Chapter 1: Someone
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Meia noite.
Era o que dizia o relógio digital em meio a penumbra.
Silencioso e contido, assim como as cores dos moveis dispostos milimetricamente pelo espaço para se harmonizarem à bela construção de um escritório clássico.
Esfumaçadas paredes de vidro demonstravam o frio rigoroso que existia ao lado de fora, que ansiava por invadir o lado de dentro do local onde apenas calor físico ainda podia ser emanado.
E, mesmo que a fumaça borrasse os reflexos embaçados, nada poderia impedir a visão cosmopolita que as janelas poderiam proporcionar.
A paisagem quase megalomaníaca da metrópole se estendia sob a longitude do horizonte até onde a vista humana seria incapaz de alcançar. O colorido característico dos semáforos e postes de luzes amareladas ornamentavam com as cores frias dos prédios extremamente altos e automóveis transitários, um verdadeiro sonho para os amantes que conseguem encontrar conforto em uma vida agitada dentro da cidade.
Aquela visão atrairia qualquer pessoa cuja mente se sentisse ridiculamente seduzida por tal vista. Talvez fisgadas pelo desejo do subconsciente de sentir a sensação de como era estar no topo do mundo uma vez na vida, seduzindo as profundidades animalescas do ganancioso o suficiente para almejar ter a propriedade de controlar centenas de vidas diante de seus próprios dedos sem jamais poder escapar.
Definitivamente uma alma podre e deprimente.
Mas ninguém julgaria, especialmente se tratando de ser exatamente o lar pessoas como esta que uma das cidades mais requisitadas do país inteiro abrigava dentro de si mesma.
Um conglomerado tão grande corromperia a vida de alguém facilmente. Não era como se isso devesse ser uma grande surpresa. Ele adoeceria pessoas que não sabem mais esperar um milésimo de segundo possível e forçando todos em um fluxo de energia extremamente compulsório que no fundo gera uma roda viva de exaustão e apatia, e se isso significasse que no fim do dia você ganharia apenas o mínimo para trocar por um alimento ultraprocessado divertido e alguns trocados para manter sua vida digna? O que poderiam pedir a mais?
Assim funcionava o sistema da capital, a classe mais sofrida dificilmente seria ouvida pelos empresários, estes que se igualam a políticos em questão de cegueira perante os problemas que rodavam debaixo de suas asas. No fim, era apenas um jogo de sorte, onde você poderia nascer no lado vitorioso e nem saber metade dos abusos que a vida fora de sua bolha poderia proporcionar, mas se você tivesse o azar de não nascer no lado vencedor desta vida, seu destino seria permanecer na mesma ou...
Morrer tentando lutar pela vida.
O ambiente de estofados de couro e o leve cheiro de carvalho pareciam contribuir para a atração discreta daquela melancolia barata que afogava a noite pacífica, formando uma área de superioridade e poder que poucos entenderiam.
Um destes indivíduos era um dos felizardos que pode mudar o seu destino, mesmo que não fosse da maneira que gostaria.
Havia subido na cadeia alimentar da selva cosmopolita.
Se tornado um predador.
Um a qual, perigo, era apenas uma sombra perto de si.
Mafioso. Governante de um império do submundo social a qual muitos matavam por inveja e o ódio consumia a alma, o qual se intitulava o próprio rei que orquestra vidas e destinos com apenas uma troca de olhares. Suas palavras eram soberanas dentro da classe criminal, onde ele estava no topo, e os demais deveriam rezar se quisessem ser poupadas ao cruzarem sua jornada
Seu nome era Cellbit, o híbrido que o próprio diabo teria medo de andar ao seu lado
A sua história de vida era uma das coisas a qual o homem não se orgulhava. Recheada de tragedias e horrores que somente comprovavam como não era o clássico mocinho dos contos de fadas populares. Era um homem de um metro e oitenta cheio de tatuagens, um olho cego e marcas de queimaduras cujo as memorias poderíamos deixar enterradas, além de um olhar felino característico de sua classe predatória no mundo animal e dentes pontiagudos que já provaram mais carnes do que ele gostaria de se declarar.
Um animal, eram como o caracterizavam por tamanhos crimes hediondos que compunham as linhas de sua ficha para os policiais. Mas tais informações pareciam apenas constatar o obvio vindo do homem que estampava um sorriso maníaco em fotos ou jornais.
Piromania, canibalismo, homicídio... e entre outras criminalidades.
Não que isso anulasse as injustiças que também marcaram sua estrada.
Ver seu amigo atirar em seu rosto para se defender após um surto onde arrancou a perna com suas presas afiadas, a face de horror que sua irmã fez antes de fugir de si quando descobriu seu segredinho sujo sobre o dinheiro que trazia para sustentar sua família, o dia da explosão onde sua equipe o deixou para morrer com as labaredas de fogo apenas pela inveja de seu status que queriam usurpar, e entre outras passagens que embrulhavam seu estomago somente de lembrar.
Todos estes episódios servindo de combustível para uma fera fosse construída dentro de si sem chance de voltar atrás, cada vez mais próximo do demônio o qual era atribuído atualmente. Sua imagem sendo temida por muitos a cada novo boato ou lenda sobre os horrores que suas mãos e mente eram capazes de realizar, e, sendo obscuro ou não, ele admitia como amava sentir seu ego inflar por saber que a maioria daquelas falácias eram de fato verdade.
Pois se sentir invencível... era prazeroso demais para o vazio que lhe habitava.
Afinal nunca houve espaço para outra coisa em sua vida sem ser ódio, razão, indiferença, frieza... Então, por que não se aproveitar da coisa mais próxima de sentimento e se deleitar da fagulha que jamais chegaria perto de saborear?
Ser sensível naquele mundo era sinônimo de submisso, significava ser fraco, e, desta forma, fácil de matar.
Sendo assim, Cellbit tentava aproveitar os picos de adrenalina para depois reunir tudo e qualquer unidade de compaixão e emoções triviais para serem extinguidos por seus monstros apodrecidos, retornando a sua casca vazia apática e não impulsiva.
Porém, embora todos esses estímulos e preparações existem para o transformar em uma máquina de homicídios altamente qualificada. Ainda sentia o desconforto de um fantasma espreitando dentro de si, uma antiga voz que sabiam estar certa sobre uma coisa a qual preferiam fingir não existir.
Jamais poderiam acabar com algo tão mutável e imprevisível quanto as emoções da vida. Uma matéria tão volátil e mesmo assim tão complexa de difícil compreensão até ao mais sobreo delas; evitar que elas transparecessem a máscara devia ter sido claro que era impossível, se tornando refém do almejo quase irracional da vontade de sentir algo, que corroeria suas entranhas dia após dia.
Foi assim que, a procura de um alívio, Cellbit descobriu uma ajuda, mesmo que não fosse a melhor escolhida.
As pessoas brincam que “sempre começa com uma tragada para “descontrair””. E quando você percebe já existe um maço inteiro jogado no lixo... e nem é a metade do dia.
Seu pires preto com os restos de cinzas e bitucas de cigarro o acompanhavam dês de então, demonstrando sua mais nova satisfação por descobrir que uma morte lenta e clássica dos filmes antigos sobre a figura estereotipada de sua vida era justamente aquilo que precisava para cessar temporariamente em seu amago a obsessão por sentir.
