Chapter 1: Prólogo
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Enquanto olhava pela janela do quarto, Frank Iero se perguntava se o Pastor Harris já estava na igreja. Ele presumiu que sim, e enquanto observava o quebrar das ondas na praia, Frank se perguntou se ele ainda conseguia notar o jogo de luzes pelo vitral acima dele. Talvez não – afinal, a janela fora instalada a mais de um mês e ele estaria muito ocupado para mandar reparar.
Frank esperava que alguém novo na cidade tivesse tropeçado para dentro da igreja essa manhã e vivenciado a mesma sensação de deslumbramento que vivenciou na primeira vez que viu a luz inundar a igreja naquele dia frio de dezembro. Ele esperava que o visitante tivesse dedicado algum tempo para considerar sua origem e admirar sua beleza.
Ele estava acordado havia uma hora, mas não estava preparado para enfrentar o dia. As festividades pareciam diferentes naquele ano. Ontem, Frank passeou na praia. Aqui e ali, árvores de Natal se encontravam nos deques das casas por onde passaram. Nessa época do ano, ele tinha praticamente a praia toda só para ele, mas Frank não demonstrou interesse nas ondas ou nas gaivotas que o haviam fascinado há alguns meses. Em vez disso, ele queria ir para a oficina, ainda que ele ficasse apenas alguns minutos antes de ir embora.
Na cabeceira da cama havia uma série de fotos, com outros itens que ele havia coletado essa manhã. Em silêncio, ele as estudou até que fora interrompido por uma batida na porta. Sua mãe espreitou a cabeça para dentro do quarto.
– Você quer café da manhã? Encontrei alguns cereais no armário da cozinha.
– Não estou com fome, mãe.
– Você precisa comer, querido.
Frank continuava olhando para a pilha de fotos, vendo nada em especial.
– Eu estava errado, mãe. E não sei o que fazer agora.
– Você se refere ao seu pai?
– Me refiro a tudo.
Quando Frank não respondeu, sua mãe atravessou o quarto e se sentou ao seu lado.
– Algumas vezes ajuda se você botar para fora. Você tem estado tão quieto nesses últimos dias.
Por um instante, Frank sentiu uma onda de memórias inundá-lo: o incêndio e a subsequente reconstrução da igreja, o vitral, a música que ele finalmente terminou. Ele pensou em Gerard. Ele já tinha dezoito anos e se recordava do verão em que fora traído, o verão em que fora preso, o verão em que se apaixonou. Não foi há muito tempo, e ainda assim, ele se sentia uma pessoa completamente diferente daquela época.
No silêncio que se seguiu, ele sentiu sua mãe recolher sua franja longa para trás da sua cabeça, fazendo um topete engraçado. Sua mãe fazia isso desde que Frank era um garoto. Por mais estranho que fosse, ele achava aquilo reconfortante. Não que ele algum dia admitiria isso, é claro.
– Vou dizer o seguinte, – sua mãe continuou. Ela caminhou até o armário e colocou a mala em cima da cama. – Por que você não me conta enquanto fazemos as malas?
– Eu nem sei por onde começar.
– Que tal pelo começo? Tem alguma coisa haver com a música?
Frank cruzou os braços, sabendo que a história não teria começado ali.
– Na verdade, não. – ele disse. – Eu acho que o verão realmente começou com o incêndio.
– Que incêndio?
Frank alcançou a pilha de fotografias na cabeceira da cama e gentilmente removeu um esfarrapado artigo de jornal que sem encontrava entre duas fotos. Ela entregou o amarelado papel para sua mãe.
– Esse incêndio – ele disse – o da igreja.
Suspeita de Fogos de Artifício Ilegais na Igreja Tratado da Boa Esperança – Pastor ferido
Wrightsville Beach, CN - Um incêndio destruiu a histórica Primeira Igreja Batista no Ano Novo e investigadores suspeitam de fogos de artifícios ilegais. Os bombeiros foram chamados através de uma ligação anônima para a igreja perto da praia logo depois da meia-noite e encontraram chamas e fumaça vindas da parte de trás da estrutura, disse Tim Ryan, chefe do Departamento de Bombeiros de Wrightsville. Os restos de um foguete fora encontrado na área do incêndio.
O Pastou Charlie Harris estava dentro da igreja quando o incêndio começou e sofreu queimaduras de segundo grau e se encontra internado na UTI do Hospital Regional de New Hanover. Esse foi o segundo incêndio em igrejas nos últimos meses em New Hanover County. Em novembro, a Igreja Tratado da Boa Esperança em Wilmington fora destruída. "Os investigadores ainda estão tratando isto como suspeito, e como um caso de incêndio premeditado em potencial nesse momento." Ryan observou.
Testemunhas reportam que menos de vinte minutos antes do incêndio, fogos de artifícios foram vistos sendo lançados na praia encontrada atrás da igreja, como numa celebração de Ano Novo. "Foguetes de artifícios são ilegais na Carolina do Norte e são especialmente perigosos, considerando a recente condição de seca," preveniu Ryan. "Esses incêndios mostram o porquê. Um homem está no hospital e a igreja está completamente destruída."
Quando sua mãe acabou de ler, ela olhou para cima encontrando os olhos de Frank. Ele hesitou; então, com um suspiro, começou a contar a história que ainda parecia sem sentido.
Chapter 2: Furto na loja
Notes:
Decidi postar o primeiro capítulo no meio da semana por que o prólogo foi curtinho.
Ainda estou decidindo entre postar os próximos aos sábado ou domingo, o que vocês preferem? Deem suas opiniões. :)
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Frank Iero - Seis meses atrás.
Frank se acomodou preguiçosamente no banco da frente do carro, se perguntando por que seus pais o odiavam tanto.
Essa era a única coisa que explicaria o motivo dele estar indo visitar seu pai, nesse lugar esquecido por Deus, em vez de passar o tempo com seus amigos em Nova Iorque.
Não, risca isso. Ele não estava apenas visitando o seu pai. Visitar implica uma ou duas semanas. Ele supôs que poderia viver com uma visita. Mas ficar até o fim de agosto? Basicamente o verão todo? Isso era castigo, e durante as nove horas de estrada que levavam para chegar lá, ele se sentiu como um prisioneiro sendo transferido para uma penitenciária Rural. Ele não conseguia acreditar que sua mãe estava realmente ou fazendo passar por isso.
Frank estava tão envolvido com sua miséria, que levou alguns segundos para reconhecer a Sonata no. 16 de Mozart em Dó Maior. Essa era uma obra que ele apresentou no Carnegie Hall há quatro anos e ele sabia que a mãe tinha posto para tocar enquanto ele dormia. Que pena. Frank estendeu a mão para desligar o leitor do CD.
– Por que você fez isso? – Sua mãe disse, franzindo a testa. – Gosto de ouvir você tocando.
– Eu não gosto.
– E se eu abaixar o volume?
– Apenas pare, mãe. Ok? Não estou com humor para isso.
Frank encarou a janela, sabendo muito bem que os lábios da sua mãe viraram uma linha apertada. Ela fazia muito isso ultimamente. Era como se seus lábios estivessem magnetizados.
– Você conseguiu dormir um pouco?
– Até você passar por aquele buraco. Obrigada, por sinal. Minha cabeça praticamente atravessou o vidro.
O olhar da sua mãe continua na estrada.
– Estou feliz em saber que seu humor fica melhor depois de um cochilo.
Frank estourou uma bola feita com seu chiclete. Sua mãe odiava quando ele fazia isso, que era o principal motivo dele ter feito praticamente sem parar enquanto eles dirigiram pela I-95. A interestadual, em sua humilde opinião, era o pedaço mais chato de toda a estrada. Exceto se alguém gostasse de fast food gordurosos, banheiros de estrada nojentos e zilhões de Pinheiros, sua monotonia hipnótica poderia ninar uma pessoa.
Ele disse essas exatas palavras para sua mãe em Delaware, Marilan e Virgínia, mas sua mãe ignorou os comentários todas às vezes. Além de tentar fazer a viagem ser legal, desde que essa seria a última vez que iriam se ver por um bom tempo, sua mãe não era do tipo que conversava no carro. Ela não estava nem um pouco confortável dirigindo, o que não era surpreendente considerando que eles andavam de metrô ou pegavam um táxi quando precisavam ir algum lugar.
Em casa, no entanto... Era outra história. Sua mãe não pensava duas vezes na hora de se meter nas coisas, o síndico fora duas vezes nos últimos meses pedir para que falasse mais baixo. Sua mãe provavelmente acreditava que quanto mais alto ela gritasse sobre as notas do Frank, dos amigos do Frank ou do fato de que Frank continuava a ignorar o toque de recolher ou o incidente – especialmente o incidente – faria com que Frank passasse a se importar.
Ok, ela não era a pior das mães. Ela realmente não era. Frank talvez até admite que ela fosse bem razoável em relação às outras mães. O problema é que parecia que sua mãe estava presa em alguma esquisita máquina do tempo na qual seu filho nunca crescia. E Frank desejava pela centésima vez que ele tivesse nascido em maio em vez de outubro. Ele já teria 18 anos e sua mãe não poderia forçá-lo a fazer nada. Legalmente ele seria velho o suficiente para tomar suas próprias decisões, e essa viagem não estava nos seus planos.
Mas agora, Frank não tinha nenhuma voz na hora das decisões. Porque ele ainda tinha 17 anos. Porque tinha sido enganado pelo calendário. Porque sua mãe o concebeu cinco meses antes do que deveria.
Não importava o quanto Frank havia ferozmente implorado, e reclamado, ou gritado, ou choramingando sobre os planos para o verão, nada faria a menor diferença. Frank iria passar o verão com seu pai e ponto final.
Mesmo na saída da ponte, o trânsito ainda estava lento como uma tartaruga. De um lado, entre as casas, e capturou vislumbres do oceano.
– Por que você está me obrigando a fazer isso? – Frank gemeu
– Já tivemos essa conversa, – sua mãe respondeu. – Você precisa passar mais tempo com seu pai. Ele sente sua falta.
– Mas por que o verão todo? Não poderia ter sido só umas semanas?
– Vocês precisam mais de duas semanas juntos. Você não o vê a três anos.
– Não é minha culpa foi ele que foi embora.
– Sim, mas você não atende as ligações dele. E sempre que ele vem para Nova Iorque para te ver, você o ignora e sai com seus amigos
Frank estourou a bola do seu chiclete de novo. Pelo canto do olho ele viu sua mãe se retrair.
– Eu não quero ver ou falar com ele. – Frank disse.
– Tente fazer o seu melhor, ok? Seu pai é um homem bom e te ama.
– É por isso que eles nos deixou?
Sua mãe não respondeu. Frank não tinha acabado ainda. Embora ele soubesse que suas chances eram praticamente nulas, ele ainda alimentava a fantasia que convenceria a sua mãe a dar meia volta com carro.
– Quer dizer que prefere passar as férias toda nos clubes? Não sou ingênua, Frank. Eu sei o que a garotada faz nesses lugares.
– Não faço nada de errado, mãe.
– E suas notas? E o toque de recolher? E...
– Podemos falar de outra coisa? – Frank cortou. – Como o porquê de ser tão imperativo que eu vá passar um tempo com meu pai?
Sua mãe o ignorou. O trânsito eventualmente começou a andar de novo e o carro se moveu por meio quarteirão antes de parar mais uma vez. Sua mãe abaixou a janela e tentou espiar os carros na sua frente.
– Me pergunto o que está acontecendo – Linda resmungou. – Está realmente engarrafado aqui.
– É a praia... – Frank sugeriu – É sempre tumultuado na praia.
– São três horas da tarde de um domingo, não deveria ser tumultuado.
Frank pôs as pernas para cima, odiando sua vida, odiando tudo. Outra coisa que o Frank odiava era piano.
Ele jurou que nunca tocaria novamente, uma decisão que mesmo algum dos seus amigos achava estranha, desde que o piano sempre esteve presente durante uma grande parte da sua vida. Seu pai, uma vez professor da Julliard, fora seu professor também, e por um longo tempo, ele foi consumido pelo desejo não só de tocar, mas de compor músicas com ele.
Frank era bom. Ótimo, na verdade. Devido à sua conexão de seu pai com a Julliard, a administração e os professores estavam cientes da sua habilidade. O boato lentamente começou a se espalhar no obscuro mundo de música clássica é tudo que importa que consistia a vida do seu pai. Alguns artigos em revistas de música seguiram, e a moderadamente longa reportagem do The New York Times, que focava na conexão entre pai e filho.
Tudo eventualmente resultou em uma cobiçada apresentação na série jovens artistas no Carniege Hall há quatro anos. Esse foi o ponto máximo de sua carreira, Frank supôs. E fora de fato ele não era ingênuo sobre seu grande feito. Ele sabia serem raras oportunidades como essa, mais ultimamente se perguntou se os sacrifícios valeram a pena. Provavelmente ninguém além dos seus pais se lembrava da sua apresentação. Ou ao menos ligava. Frank aprendeu que ao menos que você tem um vídeo popular no YouTube ou se fizesse shows para milhares de pessoas, habilidade musical não significava nada.
Por vezes ele desejava que seu pai tivesse investido em guitarra elétrica. Ou pelo menos aulas de canto. O que ele deveria fazer com habilidade de tocar piano? Ensinar música em alguma escola local? Ou tocar no saguão de algum hotel caro enquanto os ricos se hospedam? Ou seguir na dura vida que seu pai viveu? Ele acabou se demitindo da Julliard para poder pegar a estrada fazendo consertos como pianistas. Se viu tocando em lugares insignificantes para uma audiência que mal enche as duas primeiras fileiras. Ele viajava durante 40 semanas por ano, tempo suficiente para criar tensão em um casamento.
A próxima coisa que ele se lembra é da sua mãe gritando com seu pai, enquanto ele se escondia numa concha como costumava fazer. Até que um dia, ele simplesmente não voltou de uma turnê estendida pelo sul. Até onde Frank sabia, ele não estava trabalhando ultimamente. Nem dando aulas particulares.
"Como isso funciona para você, pai?" Frank pensou.
Ele sacudiu a cabeça. Realmente não queria estar aqui. Só Deus sabe quanto ele não queria.
– Olha Frank, – A mãe o chamou – Uma roda gigante! Tem um parque na cidade.
– É, e talvez mais tarde nós todos sentamos em volta de uma fogueira e assamos marshmallows, como uma grande família feliz.
A mãe ignorou, e Frank e se afundou no seu banco. A coisa toda era muito deprimente para ser verdade.
Cheech
Frank Steve "Cheech" Iero tocava seu piano com uma intensa ansiedade, antecipando a chegada de seu filho e sua ex esposa a qualquer minuto. Ele tinha colocado o piano em um pequeno canto da sala de estar no bangalô de frente para a praia que agora chamava de lar. Atrás dele havia itens que representavam a sua história pessoal. Não era muita coisa.
Tirando o piano, Linda conseguiu colocar todos os seus pertences em uma única caixa, e levou alguns poucos minutos para organizar. Entre eles uma foto dos seus pais quando ele era mais novo e outro quando tocava piano com dez anos. Os diplomas que recebeu, em Chapel Hill e outro da Universidade de Boston, e o logo abaixo estava com o certificado de aceitação de Julliard após lecionar por quase quinze anos. Próximo à janela estavam três horários emoldurados com os dados da sua última turnê. No entanto, o mais importante era a meia dúzia de fotos de Frank, algumas pinturas na parede ou emolduradas em cima do piano. Sempre que olhava para elas, lembrava do fato de que apesar das melhores intenções, nada terminou como esperava.
O Sol da tarde estava se inclinando através das janelas, deixando o interior da casa aberta. Podia sentir as gotas de suor se formando em seu rosto. A dor de estômago estava diminuindo desde a manhã, mas ainda estava nervoso e sabia que a dor voltaria. Ele sempre teve um estômago fraco; com vinte anos, uma úlcera e hospitalizado com diverticulite. Com seus trinta anos, tive o apêndice removido quando estourou, enquanto Linda estava grávida de Frank. Steve toma antiácido estomacal como se fosse doce, e remédios para úlcera há anos.
Apesar de saber que provavelmente poderia ter sido mais saudável e se exercitado mais. Mas pensando melhor, decidiu não se culpar por isso também... Problemas estomacais é genético na família. A morte do seu pai há seis anos mudou algo nele, e desde o funeral, sentiu como se estivesse em uma espécie de contagem regressiva.
Há cinco anos, deixou o emprego na Julliard;
Há quatro, decidiu tentar a sorte como um pianista de concertos;
Há três anos, decidiram se divorciar;
Menos de doze meses depois, as datas das turnês começaram a diminuir até que finalmente terminassem por completo;
Há alguns meses, se mudou de volta para cá, para a cidade onde cresceu, um lugar que nunca pensou que veria novamente.
Agora, ele estava pronto para passar o verão com seu filho. Tentava parar de imaginar o que o outono poderia trazer, uma vez que Frank estaria de volta em Nova Iorque. Ele parou de tentar prever o futuro. Isso não o incomoda, já que ele mal conseguia entender o passado.
Steve é uma pessoa comum vivendo em um mundo que adora o incomum. Perceber isso o deixa com um vago sentimento de decepção com a vida que levou. Mas o que poderia fazer? Ao contrário de Linda, que era extrovertida e sociável, ele sempre é mais contido e misturado na multidão. Embora o talento como músico e compositor, faltava carisma ou habilidade de apresentar, ou o que quer que faça um performer se destacar. Em momentos de dolorosa honestidade, acreditava que foi fracassado em tudo que era importante.
"Tenho quarenta e oito anos. Meu casamento acabou. Frank crescia sem mim. Eu sei que não posso culpar ninguém além de mim mesmo." Ele pensou. "A única coisa que me pergunto atualmente é: seria possível para alguém como eu, ainda sentir a presença de Deus? Nunca poderia me imaginar duvidando sobre uma coisa dessas."
A meia-idade o fez tão reflexivo como um espelho. Embora tivesse, uma vez, acreditado que a resposta estava de alguma forma nas músicas que criara, agora suspeita estar enganado.
Quanto mais pensava nisso, mais percebia que a música sempre foi uma válvula de escape da sua realidade, em vez de um modo de vivê-la mais intensamente. Ele poderia ter experimentado a paixão e a catarse das obras de Tchaikovsky ou a sensação de realização quando escrevia as próprias sonatas. Mas ele sabia, de alguma forma, que se enterrar na música tinha menos a ver com Deus do que com um desejo egoísta de escapar da realidade.
Agora acreditava que a verdadeira resposta estava em algum lugar vinculado ao amor que sentia por seu filho, na dor que experienciava diariamente ao acordar na quieta casa e perceber que ele não estava aqui. E de alguma forma, esperava que o filho ajudasse a encontrar.
Ele esperava, que o filho se animasse com a ideia de que poderiam passar algum tempo juntos, reconstruindo o vitral da igreja que se propôs a fazer na garagem de sua própria casa. Ou até mesmo ouvi-lo tocar o velho piano estacionado no canto da sala. Pensar sobre isso deixou o coração do pai levemente acalentado.
Alguns minutos depois, Steve notou o Sol refletindo no para-brisa de um empoeirado carro estacionado do lado de fora. Ele e Linda o haviam comprado há alguns anos para os fins de semana e viagens em família. Se perguntou por um momento se ela havia lembrado de trocar o óleo antes de vir, ou até mesmo desde que ele partiu. Provavelmente não, ele concluiu. Linda nunca fora boa nessas coisas, que era o motivo dele sempre tomar conta disso. Mas essa parte de sua vida estava encerrada agora. Ele levantou-se de seu assento, e na hora que pisou na varanda, Linda já estava do lado de fora do carro.
– Esse lugar é... maneiro! Não é Frank?
Steve se perguntou se Linda estava falando sério. A casa era tudo menos maneira. O bangalô era facilmente a propriedade mais antiga da praia de Wrightsville e estava entre duas casas que foram construídas nos últimos dez anos, fazendo o bangalô parece ainda menor. A pintura estava descascando, o telhado tinha inúmeras telhas em falta e a varanda apodrecia. Não se surpreenderia se na próxima tempestade tudo desmoronasse, ou que sem dúvida iria agradar os vizinhos.
– Você acha? – Steve disse.
– É bem do lado da praia. O que mais você pode querer?
Ela gesticula em direção ao oceano enquanto se aproximava do ex marido. Frank também havia saído do carro, mas permaneceu parado perto dele.
– Oi, Linda – ele disse.
– Steve – Ela se inclinou para o breve abraço – Você está bem? Parece magro.
– Estou bem.
Steve notou Frank andando lentamente em direção a eles. Ele estava impressionado com o quanto ele mudou desde a última foto que Linda o mandou por e-mail. O franzino garoto que se lembrava havia ido embora e em seu lugar estava um jovem adulto com o cabelo maior do que ele imaginava, com piercing nos lábios e nariz, e algo parecido com um brinco em uma das orelhas. As unhas pintadas de preto e roupas escuras. Tirando os sinais óbvios de uma rebelião adolescente, Steve pensou novamente o quanto ele lembra sua mãe. O que também era uma coisa boa. "Frank era," ele pensou, "tão lindo como sempre."
Ele limpou a garganta: – Oi, meu filho, é bom ver você.
Quando Frank não respondeu, Linda o olhou com cara de feia: – Não seja rude, seu pai está falando com você. Diga alguma coisa.
Frank cruzou seus braços: – Tudo bem, que tal isso: eu não vou tocar piano para você.
– Frank! – Steve pôde ouvir uma exasperação de Linda.
– O quê? – Frank sacudiu a cabeça. – Pensei em esclarecer isso logo.
Antes de Linda poder responder, Steve acenou. A última coisa que ele queria era uma discussão: – Está tudo bem, Linda.
– É, mãe. Está tudo bem! – Frank disse agressivo. – Preciso esticar as pernas. Vou dar uma volta.
Enquanto ele ia embora, Steve observou Linda lutar contra o impulso de chamá-lo de volta. No final, porém, ela não disse nada.
– Viagem longa? – Ele perguntou, tentando amenizar seu humor.
– Você nem imagina.
Ele sorriu, pensando por um instante, o quão fácil era imaginar que ainda estavam casados, os dois jogando no mesmo time, os dois ainda apaixonados. Exceto, é claro, que não estavam.
Após descarregar as malas, Steve foi para cozinha, onde bateu cubos de gelo da bandeja da antiquada bandeja e jogou dentro dos copos descombinados que vieram com a casa. Ele ouviu Linda entrar na cozinha, e alcançou uma jarra com chá gelado, despejando em dois copos e entregando um para ela. Ela bebeu seu chá antes de olhar pela cozinha.
– Então esse é o lugar, hein? Ele tem... personalidade.
– Pela personalidade, eu suponho que você notou as goteiras e a falta de ar-condicionado.
Linda deu um breve sorriso, pega no flagra.
– Eu sei que não é muito – Steve continuou, – mas é tranquilo e posso assistir ao nascer do Sol.
– Então, como é voltar para casa? Digo, seus pais moraram a quê? Três quadras daqui?
"Sete, na verdade." Ele pensou, mas disse dando os ombros: – É ok.
– Aqui realmente mudou desde a última vez que visitei.
– Tudo muda – ele disse, se apoiando contra uma bancada, cruzando uma perna sobre outra, – Então, quando é o grande dia? – ele perguntou, mudando ou assunto. – Para você e Brian?
– Steve... Sobre isso...
– Está tudo bem – ele disse, erguendo uma mão. – Estou feliz que tenha encontrado alguém.
Linda o encarou, se perguntando se aceitava suas palavras sem maiores análises ou se mergulhava em território sensível.
– Em janeiro – ela finalmente disse. – E eu quero que você saiba que com o Frank... Brian não finge ser alguém que não é. Você iria gostar dele.
– Tenho certeza que sim – disse, tomando um gole de seu chá. Ele coloca o copo de volta na bancada. – Como Frank se sente em relação a ele?
– Frank se entende com ele tão bem quanto se entende com você.
Ele riu antes de notar a expressão preocupada dela. – Como ele realmente está indo?
– Eu não sei. – Ela suspirou, – E não acho que tampouco ele saiba. Ele está nessa fase sombria e mal-humorada. Ele ignora o toque de recolher e na maioria das vezes eu não consigo mais do que um "que seja" quando converso com ele. Eu tento encarar isso como algo típico da adolescência, porque eu me lembro como isso era... mas... – Ela balançou a cabeça. – Você viu o modo que ele estava vestido, certo? E o cabelo e aqueles piercings?
– Mmm... Poderia ser pior.
Linda abriu a boca para dizer alguma coisa, mas quando nada saiu, Steve soube que estava certo. Qual fosse a fase em que ele estava passando, quais eram os medos de Linda, Frank ainda era o Frankie.
– Só que... é tão difícil lidar com ele ultimamente. Tem vezes que ele é mais doce que nunca, quando a amiga dele aparece lá em casa, a Jamia. Ele a ajuda em matemática. O que é estranho, porque ele mal passa nas suas próprias matérias. E eu não te contei isso, mas eu o fiz prestar vestibular em fevereiro. Ele errou todas as questões. Você sabe o quão inteligente você precisa ser para errar todas as questões? – Quando Steve riu, Linda franziu como sobrancelhas: – Isso não é engraçado!
– De certa forma é.
– Você não teve que lidar com ele nesses últimos três anos.
Ele fez uma pausa, repreendido: – Você está certa. Me desculpe. – Ele segurou seu copo de novo. – Pode me falar de novo sobre o furto na loja?
– O que eu te disse por telefone. Se ele não estiver metido em mais problemas, será riscado de sua ficha. Se voltar a fazer isso, porém... – Linda parecia esgotada.
– Você está preocupada com isso...
Linda se afastou: – Não foi a primeira vez, esse é o problema. Ele admitiu roubar um colar no ano passado, mas dessa vez, ele estava comprando um monte de coisas na farmácia e disse que não conseguiu segurar tudo, então ele enfiou um desodorante no bolso. Ele pagou por tudo, quando você assiste ao vídeo, parece que foi um erro honesto, mas...
