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Fandom:
Relationship:
Characters:
Additional Tags:
Language:
Português brasileiro
Collections:
BaekDoux Fic fest
Stats:
Published:
2019-07-31
Completed:
2020-07-31
Words:
41,606
Chapters:
8/8
Comments:
30
Kudos:
31
Bookmarks:
3
Hits:
533

Sexy Iemanjá

Summary:

Baekhyun e Kyungsoo, quando adolescentes, foram o primeiro amor um do outro, tristemente separados por infortúnios do destino. Nove anos depois, em meio à uma herança milionária deixada a Baekhyun, o casamento de Kyungsoo prestes a acontecer, mergulhos no mar gelado da ilha onde nasceram e questionamentos sobre a própria moral, eles se redescobrem.

Notes:

Essa fanfic foi um parto, mas por ser tão difícil eu gosto tanto dela. Eu tive o privilégio de descobrir quem doou esse plot maravilhoso (desculpa estragar a surpresa haha) e eu sou muito grata por poder desenvolvê-lo. M, eu espero mesmo que você goste!
A profissão do Kyungsoo aqui é de advogado, e por isso devo avisar que não sei nada de termos e processos jurídicos jsdjjdahsa então não me matem se aparecer algo nada a ver aí no meio.
No mais, eu queria agradecer o projeto por fazer algo grande e bonito pelo meu otp e couple mais lindo do mundo que é baeksoo e dizer que se você precisa de uma musiquinha inspiradora para ler, a trilha sonora de Call Me By Your Name e Hello Stranger da Barbara Lewis foram as músicas que mais me ajudaram a conceber essa fic.
Obrigada e espero que todos gostem!

Chapter 1: 1º Capítulo

Chapter Text

— Eu não te deduro se você não me dedurar! — Baekhyun disse, com a camisa de botão levantada ao servir de cesto pras laranjas roubadas, a boca suja.

— Por que diabos eu te deduraria? - Kyungsoo perguntou,  com os olhos arregalados e um riso preso, sorrindo indignado.

Baekhyun ria enquanto Kyungsoo enfiava a cara numa laranja.

— Talvez porque o dono da frutaria é seu tio? Aliás, você percebeu a decadência da situação? A gente devia estar roubando laranjas de árvores, não da frutaria, seria muito mais divertido. Olha isso, você se suja todo! — Baekhyun riu, alcançando o rosto de Kyungsoo com a gola de sua camisa, limpando sua sujeira.

— Você também se suja, só é menos…

— Ogro?

— Talvez — Kyungsoo respondeu, ao mesmo tempo em que eles se sentaram no murinho em frente à orla, muito conhecido pelos turistas, com o mar agitado em suas costas, despreocupados demais com o risco de serem pegos com as laranjas roubadas. — Mas ei, eu não sou ogro, só um pouco ansioso.

— Ansioso? — Baekhyun respondeu rindo. Kyungsoo, ofendido, o cutucou nas costelas, fazendo-o se remexer e derrubar as laranjas da camisa. — Seu idiota! — gritou, enquanto corria para juntar todas elas, Kyungsoo ria enquanto fazia o mesmo. — Não sei do que você tá rindo, agora vai ter que segurar — reclamou, com os braços cheios.

— Tudo bem, pronto, não precisa ficar bravo — Kyungsoo respondeu, ainda risonho, oferecendo a camiseta para que Baekhyun colocasse as laranjas, com o braço esquerdo imediatamente a segurando como um suporte.

— Quem disse que eu estou bravo? — Riu, cutucando também as costelas de Kyungsoo, que ficou de pé e tentou fugir das cócegas incômodas.

— Se não parar vou te derrubar daí! — ameaçou ao segurar a cintura de Baekhyun com a mão livre e o empurrar de leve para trás no muro em que ele estava sentado.

— Você não seria capaz, você me ama! — Baekhyun gritou meio desesperado, segurando no braço de um Kyungsoo que ria.

— Te amo! — Kyungsoo respondeu, puxando Baekhyun para mais perto.

Baekhyun sorriu grande e Kyungsoo ficou sério, com os olhos no rosto de Baekhyun, a mão em sua bochecha, pele dourada e com cheiro de sal, Kyungsoo o achava tão bonito. Se beijaram e as laranjas quase caíram de novo.

 


 

— Kyungsoo? Acorda — a voz suave o chamou, com o despertador tocando irritante em seu ouvido, Jihyun o beijou perto do olho esquerdo e se aprumou com o rosto enfiado em seu pescoço. Era um novo dia.

— Hum, bom dia — respondeu com a voz muito sonolenta e os olhos tentando se abrir. — Eu 'tava no meio de um sonho. — Riu como o sono permitia e virou de lado, passando o braço pelo corpo da noiva.

— Ah é? E era um bom sonho? — Jihyun perguntou mais desperta, um dos cotovelos apoiados no peito de Kyungsoo, enquanto a mão apoiava o próprio rosto. Kyungsoo abriu os olhos, os apertou, era um bom sonho?

— Sim, um sonho muito bom.

A rotina de Kyungsoo e Jihyun era puramente isso: rotina. Mas não significava que fosse ruim, de forma alguma, Kyungsoo na verdade gostava muito, desde o despertador tocando cedo demais, até o momento em que Jihyun falava “parece que moro aqui, tenho que voltar para minha casa!” e então fazia ele pensar “você mora aqui!” , já que Jihyun realmente nunca voltava para casa e quase todas as suas roupas ficavam ali, no apartamento de Kyungsoo. Talvez esse fosse o processo costumeiro para o casamento e, por isso, Kyungsoo gostava, já que passar a vida inteira ao lado de Jihyun parecia tão atrativo quanto passar os dias com ela atualmente era.

Naquele dia, Kyungsoo pensava em Jihyun enquanto corria estressado de um lado para o outro, de audiência para reunião, reunião para atendimento exclusivo a algum cliente novo, para audiência e então sala do chefe para puxar seu saco como bom funcionário que era. Em dias estressantes em sua profissão de advogado, Kyungsoo costumava pensar em Jihyun… Não, na verdade não costumava. Eventualmente, em dias estressantes em sua profissão de advogado, Kyungsoo pensava em Jihyun. Normalmente, Kyungsoo pensava em casa.

A areia clara, a brisa e o mar agitado, as construções antigas e bonitas, as casas simples, a água gelada, sua mãe, Baekhyun, seu irmão. Em dias estressantes, Kyungsoo abria a janela de seu escritório tão alto naquele prédio imponente e deixava que o vento gelado batesse diretamente em seu rosto, então ele fechava os olhos e se lembrava do período mais feliz de sua vida, um que de tão veementemente relembrado, agora parecia só uma ilusão.

— Kyungsoo? — uma voz o chamou calmamente, enquanto ele estava de costas para a porta, o rosto gelado pelo vento.

— Sim, Yura? — respondeu. Era a assistente de seu chefe quem o chamava, com o rosto enfiado por um pequeno vão na porta.

— O senhor Cho quer te ver, pediu que fosse rápido.

— Tudo bem, eu estou indo, obrigado!

— Parece bom… — Yura comentou, um sorriso animado no rosto, os ombros levantados em excitação, ela sabia o quanto Kyungsoo se dedicava para pegar os melhores casos. Ele riu soprado pela animação repentina e sorriu agradecido.

— Tenho certeza que sim.

Quando entrou na sala do próprio chefe, ele parecia animado também, sorrindo quando pediu para Kyungsoo se sentar.

— Boas notícias, Do — ele começou. — Você ficou sabendo da construtora, a do literal, processada por impropriedade no descarte de dejetos, não ficou? — Kyungsoo massageou levemente as têmporas, na verdade não estava sabendo, sempre correndo o dia todo nas últimas semanas, só sabia que se pegasse casos grandes conseguiria a confiança e atenção do chefe.

— Na verdade, não fiquei, mas posso me informar muito rapidamente sobre ele, sabe, questão de minutos…

— Tudo bem Do, relaxa, eu sei o quanto você tem se esforçado nos últimos meses, é por isso mesmo que estou te contando sobre esse caso agora. — O mais velho penteou uma sobrancelha grisalha com os dedos e se levantou, andando de um lado para o outro enquanto explicava. — Basicamente, a construtora KPA, você já deve ter ouvido falar dela, é responsável por uma grande obra que ainda está em andamento na Ilha de Jindo, acontece que como boa empreiteira, eles também fazem coisas ilegais, a da vez é jogar lixo, muito lixo no mar. — Kyungsoo se surpreendeu na hora ao ouvir o nome do lugar citado pelo chefe, nada acontecia na Ilha de Jindo, às vezes pensava que ninguém conhecia sua cidade natal.

— Oh, Jindo, é minha cidade natal! Eu estou surpreso por saber que algo está acontecendo por lá…

— É mesmo? Então você é mesmo o homem perfeito para esse caso, é incrível como sempre acerto. Incrível, não é? — O chefe perguntou entusiasmado e Kyungsoo não podia negar, concordar fazia parte da costumeira puxação de saco.

— Sim, incrível senhor! — respondeu, sorrindo. — Qual é o plano?

— Bem, eu preciso de alguém que passe uma semana por lá, a primeira audiência já vai acontecer nesse período, eu vou te repassar o caso todo, os papéis e a cópia do processo hoje mesmo, você estuda, se informa, entra em contato com eles se preciso, então semana que vem eu te concedo essas semanas numa ilha tropical, com muita sombra e água fresca e, é claro, provavelmente sua família. Você pode até levar sua noiva com você, vai ser como tirar férias, tenho certeza, tudo o que você precisa fazer é livrar aqueles filhos da puta de uma indenização milionária.

Kyungsoo sabia que não seria tão fácil quanto o velho fazia parecer ser, nunca era, um caso daqueles exigia muito jogo de cintura, inteligência e dialética, mais do que o normal por se tratar de um processo milionário, envolvendo pessoas influentes e, provavelmente, corrupção. Mas seu chefe também lhe oferecia a oportunidade de voltar à Jindo e descansar um pouco nessas semanas, em meio a encontros e audiências estressantes. Descanso era algo que Kyungsoo precisava mais do que tudo, mesmo que tentasse negar. Descansar em Jindo, o lugar com que sonhava todo dia, parecia até mesmo uma ilusão.

— Você acha que é capaz de cuidar desse caso, Do? — Seu chefe perguntou compreensivo, mas, mesmo assim, com uma clara demanda no olhar, ele queria um trabalho muito bem feito e Kyungsoo podia fazer isso, ele queria.

— Sim, senhor Cho, sou perfeitamente capaz de fazer isso — disse com firmeza.

 


 

Quando chegou em casa naquela noite, Jihyun já estava lá, como sempre, já que se sentia solitária e preguiçosa demais para ir para o próprio apartamento. Ela parecia tensa, massageando o pescoço de tempos em tempos e suspirando sem parar, Kyungsoo sabia que era por causa do trabalho.

— Como foi no trabalho hoje? — perguntou assim que deixou os sapatos na porta e a cumprimentou com um beijo.

— Estressante. — Kyungsoo sabia. — Uma paciente complicada voltou a fazer as sessões, fico preocupada de me deixar abalar pelos problemas dela, ultimamente eu tenho sugado tudo que me vem pela frente — desabafou.

— Eu tenho uma notícia que talvez te deixe feliz… ou talvez não — Kyungsoo começou nervosamente, achando aquele um bom momento para falar da viagem.

Jihyun riu da frase de Kyungsoo e o encorajou a falar com um aceno de cabeça.

— Eu peguei um caso hoje, muito grande. — Jihyun bufou ao perceber que se tratava de trabalho, ultimamente era de tudo o que Kyungsoo falava. — Não, não, essa não é notícia, calma! — ele assegurou, ao ver a reação dela. — É um caso de uma empresa de Jindo, sabe, minha cidade natal. — Jihyun pareceu mais animada e o incentivou novamente.

— Sim, sim, e o que vai me deixar feliz, afinal? — perguntou afobada.

— O senhor Cho me ofereceu uma semana lá para iniciar o caso, sabe, disse que posso descansar enquanto cuido de tudo e, bem... é uma semana lá, pensei que talvez você quisesse ir junto para hm… conhecer meu pai e irmão, acho que é uma boa oportunidade, você parece precisar de uma folga também — Kyungsoo sugeriu um tanto nervoso.

Havia um motivo pelo qual Kyungsoo nunca quis apresentar Jihyun a seu pai. Quando ele saiu de Jindo, saiu brigado com o pai, o velho cabeça dura não aceitava a ida, assim como não aceitava que Kyungsoo ficasse. Kyungsoo na época havia ficado confuso, mas sabia que todo aquele desprezo do pai tinha nome e sobrenome: Byun Baekhyun.

Desde então, não quis vê-lo de novo, não via oportunidade para isso, nem quando conheceu Jihyun. Ainda não se sentia preparado para apresentar alguém importante ao pai, que tanto fez pouco caso dele.

Jihyun pareceu se acender na hora, os olhos sorrindo junto com a boca. Sim, a notícia havia a deixado feliz.

— Oh meu Deus, isso é incrível, Kyungsoo, é claro que quero ir, quero muito ir. Você sabe que sempre quis conhecer sua família, eu estou tão animada! Quando você vai? — ela disse tudo de uma vez, fazendo um carinho repetitivo nas orelhas e nuca dele, Kyungsoo sorriu pela animação.

— Eu ainda não sei, provavelmente na semana que vem. Você tem certeza mesmo de que pode ir? — perguntou, envolvendo os braços pela cintura dela, feliz por tê-la relaxada.

— Eu dou um jeito, prometo, quero muito ir, relaxar, conhecer mais um pouco de você. — Ela sorriu, Kyungsoo balançou a cabeça contrariado, também sorrindo.

— Te juro que não tem mais o que conhecer, estou totalmente nu diante de você! — respondeu num tom brincalhão, Jihyun riu alto.

— Deveria estar. — Ela mexeu as sobrancelhas, sugestivamente, e o resto dessa conversa é história.

 


 

A primeira coisa que Kyungsoo pensou, três dias depois, quando seu chefe o deu a data para a viagem, foi em Baekhyun. Para Kyungsoo era claro que as pessoas mais importantes para si naquela ilha eram seu pai e irmão, e Baekhyun. Mesmo que existisse essa cultura onde as pessoas eram puxadas a esquecer e desprezar os ex-amores, Kyungsoo sabia que não era assim que funcionava, não com eles dois.

Quando chegou em casa, naquela noite, revirou a pequena caixa de papelão que guardava na gaveta de cuecas, em busca de um papel que fosse com o endereço do amigo. Em uma folha amarelada, arrancada de uma agenda, cheia de outras anotações, achou. ‘Baekhyun (não esquecer!)’ era o que o enunciado dizia, logo abaixo estava o endereço ‘Rua das Bromélias, 715’ , seguido de outro ‘(não esquecer!)’ .

Kyungsoo riu de leve, lembrando de seu desespero para não perder o contato com Baekhyun, para não deixá-lo ir embora, ainda tinha tantas esperanças a respeito dele na época, acabava sendo triste como perderam contato tão repentinamente.

Puxou uma folha qualquer e uma caneta, escreveu um bilhete pequeno e enfiou em um envelope, no dia seguinte procuraria por selos e, então, enviaria a Baekhyun a carta que dizia:

 

Baekhyun, aqui quem fala é Do Kyungsoo, espero que ainda se lembre de mim e me considere um bom amigo. Na semana que vem eu vou para Jindo, quero te ver e visitar, se possível. Se receber essa carta, espere pela minha visita.

 

Abraços, Kyungsoo.”


 

Baekhyun, por favor… — Kyungsoo repetia essa mesma frase pela terceira vez, as mãos esfregando o rosto, exausto, desesperado.

— Não, Kyungsoo, eu já disse que não, que parte você não entendeu? — Baekhyun respondeu, igualmente estressado, as lágrimas não deixando de inundar os olhos, nem por um segundo.

— A parte em que você não tá dando a mínima pro fato de que eu não posso ficar, eu não posso ficar e a gente não pode ficar junto se você ficar! — Kyungsoo tremulou a voz e derramou duas ou três lágrimas.

— É claro que eu me importo, Kyungsoo, por Deus! Eu só não quero desistir de tudo assim, de tudo o que eu quero, por você — dizer isso foi mais doloroso do que Baekhyun jamais pensou, ouvir também.

Kyungsoo o olhou com a expressão mais magoada que Baekhyun já havia visto nos seus não muitos anos de vida, calçou os chinelos deixados na orla, quase na areia da praia onde eles pisavam, e deu as costas, a garganta trancada em raiva, mágoa e desespero.

A verdade é que Kyungsoo não tinha um plano. Havia passado naquela faculdade na capital sozinho, havia sido humilhado pelo pai sozinho, perdido a mãe sozinho, mas, mesmo assim, insistiu em colocar Baekhyun em todos os planos. Em meio a isso, esqueceu que Baekhyun talvez não quisesse seguir seus planos, esqueceu da possibilidade de ter que segui-los sozinho.

— Kyungsoo! — ele ouviu às suas costas. Baekhyun vinha correndo, o rosto triste e molhado, que não significava mais nada, de qualquer forma. — Tenta me entender, por favor… eu te amo, mas eu não posso ir com você, eu não quero… eu te amo, Kyungsoo. — Baekhyun o segurava pela manga da blusa de frio, foi sincero e sentia-se péssimo, Kyungsoo não conseguia olhar sem sentir-se péssimo também, mais péssimo do que já se sentia.

— Eu… — Kyungsoo puxou Baekhyun, antes de terminar a frase, o abraçou e apoiou o queixo na cabeça curvada de Baekhyun, o rosto dele enfiado em seu pescoço. — Eu entendo, Baekhyun. — Suspirou.

Kyungsoo se lembrava de dar tchau a Baekhyun na tarde fria em que foi embora, de olhar ternamente em seus olhos e pedir para que Baekhyun não o esquecesse, porque ele nunca o esqueceria. Se lembrava também das primeiras cartas que trocaram, e que em uma delas Baekhyun dizia que sentia muita saudade e que o esperaria, sem especificar prazo, data ou condição, só disse que esperaria. Foi uma pena, quando um ano e meio depois, a última carta de Kyungsoo não recebeu resposta.

 




— Se você não acordar agora, vamos perder o horário. — Kyungsoo ouviu vagamente, em meio a confusão do sono. Os ombros sendo chacoalhados e a luz machucando os olhos. — Kyungsoo! — Jihyun chamou novamente, rindo, mas parecendo meio irritada.

— Hm… acordei! — Kyungsoo respondeu, enquanto se sentava na cama, os olhos ainda meio fechados, o sono o consumindo, mesmo que estivesse acordando bem mais tarde que o normal.

Ao se preparar para a viagem de algumas horas, com as bagagens dentro do carro e Jihyun no banco de carona, Kyungsoo acabou pensando em Baekhyun e, em meio às divagações, percebeu que ainda não havia comentado sobre ele com Jihyun, nenhuma única vez.

— Por que tá quieto, hein? O que tanto pensa? — ela perguntou quando eles já estavam na autoestrada. As mãos, como sempre, se esgueirando pelas suas orelhas e nuca, num carinho que todo mundo sabia que Kyungsoo gostava. Ele foi despertado das divagações profundas, piscando os olhos lentamente.

— Nada. — Sorriu. — 'Tava só concentrado. — Ela pareceu satisfeita, sorrindo e recolhendo a mão, e Kyungsoo viu ali uma boa oportunidade. — Na verdade, eu estava pensando num amigo.

— Um amigo? — ela pareceu interessada, o olhando completamente agora.

— Sim, de Jindo. Faz muito tempo que não o vejo e, no caso dele, não é nem porque eu não quero, nós só perdemos contato.

— Você quer visitar ele? — perguntou, interessada.

— Se possivel sim, não sei se ele ainda mora lá, se ainda está vivo… — Soltou uma risada meio contrariada, quase como se um arrepio desesperador passasse por seu corpo, imagina viver em um mundo em que não pudesse ver Baekhyun de novo? Jihyun sorriu com o interesse fraternal que o noivo parecia exalar, não sabia que ele ainda tinha pessoas queridas naquela cidade além da família, não sabia nem se a família era querida.

— Qual é o nome dele? — perguntou, a voz baixa e compreensiva.

— Byun Baekhyun — ele respondeu, um meio sorriso aparecendo. Tinha algo de muito bom em conseguir compartilhar isso com Jihyun, como se estivesse abrindo uma última gaveta empoeirada da própria alma para que ela pudesse olhar.

— Nós devíamos mesmo visitá-lo — Jihyun concluiu, os dedos voltando a acariciar a nuca de fios raspados. Kyungsoo sorriu e assentiu com a cabeça.






Chegar à Jindo, depois de nove anos longe, trazia algo muito agridoce ao paladar e à alma de Kyungsoo. Quando viu o portal de boas vindas à ilha, teve vontade de derramar uma lágrima ou outra, quando viu o mar, teve vontade de rir. Não conseguia olhar para cada ponto daquele lugar quase nada mudado, sem se lembrar da infância e adolescência, dos banhos de mar, os comércios que sempre frequentava, das lojas em que vivia rondando com Baekhyun para roubar uma coisa ou outra — não se orgulhava muito disso agora —, do antigo trabalho do pai, da escola em que estudou quando criança, dos passeios que fazia na garupa da bicicleta de sua mãe.

Ah, sua mãe, tão bonita e amorosa, Kyungsoo ainda lembrava com vivacidade da pele bronzeada e das mãos calejadas. Ela era, ao lado de Baekhyun, a lembrança mais bonita que Kyungsoo levava de lá.

Quando eles passaram, em meio ao trajeto, na frente da famosa casa Kang, Kyungsoo deixou um sorriso largo escapar. Era um costume dele e de Baekhyun, nos primeiros anos de amizade quando apenas flertavam tímidos, assustados e receosos sobre se sentirem atraídos um pelo outro, sentarem de frente para a grande mansão que tomava boa parte da orla daquela praia – provavelmente particular — e se perguntarem qual era o mistério por trás dela.

Kyungsoo se lembrava que aquela casa enorme existia desde que havia nascido, a proximidade com a praia surpreendia, ninguém mais tinha aquela ousadia e poder na cidade. Os portões imponentes e assustadores – pelo menos em sua mente de menino – estavam sempre fechados e a vontade de entrar para explorar aquele lugar era quase lancinante, ninguém da sua idade sabia realmente quem era o dono daquela casa, se ela estava vazia, se uma família ou uma assombração morava lá dentro, tudo o que sabia é que ela pertencia a alguém com o sobrenome Kang, e isso despertava sua curiosidade de menino como quase nada no mundo. É óbvio que nunca havia conseguido entrar, tanto pelo tamanho dos portões, quanto pela insistência de Baekhyun de que não deviam fazê-lo.

— Um dia eu ainda vou ter uma casa desse tamanho, uns portões e pilastras todos clássicos desse jeito, na areia da praia também, já que eu não consigo ficar longe dela, você sabe. Mas ao invés de deixar tudo fechado assim, eu vou abrir os portões todos os dias pras pessoas verem e entrarem, na casa e na praia, o que é bonito é para ser mostrado — ele disse, um par de vezes, e Kyungsoo só ria do sonho de menino, porque naquela época era divertido rir de tudo.

Se lembrou de tentar descobrir a quem aquela casa pertencia agora que era adulto e menos imprudente, assim como percebeu que, enquanto passavam por ela, doze anos depois da memória fresca em sua cabeça, os portões estavam abertos.






— Tudo bem, vamos repassar o que a gente combinou.

— Isso é mesmo necessário? — Jihyun perguntou, exasperada e com manha, cansada de ouvir as mesmas coisas várias vezes seguidas. Estavam dentro do carro, na frente de uma casa simples e que parecia aconchegante, finalmente conheceria a família de Kyungsoo.

— Sim, por favor — Kyungsoo respondeu um pouco desesperado. — Vamos lá: se meu pai perguntar se eu já te contei sobre como fui embora, você deve…? — Esperou que ela completasse, o tom de expectativa na pergunta.

— Mudar de assunto — respondeu, revirando os olhos em cansaço.

— Se ele falar mal de mim?

— Perguntar sobre sua mãe. — Kyungsoo sorriu, satisfeito.

— Isso mesmo, boa menina, obrigado por me ajudar com isso.

— Sinceramente? — Jihyun respirou fundo. — Não acho mesmo que isso seja necessário, você acha que eu não tentaria o impedir de te deixar desconfortável de qualquer forma? Parece até que tem vergonha que eu passe uma má impressão. — Ela franziu o cenho e Kyungsoo se preocupou na mesma hora, as mãos buscando as dela.

— Não, é claro que não amor, eu tenho medo deles te passarem uma má impressão. — Engoliu em seco e se sentiu mal por pensar assim da própria família, fazia tanto tempo que não os via.

— Você sabe que eu não me importo, eu tô tão feliz por conhecer eles, Kyungsoo, sério… — Ela sorriu e ele sorriu também, inclinando-se para deixar um beijo rápido nela.

— Vamos entrar antes que meu pai venha bater na janela e perguntar por que estamos demorando tanto — ele disse rindo, ao perceber que seu pai estava pendurado na cerca que separava a casa da rua, os braços jogados sobre as estacas e a expressão dura.

Kyungsoo sorriu quando olhou para o pai, a pele marcada e a camisa de botões surrada sempre aberta, ele havia claramente envelhecido, mas não havia mudado nada, os olhos pequenos ainda escrutinavam até a alma de Kyungsoo, como se ele ainda fosse um moleque bagunceiro que o fazia passar por dores de cabeça. O rosto sempre severo, continuou severo até quando o filho que não via há 10 anos apareceu em sua frente, um homem feito, bonito, digno de orgulho, mas por quem o pai ainda guardava pedaços de decepção. Apesar disso, seus olhos pareciam orgulhosos, felizes, saudosos.

— Há quanto tempo, senhor Do… — Kyungsoo suspirou, aproximando-se do pai.

— Pensei que não te veria de novo, menino — o senhor respondeu, os olhos severos ganhando algo como candura ao apertar a mão do próprio filho em um cumprimento.

Jihyun sorriu e se apresentou para o homem que se segurou para não sorrir de volta ao se deparar com tanta delicadeza e beleza, realmente orgulhoso pelo rumo que o filho havia tomado. Quando eles entraram dentro da casa simples, uma enxurrada de sentimentos tomaram Kyungsoo, enquanto uma enxurrada de informações tomaram Jihyun. Na mesa de madeira talhada estavam sentadas seis ou sete pessoas, duas delas eram crianças, as outras quatro ou cinco, adultos e idosos. Kyungsoo sentia cheiro de peixe assado e maresia, o coração se revirando em saudade e medo, medo de sentir saudade.

As paredes ainda eram amareladas e a porta de seu antigo quarto estava aberta, um punhado de brinquedos lá dentro, seu irmão agora tinha filhos.

— Oh Kyungsoo, como você cresceu! Meu Deus, que homem lindo você virou! — sua tia, Hakyoung, disse. O tom surpreso e doce. Kyungsoo riu, era uma mulher muito apegada às hipérboles.

— Oh não, não exagere tia! — ele pediu, enquanto a abraçava.

Kyungsoo viu Jihyun ser extremamente bem recebida e mimada por todos e sentiu uma parcela de algo ruim em meio à satisfação, quase como o incômodo gerado por injustiça. O sentimento logo passou, principalmente ao ver o irmão e os sobrinhos: Seungsoo lembrava sua mãe e as crianças o lembravam de como a infância era preciosa.

— Há quanto tempo você não come um peixe assado tão bom, hum Kyungsoo? — a tia perguntou risonha, as mãos engorduradas pela comida, as crianças correndo em volta da mesa. Kyungsoo se sentiu feliz por ser recebido bem em casa, com carinho e prestígio, pelo menos de sua família.

— Uns dez anos, tia, uns dez anos — respondeu, também risonho, e seu pai sorriu por detrás das mãos.

— É muito bom te ver depois de tanto tempo, Kyung, de verdade, ainda mais com uma noiva bonita como essa a tiracolo, agora essa velha vai parar de reclamar sobre não ser convidada pro seu casamento — seu tio falou, fazendo a mesa toda se agitar numa risada e sua tia, ofendida, acertar um belo tapa na cabeça do próprio marido.

— Não diga besteira, idiota! Me desculpe, Jihyun-ah, esse homem não tem trava na língua, sempre me provocando… — a tia pediu, envergonhada, as mãos gordinhas apertando o ombro de Jihyun, preocupada em ter passado uma má impressão para a futura sobrinha.

— Tá tudo bem, tia — Jihyun respondeu, rindo. — Mas é claro que nós vamos convidar vocês para nosso casamento, ora, nem mesmo pense no contrário. Inclusive… — Buscou os olhos do noivo, querendo aprovação para algo que ele nem mesmo sabia o que era, mas pelo qual assentiu mesmo assim. — Nós estávamos pensando em fazer a cerimônia aqui… quer dizer, foi algo que a gente comentou há algum tempo, mas que nunca saiu da minha cabeça, é um lugar tão bonito, mais bonito do que eu imaginava, eu… eu gostaria muito — terminou, os olhos suplicantes atravessando o rosto de Kyungsoo. Como negaria algo assim?

— Seria maravilhoso, Jihyun-ah, ai meu Deus, mal posso esperar! — a esposa de Seungsoo, Sohee, disse, segurando nas mãozinhas do bebê que puxavam seus cabelos, mãozinhas cruéis.

— Oh meu Deus, consegue imaginar essa festa, Kwang? Não seria maravilhosa? — Hakyoung perguntou ao pai de Kyungsoo, a mão batendo animada em seu ombro, ele ensaiou um sorriso que Kyungsoo entendeu como uma confirmação.

Podia sentir no ar a satisfação que seu pai sentia só de imaginar na cara de quantas pessoas poderia esfregar esse casamento, dos parentes mais distantes, dos colegas de pesca que o contaram pela primeira vez que seu filho andava grudado demais no filho de outro pescador, Baekhyun. Baekhyun.

— Vocês ainda tem notícias do Baekhyun? — Kyungsoo perguntou em um impulso, como se não soubesse o efeito que aquilo teria sobre aquela mesa.

Seungsoo olhou de soslaio para o pai, que endureceu a carranca como nunca antes, Kyungsoo fingiu não ver.

— O menino dos Byun? — a tia perguntou, os olhos curiosos e inocentes. Kwangsoo soltou uma risada soprada, amarga.

— Menino? Todo mundo sabe que de menino aquele indivíduo não tem nada. É homem e homem de mau caráter — respondeu afetado, com os olhos piscando diversas vezes, num tique nervoso. Kyungsoo se sentiu intimidado, exatamente como se sentia quando era adolescente.

Hum, hum , por que está falando desse jeito dele? — a tia perguntou igualmente exasperada, o cenho franzido em incômodo. — Eu entendo a sua implicância com o menino, mas chamar ele de mau caráter é exagero, meu irmão. Ele é uma pessoa muito boa, sem falar que ainda é amigo do nosso Kyung, não é? — perguntou, olhando para Kyungsoo, que assentiu e permaneceu quieto como só conseguia ficar diante do pai bravo. — E sim, Kyungsoo, temos notícias de Baekhyun.

— Ah, que bom! — Jihyun soltou, num ímpeto de animação. — Desde que Kyungsoo me falou desse amigo, estou doida para o conhecer. — Sorriu e recebeu um olhar contrariado do velho Do, como ela poderia estar animada com aquilo?

— Eu mandei uma carta para o antigo endereço dele, mas não tenho ideia se ele recebeu, se ainda mora lá, ao menos… — Kyungsoo comentou diretamente com a tia. Podia perceber que todo o resto parecia incomodado com o assunto, mas isso não o impediria, de qualquer forma.

— Oh, não, Kyungsoo, querido, você não vai acreditar no que aconteceu com ele durante esses anos! — sua tia respondeu, risonha, o que não deixou de trazer uma sensação gelada à espinha de Kyungsoo, pensando em todos os cenários possíveis. O que havia acontecido com Baekhyun?

— O que… O que aconteceu? — perguntou apreensivo, vendo o rosto da tia se avermelhar e um sorriso sem graça nascer.

— Bom, como vou falar isso? — ela respondeu sem jeito, logo tomando coragem, depois de um suspirar. — Baekhyun agora é muito, muito rico.

— Rico? Isso é ótimo, tia — Kyungsoo disse sorrindo aliviado, quase rindo. Não entendia o porquê da hesitação da mulher. — Como isso aconteceu?

— Ele herdou uma fortuna, Kyungsoo, do amante dele, senhor Kang Haekyeol — a frase foi toda dita debaixo de protestos do velho Do, indignado com tamanho mau caratismo. O rapaz era amante de um homem e ainda havia dado um jeito de sair da história cheio de dinheiro, um mau caráter, o senhor Do sempre soube!

Kyungsoo, no entanto, sentiu algo se revirar nas entranhas, não sabia se era felicidade pelo amigo ou surpresa tamanha, como nunca havia sentido antes. 

— Eu… realmente não esperava por isso — Kyungsoo respondeu, sincero e calmo, mesmo que um milhão de perguntas enchessem sua cabeça. De onde esse homem havia surgido? Como Baekhyun se tornou herdeiro dele? Isso tudo havia acontecido em Jindo, sem o conhecimento de Kyungsoo? Baekhyun havia se assumido? Havia sido aceito? Parecia surreal. — Esse homem, ele era, hm, casado? Você me importa de explicar melhor a situação, tia? — pediu, interessado.

A isso o velho Do não tolerou, levantando a voz e sendo rude. Kyungsoo estava quase se acostumando com a faceta gentil dele, falsa demais para o próprio bem.

— Kyungsoo, pelo amor de Deus, chega! Não quero esse indivíduo sendo assunto na minha mesa, chega desse assunto! — ele disse, com o rosto vermelho e as mãos gesticulando, nervosas.

