linda Alicent corando adoravelmente enquanto ele falava com Rhaenyra, poucos dias antes do maldito torneio para o herdeiro, alguns dias depois do purgo que ele fez na cidade. Rhaenyra correu para algum lugar, ou para Syrax ou para Aemma, (ele não se lembra ao certo) deixando-o e Alicent sozinhos em um dos corredores da Fortaleza Vermelha. Ele se lembra de Alicent com seu cabelo ruivo encaracolado, solto e longo batendo na cintura enquanto ela fazia uma pequena, mas régia e elegante reverência a ele. “Agradeço por seu trabalho em limpar a cidade, vossa alteza. Porto Real estava se tornando perigosa até mesmo durante o dia para ir para o septo”. Ela falou calmamente, um leve sorriso no rosto, um genuíno e honesto, que ele fez questão de tirar do rosto dela em segundos: “Não é o que seu maldito e estúpido pai acredita, e de todos os lugares em Porto Real, você querer ir para o septo é um total desperdício de tempo, assim como essa conversa com você agora está sendo para mim”. Ela parou de sorrir, o brilho em seus olhos sumira, assim como o rubor em suas bochechas, ela parecia mais pálida, e neste momento, enquanto ele estava morrendo, ele percebeu como ele era um idiota. “Perdão, meu príncipe. Mas estou sendo honesta nos meus agradecimentos. E sim, meu pai tende a ser um tanto grosso, mas posso afirmar que ele ficou tão feliz quanto eu. Ele me afirmou, e cito: ele fez o certo, o único problema foi sua arrogância perante o rei, caso não, ele seria glorificado, o rei gostando ou não. De qualquer forma, sinto muito por incomodá-lo, vossa alteza, não incomodarei mais, tenha um bom dia”. Ela falou e com mais uma bela reverência, ela se retirou. Foi a última conversa que ele teve com ela... Se isso pudesse ser chamado de conversa.

Na época ele achou que ela mentiu a respeito de Otto, mas agora ele lembrava, do que na época ele achava que eram alfinetadas de Otto nele, agora, sob a nova perspectiva que a morte o estava dando, ele entendia que o que Otto estava fazendo era mais como conselhos, parecia mais como conselhos. Quase paternais. Conselhos grosseiros, mas com uma satisfação e orgulho bruto nos olhos e palavras, que eram, por vezes, rudes.

Afundando na água gelada do lago, ele se sentiu desvanecendo, a escuridão o consumindo.

Paz.

Enfim paz.

.

.

.

Até sentir suas costas baterem com toda força em um chão de pedra, seu pulmão expulsando água entre fortes tosses e ardendo com esse esforço.

Ao olhar ao redor ele se viu entre sete entidades, pois aquilo não eram pessoas. Enormes árvores, com chamas roxas ao seu redor, todas as enormes árvores, estavam plantadas no chão de pedra que tinha alguns musgos e grama as circulando, ele estava em uma enorme sala, todas as árvores tinham duas caras.

Deuses?

Eram os Deuses Antigos?

Eram os 7?

Mas se tinham 2 caras em cada...

Seriam os 14?!

- Somos os três. – Ele escutou de uma das árvores. Céus, as árvores parecidas com a que tinha no bosque sagrado, só que enormes e com duas faces ao invés de apenas uma, elas falavam! As árvores falavam! Apenas uma face falou, a outra continuava estoica. – Não há um Deus falso ou um verdadeiro.

- Não entendo. – Falo quase em um sussurro. Meus pulmões ainda queimando por ar, minha cabeça latejando para entender tudo aquilo. Porra! Por essa ele realmente não esperava!

- Os Deuses antigos são apenas um quando estão sendo amados a partir de um represeiro, mas somos todos nós. – Uma outra voz falou, ele não percebeu qual.

- Daria é a deusa do amor, da fertilidade e do bom casamento. É a Deusa dos Deuses. É o nome dela para os Deuses das quatorze chamas. E é o mesmo que a Mãe dos sete. – Uma das faces fala logo depois.

- Balerion é o Deus dos Deuses, o mais velho, o mais forte e destemido e o melhor guerreiro e estrategista de guerra. É o mesmo que que o Guerreiro dos sete. – Outra face continua o raciocínio.

- Na realidade todos somos um, que quando nos dividimos, nos juntamos com aqueles que são nossa outra metade. Nós somos um, somos sete e somos quatorze. – Um outro fala, concluindo. Daemon não sabe bem o que fazer com todas essas informações. Só uma coisa era certa: ele morreu.

- Eu morri. – Afirmo.

- Sim. Infelizmente. Você deveria ter se tornado rei. A que se tornou rainha deveria se tornar rainha, mas não conseguiu manter seu lugar, pois não tinha um protetor, um bom marido, um bom rei, um bom pai para os filhos dela, que era o que você deveria ter sido.

- Rhaenyra? – Pergunto confuso. E as risadas e bufos descontentes dos rostos nas árvores rapidamente me rodeiam.

- A prostituta? Não! Ela traiu a donzela quando nem ao menos tinha se casado, ela traiu os sete quando traiu Laenor e basicamente o forçou a fazer aqueles bastardos fingirem ser Velaryons, ela traiu os quatorze quando ela não confiou em você, se recusou a passar por todo o rito e te traiu emocional e fisicamente, não só com outros homens, mas com outras mulheres. – Uma das Deusas que já tinha falado antes voltou a falar. Era Daria? A mãe? – Ela me traiu quando não deu a chance de você ser um bom pai! Ela me traiu quando foi em direção a guerra sabendo que isso lhe custaria os filhos! – A voz quase gritou. O silêncio permaneceu na sala, por enquanto a Deusa se recompôs. – Não, não estamos falando dela. Estamos falando da verdadeira rainha, a que se casou com o homem errado, aquela que mostramos para você em Harrenhal como teria sido... Uma mulher que te ama, te respeita, procura sua proteção, te enaltece, uma rainha boa para o povo, uma mulher que seria ainda melhor se tivesse o homem certo ao lado dela. O irmão certo. – A face no represeiro parecia triste, lágrimas de sangue começando a sair pelos olhos esculpidos, manchando a casca branca. A face suspirou em desgosto antes de continuar. – Ela sofreu tanto. Ela queria ser uma boa mãe, mas não conseguiu e se sentiu um fracasso, sem entender que ela não tinha culpa total, ela não tinha a presença do marido, ela não tinha a presença de um homem que desse um bom e forte exemplos para os filhos: sobre como ser um homem, sobre como tratar uma mulher. Ela tentou ser uma boa rainha, mas Viserys também a impedia de brilhar no que ela era tão boa em ser: organizada, meticulosa e amorosa o suficiente para cuidar do povo menor. Ela foi uma boa esposa, nunca o traiu e cuidou dele até que ele morresse uma morte pacífica, enquanto ela era sempre lembrada como a segunda, como ela era lembrada como a não querida, a não amada, a que nem ao menos conseguia justiça por seus filhos aos quais ela tanto amou, mesmo quando esses filhos eram advindos dos estupros de Viserys para ela, a machucando, a fazendo sangrar e chorar enquanto o rei chamava, gritava e gemia de prazer a chamando de Aemma de propósito, apenas para machucá-la ainda mais.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. E ele não sabia mais o que mais o chocava.

Se era que os Deuses odiavam Rhaenyra.

Se era que os Deuses queriam Alicent como a rainha.

Se era a nada sutil afirmação que Alicent deveria ter se casado com ele, e se ela tinha de ser rainha, ele tinha de ser o rei. Ou...

Se era que ela tinha continuado fiel e leal ao seu irmão até o fim. Que ela nunca o matou como ele achava que ela tinha. Mesmo que agora ele saiba que, se tudo o que os Deuses estavam falando fosse verdade, não faltava motivos para ela matá-lo.

Mesmo Viserys casando-se com ela, prometendo amá-la e respeitá-la, ele a renegou, renegou seus filhos, disso ele sabia, ele presenciou isso em Driftmark...

Mas ...

A estuprou, a abusou física, psicológica e emocionalmente?

Esse era o doce Viserys?

O irmão mais velho que ele achava que era tolo? Que ele achava que era manipulado por ela?

Pior do que essa realidade?

Céus, como ele a tratou mal!

Como a desrespeitou na frente dela!

Como ele zombou dela, de formas que ele agora sabia, tinha muito provavelmente a machucado ainda mais.

Quantas vezes ele esfregou sal na ferida?

Cadela verde.

Prostituta verde.

A rainha má.

A garota que se deitava com o rei por prazer para ter a coroa na cabeça.

Tantos insultos...

Ele mandou matar os netos dela.

Ele sabe que a filha dela se matou após isso.

Ele era cruel.

Talvez mais do que o próprio Maegor.

- Você não é cruel. Você fez alguns atos de crueldade, é verdade, mas alguns foram necessários. Não se pode manter sempre a paz como seu irmão idiota fingia acreditar, medroso, fraco e inepto demais para se impor. – Uma nova voz, diferente das anteriores, falou. – Você apenas não esteve do lado das pessoas certas, que fariam você fazer o certo. Não pense errado, você cometeria crueldade também, mas dificilmente se arrependeria delas como você fez nos seus últimos segundos de vida.

- Sim. – Outra voz concordou. – A outra única pessoa que se arrependeu de tudo nos seus últimos segundos de vida foi Alicent. Nenhum outro demonstrou tamanhos arrependimentos como vocês dois.

Alicent, assim como ele, se arrependeu de toda a sua vida?

Se ela se arrependeu e se sentiu traída e solitária pelo menos um terço do que ele se sentiu em seus segundos finais, ele sente pena. Ele não desejaria isso para ninguém. Se arrepender tanto de como viveu toda a sua vida para até que o que deveria ser o sabor amargo da morte, na realidade, se torna doce, até desejado.

- É aqui que serei julgado? – Pergunto resignado, não querendo mais pensar que talvez Alicent tenha desejado tanto a morte como ele desejou, tentando assim, tirar o gosto amargo da boca, o aperto no estômago, a dor da culpa do peito.

- Não. – Outra voz responde. – Seu filho Aegon, sentou-se no trono de ferro, sabia? – A voz continuou trocando de assunto. – Aegon se casou com a única neta de Alicent e apenas esses resquícios de sangue, seu e dela juntos, foram o suficiente para que a dinastia dos dragões durasse por muito tempo. Contudo, não por tempo o suficiente.

- Então pensamos, que talvez, se o seu sangue com o dela forem misturados de maneira mais forte, mais direta, talvez, a dinastia dos dragões dure o suficiente. – Outra voz completa.

- Durar o suficiente para quê? – Pergunto confuso com tudo aquilo. E após um breve silêncio, eu solto um grito de dor, colocando a mão na minha cabeça que estava queimando com imagens e sons rápidos, toda a história da minha casa, a loucura do meu filho que matou e destruiu toda a magia que existia em seu sangue de dragão, a morte dos dragões, o inverno chegando... Nenhum Targaryen sentado no trono, a morte de todo o mundo em um frio congelante.

- O último rei. O rei louco, essa loucura veio de Rhaenyra e do acúmulo de magia valeriana que não tinha como transbordar para os dragões. Talvez se fosse descendente direto de você e de Alicent, talvez, fosse diferente o fim de Westeros.

- E o que você quer que eu faça?! – Pergunto de joelhos, minha voz em um tom irritado, minhas mãos ainda na cabeça, em dor, por ver e ouvir tanto em tão pouco tempo. – Estou morto, não?! Não há mais nada para mim!

- Bom, aí é que você se engana. – Uma nova voz fala. Um tom sábio, mas tremendo... Como uma velha. – Somos Deuses afinal, e embora não possamos influenciar diretamente em como os humanos vivem, podemos, às vezes, jogar o nosso jogo, pensando em um futuro melhor para todos.

- E o que tem eu?! – Pergunto ainda grosseiro.

- Você é uma peça no nosso jogo, Daemon. – Afirma a mesma voz. – Iremos te levar através do tempo novamente, para uma semana antes do dia do torneio do herdeiro, dois dias antes de você limpar a bagunça que é Porto Real. Nós não iremos interferir em nada, nem em você nem em outras pessoas, todos vocês seres humanos tem seu livre arbítrio. Daremos sua vida novamente, mas com dois presentes e dois conselhos, que você seguirá apenas se quiser, afinal, como eu disse, não iremos interferir mesmo que você queira fazer tudo igual como foi na sua primeira vida.

O silêncio se segue por enquanto Daemon tenta assimilar tudo isso.

- Quais os presentes? Quais são os conselhos? – Perguntei cauteloso. Aquilo, por si só, já era um grande presente. Viver novamente, poder fazer novas escolhas, ter a liberdade que quiser. Não viver de forma miserável novamente.

- O primeiro presente é que você, quando voltar, terá todas as lembranças dessa vida e dessa conversa. – Ele respirou fundo, isso era grande, isso era muito. Tanto conhecimento é uma faca de dois gumes. – O segundo, é que uma semana antes do dia do torneio, você receberá a notícia de Viserys que o seu casamento com a Lady Rhea Royce, foi anulado, a pedido dela, para um novo casamento dela. E Viserys não poderá negar isso como ele fez tantas outras vezes com você, pois o pedido veio dela, uma aliada do Vale e não de você. Você se tornará solteiro novamente.

- São grandes presentes... Bons presentes. – Falo um tanto trêmulo, tentando entender, tentando não ter tanta esperança, mas ao mesmo tempo, tentando ser otimista e, na realidade, não demonstrar isso através de uma face estoica. Ele tinha o direito a isso? A tentar reverter seus erros? De rever pessoas amadas e queridas? De não sofrer tanto quanto sofreu? De talvez ser feliz?

- Sobre os conselhos: o primeiro é, que todos nós, acreditamos que você daria um bom rei e que você já sabe agora quem todos nós concordamos quem foi e sempre será uma boa rainha. – A voz velha falou. Murmúrios de concordância se espalharam por toda a grande e fria sala dos Deuses. – O segundo é: repense suas alianças.

- Apenas isso? Vocês não esperam nada em troca? – Perguntou um tanto descrente.

- Considere isso um terceiro e último conselho: apenas tente não se envolver com pessoas que te trouxeram tantas ruínas, mesmo que estes sejam seu próprio sangue. Tenha uma boa vida, Daemon.

E assim que a voz sumiu, antes que Daemon pudesse falar ou perguntar mais qualquer coisa ele foi engolido pela escuridão e logo abriu os olhos e viu um teto familiar, mas um que ele não via há muito tempo. Ao seu lado Mysaria pousava em uma pose que tentava ser sexy, enquanto passava a mão por seu torso nu. Claro, de todos os lugares aos quais eu tinha de acordar tinha de ser em um bordel do lado da prostituta traiçoeira. Ele deveria saber desde sempre, prostitutas mudam sua lealdade como Corlys muda a vela de seu navio para onde o vento soprar melhor. Quem paga mais e mais vezes, tem a frágil lealdade da prostituta.

- Então, meu príncipe, dormiu bem? – Ela pergunta em uma voz sedutora ao qual o ele de antigamente teria ficado louco para tê-la, com seus cabelos loiros quase prateados e um olho lilás e um azul, uma semente de dragão bonita. Mas isso era o antigo ele, que achava que dragões tinha de ficar juntos sempre. Idiota, prostituta é prostituta.

- Sim. – Falo rudemente, me levantando da cama desconfortável rapidamente e me vestindo com movimentos bruscos, tentando controlar emoções... Controlar o ódio que sentia por coisas que essa mulher nem ao menos tinha feito ainda. Após ter minha espada posta ao meu lado, jogo um saco com moedas para Mysaria e saio antes dela tentar falar algo e eu a estrangule. Tudo era muito novo. Ele tinha tudo de volta, mas tinha de raciocinar sobre tudo o que aconteceu, e tudo o que ele queria que acontecesse e que não acontecesse... Saindo da casa de travesseiros de Mysaria, pisando fundo, tentando manter um pequeno controle sobre as emoções confusas de tudo o que aconteceu com o que ele novamente vai ter de viver... O brinde ao herdeiro... Agora era óbvio, a única pessoa que sabia sobre o maldito brinde ao herdeiro, e que não era confiável, era Mysaria.

Ela contou a Otto...

Foi Otto?

E apenas o pequeno questionamento em sua cabeça sobre se era realmente Otto ou não o culpado, quase o fez parar no meio de uma das vielas mais movimentadas de Porto Real em choque por todos os pensamentos confusos que passava por sua cabeça.

Décadas de rancor, ódio, inveja por aquele homem que parecia ter o respeito que um dia ele tanto quis de Viserys... Tentar relacionar esses sentimentos com o fato de que agora ele estava apático para o que Viserys respeitava ou não, com o fato de que ele tinha dúvidas se Otto era realmente um homem tão horrível que fez a própria filha sofrer nas mãos do rei, apenas para ter uma coroa na cabeça...