– Você não tem certeza. – Quando Linda não respondeu, Steve balançou a cabeça dizendo: – Então, você acredita nele?
– Sim – ela disse – Eu acredito nele.
– Por quê?
– Ele cometeu um erro. E ele sempre teve um bom coração.
– Entendo...
– Como você entenderia? – Ela exigiu – A última vez que você passou por um tempo com ele, ele estava terminando o ensino fundamental.
Ela se afastou depois, cruzando os braços enquanto olhava pela janela. Sua voz era amarga quando continuava.
– Você poderia ter voltado, você sabe. Você poderia ter dado aulas em Nova lorque de novo. Você não precisava viajar pelo país, você não precisava mudar para cá... Poderia ter permanecido parte da vida dele.
Suas palavras o machucaram, e ele sabia que ela estava certa. Mas não foi assim tão simples, por razões que ambos compreendiam, embora nenhum deles reconhecesse.
O carregado silêncio passou quando Linda finalmente limpou a garganta:
– Eu só estava tentando dizer que Frank sabe diferenciar o certo do errado. Por mais que ele se ache independente, eu ainda acredito que ele é a mesma pessoa que sempre foi. Ele não mudou.
Chapter 3: Seinfeld
Notes:
Gente, me perdoem se tiver erros de digitação. Não tive uma beta reader e cada vez que eu passo o olho na leitura encontro um erro diferente. Esse é um dos meus capítulos favoritos. Boa leitura <3
Chapter Text
Frank
A feira estava tumultuada. Ou melhor, Frank se corrigiu, o Festival de Frutos do Mar estava tumultuado. Enquanto ele pagava por um refrigerante em um dos estandes, ele pode ver carros estacionados um ao lado do outro ao longo das duas ruas que davam para o Píer e até notou alguns adolescentes alugando as calçadas. O celular vibrou no seu bolso, e ele desbloqueou a tela.
16:36 Jamia: pelo menos está tendo alguma coisa para você se distrair.. aqui esta chuvoso e frio. :(
você deveria estar feliz por ter um pouco de sol ainda.
16:37 Frank: Bom, esperava que aqui fosse o tipo de lugar que poderia se ver passeando no verão. Eu achei que pelo menos a Roda Gigante fosse permanente, e que o Píer possuísse lojas como as do calçadão de Atlantic City.
Consegue me entender?
16:38 Frank: Vi algumas barraquinhas vendendo artesanatos locais. Quem compraria um gnomo construído inteiramente de conchas? Mas é óbvio que alguém comprava essas coisas ou as barraquinhas não existiriam.
16:38 Frank: Talvez combine com a casa da praia hippie que meu pai arrumou para morar.
O festival estava temporariamente localizado no estacionamento perto do Píer. Os brinquedos eram partes de um parque viajante, e o estacionamento estava alinhado com barraquinhas de jogos com preços absurdos e estantes de comida engordurada. O lugar todo era meio... Nojento.
Não que alguém parecesse compartilhar dessa opinião. Não importava para onde ele ia, parecia lutar contra a maré de corpos. Suados corpos. Grandes e suados corpos. Frank esperava que aqui fosse o tipo de lugar que poderia se ver passeando no verão. Sem muita sorte.
Distraído enquanto digitava para a amiga em seu telefone, tropeçou em uma mesa ocupada por uma mulher idosa sentada em uma cadeira dobrável. Na mesa em frente, haviam folhetos e uma jarra de doação com uma grande caixa de papelão. Dentro da caixa estavam quatro filhotinhos cinzas, um deles saltitou com suas patas traseiras para se espreitar ao lado dele.
— Ei, amiguinho — Frank disse.
A mulher idosa sorriu: — Você quer segurá-lo? Esse é divertido. O chamo de Seinfeld.
O filhote deu um estridente gemido.
— Não, está tudo bem.
Apesar dele ser fofo, muito fofo. Mesmo que achasse que o nome Seinfeld não combinasse com ele. E ele meio que queria segurá-lo, mas sabia que não iria devolvê-lo se o fizesse. Ele era um bobo em relação animais em geral, especialmente os abandonados. Como esses carinhas. Ele continuou:
— Eles vão ficar bem, certo?
— Eles ficarão bem, — mulher respondeu — por isso montamos a mesa, assim as pessoas podem adotá-los. Há mais no abrigo se estiver interessado.
— Só estou visitando — Frank respondeu, assim que os gritos romperam da praia. Ele levantou seu pescoço tentando ver — O que está acontecendo?
— Um show. Acabaram de começar. Você deveria assistir, eles devem ser ótimos.
Frank pensou sobre isso, imaginando "por que não?". Não poderia ser pior do que já estava por aqui. Ele jogou alguns dólares na jarra de doação antes de se dirigir a praia.
16:45 Jamia: talvez você devesse comprar esse gnomo para seu pai
uma bandeira branca.
16:45 Frank: Talvez não...
Está tendo um show aqui, vou assistir mais de perto.
Não demorou muito para ele alcançar a fonte de toda a movimentação, assim que ele se aproximou da borda do pequeno palco, ele notou as outras garotas da multidão pareciam fixadas em duas pessoas no palco. Nenhuma surpresa, os caras - da sua idade? Mais velhos? - eram do tipo que sua amiga Jamia casualmente descreveria como "colírio para seus olhos". Embora nenhum deles fosse exatamente o tipo de Frank, era impossível não admirar sua beleza.
Especialmente o de cabelo vermelho e com os braços descobertos em uma regata aberta na lateral. Jamia definitivamente teria se concentrado nele. Ela sempre preferiu os mais excêntricos, da mesma forma que a garota de batom vermelho e com tatuagem no braço do outro lado da grade se concentrava nele. Frank havia notado a menina e sua amiga logo quando chegou. Elas eram ambas magras e bonitas, com deslumbrantes dentes brancos, e tatuagens cobrindo quase todo seu braço, e obviamente costumavam ser o centro das atenções e tinham todos os garotos babando por elas. Elas se mantiveram na grade, vibrando bastante com o show. Deveriam pendurar uma plaquinha avisando que: tudo bem admirar a distância, mas não chegue muito perto. Frank não as conhecia, mas já não gostava delas.
Frank voltou sua atenção para música que começou a tocar. Era uma música de rock dos anos 80 que provavelmente o seu pai tinha algum vinil perdido. Enquanto ele assistia, silenciosamente começou a torcer para que alguém errasse alguma nota musical, ou o próprio vocalista tropeçasse em seus pés. Tudo para arrancar uma risada ou alguma distração para sua tarde. Isso tinha a ver com fato de que Frank se lembrou dos tipos mimados de escolas particulares que ele algumas vezes se deparava nos clubes, como os garotos da Upper West Side e Buckley, que se achavam melhores que todo mundo simplesmente porque seus pais eram investidores de bancos. Frank tinha visto o suficiente do conhecido grupo de privilegiados a ponto de reconhecer um membro só de olhar, e ele estava postando sua vida que a banda era parte dos grupos dos populares por aqui. Sua suspeita se confirmou após o baixista piscar e apontar para amiga da Barbie de batom vermelho.
Nessa cidade, era claro que as pessoas bonitas se conheciam. Por que ele não estava surpreso com isso?
O show de repente pareceu menos interessante, e ele se virou para ir embora assim que a música entrou no solo. Ele ouviu vagamente alguém da multidão gritar: "Cuidado!", mas antes de dar mais alguns passos, ele sentiu os espectadores a sua volta começarem a tropeçar uns nos outros, tirando o seu equilíbrio por alguns instantes.
Um longo instante. Ele se virou bem a tempo de ver vocalista se jogar do palco em sua direção. Ele não teve muito tempo para reagir antes de sentir o corpo do vocalista se chocar contra o seu. Frank sentiu ele segurá-lo pelos ombros numa simultânea tentativa de parar o seu ímpeto e o impedir de cair. Ele sentiu os seus braços sacudirem com o impacto e observou quase que em fascinação a tampa do copo de plástico voar para longe, e um arco de refrigerante se formar antes de encharcar seu rosto e sua blusa.
E então, assim de repente, tudo tinha acabado. Olhando para cima, ele viu vocalista de cabelos vermelhos olhando para ele, seus olhos arregalados com choque.
— Você está bem? — Ele ofegou
Frank podia sentir o refrigerante escorrendo pelo seu rosto, ensopando a sua blusa. Vagamente, ele ouviu alguém a multidão começar a rir. E por que não deveriam rir? Estava sendo um dia tão fantástico.
— Estou bem!
— Você tem certeza? — O cantor arfou, pelo menos ele pareceu genuinamente arrependido. — Eu me joguei do palco em sua direção.
— Só... me solta. — Frank disse com os dentes cerrados.
Ele não pareceu notar que ainda segurava seus ombros, e suas mãos imediatamente a liberaram. Ele deu um passo para trás — Eu sinto muito, eu geralmente me jogo na multidão e...
— Eu sei o que você estava fazendo! Eu sobrevivi, okay?
Com isso, ele se virou, querendo nada além de ir o mais longe possível dali. Atrás dele, ouviu alguém gritar: "Vamos, Gerard! Volte para o show!" mas enquanto ele fazia seu caminho pela multidão, estava ciente de alguma forma de que o vocalista continuava olhando até ele desaparecer de sua vista.
Sua blusa não estava arruinada, mas isso não o fazia se sentir muito melhor. Ele gostava dessa blusa, era uma lembrança do show do Black Flag que ele fugiu para ver com Synyster Gates, seu casinho momentâneo. Sua mãe quase perdeu a paciência por causa disso, e não simplesmente por que Gates tinha tatuagens que dava para ver das camisas decotadas que usava, era porque ele mentiu sobre onde eles estavam indo, e ele não tinha voltado para casa até à tarde do dia seguinte, uma vez que eles acabaram ficando na casa do irmão de Gates, na Filadélfia. Sua mãe o proibiu de ver ou até mesmo falar com ele de novo. Uma regra que Frank quebrou logo no dia seguinte, claro.
Não que ele amasse Gates; francamente, ele nem gostava tanto dele. Frank estava zangado com sua mãe, e parecia certo na hora. Quando ele chegou na casa dele, Gates já estava chapado e bêbado de novo, do mesmo jeito que estava no show, e ele percebeu que se continuasse se encontrando com ele, ele iria continuar pressionando-o a experimentar o que fosse que ele estava tomando, assim como tinha feito na noite anterior. Ele ficou apenas algumas horas na casa dele, antes de ir para a Union Square pelo resto da tarde, sabendo que tudo estava terminado entre eles.
Ele não era inocente em relação às drogas. Alguns de seus amigos fumavam maconha, alguns consumiam cocaína e ecstasy, e alguns até tinham o hábito de usar metanfetamina. Todos bebiam nos fins de semana. Em todos os clubes e festas que ia, lhe ofereciam livre acesso a tudo isso. Ainda assim, parecia que não importava o quanto seus amigos fumavam ou bebiam e juravam que isso fazia a noite valer a pena, eles sempre passavam o resto da noite embaralhando suas palavras ou perdendo o equilíbrio, ou vomitando e perdendo completamente o controle, fazendo coisas realmente estúpidas. Coisas que normalmente envolviam sexo. Frank não queria chegar a esse ponto. Não depois do que aconteceu com Jamia no inverno passado.
Alguém – que Jamia nunca soube quem – derramou sonífero em sua bebida, e apesar dela ter apenas uma vaga lembrança de estar em um quarto com três garotos que ela conheceu naquela noite. Quando ela acordou na manhã seguinte, suas roupas estavam espalhadas pelo quarto. Jamia nunca disse mais nada – preferiu fingir que nada aconteceu e se arrependeu de ter contado para Frank – mas não era tão difícil unir os pontos.
Quando Frank chegou no píer, se sentou com seu copo meio vazio e esfregou furiosamente sua blusa com um guardanapo. Parecia estar funcionando, mas o guardanapo se desintegrou em pequenos flocos que parecia caspa.
Ótimo.
Ele desejou que o garoto tivesse se jogado em direção a outra pessoa. Ele só estava lá ao que, dez minutos? Quão estranho era que ele se virou para sair na mesma hora que um vocalista fez um mosh em sua direção? E que ele estava segurando um refrigerante numa multidão de um show que ele nem queria assistir, em um lugar que ele nem queria estar? Daqui a milhões de anos, a mesma coisa poderia nunca acontecer de novo. Com uma sorte dessa, ele deveria ter jogado na loteria.
E então tinha aquele vocalista estranho. O vocalista de cabelos vermelhos e olhos verdes. De perto, ele percebeu que ele era mais bonito do que estranho, especialmente com aquela expressão de... preocupado. Ele talvez fosse parte dos populares, mas durante um nanosegundo que seus olhares se encontraram, ele teve a estranha sensação de que eles eram tão reais quanto pareciam.
Frank balançou a cabeça para limpar sua mente de tais pensamentos. Claramente o Sol havia afetado seu cérebro. Ele pegou o celular que estava no bolso da frente da calça. subitamente lembrando que poderia ter molhado com o esbarrão, e ele não poderia estar mais certo. O celular estava com a tela preta, encharcado. Agora além de estar num lugar esquecido por Deus, ele estava sem comunicação. Isso significaria que não teria como falar com a amiga durante toda sua estadia. Frank fechou os olhos por um segundo, decidido a manter alguma positividade e certo de que procuraria um lugar para consertar o seu telefone.
Satisfeito que tinha feito o melhor que podia com o guardanapo, ele pegou o copo de refrigerante. Ele planejava jogar o resto fora, mas enquanto se virava, sentiu o copo ficar entre ele e mais alguém. Dessa vez, nada aconteceu em câmera lenta; o refrigerante cobriu imediatamente a parte seca da sua blusa.
Ele paralisou, olhando para sua blusa sem acreditar. "Só pode ser brincadeira."
Parado na sua frente estava um garoto da sua idade, segurando uma latinha de cerveja, parecendo tão surpreso quanto ele. Ele estava vestido de preto, e tinha a barba por fazer e suas sobrancelhas claras denunciavam que seus cabelos pretos eram toscamente tingidos, formando indisciplinadas ondas que contornavam seu rosto. Ele tinha uma tatuagem em cada ante-braço, e um colar em formato de coração pendia de seu pescoço, que lhe davam uma aparência quase selvagem.
— Que droga ser você — O estranho disse.
— Você acha?
— Pelo menos o outro lado combina agora.
— Ah, já entendi. Você está tentando ser engraçado.
— Mais para brilhante.
— Então você deveria ter dito algo como talvez você devesse preferir as latinhas.
O garoto estranho riu, num surpreendente tom agudo: — Você não é daqui, é?
— Não, sou de Nova York. Estou visitando meu pai.
— Pelo fim de semana?
— Não. Por todo o verão.
— Realmente é uma droga ser você.
Dessa vez, Frank riu. — Eu sou Frank. Frank Iero.
— Me chame de Bert.
— Bert?
— Abreviação de Robert, o nome do meu avô. Minha mãe realmente quis me dar um nome de velho.
— Pelo menos ela não te chamou do mesmo nome do seu pai. É... Quer dizer, era uma confusão ter dois Frank na mesma casa.
Bert deu os ombros e gesticulou sobre suas costas: — Se você quiser alguma coisa seca, tem umas blusas da cidade numa barraquinha logo ali.
— Da cidade?
— Sim... Bom, não temos muita coisa para fazer por aqui, mas, pelo menos vai conseguir tirar essa camisa ensopada.
Antes que Frank pudesse responder, ele avistou três garotos fazendo seu caminho através da multidão. Eles ficaram longe das pessoas na praia com suas bermudas rasgadas e tatuagens, peitos nus sob as jaquetas de couro. Um deles tinha um moicano e estava carregando um antigo rádio; o outro tinha o cabelo raspado e uma longa barba. O terceiro, tinha cabelos longos como o Bert, mas era mais alto e musculoso que ele.
Frank virou instintivamente para Bert, apenas para perceber que ele não estava mais ali. Quando seus olhos pousaram sobre o seu pai, o procurando pela multidão a sua volta. Instintivamente ele se abaixou, sabendo que não tinha chances de passar por ele. Ele andou agachado até uma das barraquinhas e comprou uma camisa nova.
Uma hora depois, Frank estava sentado ao lado de Bert em um dos bancos perto do final do píer, ainda entediado, mas não tanto quanto antes. Bert acabou se mostrando um bom ouvinte, com um estranho sendo de humor – e o melhor de tudo; ele parecia amar Nova Iorque tanto quando Frank, mesmo que nunca tivesse ido lá. Ele perguntou sobre as coisas básicas: Times Square e Empire State Building e a Estátua da Liberdade – armadilhas para turistas que Frank tentava evitar a todo custo. Mas ele se animou descrevendo a verdadeira Nova Iorque: os clubes em Chelsea, a música em Brooklyn, e os camelôs de Chinatown, onde era possível comprar CDs piratas ou basicamente qualquer coisa bem mais barata.
Falar sobre esses lugares o fazia ficar louco para voltar para casa em vez de estar aqui. Estar em qualquer lugar menos aqui.
— Eu também não ia querer vir para cá — Bert concordou — Acredite em mim. Isso aqui é chato,
— Quanto tempo você mora aqui?
— Só durante minha vida toda. Pelo menos eu me visto bem.
Frank havia comprado a blusa estúpida da cidade, sabendo que parecia ridículo. GG era o único tamanho que tinha à venda, e a blusa quase alcançava seus joelhos. Só compensava o fato que depois que ele a vestiu, ele conseguira passar pelo seu pai sem que ele a visse. Bert estava certo sobre isso.
— O que estamos fazendo aqui? Meu pai provavelmente já foi embora.
Bert se virou: — Por quê? Você quer voltar para o parque?
— Não, mas deve ter alguma coisa acontecendo.
— Ainda não. Mais tarde vai ter. Mas por hora, vamos só esperar.
— Pelo quê?
Bert não respondeu. Em vez disso, ele se levantou e virou de costas, olhando para a escura água. Seus cabelos se moviam com a brisa, e ele parecia olhar para a lua. — Eu te vi mais cedo, sabe.
— Quando?
— Quando você estava no show. — Ele gesticulou para o píer — Eu estava logo ali.
— E...?
— Você parecia deslocado.
— Você também.
— Por isso eu estava no píer — Ele pulou em cima da grade e se sentou virado para Frank. — Eu sei que você não queria estar aqui, mas o que o seu pai fez para você ficar tão irritado?
Frank limpou suas mãos na calça. — É uma longa história.
— Ele mora com alguma namorada?
— Eu não acho que ele tenha uma. Por quê?
— Se considere sortudo.
— Sobre o que você está falando?
— Meu pai mora com a namorada. É a terceira desde o divórcio, diga-se de passagem, e ela é a pior até agora. É apenas alguns anos mais velhas que eu e se veste como uma stripper. Até onde eu sei ela é uma stripper. Passo mal sempre que tenho que ir lá. É como se ela não soubesse como agir perto de mim. Às vezes tenta me dar conselhos como se fosse minha mãe, outra hora está tentando ser minha amiga. Odeio ela.
— E você mora com sua mãe?
— É. Mas agora ela tem um namorado, e ele está em casa o tempo todo ponto e ele também é um perdedor. Ele usa aquela peruca ridícula porque ficou careca quando tinha tipo, 20 anos ou algo assim, e ele está sempre me dizendo que eu deveria pensar em dar uma chance para faculdade. Como se eu ligasse para o que ele pensa. Ele é um idiota, sabe?
Antes que Frank pudesse responder, Bert pulou da grade.
— Vamos, acho que está prestes a começar, você precisa ver isso.
Frank seguiu Bert pelo píer, em direção a uma multidão que cercava o que parecia ser um show de rua. Surpreso, ele percebeu que dois deles estavam dançando breakdance com a música que saía do rádio, enquanto o outro de cabelo comprido e liso estava em pé no centro fazendo malabarismo com que pareciam bolas de golfe em chama. Ocasionalmente ele parava de fazer o malabarismo e simplesmente segurava a bola, a girando em seus dedos ou a rolando pelas costas de sua mão, ou rolando de um braço para o outro. Dessa vez, ele fechou a mão envolta da bola de fogo sem apaga-la, apenas para mover sua mão, permitindo as chamas escaparem pelas pequenas aberturas entre os dedos.
— Você o conhece? — Frank disse
Bert acenou. — Aquele é o Jared.
— Ele está usando algum tipo de luva protetora?
— Não.
— Ele não se queima?
— Não. Tem uma forma certa de segurar. É incrível, não é?
Frank tinha que concordar. Jared apagou as duas bolas e as reacendeu apenas as tocando. No chão, estava um chapéu de mágico virado ao contrário, e Frank observava as pessoas começarem a jogar dinheiro nele.
— Onde ele consegue as bolas de fogo?
— Ele que faz. Posso te mostrar como. Não é difícil. Tudo que você precisa é de uma blusa de algodão, agulha e linha, e gás.
À medida que a música continuava a tocar, Jared atirou as três bolas de fogo para o garoto com o moicano e acendeu mais duas. Eles fizeram malabarismo as jogando de um para o outro como palhaços jogam pinos de boliche no circo, mais rápido e mais rápido, até um arremesso sair errado.
Exceto que não erravam. O cara barbudo pegou a bola de fogo como se fosse uma bola de futebol e começou a jogá-la de um pé para o outro como se fosse uma bola comum. Após apagarem as três bolas, os outros dois fizeram mesmo, o grupo estava chutando duas bolas de fogo entre eles. O público começou aplaudir, dinheiro chovendo para dentro do chapéu. Então, de uma só vez, pegaram as restantes bolas de fogo e as apagaram em sintonia com o fim da música. Frank tinha que admitir, nunca vira nada do tipo. Jared andou até Bert e lhe deu um longo beijo que parecia extremamente inapropriado para se dar em público. Ele abriu os olhos lentamente, antes de se afastar de Bert.
— Quem é esse? — Ele perguntou, gesticulando em direção a Frank.
— Esse é o Frank, ele é de Nova Iorque. Acabei de conhecer.
Moicano e o Barbas se juntaram a Jared e Bert, o examinando detalhadamente, fazendo Frank se sentir distintamente desconfortável.
— Nova Iorque, uh? — Jared perguntou, puxado um isqueiro de seu bolso e acendendo uma das bolas de fogo. Ele segurou a imóvel orbe flamejante entre o dedão e o indicador, fazendo Frank se perguntar novamente como ele poderia fazer isso sem se queimar.
— Você gosta de fogo?
Sem esperar por resposta, ele jogou a bola de fogo em sua direção. Frank pulou para fora do caminho da bola, muito assustado para responder. A bola aterrissou atrás dele nem na hora que um policial correu em sua direção, apagando as chamas com os pés.
— Vocês três! — ele gritou, apontando — Para fora, agora! Eu já disse que não podem fazer esse showzinho de vocês no píer. E da próxima vez, eu juro que vou levá-los comigo.
Jared ergueu suas mãos e deu um passo para trás. — Já estávamos indo embora.
Os garotos pegaram suas jaquetas e começaram a se mover pelo píer, em direção aos brinquedos do parque. Bert os seguiu, deixando Frank sozinho. Frank sentiu o olhar do policial nele, mas ignorou.
Em vez disso, ele hesitou por um momento antes de ir atrás deles.
Chapter 4: Boston Whaler
Chapter Text
Jared
Jared Leto sabia que ele Frank Iero iria segui-los. Eles sempre os seguiam. Assim como as garotas novas na cidade. Esse era o lance: o quão pior você as trata, mais elas te querem. Elas são estúpidas assim mesmo. Previsíveis e estúpidas. E com o Frank, não precisou de outra tática.
Ele se apoiou contra o vaso de plantas em frente ao hotel. Bert envolvendo seus braços em torno dele. Frank estava sentado do outro lado em um dos bancos; do outro lado, Jimmy Urine e Bob Bryar botavam defeitos um no outro enquanto tentava chamar atenção das garotas que passavam por eles. Eles já estavam bêbados – droga, eles estavam um pouco bêbados mesmo antes do show – e como sempre, todas as garotas os ignoravam. Metade do tempo, até ele os ignorava.
Bert, enquanto isso, estava mordiscando seu pescoço, mas ele ignorou isso também. Ele estava cansado do jeito que ele sempre se agarrava nele quando estavam em público. Cansado dele, no geral. Se ele não fosse uma puta na cama, se ele não soubesse o que realmente o excitava, ele já teria terminado com ele há um mês para ficar com com uma das três ou quatro, ou cinco outras pessoas que ele regulamente dormia. Mas agora ele não estava interessado nelas, também. Em vez disso, ele olhou para Frank, gostando da mecha de cabelo que insistia em cair sobre seus olhos e o seu pequeno corpo firme. Tirando a blusa ridícula que ele estava usando. Ele gostava do que via. Gostava muito.
Ele se pressionou contra o quadril de Bert, desejando que ele não estivesse aqui: — Vai pegar uma batata frita pra mim — ele disse — Estou meio com fome.
Bert se afastou: — Eu só tenho uns dois dólares sobrando.
Ele podia ouvir o lamento em sua voz e se irritou. — E daí? Isso deve dar. E me garanta que não vai comer nenhuma delas, também.
Jared falava sério. Bert estava ficando um pouco gordinho na barriga, um pouco inchado no rosto. Nenhuma surpresa considerando que ultimamente ele andava bebendo quase tanto quanto Bob e Jimmy. Bert franziu o cenho, mas Jared lhe deu um pequeno empurrão e ele se dirigiu a um dos estandes de comida. Era uma fila com pelo menos seis ou sete estandes, e assim que ele alcançou o final da fila, Jared vagou por Frank, e se sentou ao lado dele. Perto, mas não muito perto. Bert era do tipo ciumento, e ele não queria assustar o Frank antes de ter a chance de conhecê-lo.
— O que você achou? — Ele perguntou
— Sobre o que?
— O show. Você já viu algo parecido em Nova York?
— Não — ele admitiu — Não vi.