Se tornando um homem que não era amado e muito menos sentia emoções para dizer se amou alguém um dia, que se afoga em nuvens de nicotina para acalmar a dor no peito que sofria, enquanto opera uma organização ilegal de baixo dos olhos da sociedade ao trabalhar de fachada em um dos escritórios mais cobiçados da cidade em que residia.
Ele sabia que não deveria reclamar, pois tinha tudo o que um jovem fútil poderia querer. Possuía rios de dinheiro em sua conta bancária, carros e motos importados dentro de sua garagem subterrânea, dezenas de vidas dançando por seus dedos em uma melodia mórbida, além de ser vaidoso suficiente para ter olhares de homens e mulheres suspirando por si ou temendo suas duras encaradas. O que mais poderia almejar em sua vida perfeita?
Bom, enquanto um jovem poderia olhar o lado bom que seu meio lhe trazia, Cellbit se preocupava diariamente em não levar uma bala no meio de sua testa ou ser envenenado durante qualquer refeição que faça no dia.
Lutando diariamente para não passar os últimos anos que lhe restam se lamentando sobre suas malditas escolhas que seu eu mais novo aceitou sem pensar nas consequências
Eram em noites frias como esta que seu coração apertava, o estrangulando em meio ao desgosto acumulado dentro de si, tão intenso que Cellbit achava as vezes estar à beira de um infarto do qual não se importaria nem um pouco se não fosse salvo.
Se odiava tanto, talvez não houvesse nem palavras possíveis de descrever o ódio pelas suas escolhas e atos que conseguiram corromper o vislumbre de pessoa descente que poderia ter sido. Era apenas uma criança ingênua com uma vontade de ajudar sua irmã e sua família a não morrerem de fome, porra! Quando foi que havia se perdido?
Cellbit estava farto de encarar um espelho de sua vida passada perder sua luz e pureza dentro da teia de aranha maldita que era a vida no mundo que dançou conforme a música. Refletiu inúmeras vezes sobre isso até chegar a uma conclusão um pouco dura para si.
Se quisesse ser útil, não importava o quão a ideia lhe seduzisse, não poderia mais morrer, estava completamente fora de seu caminho. Enquanto o cigarro e o álcool não tomassem conta de si, deveria evitar que menores de idade caíssem nas mãos de pessoas como ele ou seus rivais, romper aquele ciclo vicioso que uma vez o arrastou para o buraco em que nunca mais pode sair.
E essa responsabilidade passou a lhe sufocar. Algo que deveria ser sua motivação lentamente se convertendo em uma batalha que travaria eternamente em busca de redimir uma culpa que lhe pesa os ossos e mancha sua carne.
Cellbit não era o herói, era só alguém cheio de problemas tentando acertar uma vez na vida.
Nesses momentos, a melancolia o invade. Precisando pará-la antes que seja tarde demais
A caixinha de maço brilha por sua visão como um pedaço de salvação.
Ele a pega, abre, pegar um maço, acende, e tragava sem piedade o ar toxico que preenche seu pulmão ao máximo antes de soltar sentindo a queimação usual da nicotina surgindo por sua garganta.
Aquela queimação que acaba não somente consigo, mas sua mente agitada. Anestesiando sua alma dividida entre um monstro que vive e controla as ações de um dos homens mais perigosos do país e um fantasma ridículo que se esconde em seu escritório quando suas crises de pânico o atormentavam com pensamentos que até o mais são dos híbridos entraria em surto só de olhá-los.
Pensamentos eram a arma mais perigosa que tinha contra si mesmo.
As vezes ele só gostaria de parar de pensar.
Como algo inanimado, vegetando eternamente onde poderia somente existir sem ninguém se importar, sentir a calmaria pelo menos uma única vez naquela merda sem sentir a agonia o dominar, ou sem ouvir os sussurros irritantes que recentemente percebeu começar a escutar.
Ele se odiava, e muito.
Queria ter coragem para se dar um fim-
Um trovão imponente rompe os céus em meio ao silencio do local
Junto das gotas gélidas que escorriam janela abaixo pelo sereno que se aproximava
O relógio digital marca uma hora da madrugada.
La estava ele de novo, parado, durante mais uma hora depois de mais uma crise que, graças ao bendito cigarro, começava a se acalmar.
Cellbit estava encolhido no meio de sua cadeira de couro vintage dentro da sala escura, rodeado pelos formatos adversos das sombras projetadas pelos moveis que os cercavam. A roupa característica de seu ofício era composta por seu sobretudo de couro preto inseparável em conjunto com uma camiseta simples de gola alta, ornando perfeitamente com a calça jeans folgada em tons escuros acompanhada de suas botas vernizadas. Tornando a imagem do mafioso bela, mascarando a dor que seus braços tatuados, mas cheios de cicatrizes, carregavam.
A fumaça que saia por sua boca e narinas desenhava imagens incompreensíveis sendo acompanhadas por seu olhar opaco, dançando em volta de si dando-lhe um ar de mistério e marginalidade que era quase difícil de equiparar.
Cellbit talvez fosse um copo de whisky puro. Era amargo e sem alegria, usado por muitos para suprir uma necessidade de paz que jamais poderia. Raramente apreciado, contendo poucos que lhe compreenderiam.
Aliás, quem compreenderia uma pessoa como ele? Um anjo corrompido?
Suas orelhas se eriçaram sob sua cabeça com a ideia fútil. Elas eram ovais, levemente pontiagudas, quase nunca observadas por seus fios bagunçados, assim como a cauda traiçoeira que o homem fazia questão de esconder dentro de suas vestimentas, que se mexiam ao serem provocadas por uma sensação forte ou arrepios involuntários, como a dor que o atingiu naquele momento exato.
Seu peito parecia estar sendo pressionado por uma mão invisível, uma sensação de desconforto crescendo até a garganta enquanto pequenas lagrimas tentam serem criadas para expelir o sofrimento que o acometia. Mas Cellbit suspirou pesado, fechando os olhos com força tentando inutilmente segurar os sentimentos de solidão que o dominavam.
Sempre sozinho, possivelmente até o fim.
O olho gatuno se abriu quando nem percebeu o fechar, se arrastando de forma lenta para uma cômoda próxima de sua escrivaninha
Mais especificamente para uma bandana que ali estava escondida.
E se ele...
Não, não deveria.
Assustado por seu próprio pensamento, o homem força a íris perturbada a olhar de volta para o pires de cinzas que antes encarava, o calafrio sorrateiro serpenteando por seu corpo tremulo com a simples insinuação que sua mente lhe mandara.
Não, ele não estava fazendo aquilo. Seus pensamentos como sempre tentando pregar uma peça em si no instante em que se permitia ser vulnerável, ele estava eliminando esse raciocínio naquele instante, assim como jurou nunca mais pensar!
Um fantasma do passado de repente sendo desenhado pela fumaça que ainda existia no pires, o calor proibido que uma vez se afogou no alento da ilusão de se sentir meramente protegido, o sabor profano dos lábios macios e amorosos que o cobriram de promessas de sonhos nunca vividos.
Ele sentia tanta saudade...
O ardido de seus fios sendo puxados por suas mãos serpentearam por seus cabelos para o manter na realidade, eriçando sua cauda enquanto um silvo de dor escapa de si entre dentes.
Ele precisava se distrair antes de fazer alguma besteira. Suas mãos moendo seu coro enquanto ele morde sua língua apenas com a hipótese do que quase esteve disposto a fazer.