Daemon é um homem cruel, não foi um bom pai, e com certeza não era o mais amoroso, mas ele nunca traçaria tal destino para Baela ou Rhaena, e ele se perguntava se Otto o faria...

A lembrança de um Otto pálido diante aos choros da filha pela perca do olho do neto, e depois o olhar lívido de Otto para Viserys que negou uma represália merecida aos bastardos... Ele não conseguia relacionar esse homem, esse Otto que ele viu em Driftmark, com o Otto do que o jovem Daemon achava ser cruel, ganancioso e que faria de tudo por poder... Simplesmente não encaixava.

Daemon lembra que quando ele perguntou ao seu irmão, Viserys, de onde vinha essa informação, sobre o brinde ao herdeiro, ele apenas disse que era de fontes confiáveis, Daemon logo pensou que seria a merda da cobra do Hightower, ele era o único em quem Viserys parecia confiar, mas ai novamente a lembrança de Otto em Driftmark, e depois o cansado Otto na petição sobre a sucessão de Driftmark, naquele dia na sala do trono... Céus, o homem parecia ter envelhecido décadas, parecia pronto para apenas jogar o broche de mão para qualquer um e ir embora, apesar disto, Otto continuou tentando estar estoico, para proteger a filha e os netos...

Talvez não tenha sido Otto.

E que perspectiva era essa, ein?! Alguém estava jogando Daemon contra Otto?! Ou foi o próprio Viserys?! Viserys faria algo assim?! Mas, se não fizesse, por que ele não diria o nome de Otto, mas faria isso ficar subentendido?! Ou era realmente Otto e Daemon apenas estava pensando muito?!

Daemon sabe que Viserys sempre esfregava Otto na cara dele, como esfregar sal na ferida, mostrando que ele, Viserys, o rei, e seu próprio irmão, confiava mais em um estranho do que ele, o seu próprio sangue e mesmo diante desta oportunidade Viserys não fez isso, ele não disse o nome de Otto...

Mas quem seria se não Otto? Seu irmão tinha informante do lado de fora da Fortaleza Vermelha? Se sim, por que mesmo sabendo da miséria no povo pequeno, ele nunca fez nada? Nunca permitiu os atos de caridade que Alicent sofria tanto para realizar?

Talvez ele não devesse já julgar Otto, mas talvez ele também não deveria apenas confiar nele também...

Daemon tinha de ver, tinha de testá-lo...

Os Deuses disseram para ele repensar suas alianças.

Seria possível que não fosse Otto?

Pensando em Otto, ele pensou no purgo que ele estava planejando fazer, e por tal, pensou em Alicent. Ele não estava certo do que deveria fazer ao certo. Os Deuses não mandaram, eles apenas aconselharam, mas...

Quem é estúpido para não escutar um Deus? Os Deuses? Céus, até o 7 eram verdadeiros e bendita árvore! Ele tinha muito o que processar ainda.

Andando em direção a Fortaleza Vermelha ele tinha em mente ver uma pessoa. Essa era única coisa que parecia racional no momento. Uma visita que talvez ele devesse ter feito na sua outra vida. Uma visita a uma pessoa que ele odiou muito, e que neste momento, não sabia bem o que estava sentindo por esta pessoa.

Realmente uma pessoa que ele odiou muito, que ele culpou por tudo, e que talvez ele só tenha odiado tanto, por essa pessoa ser muito parecido com o próprio Daemon, só que em uma versão melhorada, uma versão que tinha a calma e perspicácia que ele não tinha, já que Daemon era muito mais propenso a explosões e muito mais impulsivo.

Contudo, ele não era mais o jovem impetuoso e idiota de antes, ele era muito mais. Tinha muito mais conhecimento e paciência.

Pelo menos ele gostava de acreditar nisso.

Era hora de pedir uns conselhos.

Era hora de começar a repensar suas alianças, principalmente se quisesse se tornar rei, com a rainha certa ao seu lado.

Era hora de visitar Otto.       

Chapter 2: Visitas

Summary:

Visitas que ele deveria ter feito em outra vida, ele está fazendo agora, descobrindo muita coisa que só o deixa cada vez mais confuso a vida que levou e a vida que levará a partir daqui. Aliás, eu sempre achei que Daemon se não fosse um super dotado, no mínimo, ele tinha altas habilidades. E sabe uma coisa legal sobre pessoas que são ou super dotadas ou tem altas habilidades: elas gostam de ser especiais. Elas, quando encontram algo que não é simples, ficam extremamente obcecados (seja por uma história, seja por um filme, livro ou quadrinho. Seja na amizade ou no amor), e como eu sei disso? Sou uma austista no espectro de asperger, e tenho altas habilidades, e acredite em mim galera, quando eu amo alguém (romance, família ou amizade), essa pessoa terá minha lealdade, devoção e estará em um pedestal para sempre. E eu sempre achei que Daemon tinha disso: ser obcecado, amar de forma devota, proteger aqueles que ama, ser leal. Então imagina os Deuses deixando ele viver e voltar no tempo e dizendo que tem uma mulher que vai deixar ele ser feliz para sempre e que o amará e o apoiará? Ele pensa que isso é basicamente um presente! Um presente para uma pessoa especial, e Daemon adora ser especial!

Notes:

- Olá! Feliz ano novo!
- Normalmente o tempo para colocar novos capítulos nessa fic será entre 15 ou 20 dias, normalmente capítulos extensos como o anterior, e como esse mesmo, que tem mais de 17 mil palavras. Pode haver situações de haver capítulos menores, e até mesmo eu postar antes, mas esse não será o normal.
- Obrigada por todos os comentários, espero que continuem a comentar, curtir, assinar, marcar e afins! Por favor, comentem com educação, espero que tenham gostados das minhas respostas aos seus comentários! <3
- Então, pessoal, em um comentário uma leitora disse para eu preferir colocar aspas (") ao invés do travessão (-) na linguagem de transcrição direta, eu sei que ambas estão corretas, e é de uso facultativo, contudo, na literatura brasileira é difícil encontrar livros com as falas em aspas, e eu acabei por me acostumar com os travessões, principalmente por causo do meu tempo de teatro, mas vou deixar vocês decidirem, e a partir do próximo capítulo eu começo a escrever com o que for mais votado, então, por favor me digam como vocês se sentem melhor da escrita: 1) aspas" ou 2) travessão -
- Vocês vão ver que citei Cyvasse, sim, eu sei, que esse jogo só foi "criado" e virou febre primeiro em essos, bravoos, dorne até chegar em Porto Real, apenas no reinado de Joffrey Baratheon, mas eu queria um jogo que conseguisse unir Daemon e Aemma, e no futuro, que vai servir para Daemon e Alicent, seus filhos, e com toda a dança que vai acontecer, afinal, é um jogo dos tronos. Então espero que vocês entendam essa mudança.
- Sobre essa obssessão e possessão anormal que Daemon está sentindo por Alicent, eu tenho um motivo que me faz acreditar que seria assim, ele tentando bancar o indiferente, mas por dentro implorando por um cheiro dela. Sempre vi Daemon como um super dotado ou um homem com altas habilidades. Não importa a crueldade e vulgarice que ele tem perante si, ele era extremamente fluente em alto valiriano, era um homem que conhecia o poder de sua casa, entendia o poder da imagem que tinha de ser passada, entendia seus deveres, um homem ambicioso, que entende de esgrima, mente política e perfeita para montar batalhas. Era um homem extremamente chamoso, e perspicaz. E um fato sobre uma pessoa que tem altas habilidades (meu caso) ou tem super dotação, é extremamente fácil se tornar obcecado por algo, e deixar de se tornar obcecado se não se mostrar tão interessante, o que é uma justificativa para os relacionamentos superficiais que Daemon teve por todas as mulheres que passaram pela vida dele. Mas Alicent, como vocês vão ver nesse capítulo, aos 4 ela já falava várias línguas, criada por um homem sábio de oldtown que teve os melhores meitres da cidadela ensinando ele (no caso, Otto), não poderia ser diferente, e isso só vai fazer ele ficar cada vez mais obcecado, vai o fazer se apaixonar perdidamente por ela, afinal, além de linda, é inteligente, é doce, é leal, o irá acolher e amá-lo, e os Deuses basicamente disseram que ela tinha de ser de Daemon, por isso ele está tão confuso com tudo. Temos de ter noção que ele ACABOU de voltar, então ele tá tentando entender tudo, e as informações novas nossa, isso deve deixá-lo cansado!
- Sobre o que vocês vão ler sobre Aemma e Viserys, muitos talvez achem que é loucura, mas, não é. Veja o caso do rei Henrique VIII, que matou Ana Bolena depois que ela assinou o divórcio, apenas porque ela estava tendo muitos abortos e apenas uma criança que era uma MENINA. Então... Além de que, sim, existem casos como o que vai ser exposto aqui, na história, e quando elas não eram abertas, elas morriam com a infecção, hoje em dia tá a cesária ai para impedir tal coisa. Ervas para iniciar um parto? Não é invenção tá, é verdade, eles também podem ser abortivos, e podem fazer você menstruar mais cedo por causarem fortes cólicas: canela, gengibre, café. Pois é, e tem muito mais que não tenho noção sobre, então não é um plano mirabolante na minha cabeça... Até mesmo porque, vocês não acham que foi fácil demais que no dia do torneio Aemma entra em trabalho de parto? Tanta coincidência... Então, espero que mantenham a mente aberta, mas saibam que Viserys fez e irá fazer coisas muito mais más.
- Alicent foi assediada por um stalker (Viserys), mas não foi estuprada - tô escrevendo isso, pois percebi que pode dar a entender isso nesse capítulo, mas não quero Alicent levando esse peso nas costas. -
- As perguntas que Daemon se fez, inclusive o porquê que Viserys aceitou Alicent no quarto dele, quando ele se recusava a falar com a filha e exilou o irmão sempre me foi estranho.
- E para piorar tem o fato que nos livros Viserys já estava traindo Aemma a três meses com Alicent, de acordo com os sussurros da corte!
- Idades em 105 d.C.: Daemon 32; Aemma 28; Viserys 38; Alicent 17; Rhaenyra 14. Eu envelheci os personagens, apenas para encaixar as coisas como eu queria.
- Nos vemos nas notas lá embaixo!

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

- Daemon –

Depois de se acalmar e colocar sua máscara de calma e seriedade que aprendera com o tempo, ele começou a andar calmamente, mas decidido, em direção a Fortaleza Vermelha. Não mais andando como se estivesse com ódio de tudo e de todos, confuso e impulsivo. Levou anos para ele conseguir isso, criar essa máscara estoica e essa falsa calma no exterior que escondia a turbulência que existia no interior, mas ele conseguiu resultados bons.

Daemon demorou a entender o porquê que todos, desde que ele entrou pelos grandes portões da Fortaleza Vermelha o estava olhando com tanta estranheza, cautela e alguns com desconfiança e dúvida.

Primeiro ele pensou, como o homem vaidoso que era, que ele devia estar, de alguma forma, não apresentável com o título de príncipe que tinha. Mas, isso brevemente passou quando viu algumas servas passarem por ele desviando o olhar e corando, ou o olhando intensamente com olhos de desejo, estes olhares que ele já estava muito bem acostumado. Pensando um pouco mais a fundo, neste momento, neste agora, embora Daemon não tenha olhado sua aparência em um espelho, ele sabia como estava parecendo.

Eles estavam em 105 d.C, Daemon estava com 32 anos de nome, para completar 33 ainda naquele ano, esse era o ano em que Aemma morreria, aos seus 28 anos de nome, sendo aberta como um porco para tirar o tão querido filho homem de Viserys, apenas para o garoto morrer durante a noite no berço. Daemon sabia exatamente como parecia: alto, com ombros largos, forte por anos de treinamento, lutas, pequenas batalhas e afins, cabelos longos o suficiente para bater em sua cintura. Sua típica túnica preta com uma blusa vermelho sangue no fundo, e a sua própria insígnia, desenhada para uso próprio e individual, bordada no tecido preto no seu peito esquerdo: um dragão vermelho com três cabeças, com a diferença que as escamas eram todas bordadas com fios dourados. Seu longo cabelo estava amarrado em um meio rabo de cavalo; em cada um dos seus dedos estava um anel, estes eram pesados, grandes e grossos, que ele sabia, fazia o parecer pouco do cavaleiro que era nomeado, e sim muito mais com um príncipe com uma veia rebelde e má, impulsivo e perigoso. Tento em vista suas memórias de como ele parecia agora, ele sabia que não era sua imagem que estava causando tanta estranheza, dúvida, incerteza e curiosidade em todos por quem ele passava na Fortaleza.

Ele não tinha as cicatrizes de queimadura que “ganhou” nos Stepstones, afinal, ele não tinha ido para aquele lugar esquecido pelos Deuses para lutar uma guerra que não era dele. Sentindo o seu corpo, ele não pode deixar de comparar a como era diferente. Ele estava mais confortável, sem todas as cicatrizes, e a pele queimada cicatrizada que puxava de uma forma dura e desconfortável toda vez que se movimentava, ele também não sentia mais as dores no joelho direito e ombro esquerdo, onde tinha quebrado na guerra e sentiu que nunca curou corretamente, sempre doía, principalmente no frio. E a agilidade que ele não sentia a muito tempo estava presente, afinal, seu tempo de casado com Laena e Rhaenyra, mas principalmente Rhaenyra, o deixou ocioso, pelo menos quando estava com Laena em Pentos, Corlys sempre o mandava fazer algo, normalmente intermediar comércios, batalhas, ou até mesmo pequenas brigas, em troca de ouro, isso era totalmente diferente com Rhaenyra, e tendo em vista que sua própria sobrinha crescera e engordara, com a “paz” e com o que ela dizia que era resultados comuns da gravidez, ele se deixou acalmar também, talvez pela idade, o que resultou em anos sem lutas de verdade, sem treinamento de verdade, o que o fez ficar menos ágil, cansar mais facilmente, e não importava o quão bom espadachim ele era, ainda assim, após anos sem realmente fazer algo, ele se tornou medíocre, pelo menos comparado ao seu corpo de agora, onde ele estava em seu auge.

Então não, não era a sua aparência que estava atraindo tais olhares cautelosos.

Então, logo pensou que talvez fosse a direção ao qual estava indo: A Torre da Mão. Com certeza era diferente, então, tendo em vista que ele estava longe da Fortaleza a meses, e que alguns pensavam que ele estava longe de Porto Real a meses, (pois ele mandou Caraxes voar para longe, mas viveu durante esses meses na baixada das pulgas, entre criminosos e prostitutas, vivendo em casas de travesseiros, pulando de uma para outra só em busca de prazer) e logo depois de aparecer novamente, ir logo em direção a Torre da Mão? Talvez fosse isso. Não que fosse incomum o príncipe ir para Torre da Mão, Otto vivia lá, e toda vez que Daemon queria brigar com ele, caso não tivesse uma maldita reunião do conselho, ele iria atrás de Otto. Então não era a primeira vez. Então embora fosse estranho, e talvez muitos estivessem já se preparando para separar uma briga, principalmente porque a mão de Daemon descansava no punho da espada (só por puro hábito), não deveria causar uma estranheza tão grande. Afinal, Daemon sabe o que todos pensam dele: ele era um maldito príncipe impulsivo, logo, ele faz tudo que quer. Então, não deveria causar estranheza, se ele queria causar confusão com a mão do rei. Que assim o seja!

Então não, isso também não explicava os olhares.

Demorou a entender, mas ele entendeu.

Assim que passou por um dos seus mantos dourados, Sor Luthor. O Sor o olhou de cima a baixo, fez uma pequena reverência, mas continuou olhando para Daemon, mesmo quando esse se afastava. E Daemon percebeu isso. E logo ele entendeu.

Daemon estava andando, para ele, como sempre andou, exceto, que este era o jovem Daemon de 105 d.C e não o Daemon de 130 d.C.

Tudo fez sentido.

O Daemon de 105 d.C andava de forma rápida, com o rosto sempre em uma carranca de raiva ou um sorriso malicioso e zombeteiro no rosto, andava como se esperasse o perigo pular sobre ele a qualquer momento, andava com a guarda alta e pronto para atacar qualquer um, seja com seus insultos ou seja com sua espada.

O Daemon de 130 d.C era muito diferente... Era sério, fechado, carregando consigo um rosto sempre muito estoico, tentando esconder o homem quebrado que estava por dentro; ele andava confortavelmente em seu corpo, mesmo com todas as marcas que ele tinha por anos de guerra, luta, traumas, muitas dessas marcas que o faziam mal se olhar no espelho. Daemon de 130 d.C. andava como um homem que sabia que havia perigos sobre ele, mas que estava confiante o suficiente em se proteger e proteger aos seus.

Então... Ele entendia o porquê dos olhares agora.