— Onde você tem ficado?
— Descendo um pouco a praia. — Jared podia dizer pela forma que respondia, que ele estava um pouco desconfortável, provavelmente por que Bert não estava aqui.
— Bert disse que você deu um bolo no seu pai.
Em resposta, ele simplesmente deu os ombros.
— O que? Não quer conversar sobre isso?
— Não tem nada para ser dito.
Ele se inclinou para trás — Talvez você não confie em mim.
— Do que você está falando?
— Você conversa com o Bert, mas não comigo.
— Eu nem te conheço.
— Você também não conhece o Bert. Você acabou de conhece-lo.
Frank não pareceu apreciar suas petulantes respostas: — Eu só não queria falar com ele, okay? E eu também não quero ter que passar meu verão aqui.
Jared ajeitou os cabelos, jogando-os para trás: — Então vá embora.
— É, está certo. Para onde eu deveria ir?
— Vamos para Flórida.
Frank piscou: — O que?
— Eu conheço um cara que tem um lugar por lá, logo depois de Tampa. Se você quiser, eu te levo. Podemos ficar pelo tempo que você quiser, meu carro está logo aqui.
Frank olhou para Jared em choque: — Eu não posso ir para Flórida com você. Eu... eu acabei de te conhecer. E o Bert?
— O que tem ele?
— Você está com ele.
— E daí? — Ele manteve o rosto neutro.
— Isso é muito estranho... — ele balançou a cabeça e se levantou — Acho que vou ver como Bert está indo.
Jared alcançou uma bola de fogo em seu bolso: — Você sabe que eu estava brincando, certo?
Na verdade ele não estava. Ele disse isso pelo mesmo motivo que tinha jogado a bola nele. Para ver o quão longe ele poderia leva-lo.
— É claro... Eu estou indo falar com ele.
Jared observou o menor saindo. Por mais que ele admirasse aquele pequeno corpo explosivo, ele não tinha certeza do que fazer com Frank. Ele se encaixava no papel, mas diferente de Bert, ele não fumava ou demonstrava interesse em farrear, e Jared tinha a sensação de que havia mais nele do que ele estava mostrando. Ele se perguntou se ele teria dinheiro. Fazia sentido certo? Apartamento em Nova York, casa na praia? A família devia ter dinheiro para conseguir pagar essas coisas. Mas... de novo, não tinha nenhuma chance dele se encaixar entre as pessoas com dinheiro por aqui, pelo menos não os conhecia. Então qual das opções era? E porque isso importava?
Por que ele não gostava de pessoas com dinheiro, ele não gostava do jeito que eles exibiam isso, e não gostava do jeito que pensavam que eram melhores que os outros só por causa disso. Uma vez, antes dele largar a escola, ele ouviu um garoto rico na sua escola falando sobre o novo barco que tinha ganho de aniversário. Não era uma canoa de pesca comum; era um Boston Whaler de seis metros com GPS e sonda integrados, e o garoto continuava se gabando sobre ter deixado no deck do clube e como ele iria usa-lo o verão todo. Três dias depois, Jared pôs fogo no barco e assistiu queimar por trás da árvore de magnólia.
Ele não contou para ninguém o que havia feito, é claro. Conte para uma pessoa e você pode estar confessando para polícia no dia seguinte. Jimmy e Bob eram casos a se pensar: Os ponha atrás das grades e eles vão falar assim que a porta fechar. Que era o motivo dele insistir que eles fizessem todo o trabalho sujo esses dias. O melhor jeito de impedi-los de falar era tendo certeza de que eram ainda mais culpados do Jared era. Hoje em dia, eram eles que roubavam bebidas, eles que espancavam o cara inconsciente no aeroporto antes de roubar sua carteira, eles que pintavam suásticas nas sinagogas. Ele não necessariamente confiava neles, nem ao menos gostavam deles, mas eles sempre concordavam com seus planos. Eles serviam para um propósito.
Atrás dele, Jimmy e Bob continuavam a agir como dois idiotas que eram, e sem Frank por perto, Jared estava impaciente. Ele não pretendia ficar sentado aqui a noite toda, fazendo nada. Depois que Bert voltasse, depois dele comer as batatas fritas, ele imaginou que iriam perambular por aí. Ver o que acontecia. Nunca se sabe o que pode acontecer num lugar como esse, numa noite como essa, numa multidão dessas. Uma coisa ele tinha certeza: depois do show, ele sempre precisava algo mais. O que quer que isso significasse.
Espiando pelas estantes de comida, ele viu Bert pagar pelas batatas fritas, Frank logo atrás dele. Ele olhou para Frank, de novo desejando que ele olhasse em direção a ele, e eventualmente, ele olhou. Nada de mais, apenas uma olhada rápida, mas era o suficiente para fazê-lo se perguntar novamente como ele era na cama.
"Provavelmente selvagem", ele pensou. A maioria dos caras com cara de bonzinho eram, com certo tipo de encorajamento.
Chapter 5: Brinco na boca
Chapter Text
Gerard
Não importava o que ele estava fazendo, Gerard Way sempre podia sentir o peso do segredo que o colocava para baixo. Superficialmente, tudo parecia normal: Nos últimos meses, ele tinha ido para seus ensaios, trabalhou na loja do seu pai, tocou guitarra, participou da formatura do irmão e se inscreveu na escola de artes. Não tinha sido tudo perfeito, é claro. Seis semanas atrás, ele havia terminado com Lindsey, mas não tinha nada haver com o que tinha acontecido naquela noite, a noite que ele nunca poderia esquecer.
Na maioria das vezes, ele foi capaz de manter a memória bloqueada, mas de vez em quando, estranhamente, tudo isso voltou para ele com força visceral. As imagens nunca mudaram ou desaparecera, as imagens nunca ficaram borradas. Como se vê-lo com os olhos de outra pessoa, veria a si mesmo correndo até a praia, pegando Mikey pelos braços, enquanto olhava fixamente para o fogo ardente.
"Que diabos você fez?" Lembrou-se de gritar
"Não é minha culpa" Mikey gritou de volta.
Foi só então, entretanto, que perceberam que não estavam sozinhos. Á distância, viram perceberam Jared, Bert, Jimmy e Bob. Eles sabiam o que aconteceu.
Eles sabiam...
Assim que Gerard pegou seu telefone, Mikey o deteve.
"Não chame a polícia! Foi um acidente" Sua voz era suplicante "Vamos, cara! Você me deve!"
Teve extensa cobertura de notícias nos primeiros primeiros de dias, Gerard tinha assistido os noticiários e leu os jornais, com o estômago dando nó. Foi um ato para disfarçar um incêndio acidental. Talvez ele poderia ter feito isso. Mas alguém tinha sido ferido naquela noite, e ele sentiu um impulso doentio de culpa quando dirigia pelo local. Não importou que a igreja estava sendo reconstruída, ou que o pastor já havia sido liberado do hospital há muito tempo, o que importava era que ele sabia o que tinha acontecido e não tinha feito nada sobre isso.
"Você me deve"
Essas foram as palavras que o perseguiam.
Não é simplesmente por que ele e o Mikey eram irmãos, mas por outra razão, razão mais importante. E ás vezes, no meio da noite, ele ficava acordado, odiando a verdade dessas palavras e desejando uma maneira de fazer as coisas direito. Estranhamente, foi o incidente no show que desencadeou as lembranças deste tempo. Ou melhor, tinha sido o rapaz que ele quase esmagou. Ele não estava interessado em suas desculpas, ao contrário da maioria por aqui. Ele não tentou mascarar sua raiva. Ele não chiou ou gritou, ele era auto-possesso de uma forma que o atingiu instantaneamente de maneira diferente.
Depois que ele foi embora, Gerard retornou ao pequeno palco montado na areia e eles tocaram mais algumas músicas antes de encerrar o show. Mikey havia olhado furiosamente para ele e – talvez por causa do jogo de luzes – ele parecia exatamente como na noite do incêndio quando Gerard pegou seu celular para ligar para a polícia. E isso foi o necessário para reviver aquelas memórias.
Ele conseguiu segurar as pontas até eles encerrarem o show, depois que acabou, ele precisava de um tempo sozinho. Então ele vagou pelas barraquinhas e parou em uma com preços absurdos e jogos impossíveis de se ganhar. Ele estava se preparando para atirar com a arma de ar comprimido nas latinhas provavelmente cheias de areia quando ouviu uma voz:
— Aí está você! — Lindsey disse. — Você estava evitando a gente?
"Sim", ele pensou. Na verdade, ele estava.
— Não. Só vim tentar ganhar alguma coisa aqui...
Lindsey sorriu. Sua blusa tomara que caia, sandálias e balançantes brincos realçavam ao máximo seus olhos negros e cabelos brilhosos. Ela mudou de roupa depois do último show. Típico; era a única garota que ele conhecia que carregava um visual completo para trocar como se fosse uma regra, mesmo quando ela estava na praia. No baile de formatura, em maio, ela mudou de roupa três vezes: um visual para o jantar, outro para o baile, e um terceiro para a pós festa.
— Não me deixe interrompê-lo — ela falou — Eu odiaria que você perdesse um dólar.
Gerard se virou, e depois de se concentrar em uma das latas, atirou com a arma de brinquedo. Ele vacilou, pendendo de um lado para o outro antes de virar e cair no chão. Foi uma. Faltavam duas e ele ganharia um prêmio. Quando tiro passou longe de acertar um dos alvos, o dono da barraquinha olhou de relance para Lindsey. Ela por sua vez, pareceu nem notar a presença dele.
— Alguém já ganhou hoje? — Gerard perguntou ao dono da barraca.
— Claro, muitos ganhadores hoje.
Ele continuava a encarar a mulher de cima abaixo enquanto respondia. Nenhuma surpresa. Todo mundo sempre notava Lindsey. Ela era como um brilhante letreiro de neon para qualquer um com um pouco de testosterona. Ela deu um passo para frente, dando uma pirueta e se apoiando contra a barraquinha. Sorriu para Gerard de novo.
— Você cantou bem hoje. Sua voz está ficando cada vez melhor.
— Obrigado.
— Acho que você está ficando tão bom quanto o Ray.
— Sem chance. Eu tenho uma voz ok, e posso pular e cantar ao mesmo tempo, mas não sou tão completo quanto ele.
— Só estou dizendo o que vi.
Se focando no alvo, Gerard soltou o ar, tentando relaxar antes de apertar o gatilho. Era a mesma coisa que o seu orientador de música sempre o dizia: "se concentre no diafragma". Dessa vez, porém, a latinha se moveu com um chiado certeiro. Duas de três.
— O que você vai fazer com o bichinho de pelúcia que ganhar? — Ela perguntou.
— Eu não sei. Você quer?
— Só se você quiser me dar...
Ele sabia que ela queria que ele o oferecesse em vez dela ter que pedir. Depois de dois anos juntos, havia poucas coisas que ele não sabia sobre ela. Gerard se concentrou com a arma, soltando o ar de novo e apertando seu último tiro. Porém, dessa vez, não acertou.
— Essa foi perto — o dono da barraca disse — Você devia tentar de novo.
— Eu sei quando sou derrotado.
— Vou te dizer o seguinte. Eu desconto um dólar. Dois dólares por mais três tiros.
— Está bem.
— Dois dólares e eu deixo os dois atirarem três vezes. — Ele ofereceu mais uma arma a Lindsey —Eu adoraria ver você tentando.
Lindsey encarou a arma como se fosse a coisa mais nojenta do mundo, deixando óbvio que ela nem ponderou tal ideia.
— Acho que não. Mas obrigado pela oferta. — Gerard disse, enquanto entregava a arma e se virava para Lindsey — Você sabe se o Mikey ainda está por aí?
— Ele está na mesa com Alicia. Ou pelo menos era onde eles estavam quando eu vim encontrar você. Eu acho que ele gosta dela.
Gerard se dirigiu em direção à mesa, Lindsey ao seu lado.
— Então nós estávamos conversando, — ela dizia, soando quase como casual — e Mikey e Alicia acham que talvez seja divertido se formos para minha casa. Meus pais estão em Raleigh para algum evento com o governador, então nós teríamos a casa toda só para a gente.
Gerard sabia que isso ia acontecer: — Acho que não.
— Por que não? Não é como se alguma coisa legal acontecesse por aqui.
— Eu só acho que não é uma boa ideia.
— É por que nós terminamos? Não é como se eu quisesse que nós voltássemos.
"Que foi esse o motivo de ter ido ao show," ele pensou. "E ter se arrumado hoje à noite. E vir me encontrar. E sugerido de irmos para sua casa, desde que seus pais não estão lá." Mas ele não disse essas coisas. Ele não estava com humor para discutir, nem queria fazer as coisas mais difíceis do que já eram. Ela não era uma má pessoa; só não era... para ele.
— Eu tenho que estar cedo no trabalho amanhã de manhã, e eu passei o dia todo envolvido com esse show. — Ele disse, em vez disso. — Eu só quero ir dormir.
Ela segurou o braço dele, o fazendo parar: — Por que você não atende minhas ligações?
Ele não disse nada, não havia nada que ele pudesse dizer.
— Eu só quero saber o que fiz de errado! — Ela exigiu.
— Você não fez nada de errado.
— Então é isso?
Quando ele não respondeu, ela deu um suplicante sorriso: — Só venha até a minha casa e conversaremos sobre isso, okay?
Ele sabia que ela merecia uma resposta. O único problema que era uma resposta que ela não gostaria de ouvir.
— Como eu disse, só estou cansado...
— Você está cansado, — Mikey disse num tom de voz alto. — Você disse para ela que você está cansado e queria ir dormir?
— Algo assim.
— Você está louco?
Mikey o encarou do outro lado da mesa. Alicia e Lindsey tinha ido para o píer conversar, sem dúvida dissecando tudo o que o Gerard disse para ela, adicionando um desnecessário drama à situação que provavelmente deveria ser mantida em particular. Com Lindsey, porém, sempre havia drama. Ele teve a súbita sensação de que o verão iria ser longo. Longo até demais.
— Eu estou cansado — Gerard disse. — Você não está?
— Talvez você não ouviu o que ela estava sugerindo. Eu e Alicia, você e Lindsey? Casa dos pais delas na praia?
— Ela falou...
— E ainda estamos aqui por que...?
— Eu já te disse.
Mikey balançou a cabeça negativamente: — Não... veja, foi aí que você não entendeu. Você usa a desculpa "estou cansado" quando nossos pais querem que você lave o carro, ou quando eles te mandam acordar para ir a igreja. Não quando se trata de uma oportunidade como essa.
Gerard não disse nada. Apesar de o Mikey ser mais novo que ele, ele frequentemente agia como se fosse o irmão mais velho e mais esperto de Gerard.
Exceto naquela noite na igreja.
— Está vendo o cara lá na barraquinha de basquete? — Mikey continuava — Agora ele, eu entendo. Ele fica em pé o dia todo tentando fazer as pessoas jogarem para ganhar um pouco de dinheiro e comprar cervejas e alguns cigarros no fim do turno. Simples. Sem complicações. Não é o meu tipo de vida, mas eu entendo. Mas você, eu não entendo. Quero dizer... Você já olhou para a Lindsey hoje? Ela está linda.
— E...?
— Meu ponto é: ela é gostosa para caralho.
— Eu sei, estivemos juntos por uns dois anos, você lembra? Tenha a porra do respeito.
Mikey pareceu não ouvir a resposta do irmão: — E eu não estou dizendo que você tem que voltar com ela. Tudo que estou sugerindo é de nós quatro irmos para a casa dela, nos divertimos um pouco, e ver o que acontece. E por sinal? Eu não entendo o porquê de você ter terminado com ela, em primeiro lugar. É óbvio que ela ainda gosta de você, e vocês sempre pareceram perfeitos juntos.
Gerard sacudiu a cabeça levemente: — Não éramos perfeitos juntos.
— Você disse isso antes, mas o que isso significa? Ela é, tipo... psicopata ou alguma coisa assim? O que aconteceu? Você a encontrou em pé ao seu lado com uma faca de açougueiro, ou ela uivou para a lua quando vocês foram à praia?
— Não, nada assim. Só não deu certo, isso é tudo.
— Só não deu certo — Mikey repetiu com voz infantilizada — Você pode ao menos ouvir a si mesmo?
Quando Gerard não demonstrou nenhum sinal de compaixão, Mikey se inclinou sobre a mesa.
— Vamos cara. Faça isso por mim, então. Viva um pouco. Estamos em férias de verão.
— Agora você soa desesperado.
— Eu estou desesperado. Ao menos que você concorde de ir com a Lindsey hoje, Alicia não vai comigo. E nós estamos falando sobre a garota que está pronta para foder.
— Eu sinto muito. Mas não posso te ajudar.
— Ótimo. — Mikey se deu por vencido, jogando as mãos para o alto — Destrua minha vida. Quem liga, certo?
— Você vai sobreviver. — Ele pausou. — Você está com fome?
— Um pouco — Mikey resmungou.
— Venha, vamos comprar um hambúrguer.
Gerard se levantou da mesa, mas Mikey continuou sentado: — Vamos, você precisa praticar seu movimento. — ele disse, se referindo ao show mais cedo. — Você estava paradão no show. Eu fiz tudo que podia para chamar a atenção do público. Lindsey me disse que eu estava tão bom quanto Ray.
Mikey bufou e se levantou da mesa: — Ela não sabe o que está falando.
Após ficarem na fila de comida, e serem parados para tirar algumas fotos e conversar com as pessoas que assistiram o show, Mikey e Gerard andaram até o estande de condimentos, onde Mikey ensopou o seu hambúrguer com katchup.
— Isso é nojento. — Gerard comentou.
— Então veja isso. Tem esse cara chamado Ray Kroc e ele começou uma empresa chamada McDonald's. Enfim, em seu hambúrguer original ele insistiu em adicionar katchup. Que eu devo lhe dizer o quanto isso é importante para o gosto geral.
— Continue falando. — Gerard deu os ombros — Você está tão fascinante. Estou indo pegar alguma coisa para beber.
— Poderia me trazer uma cerveja?
Enquanto Gerard se distanciava, algo branco passou por ele, em direção ao irmão. Mikey também viu, e instintivamente saiu do caminho, derrubando seu hambúrguer no processo.
— O que diabos você pensa que está fazendo? — Mikey exigiu, girando o corpo. No chão estava uma caixa com batatas fritas. Atrás dele, Bob e Jimmy tinham as suas mãos em seus bolsos. Jared em pé entre eles, fracassando em tentar parecer inocente.
— Eu não sei do que você está falando. — Jared respondeu.
— Disso! — Mikey rosnou, chutando a caixa de volta para eles. Foi o tom, Gerard mais tarde pensou, que fez todos em volta deles ficarem tensos. Gerard sentiu o cabelo em sua nuca formigar com o evidente, quase físico descolamento de ar e espaço, um tremor que prometia violência. Violência que Jared obviamente queria... Como se ele tivesse mordido a isca.
Gerard viu um pai segurar seu filho e se afastar, enquanto Lindsey e Alicia, no píer, congelaram. Do outro lado, Gerard reconheceu Robert – que se chamava ultimamente a si mesmo de Bert – circulando por perto.
Mikey os encarou, com a mandíbula trincada: — Sabe, eu estou ficando cansado das suas merdas.
— O que você vai fazer? — Jared deu um falso sorriso. — Soltar fogos de artifícios em mim?
Isso foi o necessário. Enquanto Mikey deu um súbito passo para frente, Gerard abriu freneticamente seu caminho entre a multidão, tentando alcançar o irmão a tempo. Jared não se moveu. Nada bom. Gerard sabia que ele e seus amigos eram capazes de qualquer coisa... e o pior de tudo, eles sabiam o que o Mikey havia feito.
Mas Mikey, em fúria, não pareceu se importar. Enquanto Gerard se agitava para frente, Bob e Jimmy se espalharam, atraindo Mikey para o meio deles. Ele tentou diminuir a distância, mas Mikey se movia muito rápido, e de repente tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo. Jared deu um meio passo para trás enquanto Bob chutou uma cadeira, forçando Mikey a sair do caminho a sua frente, ganhando velocidade, ele se virou para Jimmy quando do nada um garoto se aproximou da briga.
— Apenas parem! — o garoto gritou, abrindo seus braços. — Parem com isso! Todos vocês!
Sua voz era surpreendentemente forte e autoritária. O suficiente para fazer Gerard parar. Todo mundo congelou, e no repentino silêncio, os choros das crianças pareceram estridentes. O garoto girou, olhando furiosamente para cada participante da briga, e assim que Gerard viu o piercing nos lábios, ele percebeu exatamente onde ele tinha o visto antes. Só que agora ele estava vestindo uma blusa enorme e branca.
— A briga acabou! Não vai ter briga! Vocês não viram que essa criança está machucada?
Os desafiando a contradizê-lo, ele se afastou de Mikey e Jared e se inclinou para o menino chorando, que havia sido derrubado no meio da confusão. Ele tinha três ou quatro anos, e sua blusa era cor de abóbora. Quando Frank agaixou nos próprios calcanhares e falou com ele, sua voz era suave, e seu sorriso tranquilizador.
— Ei, rapazinho. Você está bem? Onde está a sua mamãe? Vamos encontrá-la, okay?
O menino parece momentaneamente focado nos piercings dele.
— Tá vendo isso aqui? A minha mamãe costuma dizer que eu tenho brinco na boca.
O menino gargalhou. Do outro lado, surgiu uma mulher segurando um bebê, que abria caminho entre a multidão, esquecendo a tensão no ar: — Noah?! Onde você está! Você viu um menino? Cabelos loiros, blusa laranja?
O alívio passou pelo seu rosto assim que o avistou. Ela ajeitou o bebê em seu colo enquanto corria para o lado do menino.
— Você não pode correr assim, Noah! — a mulher gritou. — Você quase me matou de susto! Você está bem?
— Brinco! — ele disse, apontando para o garoto.
A mãe se virou, notando Frank pela primeira vez. — Obrigada, ele... ele simplesmente sumiu quando eu estava trocando a fralda da bebê e...
— Está tudo bem — o rapaz dizia, sacudindo a cabeça. — Ele está bem.
Gerard observou a mãe levar seus filhos embora, então se voltou para o rapaz. Notando o modo que ele sorria enquanto o menino se afastava. Entretanto, uma vez que eles se afastaram o suficiente, o garoto pareceu de repente perceber que todos olhavam para ele. Ele cruzou os braços, autoconsciente quando a multidão começou a se dispersar por causa do policial que se aproximava rapidamente.
Jared murmurou depressa alguma coisa para Mikey antes de se misturar na multidão. Bob e Jimmy fizeram o mesmo. Bert se virou para segui-los, e surpreendendo Gerard, o garoto do piercings nos lábios alcançou seu braço.
— Espera! Onde vocês estão indo?
Bert liberou seu braço, andando para trás. — Bower's Point.
— Onde é isso?
— Só desça a praia. Você vai encontrar. — Bert se virou e correu atrás de Jared.
Frank não teve certeza de que fazer. Até que a tensão, tão abundante há apenas alguns minutos, foi se dispersando tão rápido quanto apareceu. Mikey ajustou a mesa e se aproximou de Gerard.
— Você pode acreditar nisso? — Mikey tirou a atenção de Gerard da cena que estava observando tão perto, ainda estava agitado.
— Eu estava para encurralar aquele cara.
— Uh... é — Gerard respondeu. — Se controla. O policial está vindo.
O policial se aproxima deles lentamente, tentando obviamente medir uma situação.
— O que está acontecendo aqui? — Ele exigiu.
— Nada, senhor. — respondeu Mikey, parecendo sério.
— Ouvi que estava tendo uma briga.
— Não, senhor. — O policial esperou por mais, sua expressão cética. Nem Mikey ou Gerard disseram mais nada.
Até então, uma área estava cheia de pessoas cuidando de suas coisas. O policial inspecionou a cena, tendo certeza de que não deixava nada passar, então de repente ficou de queixo caído com o reconhecimento de alguém parado atrás de Gerard.
— Cheech, é você? — ele gritou.
Ele se virou, prestando atenção no policial conversando com o homem.
— Oh, ei, Pete — o homem respondeu. — Como vai?
— Como sempre — o policial respondeu — Fazendo o meu melhor para manter as coisas sob controle aqui. Como está seu filho?
— Ele está bem, vagando por aí — o pai disse — Mas foi embora de novo...
— Sinto muito ouvir isso.
Gerard observou o pai apontar em direção à praia. — Você tem alguma ideia de onde eles podem estar indo?
O policial cerrou os olhos: — Pode ser qualquer lugar. Mas alguns desses garotos não são uma coisa boa. Especialmente Jared. Confie em mim, você não o quer na companhia dele.
Subitamente, Gerard sentiu uma urgência em chamar o policial. Ele sabia que não cabia a ele dizer nada. Ele não conhece o rapaz em primeiro lugar. Talvez ele tenha um bom motivo. Mas enquanto ele via uma preocupação no rosto do seu pai, ele se lembra da paciência e da bondade quando ele resgatou o menino, e como as palavras saíram antes que pudesse pensa melhor:
— Ele foi para o Bower's Point — Gerard anunciou.
Mikey o olhou com dúvida de que estaria falando com ele, o policial e o pai do rapaz o estudaram duvidosos.
— Seu filho, certo? Piercing na boca e no nariz? — Quando o pai acenou levemente, ele continuou: — Ele está indo para Bower's Point.
O policial continuou encarando por algum instante , então se virou para o pai.
— Quando eu terminar por aqui, eu vou falar com ele e ver se é conveniente voltar para casa, ok?
— Você não precisa fazer isso, Pete. — O policial continuou estudando o grupo à distância.
— Eu acho que nesse caso, é melhor eu ir.
Inexplicavelmente, Gerard sentiu uma estranha onda de desgaste. Isso deve ter estado na cara, porque quando ele voltou para o irmão, ele o encarava.
— O que diabos foi isso? — Mikey exigiu.
Gerard não respondeu. Ele não pôde, porque ele realmente não entendeu a si mesmo.