— Não! Pai, você tem controlado meus interesses e amizades desde que eu sou um moleque, não vai controlar agora. Eu tenho direito de perguntar sobre meu amigo de infância e gostaria que você não fizesse um escândalo disso pelo menos uma vez! — Kyungsoo respondeu, igualmente exasperado e o tom de voz ameno, apesar do desafio nas palavras.

A capacidade de parecer sempre impecavelmente educado era um dos motivos pelos quais Kyungsoo era tão bem sucedido na carreira de advogado. Seu pai, obviamente, pareceu surpreso e constrangido demais e não ousou responder, mesmo assim, Kyungsoo resolveu não prolongar mais o assunto. 

— Tia, a senhora tem o telefone do Baekhyun? — perguntou, diretamente para a tia, que parecia surpresa com sua resolução, mas ao mesmo tempo satisfeita.

— É claro, todos da cidade têm. Baekhyun fez questão que todo mundo tivesse marcado o número dele, para caso precisarmos, é um homem muito generoso, ama ajudar. — Kyungsoo estava sem palavras, Jihyun percebeu e apertou sua mão por debaixo da mesa.

— Me passe o número, por favor — ele pediu, logo se levantando e se aproximando da tia. Depois que ela ditou o número, Kyungsoo disse à Jihyun que queria ir embora, então se despediram e foram.

Quando moleque, se havia algo que Kyungsoo não acreditava, era que um dia ele pudesse se hospedar em um hotel tão fora de mão para um filho de pescador como o Vernazza Boulevard , santuário dos turistas ricos que iam até aquela ilha simples, era. Era por isso que, no auge da adolescência, costumava entrar escondido nos seus corredores de teto alto e colunas talhadas, feitas para serem parecidas com as coríntias, e agir como um turista.

Baekhyun sempre estava junto e ele parecia ter ainda menos compreensão que Kyungsoo do quão não turistas eles pareciam, as roupas simples e a pele tostada mostrando isso para qualquer um que passasse, sem falar na forma totalmente bagunceira com que se portavam, correndo e fazendo barulho por entre os corredores, até que algum dos funcionários perdesse a paciência.

Por isso, quando estacionou o carro na vaga específica para seu quarto no Vernazza Boulevard e subiu as escadas imponentes que davam acesso à entrada do hotel, pensou no quanto seus destinos mudaram. Baekhyun, uau, como Baekhyun devia estar? Ele provavelmente poderia comprar aquela cidade toda agora, não era mais o menino ingênuo que beijava Kyungsoo escondido entre os corredores daquele hotel. Kyungsoo estava certo de que tudo havia mudado tão permanentemente.

Naquela noite, quando deitou a cabeça no travesseiro, demorou para dormir e quando dormiu, viu em seus sonhos o vulto dourado e que cheirava a juventude, viu Baekhyun correndo pelos corredores.

Chapter 2: 2º Capítulo

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Alô? — a voz levemente aguda, mas igualmente rouca, disse, ao atender o telefone. Kyungsoo teve convicção de que se tratava de Baekhyun, ficando surpreso por descobrir que ele realmente dava o próprio número para os moradores da ilhazinha. Paralisou por um minuto, observando a praia, havia parado lá depois de sair da primeira reunião estressante com seu cliente. Não sabia o que falar. — Alô, quem fala?

— Hum, oi… olá, aqui quem fala é Do Kyungsoo. Byun Baekhyun, certo? — Resolveu confirmar, antes de perguntar se o homem lembrava dele e toda essa baboseira de quando falamos com alguém que não estamos certos se recorda de nós. A linha ficou muda por uns instantes e Kyungsoo estava ponto de chamar o nome dele novamente.

Do Kyungsoo? Do Kyungsoo de Jindo? É você mesmo? — ele perguntou, animado, com a voz soando afobada. Kyungsoo sorriu de leve. — Sim, é o Baekhyun aqui, oh meu Deus, é você mesmo? — Kyungsoo riu.

— Bom, eu não moro mais em Jindo, mas sim, sou o Do Kyungsoo de Jindo, seu amigo de infância — Kyungsoo disse com um sorriso na voz, escolhendo omitir o outro tipo de relacionamento que tiveram, não era algo confortável de se dizer assim.

Sim, sim, sei que você não mora, eu moro, eu ainda moro em Jindo. — respondeu, parecendo afobado e animado. — Você... eu saberia que era você mesmo se não me dissesse, a sua voz, ela não mudou nada. Você está aqui? — perguntou, falando rápido demais e embolando os assuntos, acelerado como sempre, fazendo Kyungsoo sorrir novamente.

— Sim, estou em Jindo, faz muito tempo desde a última vez que estive aqui, passou tão rápido, não é? Eu te mandei uma carta antes de vir, mas chegando aqui descobri que você já não mora no mesmo lugar, como você está? — perguntou inocentemente, queria realmente saber como ele estava e não que ele contasse o que já sabia.

Eu estou muito bem, Kyungsoo. — Baekhyun respondeu, um sorriso na voz. — Você já deve saber sobre tudo, sobre as minhas felicidades e tristezas.

— Não, não, não sei sobre tudo, só partes, as partes mais importantes, creio eu. — Riu. — Estou feliz por você — disse sinceramente.

E eu estou feliz porque você me ligou, meu Deus, faz tanto tempo! Como você está, hum? Como anda sua vida? — Baekhyun pareceu eufórico com a perspectiva de saber que rumo Kyungsoo havia tomado e Kyungsoo se sentiu levemente nervoso.

— Bom, eu ainda vivo em Seul, sou advogado faz algum tempo, me formei nisso. Estou noivo… Jihyun. É o nome dela — respondeu, limpando a garganta em seguida. — Estou aqui por causa de um caso que fiquei responsável, ela veio junto, queria te apresentar para ela, queria te ver — ofereceu, esperando que Baekhyun gostasse tanto da idéia quanto ele mesmo. — Entendo se você precisar recusar, não tem problema — completou, um tanto afobado.

Não, Kyungsoo, eu quero muito ver vocês, claro que quero, por Deus! Você sabe onde eu estou morando? Você não vai nem acreditar! — disse risonho. Falar com Baekhyun às vezes parecia falar com uma criança, cheio de exclamações desnecessárias e uma eterna animação com coisas bobas, seu coração era eternamente bom, Kyungsoo achava.

— É mesmo? Onde é?

Na casa Kang, Kang Haekyeol, meu falecido marido, sempre foi o dono dela — contou, não hesitando em chamar o homem com quem passou os últimos anos  de marido. A informação surpreendeu Kyungsoo que estava olhando para a lateral daquela mansão naquele mesmo momento, sentado na areia da praia. Sorriu por saber que Baekhyun havia realmente conseguido a casa de praia com que tanto sonhou.

— Uau, você só me surpreende! — falou meio desacreditado, parecia absurdo demais, nunca havia ouvido falar desse homem, mas também nunca soube quem era o dono daquela casa.

Eu mesmo me surpreendo às vezes — Baekhyun respondeu, soltando uma risada fraca. — Por favor, venham me visitar, você e Jihye — errou. — Quero muito que vocês venham, venham hoje, para jantar.

Kyungsoo pigarreou do outro lado da linha, não querendo conter o entusiasmo de Baekhyun com a notícia de que não poderia ir naquela noite.

— Essa noite não, Baekhyunee. — Sorriu ao usar o velho apelido e ouviu Baekhyun dar uma risadinha soprada do outro lado. — O caso que eu estou cuidando é realmente grande, acabei de sair de uma reunião cansativa sobre ele, quero me dedicar a isso essa noite. Amanhã! Seria muito bom se pudéssemos ir amanhã, depois do almoço — sugeriu.

Ei, não quer comer comigo? — respondeu exasperado, num tom meio brincalhão. — Venham para o almoço, eu vivo comendo sozinho aqui, ah… é um droga. Gostaria que vocês viessem em todas as refeições. — Riu. — Por favor, almocem comigo.

Kyungsoo ponderou por uns segundos, aflito em recusar. Não precisava recusar, concluiu.

— Certo. Tudo bem, Baekhyun. Nós vamos pro almoço, mas eu quero o melhor almoço! — disse, rindo. A risada de Baekhyun fez cócegas no seu ouvido do outro lado.

Eu… tô tão feliz que ligou, Kyungsoo. De verdade. Obrigado!

A vontade de dizer que sentiu saudade de Baekhyun incomodou na garganta, mas Kyungsoo achou que era melhor não dizer, não era o momento.

— Eu também tô feliz por a gente poder se ver de novo. Bom, eu tenho que desligar, antes que Jihyun pense que fui sequestrado por ainda não ter voltado pro hotel. — Baekhyun riu. — Até amanhã.

Até amanhã!

Naquela noite, a animação de Jihyun por poder conhecer o amigo mais querido do noivo — que não tinha lá muitos amigos — não chegou nem perto da aflição no peito de Kyungsoo. Reencontrar Baekhyun parecia fácil, parecia, mas Kyungsoo sabia que não era. Kyungsoo tinha noção do quão conflitante e estranho poderia ser, se separaram com muito a dizer e sentir, mas ele via aquele reencontro como um encontro, um adeus oficial, e talvez pudessem mesmo seguir como amigos, dez anos depois.








A brisa morna atrapalhava a pele suada de Kyungsoo, Jihyun havia insistido que ele usasse uma roupa formal e elegante para visitar uma casa tão rica e, agora, ele se sentia ridículo usando terno na orla da praia, os sapatos caros se enterrando sem pestanejo na areia quente.

— É aqui mesmo? — Jihyun perguntou, assim que pararam em frente aos portões abertos. O relógio quase marcava meio dia e Kyungsoo sentiu um arrepio cruzar de leve sua espinha. Nostalgia.

— Até onde minha memória alcança, sim — ele respondeu, sem tirar os olhos da construção bonita. Jihyun assentiu, tentando mostrar algum apoio.

O portão se mantinha aberto, então entraram. Kyungsoo sabia que quando chegasse a porta, pediriam por sua identificação e, então, informariam a Baehyun que ele havia chegado.

— É tão grande, será que ele vive sozinho aqui? — Jihyun comentou, impressionada, a mão esquerda enlaçada na direita de Kyungsoo. Ele assentiu, concordando. — Deve ser solitário, apesar de bonito.

— Sim, parece solitário — Kyungsoo disse, enquanto os olhos corriam por todos os lados daquele lugar.

— É ele ali? — Jihyun perguntou confusa, a cabeça apontando discretamente para a lateral das escadarias que deviam subir para chegar à porta.

Kyungsoo olhou rápido demais, os olhos se arregalando em atenção.

Do terceiro degrau das escadas largas, Baekhyun olhava para o lado da praia, como se quisesse estar lá, mesmo que seu cabelo estivesse úmido e sua camisa aberta. A brisa… Kyungsoo chegou a conclusão de que a brisa fazia muito bem a ele.

— Sim, é ele! — Kyungsoo disse, sorrindo.

Baekhyun parecia não tê-los percebido, já que subiu as escadas e quase entrou de volta se não fosse por Kyungsoo ter gritado seu nome. Subiram correndo as escadas, enquanto Baekhyun os esperava, surpreso, na porta.

— Kyungsoo? Você veio mesmo! — Baekhyun disse, parecendo chocado e emocionado. Os olhos esquadrinhando ansiosos o rosto do amigo.

Kyungsoo se aproximou e pareceu automático que se abraçassem, a pele quente e bronzeada dos braços e torso de Baekhyun o queimando por cima da roupa. Kyungsoo nunca havia sentido isso antes.

— Baekhyun! — ele exclamou em meio ao abraço, queria dizer o quão bom era ver Baekhyun de novo, mas não se achava no direito, nem mesmo conseguia fazer sua voz sair mais uma vez. As mãos de Baekhyun apertavam seu blazer com tanta força.

Kyungsoo se desvencilhou assim que percebeu que Jihyun esperava demais ao lado, não queria que um clima estranho se instalasse logo no primeiro encontro.

— Baekhyun, essa é Nam Jihyun, minha noiva. Ela estava muito ansiosa para te conhecer. — Antes que Jihyun estendesse a mão para que Baekhyun a apertasse, ele aparentou estar incerto e inseguro, parecendo perguntar a Kyungsoo se Jihyun sabia sobre tudo, sobre os dois.

— É um enorme prazer te conhecer, Jihyun, eu também esperei como louco pela sua visita — ele disse charmoso, assim que a dúvida passou rápida por seus olhos, beijando a mão pequena de Jihyun.

— O prazer é todo meu! A sua casa é incrível! — ela disse, encantada, os olhos correndo pela parede levemente entalhada.

— Isso porque você ainda não a viu por dentro — Baekhyun brincou e os três riram.

Para Kyungsoo, Baekhyun parecia ainda mais jovem do que era quando foi embora, o sorriso continuava radiante e seus cabelos estavam tingidos em um tom de mel discreto que fazia Baekhyun parecer muito mais bonito do que Kyungsoo pensava que um adulto de cabelo tingido poderia ficar, parecia quase um adolescente. Kyungsoo se sentiu um pouco acanhado, já se sentia velho.

— Você está mais jovem do que nunca, Baekhyun — deixou que ele soubesse, vendo-o sorrir sem graça.

— Nós ainda somos jovens, Kyungsoo — Baekhyun respondeu, olhando rapidamente para Jihyun com uma expressão que a obrigava a concordar. — Vamos entrar, por favor! Eu estava esperando por vocês, aliás, me desculpem por estar vestido assim, vocês estão tão bem vestidos e eu acabei de sair do mar. É um hábito meu, sabe, senhorita Nam? Quando me sinto nervoso, tenho que dar um mergulho rápido — disse tudo isso de forma rápida, as mãos inquietas os levando porta a dentro.

Baekhyun tinha esse jeito acelerado de resolver as coisas, quase nervoso, e Kyungsoo sorriu minimamente ao perceber que ele não havia mudado nada, a sensação dos braços quentes de Baekhyun em volta de seu torso marcada como ferro…

O interior da casa de Baekhyun não deixava nada a desejar e o casal percebeu isso assim que pisaram porta a dentro. Kyungsoo nunca havia entrado em uma mansão antes e a casa de Baekhyun se equiparava muito a uma. Teto altíssimo, pinturas caras, clássicas e abstratas sobre a parede e alguns entalhes também nas paredes internas. Era como a mansão de um filme, exatamente como a que a mocinha herdaria no final.

— Sentem aqui, por favor, eu vou ver se o almoço já está pronto — Baekhyun disse, apontando para o sofá branco no meio da sala espaçosa de entrada, enrolando um roupão sobre a bermuda molhada e a camisa aberta. Se Kyungsoo não o conhecesse, diria que Baekhyun se enquadrava totalmente no estereótipo de pessoa rica, desfrutando de tudo que estivesse ao seu alcance.

— Ele é tão querido, fico feliz que vocês se reencontraram — Jihyun sussurrou, assim que Baekhyun saiu do cômodo, a mão entrelaçada no colo de Kyungsoo, com o tom tão ingênuo que costumava ter. Kyungsoo, que em alguns momentos sentia culpa por não contar sua história inteira com Baekhyun, se perguntava se Jihyun agiria da mesma forma se soubesse deles , mesmo que isso fosse irrelevante no momento, já que eram apenas amigos agora.

— E eu fico feliz por poder apresentar vocês um ao outro — Kyungsoo respondeu, sorrindo e aproximando seu rosto de forma brincalhona a Jihyun. Ela sorriu e ele se sentiu nervoso.

Baekhyun voltou depois de alguns minutos, com uma expressão séria que se dissipou assim que alcançou a sala. Kyungsoo percebeu mesmo assim e olhou de forma questionadora para o amigo, que pareceu entender por um instante, mas que não fez caso já que logo o sorriso largo havia voltado.

— Venham, sentem na mesa, o almoço já vai ser servido. — Ele indicou com a cabeça para que o seguissem.

Gente rica tem cômodos para tudo: essa era a única explicação encontrada por Kyungsoo sempre que via o tamanho esplendoroso de casas ricas. Baekhyun tinha uma sala de jantar também, mesmo que sua mesa não fosse composta de vários e vários lugares, mas só de oito. Baekhyun também devia ter uma sala de TV, uma de confraternizações e uma de descanso. Mesmo assim, depois de sair com uma conversa com seus empregados, Baekhyun sempre parecia infeliz.

— Kyung, eu pedi para a senhora Kim fazer muito peixe. Sei que você já deve ter comido muito peixe desde que chegou, mas lembro que para você peixe nunca era demais, então espero que isso não tenha mudado. — Ele riu e os outros riram junto. — Jihyun, espero que goste também. — Sorriu para ela aquele sorriso sapeca que parecia sempre contido, como se guardasse um segredo, todos os sorrisos que havia dirigido à ela eram assim.

— Claro, adoro, e o cheiro está ótimo — ela respondeu educada.

— Obrigado Baekhyun, eu ainda gosto muito de peixe sim e na cidade não tenho muitas oportunidades para comer um peixe fresco como o daqui. Na verdade eu senti falta, é a primeira vez que volto desde que fui embora, não sei se você sabia… — comentou, um pouco nervoso, sem querer que Baekhyun pensasse que ele havia deixado de procurá-lo alguma vez.

— Sim, eu sei. — Baekhyun assentiu, também parecendo nervoso. — Sei que me procuraria sempre que viesse para cá. — Riu, tentando fazer de piada uma certeza.

Kyungsoo riu, mas foi impedido de responder, assim que uma pequena tropa de senhorinhas começou a trazer panelas e mais panelas para a mesa não tão grande , Baekhyun sorria gentil para todas e as agradecia em sequência “ obrigada senhora Kim, obrigada senhorita Jung, obrigada senhora Lee, obrigada senhora Lim” , mesmo que elas nem sequer olhassem para ele. Algumas pareciam trazer o ar de arrogância que uma patroa traria, e no final, nenhuma delas respondeu o agradecimento. Mesmo que os olhos de Baekhyun caíssem em desânimo, seu sorriso não vacilava.

Kyungsoo sentiu o estômago se revirar em ansiedade e ternura ao ver a cena.

— Obrigado senhoras! — ele agradeceu também, o tom de voz alto, enquanto elas já se retiravam, tentando dar algum apoio a Baekhyun, que sorriu em cumplicidade quando elas também não o responderam. Kyungsoo riu bobo, como se guardasse um segredo infantil.

— Se importa de contar o que aconteceu nesses anos em que estivemos longe? — Baekhyun perguntou, quando eles já comiam há alguns minutos, desconfortável com o silêncio como sempre ficava.

— Tudo? — Kyungsoo perguntou, cobrindo a boca cheia.

— Se possível…

— Bom, na verdade, nada de muito extraordinário aconteceu — começou, tentando se lembrar dos detalhes mais relevantes, coçando a testa nervosamente, como um hábito estressado.

       — Kyungsoo, não seja modesto! — Jihyun exclamou, rindo e batendo no ombro dele. — Ele se formou como melhor aluno da turma de Direito daquele ano, recebeu uma laureação e ainda começou a trabalhar num escritório renomadíssimo logo que se formou, Kyungsoo foi excepcional, me enche de orgulho — ela falou, olhando para Baekhyun e fazendo um carinho singelo no rosto do noivo. Kyungsoo sorriu envergonhado e Baekhyun sorriu também, apesar da sensação estranha na boca do estômago.

— E vocês se conheceram quando? Foi na faculdade? — A curiosidade foi maior que tudo e levando em conta que Kyungsoo provavelmente o perguntaria sobre tudo o que havia acontecido com ele também durante esses anos, Baekhyun se sentiu no direito.

— Oh, não… nos conhecemos através de amigos, há um pouco menos de três anos — ela respondeu.

— Uau, tudo isso? Parece ter passado tão rápido… — Kyungsoo disse brincalhão, só para provocar Jihyun.

Ele não sabia, mas quando agia irônico assim, a deixava ainda mais apaixonada.

Baekhyun pigarreou quando percebeu que talvez fosse deixado de lado na conversa, a necessidade de atenção e segurança havia ficado cada vez maior nos últimos anos.

— Você continuou seus estudos, Baekhyun? — Kyungsoo perguntou, interessado, quando percebeu. Baekhyun balançou a cabeça, um pouco envergonhado e contrariado e Kyungsoo se preocupou em ter tocado num assunto sensível. — Quer dizer, isso não é importante, ainda mais porque você construiu tudo o que tem sem precisar se formar. Foi só uma curiosidade… — assegurou, nervoso.

— Tudo bem, Kyung, eu sei que de todas as pessoas nesse mundo, você seria a que menos me julgaria por minha condição e pelas minhas conquistas. — Nos olhos de Baekhyun, algo dizia: as pessoas pensavam que ele havia conseguido tudo com sexo , sexo e ambição. Pessoas que não o conheciam, nem de longe.

Mais tarde, Baekhyun os chamou para conhecer a praia particular, mesmo que não os tivesse chamado para conhecer o resto da casa. Kyungsoo não o questionou sobre isso, assim como não questionou sobre sua história inteira com o senhor Kang, como ele pensou que faria. Tudo o que Kyungsoo questionou — dessa vez para si mesmo, ao ver Baekhyun com cabelos molhados e o peito largo sem camisa, que parecia trazer consigo um resfriado em potencial — foi o que Baekhyun era para ele e se, realmente, devia sentir tudo de novo.

 

 





— Você sabia que se a gente estivesse deitado na sua cama, eu estaria ainda mais feliz? — a voz de Baekhyun soou como um segredo nos ouvidos de Kyungsoo, as palavras repetidas não faziam mais cócegas e também não assustavam. Kyungsoo sabia que estava sonhando, lembrando, de novo.

— O que tem de errado com a sua cama? — perguntou rindo soprado, a palma da mão passando pela lateral do rosto e os dedos se enrolando no cabelo estupidamente liso de Baekhyun, que estava com o peito sobre o seu, o corpo relaxado sobre o seu, os dedos inspecionando a testa cheia de sujeira adolescente. Para Kyungsoo, estar deitado ali, enquanto os pais de Baekhyun não voltavam da pesca, parecia o céu.

— Nada — respondeu, os dedos agora sobre o nariz de Kyungsoo. — Mas eu queria ter a experiência de… deitar na sua cama. — Baekhyun sussurrou em seu ouvido e seus dedos correram pelo pé de sua barriga, para baixo e para baixo…

Deitar na sua cama…

Kyungsoo acordou num salto, com a sensação de estar atrasado afetando sua cabeça sonolenta e confusa, e o pênis latejando nas calças.

Olhou para o lado e percebeu que Jihyun ainda dormia, tentou lembrar que dia era e que compromissos tinha, pegou o celular e só depois de ver a data e hora conseguiu se situar. Ainda faltavam duas horas para que seu despertador tocasse e Kyungsoo se viu atordoado, não sabia o que fazer com a ereção, não tinha vontade de urinar, e pensou por um segundo se seria muito ridículo acordar Jihyun e pedir ajuda, concluiu que sim, seria até mesmo injusto, estava pensando com o tesão.

Buscou pelo celular de novo, pensou em se distrair, mas tudo o que percebeu foi uma mensagem já antiga de Baekhyun, recebida pela madrugada.

Por favor, venham de novo amanhã à tarde, agora que recebi sua visita vou ficar solitário se não aparecer de novo kk”

Kyungsoo sabia que Baekhyun pedia que ele fosse até sua casa naquele mesmo dia e ponderou se deveria mesmo, não queria que a viagem saísse do foco inicial. Na foto de Baekhyun naquele aplicativo de chat, os cinco dedos compridos, delicados e bonitos da mão grande cobriam parcialmente o rosto. Kyungsoo observou por tempo maior do que o devido e levou quase de forma impensada a própria mão até a ereção ainda viva por causa do sonho por cima das calças, a apertando com delicadeza e força moderada.

Arfou ao sentir o choque gostoso cruzar a espinha e afastou a mão rapidamente, jogando o celular novamente sobre a cômoda ao lado da cama e se enfiando sob as cobertas, prendendo a respiração. Seria um longo dia.







Naquele mesmo dia, Kyungsoo e Jihyun foram visitar Baekhyun novamente, logo depois da tão temida primeira audiência e da visita de mal grado que Kyungsoo fez ao pai. Realmente não sabia como lidar com ele, mesmo que estivesse tentando com muita vontade dessa vez. De qualquer forma, ainda havia ido até lá pela família, e ver seu irmão e sobrinhos era uma das melhores partes de estar lá…

No dia seguinte, no entanto, Jihyun foi chamada pela nova tia, Hakyoung, para conhecer a igreja grande e clássica que existia num dos morros próximos da praia. Ela dizia que era melhor que o casamento acontecesse ali, enquanto Jihyun ainda alimentava a ilusão de um casamento perfeito na praia. Kyungsoo não achava espaço na própria cabeça para pensar no casamento e desconfiava que Jihyun também não, a ideia era que viajassem para esquecer o estresse das responsabilidades e, mesmo que o casamento fosse visto com muita alegria pelos dois, ainda era algo que enchia a cabeça de Jihyun de preocupações como nada nesse mundo. De qualquer forma, Jihyun era atenciosa o suficiente para apoiar todo o entusiasmo da família do noivo a respeito.

Enquanto Jihyun visitava a igreja, Kyungsoo passava novamente pela mansão de Baekhyun, que agora servia para ele como um forte. Depois do estresse de ter que lidar com o trabalho e com a família, a única coisa que o descansava, atrás de estar sozinho com Jihyun, era passar alguns minutos ou horas com o amigo, ouvindo suas piadas bobas e olhando para seu rosto cativante. Era como uma terapia, nostalgia pura e boa.

Depois do acontecimento da manhã do dia anterior, Kyungsoo resolveu não dar mais atenção ao assunto, fingiu que nada havia acontecido e que o fato de que havia se excitado como um adolescente com uma lembrança em forma de sonho com o amigo, não o intrigava. Mesmo assim, ver Baekhyun depois do sonho fez com que seu estômago se revirasse de um jeito estranho e infantil, estava ficando confuso. Ficar sozinho com o amigo era pior ainda.

Baekhyun estava sentado sobre a mureta branca e espessa que separava de forma quase ineficiente a porta dos fundos da mansão, da escadaria que levava à praia. Kyungsoo se encostava nela e observava a praia, era um lugar muito bonito e Kyungsoo gostava muito de sua privacidade, nunca havia estado em uma praia particular antes, todo aquele pedaço de areia e mar só para uma pessoa, aproveitar aquilo era como estar de férias. Os dois bebiam e Kyungsoo se sentia mais relaxado a cada gole na cerveja fresca.

— Vocês vão se casar logo, não vão? — perguntou, com a barriga e peito bronzeados se destacando enquanto as mãos se apoiavam atrás do próprio corpo. Kyungsoo se perguntava que gosto era aquele o de Baekhyun, sempre com roupas quase inexistentes, mostrando o quanto um homem podia mudar depois de adulto, o quão bonito e sensual podia ficar. Kyungsoo entendia o porquê, se não pela incrível energia e jovialidade, o velho senhor Kang havia se apaixonado tão perdidamente por Baekhyun, ele era extremamente sensual e cativante, mesmo quando não queria ser.

— Sim — confirmou, voltando o olhar novamente para a praia. Deu um gole. — Logo.

— Por que não comentaram isso comigo ainda? Não estou convidado? — perguntou, cum riso rápido escapando de sua boca logo em seguida. Queria que parecesse brincadeira, mas Kyungsoo conseguia perceber que Baekhyun estava realmente aflito com a questão.

— O quê? — Kyungsoo perguntou indignado. — Claro que está, não seja bobo! Por que está dizendo isso?

— Não sei… — Deu de ombros. — Achei que por estar tão perto vocês estariam animados o suficiente para comentar com todos, como não comentaram comigo, pensei que não quisessem que eu soubesse.

— Na verdade, acho que é complicado. — Kyungsoo riu soprado, não era complicado, eles simplesmente se distraíram com outros assuntos. — Jihyun veio comigo para Jindo principalmente para descansar um pouco, estava estressada com o trabalho e os preparativos para o casamento, então acho que é algo que estamos evitando pensar durante esses dias. — Baekhyun assentiu e olhou para o mar, como quem não quer olhar com quem conversa tão diretamente.

— Entendi.

— Hm, Jihyun quer que a gente se case aqui, em Jindo. — Baekhyun pareceu surpreso, então ele continuou. — O que você acha?

— Acho loucura. — Baekhyun riu. — Mas legal.

— Que bom. — Sorriu para o amigo, mesmo que o sol não o deixasse enxergar direito.

Continuaram em silêncio por longos segundos, até que Baekhyun o quebrasse de novo, com aquele jeito ansioso de quem não consegue ficar sem falar.

— Não quer saber o que aconteceu desde que você foi embora? — perguntou, se referindo ao seu caso com o velho Kang.

— Eu quero, mas achei que talvez você não se sentisse confortável em contar para Jihyun… Na verdade, não sei se você se sente desconfortável em contar de qualquer forma, então só conte se quiser. — Baekhyun riu quietamente e Kyungsoo sorriu para ele, sem entender.

— Você não existe, Kyungsoo. Eu não me envergonho de como as coisas aconteceram, poderia ter perguntado em qualquer hora — disse, logo depois terminando metade da garrafa de cerveja de uma só vez.

E então Baekhyun contou como logo depois que Kyungsoo foi embora, acabou sendo expulso pelos pais de casa, pelo mesmo motivo que o pai de Kyungsoo jurou nunca mais o olhar. Contou como depois de procurar emprego em todos os lugares da cidadezinha e acabar sendo rejeitado até mesmo na pesca, que dizia a todos incluir, conseguiu um emprego como auxiliar de cozinha na famosa casa Kang — pura sorte e interesse do patrão no menino bonito demais e, para ele, perceptivelmente gay.

Contou que por insistência se relacionou com o senhor Kang pela primeira vez, mas que percebeu o quão sortudo era por ter caído nas graças do patrão. Contou que mais tarde se apaixonou e que, nos seis anos que viveram juntos, foram felizes. Contou que mesmo que Haekyeol mantivesse a esposa convalescente na Europa por anos até sua morte — que veio dois anos antes da morte do próprio — e que Baekhyun fosse só um amante, viviam como casados e quando o velho morreu, nada fazia mais sentido do que a dada completa da herança a Baekhyun.

Contou também que, quando parou de responder as cartas de Kyungsoo, já tinha um relacionamento com o senhor Kang e queria evitar ciúmes. O tom vermelho no rosto e peito de Baekhyun ao contar isso fez algo dentro de Kyungsoo se convencer de que ele o amava ainda hoje, Kyungsoo se repreendeu em pensamento.

— Todos me desprezam, até os meus empregados, não me aceitam como patrão e eu até entendo. Mas eu fui feliz, Kyungsoo, e é tudo o que importa para mim.

Quando o sol se pôs, minutos mais tarde, Baekhyun estava mais vermelho que o normal para alguém acostumado com o mormaço, sua fala estava embolada e seu corpo se aproximava naturalmente do corpo de Kyungsoo.

— Às vezes eu me pergunto como as coisas seriam se você não tivesse ido embora, qual caminho a… a gente trilharia, se você ainda me amaria, se você ainda me ama… — ele sussurrou, com a boca próxima do rosto de Kyungsoo, que tentava levá-lo para dentro apesar do corpo mole e da tontura.

— Nós provavelmente seríamos mais miseráveis do que somos agora — Kyungsoo sussurrou de volta, assim que deitou Baekhyun no sofá de uma das salas. E Baekhyun sabia que Kyungsoo iria embora no dia seguinte e que talvez nunca mais o visse, mas isso não o impediu de, ao ouvir a frase, chatear-se a ponto de mandar Kyungsoo sair de sua casa.

Kyungsoo saiu, indo embora de Jindo com o sentimento torto de que devia algo a Baekhyun.



Chapter 3: 3º Capítulo

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Fazia quase duas semanas desde que Kyungsoo havia voltado de Jindo, quando senhor Cho, seu patrão, o chamou novamente para uma das temidas conversas particulares em sua sala.

— Você sabe que vai ter que voltar a Jindo, não sabe? — ele disse na lata e Kyungsoo assentiu porque sabia e se preparava para isso desde o dia em que havia voltado para Seul.

Não havia tido coragem de iniciar conversa nenhuma com Baekhyun desde que saiu de Jindo, com medo do amigo odiá-lo, de soar ridículo, de cometer um erro e mesmo que fizesse o máximo para que sentimentos estranhos não o afetasse e virassem sua vida de cabeça para baixo, até mesmo Jihyun percebia como ele andava tenso e preocupado.

— Sim senhor, o resultado da primeira audiência deve sair essa semana, mas tenho quase certeza de que as coisas não se resolverão agora. — Kyungsoo sabia ter feito um bom trabalho como o advogado de defesa excepcional que sempre foi, mas também sabia o quão complicado era o caso e o quão afundado seu cliente estava e isso também lhe tirava o sono eventualmente, mesmo que tivesse aprendido a lidar com a pressão da profissão há alguns anos.

— O resultado saindo ou não, quero que vá para lá na semana que vem, você tem coisas a agilizar e prefiro que agilize lá, junto com o CEO. — Kyungsoo no fundo quis negar a ordem, preocupado com tudo o que podia acontecer assim que voltasse, mas não podia e, na verdade, não queria negar.

— Sim, senhor.

Naquela noite, depois de contar para Jihyun que voltaria para Jindo, ouvir o seu desabafo desiludido por perceber que se casar na ilha seria ainda mais trabalhoso e estressante e beijá-la por horas, até que fizessem um amor preguiçoso sob as cobertas, Kyungsoo pensou que seria uma boa ideia tentar conversar com Baekhyun.