O Daemon que antes andava como se preparado para uma batalha, para explodir em alguém, um homem que estava desconfortável com quem era, com o que tinha, tinha sido substituído por um homem que parecia calmo na superfície (mesmo que por dentro ainda estivesse sofrendo para colocar tudo em ordem dentro da sua cabeça), um homem que tinha um rosto impassível, imperturbável, inabalável, insensível, resignado, austero, firme, e todos os outros sinônimos possíveis. Um homem que andava calmamente, mas decidido para onde ir; um homem que estava confortável em seu próprio corpo.

Sim, ele podia entender, agora, o porquê dos olhares.

Daemon duvidava que alguém iria perguntar, mas se perguntasse, ele poderia apenas jogar a carta que estava envelhecendo e que fazia meses que a pessoa o vira.

Tinha de servir.

Andando até a Torre da Mão, ele pensava... Em tudo o que sabia do homem, ao qual em breve visitaria, e tudo o que não sabia, e isso o irritava, pois ele percebia que tinha mais coisas que ele não sabia do que sabia... E ainda tinha a ideia de que alguém estava colocando-o, ele, Daemon Targaryen, o próprio príncipe rebelde, contra Otto? Contra qualquer um? Que estava controlando o príncipe que sempre se achou tão esperto?

Bom, isso era, no mínimo, frustrante.

Ele sabia que nunca teve uma boa relação com Otto, mas os Deuses disseram para ele repensar suas alianças, e ele não era estúpido para não fazer isso. Então ele estava engolindo o orgulho e arrogância e indo em direção ao covil daquela cobra. Por enquanto ele se preparava para uma batalha de palavras que Daemon sabia que aconteceria, afinal Otto era muito instruído, sempre falando em discursos, as vezes, floreado com ditados e histórias, mas ele nunca falava desnecessariamente, na verdade, as vezes parecia que ele apenas rodava ao redor de um assunto para cansar quem estivesse ouvindo, para que quando ele chegasse ao cerne do assunto, a pessoa ou estivesse muito perdida e assim não se colocasse contra ele ou se sentisse intimidado pela quantidade abundante de informação que o homem conseguia carregar, além de que as vezes, durante o próprio discurso, Otto quebrava argumentos que talvez o adversário estivesse criando, assim, quebrando a confiança do adversário, o que era tão útil quanto cansar e intimidar o destinatário das palavras, afinal esse destinatário se sentia um estúpido, como uma criança idiota.

E Daemon sabe, porque Daemon já foi o lado destinatário muitas vezes.

Otto era um homem muito inteligente (tendo crescido em Oldtown e tendo acesso a cidadela, não poderia ser diferente), e por tal fato, Daemon tinha de dar o braço a torcer nisso, e se as pessoas normais perceberam que Daemon estava diferente, Otto que não era normal (a cabeça do homem estava sempre trabalhando), que sempre parecia ver além do que Daemon queria mostrar para o mundo (e que isso irritava Daemon profundamente na vida passada), com certeza veria que Daemon, agora, estava escondendo algo, e que querendo ou não, estava mais maduro. Isso o faz se perguntar internamente se surgirá realmente uma briga, ou uma conversa, e se for uma conversa, o quão útil e o quão Daemon poderia tentar perguntar ao homem: governo, Alicent, Viserys. Isso também o fez se perguntar como Otto iria o abordar agora, e como essa provável nova abordagem, caso surgisse uma conversa, seria útil para ele.

Até que ponto Otto estaria pronto a falar, e até que ponto Daemon estaria pronto a escutar? 

Porque sim, havia um limite para o quanto Daemon estava pronto para escutar. Ele voltou não faz nem duas horas, e tudo ainda estava muito confuso, principalmente tendo em vista que ele não foi descansar e colocar tudo em ordem na cabeça, e sim, por sua impulsividade, já estava indo atrás de respostas. Mas não sabia o quão estava preparado para elas. Na verdade, ele admitia, pelo menos para si mesmo, que estava um pouco com medo do que poderia escutar. Principalmente a respeito de Viserys.

Daemon sempre colocou seu irmão mais velho em um pedestal, não importa o quanto se sentisse traído ou humilhado. Afinal, Viserys era o filho amado de Baelon, o neto adorado de Jaehaerys, era o seu irmão mais velho, foi o cavaleiro de dragão de Balerion, era seu rei! Mas, tendo em vista tudo o que ele viveu até agora, tendo em vista as escolhas que ele viu seu irmão tomando que levaram a decaída da casa do Dragão, que causou a morte dos dragões; tendo em vista as escolhas que ele fez até mesmo quando mais jovem, quando nem mesmo era rei...

Infernos, ele não conseguia deixar de lado aquele pensamento, Viserys engravidou uma mulher 10 anos mais jovem! O problema nem sendo a diferença de idade, já que isso é comum, mas sim o fato que ela era apenas uma garota! Uma garota que só tinha 11 anos de nome e que sempre foi muito doente e frágil. Viserys foi contra o que os meitres disseram diversas vezes, e agora, ele iria abri-la, matá-la, tirar qualquer dignidade e último desejo da mulher que ele dizia amar...

Aemma iria morrer, em breve, e fazia muito tempo que ele não visitava sua prima.

Deuses! Ele culpou Aemma por prendê-lo em um casamento com Rhea Royce!

Mas quando ele pensava agora, na briga que tinha acontecidos anos atrás, apenas uma semana depois do dia do Grande Conselho... O próprio Daemon tinha 20 anos de nome, e Aemma só tinha 16 anos de nome, ela estava na enésima gravidez e só os Deuses sabem como ela suportou tudo o que ele disse a ela aos gritos...

Daemon não era um bom homem, nem queria ser, bons homens morrem cedo. Mas ele não queria ser um homem que reconhece o erro e permanece nele, e isso é, nada mais e nada menos, perceber que Aemma não era culpada de porra nenhuma, era apenas uma garota, mais nova que ele, que sua odiosa vó usou como desculpa para prender Daemon em Rhea, e ele como um idiota acreditou que a garota manipulou a avó, e o avô, e até mesmo o próprio pai e Viserys.

Pelos Deuses, ele casou com 16, Aemma só tinha 12 na época, a garota mal tinha tempo de respirar entre as dores físicas de perder uma criança, as dores emocionais de perder uma criança, e da ínfima esperança que tinha toda vez que engravidava.

E agora, sua prima, mais nova que ele, iria morrer no parto.

Sendo cortada pelo marido, enquanto implorava para não ser.

Se nem nisso ela tinha voz, Daemon não conseguia imaginar como o ele, da vida anterior, pensou que, de alguma forma, ela tinha algum poder de fazer Daemon casar com uma mulher vassala a casa dela, para que, se tivessem filhos, um grande se, os filhos de Daemon seriam inferiores a Viserys por ser filhos de um segundo filho, e seriam inferiores a Aemma, por serem vassalos da casa a qual ela pertencia.

Não! Aemma não fez isso e ele era estúpido em ter sequer pensado isso...

Mas aí vinha a lembrança da noite de vinho entre Daemon e Viserys, onde Viserys o negou a anulação de casamento de Daemon com Rhea pela primeira vez, assim que se tornou rei, e o mandou de volta ao Vale, da mesma forma que o seu avô, avó e pai fizeram antes dele.

“Daemon, não é apenas eu. É o reino, precisamos estar ligados com todo o reino, e o Vale é importante... Além, de que, Rhea é prima de Aemma, uma anulação assim, isso seria uma vergonha para a mulher, irmão. Uma vergonha que acredito que Aemma ficaria com raiva de mim por causar isso a sua prima, ao seu povo no Vale. Por favor, não faça que meu casamento se torne problemático, que Aemma fique com raiva de mim, apenas, por favor, vá para Pedra Rúnica, sim? Apenas tente fazer esse casamento funcionar.”

E então, após isso, a enorme briga que ele teve com Aemma, a culpando por tudo, e ela o olhando, um tanto encolhida de medo, os olhos brilhando, com o que agora ele reconhecia ser lágrimas.

“Você dá muito ouvidos ao seu irmão, Daemon. Um dia, quando quiser a verdade, e não essas fantasias que têm na cabeça sobre seu irmão mais velho, venha até mim, mas venha preparado com um pedido de desculpas por todas as palavras que você ousou proferir a mim hoje.”

Essas foram as últimas palavras de Aemma para Daemon. E Daemon, orgulhoso e arrogante como sempre fora, nunca foi atrás de Aemma, nunca pediu desculpas e nunca perguntou o que ela queria dizer sobre a verdade sobre Viserys.

Talvez, ele devesse fazer uma visita a Aemma também, em breve. Por enquanto ele já tinha um destino em mente.

Pensando em ver Aemma, ele pensou que talvez ele pudesse falar com Viserys. Talvez dizer que teve algum sonho de dragão, que não adiantava abrir e machucar Aemma, que o bebê não sobreviveria. Seu irmão sempre acreditou em sonhos, destinos e baboseiras. Viserys sempre falou que foi o sonho de Daenerys que os salvou e os fizeram rei, ele sempre discordou, Daemon sempre acreditou que o que os fizeram reis eram os dragões. Mas, talvez ele pudesse usar essa queda por sonhos de Viserys, contra ele, e a favor de Aemma. Sua prima merecia, depois de tanta dor, de tantas perdas, pelo menos morrer com dignidade, com um leite de papoula para dor, uma despedida para Rhaenyra e para Viserys, e uma taça de vinho com muito sono doce, para ela morrer assim: dormindo, em paz.

Chegando aos únicos portões dos altos muros que davam para os grandes jardins da Torre da Mão ele tirou os pensamentos sobre Aemma da cabeça e focou no que veio fazer aqui.

Tinha guardas, usando as cores verdes dos Hightower, guardando os portões, que ele não fez questão de sequer dirigir a palavra e passou direto por. Ele começou a observar tudo com uma visão de um homem endurecido pelas batalhas e guerras que travara, um olhar observador e cauteloso: os guardas andando pelos jardins e pelos muros alto que guardavam muito bem o local que circulavam a Torre da Mão, tanto dando uma visão de fora, como também uma visão dos jardins extensos que estavam presentes na Torre da Mão, as servas andando de um lado para o outro (muitas dessas com adagas presas em suas cinturas), alguns soldados e cavaleiros com as cores dos Hightower em vigilância nos jardins extensos, no momento, vazios; e ao fundo parecia ter um pátio de treinamento pelo som de espadas chocando, comprovando que estava tendo treinamentos naquele exato momento.

Em sua vida passada ele nunca tinha percebido tal segurança, nunca tinha percebido que tinha tantos guardas, servos e soldados dos Hightower, protegendo a Torre da Mão. Alicent sempre era guardada por pelo menos dois guardas Hightower, é verdade, mesmo quando estava perto de Rhaenyra, que era uma princesa e era guardada por Guardas Reais, mas ele nunca viu Otto com nenhum guarda em si; Otto andava com uma adaga, nenhuma espada, e como sempre parecia tão plácido como um lago, as vezes Daemon esquecia que o próprio Otto era um cavaleiro nomeado com honra de sua grande casa no Reach.

Daemon nunca tinha percebido isso. Toda essa segurança na torre. Ele sempre soube que a Torre da Mão era a um dos locais mais protegidos. Até mesmo nos túneis que Maegor criou, apenas dava para entrar por, unicamente, uma entrada, essa que era no solar principal, que era usado pela mão do rei, e que esse túnel dava unicamente aos aposentos do rei. O quarto do rei tinha mais aberturas e mais túneis, fazendo assim, ser mais perigoso do que a própria Torre da Mão, os muros altos e grandes jardins, protegendo a torre era algo a se ver também. Era um lugar seguro. Muito bem guardado.

Tendo em vista que ele nunca percebeu tamanha segurança. Agora que tinha percebido, ele não podia deixar de se perguntar: para que tamanha guarda? Nem o rei tinha tantos guardas ao seu dispor assim.

Talvez, se Daemon fosse tolo, ele pensaria que era apenas Otto sendo um maldito paranoico, afinal, Otto era um cavaleiro da casa Hightower, e Daemon sabe que o homem esteve em algumas batalhas violentas para manter o poderio da sua casa no Reach, lutando batalhas contra os Tarly e os Tyrell, por um tempo até com Dorne, antes de terminarem as batalhas de forma diplomática, isso antes de se tornar mão do rei. Mas Daemon não era tolo, e mesmo que não soubesse que Otto é um cavaleiro forjado em batalha, ele sabia muito bem que o homem é inteligente e perspicaz demais para ser um tolo paranoico...

Não, tinha mais por trás de toda essa guarda e proteção, tinha um motivo, que Daemon não sabia.

E Daemon cada vez mais percebia que ele não sabia de muita coisa aparentemente.

E porra, ele odiava não saber! 

Daemon pode ser impulsivo e guiado pela raiva várias vezes, mesmo depois de velho, mas Daemon nunca foi um guerreiro prodígio, ele sempre foi muito mais inteligente do que ele deixava os outros acharem, porque não queria mais cobranças das quais ele já tinha, e ele sempre odiou Otto, pois... Bem o motivo era ridículo, mas... Sempre parece que o velho sempre viu através dele e, ás vezes, parecia que Otto queria que Daemon se mostrasse, o verdadeiro e total ele.

O velho sempre percebeu que Daemon era muito mais inteligente do que deixava os outros verem. No começo, Daemon sempre se escondeu para não sofrer a ira de Baelon, por tentar humilhar o seu amado filho mais velho, Viserys. Depois, Daemon sempre escondeu isso, pois não queria que seu irmão, muitas vezes estúpido, se sentisse envergonhado, ou pior, ameaçado, e o expulsasse de sua corte de vez. No final, Daemon preferia ser o irmão impulsivo e, muitas vezes o carrasco que serve Viserys, e assim estar ao lado do irmão, do que mostrar tudo o que ele era capaz e, Viserys por se sentir ameaçado, o odiasse, e o afastasse para sempre.

Quando Daemon foi mestre da moeda, e depois quando ele foi mestre das leis, toda vez que Daemon estava indo muito bem, Otto aparecia e, no que o ele de antigamente achava que era Otto alfinetando-o, na verdade, quando ele relembrava várias dessas situações, o ele de agora percebeu que parecia que Otto estava o aconselhando como ser ainda melhor. O ele do passado, por se sentir desafiado, acabava sempre estragando tudo de propósito, pensando que essa era uma forma de calar a boca de Otto. Daemon tinha de admitir, para si mesmo pelo menos, que o ele jovem era muito estúpido, não que o ele desse momento não fosse, mas com certeza, ainda era melhor do que a versão antiga dele, que era mais jovem, menos sofrida e muito mais estúpida.

Parando fora do solar principal, que era o que Otto usava, antes dele pedir para ser anunciado, ele escutou uma risada doce, feminina, e que se ele tivesse menos força de vontade teria tirado um leve sorriso do rosto dele por ser uma risada fácil e honesta que era facilmente contagiante. Ele sabia quem era que estava rindo dentro do solar, mesmo que ele nunca tenha escuta essa risada doce em sua outra vida.

Era o seu presente.

Daemon queria se conter com tais pensamentos.

Os Deuses não a deram para ele, mas quase parecia isso...

E isso fazia Daemon se sentir especial...

E Daemon amava se sentir especial!

Simplesmente os Deuses o pegaram após ele morrer, disseram que, não apenas ele devia ser rei, mas que tinham a mulher que seria uma rainha maravilhosa pronta para ele. E ainda, mesmo que não tenham percebido, mostraram que ela é tudo o que ele sempre quis! Leal, amorosa, dedicada, um tanto obediente! Os Deuses mostraram isso para ele quando disseram que ela sempre foi leal a Viserys, até a morte dele, mesmo com tudo o que ele fez para ela, e bom...

Daemon pode ser muito melhor que Viserys, certo?

Ele com certeza não a estupraria e com certeza não diria coisas de propósito só para machucá-la, não quando ele sabia que ela era leal a ele, que ela confiaria nele, que o procuraria por proteção e afeição, que ela seria só dele, totalmente fiel a ele e a família que criariam juntos, até que ele morresse! E sinceramente? Isso era mais do que ele já teve, e ele foi casado 3 vezes! Mas nunca teve a fidelidade de suas esposas, e a única e última a qual ele deu sua fidelidade, ele foi corno e criou mais um bastardo sobre seu teto, só que esse, diferente dos outros três bastardos, ele cuidou (ou pelo menos tentou) como se realmente fosse dele, um grande golpe para seu orgulho.

Saber que mesmo sendo um marido de merda, ele, comparado a Viserys, foi um melhor marido, afinal, não mandou o meistre abrir Laena, cuidou dos bastardos de Rhaenyra e a apoiou nas conquistas que ela queria para ela, e até mesmo para Rhea ele foi um marido melhor! Ela não queria se deitar com ele?! Tudo bem, ele aquece outras camas! Ele não sai estuprando mulheres, mesmo que elas sejam suas esposas. Então, saber que mesmo sendo um merda, ele ainda era, NOVAMENTE, melhor que Viserys em alguma coisa, e mesmo assim, ele não pegou o melhor NOVAMENTE?