Chapter 6: Mais um dia no paraíso
Notes:
Estão gostando? Me dêem um feedback :)
Chapter Text
Frank
Em circunstâncias normais, provavelmente Frank teria apreciado uma noite como esta. Em Nova York, as luzes da cidade tornada impossível ver muitas estrelas, mas aqui, foi justamente o oposto. Mesmo com a camada de névoa marinha, ele podia distinguir claramente a Via Láctea, e diretamente para o sul, Vênus brilhava intensamente. As ondas caiam e rolavam ritmicamente ao longo da praia, e no horizonte, podiam ver a luz tênue de uma meia dúzia de barcos de camarão. Mas as circunstâncias não eram normais.
Frank empacou na varanda e subiu os olhos do telefone apagado para o oficial, inacreditavelmente vermelho. Não, muda isso. Ele não estava apenas vermelho. Ele estava com ódio. Por que isso tinha que acontecer? Estragar seu único meio de contato com a Jamia? E seu pai, super protetor, ainda por cima? Seu primeiro pensamento foi simplesmente pedir carona até a rodoviária e comprar uma passagem de volta para Nova York. Ele não contaria para seu pai ou sua mãe; ele iria até Jamia. Uma vez leve lá, ele descobriria o que fazer em seguida. Não importa o que ele decidiu, não poderia ser pior que isso. Mas isso não foi possível.
Ele ainda não acreditava. Como poderia o pai, o próprio pai fazer algo assim? Frank era quase adulto, e não estava fazendo nada de errado, e não era meia-noite. Qual era o problema? Por que ele tem que transformar isso em algo muito maior do que era?
Primeiro, o oficial Pete tinha feito um som similar a uma ordinária ordem para desocupar o lugar no Bower's Point - algo que não surpreendeu os outros, mas então ele virou-se para ele. Especificamente para ele, e houve um instante em que Frank ficou congelado em mortificação.
"Estou levando você para casa." ele disse, fazendo como se ele tivesse oito anos.
"Não, obrigado." Frank respondeu.
"Então terei que prendê-lo por acusações de vadiagem, e seu pai leva você para casa."
É claro que seu pai havia pedido para trazê-lo para casa. Claro, Frank tinha problemas com sua mãe, e sim, Frank tinha desobedecido o toque de recolher algumas vezes. Mas nunca, nunca, nem se quer uma vez, sua mãe mandou a policia atrás dele.
Na varanda, o intrometeu oficial em seus pensamentos.
— Vá em frente. — O policial alertou, tornando-o bastante claro que se ele não abrisse a porta, ele mesmo faria.
Frank podia ouvir sons suaves do piano, e reconheceu a sonata de Edvard Grieg em Mi Menor. Ele respirou fundo antes de abrir a porta, e o fechou atrás dele. Seu pai parou de tocar e olhou para cima.
— Você mandou a polícia ir atrás de mim? — Seu pai não disse nada, mas seu silêncio era suficiente. — Por que você faria algo assim? Como você pôde fazer algo assim?
Ele não disse nada, então Frank continuou: — O que é isso? Você não quer que eu me divirta? Você não confia em mim? Você não sabe que eu não quero ficar aqui?
Seu pai cruzou as mãos em seu colo: — Eu sei que você não quer estar aqui.
Frank deu um passo para frente, ainda gritando: —Então, você decidiu que quer arruinar minha vida também?
— Quem é Jared?
— Quem se importa! — Ele gritou. — Esse não é o ponto! Você não vai monitorar cada pessoa que eu quiser conversar, então nem tente!
— Eu não estou ten...
— Eu odeio estar aqui! — Frank explodiu — Você não vê isso? Eu te odeio também!
Mas seu pai não disse nada, como Frank era acostumado. Ele odiava esse tipo de fraqueza. Furioso, ele atravessou uma sala para o corredor, e pegou uma foto dele mesmo tocando piano com seu pai ao seu lado no banco e atirou-a através da sala. Seu pai se encolheu ao som de vidro quebrando, ele permaneceu quieto.
— O que? Nada a dizer?
Seu pai limpou uma garganta: — Seu quarto é a primeira porta à direita.
Frank não queria engrandecer seu comentário com uma resposta, então ele adentrou o corredor, determinado a não ter mais nem uma conversa com o pai.
— Boa noite, querido — ele gritou. — Eu te amo.
Houve um momento, apenas um momento, que ele se encolheu por causa do que disse ao pai, mas seu arrependimento desapareceu tão rapidamente como tinha chegado. Era como se seu pai não tivesse sequer percebido que ele tinha ficado com raiva. Ele ouviu Steve começar a tocar piano de novo, parando exatamente de onde ele parou. No quarto - não difícil de encontrar, considerando que há apenas três portas fora do corredor, uma para o banheiro e outra para o quarto de seu pai - Frank ligou a luz. Com um suspiro frustrado, ele tirou a camisa ridícula da cidade que quase esquecia que estava usando.
Tinha sido o pior dia de sua vida. Oh, ele sabia que estava sendo melodramático sobre tudo. Frank não era estúpido. Ainda assim, sobre a única coisa boa de sair por todo o dia foi conhecer Bert, que deu esperança de que ele teria, pelo menos, uma pessoa para passar mais tempo neste verão. Supondo, é claro, que Bert ainda queira passar um tempo com ele. Depois da pequena façanha do seu papai. Bert e o restante deles provavelmente ainda falavam sobre isso e riam da cara dele. Era o tipo de coisa que Jamia guardaria por anos. A coisa toda o deixou com dor no estômago.
De manhã, com o sol espreitando através das cortinas, Frank demorou alguns segundos para perceber onde estava. Ele piscou para o relógio, e pensou "Você deve estar brincando comigo"
Oito horas? De manhã? Sem verão? Ele virou-se de volta, apenas para encontrar-se olhando para o teto, já sabendo que sono já estava fora de questão. Não com o sol atirando punhais através das janelas. Não com o seu pai já martelando o piano na sala. Frank de repente lembrou-se do que havia acontecido na noite passada, uma raiva que sentia do seu pai ressurgiu.
"Bem-vindo a mais um dia no paraíso." No exterior da janela, Frank ouviu um barulho distanciado de motores. Instantaneamente levantou-se da cama para puxar para a cortina, só para saltar para trás, assustado com a visão de um guaxinim sentado em cima de um saco de rasgado lixo. Enquanto o lixo espalhado era grotesco, o guaxinim era bonitinho. Frank bateu no vidro, tentando obter sua atenção.
Foi então que ele percebeu uma barra de ferro atravessando a janela.
Barras. Na. Janela.
Rangeu seus dentes, deu meia volta e marchou em direção a sala. Seu pai olhou para cima e continuou a tocar. Ele pôs a mão na cintura, esperando que ele parasse. Seu pai não o fez. Frank notou que a imagem que ele tinha jogado estava de volta no lugar em cima do piano, embora sem o vidro.
— Você não pode me manter trancado todo o verão.
— Isso não vai acontecer. — Seu pai olhou para cima e continuou tocando. — Do que você está falando?
— Você colocou grade nas janelas! Como seu eu fosse um prisioneiro?
Steve balançou a cabeça, como mãos se sobre o teclado: — Eu não as coloquei. Elas vieram com a casa.
— Eu não acredito em você.
— Eu não tirei para preservar a fachada.
— Vamos tentar de novo — Frank disse, tentando recolher o máximo de serenidade que ainda existia em seu ser — Você não vai passar o verão inteiro me tratando como se eu fosse uma criança. Eu tenho dezoito anos!
— Você não vai ter dezoito anos até outubro.
— Que seja, eu tenho quase dezoito anos. O que você fez na noite passada foi...
Ele parou, incapaz de dizer tudo que estava acontecendo, tudo que tinha acontecido, em palavras. Incapaz de esconder a sua exasperação, virou—se para olhar para seu pai, que tinha continuado a tocar, nunca faltando nenhuma nota. Frank continuou:
— Eu sou velho o suficiente para fazer minhas próprias decisões. Não vê isso? Você perdeu o direito de me dizer o que fazer quando você abandonou a mamãe.
De repente, seu pai parou de tocar.
— Se você mandar a polícia para me trazer para casa outra vez, eu não vou só recusar o piano. Eu não volto mais para cá, você entendeu? Eu nunca, nunca vou falar com você de novo. E se você não acredita em mim, tente. Eu já fiquei três anos sem falar com você, e foi a coisa mais fácil que eu já fiz.
Steve permaneceu em silêncio, então Frank continuou:
— Eu não gosto desse joguinho que você está fazendo.
— Que jogo? — Steve perguntou
— Isso! Tocar piano a cada minuto que estou aqui! Não importa o quanto você me quer ver tocar! Eu nunca vou tocar piano novamente! Especialmente para você!
— Certo.
Frank esperou por mais, mas não havia mais nada.
— Só isso? Isso é tudo que você vai me dizer?
Seu pai se levantou do banco do piano, e andou em direção a cozinha.
— Você quer café da manha? Fiz alguns bacons.
—Bacon? — Frank disse atônito — Você fez bacon?
— Uh-hum, estão deliciosos.
Frank o olhou com espanto, percebendo o quanto seu pai deixara de conhecer no tempo em que esteve fora de sua vida: — Eu sou vegetariano.
Algumas horas depois, o seu primeiro pensamento enquanto andava na areia é que ele deveria ter colocado bermudas, já estava quente, o ar denso de umidade. De cima até em baixo na praia, as pessoas estavam deitadas em toalhas ou praticando surf. Perto do píer, Frank viu meia dúzia de surfistas flutuando em suas pranchas, esperando a onda perfeita. Acima deles, na cabeça do pier, o festival não existia mais. Os brinquedos foram desmontados e as barracas foram levadas embora, deixando para trás apenas lixo e restos de alimentos espalhados.
Afastando-se, ele passou pelo distrito da cidade e pequenas lojas. Nenhuma das lojas foram abertas ainda, mas a maioria era do tipo de loja de praia turística e ele nunca pôs os pés em qualquer uma, um par de lojas de roupas, e um Burger King e McDonald's, duas lojas que ele se recusou a entrar de princípio. Incluindo um hotel e meia dúzia de bares e restaurantes de alto nível, eram muito bonitos. Ele procurou por alguma galeria ou loja especializada em conserto de telefone. Chegou a conclusão de que ninguém usava celular por ali, por que não encontrou nenhuma.
No final, os locais interessantes foram apenas uma loja de surf, uma loja de música e uma antiquada lanchonete onde ele poderia imaginar saindo com os amigo... mesmo não tendo nenhum por aqui. Frank voltou para praia ignorando as dunas, observando que as multidões se multiplicaram. Um dia lindo e arejado, o céu era um azul profundo, sem nuvens. Se Jamia estivesse aqui, talvez eles quisessem sentar um pouco na praia, mas ela não estava, e não era como se ele estivesse prestes a colocar seu traje de banho e sentar-se sozinho.
Mas o que mais pode se fazer? Talvez ele devesse tentar conseguir um emprego. Lhe daria uma desculpa para estar fora a maior parte do tempo. Ele não tinha visto nenhum anuncio de contratação por onde passou, mas alguém deveria precisar de ajuda em algo, certo?
— Se eu fosse você, não ia querer mais sair de casa...
Olhando por trás dos ombros, Frank viu Bert. Perdido nos próprios pensamentos, não tinha visto o rapaz se aproximar.
Frank cruzou os braços. Bert encolheu os ombros com a expressão ainda maliciosa
— Então... o que aconteceu depois que eu sai? Alguma coisa legal?
— Não. Os caras saíram e eu não sei aonde eles foram. E eu apenas sai do Bower's Point.
— Você não foi para casa?
— Não. — Bert parecia cansado e abatido — Você tem algum dinheiro?
— Por quê?
— Eu não comi nada desde ontem de manhã. Estou com fome.
Frank levou Bert para o restaurante que ele tinha visto em seu passeio pelo distrito comercial, e teve que admitir que o lugar tinha algum encanto, principalmente se você gostar dos anos 50. Havia um antiquado balcão rodeado com banquinhos, o chão era preto e branco, e cabines de vinil vermelho rachado que cobriam as paredes. Atrás do balcão, o cardápio foi escrito em um quadro negro.
Bert pediu cheeseburger, um shake de chocolate, e batatas fritas; Frank não conseguiu decidir e pediu apenas uma coca diet. Ele até estava com fome, mas não sabia exatamente que tipo de óleo usavam na frigideira. Ser vegetariano nem sempre foi fácil, e houve momentos que ele queria desistir. Como agora.
Mas Bert parecia feliz. Depois que acabou, ele recostou-se na cabine.
— O que você achou do lugar? — Bert perguntou.
— É limpo. E é bem diferente.
— Eu venho aqui desde criança. Meu pai costumava me trazer todos os domingos depois da Igreja para um shake de chocolate. Eles são os melhores. Você devia comer um.
— Eu não estou com fome.
— Você está mentindo. — , Bert disse. —Ouvi seu estômago roncando, mas o prejuízo é seu. Obrigado.
Frank deu os ombros.
Bert sorriu: — Então, o que aconteceu ontem à noite? Você é famoso ou algo assim?
— Por que você está perguntando isso?
— Por causa do policial e da maneira como ele conduziu você.
Frank fez uma careta: — Eu acho que meu pai mandou me encontrar.
— Que saco ser você.
Quando Frank riu, Bert pegou o saleiro. Depois de jogar na mesa começou a moldar com o dedo em uma pilha.
— O que você achou do Jared?, ele perguntou.
— Eu realmente não falei com ele. Por que?
Bert parecia escolher suas palavras cuidadosamente: — Jared nunca gostou de mim. — disse sinceramente. — Quero dizer, foi piorando. Não posso dizer que gostava dele também. Ele sempre foi gentil... Entende? Mas então, eu não sei, de uns anos para cá, as coisas mudaram. E quando eu realmente precisava de alguém, ele ficou comigo.
Frank assistiu a pilha de sal crescer: — E?
— Eu apenas queria que você soubesse.
— Tudo bem. — Frank disse indiferente: — Tanto faz.
— Você também.
— Do que você está falando? — Frank franziu o cenho
Bert raspou algumas unhas pintadas de preto:
— Eu costumava cantar na igreja, e possivelmente por quatro ou cinco anos, foi a coisa mais importante da minha vida. Acabei desistindo por causa do orientador. Ele era um cara durão, sempre dizia o que você fez de errado, e nunca cumprimentava quando você fez algo certo. Enfim, eu estava treinando uma nova técnica, e ele marchou gritando para mim a maneira correta da cantar e eu tinha que escutar tudo e ouvir ele gritar cerca de um milhão de vezes. Eu estava cansado de ouvir isso, você sabe? Então eu disse tanto faz, e ele agarrou meu braço com tanta força que deixou hematomas. Enfim, ele me diz: você sabe o que está dizendo quando você diz: tanto faz? É apenas uma palavra código para foda-se. E você nunca, nunca deve dizer a qualquer um. — Bert recostou-se sombriamente. — Portanto, agora, quando alguém diz isso para mim, eu digo você também.
Logo em seguida, a garçonete chegou com sua comida. Quando ela se foi, Frank pegou seu refrigerante e disse:
— Obrigada pela história de superação.
— Tanto faz
Frank riu, gostava do senso de humor do Bert.
— Então... — Frank continuou —, qual foi a pior coisa que já fez?
— O quê?
— Estou falando sério. Eu sempre faço essa pergunta para as pessoas. Acho interessante. Qual a pior coisa que você já fez?
— Essa é fácil. — Bert se ajeitou no assento — Quando eu era pequeno, eu tinha uma vizinha, Sra. Banderson. Ela não era a senhora mais agradável, mas não era uma bruxa. Ela amava cuidar do próprio jardim, entende? E quando atravessávamos o seu gramado em alguma brincadeira, ela vinha gritando que estávamos arruinando a grama. Enfim, na primavera, ela plantou algumas flores e ficou realmente bonito. E eu tinha um amigo chamado Billy, ele também não gostava muito da Sra. Banderson. Então, um dia, estávamos em torno de seu jardim, e nos deparamos com um grande spray cheio de herbicida. Bem, eu e ele voltamos uma noite e pulverizamos todas as flores novas, não me pergunte o porquê. Acho que no momento pensei que seria engraçado. Não era grande coisa. Basta apenas comprar novas, certo? E Sra. Banderson estava lá todo dia, regando e arrancando as ervas daninhas e começou a perceber que todas as suas flores novas estavam murchando. Na primeira, eu e Billy rimos disso, mas depois comecei a notar que ela passou todos os dias cuidando das plantas apenas para perceber que até o final da semana, todas morreram.
— Isso é terrível! — Frank gritou, apesar de estar rindo.
— Eu sei. Eu ainda me sinto mal sobre isso. É uma daquelas coisas que eu gostaria de desfazer. Agora é a sua vez.
Frank pensou antes de responder: — Fiquei sem falar com meu pai durante três anos.
— Eu já sei disso. — Bert dizia — E não é assim tão mau. Como eu disse, eu tento não falar com meu pai. E minha mãe não tem ideia de onde estou a maior parte do tempo."
Frank desviou o olhar para um jukebox
— Eu costumava furtar. — ele disse, conformado. — Muito. Nada grande. Era mais para sentir a emoção de fazer isso.
— Sério?
— Não faço mais. Eu roubava. Na verdade, eu roubei duas vezes, mas a segunda vez foi um acidente. Fui para o Tribunal, mas as acusações continuaram por um ano. Basicamente, isso significa que se eu não ficar em apuros novamente, as acusações serão anuladas.
Bert abaixou o hambúrguer. — É isso? Essa foi a pior coisa que você já fez?"
— Eu nunca matei flores de ninguém, se é isso que você quer dizer. E nunca vandalizei nada.
— Você nunca bateu o carro? Ou raspou o gato ou algo assim?
Frank deu um pequeno sorriso: — Não.
— Você é provavelmente a adolescente mais chato do mundo.
Frank riu novamente antes de tomar um gole de seu refrigerante: Posso lhe fazer uma pergunta?
— Vá em frente.
— Por que você não voltou para casa na noite passada?
Bert pegou uma pitada de sal que tinha empilhado e colocou em suas fritas: — Eu não quis.
— E sua mãe? Será que ela não ficou irada?
— Provavelmente. — Bert disse.
A porta do restaurante se abriu e Frank virou-se para ver Jared, Teddy, e Lance andando para seu balcão. Jared vestia uma camiseta estampada com uma caveira, e uma corrente pendurada no cinto da calça jeans.
Bert fugiu para o outro lado, mas estranhamente, Teddy colocou um assento do lado dele enquanto Jared se espremia ao lado de Frank. Lance puxou uma cadeira de uma mesa ao lado e capotou ao redor antes de se sentar, Jared alcançou o prato de Bert. Bob e Jimmy pegaram automaticamente suas batatas.
— Ei, isso é do Bert. — Frank gritou, tentando impedi-los. — Compre seu próprio.
Jared passou o hambúrguer de uma mão para outra.
— Está tudo bem. — Bert disse, empurrando seu prato para ele. — De verdade. Eu não vou conseguir comer tudo de qualquer maneira."
Jared pegou o ketchup, agindo conforme provou seu desígnio: — Então o que vocês dois estavam falando? Da janela, parecia intenso.
— Nada. — Bert disse.
— Deixe-me adivinhar. Ele estava falando a você sobre o namorado sexy de sua mãe, certo?
Bert se mexeu em seu lugar: Não seja grosseiro.
Jared olhou para Frank: — Ele te contou sobre a noite que um dos namorados de sua mãe entrou furtivamente em seu quarto? Ele disse: "Você tem quinze segundos para dar o fora daqui."
— Cala a boca, certo? Isso não é engraçado. E nós não estávamos falando sobre ele.
— Tanto faz — disse Jared, sorrindo.
Bert pegou seu shake e Jared começou a comer o hambúrguer. Bob e Jimmy pegaram mais fritas, e durante os próximos minutos, os três devoraram o que estava no prato. Para o espanto de Frank, Bert não disse nada.
Ou, na verdade, ele não quis saber. Parecia óbvio que Bert não queria que Jared ficasse bravo, assim, tem que deixá-lo fazer o que ele quiser. Frank já tinha visto isso antes: Jamia, mesmo sendo uma durona, era da mesma forma quando se tratava de homens. E, em geral, a tratava como uma sujeira.
Mas ele não quis dizer isso aqui. Sabia que só pioraria as coisas. Bert bebeu seu milkshake e colocou de volta à mesa: — Então o que vocês vão fazer depois disso?
— Estaremos fora. — Bob resmungou. — Meu pai precisa de mim e do Jimmy para trabalhar hoje."
— É um motel todo fodido. Os canos têm centenas de anos, e o trabalho de Teddy é mergulhar nos banheiros quando estão entupidos. — Jared falava com nojo
Frank franziu o nariz, tentando imaginar: — Sério?
Jared assentiu: — Grosseiro, huh? Mas não se preocupe com o Bob. Ele é ótimo nisso. Um verdadeiro prodígio. Ele realmente gosta disso. E Jimmy trabalha limpando os lençóis após os clientes irem embora.
— Ew. — Frank disse.
— Eu sei. É totalmente nojento — Bert acrescentou. — E você deve saber que algumas pessoas vão de hora em hora. Você podia pegar uma doença apenas entrando no quarto.
Frank não tinha certeza de como responder a isso, em vez disso, voltou para Jared: — Então, o que você faz?
— Tudo o que eu quero. — respondeu ele.
— Como assim? — Frank desafiou.
— Por que você se importa?
— Eu não me importo. — Frank respondeu, mantendo a voz calma. — Eu estava só perguntando.
Bob agarrou a última batata frita do prato de Bert. — Isso significa que ele fica no motel conosco. Em seu quarto.
— Você tem um quarto no motel?
— Eu moro lá. — Ele disse.
A pergunta era óbvia, Frank esperou por mais, mas Jared ficou quieto. Suspeito que ele queria manter a informação confusa para que Frank p perguntasse mais e mais. Talvez estivesse vendo demais, mas Frank teve a súbita sensação que Jared queria que se interessasse por ele. Queria que gostasse dele. Mesmo Bert estando lá.
Suas suspeitas foram confirmadas quando ele pegou um cigarro. Depois que acendeu, soprou a fumaça em direção de Bert, e virou-se para Frank.
— O que você vai fazer esta noite? — ele perguntou.
Frank deslocou-se do seu lugar, se sentindo desconfortável. Parecia que todos, incluindo Bert, estavam à espera de sua resposta.
— Por que?
— Nós estamos querendo ir para o Bower Point. Não apenas nós. Um grupo de pessoas. Eu quero que você venha. Sem polícia dessa vez.
Bert estudou a mesa, brincando com a pilha de sal. Quando Frank não respondeu, Jared levantou-se da mesa e dirigiu-se para a porta sem olhar para trás.
Chapter 7: Tanto Faz
Notes:
A história está quase finalizada e resolvi voltar a publicar :)
Obrigada por lerem <3
Chapter Text
Gerard
Gerard estava plugando o microfone no alto falante, observando se os outros cabos estavam conectados simultaneamente, fazendo o seu melhor para ignorar seu irmão Mikey. Ele não parava de falar sobre a noite anterior, desde que eles chegaram para trabalhar naquela manhã.
– Olha, você entendeu tudo errado, – Mikey continuou, ainda tentando outra aproximação. Ele foi buscar o baixo e colocou no pedestal – Há uma diferença entre fazer sexo e voltar a ficar juntos.
– Nós ainda não acabamos com esse assunto?
– Nós acabaríamos se você tivesse entendido. Mas é óbvio que você se confundiu. Lindsey não quer voltar com você.
– Eu não estou confuso – Gerard disse. – Isso é exatamente o que ela quer.
– Não foi o que Alice me disse.
Gerard colocou o microfone no tripé e pegou sua garrafa de água. O pai dele tem uma loja especializada música. Havia cd's antigos, raros e autografados, havia o café, para as pessoas sentarem e ouvirem uma boa música, e havia uma pequena sala que os irmãos Way usavam para praticar e gravar as suas músicas. Era uma gravadora independente e improvisada que eles montaram. Infelizmente, o ar condicionado não havia entrado na lista de prioridades quando eles decidiram montar o espaço, e no verão, a temperatura estava em algum lugar entre o deserto do Kalahari e o Sahara. Ele tomou um longo gole, terminando a garrafa antes de tentar passar para Mikey.
– Você não conhece Lindsey como eu – Gerard suspirou, limpando a testa com o dorso da mão – Eu não sei por que você continua falando sobre isso.
– Porque eu sou seu irmão e me importo com você. Eu quero que você aproveite este verão. Eu quero aproveitar a Alice.
– Então saia com ela.
– Como se fosse tão fácil. Olha, na noite passada eu sugeri a mesma coisa. Mas Lindsey ficou tão chateada que Alice não queria deixá-la.
– Eu estou realmente triste por não dar certo. – Gerard voltou a mexer nos cabos, indiferente a dor do irmão. – Por onde anda Ray?
– Atrasado como sempre. – Mikey respondeu.
– Ei, por falar nisso, você viu o garoto que parou a briga? – Gerard perguntou – Que ajudou o menino encontrar sua mãe?
Levou um momento até que Mikey conseguisse lembrar: – Quer dizer o garoto vampiro com a camisa da cidade?
– Ele não é um vampiro.
– Sim, eu vi. Um cabelo estranho, piercings por todo lado e unha com esmalte preto? Você se jogou no mosh bem na frente dele, lembra?
– Sim, aquilo foi um caos.
– E aí...?
– Eu não sei. – Gerard desconversou – Eu nunca o vi por aqui antes.
– Repito: E aí?
O ponto era: Gerard não sabia exatamente o por que estava pensando no garoto. Especialmente considerando o quão pouco ele sabia sobre ele. Sim, ele era bonito - ele notou logo depois de derrubar refrigerante nele. Também o jeito que ele parou a briga de Jared e Mikey. A forma como ele tratou o menino que tinha caído. Ele vislumbrou uma ternura surpreendente de baixo da sua aparência rebelde. O rapaz havia despertado sua curiosidade.