Pegar o celular estava fora de questão, a imagem de números de um telefone o aterrorizava somente de encarar o eletrônico disposto na bancada. Não podia sair do prédio com a instabilidade que se encontrava, bateria em alguém com sua moto e um acidente era a última coisa que precisava.
Restava resistir aos desejos e vozes que ficavam mais altos dentro de si em meio a sua visão tremula diante do medo que o consumia de dentro para fora.
Cellbit tinha que resistir, não podia fraquejar, estava tão perto de se acalmar a minutos atrás, tudo o que ele precisava fazer era se relaxar sua mente e deixar que aquela tempestade se afastasse. Respirando fundo, e soltar, respirando fundo e soltar...
O tremor se engrandecia a cada instante
As vozes o provocando em meio ao pânico da ameaça incontrolável diante de si
E sem perceber, o rio de lagrimas escorriam, manchando sua blusa e calças.
Cellbit precisava dele, tanto quanto precisava respirar.
E ele não estava medindo suas ações para o chamar
Seus soluços sofridos rompem o silencio enquanto seu corpo se estendia para agarrar o eletrônico que havia temido como um pecado digital. Discando o número que sua mente sabia de cor.
O toque do telefone soava eternamente na linha da chamada.
A angústia o dilacerando a cada segundo que o telefonema demorava.
“Mira nomas, si no es el pinche culero quien me llama”
...
“¿Cellbit?”
- Por favor vem me buscar
Chapter 2: Save Me
Summary:
!Cellbit, líder da máfia soberana da cidade, enfrentou a dura realidade de que perdeu uma pessoa que mais importava para si... Então, em meio a uma crise, ele liga para !Roger espera que este seja o salve de seus demônios ou afogando em si.
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
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Os números do relógio rodavam sem sentido sob a mesa de carvalho.
Sinceramente Cellbit já havia se perdido em meio ao tempo dês de que havia caído no chão e se escorado para debaixo da mobília próxima ao seu lado.
Estava paralisado, deixando a avalanche de sentimentos destruir seu pequeno corpo que lutava para se manter sentado.
Seus músculos se encontravam doloridos por estarem tracionados, cauda e orelhas pressionadas com força contra si como se o protegessem de algo, além da mente exausta da enchente de emoções de horas atrás, contribuíam para tornar seus sentidos cada vez mais sobrecarregados enquanto tudo desmoronava.
Parecendo ser demais... cada movimento, respirar, chorar, tudo era tanto esforço que não parecia haver saída para fugir da tempestade que seu interior se encontrava
Fazendo implorar silenciosamente para que aquilo parasse
Para que pudesse ir para casa, e descansasse.
Mas a casa referida tão pouco era feita com tijolos e cimento, muito menos seu quarto solitário e sem graça. Cellbit atribuía aquela palavra tão simples a uma figura diferente e talvez especial até demais.
Era engraçado pensar sobre a capacidade do ser vivo de atribuir palavras tão desconexas a pessoas aleatórias que entram em nossas vidas e se tornam peças tão fundamentais. Poderia ser um amigo, amor, todos que poderiam ser encobertos daquela sensação de acolhimento e pudessem proteger um indivíduo de todo o mal que pudesse o acercar, se tornando então uma casa.
Ao longo de sua vida, o felino poderia afirmar ter conhecido milhões de híbridos de várias espécies e lugares do mundo, entretanto, poucos foram os que conseguiram um patamar de relevância na pequena lista de pessoas que poderia confiar, sendo ainda mais raros os que conseguiram receber um valor emocional.
Até que, inesperadamente, surgiu um ser capaz de se encaixar perfeitamente no quebra-cabeça tão bagunçado.
O híbrido que Cellbit sentia tanta falta.
Recordava a primeira vez que havia o encontrado. Era um homem alto, cheio de músculos bem trabalhados que exibiam tatuagens em croppeds de gola alta e calças coladas pelas ruas de subúrbios e áreas nobres metropolitanas. Carregando consigo um sotaque imponente mexicano de se encantar, tal qual o belo topete que seus cabelos castanhos formavam, além do olhar esnobe e cheio de ousadia que esbanjava sua personalidade.
Uma carinha bonita demais para uma pessoa que possuía um segredinho sujo sobre seu trabalho.
Vindo da antiga família Brown, uma das famílias mais influentes no comercio de armas, era intitulado como viúva negra por tantos sucessos de suas atividades somadas aos belos quatro pares de olhos que em seu rosto repousavam. Reconhecido como um dos mercenários mais prestigiados do mercado, popular não somente por suas mãos finas e lâmina afiadas que eliminavam pessoas sem um pingo de culpa em sua face, mas também por ser bem falado entre magnatas e criminosos que usufruíam de seus trabalhos.
Trabalhos estes que chamaram atenção de um certo canibal e sua máfia.
A relação entre eles era apenas profissional. Cellbit necessitava que o homem apagasse uma pessoa específica de sua jogada e o mercenário relatava estar precisando de alguns serviços para fins pessoais, tudo esquematizando dentro de um acordo que se finalizaria após o trabalho ser executado.
Ninguém esperou, no entanto, que os dois homens fossem se dar tão mal. Brown tinha uma personalidade muito forte e agitada, o completo oposto do mafioso impassível que curiosamente se irritava com cada provocada que o mercenário lhe enviava, tornando as primeiras semanas um verdadeiro caos dentro da organização de Cellbit, onde muitos temiam pelo fim ser uma guerra declarada contra a família Brown se seu líder se irritasse o suficiente para o matar.
O clima só parecia esquentar entre ambos à medida que o tempo avançava, xingamentos passando a evoluir para pequenos tapas quando se esbarravam em corredores ou em reuniões que os próprios marcavam para falar sobre os progressos que o mercenário havia conquistado. Chegando a tal ponto que aparentavam estarem a poucos instantes de ambos iniciarem uma luta armada.
Cellbit queria tanto socar aquele rostinho perfeito e banhar de sangue a face arrogante daquele rapaz.
Já o mercenário parecia louco o suficiente para estrangular o líder ácido e rabugento que apenas o maltratava.
E quando em uma missão, por uma divergência de ideias, eles decidiram se separar, o estopim pareceu explodir após algo que não estava em seus planos os marcou naquela madrugada congelante e agitada.
Uma sombra mal avistada e um tiro de bala.
Suficiente para traumatizarem as duas almas.
A chama da pólvora em conjunto do um baque surdo preencheu o silencio que a noite causava, acompanhado do corpo do mafioso que despencou da sacada onde fora empurrado. Ainda letárgico, quando sua vista normalizou sentiu o desespero se apossar de seu ser assim que percebeu, ao invés de ver a face da morte sorrindo, um pano molhado se aproximando de seu nariz.
Cellbit não iria sofrer, tão pouco se tornar um cadáver. Ele estava prestes a conhecer o ímpeto de estar à mercê do imprevisível, apenas por se julgar sábio demais.
Pânico de reconhecer a cilada a qual havia sido atraído era tudo o que pensava enquanto seus membros se debatiam, lutando para se soltar dos homens que forçavam o pano ainda mais contra sua cara.
Vendo lentamente seu mundo se distorcer, escutando ao longe um grito assustado.
Antes de perder as forças e desmaiar.
Ficar inconsciente por dois dias não era o esperado, porém o efeito do tranquilizante junto à anestesia da cirurgia para retirar a bala de sua coxa o impossibilitou de acordar conforme o prazo planejado. Despertando na tarde tranquila do terceiro dia com o ritmo de seus próprios atendimentos cardíacos que a máquina emitia, além de um ressonar distante que ecoava.