Isso era pura agonia!

Soava muito a injustiça aos ouvidos nada imparciais de Daemon.

Daemon é o segundo filho, então não importa o quão bom seja em qualquer coisa, em tudo, nunca será o suficiente, APENAS, porque nasceu depois... Daemon, em sua eterna competição, aparentemente unilateral com Viserys, então ficou muito feliz quando casou com uma Targaryen, algo que nem seu irmão conseguiu, afinal Viserys se casou com uma metade Targaryen, mas que tinha crescido no Vale, e depois ele teve de que se “contentar” com uma ândala...

Infernos, se os Deuses não o fizeram engolir todas as palavras e os pensamentos ruins que ele tinha sobre Alicent APENAS mostrando como seria tê-la (em Harrenhal), e mesmo se não tivessem, a conversa que os Deuses tiveram com ele depois, com certeza, teria colocado um ponto final em tais pensamentos ruins sobre Alicent... Era ridículo, quando Daemon pensou que tinha ganhado em algo, lá estava Daemon percebendo que perdeu NOVAMENTE para Viserys, seu irmão teve o que ele, Daemon, sempre desejou, apenas para cuspir na esposa que era os sonhos de Daemon, nos filhos que Daemon queria para si!

Então, os Deuses chegarem para ele depois da morte, e disseram que ele deveria se tornar rei e que aquela mulher dos sonhos de Daemon, que nunca teve feições até os delírios de Harrenhal, deveria ser a rainha dele?!

E não apenas dizem isso, não, os Deuses o levam através do tempo, para que isso possa se tornar realidade!?

Até que fim Daemon PODIA ganhar, podia SENTIR que estava ganhando, e SABIA que tinha apoio para realizar essa situação!

Então como Daemon estava se sentindo, além de confuso por toda essa ida e volta no tempo, essas misturas de memórias?

Ele se sentia bem para caralho, ele se sentia muito especial!

E Daemon adora ser especial!

Talvez se ele apenas tivesse voltado, sem lembranças da conversa com os Deuses, apenas talvez, ele ainda fosse atrás de Alicent, embora com certeza ele nunca mais iria atrás de Laena e de Rhaenyra, mas, com certeza, aquelas memórias de Harrenhal o faria pelo menos tentar.

Com certeza sua impulsividade inata iria fazer ele abordar Alicent, contudo, ele sabendo que os Deuses apoiavam isso?

Que, na verdade, os Deuses o enviaram de volta com a esperança de que ele ficasse com Alicent?

Daemon estava segurando todos os seus pensamentos impulsivos (e muitos pensamentos obsessivos e possessivos que ele nunca teve na vida por ninguém e que o assustavam um pouco) com ambas as mãos, e com tanta força que seus dedos estavam ficando esbranquiçados, como um marinheiro segurando uma corda pesada e molhada, tentando evitar que um grande navio saia do porto, ele se sentia a ponto de estourar, afinal não era apenas sua impulsividade normal, não, era sua impulsividade sendo abençoada pelos Deuses.

Sua impulsividade sendo abençoada por todos os Deuses! Os malditos sete, as quatorze chamas e até a bendita da árvore!

Todos basicamente disseram: “ela é sua! Pega antes que alguém pegue!” Toda essa situação o deixava muito confuso, e ainda mais, a raia muito competitiva que existia em Daemon queria o trono, queria a coroa, queria Alicent, porque isso mostraria que Daemon é melhor que Viserys. Melhor que todos. E tudo isso fazia o coração de Daemon bater forte o suficiente para ele escutar as batidas nos seus ouvidos, e ter de respirar fundo algumas vezes para tentar se acalmar e se recompor.

Ele tinha tempo. Alicent era dele. Daemon não deixaria Viserys nem ninguém mais tê-la. Não precisava tê-la agora. Em breve.

Daemon repetia em sua cabeça como uma maldita oração, para que ficasse presa em sua cabeça, para quando a porta se abrisse ele não a abordasse como um gato encurralando um rato na parede. Respirando fundo novamente, e se recompondo interiormente, colocando sua máscara estoica no rosto, ele pediu para que um dos guardas o anunciasse e logo após o “entre” com a voz grossa e altiva de Otto foi reconhecida.

Entrando ele não pode deixar de respirar fundo e tentar manter a feição calma, enquanto seus olhos viajavam para a mulher que estava ali sentada, ele sabia que ela estava lá, ele tinha escutado sua risada, ele provavelmente passou um minuto que nem um idiota olhando para a porta fechada tentando se acalmar, apenas tentando controlar os pensamentos obsessivos e possessivos dele sobre ela sendo dele, mas ainda assim era outra coisa vê-la. Ver a mulher ao qual sonhou, delirou e desejou em Harrenhal, a mulher que os Deuses, todos os Deuses, disseram que devia pertencer a ele. Os cabelos ruivos em um penteado meio preso e meio solto, os cachos brilhando como chamas vermelhas em diversos tons de vermelhos que ele nem sabia que existia por causa da luz do sol que entrava pela janela, os olhos mel quase dourados, as bochechas rosadas, os lábios avermelhados e levemente inchados, formando um biquinho como se implorasse por um beijo, que no momento continha um leve sorriso para o pai. Daemon a viu se levantar e fazer uma leve, educada e perfeita reverência.

- Meu príncipe. – A voz doce o saudou. Não baixa como um rato encurralado, nem alta o suficiente para se tornar estridente e irritante, era sutil, mas continha uma força que negava a qualquer um não a fazer ser notada.

- Lady Alicent. – Daemon saudou levemente, com um tom calmo e levemente desinteressado, embora seus olhos tenham pousado nela assim que a porta se abriu e ele entrou, e seus olhos continuaram nela e apenas nela. Daemon apenas esperava que seus olhos não mostrassem o quão interessado ele estava nela. Muito. Agora não, agora não. Otto, depois Aemma e depois pensarei em Alicent! Forçando-se a olhar para Otto que não havia se levantado para o saudar, talvez em desafio, talvez querendo ver como ele reagiria, Daemon, que antigamente acharia aquilo algum tipo de insulto, via a verdade agora, era um teste, muito provavelmente de paciência e de flexibilidade. – Perdão por atrapalhar, Lorde Mão, contudo gostaria de falar com você. – Daemon falou calmamente e se segurou para não sorrir de forma zombeteira para a cara de surpresa de Otto. Pelo canto do olho ele viu Alicent fazendo uma breve reverência para o pai dela e para ele, falando uma breve despedida, enquanto passava com passos leves e elegantes para fora do escritório da mão. E, mesmo que não fosse a hora para isso, Daemon não podia perder essa oportunidade, afinal, ele nunca esteve perto o suficiente para saber como ela cheirava e ele queria saber, ele precisava saber, então quando ela passou por ele, com os cachos saltando e voando ao seu redor ele respirou fundo com a esperança de pelo menos um pouco da fragrância dela enchesse seus pulmões... E foi como se tivesse recebido um murro na cara, pois ele ficou ali, parado, olhando para a porta, agora fechada por Alicent, deixando a ele e Otto só e Daemon só conseguia pensar em seu cheiro... Ele pensava que seria o cheiro de flores, rosas, ou coisas assim, todas as mulheres que ele teve, de prostitutas, nobres e até mesmo a própria rainha – que era sua esposa – tinham esse cheiro, que pelo menos para ele, era comum, não importava que uma dissesse que era lavanda, outra dissesse que era lírios, e outra dissesse que era de rosas específicas de Dorne, para ele sempre pareceu igual: planta, terra, água. Todas cheiravam igual... Mas não Alicent, ela tinha o cheiro de suas sobremesas favoritas, ambas as quais ele não comia a séculos: torta de laranja e de limão. Laranjas. Limões. Ela tinha cheiro de laranjas frescas e suculentas, perfeitas para serem comidas em um dia quente e ensolarado. E também tinha uma leve fragrância de limonada gelada, perfeita para ser engolida e saboreada em dias quentes, após um longo dia de treinamento. Uma mistura curiosa, e, na nada humilde opinião dele: perfeita.

Infernos, se ela cheira assim, qual será o sabor?

- Então, Principe Daemon, em que posso ajudar? – Daemon escutou Otto falando atrás dele, e ele tentou se recompor rapidamente antes de voltar a olhar para Otto e não para a porta fechada de onde Alicent tinha saído. Olhando para mão do rei, Daemon viu os olhos afiados, olhos esses que o ele de antigamente teria pensado ser ódio, mas agora ele percebia o que verdadeiramente era: desafio.

E Daemon ama desafios.

Desafios são para pessoas especiais.

E Daemon ama ser especial.

Caminhando calmamente até a mesa, sentou-se onde Alicent estava anteriormente e não pode deixar de observar que ela estava transcrevendo papeladas relevantes ao reino.

Otto a treinou, ele percebe agora.

Na verdade, fazia sentido.

Alicent era apenas três anos mais velha que Rhaenyra, com seus 17 anos de nome e Rhaenyra com seus 14 anos de nome, mas parecia que séculos de conhecimento e inteligência as separavam.

O ele de antigamente achava aquilo chato. Nas poucas vezes que as comparava, ele achava que Rhaenyra era um espírito livre, um dragão que tinha direito a fazer o que quisesse e quando quisesse; ela podia e iria fazer tudo o que quisesse, porque ela podia, porque ela era um dragão e era seu dever ser espirituosa. O que os fez reis foram dragões afinal, e não papeladas. Daemon, em suas antigas comparações, achava Alicent chata, muito séria, muito “presa”. Mas, agora? Agora ele percebe, Rhaenyra não era um espírito livre, espirituosa, o futuro da casa do dragão, um ser doce e benevolente... Ela era uma garota mimada, que sempre teve o que queria nas mãos, que fez o que fez e sempre permaneceu achando-se a vítima quando ela que tinha cometido os erros e por ter cometido tais atos ela tinha de pagar as consequências de suas ações, sejam positivas ou negativas. O que, obviamente, Rhaenyra não queria e fazia de tudo para não encarar as consequências dos seus atos.

Deuses, ela levou todos a guerra por causa de seus filhos bastardos!

Ela levou todo o reino a quase morte ou miséria!

Os filhos dela sofreram e morreram!

Ela se negou a aprender a governar, mas ainda assim queria a coroa!

Sim, ele admitia, era os dragões que os fazia reis, era os dragões que davam medo ao povo para que assim continuassem reis, mas... Governar ia além de montar dragões e ganhar guerras! Até ele admitia isso!

Governar era trazer estabilidade, era a economia forte, era a lei rígida e os meios para ter ela funcionando estando sempre presentes e sempre preparadas para uso, era todo o trabalho administrativo que Daemon odiava, mas sabia que era necessário... Governar era toda a papelada que Rhaenyra se negava a fazer, confiando mais nos integrantes de seu pequeno conselho do que qualquer coisa, para fazer todo o trabalho enfadonho, até mesmo as coisas que deveriam ser decididas por quem tinha a coroa na cabeça, e não os seus conselheiros...

Igualzinho ao que Viserys fazia.

Já Alicent não era chata, séria ou “presa”, não, ela era inteligente, ela sabia o lugar dela, onde se encaixar, como se encaixar, o que fazer de certo e o que evitar para não ser a errada. Ela sabia que não tinha um pai leniente como Viserys para sempre corrigir os erros dela, ela sabia que o pai dela não era tão poderoso como Viserys é sendo rei... Não, Alicent tinha de ser perfeita para sua própria sobrevivência entre essas víboras que existem na corte, ela tinha de jogar um jogo exaustivo e tinha sempre de tentar estar um ou dois passos à frente de tudo e todos, pois não tinha ninguém com verdadeiro poder para protegê-la.

Ela foi casada com o rei e este preferia sua filha mais velha, imprevisível, idiota e promíscua do que a sua própria rainha bonita, benevolente, inteligente e leal e seus outros filhos com ela. Ela ter sobrevivido a tanto tempo na corte sem ninguém para ser seu escudo e espada era surpreendente!

- Preciso de um conselho, Otto. – Falou Daemon sem conseguir conter o sorriso de escárnio. Quem diria que um dia ele iria dizer tais palavras, principalmente para Otto!

- Continue, meu príncipe. – Otto falou por enquanto levantava e servia duas taças de vinho, uma a qual ele entregou para Daemon, sentando-se agora na cadeira ao seu lado, e não mais atrás da mesa, em uma forma de mostrar respeito e igualdade. Daemon gostou disso.

- Pretendo fazer uma noite de purgo com meus mantos dourados. – Daemon começa a falar para ele, como ele tinha mais de 2 mil homens, que juraram lealdade a ele, preparados para que na próxima noite fossem todos para as ruas pegar e punir aqueles que não os tinha sido ainda, bem como, punir aqueles que seriam pegos em flagrantes. Daemon falou em como ele deixou uma mentira se espalhar pela cidade, que ele e seus mantos dourados não iriam fazer suas rondas e punições nesta semana, pois estava perto do torneio para o herdeiro, o filho de seu irmão, mas que na verdade isso era uma mentira. Ele e seus mantos estavam pegando evidências e falando com testemunhas, ele não queria matar inocentes. Daemon explicou que fingiu estar longe por meses para que Viserys não achasse estranho e tentasse acabar com seus planos, assim, vivendo esses meses em casas de travesseiros. Daemon não falou essa última parte, mas de alguma forma, ele sabia que Otto sabia disso: Daemon era conhecido como Lorde de Flea Bottom, como o Príncipe da cidade, mas não apenas por viver em bordéis como muitos achavam, e sim porque ele sempre acreditou que era seu dever proteger aqueles que não conseguiam. O dragão não deve se importar com as opiniões das ovelhas, é verdade, mas deve pastorá-las, tanto para elas não se percam e se machuquem, ou causem bagunça, e, principalmente, para protegê-las, afinal não existe apenas os dragões como caçadores, se o dragão desviasse os olhos as ovelhas poderiam ser pegas pelos lobos ou pelos leões, com certeza seriam cercadas pelas raposas e pelo menos seriam levemente irritadas ou machucadas pelo falcão, o que pode causar uma grande bagunça. Após terminar de explicar, parcialmente tudo, Daemon vê os olhos de Otto brilhando, embora seu rosto continuasse sério. Ele demorou um pouco para compreender o que era aquele brilho: satisfação(?), orgulho(?).

- E qual o problema? – Otto perguntou levemente.

- Meu irmão e a reação que ele terá ao saber sobre como terá corpos e membros preenchendo carroças. – Fala seriamente. E vê, até que fim, uma verdadeira reação no rosto daquele homem, o franzir das sobrancelhas, o olhar de desgosto, os lábios franzidos em uma raiva reprimida.

- O rei tende a ser leniente com malditos bandidos desta maldita cidade esquecida pelos Deuses, mas sempre é muito mais grosseiro com você. Ele também escuta muito o conselho. – Otto falou enquanto negava com a cabeça, mostrando uma leve desaprovação perante Viserys. De tudo que Daemon esperava escutar, com certeza, isso não era uma delas.  

- Ele escuta muito você. – Não consegue se segurar para não alfinetar, afinal, por quase toda sua vida, Daemon se sentiu nas sombras desse homem. Otto, após essas palavras, apenas dá uma risada alta, com direito a cabeça jogada para trás, ele ria como se Daemon estivesse soltando uma das melhores piadas, ele riu como se ele achasse essa ideia risível, como se o próprio bobo da corte Cogumelo tivesse contado mais umas das suas ideias e rumores insanos. E esse riso começou a fazer Daemon começar a duvidar de tudo do que ele acreditava ser verdade. Viserys sempre escutou muito Otto, certo? Daemon tenta lembrar todas as vezes que ele achou que Otto de alguma forma manipulou Viserys, e agora, não parecia que Otto realmente tinha, de alguma forma, manipulado Viserys, na verdade, parecia que Viserys jogava algo e Otto tinha de falar para ele, com todos os argumentos e floreio típico do Hightower, de que aquela ideia era horrível, mas para não machucar o ego de rei, ele daria propostas... Otto realmente teve receio de mostrar seus pensamentos e ser 100% ele por causa de Viserys? Assim como Daemon tinha feito durante toda sua vida, se escondendo nas sombras de Viserys, para não sofrer, para não ser jogado fora, ostracizado? Uma memória lhe veio à mente, de quando ele estava escondido em uma das passagens de Maegor, que dava para a sala do pequeno conselho, e ele escutou uma conversa que o fez odiar muito Otto, porque aquela comparação o seguia há muito tempo, desde que era criança, e quando ele ouviu sendo comparado novamente, uma parte dele, já quebrada, despedaçou totalmente, e ele prometeu odiar Otto pelo resto de sua vida.