Ele não parecia como a Lindsey. Não era que ela era uma má pessoa, porque não era. Mas havia algo superficial sobre ela, mesmo que Mikey não acredite. No mundo da Lindsey, todos e tudo são separados em pequenas caixas organizadas: popular ou não, caro ou barato, rico ou pobre, bonito ou feio. E ele finalmente cansou da superficialidade dela, de seus julgamentos de valor e sua incapacidade de aceitar ou apreciar alguma coisa entre eles.
Mas o garoto... Ele sabia instintivamente que não era assim. Gerard não podia ter certeza absoluta, é claro, mas ele aposta nisso. O garoto não coloca as pessoas em pequenas caixas organizadas porque não se coloca em nenhuma, e que lhe pareceu refrescante e diferente. E ele estava confuso com todos estes sentimentos.
Embora o trabalho e as coisas da banda estarem o ocupando a maior parte do tempo, os seus pensamentos sempre voltavam para o momento específico da trombada mais vezes do que ele esperava. Não o tempo todo. Mas o suficiente para fazê-lo perceber por qualquer razão, que ele definitivamente queria conhecê-lo um pouco melhor, e viu-se perguntando se ele iria vê-lo novamente.
Frank
Um grupo grande estava reunido no Bower's Point, ao som de músicas agitadas. Mas um por um, tinham ido embora, apenas os cinco permaneceram. Frank estava sozinho na beira da água. Atrás dele, perto da fogueira, Jimmy e Bob fumavam, bebiam e, ocasionalmente, jogavam bolas de fogo um para outro, Bert arrastava suas palavras e se pendurava em Jared.
Estava ficando tarde, também. Não para os padrões de Nova Iorque de voltar para casa, ele aparecia na boate apenas à meia-noite, mas considerando o tempo que ele estava acordado, tinha sido um longo dia. Frank estava cansado. Assim que chegasse em casa, penduraria um cobertor no a varão da cortina. Ele não tinha a intenção de passar o verão inteiro levantando com os galos cantando, mesmo que ele fosse passar alguns dias na praia com Bert.
Bert pareceu surpreso com a sugestão. Além disso, não havia muito a fazer na cidade. Mais cedo, depois que saíram da lanchonete, eles andaram pela maioria das lojas das proximidades - incluindo a loja de música, que foi muito legal - e depois, eles tinham ido a casa de Bert para assistir O Massacre da Serra Elétrica, enquanto a mãe dele estava no trabalho.
Era um filme dos anos 90, Frank amava e tinha visto pelo menos uma dúzia de vezes. Mesmo que fosse um filme antigo, sentia surpreendentemente real (e um pouco assustador) para ele.
Mais real que aconteceu aqui hoje, especialmente por que Bert foi o que mais bebeu e ignorou Frank e agarrou-se a Jared. Frank não gostava e nem confiava em Jared. Ele tinha um radar muito bom quando o assunto era pessoas mau intencionadas, e ele percebeu que havia algo em off sobre ele. Era como se faltasse algo nos olhos dele quando falava. E ele não gostava de Bob ou Jimmy, tampouco. Mas Jared - especialmente - agia manipulando as pessoas.
E Bert... Foi estranho estar em sua casa mais cedo, porque parecia tão... normal.
Era em uma rua sem saída e tinha persianas azuis brilhantes e uma bandeira americana que balançava com a brisa na varanda. Dentro, as paredes eram pintadas de cores alegres, e um vaso de flores frescas sobre a mesa de jantar. O ambiente era limpo, mas não neuroticamente. Na cozinha, havia algum dinheiro na mesa, juntamente com um bilhete para Bert. Quando Frank viu Bert colocando algumas notas no bolso, ele mencionou que sua mãe sempre deixava dinheiro para ele. Era a forma que ela encontrou de saber que o filho estava bem quando não o encontrava em casa.
O que Frank queria, naquele momento, era falar para Bert sobre Jared, mas sabia que não adiantaria nada. Sabia como era ter um amigo manipulado, desde que Jamia - que vivia negando - passou por uma situação parecida. Jared era uma má influência, e Bert ficava bem melhor sem ele. Ele se perguntava se Bert não conseguia enxergar isso. Talvez amanhã ele fale sobre isso na praia.
– Nós estamos chateando você?
Virando, ele viu Jared de pé atrás dele. Ele estava segurando uma bola de fogo, deixando-a rolar através da parte traseira da sua mão.
– Só estou... observando a água.
– Você quer que eu traga uma cerveja?
Ele perguntou, já sabendo a resposta.
– Eu não bebo.
– Por quê?
"Porque isso faz as pessoas parecerem estúpidas," ele pensou. Mas não disse. Sabia que qualquer explicação só prolongaria a conversa.
– Apenas não quero. Só isso.
– Você é bem insolente. – Jared zombava Na escuridão, Frank conseguia ver Jared com um sorriso no canto da boca, mas seus olhos permaneceram como poços sombrios. – Você se acha melhor do que nós?
– Não.
– Então vamos lá. –, ele fez um gesto para fogueira. – Sente-se conosco.
– Eu estou bem.
Frank olhou por cima do ombro e pode ver Bert revirar a caixa de isopor procurando outra cerveja, que era a última coisa que ele precisava, já que ele parecia cambaleante naquela altura.
Sem aviso, Jared deu um passo em sua direção, pegando sua cintura. Apertou, puxando-o para perto dele: – Vamos andar na praia.
– Não. – , Frank grunhiu. – Eu não estou no clima. E tire sua mão de cima de mim.
Frank sabia que Jared estava gostando daquela situação.
– Está preocupado com o que Bert vai pensar?
– Eu só não quero, ok?
– Bert não vai se importar.
Frank deu um passo para trás, aumentando a distância entre eles.
– Eu tenho que ir.
Jared continuou a olhar para Frank: – Yeah, você pode ir. – Então, depois de uma pausa, ele falou para que as pessoas pudessem ouvir: – Não, eu quero ficar aqui mesmo. Mas obrigado por perguntar.
Frank estava chocado demais para responder. Em vez disso, começou a descer pela praia, sabendo que Bert estava assistindo. Em casa, seu pai tocava piano, e logo que ele entrou, ele espiou o relógio. Depois do que aconteceu, Frank não estava humor de lidar com o pai, então foi direto para o quarto, sem dizer nenhuma palavra. Ele deve ter visto alguma coisa em seu rosto, no entanto, porque antes que ele fechasse a porta, ouviu seu pai perguntar:
– Você está bem?
Ele hesitou, antes de voltar para o corredor: – Sim, eu estou bem.
– Você tem certeza?
– Eu não quero falar sobre isso.
Cheech o estudou antes de responder: – Certo.
– Precisa de algo? – Frank o indagou, percebendo que seu pai ainda o encarava.
– São quase duas da manhã. – Ele ressaltou.
– E?
Ele inclinou-se sobre o teclado: – Fiz macarrão, se você estiver com fome.
Frank teve que admitir que ele a surpreendeu com isso. Sem sermão, sem ordens, sem estabelecer lei. Muito razoável e o oposto de como sua mãe teria lidado com isso.
– Não, mas obrigado.
Ele balançou a cabeça e caminhou para o quarto. Antes de alcançar a porta, ouviu seu pai o chamar novamente:
– Frank? – Frank apenas virou o rosto em direção ao pai, e ele continuou: – Estou trabalhando em algo na oficina. E bem... Eu deveria saber que estava velho demais para aceitar esse desafio, então, pensei que você poderia me ajudar durante o dia. Você pode chamar algum amigo, também, se quiser.
– Oh... – Frank se surpreendeu com o pedido – Eu não tenho habilidades para isso. Tenho certeza que você vai encontrar alguém para te ajudar.
Frank entrou no quarto perguntando se alguém ou alguma coisa que acontecia nessa cidade era normal. Ele tentou soar o mais razoável possível ao pedido do pai, por que na verdade ele não gostaria de passar nem um minuto ao lado dele. Ele esqueceu de pendurar cobertores sobre a janela, e o sol invadiu o quarto, acordando-o depois que ele dormiu menos de cinco horas depois. Gemendo, ele virou e puxou o travesseiro em cima de sua cabeça e se lembrou do que tinha acontecido na praia na noite anterior. Então, sentou-se sabendo que o sono já estava fora de questão.
Jared definitivamente sabia como deixar Frank desconfortável. Seu primeiro pensamento foi que deveria ter dito algo na noite passada, quando ele o chamou para sair. Algo como; O que diabos você está falando? Ou; Se você acha que eu iria a qualquer lugar sozinho com você, pode tirar isso da sua cabeça! Mas ele não disse, e suspeita que simplesmente andar para longe foi a
pior coisa que poderia ter feito.
Ele realmente, realmente tinha que falar com Bert. Com um suspiro, saiu da cama e foi para o banheiro. Rapidamente, tomou um banho e colocou uma bermuda de sarja com vários bolsos e uma camisa sem manga, e em seguida, encheu sua mochila de toalhas e loções. No momento que estava pronto, podia ouvir seu pai tocando piano. Novamente. Mesmo quando ele voltou para o apartamento, ele nunca tinha tocado tanto. Concentrando-se na música, percebeu que ele estava tocando umas das peças que ele apresentou no Carnegie Hall, a mesma que do CD que sua mãe estava ouvindo no carro.
Como se ele não tivesse coisa o suficiente para lidar agora. Frank precisava se encontrar com Bert, para que pudesse explicar o que aconteceu. Claro, como fazer isso sem fazer Bert acha-lo um mentiroso era o problema. Bert iria acreditar em Jared, e que sabia o que o cara tinha
dito depois que ele saiu. Frank cogitou apenas deitar ao sol e deixar que as coisas se resolvessem naturalmente.
Frank deixou seu quarto e andou pelo corredor com música da sala de estar terminando, apenas para seguir a segunda peça que ele tinha tocado no Carnegie Hall. Ele fez uma pausa, ajustando a mochila em seu ombro. Claro que seu pai faria isso. Sem dúvida, porque ele ouviu o chuveiro e sabia que ele estava acordado. Sem dúvida, porque ele queria encontrar um terreno em comum.
"Bem, hoje não, papai." Desculpe, mas ele tinha coisas para fazer. Ele realmente não estava com disposição para isso.
– Frank? – Ouviu o pai dizer. Ele parou de tocar. – Podemos falar sobre a noite passada?
– Eu realmente não tenho tempo para falar agora. – Frank respondeu ajustando sua bolsa.
– Eu só quero saber onde estava o dia todo.
– Em nenhum lugar. Não é importante.
– É importante.
– Não, papai. – Ele disse, com voz firme. – Não é. E eu tenho coisas para fazer, ok?
– Que coisas? Onde você vai agora?
Esta era exatamente o tipo de conversa que Frank queria evitar. "Não é da sua conta.", ele pensou. Mas respondeu: – Conhecer a cidade.
– Por quanto tempo vai ficar fora?
–Eu não sei.
– Você vai estar de volta para o almoço ou o jantar?
– Não sei. – Ele bufou. – Estou saindo.
Cheech começou a tocar piano novamente. Sua terceira peça do Carnegie Hall.
– Quer parar com isso? – Frank estava irritado.
Ele parou de tocar de forma abrupta: – O que?
– A música que você está tocando! Você acha que eu não reconheço essas peças? Eu sei o que você está fazendo, eu já te disse que não vou tocar.
– Eu acredito em você.
– Então por que continua tentando me fazer mudar de ideia? Por que é que toda vez que eu vejo você, você está sentando lá martelando?
Cheech realmente parecia confuso: – Não tem nada a ver com você. É só... que me faz sentir melhor.
– Bem, isso me faz sentir doente. Você não entendeu? Eu odeio piano. Eu odiava ter que tocar todos os dias! E eu odeio que eu ainda tenha que ver mais essa maldita coisa.
Demorou algumas horas antes de Frank encontrar Bert na mesma loja de música que visitaram ontem, há algumas ruas do píer. Frank não sabia o que encontraria quando visitaram a primeira loja, parecia um tipo antiquado para os dias de hoje, na era dos iPods e downloads, mas Bert tinha garantido a ele que valeria a pena, e tinha valido. Além de CDs, havia recorde de discos de vinis reais - milhares deles, alguns provavelmente de colecionadores, inclusive por abrir uma cópia de Abbey Road e uma enorme quantidade de 45 anos de idade simplesmente pendurado na parede com assinaturas de gente como Elvis Presley, Bob Marley, e Ritchie Valens.
Frank ficou surpreso de que eles não estavam trancados com chaves. Eles tinham que ser valiosos, mas o cara que estava atrás do balcão parecia entediado. Ele parecia ser um pouco mais velho que ele, mas provavelmente sabia mais sobre música do que qualquer um que ele já conheceu, incluindo um monte de coisas do recente subsolo que ele nunca sequer ouviu falar em Nova York.
Ao longo da parede traseira estavam os fones de ouvido, onde os clientes podiam ouvir discos e CDs ou baixar as músicas em seus iPods. Espreitando pela janela esta manhã, viu Bert de pé com uma mão no fone de ouvido para uma orelha, e os outros batendo na mesa no ritmo que estava ouvindo. De maneira nenhuma ele estava preparado para um dia na praia.
Frank respirou fundo e se dirigiu para dentro. Tão ruim quanto isso soou, ele não pensou que Bert em primeiro lugar tinha ficado bêbado - ele tinha esperança de que Bert estava tão fora de si que ele tinha esquecido o que aconteceu. Ou melhor ainda, que ele estar sóbrio o suficiente para saber que Frank não tinha interesse em Jared.
Assim que ele começou a descer o corredor cheio de CDs, Frank percebeu que Bert estava esperando por ele. Ele virou-se e abaixou o volume do fone de ouvido, embora não removeu eles de suas orelhas, e girou em volta. Frank ainda podia ouvir a música, algo barulhento e com raiva que ele não conhecia. Bert recolheu os CDs.
– Eu pensei que éramos amigos. – Começou.
– Nós somos – Frank insistiu. – E eu te procurei por toda a parte, porque eu não quero que você tenha uma ideia errada sobre o que aconteceu ontem à noite.
A expressão de Bert era gelada: – Você quer dizer sobre perguntar a Jared se ele queria sair com você?
– Não foi isso. – Frank implorou. – Eu não pedi nada a ele. Eu não sei que jogo foi...
– O jogo dele? Ou o seu jogo? – Bert jogou seus fones de ouvido. – Eu vi o jeito que você estava olhando para ele! Eu ouvi o que você disse!
– Mas eu não disse isso! Eu não pedi nada a ele.
– Você tentou beijá-lo!
– O que você está falando? Eu não tentei beijar...
Bert deu um passo a frente: – Ele me disse!
– Então ele está mentindo! – Frank estourou, conservando seu fundamento. – Há algo de muito errado com Jared. Ele mentiu para você. Eu não o beijaria. Eu nem gosto dele. A única razão de estar ali era porque você insistiu que nós fossemos.
Por um longo momento, Bert não disse nada. Frank perguntou-se se ele finalmente acreditou nele: – Tanto faz –, Bert disse, seu tom fazendo seu significado perfeitamente claro. Ele empurrou Frank passando, empurrando-o quando foi em direção aporta.
Frank o assistiu ir, sem saber se ele estava magoado ou irritado com a forma de que Bert apenas agiu antes de decidir ouvir um pouco dos dois. Através da janela, ele viu Bert atravessar a rua. Tentou tanto para melhorar as coisas, e acabou piorando tudo.
Frank não tinha certeza do que fazer a seguir: ele não queria ir para praia, mas não queria ir para casa também. Ele não tinha um carro, e ele não conhecia absolutamente ninguém. Talvez ele poderia passar o verão em algum banco onde ele iria alimentar os pombos como alguns dos habitantes mais estranhos do Central Park. Talvez ele ia acabar dando nomes a eles...
Na saída, seus pensamentos foram levados a uma pausa por causa de um disparo súbito de um alarme, ele olhou por cima do ombro, primeiro por curiosidade e, em seguida, na confusão foi que ele percebeu o que estava acontecendo.
A próxima coisa que ele sabia, é que o homem de mechas loiras correu em sua direção. Ele não tentou correr, porque ele sabia que não tinha feito nada de errado, quando o homem pediu a sua mochila, ele não viu nenhuma razão para não dar a ele.
Obviamente, houve um erro. Ele gelou até o homem remover dois CDs do Queen autografados pelo próprio Freddy Mercury. Os CDs eram os que Bert estava segurando. Em choque, ele começou a entender que Bert tinha planejado tudo isso.
– O que está acontecendo aqui?
Frank ouviu uma voz saindo da uma das portas da loja que o fez estremecer. Dois homens saíram de uma porta que dava acesso a um estúdio na loja, eles pareciam estar caminhando em sua direção, só que não o vira. Frank estava estático e tremulo, e então ele virou-se em sua direção. Quando seus olhos se encontraram, foi uma das poucas vezes que ele realmente sentiu sua língua presa. Ele o reconheceu imediatamente. Frank lembrou da maneira que ele olhou, o cabelo vermelho fogo molhado de suor, a pulseira de macramê em seu pulso. Ele era o cantor do festival, que tinha esbarrado com ele, e o outro homem era o amigo que quase entrou em uma luta com Jared.
Chegando a frente dele, ele parecia não saber o que dizer. Em vez disso, eles apenas se olharam. Embora Frank soubesse que era loucura, teve a impressão que ele estava de alguma forma feliz em revê-lo, apesar da situação ser extremamente esquisita.
– Ei, é você. – O cantor disse, confuso com o fato do gerente da loja estar segurando o seu braço. – O que está acontecendo aqui?
Perguntou novamente, por que não havia obtido nenhuma resposta.
– Pegamos este pivete roubando a loja. – O gerente respondeu.
– Eu não roubei nada! – Frank se desesperou, e o olhar do homem de cabelo vermelho era de incredulidade. – Eu não roubei.
De repente, tonto, ele mal ouviu o gerente lhe dizer que a polícia já estava a caminho.
Chapter 8: O Silêncio dos Inocentes
Chapter Text
Cheech
– Eu não fiz isso, pai. – ele repetiu. – Juro por Deus que não fiz. Você tem que acreditar em mim.
Cheech ouviu o desespero na voz dele, mas não podia deixar de lembrar a preocupação de Linda quando eles falaram sobre a história do Frank. Ele pensou na forma que ele agia desde que esteve aqui e considerou os tipos de pessoas que ele tinha escolhido para fazer amizade. Suspirando, ele sentiu que a energia que lhe restava estava acabando. Á frente, o Sol era uma bola laranja quente e furiosa, e mais que tudo, sabia que seu filho precisava da verdade.
– Eu acredito em você. – Ele respondeu
No momento em que chegou em casa, o crepúsculo já estava formado. Era uma dessas noites maravilhosas típico de verão - uma brisa suave, o céu forrado de milhares de cores diferentes - e apenas no mar, um grupo de golfinhos nadando além do ponto de ruptura.
Ele temia ligar para Linda e dizer o que aconteceu. Ele sentou-se na praia. Um pedaço de isopor tinha caído na areia, e quando se inclinou para pegar, ele percebeu Frank se aproximando. Ele estava andando devagar, com os braços cruzados, cabeça baixa e assim que o cabelo escondeu maior parte do seu rosto. Ele parou a alguns metros de distância.
– Você está bravo comigo? – Frank perguntou, envergonhado.
Foi a primeira vez desde que veio para cá que tinha falado com ele, sem uma pitada de raiva ou frustração.
– Não. – ele respondeu – De jeito nenhum.
– Então o que está fazendo aqui?
– Estou um pouco enjoado esta noite... Vim pegar uma brisa.
Frank colocou um fio de cabelo atrás da orelha:
– Pai? Posso perguntar uma coisa?
– Qualquer coisa.
– Por que você disse que acredita em mim?
– Porque eu confio em você.
Frank deu um sorriso breve. Eles assistiram as ondas de forma constante até a costa. A maré alta estaria aqui em breve, e a praia já estava meio desaparecida.
– O que vai acontecer comigo?
– Pete vai falar com o proprietário, mas eu não sei. Os CDs eram de colecionadores. Eles são muito valiosos.
Frank sentiu o estômago revirar
– Você já disse a mamãe?
– Não.
– Você vai contar?
– Provavelmente.
Nenhum dos dois disse nada por um momento. Na beira da praia, um grupo de surfistas passavam, segurando suas pranchas. De longe, as ondas foram subindo lentamente, formando ondas que pareciam colidir imediatamente antes da reformação.
Frank virou-se para ele: – Então o que você quer fazer?
– Vou ficar mais um pouco aqui fora.
Frank ficou por mais pelo menos trinta minutos acompanhando o pai na sua silenciosa estadia. Antes de voltar para casa, o mais novo tinha insistido que ficaria muito bem, e até certo ponto, Steve confiou que ficaria. Como a maioria das pessoas que cresceram em Manhattan, ele aprendeu a ter cuidado e que tinha visto e experimentado o suficiente de que o mundo as vezes era um lugar perigoso.
Ainda assim, ele tinha apenas dezessete anos, e ele era seu pai, que significava que ele tinha que ter um certo controle sobre Frank. Há chance de que ele não consiga dormir durante a noite. A lua estava apenas em uma pequena parte, mas o céu estava claro, e como mudou-se através das sombras.
Será que Frank acordaria amanhã com a mesma atitude que teve quando chegou pela primeira vez? Ele não sabia.
Cheech permaneceu o tempo suficiente para olhar de cima a baixo a praia. Tanto quanto ele poderia, ninguém estava lá, então ele se virou e voltou para dentro. Ele estava com o pensamento - mais um sentimento, na verdade - de que ele sentia falta de tocar piano. Ele sentiu necessidade de correr a sala e perder-se em sua música. Ele se perguntava quando teria a oportunidade de tocar de novo. Agora ele se arrependia de não ter amigos na cidade; Ele podia ver a si mesmo sentando no banco do piano, enquanto seus amigos assistiam da cozinha ou da varanda, e ele começaria a tocar algo que levaria seus amigos às lágrimas, algo que ele tinha sido incapaz de fazer durante todo o tempo em que esteve na turnê.
Ele sabia que era uma fantasia ridícula, mas sem sua música, ele estava sem rumo. Levantando-se da cama, ele afastou esses pensamentos obscuros. O pastor Harris havia lhe dito que um novo piano tinha sido ordenado para a igreja, e que Steve era bem-vindo para tocá-lo assim que chegasse. Mas isto não aconteceria até o fim de julho, quando a obra acabaria, e ele não tinha certeza se ele estaria vivo até lá.
Ele sentou em uma cadeira e colocou as mãos em cima da mesa da cozinha. Com bastante concentração, foi capaz de ouvir a música em sua mente. Beethoven compôs a Eroica quando era completamente surdo, certo?
Talvez ele pudesse ouvir tudo em sua cabeça, assim como Beethoven. Ele escolheu o concerto que Frank havia tocado no Carnegie Hall, fechou os olhos e se concentrou. As cepas foram fracas quando ele começou a mover seus dedos. Gradualmente, as notas e acordes tornaram-se claras e distintas, e mesmo que isso não fosse tão satisfatório como tocar piano, ele sabia que era assim que teria que fazer. Com as frases finais do concerto reverberando em sua mente, ele abriu os olhos devagar, e encontrou-se sentado em sua cozinha semiescura. Por algum motivo, ele ouviu o som de uma única nota acenando para ele. Ele sabia que era só imaginação, mas o som da nota se demorou, e ele se viu desesperado por caneta e papel.
Ele rabiscou um esboço antes de pressionar o dedo sobre a mesa novamente. Mais uma vez soou, e desta vez seguido por mais algumas notas. Ele rabiscou novamente.
Ele escreveu músicas durante toda sua vida. Isto talvez não tenha sido muito, mas agora ele se sentia aquecido e pronto para o desafio. E se ele fosse capaz de compor algo inspirador? Algo que seria lembrado por muito tempo depois que ele fosse esquecido?
A fantasia não durou muito tempo. Ele tentou e falhou no passado, e ele não tinha dúvidas de que falharia novamente. Mesmo assim, ele se sentiu bem sobre o que tinha acontecido. Havia algo mágico em criar algo do nada. Embora ele não tenha ido muito longe na melodia - depois de muito trabalho, ele decidiu voltar as primeiras notas e recomeçar - ele sentia-se satisfeito com o resultado.
Finalmente, ele foi para seu quarto e arrastou-se até a cama. Ele adormeceu quase imediatamente naquela noite.
Quando acordou, a primeira coisa que foi fazer é verificar se Frank estava no quarto, e ficou aliviado de que o sono havia apagado a tensão dos últimos dias. Seu rosto estava sereno, quase angelical, e de alguma forma lembrava da expressão do pastor Harris após suas caminhadas na praia. Observou-o na quietude absoluta do quarto, desejando novamente um sinal da presença de Deus.
Deu um passo hesitante em direção a ele. A luz que entrava da fresta do vidro cintilou, como se Deus estivesse anunciando sua presença em outro lugar. De repente, ele se sentiu cansado. Ele se sentiu sozinho, ele sempre seria sozinho. Curvou-se sobre Frank e lhe beijou suavemente no rosto, sentindo novamente a intensidade de seu amor por ele, uma alegria tão intensa quando a dor que ele sentia.
Depois das suas orações e um breve passeio pela praia, Cheech estava sentado no sofá, tomando um chá gelado para acalmar seu estômago. Olhou para cima quando Frank entrou. Embora tenha esboçado um sorriso, tentando mostrar que estava tudo bem, ele não pôde deixar de notar sua expressão de preocupação no seu rosto.
Algo definitivamente estava errado. Ele só não tinha certeza do que era. Ele não saberia dizer se ele estava zangado, triste ou assustado e enquanto ele debatia a ideia de tentar conversar com ele, teve a certeza de que fosse lá o que estivesse acontecendo, Frank queria lidar com aquilo sozinho. Ele supôs que era normal. Cheech não havia passado muito tempo com ele recentemente, mas ensinou adolescentes durante anos e ele sabia que quando as crianças queriam falar algo - quando tinham algo importante a dizer - era quando seu estômago começava a doer.