Lembrava de pousar seu olhar gatuno tranquilamente para o peso sutil que se alojava ao final da maca, e a surpresa o atingindo em cheio quando avistou a imagem pacífica do híbrido de aracnídeo dormindo ao seu encalço com olheiras embaixo das pálpebras.
Uma surpresa curiosa, e que, por algum motivo, lhe fez querer ronronar.
Senhorita Parrot, a enfermeira chefe, fofocou assim que ela surgiu para conferir seu estado sobre a presença do mercenário, sendo ele o híbrido quem havia o carregado até ala médica completamente ensopado pela chuva que tomaram até chegar. Contou ela também que o homem mais novo mencionou ter executado todos os sequestradores e se recusou a sair de seu lado, emprestando sua jaqueta aconchegante recheada de seu perfume para o confortar enquanto dormia, aguentando alguns dias em claro até apagar de vez ao seu lado.
Suas bochechas haviam pinicado ao imaginar os relatos que a mulher o contava.
Ele havia feito tudo isso por si, salvado sua vida.
Pela primeira vez, Cellbit descobria a sensação de ser especial, a qual ele nunca compreendeu, nem mesmo quando, após despertar, o aracnídeo superprotetor passou a cuidar do felino, mesmo quando não fosse mais necessário.
Dês daquele dia, florescia dentro dos corpos solitários e não sentimentalistas algo perigoso e sutil.
Como o amor, que surge como um broto, tímido, até se tornar a mais impotente das arvores, imbativel
Após o incidente tudo se transformou em um vasto campo florido coberto por um nevoeiro de incertezas, onde os híbridos caminharam de maneira tortuosa, buscando um caminho em meio a beleza e o anseio de não se perderem. Na frente da sociedade ainda se provocavam entre ameaças declaradas e provocações nada fáceis de engolirem, mas quando se encontravam sozinhos, restando apenas dois jovens ali, era o momento em que eles se descobriam.
Cellbit conseguia conter um pouco da impulsividade que rondava o outro, segurando os instintos que por vezes poderiam resultar em um aracnídeo resmungando pelos corredores sobre seu plano falho. Enquanto o outro lhe amolecia os sentimentos que por anos nunca soube aceitar.
Um perfeito par, que se completavam entre os extremos de suas vidas
Sentia que finalmente havia encontrado sua ancora em meio ao imenso oceano que navegou em busca de uma saída. Os toques dele se tornando bem-vindos por seu corpo cheio de falhas e cicatrizes, em conjunto as palavras gentis que enrubesciam seu rosto que era acostumado a ser tratado de forma hostil, assim como os presentes ocasionais que lhe fazia se sentir especial em momentos em que se sentia um pedaço de lixo.
Mas nada pode superar a vez em que, em meio a uma crise, o mercenário o embalou em seu colo e, com o maior cuidado que nunca havia recebido, ninou sua alma para a calmaria capaz de calar seus demônios enfurecidos.
Ele sabia o segredo, o caminho para a paz que tanto perseguia
Um homem tão bom, que havia caído de paraquedas em seu caminho, e que agora ocupava um local tão intrínseco que admitira que talvez jamais poderia viver sem ele em sua vida.
E o mafioso se vira assustado pela intensidade do que sentia
De repente uma ansiedade pareceu ressurgir, partindo o mundo em dois dentro do canibal que começou a se dividindo em conflito. A razão parecia desesperada, berrando em plenos pulmões sobre o erro absurdo que cometia, zombando de si por sonhar que teria o seu feliz para sempre com o homem que poderia estar apenas se aproveitando de seu estado para o atacar, enquanto seu coração convicto, por outro lado, tentava combater bombeando a toda velocidade as mais diversas emoções que nem conseguia contemplar, hipnotizado como nunca tinha visto ao se ver protegido nos braços daquele que o felino gritaria aos quatro cantos do universo o quanto amava.
Amar.
Uma palavra tão forte para muitos, mas que Cellbit julgava ser exatamente o que lhe dominava.
Porque ele amava sentir os beijos suaves do aracnídeo antes de se deitar, seus cafunes preguiçosos de suas mãos quando estava para acordar. Amava a risada melódica que lhe contagiava, ou seus abraços fortes que timidamente se enterrava.
Amava amar Roger... tanto que jamais suportaria se separar.
E infelizmente ele só soube disso quando viu o mexicano escapar pelos vãos de suas patas.
A razão aos poucos venceu a batalha, alastrado por suas veias a insegurança ardilosa e que envenenava seu coração, o preenchendo com paranoias e mentiras que lhe faziam entrar em um labirinto onde não conseguia escapar. Poluindo o relacionamento que embarcava para sua eminente ruína.
Roger passou a ser bombardeado de desconfianças e pessimismo, gerando atritos difíceis de esquecer na rotina louca onde curtir passou a ser uma das raras coisas que conseguiam fazer. Perguntas a todo instante de onde estava e respostas grosseiras que Cellbit reconheceu ter dado levaram a áurea de felicidade de ambos para um desconforto ruim que até então não haviam experienciado.
Era diferente da tensão reprimida e inimizade inicial onde se farpavam na esperança de captarem a atenção que o outro não o dava.
Aquilo doía, e matava aos poucos o amor que cultivavam.
O sinal vermelho ficou claro quando Cellbit chamou Roger para sua sala em uma tarde estranha e nada usual. A visão disposta pela sala sendo os tons alaranjados do pôr do sol, um cigarro adornando os lábios que a tempos não fumava, uma maleta aberta com bolos de notas cifradas em tom esverdeado e um contrato em cima da mesa com papel e caneta ao lado.
Ele estava pagando o mercenário, pelos serviços prestados. Mandando embora o homem que, em sua visão, estava o deixando vulnerável para o matar.
A sequência de reações que se sucederam dali em diante se mancharam de dor e lagrimas. Palavras que jamais diriam um ao outro foram proferidas enquanto vasos eram quebrados junto de gritos ferozes espantando os funcionários que ali passavam, havendo presenciando em primeira mão quando o mercenário marchou em plenos pulmões para fora do local enquanto seu líder se encontrava arrasado e coberto de cédulas de reais como se alguém tivesse virado a maleta em sua cara.
Nunca mais Cellbit vira Roger pela cidade.
A metrópole era grande demais para buscar por um homem com uma incrível habilidade de se camuflar entre os demais híbridos locais e ser altamente sociável, acredite, ele havia tentado. Meses de procuras infundadas, com um líder estressado e mandantes esgotados de revirar a cidade sem nenhuma pista de onde Roger estava.
Deixando uma única lembrança da última vez em que se viram, a qual ele protegia a com dentes e garras.
Uma bandana azul petróleo, de cetim. Fina e bem dobrada.
Um simples objeto para a jovem da limpeza não desconfiar, mas um fantasma da pessoa que perdeu por deixar que o medo o dominasse.
A mesma bandana que agora o felino segurava contra o nariz, se embebedando daquele perfume veneno para cessar a saudade que ainda moía seu coração fraquejado.