O que, tendo em vista que ele já morreu, e odiou Otto até o final, ele cumpriu um dos seus votos. Mas agora é uma nova vida.

“- Otto, não consigo acreditar que Daemon fez isso. Na semana do torneio do meu herdeiro, ele simplesmente enche carroças de corpos e membros. Isso é uma coisa selvagem e cruel, não? – Viserys pergunta olhando para Otto, que parece um tanto inquieto, em pé, ele não conseguia parar de dar pequenos passos e fazer grandes movimentos com a mão, como se estivesse gesticulando seus pensamentos.

- Vossa majestade, veja bem: embora os atos do príncipe Daemon tenha sido, talvez, um pouco exacerbadas, ainda assim, trouxe, de certa forma, uma paz dentre os cidadãos de Porto Real. O que, talvez, possa ser advindo do medo, contudo, isso é importante. Essa paz, calma, diminuição no números de crimes, tendo em vista que o torneio está chegando e com isso muitos nobres virão para Porto Real, lugar este que os nobres, sabendo que há um menor índice de criminalidade, irão aproveitar tudo que Porto Real pode oferecer, assim, fazendo com que o comércio flua, e por consequência, os cofres do reino encham, afinal, os gastos desse torneio, as acomodações, os banquetes, todos os artistas, dançarinos, músicos e bobos que foram chamados para a festa fizeram a coroa gastar uma grande quantidade de ouro, o que, obviamente, vossa majestade, é compreensível, afinal a coroa está sediando o torneio para o herdeiro de seu rei. Contudo, sempre deve-se ter em vista o futuro e observando os impostos e o atual problema dos Stepstones que estão dificultando o comércio para várias casas, e essas estão tendo problema de passar o ouro que é devido a coroa, pode se tornar um problema. Assim como a dívida que a coroa tem com o Vale também pode vir a se tornar um problema. Logo, embora o que príncipe Daemon possa ter feito possa ser chamado de selvagem e cruel, mesmo que tenha sido para criminosos que cometeram atos tão cruéis quanto os que lhe foram sofridos, tendo em vista tudo o que está acontecendo no reino, foram atos necessários e que irão trazer bons frutos para a coroa com o tempo. – Fala Otto, e Daemon que está observando do seu esconderijo quase acha que a mão do rei está nervoso. Viserys para um tempo em silêncio,  como se ingerindo tudo o que Otto disse, e Daemon fica um pouco confuso tendo em vista que, parece, que Otto protegeu suas ações.

- Ele realmente será chamado de selvagem e cruel, não é? – Viserys pergunta por fim a Otto, encarando sua mão com um olhar que não parece interrogativo. Na verdade, não parece uma pergunta, e sim uma afirmação de fatos. E Daemon olha entre as madeiras, para encarar o rosto de Otto, que parece confuso. Um ‘de tudo que eu falei, você só conseguiu analisar isso?’ expresso no rosto confuso e levemente irritado da mão do rei.

- Bom, vossa majestade, sim, talvez ele seja chamado assim, mas como falei anteriormente, tais atos que ele cometeu podem ser facilmente desculpados tendo em vista a posição da coroa e de como isso trará benefícios e...

- Quem desculpava os seus atos de crueldade, dizendo ser a necessidade do reino, era Maegor, o Cruel. – Viserys interrompe Otto, que parece um tanto perdido em para onde essa conversa está se dirigindo. – Talvez meu irmão seja um novo Maegor, Otto? Que comete atos de crueldade e diz que é para o bem maior, é isso que você está tentando me dizer, Otto? – Viserys pergunta a Otto que parece estar escolhendo com muito cuidado suas próximas palavras.

- Vossa majestade, não quis nunca fazer, com minhas palavras, que o senhor inferisse isso do seu irmão, o príncipe. Também não consigo imaginar Maegor fazendo tais coisas ao povo pequeno, contudo, se ele o fizesse e o justificasse que era para o bem da coroa, e olhando todo o reino, se realmente fosse o melhor, talvez possa ser considerado isso. – Otto diz e Daemon está tão surpreso em seu esconderijo que ele agradece a qualquer um que o esteja escutando, por ele estar escondido, pois ele não conseguiria esconder essa face de surpresa que ele provavelmente tem. Otto o estava protegendo?

- Claro que você não quis que eu pensasse isso do meu próprio sangue, Otto. Mas como você mesmo disse e eu concordo: eu também não consigo imaginar o próprio Maegor fazendo isso, esses atos de crueldade contra o próprio povo. O que só mostra que meu irmão pode ser pior, que tem de ser controlado. – Viserys afirma acenando com a cabeça como se concordasse com Otto e como se tivesse tomado uma decisão. – Meu irmão é um segundo Maegor, talvez pior. Como irmão mais velho tenho que cuidar para que ele não siga para tais caminhos de perversidade. O que você recomenda Otto? Outro exílio? Talvez tirar um pouco do seu ouro, cortar uma parte do seu estipêndio, afinal, como você disse a coroa precisa de ouro? Talvez cortando um pouco disso, meu irmão deixa de beber e se prostituir por aí com o ouro da coroa? – Viserys pergunta. Obviamente já feito da cabeça. Otto suspira, e se Daemon não o conhecesse, diria que Otto estava cansado e resignado. O que Daemon não conseguia engolir. Daemon acreditou por um segundo que Otto o estava protegendo, só para ver como ele manipulou seu irmão a acreditar que Daemon era o próprio Maegor reencarnado. Viserys era um tolo! Otto era uma cobra astuta! E Daemon se sentia uma criança que tinha sido decepcionada pela primeira vez pelos pais. O pior nem era ele ter acredito que Otto o estava protegendo por um minuto, e que talvez o próprio Daemon talvez tivesse sido manipulado pela cobra por um segundo, o pior nem era ser chamado de Maegor, novamente, não, o pior era seu irmão mais velho ter acreditado nisso e o estar pronto para expulsá-lo de sua corte, novamente. Com um suspiro, e ignorando o que quer que a cobra estivesse falando dentro da sala, Daemon apenas saiu do seu esconderijo, em direção aos túneis que o levavam a sua ala na Fortaleza. Mais uma vez Otto manipulou Viserys, e Viserys mais uma vez o jogará fora.”

Agora que Daemon, em segundos, relembrava aquela memória, ele percebia que ele foi tolo. Ele devia ter ficado e escutado até o fim. Ele não devia ter uma fé cega em seu irmão mais velho, também. Afinal, ele via agora, por a nova perspectiva que essa vida após a morte o dava, que Viserys não foi manipulado, e que sim, Otto estava protegendo suas ações. Viserys manipulou tudo, não só com suas palavras, mas com seu tom, com sua certeza e finalidade, e por fim, com o poder que a coroa, que ele insistia usar na cabeça o tempo todo, o dava. Ninguém o podia contradizer, nem mesmo sua mão. Observando Otto se recompor das risadas, e se preparar para falar com um sorriso desdenhoso no rosto, Daemon se pergunta o quanto ele mesmo não conhece o próprio irmão. Por quanto tempo ele não só esteve no escuro, mas que ele mesmo quis permanecer assim, que mesmo com todas as coisas que poderiam fazer ele pelo menos se perguntar sobre o que o irmão estava fazendo, ele sempre suprimia, pensando que era apenas o doce Viserys, o tolo Viserys... Como Daemon era estúpido! E ele teve de morrer e voltar para entender isso. Entender que Viserys não era um tolo. Que Viserys tinha uma raia de perversidade correndo no seu corpo. Ele relembrou de tudo que sabia e vivenciou, e agora, olhando com um olhar imparcial, e não um olhar de um irmão que colocou seu irmão mais velho no pedestal, Daemon vê como ele foi feito de bobo durante toda sua vida. E mesmo Daemon tendo analisado tudo e, no fundo, sabendo que aquilo era a verdade. Não era a verdade só porque Daemon queria, ou porque fazia sentido, nem mesmo pelas próximas palavras que Otto disse que o fizeram ter certeza sobre seu irmão, era o fato dos próprios Deuses terem falado tudo o que disseram para ele sobre Viserys. “Tente evitar aqueles que tanto lhe trouxeram ruína, mesmo que este sejam do seu próprio sangue”. Esse foi um dos conselhos dos Deuses, certo? E que o trouxera tanta ruína, desgosto, mágoa e tristeza, fora nada mais do que seu próprio irmão, sendo seguido logo depois por sua sobrinha, a filha desse, uma vez, tão adorado irmão.

- Isso é o que ele faz todos vocês acharem. O rei só faz o que acha que deve. Ele não é manipulado, ele manipula. Vamos, Daemon, você é mais inteligente que isso, você realmente acredita que eu tenho tanto poder sobre o rei? – Otto pergunta e me observa e eu o vejo sorrindo malicioso quando ele percebe que eu entendi. – Até que fim você percebeu. Pensava que nunca iria. – Afirma, dando um pequeno gesto na cabeça, como se aprovasse que Daemon tivesse percebido as raízes profundas de maldade e manipulação que seu irmão tinha.

Apenas agora ele entendia.

Depois de anos, depois de morrer e novamente reviver, apenas assim Daemon realmente viu a verdadeira natureza do irmão, com uma simples frase e risada do Hightower.

Viserys... Ele nunca foi o rei tolo, bondoso e pacífico.

Ele era um homem louco por seu poder, e já que não tinha boas habilidades na esgrima, e também já não tinha mais o seu dragão, ele se segurava a sua coroa e ao trono de ferro com todas as suas forças. Viserys era faminto por poder. Viserys é um homem capaz de abrir a sua mulher viva para segurar um menino nos braços. Ele era capaz de negar casar com Laena, mas não pela idade, como ele tanto gostava de afirmar em sua vida passada, afinal, quando ele casou com Aemma ela era ainda mais nova que Laena, não, ele negou porque assim, ele não teria Rhaenys por perto dele na corte e assim, não trouxesse comparações entre ele, o rei, e a rainha que nunca foi. Ele se negou a casar com Laena para que assim, ele pudesse se fingir de idiota para a guerra dos Stepstones, para que assim os Velaryons, uma das famílias mais ricas e com a maior frota começasse a declinar e não ser um perigo para o poder dele, para que assim, caso Laena tivesse filhos, um Velaryon não sentasse no trono. Viserys era um homem que foi capaz de estuprar Alicent diversas vezes, por anos, para que ela lhe desse filhos, esses que ele nunca nem ao menos se deu o trabalho de olhar, cuidar, moldar, ensinar e proteger. Os filhos dele eram apenas suplentes de sangue, para caso Rhaenyra morresse, provavelmente em algum trabalho de parto.

Os filhos dele com Alicent, era uma maneira de fazer com que Daemon caísse cada vez mais na linha de sucessão.

Esse era o motivo dele recusar que Daemon se casasse com Rhaenyra também, não porque ele a amava e queria que seu irmão devasso ficasse longe dela, a única memória de Aemma... Não, ele proibiu, porque sabia que Daemon tinha muitos apoiadores, que Daemon casando-se com Rhaenyra acabaria se sentando no trono, e Daemon apostava que Viserys odiava o pensamento de ter Daemon como rei, mesmo que rei consorte.  

Viserys nunca foi o irmão mais velho doce e inofensivo que Daemon pensou que seu irmão era. Quando ele colocava tudo em perspectiva ele viu que, desde criança Viserys nunca o protegeu, e embora ele quisesse pensar que era porque Viserys era tolo e covarde, e um irmão muito doce para poder parar a raiva de Baelon, mesmo ele querendo acreditar nisso... Novamente aquela lembrança da infância deles apareceu novamente, só que dessa vez muito mais nítida: ele sendo chicoteado por Baelon por pedir uma torta de laranja, enquanto Viserys ficava no canto do pátio observando, ele entendia agora o que tinha nos olhos de Viserys... Não era pena, não era o olhar de um homem que não podia fazer nada para proteger seu irmão mais novo, que inclusive, foi o que ele falou mais tarde como desculpas, não o olhar de Viserys era... Era um olhar de prazer, de satisfação, era o mesmo olhar que ele tinha toda vez que ele lhe negava a anulação de seu miserável casamento, era o olhar de prazer que ele tinha toda vez que o exilava ou diria que o puniria, era o olhar de satisfação por ter um cachorro fiel em que ele tinha todo o poder sobre.

E tudo isso foi uma péssima realização.

Viserys era mal!

Daemon não pode deixar de se perguntar agora, algo que ele deveria ter se perguntado muito antes.

Como foi que Alicent acabou sempre indo para o quarto do rei e sendo aceita lá? Foi realmente Otto, por sua ambição... Ou foi Viserys que o mandou fazer isso?

Pensando agora... Não fazia sentido.

Se Viserys não queria ver ninguém após a morte de Aemma, nem Daemon, nem Rhaenyra, afirmando estar com dor e sofrendo pela perda, por que Viserys aceitou a entrada de Alicent em seus aposentos? A filha de sua Mão, uma mulher muito mais nova que ele? Uma mulher que não tinha nenhuma relação de sangue com ele como Daemon ou Rhaenyra tinha? Que não era, nem ao menos uma Lady importante, afinal ela era filha de um segundo filho.

Deuses, Viserys...

Viserys a esperava.

Essa era a resposta.

Isso significa que Viserys está de olho em Alicent há tempos.

- O que faço? – Pergunto a Otto com um tom amargurado. Ele demorou décadas para entender que seu irmão não era uma vítima que não viu a guerra chegando. Não, Viserys era um homem que fingiu não ver, para que assim, a guerra apenas acontecesse quando ele morresse, pois ele queria ser lembrado como um rei pacífico. Viserys, não se importava com o futuro de sua casa, não se importava com seus filhos, sobrinhos, netos. Infernos, ele mentiu sobre sofrer por sua “amada” Aemma, talvez no máximo, o que ele sentia era culpa...

Não, Viserys só queria seu nome na história interligada aquele maldito trono e o resto que se fodesse.

- Você disse que reuniu evidências. – Otto meio pergunta, meio afirma. E Daemon apenas acena confirmando. Tentando focar na conversa e no que tinha de fazer e não no tumulto de emoções que ele estava tendo. – Faça a purga, apareça no conselho logo cedo, com todas as evidências em papiros. Diga que tem testemunhas que estão dispostas a depor em frente ao rei e ao conselho, e dê uma lista dos nomes, quantidade e quais a sentenças que foram prestadas, todas essas informações para cada um dos conselheiros. Mostre tudo isso ao rei, prepare-se para uns gritos, abaixe a cabeça e diga que os seus homens juraram lealdade a Viserys e não a você. Viserys gosta de ter o ego amaciado. Eu estarei lá para apoiá-lo, e com a papelada, o Lorde Lyonel, o mestre das leis, estará do seu lado. O meistre Mellos irá apoiar tudo que eu faço, logo você terá a metade do conselho a favor do que você irá fazer, então não terá que se preocupar, no final Viserys irá apenas aceitar. – Otto fala calmamente, e Daemon apenas acena concordando. Sim, essa era a maneira mais fácil. Seria mais cansativa, pois ele não tinha toda a papelada completa ainda e teria que escrever cópias para cada um do conselho, mas ele terminaria isso hoje ainda. Daemon não sabia bem o que fazer, o que sentir... Ele estava uma bagunça emocional, sua cabeça estava em agonia com memórias se chocando com fatos e cada realização só piorando seu humor, e o fato de que Otto estava sendo direto com ele, nada de correr ao redor do assunto, ou de fazer seus discursos floridos, ele estava sendo direto, sincero e pragmático. Sua voz não tinha nenhum tom de desafio, e seu rosto não estava na faixada séria e analítica de sempre, ele se mostrava calmo e com o olhar as vezes distante, mostrando que estava pensando muito, sua cabeça o levando para muito distante dali, e aquela era uma vulnerabilidade que Otto o estava mostrando que Daemon não esperava, e não fazia a mínima ideia de como lidar com isso. Limpando a garganta Daemon prosseguiu, fazendo o que faz de melhor: fingindo que não percebeu nada.

- Bom, então tenho de ir, tenho muito a fazer, contudo, sinto que pelo seu conselho e pelo seu apoio no pequeno conselho, eu lhe devo algo, Otto. – Fala e vê Otto virando olhar para si e o analisando de cima abaixo, com escrutínio demorado, preciso, e aparentemente satisfatório já que ele agora expressava um leve sorriso nos lábios.