Frank
Nem nos seus piores pesadelos imaginou passar por isso no verão, acusado injustamente, traído por quem ele acreditava ser um amigo, e ser preso, especificamente na loja do cantor de cabelos vermelhos. Tudo isso irritou Frank e depois de uma longa ducha fria, ele parou na sala para dizer a seu pai o que ele estava indo fazer.
Era possível, é claro, quando ele voltasse mais tarde, depois que ele conversasse com a sua mãe, talvez pudesse acreditar que ele era inocente. De qualquer maneira, Frank tinha que falar com Bert, e passou horas o procurando. Conferiu na casa da mãe de Bert e no restaurante, e apesar dele não entrar, espiou através das janelas da loja de música, o coração bateu forte, quando o gerente estava de costas viradas. Bert não estava lá, também.
À pé no píer, andou de cima para baixo na praia, sem sorte. Era possível, é claro, que Bert estivesse no Bower's Point, que era um ponto de encontro preferido da turma de Jared. Mas não queria ir lá sozinho. A última coisa que queria era vê-lo, e muito menos tentar falar com Bert enquanto Jared por perto. Estava quase pronto para desistir e voltar para casa quando viu Bert emergindo entre as dunas de uma forma abaixo da praia. Ele correu de volta para o caminho, tomando cuidado para não o perder de vista, em seguida, correu até a praia. Se ele percebeu que Frank estava caminhando em sua direção, não deu nenhum sinal. Em vez disso, quando Frank chegou perto, cruzou os braços.
– Eu sei o que você fez. – Disse Frank sem rodeios.
– Eu não fiz nada.
– Você fez sim, pare de agir assim.
– Você foi o único que foi pego.
– Você colocou aqueles CDs na minha bolsa!
– Não, eu não coloquei.
Frank sentiu vontade de sacudi-lo: – Pare de mentir! Eu estou tão irritado com você.
Bert deu uma risada.
– Isto é grave. Esta é a porra da minha vida. – Bert recusou-se encará-lo. Frank sentiu o sangue começar a correr pela sua face. – Eu vou ser condenado por um crime! E eu te disse o que aconteceu antes, eu te disse que não poderia ser pego novamente!
– Oh, bem. – Bert limitou-se a responder ironicamente.
Frank pressionou os lábios para não explodir, abaixando o tom de voz: – Por que você está fazendo isso comigo?
Bert levantou-se de seu lugar, tirou a areia de seu jeans: – Eu não estou fazendo nada para você. – Sua voz era fria e plana. – É isso o que disse para polícia esta manhã? Que eu sou culpado e você é inocente? Típico de você, não é mesmo?
Com descrença, Frank assistiu Bert ir embora, recusando-se a ouvir qualquer outra coisa. Frank caminhou de volta para o píer. Ele não queria voltar para casa, ele estava uma pilha de nervos. Por que Bert está fazendo isso? Por causa de Jared? Ou Jared falou para ele que estava furioso com a forma que Frank havia rejeitado ele na outra noite, ou Bert acreditava que Frank estava tentando roubar o namorado dele. Neste momento, ele estava acreditando que era a última, mas no final, isso realmente não importa. Seja qual for sua motivação, Bert estava mentindo e mais do que disposto a arruinar a vida dele.
Frank não tinha comido nada desde o café da manhã, sua barriga estava dando nós, mas ele não estava com fome. Em vez disso, sentou-se no píer até o sol se pôr, assistindo a transformação da água azul para o cinza e, finalmente, carvão. Ele não estava sozinho: ao longo do píer, as pessoas estavam pescando, mas nada parecia ser fisgado.
Uma hora atrás, um jovem casal tinha aparecido com sanduíches e uma pipa. Notou a forma afetuosa que se entreolhavam. Descobriu que eles estavam na faculdade – eram apenas alguns anos mais velhos do que ele – mas era além de uma afeição fácil entre eles e que Frank não tinha conhecimento em qualquer de suas próprias relações. Sim, ele teve alguns casos, mas nunca tinha sido amor, e às vezes duvidava do que seria. Depois que seus pais se divorciaram, ele era cético sobre essa coisa toda, como a maioria dos seus amigos. A maioria de seus pais se divorciaram, assim, talvez por isso tivessem algo em comum.
Quando os últimos raios de sol foram desaparecendo do céu, ele começou a caminhar de volta para casa. Frank queria estar de volta em uma hora decente. Era o mínimo que podia fazer para mostrar a seu pai que ele era grato pela compreensão que ele teve. E apesar de sua soneca mais cedo, ele ainda estava cansado. Quando chegou no início do píer, optou por percorrer a área de lojas em vez de passar pelo caminho mais longo da praia. Assim que virou a esquina, perto da lanchonete, sabia que tinha tomado a decisão errada. Uma figura sombria encostada no capô de um carro, segurando uma bola de fogo.
Só que desta vez ele estava sozinho. Ele parou, sentindo sua respiração travar na garganta. Jared se empurrou contra o carro e caminhou em direção a ele, a luz dos postes fazia com que a metade de seu rosto ficasse na sombra. Ele rolou a bola sobre as costas de sua mão, olhando para ele, antes que a bola acabasse por volta de seu punho. Ele apertou sua mão, apagando-o, e começou a andar em sua direção.
– Oi, Frank. – Ele disse. Seu sorriso fez parecer ainda mais assustador.
Ele permaneceu no local, desejando que ele visse que não tinha medo dele. Apesar de parecer que estava.
– O que você quer? – Frank perguntou, odiando o leve tremor em sua voz.
– Eu vi você andando e pensei em dizer oi.
– Você disse. – Frank falou. – Tchau.
Frank passou por ele, mas ele saiu na sua frente.
– Ouvi que você está tendo problemas com Bert. – Ele sussurrou.
O mais novo inclinou-se para trás, sua pele formigando: – O que você sabe sobre isso?
– Eu sei o suficiente para te dizer para não confiar nele, no Bert.
– Eu não estou no clima para isso.
Novamente ele virou-se, caminhando em torno dele, e desta vez Jared o deixou passar antes de chamá-lo.
– Não vá embora. Eu vim para te encontrar, porque eu queria que soubesse que eu poderia falar com Bert sobre o que ele está fazendo com você.
Com aversão dele mesmo, Frank hesitou. Na penumbra, Jared olhou para ele.
– Eu gostaria de me desculpar primeiramente – Ele falou irônico – deveria ter avisado que ele poderia ficar... hum, um pouco ciumento às vezes..
– Uau, você jura? Não tinha percebido.
– Eu estava fazendo uma brincadeira naquela noite. Pensei que você acharia engraçado. Você acha que eu tinha alguma ideia do que ele faria com você?
"Claro que sim," Frank pensou. "E foi exatamente o que você queria."
– Então, conserte. Fale com Bert, faça o que você tem que fazer.
Ele balançou a cabeça: – Você não me ouviu. Eu disse que poderia ser capaz de falar com ele sobre isso. Se...
– Se, o quê?
Ele fechou a distância entre eles. Ele notou que as ruas estavam quietas. Ninguém por perto, nenhum carro no cruzamento.
– Eu estava pensando que poderíamos ser amigos...
Frank sentiu suas bochechas ruborizadas e, as palavras saíram antes que pudesse perceber: – O quê?
– Você me ouviu. E eu posso ajeitar tudo para você.
Ele percebeu que ele estava perto o suficiente para tocá-lo, e deu um súbito passo para trás.
– Fica longe de mim!
Frank virou-se e fugiu, sabendo que ele seguiria, conscientemente de que ele conhecia a área melhor do que ele, com medo de que ele fosse pegá-lo. Frank decidiu seguir pela praia, pelo caminho mais longo, que não tinha acesso de carro. Ele podia sentir seu coração batendo, podia ouvir sua própria respiração frenética. Sua casa não estava tão longe, mas ele não tinha preparo físico para correr tanto. Apesar do medo e da descarga de adrenalina, podia sentir suas pernas cada vez mais pesadas. Ele sabia que não podia continuar correndo, e quando parou, olhou por cima do ombro. Percebeu que estava sozinho, ninguém estava atrás dele.
De volta a sua casa, Frank não entrou imediatamente. A luz da sala estava acesa, queria recuperar a compostura antes de encarar seu pai. Por alguma razão, não queria que seu pai visse que ele estava com medo, então, sentou-se nos degraus da varanda da frente. O céu estava cheio de estrelas, a Lua flutuava perto do horizonte. O cheiro de sal e salmoura circulava sobre a névoa do mar. Em outro contexto, poderia ter encontrado algo que o acalmasse; agora, se sentia estranho com tudo isso.
Primeiro Bert. Em seguida, Jared. Perguntou-se se todos eram loucos por aqui.
Jared certamente era. Bem, talvez não tecnicamente, ele era inteligente, astuto e completamente sem empatia, o tipo de pessoa que só pensa em si mesmo e no que quer. No outono passado, em sua aula de inglês, Frank teve que ler um romance de um autor contemporâneo, e tinha escolhido 'o Silêncio dos Inocentes'. No livro, soube que o personagem principal, Hannibal Lecter, não era psicopata, ele era sociopata, que foi a primeira vez que percebeu a diferença entre os dois. Embora Jared não fosse um assassino canibal, teve a sensação de que ele e Hannibal eram mais semelhantes do que diferentes, pelo menos na forma de que eles viam o mundo e o seu papel nele.
Bert, entretanto... era só... Frank não sabia exatamente. Controlado por suas emoções, certamente. Raiva e inveja, também. Mas no dia que passaram juntos, não sentiu em nenhum momento que de que algo estava errado ele, além de ser um desastre emocional, um furacão de hormônios e imaturidade que destruía o que deixava em seu rastro.
Ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos. Realmente não queria ir para dentro. Em sua mente, já podia imaginar a conversa com seu pai.
"Ei, querido, como foi?"
"Não muito bem. Bert está completamente sob o feitiço de um sociopata manipulador e mentiu para a polícia esta manhã. E pelo caminho? O sociopata não só decidiu que quer ficar comigo, mas seguiu-me e quase me matou de susto. Como foi o seu dia?"
Não exatamente o agradável bate-papo para depois do jantar, que ele provavelmente queria ter, mesmo que fosse verdade. O que significava que ele teria que fingir. Suspirando, levantou-se dos degraus da varanda e dirigiu-se para porta. Dentro, seu pai estava sentado no sofá, ele girou uma página da Bíblia aberta na frente dele. Fechou quando ele entrou.
– Ei, querido, como foi?
Bingo.
Ele forçou um sorriso rápido, tentando agir indiferente tanto quanto possível:
– Eu não o encontrei.
Algumas horas depois, Frank sabia que seu pai estava lá dentro falando com sua mãe ao telefone.
O que o incomodava era sua mãe. Ela estava ouvindo, sem dúvida nenhuma, sobre a prisão, já que seu pai estava no telefone neste momento. A ideia o fez se encolher. Sua mãe gritaria. Assim que ela desligasse, ligaria para sua tia ou sua avó, para contar as novidades sobre a nova coisa horrível que ele havia feito. Elas estavam por dentro de todas as coisas pessoais de Frank, com exagero excessivo de sua mãe, fazendo-a parecer mais culpado do que era possível. Sua mãe sempre negligenciava os "poréns", e neste caso, o mais importante "porém" era de que ele não tinha culpa!
Mas isso importava? Claro que não. Ele podia sentir a raiva de sua mãe, e a coisa estava lhe causando ânsia de vômito. Talvez fosse uma boa coisa que não pudesse ir para a casa por esses dias. Frank ouviu seu pai se aproximando. Olhou por cima do ombro, e ele hesitou. Ele sabia que pai estava tentando descobrir se ele queria ficar sozinho. Ele sentou cuidadosamente ao lado dele, e não disse nada de imediato. Parecia assistir a uma pesca de camarão em um barco ancorado no horizonte.
– Ela está zangada?
Ele já sabia a resposta, mas não pode evitar perguntar.
– Um pouco – ele admitiu.
– Só um pouco?
– Eu tenho quase certeza que ela deu uma de Godzilla na cozinha enquanto conversávamos. – Frank fechou os olhos, tentando imaginar a cena.
– Você disse a ela o que realmente aconteceu?
– Claro que sim. E eu garanti a ela que eu tenho certeza de que você está falando a verdade – Ele colocou um braço ao redor dos ombros, abraçando-o. – Ela vai superar. Ela sempre supera.
Frank assentiu. Em silêncio, podia sentir seu pai estudando-o.
– Alguma notícia? – Frank perguntou – Do oficial Pete.
– Porque não tomamos café da manhã primeiro? Aposto que está faminto. Você mal jantou ontem à noite.
Ele cruzou os braços: – Apenas me diga logo, pai.
Seu pai hesitou, lutando para encontrar as palavras certas, mas não havia nenhuma maneira de adoçar a verdade:
– Você não vai poder voltar para Nova York, pelo menos até semana que vem. Os donos da loja ainda estão decidindo se vão prestar queixa.
À medida que os dias da semana iam passando, ele foi acordando no meio da noite e não encontrando jeito possível de voltar a dormir. Frank se perguntava se a antecipação de uma possível punição foi pior do que o castigo em si. Não era que ele tinha pavor de ir para a prisão, ele duvidava de que seria preso, mas temia que esses crimes o perseguiriam para sempre. Será que teria que revelar sua história a uma faculdade que poderia fazer? Será que tem para dizer isso aos seus futuros empregadores? Seria capaz de obter um emprego depois de ser preso? O medo paralisava. Será que isso assombraria-o para sempre?
Chapter 9: As famílias felizes são todas iguais
Chapter Text
Frank
Frank sentou na duna, menos assustado do que os últimos dias. Faziam alguns dias desde que seu pai tinha lhe passado o que o oficial Pete havia dito, e ele passava o dia sentado do lado de fora desde então, com seu livro na mão.
– Sinto muito que você não possa ir para casa. – A voz do seu pai era macia conforme se aproximava. – Eu sei o quanto você odeia isso aqui.
– Eu não odeio isso aqui. – Frank disse, automaticamente. Surpreendendo a si mesmo. – É que... eu não pertenço a este lugar.
Ele lançou lhe um sorriso melancólico.
– Se serve de consolo, enquanto eu crescia, também sentia que não pertencia aqui. Eu sonhava em ir para Nova York. Mas é estranho, quando eu finalmente escapei desse lugar, acabei sentindo mais falta daqui do que achei que sentiria. Tem algo no oceano que me chama.
Frank suspirou.
– O que vai acontecer comigo? O oficial Pete disse algo mais?
– Não. Disse apenas que os donos se sentiram na obrigação de prestar queixa, pois os itens eram valiosos e poderiam ter muitos problemas com roubos se não tomassem uma atitude.
– Mas eu não os roubei – Frank choramingou. – Isso é muito injusto!
– Eu sei disso, e nós vamos acertar tudo. Vamos achar um bom advogado e começar daí.
– Advogados são caros?
– Os bons, são. – ele disse.
– E você pode bancar isso?
– Não se preocupe. Eu vou dar um jeito – Cheech se calou.
– Por que você está sendo tão bom comigo?
– Por que eu não deveria ser?
"Porque eu não tenho sido muito agradável para você", ele poderia ter dito. Mas não disse.
– Obrigado.
Em vez disso Frank murmurou, pensar na coisa toda parecia algum estranho episódio de Twilight Zone, onde seu pai tinha de alguma forma esquecido completamente os últimos três anos.
– Como foi a noite passada? Você dormiu bem?
– Sim, só que... Acordar não foi tão fácil.
– Posso te fazer uma pergunta? O que você fez para deixar Bert tão chateado? Você nunca me contou.
Se fosse sua mãe perguntando, ele nunca responderia. Também não teria respondido seu pai, se fosse dois dias atrás. Agora, não via nenhuma razão para não responder.
– Tem esse namorado esquisito e assustador, e ele acha que eu quero roubá-lo... algo assim.
Steve ficou em silêncio. Processando a informação que acabara de ouvir. Frank falou com naturalidade sobre o assunto e decidiu tratá-lo da mesma forma, respondendo:
– O que você quer dizer com estranho e assustador? – Seu pai não tentou esconder a preocupação – Ele fez alguma coisa com você?
Ele balançou a cabeça: – Não, mas tem algo estranho nele...
– Você quer que eu ligue para Pete? Sei que você não teve uma boa experiência com ele...
Frank balançou a cabeça: – Ainda não. E acredite ou não, eu não estou chateado com Pete. Ele está apenas fazendo seu trabalho, e na verdade, ele vem sendo bastante compreensível com a coisa toda. Acho que ele sente pena de mim.
– Ele me disse que acredita em você. E esse foi o motivo pelo qual ele foi falar com os donos.
Frank sorriu, pensando em como era bom falar com seu pai assim. Por um instante, imaginou quão diferente sua vida poderia ter sido se ele não tivesse ido embora. Ele hesitou, pegando um bocado de areia e deixando escorrer pelos seus dedos.
Um barulho de motor de carro ecoou pela duna. Olhando por cima dos ombros Frank pode observar dois carros parando próximos a sua casa. Era o carro do oficial Pete. Ele estremeceu novamente, imaginando que o policial veio levá-lo novamente.
– Oh, merda... – Frank deixou escapar, e suas bochechas ruborizaram em seguida. – Não deixem que me levem, pai. Estou com muito medo.
– Não vou deixar, Frank. Fique aqui.
Cheech levantou-se e andou na direção dos recém-chegados. Pode ver o oficial Pete saindo do carro e estendendo a mão para cumprimentar seu pai. Frank fechou os olhos, revivendo tudo: a forma de como o gerente da loja o segurava pelo braço até o oficial chegar, o desapontamento do vocalista da banda e do Oficial Pete na delegacia, o telefone com uma chamada terrível que teve que fazer para seu pai. Preso por roubo. Crime de furto. Pela segunda vez. Frank teve vontade de vomitar.
Frank levantou com muito custo, retirando a areia da calça jeans que usava. Ficou parado em pé, até que viu seu pai se virar e chamá-lo com um gesto. Ele suspirou fundo antes de começar a caminhar, e a cada passo que dava, sentia que ele seria preso novamente. Ele controlou suas emoções ao chegar, olhando para o seu all star detonado com rasgos e furos.
– Frank, – Seu pai disse, – o oficial Johnson quer falar uma coisa.
Ele fez uma pausa dramática.
– Eles retiraram a queixa contra você.
– Como é? - Frank perguntou.
– Bom, o que acontece é que a loja estava tendo problemas com furtos, e eles instalaram algumas câmeras sem ninguém saber. Então, quando tudo aconteceu, eles acessaram as imagens antes de prestar queixa. Vimos o outro colocar os vinis na sua mochila.
Frank respirou aliviado. Não por que ele se safou, mas porque os donos da loja viram com os próprios olhos o que aconteceu.
– A questão, Cheech, – o policial voltou a falar – é que o Frank pode denunciar quem fez isso. Temos a prova e só precisamos que...
– Não. - Frank o cortou
– Não?
– Não vou denunciá-lo.
– Por que não? – Cheech perguntou – Ele quis te incriminar.
– Não vou denunciá-lo, isso foi um erro. Foi um erro estúpido. Posso assegurar que ele não vai mais pôr os pés na loja.
– E como você vai fazer isso? – Pete perguntou
– Eu vou falar com ele. Vou contar que temos provas de que foi ele que quis me incriminar e que ele vai ser preso se voltar a loja.
– Se o Frank diz que consegue mantê-lo longe, eu acredito. Pete, você acha que é seguro?
– Se você o fizer em alguma praça, não vejo problema. Só não fique sozinho com ele de novo, por que da próxima vez talvez você não tenha como provar nada. Você tem certeza que é isso que você quer? – Oficial Pete perguntou para Frank.
– Eu não quero estragar a vida de ninguém. O Bert... só está perdido.
Gerard
Os últimos dias tinham sido extremamente cansativos para Gerard. O incidente - que não foi exatamente um incidente. O seu pai, furioso, o forçando a ir na delegacia registrar a queixa de furto contra o rapazde piercing nos lábios. O esclarecimento da situação, quando o próprio Gerard levou as imagens à delegacia, e viram nas câmeras de segurança que o rapaz havia sido injustamente acusado de furto.
Além do seu pai estar furioso com ele, estava pensando que o menino poderia denunciá-los por acusações indevidas, difamação e calúnia. Isso seria um problema para eles.
Foi uma experiência nova para ele. Nova e estressante, e no resto dos outros dias na loja – trabalhando durante o almoço para compensar o tempo que ele tinha perdido na delegacia – ele viu seu pensamento retornar ao rapaz. Gerard sentiu que havia algo de verdadeiro na maneira como ele falou e agiu. Mesmo antes de ver as imagens das câmeras, ele sabia que o menino era inocente. Algo atencioso e gentil, quando ele separou a briga no píer para salvar o garotinho, ao mesmo tempo selvagem e corajoso, quando colocou seu próprio corpo como barreira na luta.
A hora demorou absurdamente para passar, e quando o relógio marcou as quatro da tarde, Gerard se dirigiu ao irmão.
– Preciso de um favor. – Ele o chamou.
– O que você precisa? – Mikey estava terminando de organizar alguns cds bagunçados na estante, e parou para ouvi-lo.
Buscou as chaves do bolso e jogou na direção do irmão, que pegou no ar.
– Preciso que você feche a loja hoje.
Gerard deu um passo rápido para frente. Ele passou o dia inteiro pensando sobre o que poderia fazer para reparar o seu erro. Ele sabia onde o rapaz morava, pelo que o oficial Pete deixou escapar enquanto estavam na delegacia.
– Espere! Por que?
– Se o nosso pai perguntar, diz que eu vejo vocês em casa. Mantenha as coisas em ordem enquanto eu estiver fora.
– Aonde você vai? – Mikey o chamou.
Gerard não respondeu, e uma vez fora da loja, ele se movimentou em direção a seu carro, ele sabia que precisava encontrar o rapaz que mal sabia o nome, e tinha apenas uma ideia de onde ele poderia morar. Ele atravessou a cidade em direção a praia, e levou menos de dez minutos para chegar num condomínio de casas recém-construídas. Ele estacionou o carro e percorreu todo caminho até a praia, e de longe, avistou uma casa tipo cabana de madeira no meio das mansões brancas. Gerard deduziu que essa fosse a casa que o oficial Pete tinha se referido, quando ele perguntou se seria uma boa ideia ir até a casa dele.
Gerard agradeceu por calçar um coturno neste momento, porque sabia que seu pé estaria cheio de areia se estivesse com um tênis comum. O calor era menos intenso que antes, o pôr do Sol já estava no horizonte, e bastou menos de cinco minutos de caminhada para que ele avistasse um rapaz deitado na duna, revezando o olhar entre o livro em suas mãos e o céu vermelho alaranjado. Gerard se aproximou o suficiente para que seu pigarro pudesse ser ouvido. O rapaz levantou-se rapidamente da areia em um sobressalto, com a feição assustada.
Gerard acenou para praia amigavelmente: – Lugar bonito, aqui.
– Por que você está aqui? – O menino de piercings perguntou, e se Gerard não estivesse tão atento, poderia jurar que ele estava com medo da sua presença.
– Calma, só estou aqui para conversar. – Ele respondeu com facilidade. – Meu nome é Gerard, para começar.
– Oi, Gerard.
Ele fez uma pausa: – Interessante.
– O quê?
– Normalmente, quando alguém se apresenta, a outra pessoa faz o mesmo.
– Eu não sou a maioria das pessoas. – Frank cruzou os braços, tomando cuidado para manter distância.
– Eu já percebi isso. – Ele esboçou um sorriso rápido. – Eu sinto muito por tudo que aconteceu. Principalmente sobre a acusação da loja.
– Já está resolvido. O oficial Pete me falou. – Frank respondeu indiferente.
– E também... sobre o dia do show. Sobre o refrigerante e tudo mais.
– Você já me pediu desculpas, lembra?
– Eu sei. Mas você parecia furioso.
– Minha camisa ficou arruinada, junto com meu celular. Eu tive motivos para estar furioso.
– Você tem que tentar prestar mais atenção ao que está acontecendo ao redor.
– É o que?
– É um show de rock, sabe? Você precisa ficar mais atento.
Ele colocou as mãos nos quadris: – Você está tentando dizer que a culpa foi minha?
– Apenas tentando se certificar de que isso não aconteça novamente. Principalmente com o que aconteceu na loja. Como eu disse, senti-me mal com o que aconteceu.
Toda vez que Gerard tinha o visto, conseguiu se surpreender. Gostou do jeito que ele falava o que estava em sua mente, e gostava como ele era imperturbável. Ironicamente, ele ainda deixou uma boa impressão. Primeiro ele tinha derramado refrigerante sobre ele, em seguida, acreditava que ele poderia processá-lo por furto, ou que ele veio até ali para chutar a sua bunda.
Não seria um problema, é claro. Eles não eram amigos e Gerard realmente não sabia nada sobre ele... Mas por alguma razão, se importava com o que ele pensava sobre ele. E não só isso, Gerard queria que ele tivesse uma boa impressão dele. Porque queria, no fundo, que ele gostasse dele, também. Como todas as outras pessoas na cidade.
Com isso, o rapaz suspirou: – Você não devia estar com seus amigos tocando numa banda, ou olhando para si mesmo no espelho?
Gerard riu: – Isso é engraçado. Vou me lembrar disso.
– Eu não estou sendo engraçado. Estou falando sério.
– Ah, então foi um elogio, é? Obrigado
O cantor respondeu rindo, Em resposta, o rapaz sentou-se na areia com as bochechas ruborizadas e voltou para seu livro, mas Gerard poderia dizer que ele não estava realmente lendo. Ele sentou-se ao lado.