Hey ”, ele mandou, como uma mensagem de texto despretensiosa, mesmo desconfiando que Baekhyun não o responderia àquela hora da noite. O polegar corria nervosamente sobre a tela do celular e a foto de perfil de Baekhyun o tentava como um fantasma, fazendo-o sentir tudo e mais um pouquinho. Naquele ponto, Kyungsoo estava começando a não ligar mais para a avalanche de coisas que sentia, e se possível se permitiria ser afogado, mesmo que não entendesse.

Não entendia o que estava sentindo por Baekhyun. Sabia que amava Jihyun, tinha a confirmação disso quando acordava ao lado dela todo dia, quando conversavam, quando faziam amor, até quando discutiam. Mas ele sabia que algo não resolvido havia crescido de uma forma descontrolada desde seu último encontro com Baekhyun e talvez levasse essa situação com muita naturalidade, porque era natural sentir algo por Baekhyun, mesmo quase dez anos depois de se verem pela última vez, não doía reconhecer o quanto Baekhyun era importante e o quanto significava, o quanto o fazia sentir.

Quando pensava em Baekhyun, Kyungsoo esquecia de Jihyun, de tudo o que os separou e de quem eram agora, de uma forma totalmente estranha e errada, Kyungsoo se esquecia de si mesmo.

Oi, pensei que tinha se esquecido de mim :( ” Kyungsoo recebeu como resposta, apenas alguns minutos depois, e seu coração pulou como num susto. Baekhyun esperava por uma mensagem? Uma ligação? Kyungsoo se sentiu mal por pensar na possibilidade de um Baekhyun solitário, esperando pelo seu contato.

Nunca haha ” ele respondeu, primeiramente. Logo depois, mandando suas explicações, que pareciam tão necessárias. “ Eu pensei que talvez não quisesse falar comigo…

Kyungsoo… é claro que eu quero” a primeira mensagem enviada por Baekhyun, dizia. “ Aquele dia foi só bobagem, eu estava bêbado e agora estou com saudades de você, de novo, me desculpe. Quando vou poder te ver novamente? ” Kyungsoo sentiu a carência que uma simples mensagem podia carregar e se preocupou com o arrepio que cruzou sua espinha, ao pensar em tudo que implicava o fato de que Baekhyun depositava sua carência agora nele.

Eu estou indo para aí na semana que vem, dar continuidade ao processo, é um processo longo, fico feliz que tenho você aí ” respondeu, nada preocupado em esconder sua afeição. Era como se ele e Baekhyun guardassem um segredo, segredo esse que estava muito bem intrínseco entre os dois, não precisavam falar para saber que ele existia.

Eu também." Baekhyun respondeu, simplesmente, para logo depois complementar com uma mensagem que preocupou e encheu o coração de Kyungsoo de algo como alívio e ansiedade adolescente, paixão inconsequente e sem sentido, totalmente sem sentido e sem premeditação, mas que parecia predestinada desde sempre. “ Também fico feliz de te ter de volta para mim…”

Quando Kyungsoo saiu de mais um dos encontros estressantes com o CEO da KPA, onde seu cliente reclamava e reclamava e ele tinha que pensar rápido e de forma estratégica em como fazê-lo entender os processos jurídicos de seu caso, com as costas doloridas e a cabeça pesada por ter acabado de fazer uma viagem de quatro horas sem pausa para descansar, ele não pensou duas vezes antes de ir ao encontro de Baekhyun. Assim que avisou que estava a caminho, soube que Baekhyun o esperava ansioso e, quando desceu do carro, estacionado à porta da mansão Kang, e encontrou Baekhyun no portão, soube que já não era fiel à Jihyun. O abraço desesperado que trocou com Baekhyun, que trazia um pedido de desculpas, uma súplica para que não se separassem de novo e um sentimento mútuo e silencioso, mas compartilhado, de pertencimento, o fez perceber que não precisava nem mesmo esperar para que um envolvimento físico acontecesse, Baekhyun já era seu amante.






— KPA? — Baekhyun perguntou, sentado novamente na mureta branca da praia particular, com um picolé de maracujá preso nos dedos, já que era um dia quente. Kyungsoo também chupava picolé e usava roupas casuais, de praia, era como estar de férias de novo, tudo parecia tão branco e relaxante. — Essa é a empresa que Haekyeol ajudou a criar, depois de já ser rico e tudo mais, ele tinha várias — leigo como era no assunto, explicou.

— O quê? Sério? — Kyungsoo levantou as sobrancelhas em curiosidade, não tinha visto o nome do falecido em nenhum dos documentos que tinha tido acesso.

— Sim, o K é de Kang… — Baekhyun respondeu com naturalidade.

— E por que não vi o nome dele em lugar nenhum?

— Ah, sim, porque ele vendeu a parte dele para algum empresário qualquer por aí, não sei muito sobre isso, só sei que agora o nome dele, e o meu, não tem mais envolvimento nenhum com ela… Na verdade, posso te contar um segredo? — Baekhyun abaixou o tom de voz, ligeiramente se aproximando, fazendo uma sensação engraçada subir pela espinha de Kyungsoo.

— Sim — respondeu.

— Haekyeol sabia que morreria logo — ele disse e logo em seguida respirou fundo. — E acho que ele também sabia o quão afundadas essas empresas estavam em coisas erradas, você sabe, você é advogado de uma delas, então quando ele decidiu que sua herença iria toda para mim, vendeu sua parte em todas elas. Modéstia a parte, meu marido foi muito bom em manter uma fortuna sem elas e foi pensando em mim que se livrou delas. Às vezes penso que ninguém pode amar como Haekyeol me amou… — Baekhyun suspirou e Kyungsoo, fosse pelo pequeno incômodo que sentiu no peito ao ouvir a frase do amigo, ou por achar a ideia incrivelmente arriscada, não encarou aquilo exatamente como um ato de amor.

— Então você não seria prejudicado ou beneficiado de nenhuma forma com o resultado desse processo? — perguntou preocupado.

— Não — assegurou e sorriu, pulando da mureta e encostando os lábios gelados e alaranjados em uma das têmporas salgadas com suor de Kyungsoo, como num beijo materno. — Vamos nadar?

Falar com Jihyun pelo telefone naquela noite trouxe uma sensação de estranhamento nova ao peito de Kyungsoo, mesmo que toda a afeição continuasse lá. Sentia que devia contar algo a ela, mas então percebia que não havia nada para contar, não havia nada de errado acontecendo, pelo menos não fora de seu peito, e sobre o que acontecia em seu peito, Kyungsoo não gostava de comentar.






Kyungsoo descobriu que Baekhyun não saía muito de casa se não fosse para nadar no mar ou tomar sol. Ele também tinha um corpo muito bem trabalhado, os ombros imponentes como de um comandante e a barriga malhada que poderia fazer inveja a qualquer rapaz mais novo e, inclusive, a Kyungsoo, que já tinha o corpo de um homem qualquer de trinta anos, mesmo que alguns anos faltassem. Com a junção da pele bronzeada e do ar eternamente jovial, Baekhyun, no entanto, era quase uma escultura.

Mesmo assim, ele não gostava muito de sair de casa e, provavelmente, tinha uma forma de cuidar do próprio corpo dentro daquela mansão tão cheia de salas e mistérios, e essa descoberta surpreendeu Kyungsoo, já que, em seu tempo, Baekhyun costumava rodar a cidadezinha inteira atrás de diversão e distração, de aventura.

No quarto dia desde que havia voltado, para a estadia de duas semanas, à ilha, Kyungsoo descobriu que, por mais prestativo e bondoso que Baekhyun fosse com o povo da cidadezinha, o que o cansava e aborrecia em sair de casa era o próprio povo. Eram todos muito agressivos ali, mas de forma passiva, Kyungsoo bem sabia, e Baekhyun não tinha a melhor das famas entre as fofoqueiras e os anciãos da cidade. Portanto, ninguém agia de forma grosseira e agressiva com o ricaço tão controverso da cidade, mas comentários rodavam e rodeavam por onde Baekhyun passava.

Naquela manhã, em que Baekhyun e Kyungsoo passeavam pelo mercado aberto de peixes, verduras e legumes da cidade — engajados em um assunto divertido que não interrompiam por nada, com um sorriso no rosto de Baekhyun e Kyungsoo usando óculos escuros, como mais um dos vários turistas ali — ele ouviu todo o zumzum da voz dos comerciantes e moradores por ali, ouviu como aumentava sempre que Baekhyun passava por perto, e viu como o sorriso do amigo ia perdendo força e brilho conforme ele mesmo percebia isso. Baekhyun se incomodava com a atenção e a conversa, reclamava sobre como até os turistas, alguns ocidentais, paravam para observar ele passar, assim que os comerciantes diziam “esse é o homem mais rico da cidade, nasceu aqui, quando menino vivia correndo pelas ruas como um porquinho, herdou todo o dinheiro de seu amante ” e então, todo o tom perdia, por menor que fosse, o carinho e saudosismo.

Kyungsoo entendia, então, porque Baekhyun não gostava muito de sair da casa grande, que o proporcionava diversões o suficiente. Para Baekhyun, era como ser uma celebridade rodeada de paparazzis e curiosos, ele entendia todo o glamour que essa atenção carregava, mas não se agradava dele, era como se estivesse sempre cansado quando saía. A possibilidade de encontrar os pais também lhe embrulhava o estômago, como a possibilidade de que um horror repentino acontecesse, uma decepção que não estava preparado para enfrentar.

Se enfurnar, quando não estava trabalhando, dentro da mansão bonita, com muito a explorar, junto de Baekhyun, se tornou sua rotina também. Parecia natural e era agradável, podiam nadar na praia particular e usar a sala de jogos, podiam fazer coisas que não deviam e não mencionavam também, mesmo que não fizessem até um ponto, até o dia em que se completou uma semana da estadia de Kyungsoo, que sempre fazia questão de saber se não atrapalhava.

Naquela sexta-feira, quando voltou de uma das audiências decisivas do caso KPA, desencorajado como só um homem insatisfeito com seu trabalho podia se sentir — já que, na situação tão comprometedora da construtora, pega em flagrante, provavelmente perderia o caso, coisa que não falava a Baekhyun, já que preferia vê-lo contente com coisas puramente mundanas e que podia compreender — aceitou nadar com Baekhyun, depois de tomar um suco azedo de maracujá — Byun era obcecado pela fruta — e colocar o único calção de banho que havia levado e que, agora, permanecia sempre molhado. Baekhyun o oferecia um emprestado todas as vezes, mas eram sempre calções sujeitos a caírem conforme a movimentação violenta do mar, o quadril de Baekhyun era largo demais e, num ímpeto adolescente e afervorado, Kyungsoo se perguntava se o amigo fazia isso de propósito.

Quando saíram do mar, minutos mais tarde, sentaram-se na areia e começaram a conversar. A pele do nariz de Kyungsoo se avermelhava por ficar muito tempo no mar, e, mesmo sendo engraçado, era adorável de um jeito que fazia com que Baekhyun não desviasse o olhar de jeito nenhum. Ele nunca desviava, de qualquer forma.

— Não diga isso, seu corpo é muito atraente, sim… — Baekhyun afirmou, com os olhos doces e brilhantes, como se contassem um segredo iluminado, quando Kyungsoo comentou sobre sua falta de sol e o quanto precisava cuidar do próprio corpo, para que ele fosse tão atraente quanto o de Baekhyun — mesmo que essa parte ele não tivesse comentado. — Jihyun gosta, não é? — ele perguntou, com uma timidez disfarçada na voz. Obviamente, falar da vida amorosa do casal não era o assunto do qual se sentia mais confortável, mas naquele momento, algo o instigava como se ele precisasse chegar a algum lugar com aquilo.

— Bom, acho que sim… — Kyungsoo respondeu incerto, os dedos grossos coçando o osso da bochecha. — Mas quem tem que gostar sou eu, as mulheres... ela fingem muito bem! — completou risonho.

O comentário, apesar de despertar incômodo no fundo do peito de Baekhyun, já que era uma situação que até agora não entendia — a sexualidade de Kyungsoo —, despertou também a ousadia para fazer perguntas indiscretas, perguntas que acabariam, ou ao menos, saciariam um pouco de sua sede curiosa. E Baekhyun era muito bom com perguntas indiscretas.

— Você… — ele iniciou a pergunta, logo parando para formulá-la melhor, para pensar se realmente devia fazê-la. Não queria que Kyungsoo entendesse de forma errada. — Você e Jihyun… Você realmente gosta dela? — disse apenas, ciente do mal entendido que a pergunta poderia trazer, mas sem sentir a necessidade de dizer mais alguma coisa.

Kyungsoo, no entanto, compreendeu o que Baekhyun queria saber e, torcendo para que tivesse entendido certo, respirou fundo antes de responder.

— Sim, Baekhyunee, eu gosto dela, hum, como mulher… eu… gosto de mulheres. Também. — Baekhyun assentiu, a boca apoiada no braço que o cabelo fazia questão de molhar, o olhar muito bem focado nas ondas do mar.

— Eu não entendo — ele respondeu, depois de cansar da observação distraída. 

— Não entende o quê? — Kyungsoo perguntou preocupado, mas com o tom ameno.

— Essa coisa de gostar de mulheres. — Riu fraco, tirando um risinho de Kyungsoo também. — Desde criancinha eu já sabia, já sabia que era gay. Quando eu te conheci só tive mais uma confirmação. — Sorriu para Kyungsoo um sorriso desanimado, mas que mostrava seus dentes, como se quisesse rir de algo divertido. Kyungsoo sentiu o peso das palavras no fundo do estômago.

— Isso é… bom. É bom que você saiba disso. — Assentiu, como se aprovasse algo. — Mas não pense que eu sou confuso, por favor — brincou.

— Não penso — Baekhyun respondeu, depois de soltar uma risada soprada, para acompanhar Kyungsoo na brincadeira. — É diferente? Entre homem e mulher — perguntou, enfim, uma das indiscretas que guardava para o momento certo, sem se preocupar em saber o que Kyungsoo pensaria. No fundo, se conheciam muito bem.

— No quê?

— No sexo — respondeu rápido. — No convívio… — completou.

— Não, não exatamente… — Kyungsoo franziu a sobrancelha, os olhos muito bem espremidos por conta do sol. — Acho que, bem, as mulheres são mais sensíveis em alguns pontos e também, a atração… — Parou por um segundo, buscando as palavras certas. — A atração que se sente por uma mulher tem algo de maternal, acho que todo homem que se atrai por mulheres sente isso, é como se precisássemos desse amor e cuidado tão atento, de alguma forma. Com os homens, para mim, costumava ser mais visceral, instintivo — disse, corando nas orelhas, por falar de um assunto tão íntimo. — Na verdade, faz muito tempo que não tenho nada com um homem.

— Eu não fui o único, fui? — Baekhyun perguntou, um tanto afogueado também, mais com uma emoção do que com uma sensação. Queria ter aquela conversa com Kyungsoo desde sempre. Aquela conversa. A pele do peito avermelhava e esquentava só com o pensamento.

— Não… Teve um outro cara, logo depois que paramos de trocar as cartas. — Sentiu a necessidade de explicar. Baekhyun assentiu mais uma vez.

— Você e Haekyeol foram os únicos para mim — Baekhyun disse, depois de poucos minutos de silêncio, um sorriso cúmplice e sem malícia no rosto.

— É mesmo? — Kyungsoo sorriu, desviando os olhos do horizonte bonito para olhar o perfil atraente de Baekhyun. — E teve diferença? Eu e ele? — perguntou, logo se arrependendo, entrariam num assunto que ele não sabia se poderia sustentar, sentiu-se culpado por começá-lo.

Baekhyun riu tímido, meio desacreditado na pergunta, não a esperava.

— É complicado comparar, mas é claro… é claro que teve diferença — respondeu, mudando a posição em que estava sentado, as pernas dobradas para a direita. — Haekyeol era velho, não preciso negar isso, ele era velho e por isso era sistemático, ele também me mimava muito. Quando eu e você namoramos, éramos os dois muito adolescentes, então até eu mesmo mudei durante esse tempo — completou, procurando nos olhos de Kyungsoo algo, algo que ele não soube achar, já que nos olhos de Kyungsoo só havia receio e admiração pela figura bonita que era Baekhyun com os cabelos molhados e a boca vermelha, começava a fazer frio.

O peito nu de Baekhyun ficou vermelho de novo e ele desviou os olhos, como se pensasse em fazer uma besteira. Vigiou Kyungsoo pelo canto dos olhos e decidiu que faria.

— No sexo, é diferente também — ele disse, no presente. — Todas as minhas experiências com você foram tão boas, mesmo as que deram errado. — Riu um riso trêmulo e se aproximou um pouco mais. — Minhas experiências com Haekyeon foram como obrigações, eu o amava, o amo, sim, eu amo, mas… — Se aproximou mais, para que pudesse falar baixo. — Eu não gostava do sexo com ele. — Mordeu o interior da bochecha esquerda e olhou para Kyungsoo como se esperasse uma reação. Kyungsoo o olhou de volta, com as orelhas vermelhas.

— E por que não? — perguntou com o mesmo tom de voz de Baekhyun, compartilhavam um segredo que nem mesmo o vento podia ouvir, nem mesmo o mar ou a areia. 

— Eu não tinha liberdade, tudo o que fazíamos era para satisfazer ele. Eu dava prioridade para o prazer dele, é claro, ele tinha muitas limitações, mas eu queria que ele desse prioridade para o meu também — contou com os olhos baixos. Era a primeira vez que contava isso a alguém, nunca teve amigos para quem pudesse falar sobre a própria vida sexual. — E eu sempre… ficava por baixo — hesitou em dizer, mas não parecia envergonhado em tocar no assunto, ele sabia que Kyungsoo entendia o que ele falava.

— Sempre? — Kyungsoo perguntou na intenção de fazê-lo continuar com o assunto.

— Sim… quer dizer, ele me deixou fodê-lo umas três vezes. — Riu, e Kyungsoo sorriu porque se sentia contagiado e hipnotizado pelo sorriso do outro. — Eu gosto de ficar por baixo — repetiu o termo velado. — Mas eu gosto de variar também, você sabe.

O tom que Baekhyun usou para dizer a frase deixou Kyungsoo tenso e confuso, achava que eles não deviam falar sobre aquilo tão livremente, parecia um contrato pré-estabelecido entre ex-amantes, mas no fundo, Kyungsoo realmente sabia. Ele lembrava muito bem de como era transar com Baekhyun. Era uma memória que o atormentava de novo e de novo no último mês, que fazia loopings em sua cabeça desde a noite em que sustentou uma ereção por ter um sonho molhado com ele.

— Sim… — Confirmou com a cabeça e viu Baekhyun fazer o mesmo por reflexo, estavam mais próximos agora.

— Às vezes, à noite, eu me lembrava do seu jeito, do jeito que você beijava e do seu corpo e isso me excitava mais do que qualquer coisa, eu acho que nunca vou me atrair por alguém como eu me atraí por você — segredou, a voz agora era só um sussurro, era como se ele não quisesse que Kyungsoo o ouvisse abrir essa parte tão particular de si mesmo. Sua boca tocou no nariz dele enquanto falava e tudo ficou silencioso por um momento. A forma como os olhos quase inocentes e infantis de Kyungsoo correram por seu rosto disse tudo e quando Baekhyun percebeu, eles já tinham as testas intimamente encostadas.

— Baekhyun… — Kyungsoo sussurrou, como num aviso. O que não funcionou para nenhum dos dois.

Kyungsoo tentou se afastar, mas Baekhyun o empurrou, pela testa e pelo ombro, até o chão de areia, Kyungsoo se aproximou novamente e deitou por conta própria, mesmo que não entendesse por que fazia aquilo, parecia um instinto, um estado de hipnose natural. Era difícil resistir e ele não queria resistir.

Quando se deu conta do que fazia, Baekhyun já estava montado em Kyungsoo, os braços apoiados ao lado de sua cabeça e as pernas em volta de suas coxas. Kyungsoo se sentiu estranhamente satisfeito, o peito quente como água fervente, o corpo todo fervendo.

— Isso não é certo, Baekhyun — disse assim que focou o olhar no rosto de Baekhyun logo em cima do seu, fazendo sombra na luz do sol que se preparava para se pôr, os olhos adoravelmente sapecas, como quando eram adolescentes.

Algo na expressão de Baekhyun mudou assim que ouviu a frase, se afastou muito pouco e olhou diretamente nos olhos de Kyungsoo, como se esperasse que ele o repreendesse de novo, mas assim que se afastou, Kyungsoo o seguiu com o rosto. Nada mudou. Kyungsoo continuava deitado na areia, com a maré batendo em seus calcanhares. Baekhyun continuava em cima dele, como um animal brincalhão, e seus rostos continuavam próximos, como num transe. Até aquele momento, Kyungsoo pensava se importar com a situação, com Jihyun, com seu relacionamento, com a distância que deveria manter do ex-namorado. Mas assim que Baekhyun roçou os lábios nos dele, tudo desvaneceu como num clichê, uma brincadeira.

Baekhyun mordeu o lábio inferior de Kyungsoo sem medo, o corpo todo se contorcendo em um êxtase descontrolado por finalmente fazê-lo, e Kyungsoo o buscou para um beijo. Lábios e línguas e duas mãos descendo pela lateral do corpo de Baekhyun, a pele quente, estava feito. Estava feito o que Kyungsoo, no fundo mais escondido de sua alma, já sabia que aconteceria.

Kyungsoo já não beijava como há nove anos, tudo nele era experiente e firme, enquanto tudo em Baekhyun era provocativo, tentador. Mesmo assim, aquilo parecia tão certo, como voltar para casa depois de meses fora.

Se separaram quando um som soou ao longe, na porta da casa. Baekhyun levantou o rosto para olhar se alguém se aproximava, apesar de tudo, não queria que os empregados o vissem beijando um homem que eles sabiam ter uma noiva. Quando notou que só se tratava do vento, olhou para Kyungsoo e sorriu, só sorriu. Kyungsoo sorriu de volta por um segundo, para logo depois perceber que esse sorriso manchava seu coração e consciência de culpa.

Com o rosto sério e com imensa delicadeza, Kyungsoo tirou o corpo de Baekhyun de cima do seu e se levantou. O corpo sujo de areia e o rosto confuso, como se tivesse acabado de acordar de um sonho maluco. Lambeu os lábios e os olhos foram para o chão, não queria encarar a expressão de Baekhyun de quem entendia tudo, os olhos arrasados.

— Isso não devia ter acontecido. — Quis dizer o nome de Baekhyun, mas teve medo, não parecia certo dizer agora. — Eu vou sair um pouco de perto, preciso pensar — disse, só dando tempo para que Baekhyun assentisse. Logo virou as costas e foi procurar abrigo no lugar onde menos se sentiria bem, mas onde talvez pudesse se dar conta da própria realidade: a casa do pai.






— Ao que devo sua ilustre presença? — o velho Do perguntou, assim que chegou da pesca e encontrou Kyungsoo à mesa com o irmão mais velho, um dos sobrinhos bem seguros em seu colo, os olhos cansados, mas com um sorriso genuíno que só possuía, dentro daquela casa, quando conversava com o irmão.

— Bom te ver também, velho Do — Kyungsoo respondeu com um sorrisinho irônico.

Na verdade, não era nada bom vê-lo. Kyungsoo já tinha passado duas noites ali, na presença do irmão, cunhada e sobrinhos e, agora, com seu pai ali, sabia que não teria mais paz. Não que tivesse até aquele momento, de qualquer forma, já que tudo no que pensava era Baekhyun, Baekhyun e Baekhyun.

— Vindo de quem nem mesmo me avisa quando está na cidade, não sei se acredito — o pai respondeu amargurado, lavando as mãos na pia. — Aposto que presta mais visitas àquele viado oportunista do que a mim. — Kyungsoo sentiu o coração bater forte, a mandíbula apertando com força, odiava o pai naqueles momentos, odiava. Seungsoo o olhou preocupado e pegou o filho de seu colo. Kyungsoo soltou uma risada soprada, irônica.

— É incrível como você tem a capacidade de estragar tudo — respondeu amargo, ainda sorrindo e olhando para a mesa. — Não sei porque ainda tento ter algum tipo de relacionamento com uma pessoa tão amarga — disse por fim, os dentes cerrando em mágoa.

Não deixou que o pai respondesse, nem mesmo viu sua expressão, levantou e entrou no quarto que um dia foi seu, fechando a porta com força e repousando as costas nela, mesmo que tivesse a intenção de arrumar suas coisas para sair dali. Ultimamente, Kyungsoo se sentia como um adolescente confuso e medroso, pensava, pensava e pensava e, mesmo assim, ainda tinha medo de enfrentar o próprio pai, ainda tinha uma eterna indecisão sobre tudo, ainda tinha uma paixão viva por Baekhyun.

Baekhyun o ligava e mandava mensagens desde o acontecido, Kyungsoo não havia atendido nenhuma ligação, mesmo que não quisesse ignorá-lo, só não se sentia preparado e, por isso, sentia-se também terrível. Baekhyun pedia desculpas atrás de desculpas nas mensagens e dizia que respeitava seu noivado, respeitava suas escolhas, que havia feito aquilo por impulso, que não queria perdê-lo de novo. De novo…

Kyungsoo sentia vontade de pedi-lo para calar a boca. Não era culpa de Baekhyun. No meio de toda a bagunça, quem estava tentando domar o próprio sentimento era Kyungsoo, era ele quem queria mais e mais e mais, o tempo todo, sem se importar com noivado e passado. Era por isso que não atendia as ligações de Baekhyun.

Chegou a pensar que depois de falar com Jihyun as coisas mudariam, afinal, era apaixonado pela noiva, sempre fora, desde que começaram a se relacionar. Mas e agora? Era possível estar apaixonado por duas pessoas? Qual dos dois amava mais? Quando ouviu o tom atencioso e preocupado de Jihyun pelo telefone, sentiu o coração derreter em culpa por não conseguir não sentir algo por Baekhyun e, apesar de, durante a conversa, sentir que tudo havia voltado a normalidade, seu tom, seu sentimento, suas convicções, quando desligou o telefone, ainda os sentia. Ainda era atormentado por suas lembranças.

— Está com saudade de mim? — ela perguntou brincalhona, como fazia quando estava carente e de bom humor.

— Muita — ele respondeu, com os olhos fechados e os dedos pinçados em volta do meio das sobrancelhas, sentia dor de cabeça por tanto pensar.

Acha mesmo que quer se casar comigo? Se preparou para perguntar, mas foi impedido pelo medo dos questionamentos posteriores. Respostas que ele não poderia dar.

Agora, apoiado na porta do quarto em que dormia quando criança e adolescente, olhando para a janela onde, encostado, beijou Baekhyun pela primeira vez, não sabia para onde ir. Deveria ir para um hotel, sim, a empresa pagaria por isso, era onde ele deveria estar desde o começo, mas já fazia dois dias e não queria conversar com Baekhyun por telefone. Queria olhá-lo nos olhos, sentir o cheiro que saía da pele bronzeada, entender o que sentia.

— Kyungsoo? — Ouviu Seungsoo sussurrar do outro lado da porta, como se tivesse medo de atrapalhar.

Kyungsoo engoliu em seco e se desencostou levemente da porta.

— Oi? — respondeu igualmente baixo.

— Eu não quero parecer invasivo, mas você vai ficar trancado aí? Você sabe, essa casa é do pai — disse num tom assustado, como se realmente temesse ofender Kyungsoo. No entanto, não havia mais nada que o ofendesse em relação ao pai, já havia passado por muito para se sentir ofendido por ser sutil e gentilmente mandado embora.

— Não, estou arrumando minhas coisas, só… um momento — respondeu, fechando a mala, assim que jogou uma coisa ou outra dentro.

Colocou um boné na cabeça e calçou os sapatos, e então abriu a porta.

— Para onde você vai? — Seungsoo perguntou receoso

— Para algum hotel, eu acho… — disse, passando pela porta da frente com a mala em mãos, o irmão em seu encalço.

— E Baekhyun? — ele perguntou, inocentemente. Kyungsoo ficou confuso.

— O que tem Baekhyun? — tentou parecer indiferente, mesmo que o interior se agitasse com a possibilidade, que parecia cada vez mais atrativa e certa, de ir ver Baekhyun e passar os dias restantes lá.

O irmão pareceu pensar por um momento enquanto o via guardar a bolsa no porta-malas e acabou hesitando.

          — Nada. Se cuide irmão, se precisar de algo estou aqui.

Kyungsoo assentiu e abraçou o irmão, nem pensando em se despedir dos sobrinhos naquele momento. Talvez em quatro dias, quando fosse embora, passasse lá para isso.

Quando entrou no carro e deu partida, respirou fundo e encostou a cabeça no volante, de forma cansada, procurando uma solução. Se perguntava quando as coisas tinham ficado tão confusas e tensas em sua cabeça. Parecia dividido entre dois momentos diferentes da própria vida: Baekhyun e Jihyun, e queria viver os dois. Baekhyun, Jihyun e o próprio pai, que o fazia se sentir péssimo nos dois momentos distintos e, pensando nele, deu partida no carro e saiu, não querendo dar prazer ao velho deixando que ele achasse que estava triste ou confuso por sua causa. Naquele ponto de sua vida, seu pai era só mais um problema fácil de lidar.

Já eram seis e trinta e cinco da tarde quando Kyungsoo decidiu que não queria mais continuar sentado na areia da praia. Toda a extensão daquele mar bonito que ficava fora da propriedade de Baekhyun não parecia nem mesmo atraente, nem mesmo relaxante. O céu escureceu e o vento arrefeceu. Em seus trinta minutos de pensamento e contemplação, Kyungsoo havia tomado a decisão mais louca de sua vida, a mais inconsequente, mas também a menos cheia de amarras ou barreiras, iria ver Baekhyun. Sorria ao pensar na loucura dessa decisão porque na verdade parecia um ato puramente inocente, conversariam, se entenderiam, sim, os pingos seriam colocados nos “is” e então Kyungsoo voltaria para a cidade com um coração leve e encontraria sua verdadeira felicidade.

Mas Kyungsoo sorria porque sabia que, desde que havia se reapaixonado por Baekhyun, a felicidade com que costumava sonhar olhando pela janela de seu escritório alto estava ali, com ele. Era sempre em Baekhyun que pensava, mesmo quando tudo o que tinha era uma memória distante.

Quando estacionou em frente aos portões imponentes, finalmente fechados, pensou em como faria para entrar, desceu do carro e, parado em frente ao portão, tentou achar uma solução. Não precisou de muito, no entanto, assim que um dos funcionários, um senhorzinho simpático, apareceu.

— Você é o amigo do senhor Kang, não é? — ele perguntou, e Kyungsoo piscou confuso pelo sobrenome, sem saber o que responder.

— Hum, sim — respondeu, assim que concluiu que ele falava de Baekhyun, um sorriso incerto nos lábios.

— E quer entrar? Ele disse que podíamos sempre abrir os portões para você. — o senhor falou naturalmente, como se essas palavras não significassem um mundo e mais um punhado para Kyungsoo, que sorriu aliviado.

           — Sim, eu quero — disse, e assim que o funcionário abriu o portão, voltou a falar. — Eu não sabia que ele estava mantendo os portões fechados antes da noite.

O funcionário o olhou com empatia e sorriu de uma forma que dizia todas as coisas.

— O patrão anda triste nesses dias, a última vez que ele trancou os portões assim foi quando o senhor Kang Haekyeol morreu. Talvez ele esteja com saudade, Seu Haekyeol era um bom homem — supôs, logo virando as costas e deixando Kyungsoo sozinho, já que obviamente conhecia o caminho até a porta.

Quando chegou até ela, não sabia se devia bater ou simplesmente entrar, Baekhyun poderia estar em qualquer um dos tantos lugares daquela casa enorme. Kyungsoo, no entanto, esperava que ele estivesse ali, na sala, ouvindo música e bebendo algo, como fez em todas as tardes que Kyungsoo esteve ali. Quando bateu na porta, descobriu que estava certo.

A porta foi aberta por um Baekhyun ofegante, que parecia ter farejado sua presença ali, com o rosto surpreso e os olhos vermelhos, como só ficavam quando ele chorava demais. E algo no fundo da consciência de Kyungsoo podia discernir: Baekhyun havia passado os dois últimos dias chorando.

— Oi — Kyungsoo sussurrou, com medo da reação e rejeição de Baekhyun.

— Por que não atendeu ao telefone? — perguntou de uma vez, com os olhos se tornando duros e as narinas se mexendo com a força de sua respiração.

       — Eu… e-eu não me sentia pronto, estava confuso — respondeu, dando o seu melhor para soar sincero como realmente estava sendo. Parecia uma desculpa boba, mas era a verdade, estava confuso como jamais havia se sentido antes.

— E veio aqui para terminar tudo? — perguntou novamente, o tom choroso e morno, como se pedisse por algo que o fizesse viver de novo.

Kyungsoo não entendeu o que ele quis dizer com “tudo”, eles, na verdade, não tinham nada, nenhum sentimento mútuo ou acordo a que pudessem se segurar. Na verdade, tudo era muito incerto entre eles. Mesmo assim, Kyungsoo negou.

— Não.

Baekhyun então ensaiou um sorriso e o puxou para dentro pela mão. No toca-discos antigo da sala começava a tocar uma música americana e velha, que dizia “ parece que faz tanto tempo…” . Ele sorriu e se aproximou, lentamente e hesitando, testando as águas, até que sua cabeça encostou no ombro de Kyungsoo, procurando algum tipo de apoio e conforto.

Kyungsoo sabia que eles não precisavam de palavras naquele momento, nenhuma explicação ou pedido de desculpas, nenhum trato feito em palavras. Envolveu o torço de Baekhyun com os braços, enquanto ele fazia o mesmo com o seu. Kyungsoo fechou os olhos e ouviu naquela música tudo o que Baekhyun dizia com os olhos, então pensou que, talvez, com todo o conhecimento forçado que o amigo havia adquirido daquela língua, ele tivesse a escolhido de propósito.