- Eu sempre soube que você era mais material para rei do que seu irmão. Jaehaerys negou isso afirmando que você era muito impulsivo, Baelon afirmou que você nunca entenderia sobre a diplomacia, que para você tudo acabaria terminando em guerras. Mas eu sempre vi mais... Somos segundos filhos afinal, não importa o quão bom sejamos, quando comparados ao primogênito, sempre teremos de correr atrás de algo, qualquer coisa, para sustentar nossas famílias, fazer nosso legado. Vi isso em você desde cedo. – Otto fala, olhando para a parede atrás de Daemon, os olhos pareciam perdidos novamente, quase vítreos, era como se ele estivesse vendo lembranças e não a parede. – Você sempre foi mais inteligente que Viserys, mais forte, melhor na esgrima, o meistre que lhe ensinava sempre tinha elogios, até mesmo melhor em escolhas, afinal, quem seria o idiota que reivindicaria o dragão mais antigo, sabendo que ele poderia morrer a qualquer momento? Aparentemente, o rei. Quando você escolheu Caraxes e se vinculou a ele, no mesmo ano em que Viserys via seu dragão morrer, achei até quase poético, você não acha?

- Não compreendo o porquê do meu dragão ser poético e muito menos o que isso tem a ver com o que te devo. – Daemon fala calmamente.  

- Seu dragão é nada menos o dragão guerreiro do falecido príncipe herdeiro, o que deveria ter se tornado Rei, Aemon, o pai de Rhaenys, a rainha que nunca foi. E você mostrou-se um líder nato, quando com apenas vinte anos e além de cavaleiro nomeado, era um cavaleiro dono da lendária Dark Sister, e também um cavaleiro de dragão, um dos dragões mais fortes e enrijecido por guerras, você juntou tropas preparados para a votação no conselho, mas não só isso, você se preparou também para uma guerra que poderia, a qualquer hora, acontecer, enquanto isso Viserys apenas observava o irmão mais novo, protegendo a posição dele, do mais velho, quando todos estavam seguindo você, e na verdade, você poderia ter tudo, inclusive uma reivindicação ao trono, uma melhor que Rhaenys, uma melhor que Viserys. A realidade é que os homens que dobraram os joelhos para Viserys, apenas o fizeram, pois sabem que você é o príncipe herdeiro, mesmo que não devidamente proclamado assim. – Otto explica. E Daemon percebe que nunca tinha pensado isso, não dessa forma. E isso o fazia ficar nervoso e um tanto irritado agora, afinal, talvez... Viserys tenha pensado o mesmo? Talvez Viserys sempre viu Daemon como um empecilho em seu caminho, apenas porque Daemon era Daemon? E que perspectiva isso dá? Que Viserys odiava o irmão apenas por o irmão, ser melhor que ele e o proteger? Isso apenas mostra mais da veia ruim que Viserys tinha. – Sempre estive irritado com você, Daemon, pois você sempre pode ter mais, tudo que eu desejava quando mais jovem, inclusive, mas você esbanja com vinhos e prostitutas, estava perdendo as esperanças, até agora.

- As esperanças? Do quê? De tentar me fazer ser rei? – Pergunta num tom zombeteiro. – Você não acredita que eu seria um segundo Maegor? – Não pode deixar de fazer aquela pergunta, mesmo já sabendo a resposta.

- Não. – Otto responde calmamente. Sendo direto e pragmático, deixando Daemon um tanto surpreso. Otto o olhava fixamente nos olhos, verdes contra lilases, mostrando uma certeza e confiança, que se Daemon fosse mais jovem, talvez lhe tirasse o ar. Daemon nunca duvidou que Otto era capaz de ser direto, Daemon apenas achou que ele usava seus discursos como uma arma para os inimigos, contudo o príncipe percebe agora, a mão do rei usa seus discursos como armadura, uma defesa contra todos nessa corte, nessa Fortaleza que aparentemente ser direto, pragmático e sincero pode causar o fim da sua vida e daqueles que você ama. – Você tem tudo para ser rei, talvez apenas, tenha demorado a se mostrar como um. Mas como dizem, é melhor tarde do que nunca.

- Então o que você quer? – Pergunta Daemon cansado, afinal, ele estava cansado, e ainda era cedo, e ele tinha muito o que fazer. – Você quer que, se caso eu me tornei rei, você continue sendo minha mão? Ou você quer que eu me case com Alicent e a faça uma rainha? – Pergunta de forma zombeteira. Daemon não precisa que Otto queira que Daemon se torne rei e que Alicent se torne rainha. Afinal, o que era o que Otto queria perante o que os Deuses queriam? Nada! Otto não precisa saber que Daemon estava planejando isso, embora essa ambição de Otto facilite o fato de que o próprio Daemon querer casar com a filha desse homem.

- Não. – Otto fala com um leve tom de diversão, cortando os pensamentos de Daemon que o observa um tanto perdido. Otto continuava calmo como antes, o leve sorriso no rosto. Um sorriso leve, pequeno, mas honesto e cansado. – Eu estou satisfeito Daemon, fui Lorde Mão para dois reis, meu nome já está na história, tenho ouro e terras no Reach agora mais do que suficientes para dar aos meus filhos. Quero sim que Alicent faça um bom casamento, mas quero que ela o faça por amor, respeito, e não apenas dever e sofrimento, quero que minha filha tenha o que eu tive. – Otto fala, rodando o anel dourado no dedo anelar esquerdo, fazendo Daemon lembrar que esse homem foi um dos primeiros homens em décadas que se casou com uma mulher de acordo com o triângulo marital, era um homem que amou muito a esposa, o suficiente para jurar durante três cerimônias que nunca teria outra mulher que não ela, mesmo depois da morte... Logo algo passa pelo rosto de Otto, como se uma lembrança muito odiada, fazendo a mão do rei franzir o cenho em raiva, e quando ele o encara novamente, Otto está mortalmente sério. – Eu tentei me aposentar como mão, mais de uma vez, até que da última vez ele, seu irmão, o rei, disse que caso eu continuasse a insistir nesse assunto ele tiraria minhas terras e todo o ouro, joias, e coisas de valor que eu acumulei ao decorrer do tempo. Eu sou um homem ambicioso, Daemon, nunca irei negar isso, mas duas coisas que eu sempre disse a todos os meus filhos, desde cedo é: os amo, a todos, igualmente, que sempre podem confiar em mim para protegê-los, do que for, mesmo que isso possa vir a me causar desgraça e até morte. Assim como sempre disse a eles: saibam o seu lugar. E eles sabem, meu príncipe. Eles são bons homens e uma ótima mulher. Não almejo mais nada além da alegria dos meus filhos, quem sabe netos em um futuro... Então não, não desejo ser a mão de mais um rei, e não desejo, de forma alguma, que minha filha se case por causa de acordo comerciais. Quero que minha filha seja protegida e respeitada. Apenas. Então, nada do que você me ofereceu, me é desejado, mas sim, você está certo. Gostaria de algo seu.

Daemon ficou em silêncio durante toda a fala de Otto... Daemon, estava tentando entender Otto, não que ele achasse que conseguiria, não em breve. O homem estava sendo direto e extremamente sério e sincero, e isso era algo que desarmava um pouco Daemon, que pensava que estava vindo para algum tipo de batalha. O fato que Otto não casaria Alicent, apenas para melhorar a posição dela e, consequentemente dele e de toda a casa Hightower, também era uma perspectiva que deixava Daemon ansioso, se segurando para não começar a mover os pés em um claro sinal de nervosismo. Afinal, isso mostrava que Otto não queria que Alicent se casasse com o rei, o que só fazia com que os achismos de Daemon se comprovassem ser verdade: Viserys esperava Alicent, muito provavelmente mandou Otto enviá-la aos seus aposentos. E, nada mais nada menos, Daemon não conseguia pensar em alguma coisa, além do motivo de alavancar a posição de Alicent, que faria esse homem na frente do príncipe, fazer com que sua linda filha case com ele. Problemas. Aparentemente, Otto não é tão preto e branco, e facilmente manipulado pela ambição, como Daemon achava. Esse homem tinha camadas.

- O que você deseja? – O príncipe pergunta seriamente.

- Continuarei a aconselhá-lo se quiser, meu príncipe. Irei apoiá-lo e ajudá-lo no que precisa. Principalmente se quiser sentar no trono de ferro. E por esses simples favores que irei fazer bem-feito, só desejo que, quando você se torne rei, você irá me destituir e eu irei deixar de ser sua mão. Você deixará com que eu continue com minhas terras e bens preciosos, e o mais importante para mim... – Otto para bruscamente, como se procurasse uma forma de colocar em palavras belas o que queria falar, para não irritar Daemon.

- Eu não sou Viserys, Otto. Não gosto de rodeios. Apenas fale. Diretamente. – Fala sério e Otto o olha nos olhos, como se para verificar a verdade nas palavras de Daemon. E assim que parece que Otto ver o que quer que ele queria ver, Daemon consegue enxergar uma fúria enchendo os olhos e rosto da mão do rei, fúria essa que o príncipe percebe que não é para ele, é para outra pessoa, para algo ou alguém que provavelmente tem a ver com seu pedido. – Continue, Otto. – O convence, e com um longo suspiro o Lorde Mão suspira.

- Quero a cabeça de Viserys em uma estaca... – Afirma a mão, fazendo os olhos de Daemon arregalarem levemente. – Mas se não for possível, apenas faça com que Viserys tire aquele olhar imundo dele da minha filha, não me importa como, faça como que ele fique obcecado por outra garota, não me importa, contando que não seja minha filha. – Otto fala, o rosto vermelho e contraído em raiva. E as palavras deixam Daemon confuso e perdido. Viserys é casado, e, de certa forma, ama Aemma, certo?

- Viserys é casado, estamos a uma semana do torneio do seu filho e...

- Daemon, serei direto e soará grosseiro. – Otto o interrompeu, o encarando. Olhos nos olhos. Daemon não deixa de perceber que o que quer de Otto falará irá mudar a forma que ele vê seu irmão para sempre. – Seu irmão se casou com Aemma quando ela tinha 11 anos de nome. Quando minha filha veio para Fortaleza Vermelha ela tinha apenas quatro, mas já lia e falava fluentemente: a língua comum, a língua dos primeiros homens e alto valiriano. O rei Jaehaerys gostava da minha filha, ele achava a presença dela calma e a achava muito inteligente e sempre disposta a aprender, o rei dizia que ela lembrava a sua filha Saera quando ela era pequena. Alicent lia em valiriano para o Rei Jahaerys que a via como uma criança doce que ela era, e seu irmão, mesmo casado, tentou, por muitas vezes, encurralar minha filha nos cantos, de formas mais desonrosas e com olhares mais devassos que vi, até que, o local mais seguro em que ela ficava era ao meu lado e ao lado do seu avô. Eu queria a mandar embora, mas seu pai morreu, o Grande Conselho aconteceu, e seu irmão se tornou rei, me nomeou mão e me proibiu de sair de Porto Real, assim como Alicent. A morte da minha esposa só piorou a situação, eu não poderia dar a desculpa de que uma garota precisava da mãe... E ele sabendo disso, disse que uma garota merecia uma figura materna, fazendo Alicent ficar perto de Aemma, embora eu acredite que figura materna é um peso muito grande tendo em vista os poucos anos que separam Aemma de Alicent, talvez uma irmã mais velha? Então, como se lendo meus pensamentos, novamente, ele disse que Alicent deveria ficar, e se tornar uma dama de companhia para Rhaenyra. Não pense que foi um pedido, Daemon, foi uma ordem, uma que se não fosse cumprida, eu teria de arcar com consequências, talvez até com minha vida, e isso me faria incapaz de proteger minha família, meus filhos, minha casa. Então, eu concedi, acreditando e rezando para os sete, que ele vendo minha filha ao lado da dele, ele compreenderia que ela era apenas uma garota, que nem ao menos tinha sangrado ainda, na verdade estava muito longe para se quer isso acontecer. Mas não foi isso que aconteceu, ele continuou a olhar lascivamente, na presença de Rhaenyra e até mesmo de Aemma. E então, chegando a esse malfadado casamento, que é o dele com Aemma e desse maldito torneio para o herdeiro... Daemon, juro pelo Deuses que isso não mentira. – Otto o olha como se esperasse que Daemon o interrompesse, mas o príncipe apenas acena, muito preso nos segredos que nunca soube, muito preso na necessidade de saber mais, para negar que Otto continuasse.  – Aemma teve um pequeno sangramento há algumas semanas, e sentiu muita dor, essa que desde o ocorrido continua sentindo. Mellos a verificou no mesmo dia do sangramento, e afirmou, em privado, para mim, que a criança está morta dentro da barriga dela, Daemon. Eu avisei ao rei no mesmo dia, pensando que ele cancelaria o maldito torneio, mas, mesmo assim ele quis continuar com toda essa festa, com essa farsa. Ele... Ele...

- Ele o quê?! – Pergunta irritado, não com Otto, mas com o quanto Viserys fez, o quanto Viserys sabia, o quanto Viserys manipulou ele, a filha, toda a corte, quando, na verdade, ele já sabia de tudo. O como Viserys matou Aemma, aparentemente, sabendo exatamente que nunca haveria herdeiro algum. Ele fez uma peça, fazendo papel de pobre coitado, quando na verdade, aparentemente, tudo era sabido, esperado, e talvez planejado.  

- Ele não contou a Aemma e ela ainda acredita que o bebê está vivo. Ele nos proibiu, principalmente a Mellos, para que ele não contasse a rainha, e não contasse a mais ninguém também. Mellos agora, dá chá e poções a ela para ela manter o bebê e não continuar a sangrar, e para aliviar a dor. Mas Mellos me disse, o bebê está morto, está apodrecendo, e no que antes Mellos podia dar a ela algumas misturas que poderia fazer ela expulsar o bebê de dentro de si, e a deixar viva, agora ele não pode mais, a rainha vem sofrendo com febres e dores, por causa da decisão do rei, o bebê podre a está matando. E para piorar, ele deu ordens diretas para... – Otto para, respira fundo como se estivesse tentando procurar coragem para terminar de falar qualquer das maquinações maléficas que seu irmão aparentemente nada tolo ou idiota fez. O que mais poderia ser tão ruim? Embora agora ele não achasse que há um limite para Viserys. – Ele deu ordens para que Mellos desse uma mistura que forçaria a rainha a entrar em trabalho de parto exatamente no dia do torneio. Mas, a poção é para dar início as contrações para o nascimento de uma criança viva, mas a criança no ventre da rainha está morta há tempos. Não haverá contrações, haverá apenas dor, dor excruciante para rainha, e o rei nos afirmou que teria seu filho nos braços, morto ou não. Ele disse para Mellos o chamar durante o torneio, na hora de abrir Aemma. – Otto falou com uma voz de desgosto e nojo, e Daemon poderia completamente entender isso, ele estava sentindo o mesmo. Daemon, coloca as mãos sobre seu estômago, e engole a ânsia de vômito, se sentindo novamente aquele garoto de anos atrás, quando essas situações, de Viserys e Aemma, eram mais visíveis para ele, até que Daemon resolveu olhar para o outro lado, resolveu não mais vomitar seu estômago toda vez que a Aemma de 12 anos dizia com lágrimas nos olhos que tinha perdido o bebê durante o jantar em família. O pior? Otto não terminou por aí. – Após essa ordem e aviso sobre o sigilo dessas informações, não demorou um dia para que a cada momento do dia, ele me pergunte sobre Alicent, sobre os estudos; ele fala como ela é bonita, como é bem-educada, modesta... Régia... Não quero que minha filha se case com Viserys, Daemon, o que com a morte certa de Aemma, ele pode muito bem pedir tendo em vista a obsessão que ele tem por ela desde que ela era uma garota, e eu, mesmo sendo o pai dela, e mesmo sendo a mão do rei, não posso negar ao rei, Daemon.

O mundo desabou ali.

Então era tudo verdade.

Viserys é um monstro cruel, que aparentemente gostava de garotinhas, e tinha uma obsessão por ter um filho homem e ter uma esposa que o mostrasse o quão viril ele era... Ele desejava Alicent de forma obsessiva, por enquanto planejava o assassinato de sua esposa no meio de um torneio ao qual ele estaria se divertindo, por enquanto sua esposa sofria, mas ainda tinha esperança de dar ao rei uma criança viva. E quando ele tivesse Alicent, Daemon sabia o que ele faria com ela, os Deuses avisaram, e ele viu parte do seu sofrimento: Viserys a estupraria, a faria chorar e sofrer, a cuidar de seus filhos sozinha, ela seria sempre triste e solitária, sempre machucada e magoada.

Mas uma coisa não fazia sentido... Por que, mesmo depois de ter Aegon, ele continuou deixando Rhaenyra como princesa herdeira? Mas foi só o pensamento o atravessar, que a realidade o penetrou. Não foi necessário muito tempo para saber a resposta para essa pergunta: porque Rhaenyra já estava arruinada, porque ele casando Rhaenyra com Laenor ele teria os Velaryons ao seu lado, porque Rhaenyra muito cedo, logo após o casamento, ela teve um filho bastardo e se ele tirasse o título de herdeira dela, ela se tornaria uma pária. Mas tinha algo pior, Daemon percebeu, Viserys queria ser conhecido como o pacífico, o bom, e todas essas tolices, então deixando Rhaenyra como sua herdeira, quebrando séculos de tradição, ele entrava na história novamente, como o pai gentil.