– As famílias felizes são todas iguais, cada família infeliz é infeliz à sua maneira – Gerard citou, apontando para seu livro. – É a primeira frase do seu livro. Eu sempre achei que havia muita verdade nisso.
– Seus pais devem estar tão orgulhosos que você tenha lido.
– Eles estão. Eles me compraram um pônei e tudo quando eu fiz um relatório do livro sobre o Gato no Chapéu.
– Isso foi antes e depois de ter lido Tolstoy?
– Ah, então você está ouvindo. Apenas para ter certeza. – Abriu os braços em direção ao horizonte. – É uma tarde bonita, não é? Eu sempre amei tardes como esta. Há algo relaxante sobre o som das ondas no por do Sol, você não acha?
Frank fechou o livro: – O que você quer?
– Eu gosto de pessoas que gostam de Tolstoy.
– Então, vá conhecer alguém na biblioteca. Oh, espere, você não pode. Porque estão ocupados demais fazendo show, e seus outros amigos estão pintando as unhas e alisando os cabelos, certo?
– Provavelmente. Mas eu percebi que você pode querer alguma companhia.
– Eu estou bem. – Ele retrucou. – Agora vai.
– É uma praia pública. Eu gosto daqui.
– Então, você vai ficar?
– Eu acho que sim.
– O que você quer comigo?
– Para começar, o seu nome?
– Frank.
Ele reclinou um pouco, apoiando seus braços por trás dele: – Tudo bem, Frank. Qual é a sua história?
Ele não tinha certeza do que pensar sobre isso, mas quando Frank jogou sua franja para o lado, parecia aceitar a ideia de conversar.
– Tudo bem. Minha história: Eu moro em Nova York com a minha mãe, mas ela me mandou para cá para passar o verão com meu pai. E agora eu estou preso nessa cidade, cercado de gente maluca, enquanto um cantor de cabelos vermelhos barra dono de uma loja de antiquários dá em cima de mim.
– Não estou dando em cima de você. – Ele protestou.
– Não?
– Acredite, você saberia se eu desse em cima de você. Você não seria capaz de sucumbir aos meus encantos. – Pela primeira vez que ele chegou, ouviu a risada de Frank. Ele levou isso como um bom sinal e continuou: – Na verdade, eu vim aqui porque me senti mal sobre a acusação, e agora eu não quero que você fique sozinho por aqui. Está escurecendo e você tem o quê? Dezesseis anos?
– Quase dezoito, para falar a verdade.
Gerard fungou o nariz: – É uma praia pública e você nunca sabe quem pode vir andando.
– Assim como você?
– Não é comigo que você deve se preocupar. Há pessoas ruins em todo o lugar.
– E deixe-me adivinhar. Você iria me proteger?
– Se alguém vier, eu vou protegê-lo em um piscar de olhos. Eu sou o adulto por aqui.
Frank não respondeu, mas Gerard tinha a sensação de que o surpreendeu. A maré estava chegando, e juntos eles assistiram as ondas de prata que rolavam sempre e lavavam em direção a costa. Através das janelas, as cortinas esvoaçavam, como se alguém estivesse olhando-lhes.
– Tudo bem. – Frank disse finalmente, rompendo o silêncio. – Sua vez. Qual a sua história?
– Apenas um cantor de cabelos vermelhos barra dono de uma loja de antiquários.
Ele ouviu-o rir de novo, com absoluta energia. Parecia contagiante.
– Está tudo bem, se eu ficar por aqui? – Gerard checou.
– É uma praia pública.
Ele fez um gesto em direção a casa. – Você precisa dizer a seu pai que estou aqui fora?
– Tenho certeza que ele já sabe que você está aqui. Na noite passada, ele deve ter vindo me ver a cada minuto enquanto estive aqui.
– Ele parece um bom pai.
Frank parecia considerar algo antes balançando a cabeça: – Então você canta, huh?
– Isso me distrai.
– Isso realmente não responde a pergunta.
– Eu gosto de cantar. Embora eu saiba que eu não amo fazer isso.
– Mas você gosta de fazer mosh nas pessoas, certo?
– Isso depende de quem eu trombo. Mas alguns dias atrás, acho que tenho que dizer que me saí muito bem.
– Você acha que me encharcar foi uma coisa boa?
– Se eu não tivesse encharcado você, eu não estaria aqui agora.
– E eu poderia desfrutar de uma noite tranquila na praia, em vez disso.
– Eu não sei. – Gerard sorriu. – Silêncio, noites tranquilas são superestimadas.
– Eu acho que não vou ter uma hoje, huh?
Gerard riu: – Você estuda?
– Formei-me há algumas semanas. E você?
– Eu sou graduado da Laney High School. É onde Michael Jordan estudou.
– Aposto que todos da sua escola dizem isso.
– Não. – Gerard corrigiu. – Nem todos. Apenas os que se formaram.
Frank revirou os olhos: – Tudo bem. Então o que você vai fazer depois? Vai continuar trabalhando na loja?
– Apenas no verão. – Ele pegou um pouco de areia e deixou escapar por entre os dedos.
– E...?
– Acho que não posso contar a você.
– Não?
– Eu não te conheço bem o suficiente para confiar em você com essa informação.
– Que tal uma dica? – Frank o incitou.
– Que tal você primeiro? O que vai fazer depois?
Frank pensou sobre a pergunta e sorriu: – Eu estou fortemente considerando uma carreira de advogado. Parece que eu tenho um dom para me meter em confusão. Quero dizer, se eu for advogado, não vou precisar gastar dinheiro com um. Parece que eu sempre estou numa cena de Prenda-me se For Capaz.
– Você fala como Mikey. – Vendo sua expressão de dúvida , Gerard explicou. – Ele é o meu parceiro na loja e na banda, e o meu irmão. O cara é o rei das referências de filmes. É como se ele não conseguisse terminar uma frase sem elas. Claro, ele normalmente as usa em algumas insinuações sexuais também.
– Isso parece um talento especial.
– Ah, é. Eu poderia levá-lo para lhe dar uma demonstração pessoal.
– Não, obrigada.
– Você pode gostar dele.
– Eu não preciso de quaisquer insinuações sexuais agora... eu só quero paz.
Ele segurou seu olhar brincalhão, notando que Frank era ainda mais bonito do que se lembrava. Engraçado e inteligente, também. Perto da duna, viu a grama dobrando com a brisa e o som constante das ondas rodeando, fazendo-o sentir em um casulo. Acima da praia, as luzes brilhavam nas casas á beira-mar.
– Posso lhe fazer uma pergunta? – Gerard retomou a conversa.
– Eu não tenho certeza se conseguiria impedi-lo.
Ele empurrou seus pés para trás na areia: – Quanto a você e o Bert?
No silêncio, Frank endureceu um pouco: O que você quer dizer?
– Me pergunto por que você estava saindo com ele na outra noite.
– Oh. – Frank disse. Embora Gerard não tivesse a menor ideia de porque ele pareceu aliviado. – Na verdade, nos conhecemos quando derramou meu refrigerante em mim. Logo depois que terminei de limpar a blusa, esbarrei nele.
– Você está brincando.
– Não. Refrigerante derramado nas pessoas por aqui é o equivalente a "oi, é um prazer em conhecê-lo" nesta parte do país. Francamente, acho as saudações padrões funcionam melhor, mas dane-se, né? – Frank deu um suspiro longo. – De qualquer forma, ele parecia legal e eu não conhecia ninguém, só por isso... acabei saindo com ele por um tempo.
– Eu conheço o Bert, sabe? Fizemos aulas de canto quando éramos crianças.
– Não brinca? – Frank foi surpreendido.
– Sim. Ele era um bom garoto, mas alguma coisa aconteceu. Ele virou essa bagunça. E finge que não me conhece ou não se importa o suficiente para lembrar.
– Ele ainda é um bom garoto... só que...
– Tem o cara das bolas de fogo, né?
Gerard poderia dizer que Frank não queria falar mais quando ele concordou com a cabeça, e virou para olhar o mar, então deixou para lá. Em vez disso, ele acenou para praia.
– Você quer caminhar?
– Você quer dizer uma longa caminhada, ou só uma volta?
– Apenas uma volta.
– Boa escolha. – Frank bateu as palmas juntas. – Só para você saber, eu não quero ir longe demais, estou tentando... Mostrar que sou minimamente responsável para o meu pai.
Eles caminharam na praia em direção ao píer, passando por uma dúzia de mansões à beira-mar, cada uma com enormes plataformas e escadas que levavam até a praia. Em algumas casas de baixo, um dos vizinhos estava em uma pequena reunião, todas as luzes no terceiro andar estavam ligadas, e três ou quatro casais se apoiavam no parapeito, observando as ondas e o luar.
Eles não falavam muito, mas por algum motivo, o silêncio não fez se sentirem desconfortáveis. Frank mantinha distância apenas o suficiente para que não acidentalmente roçassem um no outro, por vezes, estudava a areia e em outras vezes olhava para frente. Houve um momento em que Gerard pensou ter visto um sorriso fugaz cruzar seus traços do mais novo, como se tivesse lembrado de uma história engraçada, e que ainda não tinha compartilhado com ele. De vez em quando, ele parou e inclinou-se para recuperar conchas que estavam semi enterradas na areia, e notou sua concentração. Examinou-as á luz da lua antes de jogar a maioria delas de lado. As outras, enfiou no bolso.
Havia tanta coisa que Gerard não sabia sobre o outro em muitos aspectos, ele permaneceu sendo uma interrogação para ele. De alguma forma, ele era completamente o oposto de Lindsey. Ela não era nada se não insegura e previsível. Mas Frank era diferente, não há dúvidas sobre isso, e quando lhe ofereceu um sorriso inesperado, Gerard tinha a sensação que ele lia os seus pensamentos. O passeio aqueceu ele, e quando finalmente e fizeram o caminho de volta para o ponto que estavam, houve um instante que ele imaginou-se a cada noite juntos, em um futuro distante.
Quando chegaram na casa, Frank deu dois passos na escada de acesso à varanda e parou, virando-se para Gerard.
– Obrigada pelo passeio, foi bom conhecer uma pessoa decente por aqui.
– Boa noite. – Quando estava quase alcançando a porta, Gerard perguntou: – Frank?
– Huh?
– Posso te mostrar as coisas legais da cidade amanhã, se quiser. É minha folga no trabalho. Posso passar aqui amanhã cedo?
Frank demorou a responder, e riu quando falou: – Eu não tenho certeza se conseguiria impedi-lo.
Ele entrou na casa.
Sentindo-se confortável, pensando que hoje tinha sido um começo, e nada mais. Qualquer coisa pode acontecer a partir daqui. Mas quando ele virou, acenou sorrindo com um boa noite da varanda, sentia algo saltando dentro do seu íntimo, de que Frank pensou que era o começo de algo, também.
Chapter 10: Old Spicy
Chapter Text
Gerard
Quando amanheceu, Gerard deu um pulo da cama. O dia seria corrido hoje, então, ele acordou cedo, tomou um banho gelado e colocou um short e uma regata, e seu all star de costume, e foi até a casa de Frank. Ele estacionou o carro na entrada da casa, e viu um homem de meia idade parado na varanda. Ele tomava chá, e estava parado como um cão de guarda na entrada.
Ele trancou o carro, e andou em direção a entrada da casa.
– Bom dia - o homem de meia idade o cumprimentou.
– Bom dia, senhor. Meu nome é...
– Gerard, certo? O Frank está lá dentro, quer entrar?
– Não obrigado, apenas avise que eu...
Frank apareceu antes que pudesse terminar a frase. Ele usava uma bermuda cargo, e uma camisa de Misfits com as mangas recortadas. Ele desceu as escadas, dando um breve tchauzinho com a mão ao seu pai.
– Acho que eu conheço você.
Foi o que o pai do Frank falou quando ele desceu as escadas da varanda. O mais novo se virou, como se o olhar suplicasse por "não me envergonhe, por favor!"
– Eu acho que não. - Gerard respondeu sorrindo.
– Não, eu me lembro. - ele falou, começando a sorrir. – Você foi o cara que me avisou sobre Frank no Bower's Point...
A memória desta noite foi surgindo, e Gerard virou-se para Frank, observando com temor quando a expressão dele mudou de curiosidade para perplexidade, e finalmente, para a compreensão.
– Oh, oh... - Cheech percebeu o erro.
Gerard viu a boca de Frank apertar. Resmungando, virou-se para entrar na sua casa.
– Frank! Espere! Qual é. Me desculpe! Eu não falei para te ferrar.
Ele estendeu o braço para alcançar o braço Frank. Quando seus dedos estavam sobre sua camisa, virou-se para enfrentá-lo.
– Vá embora!
– Apenas me escute por um segundo.
– Você e eu, não temos nada em comum! - Frank rebateu. – Entendeu?
– Então o que foi aquilo na noite passada?
Suas bochechas estavam vermelhas: – Me. Deixa. Em. Paz.
– Isso não funciona comigo. - Gerard disse. Por alguma razão, as suas palavras o manteve calmo tempo suficiente para continuar. – Você parou a briga, mesmo quando todo mundo queria sangue. Você foi o único que viu quando o garoto começou a chorar, e eu vi o jeito que você sorriu quando o garoto saiu com a mãe dele. Você lê Tolstoy no seu tempo livre. E você coleciona conchas da praia.
Embora ele ainda estivesse com os olhos cerrados: – E daí?
– E daí eu quero reparar meu erro. – Fez uma pausa, aliviado por ele não ter respondido imediatamente que não. Ele andou um pequeno passo em frente. – Você vai gostar. Eu prometo.
Frank não disse muito no caminho. Chegou a conclusão de que seria menos entediante acompanhar o Gerard do que passar mais um dia na praia lendo seu livro. Era um carro novo, que Frank pode perceber. Não era uma Mustang conversível nem nada, era um carro popular. Gerard poderia dizer que mesmo Frank concordando em vir, ainda não sabia se estava irritado. Fizeram sua primeira parada perto de um pequeno shopping no centro, e logo entendeu o motivo do vocalista ter pedido para voltar em casa para pegar o celular inanimado.
Entraram em uma loja de manutenção e consertos de eletrônicos. Gerard insistiu que pudesse pagar pelo reparo. O humor de Frank melhorou consideravelmente depois de deixar o celular na loja.
Minutos mais tarde, eles estacionaram no estacionamento vazio do aquário, e em seguida andaram até a área de serviço de pequeno porte. Enquanto caminhava em direção à entrada de empregados, de longe, avistaram um homem com uma camisa do aquário e cabelos encaracolados.
– Então, esse é o novato da cidade, huh? - o homem olhava para Frank.
– Eu sou o Frank.
– Frank, esse é o Ray, o guitarrista mais foda que essa cidade já viu, e gerente do aquário municipal nas horas vagas.
– Fiquem a vontade para perambular por aí, só tentem não quebrar nada.
Eles continuaram a andar pelo corredor, e manteve a porta aberta para Frank, sentindo o frescor que misturava com o ar quente e úmido de fora. Ele foi para um longo corredor, e passou por uma outra porta que dava para o aquário em si. Gerard adorava estar aqui antes de abrir; ter um amigo aqui dentro sempre o beneficiou com tal privilégio. As luzes ofuscantes dos tanques e a ausência de som o fazia sentir-se como se fosse um esconderijo secreto.
Frank caminhava ao lado dele, observando a atividade dos peixes. Parecia contente em ficar quieto enquanto passavam por um tanque de oceano enorme, casa de uma réplica do submarino afundado alemão da Segunda Guerra Mundial. Quando chegaram ao tanque de água-viva lentamente ondulava e brilhava fluorescente sob a luz negra, Frank parou e tocou no vidro admirando seu movimento em câmera lenta, e falou:
– Elas são tão delicadas. É difícil de acreditar que as queimaduras podem ser tão dolorosas.
O cabelo de Gerard já tinha secado e estava mais rebeldes do que no dia anterior, fazendo-a parecer um pouco com um menino travesso.
– Acho que fui queimado pelo menos uma vez por ano desde que eu era uma criança.
– Você deveria tentar evitá-las.
– Eu tento. Mas elas me encontram de qualquer maneira. Acho que as atraio para mim.
Frank sorriu, virou-se e encarou-o diretamente, perguntando:
– O que estamos fazendo aqui?
– Eu disse que queria lhe mostrar algo.
– Eu já vi peixe antes. E eu também já fui a um aquário.
– Eu sei. Mas este é especial.
– Porque está vazio?
– Também, mas... - Respondeu ele. – Porque você vai ver algo que o público não vê.
– O quê? Você e eu sozinhos perto de um tanque de peixes? - Ele sorriu.
– Vem.
Em uma situação como essa, normalmente ele não hesitaria em pegar a mão de alguém, mas ele não podia dar um passo em falso com Frank. Tinha que ser cuidadoso. Gerard fez um sinal com o indicador em direção a um corredor no canto, escondidos cuidadosamente de modo a ser praticamente imperceptível. No final do corredor, ele parou diante de uma porta.
– Não me diga que lhe deram um emprego aqui?
Eles entraram em uma sala grande de blocos cinza atravessada por dutos de ar e dezenas de canos expostos. Lâmpadas fluorescentes zumbiam em cima, mas o som era abafado pelos filtros de água enormes que se alinhavam distante da parede. Um tanque gigante aberto, cheio quase até o topo com água do mar, emprestava no ar um cheiro de sal e salmoura.
– Não.
Gerard riu e abriu o caminho para uma plataforma integrada de aço, que circulava no tanque e subiu os degraus industriais. No outro lado do tanque estava uma janela de acrílico de tamanho médio. As luzes de cima providenciaram uma iluminação suficiente para ver uma criatura se movendo lentamente.
– Isso é uma tartaruga marinha? - Frank perguntou
– Uma tartaruga-cabeçuda, na verdade. Seu nome é Mabel.
Quando a tartaruga deslizou pela janela, as cicatrizes em seu escudo tornaram-se evidente, assim como a nadadeira faltando.
– O que aconteceu com ela?
– Foi atingida por uma hélice de barco. Eu a encontrei na praia agonizando, e então, liguei para Ray e ela foi resgatada... há cerca de um mês atrás, estava quase morta. Um especialista teve que amputar parte de sua nadadeira da frente.
No tanque, incapaz de permanecer na posição vertical, Mabel nadou em um ligeiro ângulo e bateu no muro agora, então começou o seu circuito novamente.
– Será que ela vai ficar bem?
– É um milagre ela ter vivido por tanto tempo, e espero que consiga. Ela está mais forte agora do que antes. Mas ninguém sabe se poderia sobreviver no oceano.
Frank viu Mabel esbarrar na parede outra vez antes de corrigir seu rumo, em seguida, virou-se para Gerard.
– Por que você quer que eu veja isso?
– Porque achei que você gostaria dela tanto como eu. - Ele disse. – História de superação e tudo mais.
Frank parecia querer entender suas palavras, mas não disse nada. Em vez disso, virou-se para ver Mabel em silêncio por um tempo. Quando Mabel desapareceu nas sombras atrás, ouviu o suspiro de Frank.
– Você não deveria estar no trabalho? - Perguntou Frank.
– É o meu dia de folga.
– Trabalhar para o pai tem suas vantagens, não é?
– Pode-se dizer isso.
Frank bateu no vidro, tentando chamar atenção de Mabel. Após um momento, ela virou-se para ele novamente. Eles passaram mais uma hora e meia hora no aquário, Frank ficou especialmente encantado com as lontras. Depois, Gerard passou em uma loja de iscas para pegar alguns camarões congelados. De lá, ele levou-o para um lote urbanizado no lado intra costeiro da ilha, onde ele tirou as ferramentas de pesca que estavam guardadas na traseira do carro. Então ele o levou à beira de um pequeno píer, e sentou-se, com os pés balançando há poucos metros acima da água.
– Não seja esnobe. - Gerard o repreendeu. - Acredite ou não, o Sul é grande. Nós temos água encanada e luz elétrica, você acredita?
Frank falsificou uma expressão incrédula: – Uau, isso é incrível!
Ele o cutucou de brincadeira. – Yeah, pode me zoar o quanto quiser. Mas é divertido morar em uma praia e uma cidade pequena.
– Acredite em mim, eu fico tonto só em pensar nisso. - Disse Frank, inexpressivo.
– Aposto que você nunca deixaria Nova York, não é?
– Claro que eu deixaria. Eu estou aqui, não estou?
– Você sabe o que eu quero dizer. Nos fins de semana.
– Por que eu iria querer sair da cidade aos finais de semana?
– Talvez... passar um tempo sozinho?
– Eu posso ficar sozinho no meu quarto.
– Aonde você iria se você quisesse sentar-se debaixo de uma árvore e ler?
– Eu iria ao Central Park. - Frank rebateu facilmente. – Existe uma grande colina atrás da Tavern on the Green. E eu poderia até comprar um café expresso ao virar a esquina.
Gerard balançou a cabeça fingindo lamentar: – Você é um garoto da cidade.
– E absolutamente todo mundo por aqui sabe mesmo como pescar?
– Não é tão difícil. - Gerard falou alegremente – Isca no anzol, lança a linha, então segura a vara de pesca. Fácil, viu? Se quiser complicar, você pode pesquisar sobre que isca atrai quais peixes, sobre os tipos de peixe até o tempo e a clareza da água. E depois, claro, você tem que definir o tempo. Se você jogar cedo demais ou tarde demais, você vai perder o peixe.
Frank pareceu considerar o seu comentário: – Então por que escolheu o camarão?
– Porque estava à venda. - Gerard respondeu.
Frank riu e, em seguida, roçando levemente contra ele: – Idiota.
Ele ainda podia sentir o calor do seu toque em seu ombro: – Acredite em mim, a pesca é como uma religião para algumas pessoas por aqui.
– Para você também?
– Não. Para mim é algo...contemplativo. Me dá tempo para pensar, sem interrupção. E, além disso, eu gosto de ver as nuvens, enquanto eu coloco meu chapéu e mastigo tabaco.
Frank franziu o nariz: – Você masca tabaco, mesmo?
– Não. Eu meio que gosto da ideia de não perder meus lábios por causa de câncer de boca.
– Bom. - Frank disse, balançando as pernas para trás e para frente. – Nunca tive a oportunidade de conhecer alguém que mascava tabaco.
– Está dizendo que estamos em uma oportunidade?
– Não. Isto definitivamente não é uma oportunidade. Isto é pesca.
O mais novo pegou uma lasca de madeira da doca: – Você parece viver em um comercial de Old Spicy. Rock star a noite, e pescar nas folgas e trabalhar em uma loja de antiquarios.
Gerard gargalhou antes da linha puxar uma vez e depois uma segunda vez. Gerard levantou rápido, e Frank o acompanhou por reflexo. Quando a linha puxou pela terceira vez, começou a girar o carretel, fazendo a vara ficar curvada de um jeito que parecia que iria quebrar. Aconteceu tão rápido que Frank mal teve tempo para descobrir o que estava acontecendo.
– Você pegou um? - Frank perguntou, animado.
– Chegue mais perto. - Gerard continuava girando o carretel. Ele forçou a vara para Frank. – Aqui, pegue!
– Eu não posso! - Frank gritou, recuando.
– Não é difícil! Basta pegar e continuar girando o carretel!
– Eu não sei o que fazer!
Frank deu um passo à frente, e ele praticamente forçou a vara em suas mãos.
– Agora continue girando o carretel.
Ele viu a vara encurvar acima deles, e começou a girar o carretel.
– Levante! Mantenha a linha firme!
– Estou tentando! - Frank fez força para levantar a vara, com a língua de fora em concentração.
– Você está indo muito bem! - O peixe pulou perto da superfície e Frank gritou animado. Quando ele começou a rir, Frank começou a rir também, pulando em um pé. Quando o peixe saltou de novo, ele gritou pela segunda vez, com um salto ainda maior, mas desta vez com uma expressão de determinação feroz.
Era, Gerard pensava, uma das coisas mais engraçadas que ele tinha visto em muito tempo.
– Basta continuar fazendo o que você esta fazendo. - Ele incentivou. – Quando chegar mais perto do píer eu cuido do resto.
Pegando uma rede, ele se abaixou, esticou o braço sobre a água e Frank continuou rodando o carretel. Com um movimento rápido, ele capturou o peixe na rede, então se levantou. Quando ele tirou da água, o peixe caiu no píer, Frank continuou a reter o carretel, dançando ao redor do peixe quando Gerard pegou da linha.
– O que você está fazendo? Frank gritou. – Você tem que colocá-lo de volta na água!
– Ele vai ficar bem...
– Ele vai morrer!
Ele agachou-se e pegou o peixe
– Não, não vai.
– Você tem que tirá-lo do anzol! - Frank gritou novamente.
Ele pegou o gancho e começou a arrancá-lo.
– Estou tentando! Apenas me dê um segundo!
–Ele está sangrando! Você feriu-o! - Frank girou freneticamente em torno dele. Gerard ignorou, e começou a tirar do anzol. Ele podia sentir a cauda se movendo para trás e para frente, batendo contra as costas de suas mãos. Era pequeno, talvez três ou quatro quilos, mas era surpreendemente forte.
– Você está demorando demais! - Frank choramingou.
Gerard libertou cuidadosamente do anzol, mas segurou o peixe preso contra o doca: – Você não quer levá-lo para casa para jantar?
Sua boca abriu e fechou na descrença, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Gerard jogou o peixe de volta na água. Com um toque, ele mergulhou e desapareceu. Gerard pegou uma toalha e limpou o sangue de seus dedos.
Frank continuou a olhar para ele com um olhar acusador, o rosto vermelho de euforia:
– Você teria comido ele, não é? Se eu não estivesse aqui?
– Eu teria jogado de volta.
– Por que eu não acredito em você?
–Porque você está certo. – Ele sorriu para Frank antes de pegar a vara.
Eles passaram mais algumas dezenas de minutos sentado nos cais, depois que toda a adrenalina da pesca havia passado. Frank se recusara a pescar mais, depois de todo sangue que o peixe jorrou, eles continuaram se divertindo jogando os camarões na água e observando os cardumes se formando, e até uma ou outra ave apareceram em um rasante, tentando alcançar a isca. Isso pareceu satisfazê-lo.