Se você não for ficar, por favor, não me trate como antes, porque eu ainda te amo tanto.

 

Chapter 4: 4º Capítulo

Chapter Text

Nos últimos quatro dias em que Kyungsoo esteve na ilha, viveu como se não existisse vida lá fora. Não pensava naquilo como motivo de orgulho, mas naquele momento, o orgulho entrava no pacote de coisas que não existiam ali. Kyungsoo sabia que nunca havia deixado de gostar de Baekhyun, naquele momento ele tinha toda a consciência disso e, mesmo que se encontrasse confrontado pelos próprios sentimentos e crenças constantemente, estava aproveitando a presença de Baekhyun.

Haviam se beijado outras três vezes no dia seguinte ao da reconciliação. Em todas as vezes, Baekhyun se afastava abruptamente, com o rosto vermelho e os olhos envergonhados, mesmo que queimassem Kyungsoo por dentro, aqueles olhos. Aquela hesitação, de um jeito muito perigoso, excitava Kyungsoo ainda mais, e acabava sendo ele o responsável por mais beijos. Essa excitação o fazia sentir como um adolescente, cheio de vontade, o tempo todo, de desbravar coisas proibidas.

— Kyungsoo, eu não quero que a gente continue com isso, por favor... Você tem… Jihyun… — Baekhyun disse, deitado na areia da praia no final daquela tarde, os olhos queimando no rosto de Kyungsoo, como se dissessem “me beije mais uma vez, só mais uma vez ”.

Kyungsoo ouvia aquilo com incômodo, principalmente quando Baekhyun citava sua noiva. Mas seu coração batia tão rápido e seu rosto queimava tão forte quando pensava no sentimento que nutria por Baekhyun. Parecia tão certo de sentir, ele se sentia tão bem, mesmo naquela situação.

— Quando eu voltar para a cidade… — Kyungsoo começou. — Eu vou ter que fingir que isso nunca aconteceu?

Baekhyun o olhou, de cenho franzido e com sofrimento no olhar geralmente doce.

— Me deixa ter um pouco de você agora, eu não quero esquecer, eu não quero mais fingir… — sussurrou, aproximando o rosto de Baekhyun como um imã. — Por favor — ele sussurrou, antes de roubar o próximo beijo, o beijo que fez Baekhyun esquecer de tudo também e parar de resistir.

Naqueles dias, estar com Baekhyun era como ter dezessete anos de novo, mas com uma nova sensação. Conversava com Jihyun quase todos os dias, mas não sentia-se culpado, se perguntava se era assim que um homem canalha se sentia. Tudo o que o atormentava era o casamento.

Não sabia como devia proceder a respeito disso, se devia prosseguir com o noivado e deixar Baekhyun para trás — possibilidade que não costumava nem ponderar nos últimos dias —, ou se devia cancelar o noivado e deixar Jihyun para trás — possibilidade essa que causava arrepios, só de pensar no quão mau caráter seria e pareceria ao fazer isso.

Também achava aquele momento muito precoce para conversar com Baekhyun a respeito. Estavam em lua de mel, costumava pensar, quando acordava ao lado de Baekhyun na cama espaçosa, nada lá fora podia preocupá-los agora. Viviam apenas um para o outro.

Kyungsoo costumava perceber o olhar dos empregados da casa, tanto quando estavam juntos, quanto quando estava sozinho. Baekhyun, no entanto, não parecia querer esconder e muito menos disfarçar o que acontecia entre os dois; e o os empregados sabiam, toda a ilha sabia também, e Kyungsoo nem mesmo gostava de pensar no que seu pai devia ter ouvido até aquele momento. Fazia o máximo para não se importar com o que o velho pensava e, mesmo que temesse pelo julgamento de Seungsoo, sabia que na última conversa que tiveram, Seungsoo já havia ficado a par de tudo. Para o irmão, Kyungsoo era previsível quanto aos próprios sentimentos.






No último dia de Kyungsoo na ilha, em que os trâmites para a última audiência que aconteceria na capital já estavam quase finalizados e ele se sentia mais motivado com a possibilidade de ganhar o caso, a primeira coisa que fez ao chegar na casa de Baekhyun — que naqueles dias, sentia como se fosse sua também — foi puxar o amante para que tomassem um banho de mar. Estava um dia quente e Baekhyun ria, enquanto tentava se livrar das calças jeans que havia colocado mais cedo. Naquele dia, Kyungsoo parecia mais animado que o normal, mesmo que Baekhyun soubesse que, na verdade, ele queria fazer lembranças boas o suficiente, levando em conta a possibilidade de não voltar.

Baekhyun se divertiu junto, então. Nadaram e se beijaram dentro do mar, rindo quando Kyungsoo envolveu as pernas na cintura de Baekhyun, o desequilibrando e fazendo com que ambos quase se afogassem. Depois tomaram suco de maracujá e chuparam picolé, como um ritual. Mais tarde, entraram no mar de novo e acabaram brincando, como duas crianças, de corrida e pega-pega na areia.

Quando Baekhyun se cansou de correr, e foi pego em um abraço por Kyungsoo, que tentava pegá-lo há minutos, o segurou pelo rosto e o beijou longamente, feliz por tê-lo ali, por se sentir satisfeito de novo. Quando se separaram e se abraçaram forte, Kyungsoo o beijou no pescoço e isso despertou em Baekhyun, e quase tão igualmente em Kyungsoo, a noção do quanto o desejava. Seu corpo esquentou e puxou o rosto de Kyungsoo novamente para cima, num beijo molhado e quente, discretamente desesperado. Quando Kyungsoo desceu as mãos até seu traseiro e o apertou, sem pudor, Baekhyun se engasgou com o ar e se viu desesperado por algo, qualquer coisa.

— Quer tomar um banho? V-vai começar a esfriar, não quero mais entrar no mar — ele disse, trêmulo e confuso com tanta vontade, os lábios molhados da saliva de Kyungsoo e as mãos se agarrando às costas dele.

— Quero — Kyungsoo respondeu, e eles não precisaram perguntar nada um ao outro, seguiram de mãos dadas até o banheiro da suíte de Baekhyun.

Kyungsoo, de tanta vontade, sentiu-se tentado a ignorar o banho e simplesmente se deitar sobre Baekhyun naquela cama, mas sentia a areia grudada nos pés e pernas, e decidiu que não valia a pena sujar lençóis tão caros.

Quando chegaram ao banheiro, Baekhyun o beijou desesperado mais uma vez. Kyungsoo percebeu que o beijo de Baekhyun ainda se tornava mais molhado quando ele estava excitado, como se ele quisesse passar a quem o beijava tudo o que tinha. Tirar a roupa para que entrassem juntos no chuveiro pareceu impossivelmente perigoso, como um lembrete escancarado do que faziam. Kyungsoo, no entanto, parecia menos preocupado do que Baekhyun.

Abaixou as calças e cueca de uma vez só, fazendo com que Baekhyun olhasse para o teto inconscientemente, mordendo o lábio e fechando com força os olhos. A imagem do pênis duro de Kyungsoo piscando por trás das pálpebras.

Kyungsoo riu quietamente ao ver que Baekhyun desviava os olhos, cobrindo a ereção e chamando a atenção dele.

— Foi você quem me convidou, esperava que tomássemos banho de roupa?

Baekhyun negou, nervoso. Ele sabia o que queria, sabia muito bem, sabia que havia chamado Kyungsoo para dividirem o banho por puro tesão, mas o assustava quando pensava em quão longe estavam indo. Nesses dias, em que se resolveram e viviam como amantes, eles ainda não haviam avançado para nada que não fossem beijos e mãos por cima da roupa. Baekhyun, apesar de tudo, ainda se lembrava da situação em que estavam e sentia medo de que o sexo fosse os levar para um patamar maior, um ponto sem volta.

— Vira! — mandou.

— Baekhyun… Por quê? — Kyungsoo perguntou, com riso na voz.

— Eu estou tentando evitar algo aqui — disse sério, mesmo que um sorrisinho despontasse.

Kyungsoo quis protestar, mas entendia o ponto de Baekhyun, por isso se virou, mesmo sabendo que aquilo não mudaria nada.

Baekhyun encarou, por alguns segundos, as costas carnudas e a bunda grande e dura de Kyungsoo, um corpo bonito como só um homem jovem e cheio de vitalidade teria. Desviou os olhos com dificuldade lancinante e desceu sua cueca, tudo o que sobrava em seu corpo. Então abriu o box de vidro que separava o chuveiro do resto do banheiro e entrou, com cuidado, e se manteve de costas para Kyungsoo.

— Já posso entrar? — perguntou, um pouco apreensivo pela demora. Mesmo assim, Baekhyun demorou para respondê-lo. — Se você quiser, eu posso esperar lá fora, Baekhyun, você termina e então eu entro, você sabe que não tem problema — disse.

Baekhyun, que se mantinha debaixo do jato do chuveiro, olhava para a própria ereção, esperando que ela sumisse magicamente. Quando percebeu que isso não aconteceria, respondeu.

— Não. Venha…

E Kyungsoo entrou, no começo hesitando, não queria começar algo que não fosse bem vindo a Baekhyun e o assustava saber o quanto Baekhyun também hesitava. Baekhyun o olhou por cima do ombro esquerdo e Kyungsoo sorriu, se aproximando.

— Tudo bem aí? — perguntou, segurando o queixo de Baekhyun — que ele, inconscientemente, costumava tencionar quando estava prestes a se tocar — com delicadeza e força ao mesmo tempo. Baekhyun sorriu dolorido, safado, buscando a boca de Kyungsoo, que se aproximou.

O questionamento se manteve sem respostas, já que a língua de Baekhyun envolveu, sem pudor, a de Kyungsoo, sem poder mais resistir a vontade que consumia. Mas Kyungsoo sabia, sim, que estava tudo ótimo.

Não foram precisas mais permissões para que Kyungsoo se aproximasse do corpo aberto de Baekhyun, encostando seu peito nas costas dele, que se encaixou melhor, em uma rebolada inconsciente, no corpo de Kyungsoo.

Kyungsoo arfou e Baekhyun grunhiu, sem ar, quando os braços de um envolveram o corpo do outro e o tronco de Baekhyun foi encostado na parede fria. Em Baekhyun, parecia que um fogo queimava, misturando seus sentimentos afirmadamente nostálgicos a um tesão que há muito não o consumia. Sentir-se como há nove anos era uma sobrecarga enorme.

— Kyungsoo! — sussurrou, suspirando, e Kyungsoo o beijou de novo.

— Não quero parar — Kyungsoo assegurou, rente aos lábios do outro, mesmo não sabendo se aquele incômodo que sempre fazia Baekhyun se afastar estava ali. Não queria parar e estava ciente. Baekhyun apenas assentiu, rápida e repetidamente.

Os jatos de água caíam sobre as pálpebras de Kyungsoo, mas mesmo assim, via o suficiente para levar a mão, que não mais hesitava, até à ereção vívida de Baekhyun.  Baekhyun soltou um som choroso e aliviado, prazeroso, que fez Kyungsoo continuar, bombeando o pênis de Baekhyun com cuidado e deixando o polegar e o indicador correrem com carinho pela glande sensível, apertando com firmeza todo o resto que conseguia. Baekhyun sabia que Kyungsoo costumava fazer tudo com muita firmeza — mesmo na adolescência, época em que era totalmente inexperiente em relação a sexo — e ele gostava dessa firmeza, ainda gostava.

Pensou em perguntar se Kyungsoo queria evoluir as coisas, ali mesmo, no chuveiro, mas pela forma com que Kyungsoo se empenhava naquela masturbação, sabia que ele queria fazê-lo gozar, acima de tudo, por isso, virou o rosto outra vez, para que pudesse beijá-lo, forte e molhado como gostava. Enquanto se beijavam, Baekhyun podia sentir o corpo de Kyungsoo se aproximando mais, se movendo contra o seu. Quando a ereção duríssima de Kyungsoo encostou em sua bunda, quase vencendo o vão que havia entre elas para chegar naquele lugar, Baekhyun tremeu e soltou um gemido choroso, sensível como só ficava quando outra pessoa o tocava.

Sentir a ereção de Kyungsoo tocando sua bunda, costas e coxas, conforme ele se movia, fez com que se sentisse mais excitado do que podia imaginar, movendo o corpo com força contra o dele. Tentado a estender o braço e tocar, com a palma das mãos e os dedos.

— Baekhyun, huum … — Kyungsoo sussurrou no seu ouvido, assim que Baekhyun pressionou com força uma das nádegas contra seu pênis, fazendo pressão contra o pé de sua barriga, conforme Baekhyun se colocava na ponta dos pés para prolongar o contato. — Por que você é assim? — Riu de leve, assim que Baekhyun segurou os cabelos de sua nuca.

— Queria que você me comesse… — Baekhyun sussurrou de volta, os olhos fechados. Kyungsoo gemeu em resposta e moveu a mão mais rápido contra o pênis de Baekhyun.

— Queria? — respondeu com uma pergunta, assim que viu o quão perto Baekhyun estava, pressionando o peito contra a parede e movendo o corpo contra o de Kyungsoo, a barriga começando a contrair.

— Desde que você entrou por aquela porta — Baekhyun respondeu, e o que essa frase desencadeou nenhum dos dois soube explicar.

Kyungsoo apertou Baekhyun com mais força entre o braço que transpassava seu tronco e Baekhyun se moveu mais rápido, mais desesperado contra Kyungsoo.

— Depois que você gozar gostoso nessa parede, eu vou te comer, na sua cama, quantas vezes você quiser — Kyungsoo prometeu, desesperado, a ponto de quase gozar só por sentir Baekhyun se esfregando contra ele.

Baekhyun estremeceu novamente, como em todas as vezes que Kyungsoo disse algo em seu ouvido, e tentou se segurar na parede, mesmo que Kyungsoo o segurasse com força. Kyungsoo moveu a mão com uma rapidez absurda e Baekhyun contraiu todo o corpo, desesperado.

— Kyungsoo! — ele chamou, sentindo a cócega boa que era a sensação do orgasmo subindo pelas pernas, até chegar ao seu pênis, que Kyungsoo maltratava com tanta rapidez e firmeza.

Quando Kyungsoo acariciou a glande com a palma da mão, Baekhyun gozou, num quase grito, tremelicando o corpo todo nos braços de Kyungsoo. Sujando, como ele havia dito, a parede.

Baekhyun não se lembrava se havia se limpado ou não, se Kyungsoo havia gozado também, naquela hora, ou não. Não sabia se ao menos havia encostado um sabonete no próprio corpo, ou se havia o secado ao sair do chuveiro. Tudo o que podia sentir e pensar era no corpo de Kyungsoo sobre o seu na cama de lençóis macios e que, normalmente, o fazia se sentir tão solitário. Kyungsoo já havia dormido, nas últimas noites, ali com ele, mas em nenhuma dessas noites ele o havia feito sentir como fazia agora.

Baekhyun se sentia esgotado e cheio de energia ao mesmo tempo, a sensação do orgasmo forte de mais cedo ainda fazendo cócegas no corpo, mas a excitação de ter o corpo grudado ao de Kyungsoo o fazia sustentar outra ereção, outra vontade.

Kyungsoo o beijava com força, o corpo ainda um pouco molhado, Baekhyun sentia ao passear as mãos por ele. Kyungsoo não havia gozado debaixo do chuveiro e a ereção, que não havia morrido em nenhum momento, quase doía. Baekhyun pensava e implorava, consigo mesmo, para que Kyungsoo cumprisse a promessa de mais cedo. Quando ele tocou novamente no pênis sensível, Baekhyun arfou, cheio de vontade.

— Kyungsoo… — começou. As mãos descendo pelas costas de Kyungsoo, até chegarem a sua bunda, que apertou, pressionando a ereção dele contra a sua. — Tem lubrificante, ali, no guarda-roupa — disse, um pouco desesperado.

Ele assentiu, descendo com a boca pelo rosto de Baekhyun, o beijando na mandíbula, pescoço e peito. Pensava em descer o bastante para chupar Baekhyun, pênis e testículos e tudo que pudesse alcançar, talvez tiraria o atraso de todo o tempo que passou sem explorar o corpo de Baekhyun. Mas ao perceber o quão excitado estava, se preocupou em não conseguir aguentar tanto tempo se restringindo. Foi por isso que, assim que Baekhyun puxou seu rosto novamente para cima, o beijando, decidiu ir até o guarda-roupa.

Foder Baekhyun era, para ele, o estágio final de todo seu adultério, onde finalmente se dava conta do que fazia e do quanto queria fazer, era como selar o compromisso de trair a noiva, a mulher que ainda pensava amar, com Baekhyun, o homem que muito provavelmente amava . Se sentiu hesitante e trêmulo quando abriu a porta indicada por Baekhyun e tirou de lá o lubrificante.

     — Eu não tenho camisinha aqui — Baekhyun se desculpou, assim que Kyungsoo se ajoelhou no meio de suas pernas abertas e receptivas, se sentando enquanto analisava o rosto de Kyungsoo. — É um problema para você? — perguntou, parecendo hesitante. Aquela expressão mostrava toda a frustração e dor que se perceber como um amante trazia. Fora dali, Kyungsoo tinha outra pessoa.

— Você está limpo? — perguntou, sem saber que posição tomar nesse caso. Nunca havia se preocupado com aquilo e sabia que Baekhyun não carregava consigo nenhuma doença.

— Sim.

— Eu também, então não vejo problemas. Eu confio em você — Kyungsoo disse e Baekhyun respondeu com um aceno de cabeça, buscando seu rosto para um beijo. Inconsequentes como os dois adolescentes que um dia foram.

Baekhyun segurou firmemente na ereção de Kyungsoo, que se assustou com o toque repentino num lugar tão sensível e gemeu alto.

— Não aguento mais esperar — disse, contra os lábios dele. Kyungsoo riu, em meio a um arfar. Se Baekhyun não parasse de o tocar, provavelmente gozaria antes da hora.

— Eu também não — sussurrou de volta.

— Então vem — Baekhyun falou, enquanto puxava o corpo de Kyungsoo sobre o seu, se deitando no colchão macio e envolvendo a cintura de Kyungsoo com as pernas.

Kyungsoo riu de novo com a pressa dele, abrindo o lubrificante e espalhando pela ponta dos dedos, sem que Baekhyun visse, já que sabia que ele protestaria. Apressado como estava, Baekhyun pediria para que colocasse o pau bem lubrificado dentro dele de uma vez.

— Espera um pouco… — sussurrou distraído, enquanto espalhava o lubrificante pelas mãos e olhava atentamente para o meio da bunda de Baekhyun.

Faziam anos, ele não lembrava mais como era a sensação, nem como devia proceder.

— Faz tanto tempo que não faço isso — disse risonho, enquanto roçava a ponta de dois dedos na entrada de Baekhyun, como que para distraí-lo.

— Isso o quê? Anal? — perguntou também risonho, o rosto afogueado e nervoso.

— Anal… — Kyungsoo confirmou, enfiando então, os dois dedos dentro de Baekhyun, que gemeu baixo, um pouco dolorido.

Hum , não precisava disso — Baekhyun disse, sofrido de tanto tesão, um gemido preso na garganta quando Kyungsoo moveu os dedos.

— Não queria te machucar.

— Sabe que não ia me machucar — teimou, os dedos presos nos cabelos da nuca de Kyungsoo dizendo o contrário.

— Queria ter certeza — Kyungsoo respondeu, as pálpebras pesando de tanto tesão, o pau latejando só por sentir o aperto nos dedos. Enlouqueceria e a causa era Baekhyun.

— Entra agora… — Baekhyun pediu, sussurrando, e Kyungsoo não teimou.

Tirou os dedos de Baekhyun e lambuzou lubrificante, meio desesperado, por todo o pênis.

Naquele momento, se lembrou de toda a situação que viviam e percebeu que isso não importava. Nem Jihyun, nem noivado, nem seu pai importavam. Queria estar com Baekhyun.

— Ah, Kyungsoo! — Baekhyun gemeu, a voz grave e desesperada, quando sentiu a cabeça do pau de Kyungsoo pressionar sua entrada. Quando sentiu entrar.

Kyungsoo revirou os olhos ao sentir o aperto que era estar em Baekhyun de novo e respirou forte contra a boca dele.

— Baekhyun… — ele respondeu, como quem atende a um chamado, assim que entrou por completo, dentro do calor de Baekhyun. — Baekhyun… — repetiu, sem se controlar.

Naquela tarde, sobre a cama quente e a euforia de um reencontro, eles fizeram sexo rápido e desesperado, mas que pareceu lento e contemplativo. Como se encontrar com uma divindade, atingir o nirvana. Estar um com o outro era assim.






No caminho de volta para a cidade, aquelas duas semanas passavam por sua cabeça como um filme feliz. Não queria perder a paz e alegria que sentia ao estar longe de Baekhyun, foi por isso que, vinte minutos depois de tê-lo se despedindo dele como se nunca mais fossem se ver, ligou para ele, dizendo que queria voltar sempre que pudesse, queria continuar com aquela relação torta, queria ficar com Baekhyun.

Baekhyun pensou em todas as formas de impedir que isso acontecesse, pensou em como em algum momento se sentiria infeliz de ser somente o caso extraconjugal de Kyungsoo e no quanto o amava, o bastante para aceitar tudo aquilo. No fim, Baekhyun aceitou. Sabia que o sentimento de Kyungsoo não era torto como aquela situação, sabia que era recíproco tudo o que sentia e que, se tentassem, podiam ser mais do que amantes. Talvez estivesse sendo ingênuo, puramente levado pela euforia que sentia ao se apaixonar novamente, mas queria acreditar naquilo por hora.

Já Kyungsoo, no momento da chegada à cidade, só sentia apreensão e dúvida, mesmo que não quisesse sentir nenhum dos dois. Se perguntava como encararia Jihyun. Apesar de considerar seu sentimento por Baekhyun o mais puro e bonito possível, ainda tinha um compromisso e um sentimento, um vínculo quase inquebrável com Jihyun, um vínculo que não sabia se queria quebrar. Naquele momento, se perguntava se valia a pena jogar tudo para o alto por Baekhyun.

Quando entrou pela porta do próprio apartamento, que agora parecia extremamente impessoal e pouco familiar, e encontrou Jihyun sentada em seu sofá, distraída, fingiu tão bem, sorrindo e a beijando, agindo como se nada tivesse acontecido, que quase acreditou no próprio sentimento de paz e tranquilidade. Pensou ser uma habilidade nata dos homens, então, fingir para suas mulheres.

— Você está até bronzeado, parece ótimo, a gente devia tirar mais tempo para visitar sua família — comentou, sorrindo o sorriso grande que tinha, enquanto o ajudava a guardar as roupas da mala. Ela parecia mais animada do que Kyungsoo podia se lembrar nas últimas semanas que a viu, provavelmente morrendo de saudades dele.

— Sim, foi como estar de férias na verdade, apesar do estresse, morri de vontade de abandonar o caso e mandar aquela empresa se foder. — Riu.

— Eu imagino, amor, mas penso em toda a parte dessa ação que vai pro seu bolso se você conseguir ganhar o caso e até me arrepio, olha só… — Ela riu, o mostrando o braço, realmente arrepiado. — Imagina a festa de casamento dos sonhos que você pode me dar — brincou, o abraçando apertado por trás, e Kyungsoo riu.

— Interesseira — repreendeu, de brincadeira, enquanto dobrava uma das calças sociais entre as mãos. Jihyun o bateu levemente na cabeça.

— Os últimos dias aqui também têm sido uma bagunça, acho que não consigo cuidar do planejamento desse casamento sem você — reclamou, encostando a testa entre as omoplatas de Kyungsoo e suspirando, cansada, como se ela mesma não tivesse tocado no tópico sensível.

Kyungsoo se sentiu incomodado e nervoso ao chegar no assunto que procurava ignorar consigo mesmo durante todos esses dias. Planejava com Jihyun um casamento que não sabia mais se queria, a sensação de incômodo estaria ali o tempo todo, até que Kyungsoo resolvesse de qual lado abriria mão.

— E por que não? — perguntou, ainda de costas, disfarçando como pôde a sensação ruim.

Esperou que Jihyun tirasse o rosto do meio de suas costas e o respondesse, mas depois de dez segundos de silêncio e um suspirar sufocado, se preocupou. Jihyun chorava. Por que? Teria ela percebido tudo? Ela sabia, afinal, da traição? Por que ela chorava?

— Ei amor… — Kyungsoo soltou, preocupado, enquanto se desvencilhava dela e virava em sua direção, as mãos segurando o rosto dela com cuidado. Os olhos vermelhos não pareciam magoados, e muito menos tristes, ela só parecia chateada, o que o aliviou potencialmente. — O que foi?

— Eu não sei, Kyungsoo, eu só... me sinto tão sobrecarregada — explicou com a voz embargada e os olhos dolorosamente molhados. — Eu estou indecisa sobre onde fazer essa cerimônia e ainda preciso decidir tantas coisas, preparar tantas coisas. O trabalho também tem sido tão estressante… Eu preciso da sua ajuda nisso — afirmou, por fim, com os olhos firmes em Kyungsoo, como se cobrasse algo dele. Kyungsoo suspirou.

— E em algum momento eu te neguei ajuda? — perguntou, como quem explica algo para uma criança, mesmo sabendo que não era tão simples assim.

Sabia que para Jihyun essa questão era muito mais complexa do que para ele, como o bom homem que era, não tinha noção alguma sobre organização de casamentos, assim como nenhuma pretensão de saber sobre cores de flores e modelo de cadeiras e, para piorar tudo, naquele momento, não tinha nem mesmo certeza se queria se casar, não quando a cabeça continuava e continuava em Baekhyun, o amante , não quando havia prometido a ele que ficariam juntos.

— Não, mas com esse caso tão grande e essas suas viagens constantes, sei como é difícil… — respondeu, a voz ainda um pouco manhosa de choro. Logo ela desviou os olhos e pareceu pensar com força em algo. — Você acha que devíamos mesmo fazer o casamento na ilha? — Kyungsoo se surpreendeu com a pergunta, logo vendo nela uma oportunidade, uma de que pouco se orgulhava de perceber.

— Claro, mas é claro, amor. É um lugar lindo, vai ser mais fácil fazer minha família participar da cerimônia e ainda é aconchegante, todo mundo vai adorar — tentou convencê-la, tendo em mente unicamente o fato de que assim, ficaria mais próximo de Baekhyun. O peito doeu em culpa, mas logo esqueceu desse sentimento, focado em conseguir o que queria.

— Mas vai ser mais difícil organizar as coisas lá — ela argumentou, querendo ser convencida.

— Olha só, vamos fazer assim: já que eu tenho que ir para lá o tempo todo — Essa parte era mentira, já que, por hora, as audiências aconteceriam todas em Seul —, eu faço o que puder, arranjo um lugar e vejo qual dessas frescuras todas podem ser feitas lá — terminou, rindo, assim que ela beliscou seu braço em reprovação à palavra usada.

— Tem certeza que eu posso confiar em você?

— Claro que pode, eu vou fazer meu máximo, prometo — respondeu, beijando os dedos indicadores, um sobre o outro. Jihyun riu.

— Tudo bem. Obrigada — ela encerrou a conversa, então, o abraçando como sempre costumava fazer.

Nos dias e semanas seguintes, enquanto continuava em contato constante com Baekhyun, que parecia afundado em tédio e saudades na ilha, Kyungsoo se perguntava se não mostrava o bastante para que Jihyun desconfiasse ou ao menos achasse qualquer coisa estranha.

— Como estava o Baekhyun? — ela perguntou, em uma noite já distante de sua chegada, em que, justamente, ele sorria para uma mensagem de Baekhyun em seu celular. Kyungsoo olhou para ela, surpreso, e pareceu um pouco atordoado em responder.

— Hum, bem… Como sempre, eu acho — respondeu indiferente.

— Você o visitou, né? — ela perguntou, parecendo indignada com a possibilidade de Kyungsoo não ter o visitado.

— Claro que sim — respondeu, e pensou que contar um pouco do que havia acontecido lá seria seguro e eficaz. — Eu até passei alguns dias lá, com ele.

— Que bom. Ele parece muito solitário, não acha? — Os olhos compassivos não podiam mentir: Jihyun sentia pena da solidão de Baekhyun, era empática com ele.

— Ele… é solitário. — Kyungsoo se sentiu incomodado ao perceber que uma conversa sobre Baekhyun se iniciaria ali, era como se ele fosse uma parte secreta de Kyungsoo, que só podia ser relembrada e mencionada dentro da própria cabeça, onde a existência dos últimos dias que passou com Baekhyun só pudesse existir ali, dentro dos próprios pensamentos, indagações e mistérios. Falar de Baekhyun era território proibido. — Vamos dormir? Estou cansado…






Numa manhã normal de quarta-feira, em que Kyungsoo tentava organizar os papéis referentes a cada caso em seu cuidado, o chefe, senhor Cho, bateu na porta apressado, o chamando para uma reunião de emergência. Kyungsoo se sentiu alarmado, o chefe nunca fazia convocações pessoalmente, Yura era sempre quem o chamava para esses encontros, algo errado havia acontecido.

Quando entrou na sala de conferência, ocupada por mais três advogados da companhia, bem como um dos conselheiros da companhia, sentiu medo de que algo que comprometesse seu emprego houvesse acontecido.

— O que aconteceu? — perguntou com os olhos alarmados, o que gerou uma risada amigável de um dos advogados mais experientes, mesmo que tivessem quase a mesma idade. Kim Jongdae.

— Sua cliente, KPA, aconteceu — ele respondeu. Kyungsoo olhou questionador para o chefe.

— Um jornal soltou, há alguns minutos, um áudio do CEO da KPA armando um esquema de lavagem de dinheiro com um dos políticos mais investigados da droga do parlamento coreano, um filho da puta descuidado, Do…

Kyungsoo esfregou as mãos no rosto e respirou fundo, mais e mais problemas.

— Vocês têm o áudio aí? — perguntou, sem rumo.

O senhor Choi soltou o áudio nas caixas de som da sala e deixou que Kyungsoo ouvisse tudo com muito cuidado. Seu cliente, Ha Junsu, falava de coisas como criar obras fantasmas e encher as calças de dinheiro, além de citar a ameaça que tinha feito a um de seus funcionários de alto escalão: se ele fosse preso, o funcionário seria caçado.

Kyungsoo, ao ouvir tudo aquilo, se sentiu tentado a abandonar o caso, seu cliente era burro e desonesto e livrá-lo de uma sentença seria um parto. Mesmo assim, era um advogado competente e odiava abandonar casos pela metade.

— E então, o que vamos fazer? — perguntou.

— Sinceramente, a escolha é sua, Kyungsoo — o conselheiro de senhor Cho respondeu. — Se acha que pode levar esse caso até o final sem estragar a reputação da empresa e se sente disposto a colocar as mãos nisso, continue na defesa, se não, simplesmente abandone o caso. 

— A sua única missão, Kyungsoo, é que não deixe toda essa sujeira respingar em nós — seu chefe alertou.

— O que é difícil para caramba, diga-se de passagem — Jongdae comentou, mesmo que usasse o tom naturalmente bonachão.

— Eu… acho que quero tentar, acho que consigo — Kyungsoo respondeu, impulsivo. Meio preocupado com todas as responsabilidades que havia tomado para si nas últimas semanas. Mas, mesmo assim, sabia o que queria e queria ganhar aquele caso. — Digo, um áudio não é nem mesmo uma prova suficiente, não é um caso impossível e eu acho que posso ter essa prova de confiança.

— Tudo bem, a decisão é sua, agora preciso de toda a sua dedicação e competência nesse caso, Do — o senhor Cho alertou, sorrindo de forma cúmplice para Kyungsoo. Apesar de tudo, seu chefe o considerava e acreditava em seu potencial. — Estão todos dispensados.

Assim que Kyungsoo colocou os pés fora da porta, seu celular tocou, era Ha Junsu, respirou fundo e se preparou para reestruturar todo seu caso.

Naquela noite, Kyungsoo reviveu um hábito pouco recorrente nos últimos meses, o de fumar para dissipar o estresse. Enquanto Jihyun dormia em sua cama — costume que naquele momento o irritava levemente, já que não havia mais tido tempo sozinho — ele fumava na sacada e pensava. Pensava no caso, que havia se tornado muito mais complicado depois da adição de mais uma acusação a seu cliente, novo processo, novas diretrizes, nova forma de lidar, pensava no casamento, se o queria ou não, pensava em Baekhyun e o quanto sentia falta dele, fazia um pouco mais de um mês desde que havia o visto pela última vez, pensava que talvez, se estivesse na ilha, junto dele, não precisaria fumar para desestressar. E, assim como telepatia, seu celular, guardado no bolso da calça, tocou. Era Baekhyun.

— Está sozinho? — era o que Baekhyun costumava perguntar sempre que começavam uma ligação e, às vezes, até mesmo quando mandava uma mensagem. Sempre preocupado em atrapalhar e em levantar suspeitas, por mais desprendido e inconsequente que fosse.

— Não exatamente, mas estou muito, muito feliz de ouvir sua voz — Kyungsoo respondeu relativamente baixo, com um sorriso grande no rosto. Do outro lado da linha, Baekhyun riu envergonhado.

— Bobo… — o repreendeu. — Estou com tanta saudade — soou pouquíssimo feliz ao dizer isso, um suspiro preso de tédio e melancolia na voz. Kyungsoo sentiu o coração apertar, também, em saudades.