Viserys é o começo do fim da casa Targaryen.

- Não sei como posso ajudar pelo menos esse aspecto, Lorde Mão. O rei não é um homem que me escuta, e se tem alguma coisa que ele e eu temos em comum é a teimosia. – Daemon diz com finalidade. Ele queria terminar aquela conversar, correr para o canto mais escondido que ele poderia encontrar nessa fortaleza e vomitar o que quer que ele tenha em seu estômago.

- Quero que minha filha se case bem, você conhece muitos Lordes e Cavaleiros, certo? Você poderia tentar noivar minha filha, antes da morte de Aemma, antes que Viserys tente colocar as mãos na minha filha. O tempo é curto, mas não impossível para isso. – Otto falou um tanto nervoso, levantando-se da cadeira e andando de um lado e para o outro, esfregando as mãos juntas em um ato para tentar se acalmar. A cabeça de Daemon rodou, tanto com as verdades que foram reveladas, tanto por entender o porquê de Otto está sendo direto (Otto precisava de Daemon, para salvar a filha) e também o porquê do pensamento de Alicent casando com qualquer um que não fosse o próprio Daemon fazia o estômago do príncipe embrulhar ainda mais.

- Mesmo que eu o faça, meu irmão é o rei, ele pode anular o casamento e ele mesmo se casar com ela. Ninguém irá contra o rei. – Daemon falou e ele viu os ombros de Otto caírem em derrota, sabendo como aquilo era verdade. Parando no meio do escritório, olhando para o chão, com olhos vazios, como se seus pensamentos estivessem rápido demais a procura de uma solução, Otto não percebeu como os próprios olhos de Daemon mostravam o quanto o príncipe estava perdido em seus pensamentos, em suas lembranças, na procura de uma solução. Não uma solução para Alicent casar-se com um qualquer, não, uma solução para Alicent casar-se com Daemon. – Embora, eu sempre fui contra meu irmão, e ele nunca na frente da corte poderia roubar a noiva do próprio irmão mais novo. – Fala calmamente e Otto o olha intensamente nos olhos.

- Você é casado. – Afirma.

- Não mais, em breve chegará uma carta para o rei, se já não tiver chegado, um pedido da minha esposa sobre a anulação do nosso casamento, já que nunca houve consumação e ela precisa de herdeiros e que ela já tem um homem a quem ela pretende casar-se. – Fala calmamente, totalmente diferente de como ele estava se sentindo. Espero que os Deuses não tenham brincado sobre isso. Mas se tiverem... Ele faria? Ele mataria Rhea Royce de novo? A resposta veio rápida em sua cabeça, apenas em pensar em cabelos cor de chamas, olhos dourados como mel, e o cheiro de laranjas frescas com leves tons de limão: Sim, ele mataria de novo a sua cadela de bronze.

- Viserys não poderá negar, não quando o pedido agora veio da prima de Aemma, Rhea Royce, e não de você. Principalmente tendo em vista que ela não segue os sete, mas sim os Deuses antigos. Para o Vale e para o Norte é como seu casamento nunca se quer tivesse acontecido. Todo o conselho irá aprovar a anulação e todos irão ficar felizes em poder tentar jogar suas filhas para o príncipe herdeiro. – Otto reflete calmamente. – Mesmo com todas as oportunidades que virão você ainda irá querer entrar em um cortejo e talvez noivado e casamento com minha filha?

- Não é um talvez, Otto. – Daemon fala com certeza em sua voz. – Ela será minha esposa. E ela provavelmente será uma rainha. – Fala e a certeza que teria surpreendido o príncipe antes, agora não o surpreendia, não o assustava, na verdade só o deixava calmo com sua escolha de seguir em frente com isso, de tê-la, se um dia ele tivesse alguma dúvida era só ele pensar nos olhos de corça, os cabelos vermelhos, o sorriso suave e o cheiro de laranjas e limões e ele sabia que qualquer dúvida que pudesse existir, sumiria. Esse pensamento, essa certeza, que Alicent era sua, fazia o príncipe perceber o quão obsessivo, algo que ele nunca sentiu antes, ele estava sentindo... Essa obsessão vinha com uma necessidade de possessão que ele nunca teve por nenhuma mulher. Ele sempre gostou de ser livre, traiu quase todas as suas esposas assim como todas elas o traíram, mas agora... Só o pensamento de outro homem tocar naquela doce mulher ruiva? O pensamento dele tocar qualquer mulher que não fosse ela? Ter outra mulher que não fosse ela para guiá-lo, o amar, lhe dar a família que ele sempre desejou, ser sua rainha e ser só dele... Não, era impossível sequer pensar nisso agora, mesmo que tudo estivesse apenas começando, talvez fosse muito rápido, mas... Ele sempre fora impulsivo, e o melhor dessa situação? Agora sua impulsividade era impulsionada pelos Deuses. Ela é a rainha certa. E ele era o rei certo. Eles eram um casal que os Deuses que são um, sete e quatorze disseram que é a melhor chance para se ter um Targaryen no trono para quando o inverno frio e congelante e escuro chegasse. Era o melhor para tudo, para todos. E ele com certeza não deixaria Alicent sofrer o que sofreu nas mãos, que só agora ele sabia, era seu irmão cruel.

- Não peço que a ame, Daemon, mas preciso saber. Seria um casamento como foi com Rhea? Ou você respeitará a minha filha e a protegerá?

- Nunca irei destratá-la, Otto. A respeitarei, protegerei e honrarei. E talvez, um dia, eu possa amá-la. – Fala Daemon com toda a sinceridade que tem. Ele não podia prometer mais do que isso. Ainda não.  

- Então você tem minha benção, meus conselhos e meu suporte em tudo que se necessita. Agora, peço, por favor, não desonre minha filha, sei que não é algo de seu feitio, mas pelo menos a corteje. Alicent embora forte e destemida, é uma alma suave, doce e gentil. – Otto pede cauteloso.

- Então é isso, até a próxima reunião do conselho, Otto. – Fala Daemon se levantando, deixando o vinho intocado em cima da mesa de Otto e indo em direção a porta. Contudo o príncipe para, percebendo que talvez devesse acalmar o pai de Alicent, ele gostaria que o acalmassem caso ele estivesse na posição de Otto. Olhando para mão do rei, que ainda está parado no mesmo local de antes, mas que tinha olhos nervosos em suas costas, Daemon se decide. – A irei cortejar, Otto. A avise pelo menos, para que ela não saia correndo de medo de mim. – Diz Daemon em um bufo, e Otto ri levemente acenando a cabeça.

- Certo, meu príncipe. – Otto diz, e pela primeira vez em suas duas vidas, Daemon vê Otto fazendo uma reverência a ele. E ele se segura para não arregalar os olhos com tal simples gesto. Daemon sai do escritório da mão, e logo depois, da Torre da Mão, indo para sua ala da Fortaleza Vermelha. Ele tinha muitas papeladas para resolver, muitos pensamentos para colocar em ordem, um estômago para esvaziar e aparentemente ele tinha de cortejar, algo que ele nunca nem se quer considerou em sua vida. Isso o deixava meio tonto. Tudo o que estava acontecendo, toda a informação, tudo fazia parecer que aquela situação era irreal. Até mesmo o cortejo.

Ele precisaria de conselhos.

Agora para quem ele pediria conselhos de como cortejar uma dama, esta pessoa não sendo Otto, já que este era o pai da mulher ao qual ele estaria cortejando, e em breve, casando... Ele não sabia quem poderia o aconselhar, exceto que NÃO poderia ser Otto.

Aparentemente esse era o único conselho que ele não conseguiria pedir para Otto, certo?

“Então, Otto, passei minha vida com prostitutas, nunca cortejei nenhuma mulher, nem tive vontade para isso, então como eu faço para conquistar sua filha?”

Não, isso é definitivamente um não.

Ele precisava de conselhos de outra pessoa.

Repassando por toda sua mente tudo o que ele viveu, toda a conversa extremamente sincera, todos os pensamentos que ele teve, os resultados em que chegou, as dúvidas que persistiram, ele não consegue deixar de pensar em Aemma.

Sua doce prima, esta que ele não via há anos por pura teimosia.

Aemma que iria morrer em uma semana, assassinada por seu irmão, que não era nem de longe tolo, idiota ou doce, o irmão que estava planejando o próprio assassinato da esposa, para segurar uma criança morta nos braços, um irmão que ele vê agora que não adianta a conversa que ele tivesse pensando em ter com o rei, sobre sonho de dragão, visões ou qualquer merda assim, o rei iria em frente no plano muito bem planejado de matar Aemma, e aparentemente tentar já atacar Alicent...

Agora que Daemon para um pouco para pensar, todas as fofocas que levariam Alicent a ruína caso ela não tivesse casado com Viserys na vida passada, tinha começado dos próprios servos e guardas do próprio rei, o que só faz Daemon questionar o quanto mais Viserys planejou. Talvez ele tenha planejado até isso, as fofocas, os sussurros, para forçar ainda mais que Otto deixasse o casamento entre ele e Alicent acontecer, afinal, se o rei não quisesse que rumores se espalhassem sobre o que acontece nos próprios aposentos, ele tem o poder para fazer isso. Mas olhando agora, Daemon percebe que Viserys talvez quisesse que houvesse essa mancha na dignidade de Alicent, dos Hightower, da grande casa do Reach, para que assim ele saísse como o pobre coitado tolo, que em seu luto, sua própria mão enviou sua bela filha para consolá-lo e manipulá-lo...

E isso na vida passada tinha acontecido como um charme, não? Infernos! Quão vil, e fundo da podridão seu irmão poderia ir?

Depois da conversa com Otto ele estava um tanto nervoso com as capacidades capciosas do seu irmão.

Aemma... Talvez fosse hora de visitá-la.

Outra visita que ele devia ter feito em outra vida...

Ele se desculparia por falar com ela daquele jeito, ele era tão jovem e tão idiota, e então ele tentaria saber o que Aemma sabia sobre, como ela mesma disse, “a verdade sobre Viserys”... Ele não sabe como ele contaria que a criança que ela estava esperando estava morta e que o próprio marido iria levá-la a morte. A verdade? Daemon não sabe se sequer ele deve falar isso para ela. Do que adiantaria? Nada!

Com isso na cabeça, a impulsividade o fez trocar o caminho que fazia pela Fortaleza Vermelha. Seus pés o levando para os aposentos da rainha e não para os aposentos do príncipe.

A papelada pode esperar um pouco mais!

Com seus passos calmos, mas determinados, ele deixou sua mente vagar... Ele pensou na jovem Aemma de apenas 10 anos de nome que chegou à fortaleza no próprio dia dos 14 anos de nome de Daemon, ele lembra como, mesmo tentando ser um “homem” e a negando, depois de um biquinho, muito parecido com os de Rhaenyra, quando sua sobrinha era mais jovem, Aemma o convenceu a brincar com ela, brincar como ele não fazia desde que sua mãe morreu quando ele tinha apenas 8 anos de nome.

Daemon e Aemma correram pelos jardins, brincaram de se esconder, contaram histórias um para o outro, e dividiram segredos juvenis que antes eles achavam importantes, mas que agora, Daemon nem se quer se lembra deles. Daemon, entretanto, lembra das risadas divididas naquele dia e nos próximos, ele lembra de como ela o forçou a fazer parte de suas pequenas festas de chá onde só tinha ele e ela, ele lembra de jogar Cyvasse e ganhar sempre (mesmo quando ela implorava para ele deixar que ela ganhasse apenas uma partida), lembra de contar piadas extremamente ofensivas apenas para a ver ficar vermelha e guinchar envergonhada e mandá-lo parar de rir dela, ele lembra de como ele pensou que continuaria assim, mesmo quando ela sangrou aos onze, e toda sua família começou com a preparação do casamento, ele lembra de como ela devaneou para ele sobre como Viserys deveria cortejá-la agora que ela seria sua esposa, como ela sonhava que seria seus casamentos, um no septo perante os sete, fazendo o casamento ser válido para, basicamente, todo o Sul, e um menor, familiar apenas, na frente do represeiro, na frente dos Deuses Antigos, estes que fariam o casamento ser válido para o Vale e o Norte. Como ela sonhava com bebês, e como ela admirava o doce Viserys que, às vezes, aparecia quando ela estava costurando com a avó de Daemon, a Rainha Alyssane...

Ele lembra como a viu casar, como não se preocupou com Viserys levando a criança para cama, afinal, Daemon estava lá quando o meistre, na época, Rucinter e não Mellos, disse para Viserys para ele não consumar o casamento, que ela era muito jovem, que isso poderia prejudicá-la de uma forma que talvez não pudesse o dar nenhum herdeiro... Ele lembra de ver Aemma apenas uma semana depois, uma garota de 11 anos de nome que não tinha mais aquele sorriso grande, bochechas rosadas e inocência nos olhos... Ele lembra de como a partir dali eles bebiam chá e jogavam Cyvasse, mas que agora tudo era regado a um silêncio pesado, onde Aemma parecia perdida no tempo e espaço em meios aos seus pensamentos ele não entendia o porquê... Daemon lembra como ele vomitou todo o seu jantar quando descobriu que Viserys não só apenas consumou o casamento, mas continuou a fazê-lo todas as noites, sem pausa...

Daemon lembra como ele falou com seu pai e avô, sobre isso, o que o fez levar um tapa forte na cara, dado por Baelon, e apenas um revirar de olhos de Jaehaerys... Ele lembra de tentar a pedir o seu irmão para ter calma com Aemma, e ele lembra de Viserys dizendo que era o dever de Aemma, ela deveria lhe dar herdeiros... Daemon lembra de engolir o vômito que vinha em sua garganta e as vezes ia até sua boca, toda vez que ele via Aemma com algumas marcas roxas em sua pele, que não era coberta, pelos agora, muito sérios, escuros, severos e rígidos vestidos que ela foi obrigada a vestir, pois um dia ela seria rainha... Ele lembra de vomitar quando descobriu que Aemma estava grávida com apenas 11 anos de nome, ele lembra como evitou Viserys por pelo menos uma semana depois da notícia... Ele lembra de escutar uma animada Aemma por seu primeiro bebê, ele lembra de ver a pequena menina segurando uma barriga enorme, mesmo que só estivesse em suas 3 luas, afinal ela era tão pequena e frágil, e ele lembra de pensar que aquilo não podia ser normal...

E ele lembra de como a segurou nos braços, engolindo o próprio choro quando ela soluçava e gritava, dizendo que queria seu bebê, quando este tinha morrido ainda em sua barriga e ela se recusava a ser limpa e trocada, ainda toda melada de sangue entre as pernas e toda a cama... Ele lembra de como gritou, talvez pela primeira vez na vida, com Baelon, quando descobriu que Viserys estava visitando a cama de Aemma novamente, menos de duas semanas após a perda do bebê, ele lembra com Baelon puxou a espada e colocou em sua garganta afirmando que Daemon deveria cuidar de sua vida, antes que Baelon a tirasse...

Daemon lembra como ele se encontrou noivo de Rhea Royce não muitas luas depois...

Daemon lembra, muito envergonhado, como após ser ameaçado por seu pai, Daemon apenas parou...

Parou de tentar protegê-la, parou de querer saber sobre como Aemma estava, deixou de dividir chás com ela e de jogar Cyvasse, parou de olhar para as cenas de “amor” que Viserys sempre fazia em suas refeições em família, e de como ele começou a olhar para o outro lado e fingir que não via nada disso, fingir que aquilo era normal...

Afinal, talvez Daemon estivesse errado. Jaehaerys, Baelon, Viserys eram homens, eram mais velhos, sabiam bem mais do que Daemon ousava achar que sabia...

Daemon começou a agir como se fosse normal ter seu irmão de 21 anos de nome beijando a boca de sua esposa de 11 anos de nome... Ele acha que talvez, em algum momento, ele realmente tenha começado a realmente achar normal, embora sempre que uma gravidez era anunciada ele evitava olhar para Aemma, para não ver o medo e a esperança guerreando naqueles grandes olhos azuis que eram muito infantis para conter tanta dor; embora Daemon sempre vomitasse após todos os malditos anúncios; embora ele evitasse Aemma toda vez que chegasse notícias que ela perdeu os bebês que ela tanto queria; embora ele as vezes bebesse para esquecer quando sabia que,  novamente, mesmo contra as instruções dos meistres, Viserys entrava na cama de Aemma mais cedo do que devia; embora ele tenha chorado mais de uma noite trancado em seu quarto, lágrimas silenciosas, com suspiros de dor baixo, agarrando o peito como se de alguma forma isso diminuísse a angústia que ele estava sentindo pela perca de sua doce prima que sonhava em ser cortejada, amada, casar, e quando mais velha, ter seus próprios bebês que ela amaria mais que tudo.