O mafioso estava exausto de mentir para o reflexo de seu espelho quebrado, de fingir algo que nunca lhe fez bem e jamais poderia ser equiparado. Gerando um aumento em suas crises que lhe pegavam em momentos de exaustão, como naquele dia após passar horas de trabalho que se forçou a investir na tentativa de evitar pensar no homem que prometeu esquecer após tantos dias de procura
Agora Cellbit finalmente reconhecia o sentimento que tanto lhe confundia
E ele poderia dar todo o amor que nunca soube dar ao mexicano de queixo definido.
Somente de pensar que ele estava a caminho despertava algo dentro de suas entranhas, beirando o obsessivo.
Ele precisava sentir a calmaria de novo, necessitava cessar a tempestade que o corroía, almejava tanto estar nos braços da única pessoa que lhe fez afirmar com todas as letras que o amor ainda existia, que mataria o primeiro que ousasse entrar em seu caminho.
Havia descoberto que era insanamente louco por aquele aracnídeo que o prendeu em suas teias e tomou seu coração somente para si.
Mas sabia que não era hora para digerir esta parte obscura que sentia, pelas últimas horas passou por tantas emoções que seu corpo implorava pelo descanso que agora lhe havia prometido.
Cellbit só queria ir para casa, ser acolhido.
E ele esperava que Roger pudesse novamente ser seu abrigo
Perdido em pensamentos, um arrepio violento percorreu seu corpo de forma repentina ao despertar por um pressentimento esquisito.
Alguém se aproxima.
Passos desconhecidos ressoaram pelo chão. Firmes e apressados, pelo barulho que emitiram, parecendo serem providos de algum coturno ou bota a qual os saltos em ação eram capazes de perturbar com seu barulho característico.
A porta se abriu, batendo contra a parede pela força utilizada para ela se abrir
Deixando entrar a voz que tanto esperou ouvir
- Cellbit? Estas aquí?
A voz melódica preencheu seus ouvidos como uma sinfonia angelical, transformando as palavras em geleia na ponta de sua língua, apenas suspiros de alívio sendo tudo o que conseguiu proferir. Felizmente para Roger isso era tudo o que precisava para o levar a adentrar em meio a escuridão do recinto.
Como a frente da escrivaninha era fechada por uma tabua dos pés ao pico da mesa, Cellbit fora escondido não propositalmente do recém-chegado, impossibilitando que seu olhar captasse o movimento das pernas de Roger ao explorarem o local, obrigando a se contentar apenas com seus ruídos.
- Cellbit no estoy de chistes cabron, eh! Vete de donde estas!
Sua voz parecia ríspida, muito diferente do usual tom brincalhão que sempre costumava ouvir
Ah, é claro que ele ainda estava chateado consigo.
Por que pensou que ele não guardaria magoas por aquele dia?
Uma lamuria angustiada repercutiu sem seu consentimento, refletindo a ansiedade que havia lhe preenchido. Não estava pronto para mais uma briga, não do jeito que se encontrava, aliás Cellbit nunca mais queria brigar com Roger novamente, se seu rosto inchado de litros de lagrimas e espasmos violentos por seu corpo acabado dissessem algo.
Tinha sido uma péssima ideia chamá-lo, sabia disso, agora teria que arcar com as consequências de ter ligado para o número do fantasma de seu coração partido.
O silencio retornou ao ambiente, tão alto e opressivo que deixou o pobre felino ainda mais coagido. Lhe dando a oportunidade de se encolher até virar um casulo de defesa, segurando a bandana enrolada entre suas mãos em um forte aperto enquanto suas pernas se juntavam rente ao seu tronco com seus braços passando em volta delas.
Se protegendo da possível ira que o outro híbrido sentia.
Restando aguardar por longos segundos, silenciosos e calados...
Até sentir longos dedos massageando entre as orelhas e fios dourados.
- Hola, vienes siempre aquí? – disse a voz, agora terna, bem de pertinho.
Cellbit não sabia o que fazer, parado como uma estátua enquanto a confusão surgia.
Ele deveria olhar? Fazer algum som? Tantas incertezas, e nenhuma parecendo a certa, decidiu então esperar se sentir pronto e mentalmente tranquilo, até que pudesse subir seus lumes apreensivos para fora de sua fortaleza, espiando a figura que falava consigo.
Nada o preparando para a visão que seu único olho poderia refletir.
Roger estava divino. Cabelos bagunçados na medida certa pelo capacete de moto que provavelmente usou antes de chegar ali, seu rosto suave e macio contrastando com seus olhos avermelhados em imponência que o encaravam com um brilho pacífico. Sua roupa e acessórios formavam uma paleta monocromática de cores preto e cinza que o deixavam ainda mais bonito, por último sendo a tão característica bandana de cetim que enfeitava sua testa de ousadia e estilo.
Estava belo, magnifico... exatamente como recordava em suas memorias antigas.
O mafioso notou apenas após alguns segundos que havia perdido o ar completamente enquanto absorvia a figura disposta a sua frente, fechando sua mandíbula de maneira rápida quando a sentiu frouxa de mais, revelando estar de queixo caído pelo híbrido que apenas sorria, se divertindo.
- Ay, no me mires assim, eu fico tímido – Roger disse, e Cellbit sentiu o canto de seus lábios se esticarem, formando um sorriso que a muito tempo não florescia
Constranger-se foi inevitável, pensar no quão discrepante era seu estado em comparação ao seu. O outro parecia estar em toda sua glória, com delineados e brincos, com uma aparência de tirar o folego, enquanto o canibal estava tão arruinado com cabelo por fazer e olheiras abaixo dos olhos que qualquer um sentiria pena dele pela derrota física que seu eu exibia.
Com as bochechas rosadas, tudo o que pode fazer foi se encolher atrás de seu braço, desviando da mirada intensa que Roger lhe dava.
- Ei, não faça isso, sei que sou guapito, mas você também é, gatinho – um flerte bobo com trocadilhos de referência aos seus apelidos
Brega, mas que fizeram Cellbit ficar mais vermelho que nunca, e soltar uma risada. Alegria genuína percorrendo por sua barriga, o suficiente para enterrar a antiga linha de raciocínio
Com ele ali, qualquer sentimento ruim se esvaia
Comprovando ainda mais quando subitamente sentiu sua cabeça se inclinar sobre o toque ininterrupto das caricias, fechando os olhos novamente pelo conforto que emitia. Mas tão logo elas vieram como partiram, o que levou a Cellbit perseguir a mão que outrora lhe acariciava com suas orelhas, surgindo risada sutil pelos lábios do aracnídeo.
- O que acha de você sair daí eh? Minhas costas de idoso estão começando a ficar doloridas
A reação não foi a que Roger mais gostaria, se assustando pelo quão brusco os movimentos do outro em resposta à pergunta genuína, este que balançou violentamente a cabeça de um lado para o outro enquanto ele agarrava com desespero a palma da mão desatenta que o híbrido não percebeu deixar próximo dele.
As vozes pareciam trabalhar incessantemente. Como Roger ousava sugerir um absurdo daqueles? Propondo sair do canto mais aconchegante que pode encontrar para seu corpo sensível. O estofado de couro grudava e rangia sob seu pelo e pele deixando-os com marcas doloridas, o espaço sem cobertura lhe fazia se sentir aterrorizantemente vulnerável sem algo para proteger ao redor de si. O único lugar que restou fora embaixo de sua escrivaninha.
Ali era quente o suficiente para aquecer seus membros gélidos pelo frio, madeira pouco áspera para encostar sua cabeça e costas contra a tabua maciça e escuro na medida certa para não incomodar seu único olho com a claridade dos postes de eletricidade abaixo de sua sala.