— Nem me fala… — disse, pisando em cima do cigarro que havia jogado ao chão, mais tarde o varreria sacada abaixo. — Tudo tem estado uma loucura aqui. — Riu. — Queria estar aí, tomando banho de mar com você. — Ouviu Baekhyun rir do outro lado e fazer um barulho estranho, tal como quando nos espreguiçamos. — Onde você está?

— Na cama… Sem sono — respondeu. — Fiquei ansioso pensando em você, uma ansiedade boa. — Kyungsoo ouviu o sorriso por trás de sua voz e sorriu também. — E você?

— Na sacada do meu apartamento, fumando.

— Fumando? Desde quando você fuma? Você sabe que pode morrer mais cedo, não sabe? — Baekhyun falou, o repreendendo como a uma criança. Kyungsoo riu.

— Eu sei, eu não fumo sempre, só quando estou bem estressado. — Suspirou, cansado. — Queria que você conhecesse minha casa, um dia… — falou vagamente.

Normalmente, Kyungsoo evitaria qualquer assunto que tratasse de futuro. Sabia que no futuro havia um casamento muito bem marcado com Jihyun, e, mesmo que Baekhyun ainda não houvesse o cobrado um posicionamento a respeito, em algum momento cobraria, estava em seu direito, é claro que estava, Kyungsoo é quem não estava pronto para dá-lo uma resposta.

— Eu vou, um dia eu vou — Baekhyun respondeu, em um tom contido e vago, um falso entusiasmo, como se algo o incomodasse. — Você disse que não estava exatamente sozinho…

— Sim. — Kyungsoo entendeu. — Jihyun está dormindo aqui — respondeu vago.

— Hoje comentaram sobre a empresa que você está defendendo naquele caso… — Baekhyun mudou de assunto, o tom de voz mecanicamente animado, como se não tivesse ouvido a resposta de Kyungsoo. — Bom, eu não assisto TV, mas os empregados comentaram. Esse CEO parece ser um porco.

— Sim… — Kyungsoo respondeu, confuso de começo com a mudança repentina de assunto. — Sim, ele é.

— E você continua no caso? — perguntou curioso.

— Sim, os honorários me interessam. — Riu. — E não é um caso tão difícil de começo, a menos que as coisas se compliquem. — Soltou um bocejo longo, assim que terminou a frase, e Baekhyun apurou os ouvidos do outro lado.

— Está com sono? Vá dormir, eu vou desligar, só queria conversar um pouco, os dias parecem vazios depois dessas semanas em que me acostumei com você aqui. Vá dormir — Baekhyun disse, apressado.

— Eu não estou com muito sono, na verdade. Não se preocupe — Kyungsoo respondeu, risonho. — Eu volto rápido, Baekhyun, só espere mais um pouco — prometeu.

— Eu espero, agora vá dormir. Boa noite… — se calou por uns instantes, como se pensasse e repensasse a respeito de algo. — Eu te amo — disse, com todas as letras e com uma confiança admirável.

— Eu te amo, também, Baekhyun. Também te amo — Kyungsoo se embolou nas palavras, falando por impulso. — Boa noite.

A linha se calou e Kyungsoo olhou rapidamente para o celular, encarando a foto bonita de Baekhyun que aparecia ali. Foi se deitar com duas dívidas, que se cobravam insistentemente dentro do peito: voltar à Jindo e tomar uma decisão a respeito do próprio casamento.

Chapter 5: 5° Capítulo

Chapter Text

  

 A risada de Baekhyun soava alta, altíssima, animada como só a risada dele podia ser. Sempre que brincavam de algo, era assim, Baekhyun ria alto e Kyungsoo tentava contê-lo. Sempre foi o mais medroso entre os dois.

— Esse é o plano mais bobo e fofo que já ouvi! — Baekhyun, apesar de ser sincero, falou com uma ironia na voz amigável, que fez Kyungsoo encolher os ombros e ficar com as orelhas vermelhas, tímido como era naquela época.

— Por quê? Não acha que a gente pode se casar um dia? — perguntou sério.

Baekhyun, ao perceber o quão sério aquele assunto era para Kyungsoo, desfez o sorriso sapeca que carregava, olhando para aquilo com outros olhos.

— Claro que acho, claro que sim! — respondeu, segurando o rosto de Kyungsoo rapidamente entre as mãos. — Mas, se casar aqui na ilha? Com a benção de todo mundo? É impossível.

— Nem daqui a dez anos? — perguntou inocentemente.

— Nem daqui a trinta anos, Kyungsoo. Esse povo já nos odeia, você é muito bom e novo para perceber, mas a gente nunca poderia ser totalmente feliz aqui — Baekhyun disse, com os olhos sérios focados em Kyungsoo e tentando fazê-lo entender algo que ele mesmo já entendia desde que descobriu a própria sexualidade.

— Então — Kyungsoo começou — ano que vem, quando eu passar na faculdade da capital, você vai embora comigo — completou, beijando os dedos da mão de Baekhyun, entrelaçados nos seus.

— Sim — Baekhyun respondeu, em um impulso, para agradá-lo. Mas, desde aquela época, Baekhyun sabia que o medo o impediria de ser feliz com Kyungsoo.

 


 

    — O que acha do salão comunitário, perto daquele hotel super chique? A praia estaria perto, nós poderíamos fazer a cerimônia e a recepção lá e… a praia estaria perto! — Jihyun insistiu aos risos sobre o lugar em que queria que o casamento acontecesse.

— Não… Pensa bem, amor, a igreja é muito mais bonita, além de ter vista para o mar de cima da serra. Eu sei que o pessoal aqui da cidade vai estar louco pela praia, mas eles vão ter outros momentos para visitar — Kyungsoo argumentou.

Nos últimos dias, estava tentando ser mais participativo na questão do casamento, por pura empatia à Jihyun, que parecia tão cansada nessa questão. Mesmo assim, ainda não havia tido coragem de escolher entre um e outro. O casamento ou Baekhyun. Sabia que, naquele ponto, não se tratava mais de Jihyun e Baekhyun, já não sentia por ela o que sentia antes de Baekhyun e às vezes se questionava se não era uma péssima pessoa por deixar que um sentimento que considerava legítimo se esvaísse de uma hora para outra. Se questionava se não era uma péssima pessoa o tempo todo.

— Tem certeza? Olha, eu vou deixar você cuidar disso, então, já que você está indo para a ilha, mas não me decepcione, eu confio no seu bom gosto.

Kyungsoo e Baekhyun não se viam havia quase dois meses. Perdido na correria do trabalho e no esforço de parecer empenhado nos preparativos do casamento, Kyungsoo às vezes esquecia de contar o tempo, por isso, não sentia a agonia que Baekhyun, solitário como costumava sempre estar, sentia. Quando Baekhyun chorou em uma das ligações, tentando disfarçar o tom choroso e melancólico na voz com a risada energética que costumava ter, Kyungsoo resolveu fazer uma loucura, daquelas que só fazia por ele.

Quando uma semana, das que o caso complicado em que trabalhava havia tido uma pausa para mais investigações, chegou, Kyungsoo não hesitou em inventar uma série de reuniões, por motivos jurídicos que Jihyun nunca entenderia, em Jindo. Junto com a promessa de que agendaria um local para a data da cerimônia e procuraria um bom buffet na cidadezinha, precisou de apenas alguns sorrisos convincentes para que Jihyun acreditasse e aceitasse de bom grado.

Quando ele chegou à casa de Baekhyun, num sábado ensolarado e de clima ameno, os óculos de sol grudados no rosto e as roupas leves, como o bom turista que ele gostava de se sentir quando ia para a ilha, sentiu os olhares nervosos dos empregados da casa, assim como o tom de desaprovação vela com que conversavam. Ao ver Baekhyun correndo escada abaixo, assim que percebeu que o visitante era Kyungsoo — impressionado por nenhum tropeço acontecer em meio ao percurso extremamente eufórico —, no entanto, esqueceu de que havia um mundo em volta.

— Kyungsoo, Kyungsoo, Kyungsoo… — Baekhyun repetia, com uma felicidade que quase lhe saía pela pele. — Por que não me avisou? — perguntou, logo lhe beijando sem pudor ou receio, levado pela euforia e saudade. Trocaram aquele beijo por longos e longos segundos, e quando se separaram, Kyungsoo estava ofegante.

— Eu queria tirar essa reação de você — respondeu, as mãos acariciando o cabelo de Baekhyun.

— Huuum — Baekhyun soltou, apreciativo. — Vamos entrar em lua de mel de novo? — Mordeu o lábio para conter um sorriso muito feliz. Aquele momento era para ele o ápice da felicidade, como se viver só valesse a pena para ter momentos como aquele. Kyungsoo riu.

— Uma lua de mel um pouco mais curta, tenho que voltar na terça-feira… — respondeu, um pouco tristonho. No entanto, era um tempo que parecia longo o suficiente para ser bem aproveitado por Baekhyun.

— Tudo bem, vou fazer valer a pena. — Seu olhar não mentia.

Nas semanas e meses seguintes, viagens como essa aconteciam com frequência. Kyungsoo sempre encontrava um bom pretexto para convencer Jihyun e quem mais fosse preciso. A promessa de cuidar dos preparativos para o casamento continuava se repetindo em todas as vezes, mesmo que ele deixasse para depois e depois e depois, mesmo sabendo quanto problema teria no futuro. Naqueles dias, Kyungsoo não era um homem de futuro.

Naquelas visitas, ele se sentia numa aura sexual constante ao lado de Baekhyun. Se eles tinham a oportunidade, transavam. Era sempre algo como que um ritual, Baekhyun o olhava intenso demais, Kyungsoo correspondia até que Baekhyun se enrolasse nele, as mãos nos lugares certos, seu rosto, seu pescoço, seus ombros, sua bunda, seu pênis, Baekhyun gostava de tocar seu corpo e apreciá-lo como só conseguia fazer com um corpo jovem, saudável, gostoso. 

Kyungsoo sentia muito tesão em Baekhyun, mas ele sabia, afundado na infidelidade como estava, que não era por puro desejo de seu corpo que era movido. Kyungsoo se satisfazia com Jihyun também — ah, Jihyun! —, Kyungsoo tinha conhecimento de que não era por sexo que estava com Baekhyun, a esse ponto, os dois e todos, que por algum acaso soubessem de seu caso, sabiam. 

Estar com Baekhyun era como se encontrar consigo mesmo, uma experiência transcendente, amava. Amava muito a Baekhyun. E quando o via, sentado sobre as pernas, nu, na cama espaçosa, de lençóis caros, como a pintura renascentista da deusa mais bela, ombros e quadris largos, uma delicadeza de olhar que Kyungsoo nunca pensou ver em alguém, o pau duro e a boca molhada, Kyungsoo não podia escapar dessa aura. Era impossível não se aproximar, não se enroscar, não amá-lo ainda mais quando ele o beijava no pescoço e no peito, e até onde fosse preciso para chegar, com a boca macia e sempre molhada de saliva, no seu pau. Baekhyun era dedicado, sempre dedicado, e Kyungsoo queria ser dedicado a ele também. 

Era por isso que Kyungsoo não podia parar, porque tudo com Baekhyun era muito bom, era gratificante, era como ser feliz, muito feliz, de novo. Baekhyun, na maior parte do tempo, ainda parecia o mesmo menino de dezessete com quem Kyungsoo conheceu o amor e o desejo pela primeira vez, e saber que o tinha agora, nessa fase da vida, nesse ponto em que pensou que nunca mais o veria, era tentador demais, precisava tocar nele o tempo todo, das formas mais puras, mas também das mais sujas possíveis.






    — Você tem que me contar toda a verdade, senhor Ah. Eu não posso te defender se não souber até onde posso ir, você sabe que novos podres seus podem sair a qualquer momento e se nós nos contradizermos na sua defesa, as coisas vão ficar muito, muito ruins pro seu lado. — Kyungsoo tinha uma didática e persuasão que costumava dar inveja a alguns advogados mais experientes, convencer com as palavras era sempre quase que causa ganha para ele.

    — Eu já te disse tudo, Kyungsoo. Juro — o CEO respondeu, tentando parecer firme, mesmo que escondesse um punhado de coisas. Não confiava em ninguém, muito menos em advogados.

    — Você realmente não recebeu ajuda de Kim Taejo para conseguir as licitações? — Kyungsoo insistiu.

    — Não — ele respondeu, simplesmente.

    — Sabe que não acredito em você, não sabe? — A indiferença do outro foi o bastante para fazer com que Kyungsoo estourasse, já devidamente estressado com tudo, todos, qualquer coisa.

    Sua cabeça estava uma bagunça, questionamentos, conclusões, tentativas de entender e tentativas de esquecer, às vezes Kyungsoo pensava estar ficando louco e, como uma incômoda cereja do bolo, seu cliente não queria cooperar com o caso.

    — Sabe que estão a ponto de colocar sua cabeça numa bandeja e levar a de todo mundo que tem trabalhado para sua defesa junto? Você sabe que vai apodrecer na cadeia se não cooperar com essa merda, não sabe? — vociferou, mesmo que fizesse o melhor para manter a postura profissional e impenetrável. Kyungsoo tinha classe. — Olha, senhor Ah, se você não nos contar tudo, eu mesmo não faço questão de recorrer pela sua soltura em nenhum momento. Você não confia em mim, então não confio em você.

    — Eu já disse tudo! — Junsu gritou de volta, exausto.

    Kyungsoo respirou fundo então, e passou a mão pelo rosto. Faria tudo por um momento de descanso mental, faria tudo para estar brincando na praia com Baekhyun.

    — Tudo bem, senhor Ah — disse, num suspiro derrotado, nada feliz. — Você está dispensado por hoje, pode ir para casa, depois de amanhã, Kim Taejo pode citar seu nome naquele processo de delação ridículo, mas nós vamos dar um jeito, você faz sua parte, eu faço a minha. E eu te dou certeza de algo: sou muito competente, você está em boas mãos, só precisa cooperar — disse, em tom de repreensão. — Boa noite — saudou, logo saindo da sala.

    Kyungsoo, com a aparência dura e argumentos inabaláveis que sempre mostrou ter profissionalmente, tinha um poço de questionamentos dentro da cabeça. Quando começou na carreira, não sabia se era nela que queria seguir, quando começou a pegar casos criminosos, se perguntou se realmente valia a pena. Naquele momento, Kyungsoo questionava sua capacidade como profissional. De alguma forma, sabia que não estava preparado para algo tão grande, grave e de tamanho apelo midiático, de alguma forma, Kyungsoo sabia que perderia o caso.

    Quando chegou em casa, naquela noite, mesmo que tivesse sonhado e fantasiado com Baekhyun e sua aura anestésica, calmante, acabou sendo consolado pelo colo e mãos carinhosas de Jihyun.

    — Vai dar tudo certo, amor — ela disse, os lábios junto às têmporas de Kyungsoo, enquanto ele a abraçava, cansado. — Eu estou aqui.

    Naqueles momentos, Kyungsoo não deixava de pensar no quanto precisava fazer Jihyun feliz. Não era apenas um desejo, sentia aquilo como uma inclinação. Jihyun era boa, ele a conhecia há anos, desde que era só uma menina mais nova, que sonhava com um casamento feliz e uma vida de cinema. Kyungsoo não tinha o direito de fazê-la infeliz, não tinha.

    Ao mesmo tempo, Kyungsoo não queria ser infeliz ao lado dela, e esse era exatamente o problema, agora que entendia tudo e enxergava todas as coisas, não poderia ser feliz longe de Baekhyun, e estar preso nesse dilema o deixava maluco, esgotado, dividido. Era como ser o pior dos criminosos.






— Jihyun quer vir para cá junto comigo na próxima vez — Kyungsoo disse, depois de hesitar por minutos e minutos, ponderando.

Haviam acabado de transar no chão do quarto espaçoso de Baekhyun e Kyungsoo tinha a cabeça apoiada na barriga dele, sentindo a brisa fresca entrar pela porta da sacada. Era mais um final de semana em que Kyungsoo ia para a ilha só para ver Baekhyun e, mesmo que tivesse essa informação guardada na mente e coração desde dias atrás, quando conversou sobre os preparativos para o casamento com Jihyun, não sabia como e quando contar isso a Baekhyun, não sabia nem mesmo se devia.

— É? — Baekhyun soltou, o tom de voz neutro, mesmo que Kyungsoo sentisse sua respiração descompassar, o abdômen descendo e subindo rapidamente.

— Sim, eu… — tentou dizer algo, mas percebeu que não sabia o que dizer. — Eu estou tentando fazer ela mudar de ideia, não quero… te deixar desconfortável.

Assim que Kyungsoo terminou de falar, Baekhyun se sentou abruptamente. Os olhos melancólicos grudados na paisagem tão bonita lá fora. Naquele momento, ele sentia tantas coisas, que não sabia o que era seguro ou não mostrar a Kyungsoo.

— Sinceramente, Kyungsoo? — ele começou. Os olhos ainda grudados janela à fora. — Se você realmente quisesse me deixar confortável, esse casamento não seria mais uma possibilidade a meses — ele disse, e Kyungsoo sentiu o estômago afundar em vergonha e dor, culpa. — Mas isso não é sobre mim, não é? Tanto é que nunca te cobrei nada e mesmo que eu queira muito, muito mesmo, te cobrar um posicionamento, eu não vou. Enquanto você não me disser com todas as palavras que é comigo que quer estar, eu não vou.

— Baekhyun, eu… não sei como fazer isso. Me sinto perdido, não sei como consertar isso para nós, para nós três — Kyungsoo disse, agora de pé, junto de Baekhyun, que também havia se levantado enquanto falava. Talvez numa tentativa de repelir Kyungsoo.

    Baekhyun balançava a cabeça em desaprovação e olhava pela janela.

    — Traga ela, marquem as datas, dêem um jeito no seu casamento de fachada, me esqueça! — Baekhyun gritou, perdendo, por um segundo, toda a imagem indiferente que havia criado a respeito da questão. Ele, como Kyungsoo, sofria.

    — Baekhyun! — assim que Kyungsoo chamou seu nome, ele terminou de enfiar as pernas por um calção de banho e saiu do quarto, como num furacão, indo em direção às escadas.

    Kyungsoo viu, pela sacada, assim que ele colocou os pés na areia da praia e se sentou lá, em frente ao mar. Era a primeira briga que tinham a respeito, era até mesmo a primeira conversa, e Baekhyun precisava pensar. Kyungsoo não quis atrapalhar e, naquele mesmo dia, foi embora sem o perdão de Baekhyun e com o peso de saber que procrastinava uma questão tão, tão importante.






    — Já conseguiu tirar uma confirmação daquele asno? — perguntou Jongdae, o colega de trabalho e advogado excepcional, que, mesmo com a inevitável rivalidade velada sustentada com Kyungsoo, ainda o chamava, mês ou outro — sim, era muito raramente — para uma social depois do trabalho.

    Os dois, sentados numa mesa de bar qualquer, bebendo o que fosse preciso para que se tornassem amigos o suficiente para falar de coisas pessoais. Jongdae, no final, era um rapaz de coração bom e modos incríveis, sempre escondido por trás de uma casca de arrogância que o fazia irresistível, interessante.

Era assim que estavam naquela noite, bebendo, enquanto, por ora, falavam do caso em que Kyungsoo trabalhava.

— Não saiu do que te falei, ele vai acabar me fodendo, corrupto idiota — Kyungsoo respondeu, com toda a raiva que tinha do cliente, Ah Junsu, que continuava escondendo coisas e atrapalhando seu trabalho.

— Vai acabar se fodendo, isso sim — Jongdae respondeu, risonho. Kyungsoo riu também, mas balançou a cabeça, indignado.

— Senhor Cho vai me matar, sabia? — Kyungsoo riu, meio abobalhado, o corpo leve e os olhos pesados. — E eu não vou nem ter dinheiro para terminar de pagar esse casamento de merda quando ele me demitir — completou, meio amargurado, meio risonho, enquanto mexia distraído na garrafa de soju. Já estava ficando bêbado e sincero demais. Sua fala assustou Jongdae.

— Como assim casamento de merda? — Jongdae perguntou com uma risada curta, mesmo que os olhos estivessem extremamente curiosos. — Pensei que gostasse de Jihyun.

Ao ouvir a pergunta, Kyungsoo se deu conta do que havia falado e levou alguns segundos ponderando o caminho a seguir naquela conversa. A cabeça enevoada com a bebida fazendo esse trabalho ser mais difícil. Levantou os olhos, tão inocentemente culpados que parecia até mesmo uma criança.

— Jongdae, você… você já esteve tão indeciso sobre algo, que... até pensar é doloroso? — perguntou, como quem não quer nada, mas seus olhos melancólicos denunciavam: estava mal, muito mal.

— Você não tem certeza que quer se casar, é isso? — Jongdae inquiriu, tentando soar compreensivo.

— Não, não é só isso — Kyungsoo respondeu, apoiando a cabeça entre as duas mãos de forma exasperada. — São… duas pessoas.

— Duas pessoas? — Jongdae perguntou, extremamente surpreso e interessado. — Kyungsoo, você tem uma amante?

— Não! — Kyungsoo respondeu, rápido, incomodado com o termo. — Não é bem assim… quer dizer… eu reencontrei alguém, em Jindo, desde que comecei a trabalhar nesse caso, é um antigo amor — disse, deixando tudo, intencionalmente nas entrelinhas.

— Então você está apaixonado de novo por essa pessoa? — Ligou os pontos.

— Eu… Sim, mas não é só estar apaixonado, entende? Eu acho que, acho que amo. — Kyungsoo enfiou o rosto novamente por entre as mãos. — Mas eu ainda gosto muito de Jihyun, quero o bem dela, não quero decepcioná-la, eu não quero machucar ela — balbuciou, dolorido. — O que eu faço?

Jongdae ficou em silêncio por alguns minutos, realmente pensando numa solução. Num gole longo do soju, resolveu se pronunciar.

— Primeiramente, você tem que se decidir por apenas uma delas, cara — ele disse num tom repreensivo, assumindo que Kyungsoo falava de duas mulheres. — A merda já está feita, você tem uma dívida eterna com Jihyun, mas resta que você escolha: ou não deixar que ela saiba jamais e continuar sua vida ao lado dela, guardando esse segredo e sufocando esse sentimento, ou contar toda a verdade, desistir do casamento e magoá-la, mas ser, aparentemente, plenamente feliz — Jongdae sugeriu, friamente, como o bom advogado que era, lidando com hipóteses. — Você me parece muito indeciso e é essa a questão, você precisa se decidir de uma vez.

— Parece muito fácil quando você fala assim — Kyungsoo respondeu.

— Parece mesmo, mas sendo fácil ou não, essa merda está nas suas mãos, só te resta decidir. Você sabe, para nós homens é muito fácil enganar, mas muito difícil assumir a culpa. Somos bons homens quando falamos a verdade, lembre disso — Jongdae disse por fim, encerrando o assunto.

Quando chegou em casa, naquela noite, e olhou por minutos demais as fotos de Baekhyun que tinha no celular, em meio a névoa bêbada da própria cabeça, Kyungsoo pensou no quanto queria ser feliz, mesmo que, lá dentro, algo dissesse: não tinha coragem o suficiente para isso.






    Naquele fim de semana tortuoso para Kyungsoo, a última coisa em que pensou, enquanto voltava para a ilha com Jihyun a tiracolo pela primeira vez desde que reencontrou o Byun, foi nos compromissos sobre o casamento que sempre acabava adiando quando colocava os pés na ilha e se perdia na cama de Baekhyun.

    Sempre havia algo que Kyungsoo se propunha a fazer na ilha quando Jihyun o pedia, muito interessada em sua disposição, mas, seja por não conseguir se manter longe de Baekhyun por um segundo, ou por simplesmente não ter forças para deixar que o casamento seguisse em frente, Kyungsoo muito pouco fez.

    Ele havia conseguido uma data na igreja da cidade e convidado sua família — mesmo com toda a desconfiança velada com que o trataram no dia, afinal, sabiam de todos os boatos que percorriam a ilha. Mas, naquele momento, faltavam apenas cinco curtos meses para que a data marcada chegasse e muito pouco havia sido feito por Kyungsoo, mesmo que muito houvesse sido feito por Jihyun, que, àquele ponto, desconfiava da falta de interesse e apatia que encontrava constantemente nele.

    Quando chegaram na ilha, Kyungsoo se sentiu extremamente melancólico ao ver, de longe, a casa Kang. Se lembrou que, normalmente, seu destino seria única e exclusivamente a mansão, e que havia mais de uma semana que Baekhyun simplesmente não o respondia, não atendia suas ligações e não dava sinal de vida. O coração se apertou e ele soltou um suspiro inconsciente.

    — Quero visitar o Baekhyun — Jihyun disse, assim que também avistou a casa e ouviu o suspiro de Kyungsoo. — Assim que eu tiver certeza de que os preparativos estão correndo como eu espero que estejam — brincou, puxando a orelha de Kyungsoo, que arregalou os olhos ao perceber consigo mesmo que não, não estavam.

    — Amor, talvez eu não tenha tido tempo para ver uma coisa ou outra, você sabe como é, muito trabalho, minha família, Baekhyun, tudo isso me exige tempo — Kyungsoo respondeu, nervoso, se sentindo péssimo por mentir assim.

    — Eu não acredito, Kyungsoo, quer dizer que sair com seu amigo é mais importante do que cuidar dos preparativos para o nosso casamento? Homens são mesmo todos iguais, hein… — Jihyun disse em tom brincalhão, mesmo que, por dentro, estivesse mais incomodada do que considerava normal com a falta de cooperação de Kyungsoo.

    — Me desculpe… — pediu, a mão esfregando a testa, tentando evitar uma possível dor de cabeça. — Você sabe, tudo tem sido uma loucura.

    — E você não parece disposto a nada.

    — Jihyun — ele insistiu. — Me desculpe mesmo… — por tudo, quis pedir, por amar outra pessoa. Por fim, se contentou só com o olhar significativo com que a mirou, por tempo demais.

    Jihyun não o respondeu, mas a forma como segurou sua mão o assegurou de que ela perdoava, de que talvez perdoasse todo o resto, um dia.

    Quando deitou a cabeça no travesseiro macio do hotel naquela noite, depois de conversar e transar com Jihyun por tempo demais, Kyungsoo pensou no dia seguinte, pensou em como Jihyun talvez se chateasse com a quantidade de tarefas não cumpridas por ele, como a de agendar diárias no hotel e de alugar um carro para locomover Jihyun e seu maravilhoso vestido de noiva no dia do casamento. Pensou na possibilidade de enfrentar o próprio pai de novo, já que  a noiva insistiria numa visita, e como seria encharcado pelo desprezo no olhar do velho, pensou em como provavelmente ele não contaria nada do que sabia à Jihyun, por uma questão de honra. Pensou no quanto Jihyun merecia ser feliz e em como ele poderia plenamente cumprir esse desafio. Naquela noite, Kyungsoo pensou que seria fácil se esquecer de Baekhyun, por isso decidiu que o faria.

 


 

    Jihyun era inteligente como poucos. Formada com honras em todas as fases da educação formal e dona de uma inteligência emocional impressionante, havia muito pouco que ela não pudesse saber apenas com uma pequena observação à linguagem corporal de alguém. Jihyun era uma psicoterapeuta de excelência, extremamente ciente e especialista das nuances e sentimentos humanos, e Kyungsoo a subestimava.

    Quando propôs a Kyungsoo que visitassem a ilha juntos numa das semanas em que ele mais parecia distraído e vulnerável, ela queria, acima de tudo, descobrir o que havia tirado de Kyungsoo todo o entusiasmo e certeza que o noivo possuía sobre o relacionamento que eles mantinham. Jihyun percebia, não fazia muito tempo, mas notava nele cada sinal de desinteresse e incerteza. Culpa. Conforme os dias passavam, Jihyun tinha mais e mais desconfiança de uma possível traição.

    Mas Kyungsoo? A traindo? Com quem? Não parecia haver nenhuma prova lógica para isso além das viagens a Jindo e, mesmo assim, quando sugeriu voltar à ilha com ele, não tinha uma traição em mente, se sentia extremamente boba e paranoica quando pensava nessa possibilidade. Talvez houvessem outros fatores e talvez Jihyun quisesse se apegar a eles.

    A bomba da consciência realmente estourou em seu colo quando, naquele sábado atarefado, descobriu que Kyungsoo não usava nem mesmo metade do tempo que gastava na ilha para os preparativos do casamento. Kyungsoo, aparentemente, mentia, de forma dissimulada.

    — Como assim vocês não receberam contato a respeito desse casamento? Eu fui informada de que até o cardápio já havia sido decidido — Jihyun perguntava, desacreditada, a uma das únicas companhias de buffet da cidadezinha. Ela não estava só irritada, ela não podia acreditar, estava decepcionada.

    — Eu sinto muito, senhorita, nós podemos fazer todo esse processo agora. Nós ainda temos disponibilidade para a data — a atendente respondeu, compreensiva.

    — Você tem certeza que não está equivocada? Talvez o evento esteja marcado em outra data na sua agenda. — Jihyun tentou pesar os fatos e ser o mais racional possível, mesmo que por dentro fosse pura confusão e paranoia.

    — Tenho certeza, senhorita, nós temos um controle muito estrito das nossas datas.

    — Tudo bem, eu… volto em outro momento. Obrigada — ela respondeu, atordoada demais com a questão.

    Não sabia como proceder naquele momento, se devia cobrar isso de Kyungsoo, se devia se manter quieta e tentar descobrir o que estava acontecendo por conta, se devia perdoá-lo, por Deus, perdoá-lo pelo quê? Jihyun já não sabia mais o que era certo ou mera criação de sua mente preocupada. Não sabia qual caminho deveria seguir para salvar um casamento que nem ao menos havia começado.






    No domingo daquele mesmo fim de semana, disposta a agir normalmente com Kyungsoo e observá-lo de perto, como sempre fazia, Jihyun propôs que visitassem Baekhyun, talvez o amigo soubesse e demonstrasse saber de algo, talvez Kyungsoo agisse de forma diferente com Baekhyun, talvez demonstrasse e revelasse mais.

    Já Kyungsoo, disposto a não contrariar Jihyun em nada naquele momento, sofreu ao ligar para Baekhyun na noite anterior, a voz e peito carregados de receio e constrangimento. Não queria aparecer diante de Baekhyun com a noiva ao lado, não queria, morreria se isso tivesse que acontecer, morreria se tivesse que ver mais uma vez uma expressão magoada no rosto de Baekhyun, mesmo assim, ligou e, surpreendentemente, como se soubesse do que se tratava daquela vez, Baekhyun atendeu.

— Somos amigos, não somos? — ele havia perguntado, com seu conhecido tom de falsa indiferença, assim que Kyungsoo o questionou se a visita seria um sofrimento.

    Não, Kyungsoo quis dizer, não chegamos nem perto de amigos e tudo o que eu queria agora era ficar sozinho com você mais uma vez.

    — Certo, até amanhã então, Baekhyun — respondeu, no entanto.

    Quando chegaram à grande mansão naquele começo de tarde, Kyungsoo sentiu no fundo do peito o estranhamento por ter que ser anunciado ao anfitrião, como a visita impessoal que não costumava ser. Sentiu também o desconforto no olhar e jeito de todos os empregados com quem cruzou, empregados que não deviam saber de nada, mas sabiam.

    Conseguiu identificar no rosto de Baekhyun a expressão contrariada que usava antes de sorrir, quase dissimulado, para Jihyun, todo ressentimento, tristeza e nervosismo indo embora assim que ele percebeu o casal se aproximando. Em um piscar de olhos.

    — Senhorita Nam Jihyun, é um prazer te rever — ele disse, logo beijando sua pequena mão esquerda. — Por que demorou tanto para me visitar?

    — É um prazer para mim também te rever, Baekhyun-ssi — ela respondeu, ainda um pouco acanhada. Sempre se sentia assim nos primeiros momentos ao redor de Baekhyun. — Você sabe, os preparos para o casamento têm sido uma verdadeira bagunça… — Riu, envergonhada.

    — Eu sei, Kyungsoo comenta bastante sobre isso — ele disse, os olhos grudados nos de Kyungsoo, que os desviou, o rosto e orelhas corados em vergonha e paixão, Baekhyun era apaixonante.

    Kyungsoo limpou a garganta e se aproximou.

    — Pois é. — Soltou um riso sem graça, estendendo a mão para Baekhyun. — Olá, de novo…

    Baekhyun retribuiu o aperto de mão e os olhos vacilaram por um segundo. Manter aquela atuação o enojava profundamente, não queria nem mesmo parecer com um amigo de Kyungsoo. Queria poder ser apresentado como seu par, assim como Jihyun era.

    Respondeu ao cumprimento com apenas um sorriso.

    — Me diz, que dia a cerimônia acontece? Eu estou convidado? — Baekhyun perguntou, sentando no sofá da primeira sala e gesticulando para que os dois sentassem também.

    Olhando de fora, qualquer um diria que Baekhyun parecia escuso, Kyungsoo, no entanto, via nele um interesse quase inocente, ele realmente queria saber se seria lembrado naquela ocasião. Seu peito apertou apenas com o pensamento de deixar o Byun de lado, de deixar que o casamento acontecesse, que Baekhyun fosse um dos convidados.

    — Eu vou ao banheiro — ele disse, de repente, se levantando e seguindo em direção ao corredor mais próximo. Baekhyun e Jihyun o olharam surpresos, mas a noiva se pôs a responder a pergunta assim que ele sumiu pelo corredor.

    Quando chegou ao cômodo, Kyungsoo imediatamente ligou a torneira e enfiou as duas mãos na água fria, respirando fundo antes de lavar o rosto com cuidado. Precisava focar no que havia proposto a si mesmo; esquecer Baekhyun, se manter longe, se dedicar à Jihyun. 