Chegando em frente à porta, que era guardada por guardas reais, dos aposentos de sua prima, a Rainha Aemma, ele respirou fundo e apenas abriu entrando no recinto. Ele ignorou todas as servas que andavam de um lado para o outro, ignorou o cheiro enjoativo de rosas dentro do quarto, ignorou o calor absurdo que estava ali. A realidade é que Daemon só conseguia focar em Aemma sentada em frente de uma pequena mesa.

Em pensar que ele a reconheceria mesmo depois de anos, e ele sabia que era Aemma não só por causa da gravidez óbvia, ou dos empregados que a serviam, não... Era porque Aemma, naquele momento, era a imagem cuspida da memória que ele tinha de Rhaenyra de sua vida passada, quando mais jovem, anos antes de casar, muitos anos antes dela sequer ter os bastardos. Embora Aemma estivesse obviamente grávida, obviamente exausta, e muito mais magra do que ele sequer vira Rhaenyra estar em toda sua vida. Aemma parecia estar em tormento, os grandes olhos azuis (não roxos como os de Rhaenyra, talvez o único fato que realmente as diferenciasse além da magreza doentia de Aemma) pareciam vazios, o sorriso fácil que a rainha apresentava nos finos lábios pálidos, ressecados e rachados não chegavam aos olhos que estavam agora vazios, nada daquela inocente, divertida e cheia de alegria Aemma que ele um dia conheceu.

- Então você veio antes da minha morte. – Ela diz calma. Até sua voz fazia com que Daemon se lembrasse da Rhaenyra adulta que ele encontrou quando ele voltou aterrorizado e quebrado da guerra dos Stepstones. Ele se perguntava agora, mesmo que sem querer, se ele protegeu tanto Rhaenyra, a amou tanto, e a buscou tanto em sua vida passada, porque ela o lembra de sua doce prima Aemma, a primeira pessoa, a primeira mulher de sua família que ele tentou proteger e falhou. Falhou diversas vezes, falhou miseravelmente, falhou, pelo que parece, fatalmente.

Sua doce prima estava com os pés na cova e até ela reconhecia isso. Ele tinha mais coisas para adicionar em sua lista de arrependimentos.

Ele se arrependia de não ter vindo a Aemma antes, de não tentar protegê-la com mais afinco... Por ser um covarde perante o avô, o pai, e o irmão e deixar apenas uma criança ser usada e machucada desse jeito.

- Eu vim com desculpas sinceras. E dúvidas enormes. – Daemon fala calmamente, por enquanto ele vê Aemma fazer um gesto com as mãos e logo todos os servos saírem fechando a porta, assim, deixando eles dois sozinhos. – E com um grande arrependimento por não ter vindo antes. – Daemon completa com a maior sinceridade em sua voz. E ele sabe, que mesmo tentando colocar a sua máscara estoica no rosto agora, ele não estava conseguindo, não quando a via assim, não quando ele sabia que não tinha nada a fazer para que ela vivesse, não quando as imagens, memórias de anos atrás, de uma doce menina de risada fácil que falava sobra a vida, amor, família e felicidade... Era totalmente conflituosa com a imagem que ele estava tendo agora, da mesma menina, mais velha, falando de sua morte como se fosse a coisa mais comum do mundo.

- Está tudo bem, Daemon. Eu não preciso daquelas desculpas, na verdade, não preciso de nenhuma desculpa. Apenas estou feliz de ver meu primo favorito uma última vez. – Aemma fala docemente, e por alguns segundos, ele vê que o levantar de lábios dela realmente chega aos olhos azuis, não mais brilhantes, e sim opacos, mas que mostravam uma leve afeição por ele. Ela realmente estava feliz em vê-lo, e realmente não queria desculpas pelas palavras vis que ele uma vez disse a ela. – Embora sobre as dúvidas enormes, talvez essas eu queira escutar e talvez esclarecer. Quem sabe, nós possamos ter uma conversa como nos velhos tempos, sim? – Aemma pergunta por enquanto acena para a outra cadeira que tinha na pequena mesa onde tinha algumas frutas e doces, assim como uma jarra de limonada. Daemon andou um pouco relutante, mas fez o que Aemma pediu indiretamente, sentou-se a pequena mesa com ela, embora não tenha se servido de nada. Seu estômago ainda estava revirado, ele ainda engolia a ânsia de vômito, principalmente a vendo assim.

- Rhaenyra se parece com você. – Essa foi a única coisa que Daemon foi capaz de formular e falar, embora a sua cabeça estivesse formulando milhares de perguntas e milhões de desculpas.

- Talvez em aparência, embora, não importa o quanto ela tente se mostrar doce para mim as vezes, eu vejo a veia da personalidade de Viserys ali nela. Muito mais existente do que eu sequer gostaria que existisse. – Aemma fala negando com a cabeça, em um ato de decepção. Aemma olha diretamente para Daemon, azuis com lilás, mas Daemon percebe que Aemma não está ali, a cabeça está perdida em algum lugar. – Embora eu só possa culpar a mim mesma por não ter estado tão presente para educá-la corretamente.

- Não acredito que seja sua culpa. – Daemon diz com um tom de finalidade.

- Talvez. Nunca saberei. – Aemma fala no mesmo tom, dando de ombros. Mas, logo, coloca um pequeno sorriso no rosto, um sorriso quase divertido. – Soube que seu casamento foi cancelado com sua cadela de bronze. Parabéns! Embora seu irmão esteja lívido com isso. – Aemma fala em um tom divertido. Terminando a frase com uma pequena risada, como se a raiva de Viserys a trouxesse de alguma forma felicidade.

- Não sabia que Rhea já tinha pedido a anulação. – Daemon fala tentando buscar informações. O que aparentemente Aemma entende e não se recusa a dar.

- Há luas Daemon, no mínimo 3 luas, embora eu saiba que a anulação foi feita pelo Alto Septão apenas na semana passada, isso porque minha prima o ameaçou a cortar algumas indulgências que estava dando a coroa. Parece que a coroa está devendo ouro ao Vale. Pelo que sei das missivas que minha prima, por vezes, me manda, ela se casará essa semana na frente dos Deuses Antigos. – Aemma diz com um tom de alegria que ele não ouvia a muito tempo. Como se para ela a situação fosse toda muito engraçada. E Isso não pode deixar de tirar um sorriso levemente divertido dele.

- Otto Hightower não sabia disso. – Daemon fala. Será que Otto sabia e apenas não o disse? Ele tinha de se manter atento a Otto.

- Duvido que soubesse. Eu apenas sei, pois Rhea me contou e quando eu toquei no assunto com Viserys, ele explodiu. – Aemma diz dando de ombros, apagando as dúvidas que Daemon insistia em tentar jogar a Otto. Talvez cachorro velho não aprenda truque novo, assim, fazendo Daemon duvidar de Otto por todo o tempo que ambos existissem. – Mas, agora, eu quero saber como você sabe que Otto não sabe disso. – Aemma questiona com uma sobrancelha erguida, tanto em dúvida, como em uma afirmação que ela não deixaria aquele assunto morrer, caso Daemon quisesse mudar de assunto. Talvez o antigo Daemon faria isso, mudaria de assunto, mas tendo em vista que o Daemon de antigamente nem ao menos se dignou em ver Aemma, ele deveria começar a deixar de agir como o Daemon de antigamente: o Daemon que estava preso nas opiniões do avô, do pai, do irmão; o Daemon que estava preso em traumas, medos de abandono e solidão; o Daemon que era impulsivo, raivoso, machucado, quebrado e atormentado... E assim, talvez, devesse começar a se prender com o Daemon de agora, o Daemon que viveu, morreu, conheceu os Deuses, conheceu toda a história que aconteceria com sua casa por causa do seu cruel irmão e das escolhas estúpidas de Rhaenyra e do próprio Daemon, e que viveu novamente, para tentar fazer certo dessa vez e talvez encontrar um pouco de paz, se fosse ainda mais sortudo, ser um pouco feliz nessa vida.

- Bom, contarei a história toda, em troca de um favor. – Daemon diz com um sorriso brincalhão, e ele vê a dúvida nos olhos de Aemma. – Você terá de me ensinar e me dar conselhos sobre cortejar uma dama, pois não faço ideia por onde começar. – Daemon não pode deixar de rir quando escuta o pequeno grito animado de Aemma, que tem um sorriso grande e sincero no rosto, e que tem aquele leve brilho nos olhos, o brilho que a antiga Aemma que sonhava com cavaleiros, torneios, cortejos, donzelas e todas as canções de amores que os bardos tocavam, tinha; a Aemma que sonhava que um dia ela seria essa princesa e essa rainha amada das canções.

- Alicent é maravilhosa, você sabia? Pelos Deuses, vocês vão fazer um par maravilhoso! Você é tudo o que ela sempre quis e ela é tudo que você precisa, primo! Eu já tenho ideias! Alicent e você merecem ser felizes, apesar de Viserys. – Aemma diz animada, e Daemon acredita piamente que se ela não estivesse grávida, se não fosse aquele bebê morto dentro dela que estivesse sugando a vida fora dela, provavelmente, ela estaria dando pequenos pulinhos na cadeira, como ela fazia quando criança e estava muito animada com alguma história que ele estava contando. E embora Daemon não quisesse quebrar aquela animação, aquele pequeno momento de Aemma sendo sua doce, pequena e jovem prima, ele não conseguia deixar aquele comentário passar.

- Mas também quero saber sobre Viserys, prima. E porque não só eu, mas Alicent foi citada nessa frase. – Daemon diz a contragosto, ele não queria quebrar aquele pequeno momento de alegria que Aemma parecia precisar, mas ele não podia deixar aquilo passar de animo leve... “Alicent e você merecem ser felizes, apesar de Viserys”. Embora Daemon esperasse uma quebra total de clima, que Aemma se fechasse novamente, não foi isso que aconteceu. O sorriso de Aemma diminuiu, mas não desapareceu, nem deixou de ser sincero. Aemma olhando em seus olhos deu um leve dar de ombros seguido por um suspiro cansado.

- Ela é minha amiga. Ou o mais próximo que tenho disso. – Ela fala calmamente. O olhando, como se estivesse analisando como ele reagiria as próximas palavras. – Ela tem medo de Viserys, não sem motivos. Mas acredito que você pode protegê-la, primo. Acho que você é mais do que capaz de dar a Viserys medo o suficiente para ele se afastar. – Ela volta a sorrir, mas não o doce nem o alegre, nem mesmo o falso... É um sorriso de quem quer sangue, de quem quer vingança, e que está feliz de que isso está acontecendo para seus inimigos... O que é uma perspectiva muito intrigante, tendo em vista que sua prima estava falando do próprio marido. De alguma forma, a conversa com Otto, a Torre da Mão muito bem guardada, Alicent sempre andando com duas espadas juramentadas... De alguma forma, isso se enrolava com as palavras de sua prima, de uma forma que o deixava ansioso, e piorando do já mal do estômago... Tinha mais. Tinha coisas que ele não sabia. Tinha coisas que ele não sabia se queria saber, mas sabia que tinha de saber.

- Acredito que preciso de uma explicação mais detalhada. – Daemon diz com finalidade. Aemma apenas acena em confirmação.

- Ainda bem que é cedo primo, temos muitos assuntos a colocar em dia. – Aemma começa o que Daemon sabe, vai ser uma longa e exaustiva conversa, mas uma muito necessária. E em pensar que o dia só estava começando.

Notes:

E AI?
1) aspas "
ou
2) travessão -

Agora sobre o capítulo:
- Muita coisa, né? E essa ainda é a posta do iceberg. Afinal muitas coisas não foram descobertas por Daemon: por que a Torre da Mão é tão bem guardada? Por que Aemma acha que vai morrer? Por que Alicent tem medo de Viserys? Que dívida é essa da coroa para o Vale? Daemon mesmo estando feliz por não ter mais as marcas que os Stepstones, ele irá para a guerra, mesmo sabendo que não ganhará nada com isso? Por que Aemma parece tão insatisfeita com Rhaenyra? O que será que Daemon vai achar, pensar e sentir quando vir Rhaenyra? Quais vão ser os conselhos de cortejo que Aemma irá dar para Daemon? Como será que Alicent irá lidar com o cortejo com Daemon? Como Rhaenyra irá agir com isso? Viserys simplesmente vai deixar isso acontecer sem mais nem menos? E O QUE É TRIÂNGULO MARITAL? (KKKKKKKK triângulo marital é algo que inventei que acabará por manter Viserys longe de tentar tomar Alicent de Daemon, e é algo que terá uma GRANDE relevância para TODA a história, terá mais explicações no meio do caminho.)
- Se é possível manter a gravidez de Aemma nessa condição por um tempo? Sim. É ter cuidado com a dor (através do leite de papoula), ter cuidado com a febre (tomando chás antipiréticos, como o de folhas de dipirona), e assim o corpo começará a passar por um processo de rejeição e de fagocitose do corpo do bebê. Aemma vai morrer, seja abrendo a barriga, seja agora apenas deixando o bebê dentro dela. Caso tentassem tirar o bebê no dia do sangramento, onde provavelmente houve uma abertura no colo vaginal, provavelmente esse foi fechado, e só rasgando e dilacenrando iria dar acesso ao bebê.
- Tendo em vista que Aemma está viva trouxe um pouco do pensamento de Daemon a respeito do sentimento dele por ele, de não protegê-la. Além que gostei de humanizá-la um pouco, além de ser uma égua parideira de Viserys.
- Como eu disse eu ajeitei as idades dos personagens, para que ficasse mais bem adequado para onde está indo a história (pelo meu bel prazer KKKKKK, desculpinha). Irá ter situações canônicas do livro, outras da série, e terão, obviamente, muuuuuuitas cenas novas! Ah, vocês não perdem por esperar para ver como os Velaryons irão agir, se arrepender, sofrer, se vingar. Vai ser lindo demais! (Beijo de chef)!
- E então o que vocês acham que vai acontecer? O que acharam do capítulo?
- Espero que tenham gostado! Foi muita informação, mas vem mais, só que agora aos poucos. Vocês irão ver nosso impetuoso Daemon tendo de jogar os jogos dos tronos como sua pequena torre. É engraçado certo° Por Daemon ele chamava Caraxes, quebrava a parede da sala do trono, mandava o dragão comer Viserys e Rhaenyra, e no final quem sentava no trono era dele, mas... As coisas não são tão simples, como o próprio Daemon admitiu para mesmo: "Os dragões nos tornaram reis, mas a papelada é o que nos faz permanecer sendo reis".
- Fico no aguardo pelos comentários, por favor, peço apenas que sejam gentis.
- Novamente peço perdão por qualquer erro!
- Muito amor! <3
- Até mais!

Notes:

POR FAVOR, NÃO ESQUEÇAM DE VOTAR:
1!
OU
2!

(Preciso ter uma resposta antes do terceiro capítulo! Em breve o segundo capítulo irá sair!)

PS: Aqui, só Aegon (filho de Rhaenyra e Daemon) reinou, e ele casou com Jaehaera (neta de Alicent), aqui Viserys (filho de Rhaenyra) nunca reinou (e Daemon o considera um bastardo). Então isso já é uma GRANDE diferença para os livros, mas eu tinha de ter uma "justificativa" para o porquê de Daemon E Alicent estarem juntos e não Daemon e qualquer outra (inclusive Rhaenyra). Essa história terá muitos aspectos parecidos com a série, outras MUITO diferentes. A mesma coisa com relação ao livro, como vocês viram, Mysaria é uma semente de dragão, na série ela não é. E, o mais importante, a personalidade de Viserys e a de Otto. Otto continua sendo um homem ambicioso, não se enganem, mas ele tem limites (vocês vão ver com o decorrer da história, principalmente com o quanto isso faz sentido com a forma que ele foi criado, pela religião dos 7, com o conhecimento que ele tem da Cidadela por ser de Oldtown) e como Viserys não é tão tolo assim, essa história nunca me desceu, sempre falava de família, amor e legado, e o que deixou para atrás foi a destruição de toda a sua casa, uma guerra que era impossível que ele não tivesse visto... Então, se preparem, Viserys aqui não será uma alma boa (até mesmo porque nenhuma alma boa engravida uma menina de 11 anos de idade cof cof AEMMA cof cof). Espero que gostem. Não acho que Daemon vai sair muito do personagem, mas o que sair é facilmente justificável com tudo que ele viveu, com o que ele presenciou enquanto estava na presença dos Deuses e afins. Bom é isso, qualquer dúvida é só perguntar!
PS2: Aqui Daemon realmente mata Laenor, não há fingimento do assassinato não.

Até já já!

Um feliz natal atrasado e um próspero ano novo adiantado!