E agora ele queria que seu corpo sobrecarregado saísse do único lugar onde não se sentia terrivelmente incomodado para vagar por ai?!
- EI! Calma gatinho calma, eu peguei você, não estamos nos movendo nem tão cedo daqui – a voz de Roger finalmente apareceu, acalmando os nervos de Cellbit após afirmar que não iria o fazer se mover de seu cantinho, segurando delicadamente sua cabeça para não acabar se ferindo por acidente.
Longos minutos se passaram até o felino relaxar. O mais novo aproveitando para se sentar à medida que o ambiente ia sendo preenchido por pequenos chiados animalescos emitidos pelo aracnídeo e alguns afagos com sua mão livre na tentativa de confortar o homem ao seu lado.
Até é claro, um som ferido interromper a áurea confortável que residia entre os conhecidos.
- Cellbo, não estou brigando, mas você poderia soltar minha mão? acho que você fincou sua garra nela e não viu...
O olhar do mafioso pareceu se surpreender consigo mesmo, tirando a mão do homem de seu colo com o braço que a agarrou impulsivamente. A mão estava parcialmente vermelha, e estaria tudo bem se fosse apenas isso, no dorso dela, no entanto, arranhões e cortes superficiais enfeitavam a pele macia que era dominada pelas garras afiadas da mão hibrida.
Um vislumbre de culpa pulsou por seu olho enquanto encarava a arte que havia esculpido, mal raciocinando quando aproximou o dorso de sua boca, depositando um beijo de carinho, massageando-a em um mudo pedido de desculpas por ter o arranhado e sequer ter percebido
- Fofinho... – Roger deixou escapar, sorrindo para Cellbit quando o viu se envaidecer com o elogio – Creo que não é um bom momento para conversar também, si?
Mesmo ponderando por alguns segundos, a mente cansada do outro apenas o permitiu acenar lentamente em positivo. Não queria conversar, formar palavras exigiam demais para alguém que a poucas horas atras sofreu uma crise e atualmente se encontrava esgotado de si mesmo.
Roger, por outro lado, ficou mais alguns segundos parado por um tempo, refletindo sobre a imagem, embora triste, do homem afrente. Queria tanto o abraçar e enchê-lo de perguntas e beijos que guardou por meses para quando ele o visse novamente, mas sabia que não o podia fazer, o moreno não gostaria de ferir seu amado nem em seus momentos mais difíceis, seria egoísmo de sua parte não esperar até tudo se resolver.
Para o mercenário, ao olhar para Cellbit no primeiro instante em que o encontrou encolhido debaixo de sua mobília, sabia que iria o ajudar no que precisaria, independente de que seus instintos decidissem, ele iria esperar, para não sobrecarregar aquele que tanto guardava carinho em seu ser.
E se o mafioso o mandasse embora de novo por não se sentir mais confortável, Roger sairia mesmo que chorasse em sua partida.
Ele faria tudo por aquele loirinho rabugento, mesmo que isso pudesse o ferir.
Então ele decide esperar por um sinal para se aproximar, até que ele se sinta confortável com sua presença.
A cauda peluda o tirou de seus devaneios quando ela vagou para próximo de seu corpo, explorativa. Ela primeiro serpenteou por seu colo, subindo para alcançar seus braços estendidos, até que finalmente chegou em sua cintura, e a envolveu, segurando-o no lugar com um aperto simbólico, não deixando escapar.
Uma confirmação silenciosa de que Cellbit ainda o queria ao seu lado.
- Posso ficar aqui contigo até se você sentir mais tranquilo, como isso soa gatinho?
A proposta irrecusável brilhou pelo olho do felino, que se enchia de satisfação ao se imaginar aconchegando nos braços grandes e quentes que o outro tinha, o fazendo soltar pequenos ruídos tímidos e um acenar de cabeça positivo para a pergunta feita.
Tudo agora seria mais leve, a brisa suave que seu corpo parecia receber calou sua mente de tal maneira que se sentia derretendo em uma poça de paixão e carinho que jamais conseguiria descrever. Tao aconchegante... tão dele.
E Roger também se sentia feliz por receber o passe livre para se esgueirar junto do mafioso em seu pequeno cubículo, se ajeitando até estarem escondidos dentro do espaço pequeno que a mesa lhes oferecia. Tamanhos e confortos não eram tão importantes, não quando dois corações amantes e intensos finalmente se uniam após meses sem se verem.
O aracnídeo aproveitou a deixa de que estavam se movimentando para parar com os carinhos e focar em manusear o corpo musculoso de seu amado enquanto arranjava um espaço confortável para se deitar no local disponível. Se fazendo de colchão para o amante, o obrigando a repousar sob ele.
Era meio estranho, mas a dinâmica ainda existia, metade das costas encostadas na madeira e outra no piso gelado, ele havia dobrado suas pernas sem o machucar, assim fazendo com que o outro corpo pudesse ser debruçado com a cabeça sob seu peitoral e pernas esticadas para o lado. Mãos se movendo novamente para rodear o corpo menor em um aperto doce, amável.
Trazendo conforto e segurança, tudo o que o outro tanto queria.
A imagem, sem querer, se construiu em uma réplica quase fiel a primeira vez em que o mercenário pode acalmar o canibal, assim como os olhares densamente apaixonados que eles compartiam.
Puros, e livres de qualquer maldade inexplicável que pudesse os ruir.
Céus, Cellbit poderia chorar agora mesmo com aquelas írises de cafeína e cereja amarga que o faziam lhe tornar tão especial. O olhar de Roger sempre fez questão de demonstrar as inúmeras juras de amor que ele carregava no início do relacionamento e não conseguia as expressar, o que deixava o mafioso se sentindo deslocado em relação a intensidade a qual elas o encaravam.
Porém naquele instante, ele podia ler todas elas em cada fagulha daquelas iries magicas, que eram tão vorazes, tão perigosamente espetaculares, que poderia afirmar serem uma das coisas mais lindas de se testemunhar, seus instintos implorando para ronronar alto em um sinal para que o mercenário o devorasse naquela doçura a qual gostaria de se afundar.
Afogando-se no mar de suas pupilas dilatadas
- Lindos – o elogio escapou em um sussurro, enquanto um pequeno motor era ligado por seus instintos.
- Ahn? O que disse? – um Roger confuso lhe perguntou, abrindo alguns olhos aracnídeos para intensificar os seus sentidos por antes mal ter o ouvido.
- Seus olhos... lindos
O elogio era simples, mas profundo na medida certa para fazê-lo se envergonhar da cabeça aos pés.
- E você é a constelação mais linda que eu já vi – e sem esperar, Roger avançou em sua direção
Formando uma trilha de beijos pela face de Cellbit, delicadamente.
Primeiro ele começou com as orelhas de pelúcia, selares gentis em cada ponta triangular, depois partiu por seus cabelos, navegando pelas mechas que o levou a sua testa, escorregando para as bochechas fofas as quais não hesitou em mordiscar, descendo pela ponte do nariz, enfim naufragando nos lábios rubros, cheios de saudade.
Iniciou como um selar macio e apaixonado, que evoluiu lentamente para um beijo calmo, daqueles que geram um frio na barriga e arrepios para todos os lados. O tipo que se transforma em uma dança hipnotizante, embalando-os em movimentos carinhosos e profundos, sem pressa de acabar, deixando que apreciassem cada pedacinho de suas almas.