Por que tudo se tornava tão difícil quando o olhava nos olhos? Quando via seu rosto bonito e masculino, sua boca pequena e olhos caídos. Quando estava em contato com sua aura tão jovem… Baekhyun parecia tão jovem em alguns momentos, era quase como um pecado fazê-lo sentir algo além de felicidade, assim como é quase um pecado fazer uma criança chorar. Era tão difícil. Kyungsoo estava constantemente atraído por Baekhyun, quase como se ele fosse seu destino, era tão difícil se manter distante.

— Kyungsoo? Você está aí? Tudo bem? — Apenas quando ouviu a voz de Jihyun soar por detrás da porta, percebeu que estava há tempo demais se encarando no espelho, com o rosto já quase seco.

— Sim, tudo bem, só… me distraí aqui. — Riu, logo secando o rosto e abrindo a porta. — Algum problema?

— Não, é só que a senhora Lim, uma das cozinheiras, vai até uma plantação de morango próxima daqui e eu quero ir junto, pedi até para ela me esperar. Ela disse que os morangos não são tão bonitos, mas que a paisagem é linda e eu quero dar uma olhada, talvez seja um bom lugar para tirar fotos, nós temos que fazer nosso pre wedding logo — ela explicou animada, enquanto voltavam juntos até a sala. Baekhyun não estava mais lá.

— Baekhyun te pediu para acompanhá-la? — perguntou, baixo e de cenho franzido. Se sentia um pouco ridículo e vaidoso em pensar que talvez essa fosse uma tentativa de Baekhyun de fazê-los ficarem sozinhos.

— Não — ela respondeu também de cenho franzido, confusa.

Kyungsoo pensou por alguns segundos nos riscos e vantagens de ficar aqueles poucos momentos sozinho com Baekhyun, depois de duas longas semanas de desprezo e a decisão pessoal de que eles não teriam mais nenhuma ligação. Kyungsoo estava a um passo da miséria, mesmo que estivesse também a um passo da redenção.

— Tudo bem — respondeu, confirmando também com a cabeça. — Onde está Baekhyun, aliás?

— Na cozinha provavelmente, eu não sei. A senhora Lim está me esperando na porta, eu volto logo — ela disse por fim, o beijando rapidamente e saindo apressada pela porta da frente.

Kyungsoo se sentiu perdido por um segundo, não sabendo para onde devia ir ou olhar. Pensou em se manter sentado naquele sofá até Baekhyun voltar de onde quer que estivesse, talvez pudesse colocar uma música no toca-discos antigo dele, mas percebeu que o Byun podia não gostar que ele tomasse essa liberdade. Decidiu procurar por Baekhyun, talvez aquilo pudesse dar certo, ele havia dito que eram amigos, talvez ele realmente estivesse sendo sincero, talvez quisesse.

Kyungsoo passava pela divisória entre a sala de jantar e a cozinha, quando foi surpreendido por um baque e a sensação gelada de um líquido escorrendo por sua camisa, o som de vidro se quebrando soando forte pelos ouvidos. Baekhyun carregava três copos carregados de suco de pêssego quando, distraído, esbarrou em Kyungsoo e derrubou um dos copos no chão pelo impacto.

— Ai meu Deus, que bagunça! — Baekhyun soltou, exasperado. Kyungsoo reparou que ele também estava molhado com o suco. — Me desculpe, Kyungsoo, eu realmente não te vi.

— Tudo bem… acho que a gente tem que se limpar — Kyungsoo disse, rindo sem graça enquanto apontava para a própria camisa.

— Claro, eu… eu vou buscar um pano. — Kyungsoo pôde reparar no tom nervoso e agitado de Baekhyun, sabia que era difícil para ele que conversassem normalmente. — Jihyun, onde está?

— Ela já foi — respondeu. — Até à plantação de morangos… — completou depois.

— Você pode segurar esses copos? Eu vou pegar um pano na cozinha e pedir para alguém limpar essa bagunça, só um minuto…

Assim que Kyungsoo confirmou, Baekhyun o passou os dois copos ainda meio cheios, não reparando no pedaço quebrado de um deles. Quando eles chegaram às mãos de Kyungsoo, uma dor leve se fez presente e sangue escorreu, havia cortado um dos dedos da mão esquerda no copo trincado.

— Porra… — Kyungsoo reclamou em voz baixa.

— Droga! Calma… — Baekhyun pediu, perdido, mesmo que Kyungsoo demonstrasse estar calmo. — Vamos deixar a limpeza para depois, seu dedo está sangrando muito, eu tenho um kit de primeiros socorros num dos banheiros. Deixe esses copos no chão mesmo. — Respirou fundo. — Senhora Jung, tem vidro quebrado no chão da sala de jantar, tome cuidado! — Baekhyun gritou em direção à cozinha e recebeu um resmungo em resposta. — Venha! — disse, quase estendendo uma das mãos para que Kyungsoo pegasse, mas recuando logo em seguida.

Kyungsoo apoiou o dedo machucado na palma da outra mão e o seguiu quieto até as escadas. Se tornou apreensivo assim que notou que iam em direção ao quarto de Baekhyun.

    — Eu acho que o kit está no meu banheiro, eu costumo deixar ele aqui, você sabe, meu nariz sangra no calor — Baekhyun comentou risonho, assim que eles entraram no quarto. Seu sorriso se desfez e o rosto avermelhou ao perceber que não era essa a faceta que devia manter com Kyungsoo a partir daquele momento. Kyungsoo sorriu e assentiu mesmo assim, encantado por ter a atenção de Baekhyun. — Pode se sentar na cama, eu já volto.

    — Tudo bem — respondeu, logo voltando a atenção para o dedo que sangrava até demais, formando uma poça vermelha na palma da mão direita. Quando Baekhyun encontrou o kit e voltou ao quarto, pediu que Kyungsoo lavasse o corte e todo aquele sangue.

Quando se sentaram ao lado um do outro na cama, um sentimento nostálgico e elétrico se instalou. Fizeram amor tantas vezes naquela cama e, mesmo assim, parecia confortável como nunca estar ali.

— Me dá sua mão — Baekhyun pediu baixo. Passou soro fisiológico na ferida e Kyungsoo chiou. Riu baixo. — Como você é mole, isso nem arde.

Kyungsoo riu também e não facilitou o trabalho de Baekhyun, puxando a mão e reclamando sempre que possível. Às vezes corria os olhos até o rosto de Baekhyun e se perguntava se devia tocar no assunto, achou melhor não.

— Pronto — ele avisou, assim que terminou o curativo no dedo.

— Obrigado — Kyungsoo respondeu simplesmente e Baekhyun, por fim, perdeu a paciência com todo aquele fingimento que sustentavam.

— A gente realmente não vai falar sobre isso? — perguntou, se sentando de forma mais distante de Kyungsoo na cama.

— Eu achei que você não quisesse mais falar sobre isso.

— Kyungsoo, eu estou tão… magoado com você — Baekhyun sussurrou, os olhos rasos d’água cortando a alma de Kyungsoo em duas. — Eu realmente fui só uma aventura, não fui? Eu não entendo por que não consigo te odiar.

— Não! — Kyungsoo soou desesperado. — Não, não, Baekhyun, eu te amo; te amo, entendeu? — declarou com toda a certeza que tinha, mesmo não ousando se aproximar.

— Mas você vai se casar com ela… — Kyungsoo negou com a cabeça, rápido em se desfazer das próprias convicções como nunca foi, como só Baekhyun o fazia ser. — Vai sim! — Baekhyun insistiu, a garganta cansada pelo choro preso. — Trouxe ela até aqui, Kyungsoo, foi um basta.

— Não, Baekhyun, tenta entender, eu… eu preciso de tempo para fazer isso acontecer, não é fácil acabar um relacionamento de anos assim, um noivado, os preparativos de um casamento, mas eu vou fazer isso. — Buscou desesperado por Baekhyun, o abraçando pela cintura. Baekhyun se aconchegou mais perto, sua respiração quente batendo no pescoço de Kyungsoo. — Eu não sei como eu posso ser feliz sem você, eu já entendi tudo, sei que não vou ser feliz nesse casamento, mas existem tantos poréns, é tão difícil.

Kyungsoo apertou os olhos, inspirando o perfume de Baekhyun com força, o abraçando mais apertado. Baekhyun se aproximou mais, passou as pernas sobre as de Kyungsoo e se sentou sobre suas coxas. Desfez o abraço e segurou Kyungsoo pelos cabelos, como se precisasse disso para se manter vivo.

— Kyungsoo… — chamou. — Você tem que me prometer, eu quero que você me prometa — disse, contra o rosto de Kyungsoo. — Quero que prometa que não vai se casar, que vai ficar comigo, que vai deixar com que nós três sejamos felizes, eu, você e Jihyun. — Kyungsoo assentiu freneticamente, segurando Baekhyun pela camisa.

— Eu prometo, eu prometo… — Fechou os olhos para sentir melhor a presença de Baekhyun ali. Estar com ele era como um vício, mas, principalmente, um alívio. — Eu prometo — disse mais uma vez, a boca junto da de Baekhyun.

Quando eles se beijaram, lenta, molhada e sensualmente, a promessa pareceu selada. A partir daquele momento, estavam a um passo do paraíso ou do inferno, ao mesmo tempo ou não, de uma forma ou outra, eles sabiam, chegariam a algum lugar.

Chapter 6: 6° Capítulo

Chapter Text

— Você não acha que Kyungsoo passa tempo demais na casa do seu patrão, senhora Lim? — Jihyun perguntou, enquanto andava ao lado da senhorinha entre as folhas e morangos verdes, o chapéu que a empregada de Baekhyun havia dado a ela quase voando da cabeça com o vento forte que vinha do mar, de longe. Senhora Lim lutava para encontrar um morango maduro e, na opinião dela, Jihyun só atrapalhava, fazendo perguntas que ela não podia responder.

— Senhorita Jihyun, o que eu acho não importa — ela respondeu evasiva. Jihyun sentiu-se frustrada.

— Mas… quando ele vem para a ilha, ele costuma passar muito tempo lá? Ou você o vê pouco? — insistiu, determinada a descobrir se, afinal, Kyungsoo fazia realmente o que dizia fazer quando estava lá.

 Se ele passava pouco tempo com Baekhyun, então devia passar muito tempo com outra pessoa.

— Ele costuma estar sempre lá, senhorita Nam — a empregada respondeu por fim e Jihyun soltou o ar que nem sabia que prendia, sentindo-se, em partes, aliviada.

Qual era o problema então? O que havia de errado?

— E… eles… — Jihyun buscava um questionamento que não conhecia, qualquer coisa que a trouxesse respostas, precisava saber. — Senhora Lim, eu tenho que ser sincera — Resolveu confessar. — Tenho medo de que o Kyungsoo esteja me traindo.

Jihyun pôde ver a velha senhora parar o que fazia e endireitar a própria postura. Mesmo assim, ela nada disse.

— Você sabe, por favor, eu imploro, me diga se souber… Você sabe se alguma mulher tem o visitado na casa de Baekhyun? Está tudo bem, eu te juro, ninguém vai saber que foi a senhora quem me contou, eu faço questão de manter total sigilo sobre isso, mas… eu preciso saber! — pediu, soando desesperada mais para convencer a senhorinha do que qualquer outra coisa.

Senhora Lim balançou a cabeça em profunda desaprovação, incomodada por ser enfiada em meio àquela bagunça e ainda mais por não querer dizer o que sabia.

— Senhorita, não tenho nada a dizer, mas às vezes, nossos problemas não estão longe, estão debaixo do nosso próprio nariz — ela respondeu, enigmática o suficiente para que Jihyun não entendesse o que ela queria dizer no momento. — Vem, está na hora de voltarmos.

 


 

Quando ouviram o barulho de uma das portas do andar de baixo se abrindo e a voz de Jihyun soar animada, Kyungsoo e Baekhyun se desvencilharam. Não haviam iniciado algo muito físico, sabiam que Jihyun voltaria logo, conheciam seus limites - ou assim costumavam pensar.

Estavam deitados na cama confortável, se olhando mais do que qualquer coisa. Se dissessem a Kyungsoo há algum tempo atrás, jamais acreditaria que se tornaria tão romântico e piegas por alguém, nunca havia sido assim, nem com Jihyun.

Viu o olhar de Baekhyun estremecer, como sempre acontecia quando a noiva estava por perto.

— Chegaram — ele sussurrou, enquanto os polegares ainda corriam, hesitantes em se afastar, pelas bochechas de Kyungsoo.

— Sim… — Kyungsoo respondeu, apenas por não saber o que fazer naquele momento.

Queria - e sabia que Baekhyun também - não ter que se desvencilhar dele nunca, queria que fossem oficiais e um do outro apenas. Queria muito.

— Kyungsoo? Baekhyun-ssi? — Jihyun chamou das escadas e Baekhyun, ao ouví-la, se sobressaltou, levantando da cama e empurrando Kyungsoo para que fizesse o mesmo. Kyungsoo o fez meio desesperado, mas acabou rindo quando quase caiu no chão.

Quando Jihyun chegou à porta, encontrou um Kyungsoo de expressão feliz e roupas bagunçadas e um Baekhyun que tentava segurar a risada. Pareciam a caricatura da pura satisfação, mesmo que carregassem em si toda a sua ainda desconhecida desgraça.

— O que vocês estavam fazendo? Seu cabelo está uma bagunça — ela disse também rindo, levando as mãos até o cabelo curto de Kyungsoo, pronta para arrumá-lo.

Baekhyun desviou os olhos e o sorriso de Kyungsoo se esvaiu sem querer, mas logo ele reparou seu erro, voltando a sorrir para a noiva.

— Baekhyun estava fazendo besteira, como sempre… — respondeu, brincando.

Mais tarde naquele dia, quando o casal já havia ido embora, Baekhyun tomou banho de mar sozinho, pensando no quão bom seria se as ondas o levassem para outro momento, outra situação, outra realidade. A promessa de Kyungsoo, no entanto, continuava firme em sua memória. Para ele, era muito difícil deixar de acreditar no que sempre vinha e se apresentava como a maior das felicidades.

 


 

Desde que haviam voltado da ilha, um incômodo constante não deixava de mastigar e mastigar o peito de Jihyun. Agora não mais apenas a desconfiança se estabelecia, mas também a consciência de que havia algo escondido e a certeza de que se ela se esforçasse para descobrir, descobriria.

Kyungsoo agia mais estranho a cada dia, desviava de suas investidas e de qualquer assunto que envolvesse o casamento, e logo em seguida colocava toda a culpa no estresse com a finalização do caso, que a cada dia se encaminhava para um desastre. Jihyun, no entanto, sabia.

Fazia mais de um mês que Jihyun havia começado um embate pessoal sobre a curiosidade e desconfiança que a corroía. Queria invadir a privacidade de Kyungsoo e era tudo o que sabia. Parecia instintivo, um impulso com o qual às vezes não conseguia lutar, muitas vezes impedido só pela falta de oportunidades.

Resistiu até que a vontade corrosiva e a oportunidade se uniram, em uma noite estressante e cansativa para Kyungsoo que, numa das centenas de sessões de júri para decidir o destino da KPA, havia tido um dos dias mais difíceis. Naquela noite, Kyungsoo nem mesmo comeu, só tomou banho e deitou, exausto, na própria cama. Jihyun até tentou começar uma conversa cuidadosa sobre questões importantes, mas Kyungsoo, levado pela aspereza indesejada e incontrolável que havia adquirido, disse que estava cansado e dormiu profundamente.

Jihyun, durante uma hora e meia, olhou com toda a força do próprio ser para o celular do noivo, que permanecia intocado na cômoda ao lado da cama. Ela sabia que, mergulhado na inconsciência como Kyungsoo estava, poderia levar a digital da mão direita dele até o botão de desbloqueio sem acordá-lo. Era tão fácil e tão oportuno, uma pequena ação para uma grande consequência, poderia se livrar de um peso ou confirmar as suspeitas que mantinha.

Quando decidiu o fazer, Jihyun orou aos céus para que não encontrasse nada. Apesar de tudo, queria que Kyungsoo apenas estivesse estressado com a fase conturbada da própria vida ou se questionando, de forma totalmente natural e humana sobre sua vontade de casar naquele momento. Jihyun entenderia tudo, tudo, só não queria que houvesse outra pessoa no coração e cabeça de Kyungsoo, não queria carregar o peso dessa dor e mágoa que começava a nascer - até o momento, infundado - no próprio peito.

Kyungsoo resmungou quando teve o braço cuidadosamente puxado da posição em que descansava, mas não chegou nem perto de acordar. Na barra de notificações da tela de bloqueio, havia uma mensagem de Baekhyun, o conteúdo ficava oculto ali e essa foi a maior motivação para que Jihyun decidisse desbloquear o celular. Sabia que se alguém estava por dentro de todo e qualquer segredo de Kyungsoo, esse alguém era o amigo e confidente. Imaginava tudo o que podia encontrar ali, todas as confidências e toda a ajuda que o Byun devia prestar para que Kyungsoo se encontrasse com a amante.

Nada a preparou, no entanto, para o que realmente encontrou.

Assim que conseguiu ler a última mensagem mandada por Baekhyun, ainda na barra de notificações do celular agora desbloqueado, uma sensação de enorme estranhamento misturada a um alívio momentâneo atravessou seu corpo.

Você tá muito cansado?? Por favor descansa e me liga amanhã, eu sinto tanto a sua falta nesses dias, só queria te ver. Sonhe comigo kk. Te amo.

A mensagem não trazia nada que piorasse as desconfianças que Jihyun mantinha a respeito de Kyungsoo e isso a aliviou inconscientemente por dois segundos, até que ela reparou totalmente no conteúdo incômodo que encontrou ali. Baekhyun não falava como amigos normalmente falavam.

Jihyun, por alguns momentos, pensou ser totalmente paranóica. Baekhyun era naturalmente afetuoso e ele e Kyungsoo eram realmente grandes amigos, não havia o que estranhar, estava tudo bem. Mesmo assim, agora que possuía a oportunidade, queria tirar a prova todas suas desconfianças, cada uma delas.

Selecionou a notificação de mensagem sem se preocupar com a confirmação de leitura que apareceria do outro lado, sem se preocupar com nada além da possibilidade de Kyungsoo acordar. Apertou os olhos fechados com força, enquanto deixava o dedo rolar e a levar até o começo da conversa, abrindo-os vez ou outra e percebendo que o começo nunca chegava, eles se falavam muito por ali.

Em uma das vezes em que abriu os olhos, algo a chamou a atenção. Seu coração pulou com força descomedida ao perceber o conteúdo de uma das muitas fotos que Baekhyun havia enviado a Kyungsoo.

Pensando em você, a legenda dizia, acompanhada de um coração, e Jihyun piscou os olhos e até mesmo beliscou o próprio braço para ter certeza de que estava acordada e consciente, ter certeza de que não estava ficando louca ou vendo errado.

Na foto, apenas uma parte muito específica do corpo de Baekhyun aparecia. Ele não tinha nada no corpo além da roupa íntima e estava - tão claramente que Jihyun desejou não ver -excitado, uma mancha pequena de excitação molhando o tecido da cueca, uma mão apertando a própria coxa, que estava levantada, com força.

Jihyun, em seu desespero, quase bloqueou o celular novamente, ao invés disso, pressionou a tela no colchão com rapidez. Os olhos arregalados e as mãos tremendo diriam facilmente que ela havia cruzado com um fantasma, um monstro, e que qualquer coisa seria melhor do que aquilo. Seus olhos assustados choraram sem que ela percebesse quando se deixou ler as outras mensagens.

Vontade de te chupar inteiro, a resposta de Kyungsoo à foto dizia, provando a ela que não se tratava de uma brincadeira de mau gosto, uma piada entre amigos. Não. Nada ali parecia uma piada entre amigos, eram meses e meses de um caso não velado, eles nem tentavam velar, oh meu Deus, Jihyun não via porque não queria ver, muito preocupada procurando por uma mulher entre as brechas de Kyungsoo, como havia sido burra, como havia sido cega!

Naquela noite, sentada no chão da cozinha pelo medo de acordar Kyungsoo se continuasse perto, ela viu tudo, das declarações apaixonadas às mídias pervertidas, das promessas de Kyungsoo aos desabafos exaustos de Baekhyun e se odiou a cada segundo por nunca ter notado, por ter deixado que Kyungsoo a enganasse daquela forma, quem ele pensava ser? Pervertido, nojento, egoísta, canalha. O nojo e raiva por ele subiram pela garganta fazendo um choro desesperado derrubá-la. Jihyun tentou tapar a boca e fazer menos barulho, mas não conseguia, não conseguia mais pensar em nada.

O celular já havia se bloqueado sozinho quando ela, em seu desespero, ouviu Kyungsoo se levantando da cama. Escondeu o aparelho debaixo das pernas e tentou não fazer nenhum barulho, o que não teve muito efeito já que Kyungsoo provavelmente notou sua ausência e foi procurá-la.

— Amor, o que faz aí? — a voz sonolenta de Kyungsoo soou, fazendo um sentimento horrível revirar o estômago dela.

Jihyun pigarreou porque não confiava na própria voz e forçou um sorriso, mesmo que qualquer pessoa pudesse notar que ela chorava.

— Estava conversando com mamãe — mentiu, logo se arrependendo da desculpa que usou, já que pensar na mãe a fez derrubar mais uma lágrima. Sentia saudade, queria seu colo.

Kyungsoo, de onde estava, sentiu-se péssimo por vê-la chorar, sabia que estava fazendo aqueles dias serem difíceis para ela também, sabia que era tão culpado que não merecia dela nem um sorriso, nem mesmo perdão. Se ajoelhou em sua frente e segurou o rosto dela com carinho.

Jihyun sentiu ainda mais raiva e nojo.

— Não chore, odeio te ver chorar — ele disse, encostando a testa na dela, que o fitou com os olhos chorosos, a expressão séria e melancólica. — Vamos dormir, amanhã é um novo dia e nós estaremos melhores.

— Tudo bem — Jihyun respondeu, simplesmente, sem conseguir mostrar mais nada além de indiferença e tristeza naquele momento.

Kyungsoo a ajudou a se levantar, na confusão do sono nem mesmo percebendo que o celular que Jihyun carregou na mão até a cômoda do quarto não era o dela.

Naquela madrugada, olhando para o nada no escuro do quarto e abraçada por Kyungsoo - que estava em mais um daqueles momentos em que achava que podia seguir em frente com o casamento, que podia resistir ao que mais queria e que era levado a fazer -, Jihyun pensou e pensou em como lidar com a situação em que se encontrava. Se devia contar a Kyungsoo que havia descoberto e acabar com tudo logo - por mais doloroso que fosse, afinal, tinham um casamento se aproximando, tinha um sentimento ainda vivíssimo por ele - ou manter tudo aquilo, talvez para sempre, talvez até o casamento, talvez até a semana seguinte.

Tudo o que sabia é que Kyungsoo não deveria sair ileso por desperdiçar seu tempo.

 


 

— Você já sabe, Kyungsoo, não há mais ao que recorrer — Jongdae dizia para um Kyungsoo conscientemente desesperado, que segurava a cabeça entre as mãos e tentava encontrar uma solução para que ao menos as penas milionárias de seu cliente fossem reduzidas.

Havia chamado Jongdae para acompanhá-lo na última audiência, junto de toda a enorme equipe de marketing e segurança do cliente, precisava de um bom conselheiro e alguém que, naquele momento, pensasse mais racionalmente caso o promotor complicasse as coisas. Naquele momento, uma pausa na audiência havia sido feita e a última coisa que Ha Junsu queria era ouvir conselhos jurídicos, por isso havia se isolado em uma sala qualquer.

Do lado de fora, Jongdae e Kyungsoo conversavam.

— Senhor Cho vai me demitir — Kyungsoo murmurou, ainda com o rosto entre as mãos.

— Não seja bobo, parece uma criança com medo de ser castigada. Ele não vai te demitir, talvez só te afastar do caso depois da prisão.

— Todo esse esforço não vai valer de nada, Jongdae. Você sabe há quanto tempo eu tenho trabalhado, pegando os casos mais complicados, para perder minha credibilidade com ele assim? Eu já vejo a forma como ele me trata desde que os recursos para a defesa desse idiota vêm acabando, você o conhece, ele me despreza agora. Eu tomei responsabilidade por esse caso e o fiz acreditar que conseguiria ganhá-lo — Kyungsoo desabafou, como se apenas naquele momento percebesse o patrão mesquinho e sujo que possuía.

— Kyungsoo, você mesmo me disse, ele praticamente jogou o caso sobre você quando ele era bem menor e menos complicado, você não tinha como negá-lo — Jongdae soou compreensivo, não gostava de ver covardia e autodepreciação com os próprios olhos e gostava de Kyungsoo.

Kyungsoo o olhou com olhos perdidos e cansados.

— Jongdae, a minha vida está acabada — disse.

E mesmo que Jongdae tivesse acenado com a cabeça em indignação, ele sabia que Kyungsoo não falava apenas do caso perdido.

Faltavam apenas dois meses para o casamento e Kyungsoo se mantinha sem dar um passo. As coisas continuavam sendo planejadas, pagas, feitas. Baekhyun continuava o esperando.

— Você tem que tomar a decisão certa, cara — foi tudo o que Jongdae disse, antes que Ha Junsu saísse pela porta, os olhos inchados sendo disfarçados pelo rosto duro e egóico.

Naquele começo de noite, quando o juiz emitiu a sentença, Ha Junsu foi condenado a 20 anos de prisão em regime fechado e o pagamento de 574 milhões de wons ao Estado. Kyungsoo perdeu um dos casos mais rentáveis da prestigiada empresa de advocacia em que trabalhava e assinou, moralmente, a própria saída.

 


 

Baekhyun olhava atentamente para o mar naquela noite estrelada. Era bonito como poucas coisas costumavam parecer para ele nos últimos dias, onde uma incerteza melancólica o assombrava noite e dia. De certa forma, o Byun deveria saber que entregou sua vida nas mãos de um amor não era correto e muito menos esperto, mas se tratando de um amor antigo, que era para acontecer há muito tempo e teve uma nova chance, como não se entregar?

Desde que a tristeza por não receber respostas positivas de Kyungsoo apareceu, o mar, seu grande amigo por tantos anos, parecia o chamar de maneiras erradas. Ele sempre chacoalhava a ideia absurda para longe, mas em alguns lapsos de pensamentos profundos, pensava que não havia mais felicidade para ele longe de Kyungsoo novamente. Estava fadado à solidão, como seguiria sem ele agora que o amava mais do que tudo que já teve?

De certa forma, Baekhyun sabia que entregar a vida nas mãos de um amor proibido, que muito provavelmente não aconteceria, era uma das piores decisões que havia tomado.

Mais cedo, Kyungsoo havia ligado, parecia triste e disse que havia perdido o caso e tinha medo das consequências. Baekhyun, brincando, disse que possuía dinheiro o suficiente para os dois, mas que para isso eles precisavam viver juntos.

Baekhyun normalmente tinha receio de cobrar de Kyungsoo respostas que ele sabia que o decepcionariam, mas naquele ponto, precisava saber o que esperar, se ainda devia esperar, se estava apenas perdendo tempo.

— Ou talvez eu seja só mais um convidado que vai te dar um presente caríssimo na sua festa de casamento… — soltou, amargo, mas decidido a falar. Baekhyun estava impaciente.

Baekhyun… agora não é uma boa hora para mim — a voz cansada de Kyungsoo soou do outro lado.

— Não, Kyungsoo, nunca é uma boa hora, eu já entendi que esse noivado não vai acabar, não há dois meses de um casamento, e eu… realmente quero pelo menos ser alguém que vai te dar um bom presente, eu te amo, quero que seja feliz — apesar do sentimento verdadeiro, a voz de Baekhyun soava tudo, menos sincera. Havia muito amargor ali e Kyungsoo se sentiu terrível por isso.

Para! — falou o mais alto que conseguia sem chamar a atenção de ninguém, já que havia descido até a calçada do prédio para ligar a Baekhyun. — Eu te prometi, não prometi? É só… realmente tô num momento difícil, numa situação difícil. Baekhyun, você não tem noção do quanto é difícil e eu não te cobro compreensão, eu… só espero um pouco mais de paciência — Kyungsoo disse, sentando-se no meio-fio e esfregando o rosto com as mãos, exausto.

Ao ouvir aquilo, Baekhyun se sentiu amolecido, ao mesmo tempo que indignado. Conseguia olhar pelo lado de Kyungsoo, mas sentia que ele não podia fazer o mesmo. Sentia como se estivesse esperando retorno de alguém que nunca estaria totalmente comprometido com ele.

— A minha paciência acabou! — ele disse, de uma vez, em um lapso de raiva, em seguida desligando o telefone na cara de Kyungsoo.

Enquanto normalizava a respiração desregulada e o peito acelerado, Baekhyun pensou e repensou no impulso que teve. Kyungsoo poderia ter entendido errado, ter pensado que Baekhyun estava desistindo, quando não estava, incrivelmente não estava. Não sabia o que fazer.

Quando o ar faltou e o telefone parou de tocar com as chamadas insistentes de Kyungsoo, foi para fora e se sentou na areia do mar. A noite estava estrelada, o mar o chamava, Baekhyun sentia na boca seca uma necessidade lancinante de beber e ele não sabia que caminho seguir.

 


 

Jihyun, nos últimos três meses, havia aprendido a tomar decisões rápidas e certeiras. Depois de descobrir sobre a traição de Kyungsoo, passou por dias extremamente sombrios e confusos, onde afundada numa tristeza profunda, sem conseguir tomar nenhum passo a direção nenhuma, perguntando-se sobre o que devia fazer.

Naquele ponto, acreditava que até mesmo as decisões mais cruéis eram válidas, Kyungsoo havia destruído, para ela, um sonho e uma felicidade implacáveis.

Três meses haviam se passado desde a descoberta e, aparentemente, para Kyungsoo, tudo corria como normalmente. Ainda se martirizava toda noite, antes de dormir, por não conseguir cumprir, mais uma vez, a promessa que mantinha a Baekhyun, ainda ajudava Jihyun com as preparações do casamento e ainda via nos olhos dela toda a paixão que carregava por si. Se Kyungsoo soubesse da descoberta, diria que havia sido perdoado.

Mas ele não sabia, e também não havia sido perdoado.

Três meses haviam se passado e Jihyun, depois de noites com um coração ferido, decidiu o que faria. Acreditava sim, que até as mais cruéis decisões seriam válidas, mas para ela, o que faria não era nem de perto cruel, era justo. Sabia, depois da descoberta, o quanto Kyungsoo queria desistir do casamento, havia lido todas as mensagens trocadas com Baekhyun no dia seguinte, havia os amaldiçoado das formas mais magoadas. Jihyun não o daria a satisfação de se livrar da linda cerimônia que os esperava, não se ele mesmo não pedisse por isso.

Naqueles últimos três meses, Jihyun havia juntado nas mãos o destino de Kyungsoo: se ele preferia continuar a enganando, então a verdade surgiria diante de todos, de Deus e das famílias. Jihyun contaria tudo na cerimônia de casamento, na igreja, diante do altar e dos pais, e ela sabia, no fundo do peito sabia, que Kyungsoo merecia tudo o que sofreria a partir disso.

Desde que Kyungsoo perdeu o caso, Jihyun sentia uma satisfação dolorosa ao vê-lo sofrendo pela hostilidade do patrão, que antes muito o estimava. Era cruelmente bom vê-lo ostentar uma expressão tão derrotada e cansada nos últimos dias e, apesar de se importar cada vez menos, Jihyun ainda se magoava consigo mesmo por se sentir assim, pois ainda o amava tanto, tanto, e mesmo assim o odiava por não amá-la de volta.

 


 

Baekhyun passava por dias mornos e monótonos há muito tempo, anos talvez, a mesma fatia de solidão preenchendo tão proporcionalmente seu peito.  Nos últimos meses, onde sua capacidade de acreditar que Kyungsoo realmente terminaria o noivado havia acabado, Baekhyun se sentia assim novamente. Agora, para ele, não se tratava de acreditar ou não, se tratava de decidir o que fazer, se ainda tinha forças e respeito próprio o suficiente para ser um amante sem se sentir a pior pessoa do mundo, ou se conseguiria ser plenamente feliz sem Kyungsoo, de novo.

Baekhyun, no momento, preferia ter um período sabático de Kyungsoo, como havia tido também anteriormente, quando haviam brigado. Mesmo assim, ele sabia que se tratava de questão tempo, apenas questão de tempo para que voltasse a falar com Kyungsoo, para que voltasse a vê-lo, a encontrá-lo e ser dele mais uma vez. E então? Seria assim para sempre? Não, não poderia ser. Baekhyun não queria e não podia ser o segredo de Kyungsoo.

Kyungsoo havia lhe feito uma promessa por meses e meses a fio e só a lembrança de que ele estava há semanas de não a cumprir fazia Baekhyun sentir tanta raiva que nos últimos dias tentava se distrair de outras formas, tentava de tudo para não sentir por Kyungsoo algo que não queria sentir, preferia então não sentir nada. Preferia não sentir um fiapo de amor a sentir um amor degenerado, odioso, tóxico.

— Senhor Kang? Acho melhor o senhor ficar aqui dentro, pelo que eu vi o senhor esvaziou a garrafa de whisky, não faz bem ir ao mar assim, ainda mais de noite — Senhorita Jung, uma das funcionárias mais caladas e discretas da casa, aconselhou, assim que viu Baekhyun abrindo a porta que dava acesso à praia, os olhos vermelhos e os braços e pernas leves.

Baekhyun, ao ouvir aquilo, sentiu uma irritação pouco característica subir por sua coluna. Quem se importava, afinal? Se ele morresse naquele mar, todos daquela casa comemorariam. Riu soprado e continuou com o olhar baixo, perdido.