Ter ele em seus braços parecia o certo, e Roger jamais se arrependeria de escolher todos os dias em amar aquele homem que fez acreditar que poderia tentar construir uma família novamente ao seu lado.
Ele era seu livro de mistérios que jamais iria se cansar, a misticidade de um céu que sempre adoraria desbravar.
Assim como palavras jamais fariam jus ao quão bem o aracnídeo fazia a Cellbit, seria eufemismo dizer que apenas havia encontrado a pessoa certa para se estar junto em sua jornada.
Ele era a paz em um chocolate quente em meio a uma estação de nevada
Fogo para formar o melhor dos jantares a luz de velas
O perdão de nós mesmos para nossos arrependimentos passados.
Porém, havia uma única coisa antes de eles partirem para o próximo passo, que o felino não aguentava mais a dor que ela lhe causava. Se pudesse voltar no tempo, Cellbit gostaria de nunca o ter afastado e ter mandado embora o homem que lhe beijava, se odiando por ter o magoando naquela tarde estranha onde viu seu relacionamento ser envenenado pelo medo que sua vida criminosa lhe influenciou a acreditar.
A felicidade exuberante se misturando com a tristeza amarga, formando um bolo em sua garganta.
- Posso saber por que choras, meu amor? -bem baixinho, as palavras foram sussurradas nas orelhas hibridas, notando uma das mãos grandes que antes segurava suas bochechas, secando as gotículas de água salgadas que seus olhos liberavam.
Era sua chance, precisava dizer tudo o que tinha para declarar.
Não podia fugir mais, não quando agora pretendia ficar.
Depois de alguns minutos Cellbit teve coragem para falar - Guapito... me perdoa. Meu amor me desculpar por tudo o que aconteceu nesses últimos tempos, e por tudo o que eu te causei. Eu não deveria ter gritado com você naquele dia e dito que você era um arrogante do caralho, muito menos ter perturbado nossa relação com demônios sem sentido e desconfianças infundadas. Naquela época eu deixei me levar pelos meus próprios problemas e fiquei com medo de tudo o que você era capaz de me causar, mas agora eu consigo ver o quão estupido eu fui e entender que na verdade eu te amava... e ainda amo.
“Roger você foi o único capaz de me fazer saber o que é amar, a única pessoa por quem eu descobri que seria capaz de matar e morreria para. Talvez seja tarde para você, e nem sei se ainda existe um “nós” entre o que a gente é agora, mas se você ainda quiser tentar... eu quero, e prometo que sempre vamos conversar agora quando me sentir incomodado sobre algo”
Leve. Era tudo o que Cellbit podia pensar.
Um peso pareceu sair dos ombros, enquanto um nervosismo se apossava no lugar, levando-o por instinto enterrar a cabeça no pescoço do moreno para evitar ver a reação em sua cara.
- Não sei se fui muito claro ou muito objetivo, mas de qualquer maneira, se foi de mais apenas esquece, finge que nunca falei nada – os braços se juntaram a cabeça, rodeando o pescoço também fazendo com que sua voz saísse abafada
Apenas um suspiro foi o que saiu de Roger, até ele também juntar coragem para se pronunciar
- Gatinho... mirame por um segundo. – Mãos dóceis novamente voltaram a rodear a cabeça de Cellbit, que saiu da curvatura do pescoço, para o encarar com suas írises opacas e azuladas.
- Mi cariño eu te perdoo, mas acredito que também cometi um erro naquele dia e em algumas atitudes que tomei. Não deveria também ter desdenhado de sua confusão sobre seus sentimentos, muito menos ter jogado a maleta em você... eu poderia ter te machucado, se minhas palavras rudes sobre você já não tivessem sido o bastante. Deveria ter cuidado mais de quem eu amava, prestado mais atenção em você e conversado quando também estava incomodado.
“Ainda sou completamente louco por você, a pessoa que eu mataria e morreria para entregar meu coração em uma bandeja. E eu te confesso, eu nunca deixei de pensar em “nos”, nem mesmo após aquele dia. Então se você também me quiser, te prometo lhe fazer o híbrido mais feliz desta galáxia, Gatinho.”
- Eu te perdoo... eu te perdoo guapito, e eu também te juro amar tanto nessa vida como nas inúmeras em que viermos ainda.
E Cellbit apenas devolveu o ataque de beijos que anteriormente o outro havia lhe dado, mas de maneira afoita para demonstrar as toneladas de sensações românticas que não conseguia verbalizar. Suas mãos cravando suavemente as garras no rosto do mercenário enquanto beijava-o por todos os lugares em que pudesse enxergar.
Era tanto amor que chegava a ser demasiado para seu pobre cérebro raciocinar, sentindo sua sensibilidade voltar sorrateiramente por sua pele. O sentimento preenchendo tantos lugares, quase como se ele fosse explodir por seu coração pulsar enlouquecidamente em seus ouvidos com as batidas erráticas de suas veias e capilares, a mão amassando ritmicamente as bochechas do outro enquanto o motorzinho em seu peito não parava de retumbar.
Sua cauda e orelhas foram se contraindo, a primeira agarrando as coxas do homem embaixo de si, enquanto as outras afundavam para apertar a sua cabeça e fios dourados. Ele transbordava amor, por todos os sentidos que um dia tentou evitar, obtendo total descontrole por todo seu corpo viciado nas novas sensações e cores com as quais Roger lhe apresentou sem aviso de propositalmente se apaixonar.
Ambos encostaram as testas quando se cansaram, segurando os rostos de uns dos outros, sorrindo cumplices de seu amor ao manterem os olhos cerrados e aproveitavam da descarga elétrica que os possuía.
- Se existem outras vidas, com certeza eu te encontrei em todas elas, cuidarei de você até meu último suspiro, apenas para iniciar o ciclo de novo para te encontrar na próxima que vier – Roger declarou
- Você é a minha luz... a minha maré, meu mar profundo, o qual eu sempre escolherei me afogar, porque sei que é meu porto-seguro.
Porque no fim das contas era isso que eles eram e fariam pelo outro.
Roger e Cellbit poderiam assumir mil nomes, contar por suas vidas mil histórias. Nenhuma delas impediria ambos de encontrarem um ao outro, e de se amarem com a energia única que emanava de seus corpos.
Apenas eles sabiam o jeito certo de se amarem, de trazerem paz um para o outro, de se confortarem em meio a crises e terrores, ou de simplesmente fazer o outro rir intensamente por algo extremamente bobo.
Isso era deles, apenas deles. Particular do ciclo que leva ao amor intenso que nutrem até encontrarem aquele que procuraram em cada canto do planeta.
Cellbit e Roger, juntos pela eternidade.
Por se sentir exausto novamente, o mafioso apenas voltou a deitar no peitoral que horas atrás tinha relaxado, cobiçando seu sono para que viesse e finalmente pudesse deixar que a sua mente exaurida se apague para se recuperar.
Mas isso não acontece, e eles ficam assim, quietos por um tempo, até sua irritabilidade com o sono lhe pegar em seus nervos.
- O que há de errado cariño? Está te incomodando a jaqueta ou a posição? – a pergunta vem do aracnídeo, que olha preocupado vendo o outro se mexer.
- No! Estoy bien... só não consigo dormir, estou tão cansado, mas parece que meu corpo simplesmente não descansa... só queria me afogar e desligar tudo em mim – com uma cara emburrada o outro reclama.
De repente uma ideia surge na cabeça fértil de Cellbit, uma ideia um tanto quanto ousada, o deixando até constrangido com o pensamento tão íntimo que surgiu.
- Que te passo? por que ficou tímido do nada? – a risadinha ecoou nos ouvidos do outro, o que fez com que ele apenas enterrasse a cabeça no peitoral do outro, tentando se esquivar.
- Não é nada
- Quem nada é peixe
- Ei! Pendejo, como descobriu isso? – um sorriso desprevenido surgiu de Cellbit, que olhou para o rosto convencido de Roger
- Descobri essa esses dias, mas não tente desviar o assunto, pode falar o que era Cellbo, eu não vou te julgar, te lo juro.
O felino pendurou por um momento, levantando o rosto enquanto encarava o outro.
Bem, Roger no máximo só zombaria de si pelo resto de suas vidas, mas sabia que aquele momento era um espaço seguro para falar, então ele se permite explanar a ideia ousada.
- Você... poderia me afogar em ti?
Palavras simples para uma ação extremamente intima que apenas casais híbridos compartilham, Roger no mesmo instante ficando, além de vermelho, apreensivo quando sacou o que o significado de “afogar” na verdade lhe dizia.
Cellbit queria que Roger o derrubasse, uma tradição antiga para poder se desligar da realidade
Híbridos de todas as espécies foram evoluindo com um plexo de nervos em comum em seus biotipos, se tratava de um conjunto de nervos que se alojam na parte lateral do pescoço do indivíduo que são hipersensíveis a qualquer tipo de estímulo, carregando a função de central secundaria de todas as sensações e reações tomadas pela pessoa que posteriormente seriam informadas das extremidades ao cérebro ou vice-versa.
Porém, os ancestrais híbridos haviam descoberto mais uma funcionalidade, a de desmaio. Muitos predadores em tempos antigos chegaram a usar em seus rivais apenas para apagá-los e evitar que os matassem, assim como também eram usados por presas quando elas entravam em estado exaustivo para hibernarem.
Muitos casais nos tempos modernos utilizavam, do que foi nomeado derrubar, para quando o parceiro ou parceira estava exausto e precisava se recuperar de alguma cirurgia ou estresse pós trabalho e entre outras funções. Sendo semelhante a anestesia, ele faz com que o híbrido durma até que seu subconsciente se sinta recuperado de seu estado emocional e físico para despertar em um novo dia.
Basta que um dos responsáveis por derrubar o outro morda o plexo nervoso com força, até o outro cair inconsciente em seus braços.
E apenas a ideia de infligir dor naquele que se via tão frágil em seus braços parecia loucura para Roger naquele momento. Entretanto, ao digerir melhor a ideia, sabia que talvez Cellbit não estivesse tão louco quanto pensava.
Dês de o começo daquela madrugada o felino estava exausto, com sua hipersensibilidade tirando o melhor de si, com uma crise forte tendo ocorrido a horas atrás e até o próprio sono havia sido privado. Pedir por um derrubar naquele momento era possivelmente o ideal a se fazer por seu amado.
Seu amor merecia se afogar em uma mare de tranquilidade que apenas a inconsciência poderia o dar, e Roger sabia que nunca o privaria de algo que apenas faria bem para o rapaz.
O moreno aproveitou que o outro estava relativamente preso em seu colo para se levantar, tirando sua jaqueta com bastante esforço, mas conseguiu arrancá-la. Encostando de volta entre o chão e a madeira ao que seus braços cobriam o corpo do outro com a peça de roupa, deixando a parte mais macia virada para suas costas.
- Ok, eu vou fazer, mas antes quero que saiba que te levarei para minha casa para que estejamos seguros e longe daqui. Não vou ficar nem mais um segundo com você em risco no meio desse bairro onde qualquer um pode invadir e nos fazer mal, e quando você acordar, yo voy estar bem aqui, do seu lado – Roger frisou suas palavras, demonstrando cada segundo de sua preocupação por estar com Cellbit tão vulnerável em um prédio nada seguro passível de sofrerem um atentado.
- Faça o que quiser, contanto que você esteja comigo, qualquer lugar é uma casa – O louro disse pacífico, sabia que o prédio era seguro, mas se Roger queria o levar, estava tudo bem, confiava nele até de olhos vendados.
Com a confirmação ambos se encararam sem jeito.
Roger foi quem deu o primeiro passo, trazendo o corpo malhado para perto de si, segurando-o firme em seus braços enquanto sua mão deslizava suavemente para afastar as madeixas do outro de perto de seu pescoço pálido, livre de cicatrizes ou tatuagens.
Seguindo seu semelhante, Cellbit procurou se ajeitar no colo de seu amado, buscando uma posição confortável e que não o tombasse no chão ao ficar inconsciente, garantindo que suas mãos segurassem, além da antiga faixa, as pontas da jaqueta de couro que o rodeava.
A ânsia entre os dois apenas cresciam, tentando inutilmente se manterem calmos um para o outro.
Um último beijo foi depositado nos lábios de seu amado por Roger, profundo e pacífico, como um oceano sem tormentas para o agitar, apenas pequeninas ondas que se formam nas laterais do corpo em seus braços como uma massagem.
Ele o finalizou em pequenos selos, adoráveis que estalavam pelo ar, seguindo uma trilha cheia deles, pelo queixo, mandíbula, e alojando no pescoço alvo.
Demorando alguns minutos, os olhos aracnídeos rompem a pele, se abrindo, assim como suas presas brancas e pontiagudas, saltando de sua gengiva.
Cellbit pode presenciar a sua forma completamente tomada por seu lado aracnídeo, olhos completamente tomados de preto, apenas sobrando a íris avermelhada, enquanto grandes presas para fora enquanto seu sorriso se abria. A presença animalesca de seu amante sendo a última coisa que pode observar, além de uma frase sussurrada.
- Hasta luego gatinho...
Presas de repente foram cravadas contra seu pescoço, marcando sua carne.
Um golpe certeiro em seus nervos, que gritaram em uma avalanche de pânico que fez seu mundo parar.
Tudo simplesmente se tornado branco, seu corpo treme em espasmos.
Para enfim uma sensação de cair em queda livre o levar para a escuridão da inconsciência.
A partir de então a confusão aos arredores permanece até que ele desligue de fato, vagamente noções de ser levantado e ser carregado em segurança são feitas para serem logo descartadas, o colocando em um automóvel de rumo desconhecido, mas que sabia estar indo casa, longe de todo o mal e das coisas ruins que pudessem os causar.
Caindo na escuridão
Onde Roger era a única coisa que importava.
Protegido pelas fortalezas do conforto e amor que eram a paz em que ele o causava.
E se Cellbit acordou após ser derrubado aos beijos e cafunés no conforto de uma cama macia com uma bandeja de café da manhã feita especialmente para si na ilha da cozinha após se levantar, isso é outra história para se contar
Porque nesta, o mafioso que navegando em meio a tempestade marítima de seus medos e inseguranças, finalmente encontrou em Roger, o homem oceano que lhe afogava em seu a.mar.
Notes:
Heyy, o que acharam? Espero que tenha gostado!! Comente e deixe seu Kudos!!
Bom, eu ficaria de olho se eu fosse você na proxima fanfic, ouvi dizer que esta será uma aventura bem... submersa eu diria hehe. Espero ver você em uma proxima, tchau!!