— É Byun — disse, meio irritado e meio risonho, como só um bêbado poderia fazer. Quando ela o olhou com um olhar confuso, fechou mais a expressão. — Meu sobrenome é Byun, eu nunca me casei com Haekyeol. — Riu novamente, ao sentir uma súbita vontade chorar. — Que saudade de Haekyeol, meu Deus, será que nunca serei feliz? — questionou para ninguém em específico, deixando que o choro o acometesse.

— Tudo bem, senhor Byun, tudo bem! Vem, eu te ajudo a subir até o seu quarto — ela respondeu preocupada.

Baekhyun então, começou a rir um riso eufórico, mas quieto, se curvando e balançando o próprio corpo. O tom choroso continuava até mesmo na risada.

— Você me odeiam, não é? — perguntou, ainda rindo. — Têm nojo de mim! Sinceramente, não sei porque você está preocupada, era melhor mesmo que eu, puff, sumisse, e deixasse de ser um incômodo para todo mundo. — Ele encostou o rosto à porta, entre as mãos, assim que a voz voltou a tremer. Uma bagunça de riso e choro. — Será que sou um incômodo para Kyungsoo? — perguntou, parecendo ter uma curiosidade genuína, logo que conseguiu recuperar o tom iluminado na voz. — O que você acha, senhorita Jung? Que horror, o patrão enfiando outro homem nessa casa… Pior, muito pior! Um homem quase casado!

— Senhor Byun… — ela tentou, em vão, acabar com o monólogo doloroso do patrão.

— Você me desprezam, todos vocês, e eu entendo, eu sou nojento, nasci para ser um amante… Que horror, não é? O que a gente não faz por amor, senhorita Jung? Hum? O que a gente não faz? Eu amo ele e todo mundo me odeia. — Encostou novamente a cabeça na porta, enquanto as coisas giravam com um pouco mais de força à sua volta. — Eu amo tanto ele…

— Senhor Byun, por favor, estou preocupada, não vá para fora, vamos dormir, já está na hora — ela pediu agoniada e Baekhyun respirou fundo, com pena. Sorriu ao perceber que ninguém naquela casa estava disposto nem a ouvi-lo.

— Não se preocupe, eu só quero tomar um ar, aproveitei para alugar seus ouvidos. — Soprou uma risada triste, o tom parecendo mais sóbrio agora. — Eu volto em um instante — disse por fim, antes de abrir a porta e sair.

Caminhou, dando o máximo para não desequilibrar, até a areia da praia, onde se deitou sem hesitação, se deixando respirar e observar as estrelas pulsantes. O som do mar o embalou para que adormecesse de forma rápida ali mesmo, na areia.

“O que a gente não faz por amor?”, era o que continuava se perguntando.

 

Chapter 7: 7° Capítulo

Notes:

TW: tentativa (não gráfica) de suicídio

Chapter Text

— Não sei porque te atendi… — Foi o que Kyungsoo ouviu assim que teve uma das dezenas de ligações feitas ao longo da semana atendida por Baekhyun.

Baekhyun, em todo o esforço para parecer na defensiva, dizia não saber, mas a verdade é que sabia. Não conseguia não ceder a Kyungsoo e, naquele ponto, aquilo quase o atormentava. Sabia que teria que resistir em algum momento, com a própria vida se fosse preciso. Precisava deixá-lo para trás, mas não conseguia. 

— Porque sente minha falta, Baekhyun. — respondeu risonho, apesar do tom cansado e do medo de chateá-lo a ponto de que desligasse o telefone. — E eu sinto a sua, o tempo todo… 

— Estou me acostumando à sensação de ficar longe, ou acha que vou ser seu amante, quando você se casar? Prefiro continuar sentindo sua falta para sempre. — disse, amargamente. Do outro lado da linha, Kyungsoo balançou a cabeça em negação.

— Acha que se eu pudesse te esquecer também não teria esquecido? Estou tentando ficar longe, mas parece impossível, sinto que vou enlouquecer a qualquer segundo. — Kyungsoo se odiou por não conseguir expressar nada além das palavras batidas de todo e qualquer amante redimido, mas era exatamente o que sentia. — Quando vai me perdoar? — perguntou baixo, como um segredo só deles.

— Perdoar pelo o quê? — respondeu tão baixo quanto. Havia tanto a perdoar.

— Por ainda não ter conseguido fazer a coisa certa. — Ao ouvir a sentença Baekhyun sentiu que chorava, mesmo sem antes ter dado conta. Continuou com voz e postura impassíveis.

— Você vai viver infeliz se não tomar uma decisão. — respondeu.

— Quero te ver.

— Kyungsoo… não!

— Quero ir até aí, preciso te ver, preciso tomar coragem para fazer isso, por favor. — A linha se calou do outro lado, como Baekhyun sabia que faria, hesitaria. — Por favor… — Kyungsoo pediu novamente.

— Não é uma decisão minha. — disse. — Mas se você vier, não tem como voltar atrás.

E Kyungsoo foi. Com toda a tensão e estranheza estabelecida com Jihyun desde que havia perdido o caso e com toda a pressão que sentia sobre os ombros. Queria dar um tempo, colocar todo o mundo em espera e sabia que só teria coragem para fazer o que havia prometido a Baekhyun se o visse mais uma vez.

Jihyun sabia onde ele estava e talvez o mundo inteiro soubesse, Kyungsoo já não se importava tanto. Quando estacionou em frente ao conhecido portão, sentiu medo, mas também uma firmeza que só podia ser acompanhada pelo próprio temor. Estava cansado, sabia o que fazer.

Baekhyun o olhou da porta, com os olhos magoados e ao mesmo tempo satisfeitos, sim, sim, eles tinham que fazer aquilo funcionar naquele instante, o relógio corria contra os dois.

Quando entrou na grande e vazia casa não se demoraram nem mesmo dois minutos para que Baekhyun se cansasse de avaliá-lo de longe - como se estivesse tentando entender se aquele era o verdadeiro Kyungsoo ou uma possível maléfica cópia - e se aproximasse rapidamente, o segurando pelo rosto e o beijando com força o suficiente para machucar os lábios secos. Kyungsoo correspondeu rapidamente, segurando Baekhyun com força em seus braços.

Baekhyun não queria voltar a aquele estágio, mas sentia que devia, algo sempre o puxava com muita força para Kyungsoo. Naqueles últimos dias decidiu que acabaria com tudo, seja lá qual fosse a decisão de Kyungsoo. Acabaria com tudo.

Naquele começo de tarde, no entanto, eles fizeram amor, "pela última vez" Baekhyun pensou, enquanto sentia o interior de Kyungsoo o apertar com a pressão que só um homem que não costuma ceder à dominação costuma ter. Quando Kyungsoo gozou, com a bunda cheia de Baekhyun e o pênis sendo estimulado com tanto afinco pelas mãos dele, segurou forte no rosto de Baekhyun antes de beijá-lo e dizer:

— Eu te amo, Baekhyun! 

Baekhyun olhou-o de sua posição, acima dele, por bons segundos. A garganta seca, os olhos um deserto, não tinha mais o que chorar. Mesmo assim, o coração ainda transbordava, quase como uma infiltração que ele tentava e tentava consertar, mas não conseguia. 

— Eu também te amo. 

Desde que Kyungsoo havia perdido o caso, tudo o que recebia de Jihyun era um tratamento de quase frieza, não sabia se ela estava apenas se aproveitando disso para machucá-lo, não sabia se no fundo ela sabia de tudo o que acontecia. Precisava se sentir amado de novo, não por qualquer pessoa, mas por Baekhyun.

Mais tarde, sentiu a necessidade de fumar, enquanto Baekhyun dormia como um anjo, apesar da expressão que mostrava o quão preocupado ele andava naqueles dias. Andava com uma cartela entre suas coisas, principalmente nos dias de maior estresse. Às vezes se sentia como uma bomba relógio.

Não se importou em cobrir a nudez quando foi até a varanda e acendeu um cigarro, acordando Baekhyun com o cheiro forte do tabaco. 

Sorriu quando sentiu que ele se enrolava em suas costas, os braços em volta de seu  torso. Sentiu que poderia ser feliz, talvez, ao lado dele. Sentiu, por um momento, que as coisas dariam certo.

— Não gosto quando você fuma. — Baekhyun sussurrou contra sua pele. — Você sabe que isso não vai melhorar em nada o que você está sentindo.

Kyungsoo riu sem vontade.

— Como é que você sabe? - perguntou.

— Porque é óbvio. — Baekhyun respondeu, meio contrariado.

— Você sabe que me contaram sobre seu hábito de estar bebendo constantemente, não sabe? — Kyungsoo achou pertinente pontuar naquele momento. Queria falar disso com ele desde que havia posto os olhos em Baekhyun.

— Eu tenho motivos. — respondeu, simplesmente.

— Quais motivos?

Baekhyun tentou ao máximo não ser tão duro com Kyungsoo, se colocar no lugar dele por um segundo. Mas já estava cansado disso.

— Para começar, o fato de que você se casa em uma semana e eu vou estar sozinho de novo daqui para frente. — disse, simplesmente.

Kyungsoo, ao ouvir aquilo, se desvencilhou de Baekhyun, o puxando para que ele se posicionasse em sua frente.

— Pare com isso agora, eu te prometi, assim que eu voltar à cidade vou contar toda a verdade para Jihyun. 

Baekhyun riu, balançando a cabeça em descrença.

— Eu falo sério, Baekhyun. Quando eu te prometi uma data? Me diz… me diz quando eu fui tão certeiro no que eu tenho para te dizer?

Baekhyun riu de novo.

— Não acredito mais em você, querido. — sussurrou, com puro veneno na voz. Estava se tornando um homem tão amargo, de um jeito que não aguentava mais ser.

Kyungsoo o encarou por tempo demais. O entendendo, mas se sentindo de orgulho ferido mesmo assim.

— Só preciso que espere por mais umas horas. — Kyungsoo respondeu, as mãos segurando o rosto de Baekhyun com força.

— Não! — Baekhyun sussurrou, com força, os olhos pegando fogo. — Eu não quero que faça isso. Não quero te ver de novo, essa é a última vez. Não quero isso de você!

Baekhyun soou quase raivoso, os olhos molhados como o mar janela afora, que rugia, com uma ressaca forte e enfezada.

— Você está bêbado. — Kyungsoo afirmou contrariado, mesmo sabendo que aquilo machucaria Baekhyun.

Ele não estava bêbado.

— Está louco. 

— Nunca estive tão lúcido, meu amor. — Baekhyun disse, deixando que uma lágrima caísse dos olhos magoados e lutando para conseguir respirar em meio ao choro.

— Não pode decidir isso por mim, Baekhyun. — Kyungsoo sussurrou de volta, enxugando as lágrimas de Baekhyun com os dedos.

— Posso decidir por mim. 

Foi a última coisa que Kyungsoo ouviu do outro, antes que ele se desvencilhasse de seu aperto e saísse rápido, quase cambaleante, do quarto. 

Kyungsoo sentiu quase como se um rastro de tragédia acompanhasse os passos de Baekhyun. Conseguiu ver.

Paralisou por alguns segundos, ouvindo Baekhyun derrubar uma garrafa no chão escada abaixo. Vestiu a primeira coisa que encontrou para cobrir a própria nudez antes de decidir correr na direção do outro.

Não o encontrou pelo caminho, tão adiantado ele estava. Mas sabia, Baekhyun havia ido em direção à praia.

Quando saiu porta afora, o coração se comprimindo no peito como se algo o sufocasse, conseguiu enxergar o cabelo de Baekhyun entre as ondas. Nada mais.

— Meu Deus. — sussurrou em choque para si mesmo. Logo correndo. — Baekhyun! — gritou, quando já não conseguia o ver entre as ondas furiosas. O céu começava a escurecer naquele fim de tarde.

— Baekhyun! — gritou mais uma vez, entrando na água cortantemente gelada.

Não sentia nada além do coração quase paralisado em desespero.

Quase se afogou também, tamanha avidez em encontrar Baekhyun ali. Sabia que a chance de encontrá-lo era muito pouca, principalmente porque sabia que ele havia ido para o meio do mar de propósito. 

— Socorro! — gritou, em desespero, precisava de ajuda para encontrá-lo. — Baekhyun! Socorro! Baekhyun está no mar! — gritava para todo mundo e ninguém. Ninguém o ouviria ali.

Foi o mais fundo que pôde, se abaixando quando as ondas mais altas vinham. Sentia que morreriam ali, ele e Baekhyun.

Se aproximou das pedras, num pensamento desesperado de que talvez Baekhyun tivesse pensado que a morte seria mais fácil ali. Quis chorar. Deixou que a água salgada machucasse seus olhos quando mergulhou, à procura dele.

Baekhyun estava próximo à uma rocha, a testa machucada e o corpo já desacordado, afundado na correnteza. Com certeza havia bebido água demais. Kyungsoo orou para que estivesse vivo quando o puxou pelo braço.

Quando saiu do alto-mar, viu que os empregados de Baekhyun estavam na areia, provavelmente paramédicos haviam acabado de chegar.

Levou Baekhyun apoiado nas costas o máximo que conseguiu, o corpo também já fraco, os joelhos machucados e os olhos ardendo. O pulmão pedindo por ar. Começou a chorar de alívio quando viu que alguém vinha a caminho, tirando Baekhyun, desacordado, de suas costas e o ajudando a nadar até a orla.

Tudo o que pensava era que se Baekhyun havia morrido, então que morresse também.

Viu quando o deitaram na areia, fazendo o máximo para se aproximar da cena.

— Ele está vivo? Me diz que está vivo! — suplicava, enquanto um dos paramédicos tentava checá-lo em busca de mais machucados. — Me diga que está vivo! — gritou.

Um paramédico fez com que Baekhyun se desafogasse, vomitando água como se fosse tudo aquilo que possuía no estômago, mesmo que continuasse desacordado.

— Baekhyun! — gritou.

— Senhor, precisamos levar vocês dois ao centro médico. Por favor, isso vai ser o melhor para que possamos assegurar que ele vai ficar bem. — o paramédico que o atendia disse, tentando acalmá-lo, fazendo com que Kyungsoo se desvencilhasse de Baekhyun e o deixasse ser colocado na maca.

Foram levados na mesma ambulância, mas Kyungsoo não o viu mais assim que chegaram ao hospital.

 


 

Precisou de uma noite mal dormida naquele lugar para o deixarem ver Baekhyun.

Ele estava sentado na cama do hospital, parecendo tão jovem quanto nunca, um curativo grande na testa e os cabelos penteados para trás. Kyungsoo o observou por minutos demais pelo vidro da porta. Sua expressão sem vida e sua recusa para comer.

Quando tentou entrar no quarto, foi impedido por uma enfermeira. Baekhyun havia o visto através do vidro.

— Mil perdões senhor, ele disse que não quer vê-lo. Pediu para que a gente não deixe você entrar. — ela disse com pesar.

Kyungsoo abriu e fechou a boca, chocado, não sabendo o que responder. Por que aquilo de repente? Baekhyun realmente estava irredutível no que havia dito? Não havia sido uma decisão tomada em meio ao desespero?

— Ele disse isso? — perguntou, arrasado.

— Sim, senhor. 

Kyungsoo olhou novamente pelo vidro e notou como Baekhyun fazia o melhor para desviar o olhar da cena.

— Pode ao menos me dizer se ele está bem? — perguntou, sem conseguir impedir que as lágrimas se acumulassem em seus olhos.

— Sim, senhor, seu pulmão não sofreu muitas sequelas, felizmente não sofreu um traumatismo grave no crânio. Mas não pode sentir muitas emoções no momento. Por favor senhor, peço que o visite em outro momento. — ela pediu, logo retornando ao quarto.

Kyungsoo foi embora. Talvez se voltasse em outro momento, Baekhyun aceitasse vê-lo. Talvez aquela decisão tivesse sido realmente precipitada e desesperada. Queria acreditar naquilo.

Cumpriria o que havia prometido a ele.

 


 

Quando chegou em casa no outro dia, um curativo no rosto e um olhar determinado, sabia que encontraria Jihyun ali. Ela também soube do que se tratava assim que o viu entrando pela porta. Estavam juntos a tempo o bastante para lerem um ao outro daquela forma.

— Onde você estava? Como se machucou assim? — ela perguntou, com um tom quase seco.

— No mar. — ele respondeu, igualmente sem vida.

Aquele casamento não aconteceria, de qualquer forma, isso se podia dizer de longe. Não havia sobrado ali nada de bom. Kyungsoo se culpava toda noite antes de dormir.

— Com Baekhyun. — ela sussurrou.

— Com Baekhyun. — ele respondeu. 

— Meu amante. — complementou, sem medo. O coração pulando no peito, no entanto.

Jihyun olhou-o diretamente, por tempo demais, ao ouvir a temida palavra. Kyungsoo viu a forma como a expressão dela foi endurecendo.

— Seu amante. — ela respondeu, rindo com amargor.

Logo segurando um dos vasos dispostos na mesa em que estava sentada, antes de Kyungsoo chegar, e o jogando contra ele. Colocando para fora, finalmente, toda a mágoa e raiva que sentia naqueles dias.

Kyungsoo se encolheu só o suficiente para que o objeto não o acertasse no lugar machucado.

— Não podemos nos casar, Jihyun. — ele disse calmamente, novamente. — Não existe pessoa no mundo mais culpada e machucada no mundo por tudo o que fiz com você. Não sei se um dia serei capaz de me perdoar. Não podemos nos casar!

— Você não está arrependido. — ela respondeu, quase gritando em meio ao choro. — Não esteve arrependido em nenhum segundo, Kyungsoo! Você não teve ao menos consideração por mim, por todos esses anos!

— Jihyun… 

— Não! Eu não quero ouvir suas explicações, eu já sei o que aconteceu, você já falou e eu já sei há muito tempo. — disse, se sentando no sofá, enquanto colocava a cabeça em meio às mãos. — Você deveria me agradecer por te dar a chance de se explicar, de se redimir, de contar isso a mim diretamente. Se você não tivesse me dito, eu contaria aos nossos convidados, no dia do casamento. Eu não me casaria de qualquer forma com você. Você me dá nojo. Ódio. Eu te odeio! — ela disse, calma, enquanto olhava para o chão.

— Jihyun. E-eu só preciso que me perdoe. — ele disse, simplesmente, em meio ao choro. Estava tão cansado de chorar.

— Você não tem meu perdão. — ela respondeu, o olhando nos olhos. 

Kyungsoo apenas assentiu. 

— Eu vou pegar minhas coisas e ir embora. Vou cancelar tudo, você fica encarregado de contar aos nossos convidados.

Jihyun instruiu, calmamente, enquanto limpava o próprio rosto, prendia o próprio cabelo e ia em direção ao quarto dele.

Kyungsoo possuía a certeza de que nunca se deixaria viver sem a culpa de ter destruído Jihyun daquela forma. Queria amá-la como no começo, queria dizer a ela que tudo ficaria bem. Queria dá-la um último abraço.

Quando ela saiu de sua casa, sem lançá-lo nem mesmo um último olhar, Kyungsoo sabia. Não viveria nunca mais sem a culpa.

 


 

Kyungsoo não conseguiu dormir naquela noite. Havia ligado para toda a lista de convidados para avisar do cancelamento do casamento. Havia ouvido lamentações, perguntas e até choro, a tarde toda.

No fundo, se sentia muito grato à Jihyun por ter sido delegado à tarefa, por poder inventar uma desculpa ele mesmo, por decidir se expor ou não.

Não conseguia dormir enquanto pensava em tudo o que havia acontecido nos últimos meses. O rumo estranho que a vida havia tomado. 

Poderia culpar Baekhyun por tudo aquilo, por ter aparecido em sua vida de uma hora para a outra e ter bagunçado tudo, mas não se sentia no direito de culpar ninguém. Reencontrar Baekhyun foi uma das coisas mais felizes de sua vida naqueles últimos anos. Valeu a pena como poucas coisas valiam na vida de Kyungsoo.

O que mais o machucava naquele momento, no entanto, não era se sentir sozinho, com a convicção que não tinha nem Baekhyun nem Jihyun, era saber que havia machucado os dois. A culpa era toda sua.

Sabia que Jihyun estava passando um tempo com a mãe e sabia também que a sua família toda já sabia a verdade. Teve certeza disso quando ligou para um tio dela e, ao explicar sobre o cancelamento da cerimônia, teve como resposta um xingamento homofóbico.

Sentia que merecia tudo aquilo, então não tentou lutar contra. Sabia que cada demonstração de desprezo era merecida e sentia como se estivesse se redimindo a Jihyun quando aceitava cada uma delas.

Se perguntava também, a todo minuto, como Baekhyun estava.

No trabalho, nas semanas seguintes, Kyungsoo sabia que tinha o nome correndo pelos corredores. Via como alguns o olhavam com pena, outros em tom quase cômico, outros com desprezo. Tentava se convencer que aquilo tinha mais a ver com o caso perdido do que com o casamento arruinado. Mas teve certeza que não quando, em um dia qualquer, comprimentou um colega com um sorriso simpático e foi respondido com um “sai fora”. 

Uma semana depois, Jongdae o puxou para que almoçassem juntos.

— Você sabe que os boatos que estão rodando pelo escritório são de que você traiu sua noiva com um homem, não é? — ele perguntou despreocupado, enquanto comia. Kyungsoo se engasgou pelo susto repentino. Jongdae riu de leve. — E então, é mesmo verdade? — insistiu, sem medo de parecer invasivo.

Kyungsoo respirou fundo, quase sem medo de falar a verdade, naquele ponto.

— Sim. — disse, cansado, mexendo na própria comida.

— Você é maluco! — Jongdae riu. — Então a pessoa de quem você havia me falado era um homem?

— Surpresa, eu sou bissexual! — Kyungsoo fingiu animação na voz, arregalando os olhos e forçando um sorriso.

— Você é uma caixinha de surpresas, isso sim. — o outro respondeu.

— E você vai se afastar e fazer chacota de mim também? Não estamos mais no colegial, então posso lidar com isso, só preciso que me avise antes. — perguntou, quase irritado. Estava tão cansado de toda aquela merda.

— Ei, calma, não! Somos amigos, digo isso para valer. — Jongdae respondeu. — Só quero saber o que diabos ‘tá rolando agora. Você parece péssimo. Não está com ele, está?

— Não.

— E o que vai fazer daqui para a frente? — questionou preocupado.

— Vou procurá-lo e então vou tentar arrumar as coisas. Se eu não conseguir… — se interrompeu, mexendo na própria comida. — Talvez eu chute o pau da barraca e suma daqui por um tempo.

 


 

Kyungsoo teve a viagem mais intranquila de sua vida quando foi, pela última vez, à Jindo. Se perguntava se Baekhyun o receberia, tudo estava diferente agora, o noivado havia acabado, o casamento havia sido cancelado, não existia mais nada e ninguém no meio deles. Bastava que Baekhyun quisesse.

Antes de ir até a casa do amante, Kyungsoo passou alguns minutos parado em frente a casinha de seu pai. Observando o movimento de crianças ali na frente, se perguntando se o irmão estava em casa e se o receberia se ele batesse ali. Como qualquer ser humano, Kyungsoo se sentia sozinho, às vezes a vontade de voltar ao ninho retornava, mesmo que um ninho tóxico. Essas relações familiares eram complexas demais e Kyungsoo nunca as quis entender. 

Decidiu que faria o que tinha que fazer de uma vez.

Se preocupou quando encontrou os portões do casarão fechados e nenhum sinal de vida em sua volta. Gritou e tentou abrir o portão por conta própria, mas nada aconteceu, estava trancado e a casa parecia vazia.

Tentou ligar para Baekhyun, também, mesmo sabendo que ele não o atenderia.

Se sentou na calçada em frente a casa por um tempo, sem saber muito bem para onde ir, e irredutível quanto a falar com Baekhyun naquele dia mesmo. O mar fazia barulho e ele se arrepiava sempre que se lembrava do episódio passado.

Já escurecia quando uma das funcionário, senhora Lim, passou discretamente por ele, o notando, mas fingindo que não, enquanto tentava abrir o portão sem fazer muito barulho.

— Senhora! — Kyungsoo chamou, se levantando. — Meu Deus, pensei que essa casa estava abandonada. Baekhyun não está aí? — perguntou.

— Não tenho permissão para falar nada a respeito do senhor Kang, senhor. — ela respondeu, ainda parecendo apressada.

— M-mas a senhora me conhece, sabe quem eu sou. — insistiu. Ela continuou sem olhá-lo. — Olha, senhora Lim, eu entendo que ele não queira me ver, entendo mesmo, mas a senhora conhece nossa história, não acha que eu ao menos tenho direito de saber como ele está? — Kyungsoo suplicou, a ponto de chorar.

Não entendia porque Baekhyun fazia isso, não entendia porque ele havia desistido de tudo daquela maneira quando as coisas tinham finalmente se ajeitado. Não entendia metade do que se passava na cabeça de Baekhyun e ainda tentava entender como um relacionamento tão bom para ele havia sido tóxico para o outro a ponto de… de fazê-lo tentar tirar a própria vida.

Havia errado tanto. Às vezes, antes de dormir, se imaginava vivendo uma outra vida ao lado dele, em outra realidade. Felizes.

A senhora em sua frente pareceu amolecer a expressão por alguns segundos, preocupada.

— O senhor Kang… senhor Byun, não está aqui. Há semanas. — ela respondeu simplesmente.

— Onde ele est- espera! Onde ele está? O que aconteceu? — perguntou desesperado, assim que ela tentou entrar portão adentro.

— Senhor Do… — ela começou. — Senhor Byun foi, por conta própria, para uma casa de repouso. Ele estava com a cabeça ruim e resolveu se recolher um tempo. O senhor não pode esperar que eu te diga onde é esse lugar, a última coisa que ele precisa é que o senhor apareça. Na verdade, senhor Do, vou falar como uma pessoa que acompanhou toda a trajetória do senhor Byun: deixe ele viver, não se aproxime mais, nunca mais, ele não precisa viver esse sentimento de novo. Faça isso por ele, senhor. Com licença. — ela disse, de uma vez, parecendo convencida a não responder mais nada. Kyungsoo havia entendido sua mensagem muito bem.

Naquela noite, quando estacionou o carro na garagem do prédio em que morava, Kyungsoo encostou a cabeça no volante e chorou como nunca havia chorado antes. Havia feito mal a Baekhyun, não se perdoaria por isso também. Mais dolorido que saber que havia o perdido era saber que haviam acabado, os dois, de forma tão trágica.

No dia seguinte, não apareceu no trabalho, não saiu de casa, não se levantou da cama, muito perdido entre suas culpas e seus planos. Fazia falta conversar com alguém. Fazia falta saber como Baekhyun estava.

Será que estava mais feliz? Estava se recuperando bem? Pensava nele? Kyungsoo só queria vê-lo uma última vez, só uma última vez… 

 


    

Entrou no prédio em que trabalhava de cabeça erguida naquela sexta-feira, recebeu altivo todo e qualquer olhar curioso e de desprezo, trabalhou normalmente e, no final da tarde, saiu sorrindo do escritório do senhor Cho, seu chefe, com uma carta de demissão nas mãos.

Se sentia livre, de certa forma, andando com mais liberdade enquanto passava em frente a todos seus colegas. Um sorriso despontando em certo momento, talvez estivesse ficando louco.

Achou uma boa ideia passar na sala compartilhada que às vezes usava para revisar alguns casos, encontrando seus colegas mais próximos, e os que mais o julgaram nas últimas semanas. Jongdae estava lá também quando ele entrou.

— Que cara de enterro é essa, uh? — ele perguntou debochado, com um tom calmo, realmente se sentindo meio doido, quando viu a expressão dos que repararam em sua presença. — Muito incomodados com um viado na sala de vocês? — Riu, vendo como a expressão deles passou de desprezo para surpresa em segundos.

— O que é isso? — Uma mulher, especialmente altiva, perguntou, e Kyungsoo riu de novo.

— Isso? É o que eu sou, uma bichinha. — disse, de novo. — Uma bichinha que quer que vocês se fodam! — gritou, tirando a carteira que costumava usar para provar que era um advogado, na mesa, e erguendo os dois dedos do meio para os ex-colegas.

Saiu pela porta e foi para casa, deixando para trás um reboliço de choque e falsa frieza. Jongdae só ria, e, atencioso, guardou a carteira de Kyungsoo consigo, caso ele a quisesse de volta um dia.

Tinha mesmo ficado louco.

Depois daquele dia, Kyungsoo nunca mais foi visto.

 

Chapter 8: 8° Capítulo

Notes:

Bom, se alguém chegou até esse último cap, fico mais que grata, fico em êxtase! Obrigada mesmo, vou deixar minhas redes sociais abaixo para quem quiser manter contato, falar sobre a fic, ler meus outros trabalhos e etc.

 

Spirit

 

Twitter

 

Curious Cat

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Kyungsoo acordou com o som dos barcos chegando ao porto naquela manhã, o trabalho dos pescadores e das barcas de transporte começava cedo ali, e, mesmo que ele não vivesse tão perto da costa, conseguia ouvir da janela do próprio quarto a movimentação lá embaixo.

Buongiorno, signora Rachelle! — disse, quando entrou na cozinha, o chinelo fazendo barulho no chão de taco.

Duas senhoras faziam o café da manhã na cozinha, uma delas enfiada na despensa enquanto a organizava rapidamente. Às vezes, Kyungsoo gostava de parar e olhar, se sentia um pouco mais em casa.

Aquele lugar cheirava à lar para ele muito significantemente havia uns 4 anos, era sua casa, afinal, comprada com seu esforço e afeto. Era também um pouquinho a casa de todo e qualquer turista que passava pela ilha e buscava por pouso, e Kyungsoo se orgulhava disso também.

Quando saiu da Coreia, seis anos atrás, com o dinheiro que manteve guardado por quatro anos e uma ferida enorme no peito, Kyungsoo não possuía muitos planos além de fugir de toda a bagunça que causou e viver a vida que sempre quis viver, enfim. Quando tinha 20 anos e as primeiras adversidades vivendo na capital haviam chegado, costumava girar o globo que existia na biblioteca da faculdade e pesquisar pelos lugares onde seu dedo parava. Uma vez, quedou na Ilha de Procida, pequena, quase difícil de ver no globo, com população baixa e na costa da região de Nápoli, na Itália. Terra de O Carteiro e o Poeta, terra de Graziella. A cultura da pesca e as vilas em que era dividida o lembraram um pouco de Jindo, quando olhou as fotos.

Uma Jindo sem todo o peso de seu passado e de seus antepassados. Quando saiu da Coréia, seis anos atrás, resolveu, por um impulso, que investiria num futuro ali.

Desceu as escadas externas da casa, depois de conferir se tudo estava bem com os hóspedes dos dois quartos ocupados naquele começo de estação de férias, e foi andando até o mercado. Não sem antes dar uma passada no porto e sentir o cheiro de mar, é claro. 

Era pura e simplesmente rotina para Kyungsoo andar por aquelas ruas antigas e bonitas, olhar para as mesmas velhas casas, cumprimentar os mesmos velhos vizinhos, seguir o mesmo velho caminho até o centro da ilha, onde, por conta dos turistas, estava sempre mais cheio e caótico. 

Kyungsoo amava cada pedaço daquilo, desde a calmaria e envelhecimento da vila em que vivia até o agito do porto. Ele sentia como se tivesse agarrado com força entre os dedos uma segunda ou terceira oportunidade de ser feliz. Não saberia contar quantas chances a vida havia o dado, mas, mesmo assim, algo faltava. Aquele sentimento de falta que Baekhyun o causava em Seul, também o causava ali.

Kyungsoo costumava pensar que, se almas gêmeas realmente existissem, então Baekhyun era mesmo a dele. Na verdade, Kyungsoo pensava na pessoa do homem amado todo dia, mas não em seu nome. Era estranho pensar em seu nome. Baekhyun .

No mercado, Kyungsoo comprou o necessário para um almoço puramente italiano, já que, para turistas, nada além de cozinha tradicional existe. Quando ele olhou para o mar, do porto, apesar do arrepio de más lembranças que ele o trazia, em dias de ondas mais furiosas, sentiu que algo bom aconteceria.

Ao subir a rua em que a pousada ficava, um de seus vizinhos mais idosos o chamou da janela.

Ao stai fermo, ragazzo!* disse, em tom de brincadeira, fazendo Kyungsoo parar seu caminho.

— Diga lá, senhor Camille… — respondeu, deixando as sacolas que carregava no chão, sempre se preparava para uma longa conversa com aquele senhorzinho.

— Dois de olhos como o seu, assim, fechados, passaram perguntando sobre guias que falem inglês, recomendei sua pousada e disse que você também era das ásias . — o senhor disse, com o jeito obtuso que eles costumavam ter ali. Kyungsoo já estava acostumado.

— Ah é mesmo? Pois obrigado, senhor Camille, você divulga minha casa melhor que ninguém! — zombou, fazendo o velho estalar a língua nos dentes. — Vou logo indo então, addio.

Kyungsoo descobriu uma fonte de satisfação e sustento no turismo, craque como era naquilo, depois de passar os últimos 6 anos rondando e rondando cada pequeno ponto daquela ilha. Ele, aquele ponto, era um guia conhecido pelo comunidade de Procida, já que sabia falar inglês e possuía uma pousada. O povo sempre o indicava para os que não sabiam falar italiano.

Andou mais uma quadra até chegar à pousada, entrando pelo portão grande da lateral, ao invés de subir as escadas para a porta principal. Por ali, poderia dar uma olhada em como o café da manhã estava indo para os hóspedes, em seu quintal grande e verde. 

Nas noites quentes, gostava de se sentar na varanda grande do segundo andar - onde o jantar costumava ser servido - depois que todos já estavam em seus quartos, e observar o quintal e também o mar lá embaixo.

Foi até a cozinha, ao constatar que tudo corria normalmente, e deixou por lá as compras, logo indo para a sala de entrada, presumindo que os tais turistas asiáticos que senhor Camille havia falado, estavam ali.

— Olá. — disse, em inglês, para o único homem ali, sentado no sofá, parecendo o esperar.

Ele aparentava ter seus 30 anos e carregava uma expressão simpática. Realmente era asiático, mas Kyungsoo não sabia de onde, por isso não arriscou cumprimentá-lo em coreano.

— Ah, olá, é você o coreano de quem falaram? — o homem perguntou, também em inglês, se levantando.

— Ah sim, sou eu sim. — respondeu, em coreano. — Que bom saber que é coreano também, isso facilitará muito nossa comunicação. — sorriu, logo estendendo a mão para o outro. — Eu sou Kyungsoo.

— Ryeowook. Kim. — disse, apertando a mão de Kyungsoo. 

— E o que você precisa, Ryeowook?

— Bom, eu estou em viagem turística com meu patrão, senhor Do, nós íamos nos hospedar em Capri, mas o senhor Do achou melhor que ficássemos em um lugar menos movimentado e que nos desse mais tranquilidade para ir das ilhas à costa. Ficaremos por uma semana, chegamos ontem, viemos da região de Lácio para Nápoli e nenhum de nós sabe italiano, então achamos melhor correr atrás de um guia, em Roma tivemos muita dificuldade de comunicação. — o homem riu, ao terminar, achando graça no erro de percurso.

Kyungsoo prestou atenção em tudo o que ele disse, é claro, mas não conseguiu não deixar a mente fixada no sobrenome do patrão de Ryeowook.

— Oh, senhor Do? Do também é meu sobrenome, que boa coincidência. — disse.

O homem sorriu, mas sua expressão parecia um tanto conflituosa, pensativa.

— Pois é.

— Bom, fico feliz de ser útil para vocês! Vocês já possuem pouso? E onde está seu patrão?

— Não possuímos pouso, e meu patrão precisou ir à farmácia, a balsa o deu um pouco de enjôo e ele ainda tem enxaqueca... não foi tão forte, mas ele quer aproveitar a viagem. — explicou e Kyungsoo assentiu.

— Enquanto ele não chega, o que acha de uma tour pela pousada? Gostaria muito que ficassem por aqui, não é a mais chique e cara da ilha, mas tenho uma boa fama e cuido bem dos meus hóspedes.

— Claro, sem dúvidas. Por favor, me mostre o resto do espaço.

Kyungsoo precisou de quinze minutos para mostrar a Ryeowook todos os espaços da casa grande e antiga, das salas aos quartos, o quintal e a grande varanda do segundo andar. 

— Eu costumo seguir um roteiro pelos pontos turísticos mais famosos quando apresento a ilha aos turistas pela primeira vez, vocês tem um lugar específico que queiram visitar hoje? 

Kyungsoo perguntava, quando percebeu que alguém entrava pela porta principal, subindo as pequenas escadas com as duas mãos cheias, uma com uma mala e outra com uma sacola de remédio. Parou o que dizia na hora ao sentir uma vertigem forte olhando para o rosto do homem que, agora, derrubava a mala no chão, em choque.

— Baekhyun! — Kyungsoo disse, sem nem perceber, de olhos arregalados e queixo caído. O choque fazendo seu coração correr uma corrida, as mãos gelando como se o inverno frio e cortante da ilha tivesse voltado.

Quais, no mundo, eram as chances de que ele encontrasse Baekhyun novamente? Baekhyun, com os cabelos ainda pretos da juventude e o rosto ainda delicado como uma pétala, mesmo já estando próximo aos 40. Baekhyun, novamente radiante como o sol, tão diferente de como Kyungsoo havia o visto pela última vez.

O outro, no entanto, se recuperou rapidamente, juntando a mala do chão e, não se deixando abalar pelo choque que o acometeu, saiu novamente porta afora.

— Vocês se conhecem? — Ryeowook perguntou, surpreso.

— Sim, com licença. — Kyungsoo disse, rapidamente, antes de ir atrás de Baekhyun.

— Baekhyun… meu Deus, é mesmo você? — perguntou, pensando estar em um sonho, já havia se beliscado duas vezes.

— Kyungsoo. — o outro respondeu, simplesmente, como se todo o ar de seus pulmões tivesse sido tomado. — Como… como é possível? — Baekhyun parecia em choque, a ponto de se afastar e de, ao mesmo tempo, tocá-lo para ver se aquilo era real.

Baekhyun estava ali, Baekhyun era o senhor Do.

— Ryeowook...  e-ele me disse que seu sobrenome era Do, por quê? 

— Eu… preciso ir embora, meu Deus… — Baekhyun disse, simplesmente, parecendo perturbado. 

Para seu alívio, Ryeowook saiu em busca deles.

— O que está havendo? Senhor B… Do, está se sentindo bem? — perguntou, aflito.

— Não, Kim, precisamos ir para outro lugar, não podemos ficar aqui, por favor. — pediu.

Kyungsoo entendia sua aflição, mas se sentia um pouco injustiçado por encontrar o amor de sua vida, depois de tanto tempo, e não receber dele nem mesmo uma resposta.

— Isso não é possível, senhor, as diárias já estão pagas, em crédito. Qual o problema de ficarmos aqui? — perguntou, agora também aflito.

Esperou de Baekhyun um grito meio afetado, como ele costumava fazer quando era extremamente contrariado, ou uma resposta de que dinheiro não era problema. Mas o que encontrou, foi Baekhyun com os olhos perdidos e o coração derretido ao olhar mais uma vez para o rosto marcado de Kyungsoo. Ele estava tão bronzeado e… bonito, tão igual ao Kyungsoo de 17 anos, que o entregou seu coração sem pedir nada de volta.

— Eu… preciso de uma água com açúcar, por favor. — ele disse, baixo, por fim, enquanto olhava para o chão, se deixando carregar para dentro.

 


 

Enquanto Baekhyun sentava em um dos sofás mais macios da pousada e tomava água com açúcar, senhora Rachelle tirava a pressão dele com um aparelho velho que possuíam na caixa de primeiros socorros; Kyungsoo se escondia atrás das paredes. Sabia que o que havia causado aquele mal súbito a Baekhyun era a surpresa por vê-lo e, mesmo que torcesse para que fosse apenas o choque e mais nenhum sentimento, que o impedisse de se aproximar de Baekhyun mais tarde, para que, pelo menos, conversassem, estava receoso de que sua simples presença causasse mais coisas ruins a Baekhyun. 

Seu coração explodia no peito. Mas e se… Baekhyun não estivesse feliz em vê-lo?

Perfetto! — Rachelle disse, assim que o aparelho mostrou a pressão de Baekhyun. Um belíssimo 12.8.

Kyungsoo, da porta, onde estava encostado, assentiu para a senhora.

Grazie, Rachelle. — disse baixo, abrindo espaço para que ela saísse da sala.

— Esse lugar é seu? — Baekhyun disse, dessa vez finalmente olhando para Kyungsoo, mesmo que a voz ainda estivesse quieta e baixa.

— Hum… sim. Parece loucura, não é? — respondeu, sorrindo fraco.

— Sim, loucura. — disse, olhando janela afora. — Ryeowook, será que podemos guardar nossa bagagem no quarto agora? Quero conhecer o forte de Terra Murata ainda hoje.

— Claro. — ele respondeu. - Mas você tem certeza de que já está se sentindo bem? Talvez seja melhor esperar um pouco. 

— É, para chegar a Terra Murata há muita caminhada pela frente e o sol está quente. Esperem pelo almoço, ele sai em alguns minutos, assim que almoçarmos, posso acompanhá-los, tudo bem? — perguntou, olhando para Baekhyun, que simplesmente assentiu. — Eu vou checar se o quarto de vocês está pronto. 



No almoço, Baekhyun parecia muito mais disposto e corado, sentado com Ryeowook em uma mesa no quintal e fazendo expressões e barulhos de satisfação a cada garfada no nhoque tradicional de Dona Rachelle. 

Kyungsoo o olhava da porta, um pouco acovardado, sabendo que não poderia invadir seu espaço. Queria conversar com ele, mas esperaria o momento certo.



Os esperava na sala de entrada, para que começassem seu roteiro turístico. Já havia o planejado muito bem e só precisava informá-lo a eles.

— Podemos visitar Terra Murata e a casa de Graziella hoje, já que ficarão mais tempo aqui do que nas outras cidades da região, temos tempo para os lugares menos conhecidos depois, certo?

— Por mim tudo bem. — Baekhyun respondeu, realmente parecendo bem melhor.

— Certo, vamos então? 

Terra Murata era, obviamente, visível da pousada de Kyungsoo, mesmo que distante. Mesmo assim, andar pela ilha era uma das atividades preferidas dos turistas e Kyungsoo sabia que podia usar disso para fazer qualquer um caminhar um pouco por ali. Foram andando. 

Quando chegaram lá, Baekhyun se tornou até mesmo grato por ter encontrado Kyungsoo ali, ele falava italiano quase perfeitamente, apesar do sotaque ainda puxado, e parecia um sopro do destino em seu rosto. 

Aquilo só podia ser destino, não era?

Das vielas da antiga prisão, a 100 metros acima do nível do mar de Prócida, Baekhyun conseguia ver toda a ilha e ilhas vizinhas. Havia sido cansativo subir até lá, mas a vista compensava, tudo compensava em suas viagens, por mais difíceis que fossem. Estava apoiado no portão de proteção, onde os turistas costumavam se amontoar para ver o mar lá embaixo, quando Kyungsoo se aproximou,

— Ryeowook foi comprar uma água, eu disse a ele que estaríamos na igreja, quer conhecê-la? — o tirou de sua contemplação com uma mão no ombro, que, em nervosismo, logo foi retirada.

Baekhyun olhou Kyungsoo por alguns segundos, antes de assentir.

Andaram juntos até a pequena igreja e depois por toda a extensão de Terra Murata, até que os pés doessem e a pele ardesse pelo sol. 

Mais tarde, foram à casa de Graziella, museu dedicado à obra de Alphonse de Lamartine e, enquanto Kyungsoo falava tão belamente em italiano pelos cômodos e contava a eles a história que inspirou o romance Graziella, Baekhyun se perguntava se ele era também como Lamartine, um estrangeiro apaixonado por um terra que não era sua por conta de um amor encontrado lá. 

 


 

Quando voltaram à pousada já era fim de tarde e, mesmo que Kyungsoo tenha tentado se aproximar mais de Baekhyun durante o jantar, ele não o devolveu muito além do que lhe era perguntado. Parecia nervoso em deixar que algo ficasse aparente, exposto, óbvio. Kyungsoo entendia, era difícil para ele também simplesmente agir como se as coisas estivessem normais, quando tinha Baekhyun ali, tão perto, depois de tanto tempo.

Já eram onze horas da noite e, a essa hora, os moradores da vila em que Kyungsoo morava já estavam há muito dormindo. Nem sempre o mesmo acontecia com os hóspedes, então Kyungsoo, insone como era, já estava acostumado a se manter acordado e de olho para que nada incomum acontecesse. Era por isso que sentava no banco acolchoado estrategicamente colocado na varanda do segundo andar, toda noite, e passava horas pensando e pensando, sobre tudo. 

Eram nessas horas específicas da noite que costumava pensar em Baekhyun, não em seu nome, mas em sua pessoa. Era nessa hora, naquele dia, que pedia para todo e qualquer deus que Baekhyun aparecesse ali, para que conversassem.

— De alguma forma, sabia que te acharia aqui. — Baekhyun falou baixo atrás dele, o assustando.

Caralho! — Kyungsoo sussurrou, mais assustado por ter sido atendido tão rápido, por seja lá quem fosse, do que qualquer coisa.

— Desculpa, não quis te assustar. — o outro disse, se sentando também no banco, mesmo que de forma afastada, apoiando os braços nas pernas abertas.

Estava quente e Kyungsoo não tinha roupa nenhuma no corpo além de um shorts de malha, relaxado como não devia estar, sabendo que possuía hóspedes. Baekhyun preferia não olhar, sabia muito bem como a pele bronzeada do mais novo era difícil de não tocar.

— Esse lugar é tão alto, você não acha um pouco assustador? Ainda me dá vertigem… o mar. — Baekhyun disse, olhando para a vista que possuíam da ilha e do mar daquela varanda, visto o ponto alto em que a pousada se encontrava.

Kyungsoo sabia que ele, veladamente, falava daquela noite.

— Eu meio que me acostumei… mas, sim, às vezes o mar também me assusta. — respondeu cuidadosamente.

— E porque aqui? — Baekhyun perguntou, relaxando contra o estofado do banco.

— Hum? — Kyungsoo murmurou, distraído, ainda meio deslumbrado por saber que estava ali, conversando com Baekhyun.

Baekhyun.  

Sabia que algo bom aconteceria naquele dia.

— Por que escolheu essa ilha como sua nova casa? Você… tem alguém importante aqui?

Kyungsoo respirou fundo quando Baekhyun o olhou com atenção.

— Eu não sei, eu sempre quis visitar, desde os meus 20 anos...  e então tudo aconteceu, eu estava perdido e sem ninguém e precisava recomeçar. Eu queria recomeçar com você, Baekhyun, mas sabia que você já tinha feito isso sozinho, como eu poderia te atrapalhar? Então eu só fugi para um lugar em que eu sempre quis estar… e aqui tem mar, e eu ironicamente não consigo mais viver longe do mar, e tem gente simples e tanta coisa bonita para ver. É totalmente diferente do que eu fazia em Seul e pensava ser feliz, eu não era feliz lá e eu precisei de tudo isso para descobrir. Eu não tenho ninguém aqui, Baekhyun, eu só tenho essa pousada, minha insônia e você, sempre, toda noite, na minha cabeça, e agora você está aqui… 

— Ouvi dizer que Jihyun se casou. — Baekhyun respondeu, simplesmente, fingindo não escutar a última parte da fala de Kyungsoo. — Há dois anos.

— Eu sei, estou feliz por ela. Jihyun… ela merece toda a felicidade do mundo. — Sorriu para Baekhyun, que ainda parecia resistente a falar sobre o próprio passado. — Mas eu quero saber o que aconteceu com você nesse meio tempo, pode me contar? — Kyungsoo cruzou os braços e se virou no banco, olhando diretamente para o outro.

— Não sei se posso. — Baekhyun sorriu de boca fechada, mostrando que estava brincando. — Hum, ok, eu passei três meses em uma casa de repouso em Daegu, achava que estava ficando louco, mas a verdade é que eu estava machucado por coisas acumuladas por anos, dos meus pais, de Haekyeol, de você, de mim mesmo. Eu conheci Ryeowook lá, ele é um amigo fiel, com alguns problemas também, mas que me ajudou muito a me reconstruir. Eu só fiquei um ano em Jindo, então fui para Seul, mesmo que não me sentisse muito bem lá também. Eu cheguei a um ponto em que pensei que não existia lugar no mundo para mim. — Riu fraco, balançando a cabeça em negação. — Então faz um ano que comecei a rodar pelo mundo, já que dinheiro não é exatamente o problema. Por isso não acho tão incrível ter te encontrado nessa bagunça. — Respirou fundo, tentando filtrar o que devia ou não dizer naquele momento. — Eu passei meses me perguntando o que tinha acontecido com você depois que voltei para Jindo, entende o quanto isso pode ser chocante? Eu nem mesmo sabia se você estava vivo! Entende porque eu uso seu sobrenome vez ou outra? Eu não sou uma espécie de viúva negra, mas eu costumo carregar comigo um pedaço de pessoas que são página virada na minha vida.

— Sim, eu entendo. — Kyungsoo respondeu, baixo.

— Eu pensei que éramos página virada na vida um do outro. — Baekhyun reafirmou.

— Parece que o destino não concorda com isso. — Kyungsoo sorriu ao deixar Baekhyun sem graça.

— O que eu quero que você saiba, Kyungsoo, é que não é só você o culpado do que aconteceu comigo há seis anos atrás, para essas coisas, não existem culpados, existem circunstâncias e eu precisava chegar ao meu limite para descobrir que eu não me encontraria em outra pessoa, perdido como eu estava. Que eu me encontraria sozinho. — disse, muito seriamente. — Você apareceu, naquela época, com a lembrança da coisa que mais me fez feliz no mundo, você sabe que foi meu primeiro amor, que… é meu primeiro amor, mas aquele momento não era nosso, nós nos machucamos em cima de uma história de amor, porque nem sempre amor é bom. — ele sussurrou, como se possuísse medo de deixar tudo aquilo sair da própria boca.

Aquele ponto, ele havia se aproximado de Kyungsoo por conta própria, querendo que ele ouvisse claramente tudo o que falava.

— Mas e se agora ele for bom? E se realmente estamos tendo uma terceira chance? Uma terceira chance, Baekhyun… É tão irreal que você esteja aqui na minha frente agora. — Kyungsoo sussurrou de volta, ousando o suficiente para tocar no rosto do outro, que respirou fundo.

— Você é doido. — Baekhyun respondeu, tocando Kyungsoo no peito nu hesitantemente, como se não quisesse fazer aquilo, mas precisasse .

Sentia que poderia se hipnotizar pelo calor, pelo cheiro. Kyungsoo costumava ser tão quente e Baekhyun não possuiu nenhum amante depois dele.

— Ryeowook vai acordar se eu não voltar logo para meu quarto. — disse, tentando se desvencilhar de uma armadilha em que gostaria muito, naquele momento, de estar.

Respirou fundo quando o mais novo o segurou pelos braços e encostou a cabeça em seu ombro, não resistindo ao segurar com força os cabelos curtos de Kyungsoo. Era como se estivessem se reconhecendo.

Baekhyun se ajoelhou no banco, inconscientemente tentando se desvencilhar. Kyungsoo o segurou pelos dois lados da cintura e enfiou o rosto em sua barriga, aspirando seu cheiro como um viciado em abstinência. 

Quando Baekhyun puxou seu rosto para cima, em meio às duas mãos, foi para beijá-lo na boca. Ajoelhado como estava, suas pernas perderam um pouco da força ao sentir na boca o gosto de Kyungsoo, soltando um som estrangulado ao se desequilibrar e ser segurado pelo outro, que o beijava com força. 

Não foi preciso muito para que Baekhyun enfim quebrasse o contato, mesmo que estivesse arrepiado e mole. Sentir o gosto e o toque de Kyungsoo de novo foi como uma experiência de renascimento. Nessas horas achava que a ligação que possuíam não era normal.

— Isso não é certo. — ele sussurrou, ainda com a boca tão perto a de Kyungsoo, as mãos ainda dos dois lados de suas bochechas.

— Nada é mais certo que isso. — Kyungsoo respondeu, tentando segurar pela mão um Baekhyun que enfim havia se afastado.

Baekhyun o olhou, mas não voltou, indo para o próprio quarto na tentativa de dormir, o que não foi fácil. Kyungsoo, no entanto, continuou do lado de fora, sorrindo para as estrelas, suas únicas testemunhas.

Ele sabia, ficariam juntos.

 


 

No dia seguinte, Kyungsoo os levou até Marina de Coricella, a vila mais antiga e famosa de Procida, conseguindo roubar de Baekhyun um beijo, quando entraram sozinhos em uma viela.

Entre eles não havia nenhum acordo ou palavra mútua, era como se fizessem aquilo escondido do mundo, mesmo que, daquela vez, não houvesse ninguém de quem precisassem se esconder. Às vezes, só era muito difícil estar perto um do outro sem que se tocassem, se olhassem, ou simplesmente se sentissem. Baekhyun não sabia se isso era um regresso ou, realmente, uma ação do destino. 

 


 

No terceiro e quarto dia Baekhyun e Ryeowook viajaram sozinhos para Vivara e Capri, respectivamente, com a promessa de que um outro guia os ajudaria lá. Kyungsoo queria ir, sem dúvidas, já que o medo de que Baekhyun fosse embora sem ao menos se despedir o tomava sempre que parava para pensar. No entanto, a pousada estava começando a ficar cheia e ele não podia abandonar suas funcionárias ali sozinhas. 

Naqueles dias, Kyungsoo teve a agonia como melhor amiga, não tinha ainda um resposta concreta de Baekhyun, já havia passado por isso outras vezes e sabia, quando Baekhyun queria algo e achava que não podia ceder, ele era imprevisível. 

Kyungsoo, naquela semana, não deixava de pensar e pensar em formas de fazer o outro ficar, com tão pouco tempo e tanta hesitação. Mas queria e precisava tentar, aquela era a chance de que fossem felizes, juntos, completos, finalmente.

 

Na noite do quarto dia, quando Baekhyun e Ryeowook voltaram de balsa para a ilha, Baekhyun e Kyungsoo não desgrudaram. Era saudade e algo a mais, tão forte que fez com que transferirem o costumeiro encontro da varanda, para o quarto de Kyungsoo. 

A pele suada de Kyungsoo, pelo calor difícil de aliviar sem auxílio tecnológico, era para Baekhyun um imã sem igual, tocar em seu torso, em seus braços, em seu rosto, seus cabelos, seu pênis, era muito mais do que uma memória nostálgica como a que havia sentido seis anos antes, quando se reencontraram pela primeira vez. Dessa vez, era como se sentir encaixado em algo permanente. Quando sentiu o colchão macio de Kyungsoo aliviar a forma como caiu na cama dele, se sentiu pertencido como nunca havia tido a chance, da última vez. Naquela época, Baekhyun nunca tocou em nada de Kyungsoo que não fosse ele mesmo. 

Estar com Kyungsoo, na casa de Kyungsoo, nos lençóis de Kyungsoo, era uma experiência totalmente diferente.

O mordeu, chupou e apertou como nunca conseguiria há seis anos também, e se deixou ser mordido, chupado e apertado como nunca antes. Se deixou foder como uma pessoa que há seis anos não sentia o prazer de estar com outra pessoa, num celibato sem sentido e sem prazo para acabar, talvez eterno, talvez, em todo esse tempo, acompanhado da certeza de que ele só acabaria com Kyungsoo.

Em todas as vezes em que se aliviava sozinho pensando no outro - as primeiras vezes cheio da mesma culpa que sempre sentia ao estar com Kyungsoo na época de Jihyun, naquele momento por acreditar que ele realmente havia se casado -, nenhuma delas fazia jus à sensação de realmente sentir a pele de Kyungsoo com a sua, a impressão da textura de seu cabelo, o gosto de seu beijo e a forma como sua saliva e porra secavam em seu corpo, porque, daquela vez, Kyungsoo era mais seu do que nunca.

Quando Baekhyun gozou, com Kyungsoo por toda parte, dentro e fora de seu corpo e consciência, ele sentiu algo que nunca havia sentido antes, uma experiência de quase nirvana, mais feliz e satisfeito do que jamais havia se sentido. 

— Queria que você me dissesse que vai ficar aqui comigo, para sempre. — Kyungsoo confessou, quase dormindo. Baekhyun riu soprado.

— Isso não é possível… — respondeu.

Enquanto Kyungsoo dormia, deitado em seu peito e agarrado em sua cintura, Baekhyun passou minutos e minutos pensando como deixaria um homem que o fazia sentir daquela forma, para trás. 

Enquanto o sol nascia, vestiu as roupas quietamente e voltou para seu quarto, na intenção de que Ryeowook não percebesse que ele não havia dormido ali. Totalmente inútil, visto que o amigo sempre percebia tudo.

— Kyungsoo? — ele perguntou, ainda deitado em sua cama, assustando Baekhyun pela pergunta repentina.

— Meu Deus, não fale assim tão de repente, quase me matou! - Baekhyun o repreendeu, com a mão no peito.

— Não respondeu minha pergunta. — Ryeowook respondeu, simplesmente.

— Talvez porque não te devo satisfação. — Seu tom era ácido, mas ele estava claramente brincando.

— Realmente não deve, só acho que não devia fazer algo se depois vai se sentir tão terrivelmente flagelado. — Ryeowook aconselhou, se sentando na cama, prestes a começar uma conversa séria, e Baekhyun sabia.

— Não me sinto flagelado, é só que… existem coisas que não deviam se repetir e eu não sei como fazer com que elas não se repitam. 

— O que diabos vocês dois têm, hein? — perguntou, curioso.

— Amor, feridas, algumas mágoas, erros de percurso… Kyungsoo foi meu primeiro amor, meu segundo amor, meu terceiro amor. — Riu. — Mas as coisas deram errado duas vezes, não vejo porque não dariam uma terceira, entende? 

— O que impede vocês dois agora? Você são maduros, independentes, solteiros , vocês precisam tentar de novo, qualquer um vê de longe que vocês se gostam e se fazem bem, falo sério, nós podemos adiar nossa próxima viagem, ou, você pode ficar aqui. — disse, simplesmente.

— Você é louco, eu não posso simplesmente ficar! — Riu, quase chocado com a quantidade de vezes que o propunham isso.

— Ou pode. Baekhyun, você esteve infeliz por todo esse tempo em que te conheço e, de repente, não está mais infeliz. Você é adulto, pode resolver seus próprios problemas, não faz sentido que sofra por amor a vida toda, pensei que já tivesse aprendido isso.

 


 

— Eu quero muito te mostrar alguns lugares meio secretos dessa ilha. — Kyungsoo disse, enquanto aproveitava os momentos em que Baekhyun o deixava segurar pela mão, andando por um lugar mais distante das vilas e do centro; mais próximo das praias.

— Tudo isso para que eu me apaixone a ponto de ficar, não é? — Baekhyun perguntou em brincadeira, mesmo que soubesse que era exatamente essa a intenção de Kyungsoo.

Naquele dia, não queria brigar. Era o seu penúltimo dia ali, no dia seguinte iria embora para não tão logo voltar. Tinham ficado algumas horas sem se falar depois que Kyungsoo acordou e percebeu que Baekhyun não estava mais ali, mas ele logo cedeu quando Baekhyun se aproximou, oferecendo uma trégua.

Ryeowook o sugeriu que eles saíssem sozinhos por algumas horas, e Kyungsoo sorriu tão bonito quando Baekhyun pediu para que passeassem, só os dois.

Agora, entravam num caminho parecido com os que levavam para o interior, estrada de terra e mata aberta em volta. Kyungsoo usava chinelos e uma camisa velha, com dois botões faltando. O sol o abraçava como um amigo. Baekhyun se perguntava se era normal sentir que havia voltado aos 18 anos de novo e de novo. Kyungsoo sempre o fazia sentir mais novo e mais digno de felicidade.

— Nós temos várias praias por aqui, é óbvio, mas esse caminho aqui esconde um segredo mais bonito e significativo para mim do que qualquer praia. — Kyungsoo disse, quando as árvores foram fechando mais o caminho. — Você tem que seguir meus passos direitinho aqui, ok? Não se distraia do caminho.

Baekhyun assentiu com a cabeça, apertando a mão de Kyungsoo com mais força.

Eles escorregaram um pouco em uma parte mais barrossa e Baekhyun percebeu que o que Kyungsoo queria o mostrar se relacionava a água.

— Bom, eu sei que você deve ter visto coisas muito lindas nesse mundo todo, mas esse é o lugar mais bonito de Procida para mim.

Kyungsoo disse, quando chegaram até uma cachoeira, barulhenta e cristalina, acompanhada de um pequeno “lago”, formado por uma barreira de pedras. Era realmente muito bonito e incrivelmente isolado, um pedacinho só de Kyungsoo. Estavam sozinhos ali.

— Caramba, parece lugar de filme. — Baekhyun disse, olhando para a alta cachoeira e para a água tão, tão cristalina.

— Quer dar um mergulho? 

— Claro.

Os dois se desfizeram das camisas, ficando só com os shorts. Kyungsoo pulou confiantemente dentro da água, reclamando um pouco da temperatura da água, que estava gelada, mas muito bem vinda depois de uma longa caminhada embaixo do sol.

Baekhyun entrou com mais cuidado, mas se manteve grudado a Kyungsoo durante os primeiros segundos.

Naquela tarde, eles mergulharam, brincaram e pularam da cachoeira, depois andaram um pouco mais, chegando a um campo verde, perto de uma outra nascente, que fazia o clima ficar úmido e fresco.

Estavam deitados sobre a grama, olhando para as pedras altas que rodeavam o lugar, quando Baekhyun falou quase descuidadamente:

— Eu realmente não queria ir embora. 

Kyungsoo levantou o tronco, se apoiando nos cotovelos e olhando animado para o outro.

— Então não vá. Por favor. — disse, se aproximando e segurando uma das mãos de Baekhyun junto a seu rosto.

— Não é tão fácil, eu tenho viagem marcada, tenho o Ryeowook… 

— Nós já abrimos mão de coisas maiores um pelo outro, Baekhyun. — Kyungsoo disse, simplesmente.

— Abrimos? — Baekhyun o olhou quase com pesar, precisava lembrá-lo de que, quando Kyungsoo precisou abrir mão de algo por Baekhyun, a situação foi tudo, menos fácil.

— Baekhyun… — Kyungsoo disse, o tom devastado. Se deitou novamente e olhou para o céu, calado por alguns segundos. — Eu nunca te perdi perdão por tudo o que aconteceu naquela época.

— Acho que o período para isso expirou há muito tempo, são águas passadas. — Baekhyun respondeu, se virando sobre a grama, agora com o corpo todo na direção de Kyungsoo.

— Não, não é. Eu realmente preciso que diga que me perdoa, Baekhyun, por todo o mal que eu te causei, por ter te machucado tanto sem nem perceber, por não ter te colocado em primeiro lugar, quando você era e é a pessoa mais importante da minha vida. Eu sinto que, se hoje, o destino nos uniu novamente, foi para que eu pudesse receber o seu perdão. Você me perdoa? — Olhou para Baekhyun, por fim, ao fazer a pergunta. Os olhos grandes brilhavam, marejados e sinceros.

— Sim, Kyungsoo, eu te perdoo. Você sabe que o destino só queria que nos redimíssemos um com o outro...  — Baekhyun sussurrou, assim que seu polegar limpou uma lágrima fujona do rosto de Kyungsoo.

Eles se beijaram e continuaram ali, se tocando, até que o sol ameaçasse desaparecer. Baekhyun sabia que ficaria.

 


 

Naquela noite, Kyungsoo mal havia dormido, muito preocupado em perder algo, em, por algum acidente, perder algum segundo da presença de Baekhyun ali. Suas olheiras eram fundas quando bateu na porta do quarto dele, na manhã seguinte.

Baekhyun arrumava suas malas vagarosamente, tão hesitante quanto uma pessoa que não sabia se tomava a decisão certa poderia estar. Ryeowook foi quem abriu a porta, um sorriso sincero e um olhar meio triste, ele também queria que Baekhyun ficasse.

— O café da manhã já está servido? Estou morrendo de fome. — ele disse, simplesmente, antes de sair porta afora, deixando os dois sozinhos dentro do quarto.

— Oi. — Kyungsoo disse, sem tato.

— Oi. — Baekhyun respondeu, deixando uma peça de roupa em cima da cama. A mala aberta o encarava como um desafio.

— Eu… queria te perguntar se você precisa de alguma coisa. — soltou a primeira desculpa que o ocorreu.

— Hum, não… talvez alguma ajuda para levar as malas até o porto, Ryeowook comprou muita coisa por aí. — Riu.

Kyungsoo riu, para acompanhá-lo.

— Certo. — disse, e Baekhyun voltou a pegar nas mãos a peça que havia deixado em cima da cama.

— Ok. — respondeu, assentindo com a cabeça.

— Ok. — Kyungsoo repetiu, coçando a nuca em nervosismo. Precisava dizer algo, a vontade de dizer algo formava um nó em sua garganta, a ponto de machucá-la. Choraria se não conseguisse falar, era sua última chance de fazê-lo ficar. — Baekhyun. — disse, quase alto demais.

— Sim? — Baekhyun respondeu, o olhando, sentindo o estômago revirar em nervosismo. Sabia que teria que fazer uma decisão de vida naquele momento.

— Baekhyun, Baekhyun… — Kyungsoo repetiu, se aproximando.

Chegou perto o suficiente para tocar Baekhyun no rosto, que o olhava atento.

— Fica comigo. — sussurrou. 

Baekhyun continuou o olhando, por uns segundos, imóvel. Kyungsoo sentiu que se passaram horas, naquele momento.

Baekhyun segurou em seu pulso, deitando o rosto em sua mão.

— Kyungsoo… — o chamou, olhando atentamente para ele com seus olhos marejados e doces. A dúvida ainda o corroía, mas ele sabia, não viveria com mais um “e se”.

— Você é o amor da minha vida. — Kyungsoo admitiu, rindo e chorando ao mesmo tempo.

— E você o da minha! — Baekhyun sussurrou de volta, segurando o rosto de Kyungsoo entre as mãos. — Então eu fico.

Kyungsoo o abraçou e o beijou por todo rosto, gargalhando alto de felicidade e bagunçando as roupas que Baekhyun ainda colocaria dentro da mala. Então ele ficava.

Notes:

*Buorngiorno, signora Rachelle = Bom dia, senhora Rachelle
*Ao stai fermo, ragazzo = pare aí, rapaz
*Grazzie Rachelle = Obrigado Rachelle :p
*Alphonse de Lamartine é um autor francês, ele escreveu o romance Graziella, que é meio autobiográfico e se passa na Ilha de Prócida, por isso o museu A Casa de Graziella.
*Marina de Coricella = Vila onde foi gravado o filme O Carteiro e o Poeta, ponto turístico em Prócida hoje

Acho que é isso asjhdasjd se um fluente em italiano ler isso por favor não me mate!

Obrigada mesmo por ter chegado até aqui lendo essa história :)