Enquanto passeavam na praia, o Sol estava se pondo e Gerard poderia dizer que Frank estava mais relaxado. Eles acabaram indo para Wilmington no centro da cidade, onda haviam apreciado o almoço em um restaurante com a vista para o Cape Fear River. Olhando para um ponto na margem oposta, ele apontou para um navio de guerra desativado da Segunda Guerra Mundial, o USS Carolina do Norte. Assistiu Frank inspecioná-lo, Gerard surpreendeu-se de como era fácil passar o tempo com ele. Ao contrário de todas as outras pessoas que ele conhecia, ele não ficava fazendo jogos estúpidos. Frank tinha um senso de humor que ele gostava, mesmo quando se dirigia a ele. Na verdade, ele gostava de tudo sobre ele.
Eles chegaram na casa bangalô por volta das seis da tarde, e então, ele notou seu pai pisando na varanda de volta, e Frank acenou.
Gerard acenou para a casa: – Você não quer me apresentar?
– Ao meu pai? - Frank não acreditava na pergunta, quando o outro balançou a cabeça positivamente. – Não.
– Eu prometo ter boas maneiras.
- Isso seria minimamente bom.
– Então, por que não vai me apresentar?
– Porque você ainda não me levou para conhecer seus pais.
– Por que você tem que conhecer meus pais?
– Exatamente. - Frank disse, rindo.
Se Gerard estava confuso antes, ele estava completamente confuso agora. Frank começou a caminhar lentamente pela praia, e Gerard deu alguns passos rápidos para acompanhá-lo.
– Você não é exatamente fácil de entender.
– E?
– E nada. Apenas anotando mentalmente.
Frank sorriu para si mesmo, olhando para o horizonte.
– Quando você vai voltar para Nova York? - Gerard perguntou
– No final de agosto.
– Está perto... O meu pai se casa em agosto, também.
– Jura? Quando, exatamente?
– No comecinho do mês, ele ficou louco nesses últimos dias, quer que esteja tudo perfeito. As coisas estão... um pouco tensas lá em casa.
– Por que todos os pais querem se casar depois de velhos? Quer dizer... Eles não tem idade suficiente para achar isso uma convenção idiota?
Frank não se preocupou em esconder seu ceticismo. Gerard respondeu mexendo com as pontas dos dedos quando ele continuou.
– Não sei... Não acho que depois de uma certa idade a pessoa simplesmente morre por dentro e deixa de acreditar no amor. É o que eu acho.
Quando Frank não respondeu, Gerard continuou:
– Agora é só esperar um longo e quente verão.
– Piora? Eu estou fervendo.
– Isso é porque você está vestindo preto.
– Eu não sabia que passaria a maior parte do dia fora.
– E se eu prometer te levar para pescar de novo?
– Você não está ajudando a si mesmo.
Gerard fez um gesto em direção a casa: – Então, se você não quer ir para casa, no entanto, quer vir comigo?
– Você está planejando me mostrar ou me dizer sobre outra forma de matar animais indefesos?
– Eu tenho um ensaio com a banda e quero que você venha. É divertido.
– Você vai derramar refrigerante em mim de novo?
– Só se você trouxer uma lata de refrigerante.
Frank resistiu por um instante, em seguida, continuou andando com ele, na direção do píer. Gerard o cutucou e ele empurrou- o de volta.
– Eu acho que você tem problemas. - Frank falou para ele.
– Que problemas?
– Bem, para começar, você é um assassino de peixes.
Gerard riu antes de olhar em seus olhos. Frank olhou para a areia, então até a praia, finalmente, em direção a ele. Ele balançou a cabeça, incapaz de suprimir um sorriso, como se maravilhasse o que estava acontecendo entre eles e curtindo todo momento.
Chapter 11: Problemas no paraíso
Summary:
Bom, agora que o twitter caiu de vez no Brasil, você pode me encontrar na Bluesky :)
@pickthebesttimes.bsky.social
Chapter Text
Se ele não fosse tão bonito nada disto teria acontecido.
Enquanto Frank observava Gerard se movendo entre um fio de microfones, ele refletiu sobre a série de coisas que a trouxe aqui. E se não tivesse ido pescar hoje cedo? E se não assistissem a uma tartaruga ferida nadando em torno de um tanque ás nove horas da manhã? E se não tivesse aceitado que ele consertasse o seu celular? Ele balançou a cabeça, tentando não focar no Gerard com seus músculos visíveis segurando no microfone. Resistente a ignorar, já que ele não parava de olhar de volta.
Talvez o resto do verão não seja tão terrível, afinal.
Claro, Frank tinha pensado a mesma coisa depois que conheceu Bert, e olha como tudo está de cabeça para baixo agora. Gerard não era realmente seu tipo, mas assistindo o ensaio na praia, começou a se perguntar se isso era uma coisa tão má.
Frank não teve a menor sorte quando se tratou de escolher caras no passado, Gates sendo o principal exemplo. Reconheceu que Gerard foi mais esperto do que qualquer outro cara que ele conheceu, e mais do que isso, ele parecia estar fazendo algo em sua vida. Ele trabalhava, era cantor, e não tinha nenhum problema familiar aparente. Quando Frank o testou, ele o surpreendeu – mais de uma vez, de fato – e Frank teve que admitir que gostava disso.
Se houve uma coisa que lhe fez parar, foi isso: Frank não sabia por que Gerard gostava dele. Frank não era qualquer coisa como ninguém que ele tinha visto na noite do festival e com toda a honestidade, ele não tinha certeza se Gerard iria querer vê-lo depois de hoje. Ele o viu curvar-se para cantar, em seguida, olhou em direção a ele, obviamente satisfeito porque o pegou no flagra. Ele moveu-se facilmente através do espaço, e quando a musica, ele sinalizou algo para Mikey, que parecia tocar como se sua vida dependesse disso. É apenas um ensaio, ele pensou, mas eles fazem isso com uma paixão que ele nunca havia visto na vida.
— Você e o Gerard, huh?
Surpreendido, Frank não tinha percebido que alguém tomo seu assento ao lado. Voltando, Frank reconheceu a morena que estava saindo com Gerard e Mikey, na noite do festival.
— Desculpe-me?
Ela passou a mão pelos cabelos e mostrou os dentes perfeitos: — Você e Gerard. Eu vi vocês dois caminhando na praia.
— Ah. — Frank disse.
Seu instinto lhe dizia que era melhor não dizer muito. Se ela tomou conhecimento da reação desconfiada de Frank, não mostrou. Balançou a cabeça com habilidade praticada, ela mostrou os dentes novamente. Ela definitivamente devia ter usado branqueador, Frank concluiu.
— Eu sou Lindsey. E você é...
— Frank
— E você está de férias? — Quando Frank olhou para ela, ela sorriu novamente. — Eu saberia se você fosse daqui. Eu conheço Gerard deste que éramos crianças.
— Uh-huh.— Frank disse novamente, tentando soar evasivo.
— Eu acho que vocês se conheceram quando ele derramou soda em você, hein? Conhecendo ele, provavelmente ele fez isso de propósito.
Frank piscou: — O quê?
— Não é a primeira vez que vi ele fazendo isso. E deixe-me adivinhar. Ele te levou para pescar, certo? Na doca um pouco do outro lado da ilha?
Desta vez, Frank não podia ocultar sua surpresa.
— Isso é o que ele faz quando ele começa a conhecer alguém. Bem, é isso ou ele leva para o aquário.
Quando Lindsey continuou, Frank olhou para ela, incrédulo, sentindo o mundo ao redor, de repente começar a diminuir.
— De que você está falando? — Rosnou para fora, sua voz a abandonando.
Lindsey enrolou seus braços em volta de suas pernas: — Menino novo, nova conquista? Não fique bravo com ele. É apenas a forma de como ele é. Ele não pode melhorar isso.
Frank sentiu o sangue escorrer em seu rosto. Disse a si mesmo para não escutar, para não acreditar, isso não era assim. Mas as palavras ecoavam em sua mente...
"Deixe-me adivinhar. Ele te levou para pescar, certo? Ou é isso ou ele te leva para o aquário..."
E se Frank tivesse realmente o entendido mal? Parecia que ele estava errado sobre todos que tinha conhecido aqui. O que fazia sentido, considerando de que ele nunca quis vir para cá. Quando ele deu um longo suspiro, notou que Lindsey estava a estudando.
— Você está bem? — Ela perguntou, suas sobrancelhas perfeitamente em forma unida em preocupação. — Eu disse algo que te incomodou?
— Eu estou bem.
Lindsey abriu a boca e fechou antes de sua expressão suavizar: — Oh, não. Não me diga que você estava realmente caindo nisso?
"Novo garoto, nova conquista? É apenas a forma que ele é..."
As palavras não paravam de repetir na cabeça dele, e Frank ainda não tinha respondido ou responderia. No silêncio, Lindsey disse com sua voz simpática.
— Bem, não se sinta mal, porque ele é muito bonito e o cara mais charmoso do mundo quando ele quer ser. Confie em mim, eu sei, porque eu me apaixonei por ele, também. — Ela acenou para a multidão. — E assim como a metade das outras garotas que você pode ver por aqui.
Frank instintivamente pesquisou a multidão, tendo diante dos olhos meia dúzia de garotas bonitas de biquíni, e caras iguais a Mikey. Todos os seus olhares fixos em Gerard. Frank se sentia incapaz de falar. Enquanto isso, Lindsey continuava.
— Eu imaginei que você seria capaz de ver através dele... Quer dizer, você parece um pouco mais sofisticado do que as outras pessoas por aqui. Eu pensei...
— Eu tenho que ir. — Frank anunciou.
Frank sentiu suas pernas tremulas ligeiramente quando andava. No palco, Gerard deve ter visto se levantar da areia, porque virou-se para ele sorridente, completamente entregue a música.
Frank virou-se, com raiva dele, mas mesmo com muita raiva de si mesmo por ter sido tão estúpido. Ele não queria nada mais do que sair fora deste lugar. Em seu quarto, ele jogou a mala sobre a cama e foi empurrando as roupas dentro quando a porta se abriu atrás dele. Por cima do ombro, viu seu pai em pé na porta. Frank hesitou apenas brevemente antes de cruzar o guarda-roupa e pegar mais de suas coisas.
— Dia difícil? — Seu pai perguntou. Sua voz era suave, mas ele não esperou por uma resposta. — Eu estava na oficina quando eu vi você chegar pela praia. Você não parece muito legal.
— Eu não quero falar sobre isso.
Seu pai continuou no local, mantendo a distância. — Vai para algum lugar?
Frank respirou furioso, enquanto continuava a embalar: — Eu vou embora daqui, ok? Eu vou ligar para a mamãe e vou para casa.
—Isso é ruim, huh?
Frank virou-se me direção ao pai.
— Por favor, não me faça ficar. Eu não gosto daqui. Eu não gosto das pessoas daqui. Eu não pertenço aqui. Eu só quero ir para casa.
Seu pai não disse nada, mas viu a decepção em seu rosto.
— Sinto muito. — Frank acrescentou. — Não é com você, tá? Se você me ligar, eu vou falar com você. E você pode vir me ver em Nova York e nós passaremos algum tempo juntos, certo?
Seu pai continuou a observá-lo em silêncio, o que o fez sentir ainda pior. Ele examinou o conteúdo de sua mala antes de adicionar o resto de suas coisas.
— Eu não tenho certeza de que posso deixar você ir.
Frank sabia que isso aconteceria, e internamente estava tenso: — Papai...
Ele levantou as mãos: — Não é pela razão que você pensa. Eu te deixaria ir embora, se pudesse. Eu chamaria sua mãe agora... Mas tem uma coisa.
— Uma coisa?
— Não é o momento para falar sobre isso, está bem? Tudo vai ficar bem...
— O que isso significa, pai?
Antes que seu pai pudesse responder, houve um súbito bater á porta, alto e insistente. Cheech olhou por cima do ombro.
— Provavelmente é o rapaz que estava com você hoje. — Frank se perguntou de como ele sabia, e lendo sua expressão ele acrescentou. — Você quer eu lide com isso?
— Não. Eu vou lidar com isso.
Seu pai sorriu, e por um instante, Frank pensou que ele parecia mais velho do que apenas um dia antes. Como se seu pedido o tivesse feito envelhecer.
Mas mesmo assim, ele não pertence aqui. Este era o lugar do seu pai, e não dele. A batida na porta soou novamente.
— Ei, papai?
— Sim?
— Obrigada. Eu sei que você quer que eu realmente fique, mas eu não posso.
— Tudo bem, querido. — Embora ele tivesse sorrido, as palavras saíram feridas. — Eu entendo.
Frank levantou a costura da sua bermuda cargo antes de se levantar. Quando chegou na porta, seu pai colocou as mãos nas costas e ele fez uma pausa. Então, fortalecendo-se, foi até a porta e puxou-a abrindo, ressaltando-se que a mão de Gerard estava pendurada no ar. Ele pareceu surpreso quando ele abriu.
Frank olhou para Gerard, perguntando-se de como ele pode ter sido tão estúpido em confiar nele. Ele devia ter ouvido seus instintos.
— Oh, hey... — Gerard disse, abaixando a mão. — Você está aqui. Por um segundo eu...
Frank bateu a porta, só para ouvi-lo imediatamente começar a bater novamente, com sua voz suplicante.
— Frank! Espere! Eu só quero saber o que aconteceu! Por que você foi embora?
— Vá embora! — Frank gritou, abrindo novamente. — Eu não quero jogar o seu jogo!
— Que jogo? Do que você está falando?
Novamente, ele bateu a porta. Gerard começou a bater de novo.
— Eu não vou sair até que você fale comigo!
O Cheech fez um sinal para a porta: — Problemas no paraíso?
— Não é o paraíso.
— Você quer que eu cuide dele? — Ele ofereceu novamente.
As batidas recomeçaram.
— Ele não vai ficar por muito tempo. É melhor simplesmente ignorá-lo.
Depois de um momento, cheech pareceu aceitar isso e acenou para a cozinha.
— Você está com fome?
— Não. — Frank disse automaticamente. Em seguida, colocou as mãos no estômago, e mudou de ideia. — Bem, talvez um pouco.
— Eu encontrei uma boa receita. Tem cebolas, cogumelos e tomate cozido no azeite, servido sobre o macarrão, e joga-se o queijo parmesão. Será que é gostoso?
— Agora estou surpreso. — Ele sorriu assim que a batida na porta soou novamente. Quando isso continuou, viu alguma coisa em seu rosto porque ele abriu os braços.
Sem pensar, Frank caminhou em direção a seu pai e sentiu ele abraça-lo. Havia alguma coisa... Suave e agressiva, em seus braços, algo que ele tinha perdido há anos. Era tudo que podia fazer para parar as lágrimas de vir e antes disso, se afastou.
— Quer ajuda para o para o jantar?
Frank tentou mais uma vez absorver o conteúdo da página que acabara de ler. Eles tinham jantado há uma hora atrás, e depois de passar por todos os canais na TV de seu pai, Frank desligou e pegou seu livro. Mas como ele poderia fazer, se não conseguia ler um único capítulo. De vez enquanto olhava por cima da janela. Fazia duas horas, e Gerard ainda não tinha ido. Ele tinha parado de bater na porta há um tempo e simplesmente sentou-se um pouco além da crista da duna, de costas para a casa. Tecnicamente, ele estava na praia pública, por isso eles não podiam fazer qualquer coisa, exceto ignorá-lo. Era o que ele e seu pai – que estranhamente, estava lendo a Bíblia novamente – estavam tentando fazer.
Fazer o jantar com seu pai tinha sido mais divertido do que ele pensava, por que ele não tinha feito perguntas com insinuações da mesma forma como sua mãe fazia recentemente. Ainda assim, Frank não tinha intenção de permanecer por mais tempo brigado com seu pai, mesmo sendo dura com ele no início. O mínimo que podia fazer era tentar fazer de hoje uma noite agradável.
O quanto possível, é claro.
— Quanto tempo você acha que ele vai ficar lá fora? — Cheech murmurou.
— Por que você não vai perguntar a ele? - Frank sugeriu.
— Ele não é meu namorado.
— Ele não é meu namorado, também. — Frank acrescentou.
— Ele está agindo como seu namorado.
— Ele não é, certo? — Frank virou uma nova página, deixando escapar um sorriso no canto da boca.
— Quero dizer, é apenas estranho, não acha? Sentado lá fora, por horas, esperando para você falar com ele. Quero dizer, estamos falando do meu filho.
— Tem o direito de interrogar. — Frank disse. Nos últimos vinte minutos, descobriu que releu a mesma página umas seis vezes.
Frank olhou para cima, vendo como seu pai tentou e não conseguiu reprimir um sorriso. Ele retornou para seu livro e começou a trabalhar com um número de determinação renovado, e para os próximos dois minutos houve silêncio na sala.
Frank bateu o livro fechando.
— Ok! Eu vou! Eu vou!
Uma brisa soprava forte, trazendo consigo o cheiro de sal e de pinho, quando Frank saiu da varanda e dirigiu-se a Gerard. Se ele ouviu a porta fechar, ele não deu nenhum sinal, em vez disso, ele parecia contente em lançar pequenas conchas de caranguejos aranha que estavam correndo para seus buracos. Uma camada de neblina marinha cobrindo as estrelas, tornando a noite mais fria e mais escura do que antes. Frank cruzou os braços, tentando manter o frio afastado. Gerard, ele notou, estava com os mesmos shorts e camiseta que usou durante todo o dia. Frank se perguntou se ele estava com frio, então forçou o pensamento longe. Não era importante, lembrou-se quando Gerard virou-se em direção a ele. No escuro, Frank não podia ler sua expressão, mas quando olhou para ele, percebeu que estava com menos raiva dele do que admirado pela sua persistência.
— Você deveria ir. — Afirmou Frank, esperava que fosse uma voz autoritária.
— Que horas são?
— São depois das dez.
— Você demorou um longo tempo para vir aqui.
— Eu não deveria ter quer vir aqui. Eu lhe disse para ir mais cedo. — Frank olhou para Gerard.
Sua boca estava tensa em uma linha reta: — Eu quero saber o que aconteceu.
— Nada aconteceu. — Frank cruzou os braços
— Então me diga o que Lindsey disse a você.
— Ela não disse nada.
— Eu vi vocês dois conversando! — Ele acusou.
Foi por isso que Frank não queria vir aqui em primeiro lugar, isto era o que ele queria evitar.: — Gerard...
— Por que você saiu depois que conversou com ela? E por que você demorou duas horas para vir aqui fora para finalmente falar comigo?
Ela balançou a cabeça, recusando-se admitir que estava se sentindo queimar.
— Não é importante.
— Em outras palavras, ela disse algo, não foi? O que ela disse? Que ainda estávamos nós encontrando? Porque nós não estamos. Está tudo acabado entre nós.
Levou um momento para Frank perceber o que ele quis dizer: — Ela era sua namorada?
— Sim. — Ele respondeu. — Por dois anos.
Quando Frank não disse nada, ele levantou-se e deu um passo para mais perto dele.
— O que exatamente ela disse para você?
Mas Frank mal ouviu sua voz. Em vez disso, voltou a pensar na primeira vez que ela tinha visto Lindsey, na primeira vez que tinha visto Gerard.
Vagamente, ele ouviu Gerard continuar.
— Você não vai mesmo falar comigo? Você vai me fazer sentar aqui por horas e nem vai responder a minha pergunta com uma resposta simples?
Mas Frank mal ouviu. Em vez disso, lembrou-se da maneira que Lindsey tinha olhando nesse dia na margem. Posando bonita, batendo palmas... Querendo que Gerard a notasse?
Por quê? Lindsey estava tentando reconquistá-lo de volta? E temia que Frank estivesse no caminho?
Com isso, as coisas começaram a iluminar na sua cabeça. Mas antes que pudesse pensar no que dizer, Gerard balançou a cabeça.
— Eu pensei que você fosse diferente. Eu só pensei... — Gerard olhou para ele, seu rosto misturava raiva e decepção, antes de repente, virando-se e indo para praia. — Inferno, eu não sei o que eu pensei. — Ele disse por cima do ombro.
Frank deu um passo a frente prestes a chamá-lo depois que percebeu um raio de luz perto borda da água. A luz subiu e caiu, como se alguém estivesse arremessando uma...
Bola de fogo, ele percebeu. Sentiu sua respiração parar na garganta, sabendo que Jared estava lá, e deu um passo involuntário para trás. Por que não ele o não deixa em paz? Jared estava perseguindo ele?
Frank já tinha visto histórias nos jornais falando de coisas como essa. Embora que pensasse que ele saberia o que fazer e poderia tratar de qualquer situação, isso era diferente. Porque Jared era diferente.
Porque Jared dava medo nele.
Gerard já estava há algumas casas de distância, e sua figura estava desaparecendo na noite. Pensou em chamá-lo e dizer-lhe tudo, mas a última coisa que ele queria era que Jared saiba que ele tem ligação com Gerard. De qualquer jeito, não existia ligação entre ele e Gerard. De qualquer maneira, não mais. Agora era só Frank.
E Jared.
Em pânico, ele deu mais um passo para trás, então se forçou a parar. Se Jared soubesse que ele estava com medo, podia piorar as coisas. Em vez disso, Frank se forçou a ir para dentro do círculo de luz da varanda deliberadamente se virou para olhar na direção de Jared. Não podia vê-lo – apenas com a cintilação da luz, que subia e descia. Jared, ele sabia, queria que Frank ficasse com medo. Continuando a olhar para ele, ele colocou as mãos nos quadris e ergueu o queixo desafiando a sua direção. O sangue dele bateu no peito, mas manteve sua posição, mesmo com a bola de fogo constante na mão dele. Um momento depois, a luz se apagou e ele sabia que Jared havia fechado o punho anunciando sua aproximação.
Ainda assim, Frank recusou-se a mover-se. Não tinha certeza do que faria se ele de repente aparecesse a apenas alguns metros de distância, mas como o segundo tornou-se em um minuto e depois em outro, Frank sabia que ele tinha decidido que era melhor ficar longe. Cansado de esperar ele aparecer, virou-se satisfeito e voltou para dentro.
Foi só quando ele encostou na porta depois de fechá-la que percebeu que suas mãos tremiam.
Cheech
Cheech olhou para cima quando Frank entrou. Embora ele tenha esboçado um sorriso, tentando mostrar que estava tudo bem, ele não pôde deixar de notar sua expressão enquanto pegava seu livro e ia para a cama.
Algo definitivamente estava errado. Ele só não tinha certeza do que era. Ele não saberia dizer se Frank estava zangado, triste ou assustado e enquanto debatia a ideia de tentar conversar com ele, teve a certeza de que fosse lá o que estivesse acontecendo, ele queria lidar com aquilo sozinha. Ele supôs que era normal. Não havia passado muito tempo com Frank recentemente, mas ele ensinou adolescentes durante anos e sabia que quando as crianças queriam falar algo – quando tinham algo importante a dizer – era quando seu estômago começava a doer.
Antes do amanhecer, acordou com o pensamento – mais um sentimento, na verdade – de que sentia falta de tocar piano. Ele sentiu necessidade de correr a sala e perder-se em sua música. Ele se perguntava quando teria a oportunidade de tocar de novo.
Ele sabia que era uma fantasia ridícula, mas sem sua música, ele estava sem rumo. Levantando-se da cama, afastou esses pensamentos escuros. O pastor Harris havia lhe dito que um novo piano tinha sido ordenado para a igreja, e que Steve era bem-vindo para tocá-lo assim que chegasse. Mas isto não aconteceria até o fim de julho, quando a obra acabaria, e ele não tinha certeza se ele estaria vivo até lá.
Com o sol na crista das dunas, Cheech refletiu sobre seus pensamentos da noite anterior e decidiu ir a um passeio na praia. Mais do que tudo, ele queria voltar para casa com o mesmo olhar de paz que tinha visto no rosto de Pastor Harris, mas como ele se arrastava pela areia, ele não poderia deixar de se sentir como um amador, alguém que procura as verdades de Deus como uma criança procura por conchas.
Teria sido bom se ele tivesse sido capaz de detectar um sinal evidente da sua presença, mas em vez disso ele tentou se concentrar no mundo em torno dele: o Sol se levantando do mar, o gorjeio dos pássaros da manhã, o nevoeiro persistente em cima da água. Ele se esforçou para absorver a beleza sem pensamentos conscientes, tentando sentir a areia debaixo dos seus pés e a brisa que acariciou sua bochecha. Apesar de seus esforços, ele não sabia se estava ficando mais perto de sua resposta do que quando ele começou.
"O que foi," pensou pela centésima vez, "que permitiu que o pastor Harris ouvisse as respostas em seu coração?"
O que ele quis dizer quando ele disse que sentiu a presença de Deus? Cheech supôs que ele poderia perguntar diretamente, mas ele duvidava que faria algum bem. Como alguém poderia explicar uma coisa dessas? Seria como descrever as cores para um cego de nascença: As palavras podem ser entendidas, mas o conceito permaneceria misterioso e privado.
Era estranho para ele tais pensamentos. Até recentemente, ele nunca tinha sido afetado por tais perguntas, mas ele imaginou suas responsabilidades diárias que sempre o mantiveram ocupado o suficiente para evitar pensar sobre elas, pelo menos até que ele voltou para a praia de Wrightsville. Aqui, o tempo tinha abrandado com o ritmo de sua vida.
Como ele continuou a caminhar pela praia, ele refletiu novamente sobre a fatídica decisão que ele tinha feito para tentar a sorte como um pianista de concerto. É verdade que ele sempre quis saber se ele poderia ter tido sucesso, e sim, ele sentiu que o tempo estava se esgotando. Mas como aqueles pensamentos adquiriram tal urgência, ao mesmo tempo?
Por que ele tinha estado tão disposto a deixar sua família por meses? Como, ele perguntou, ele poderia ter sido tão egoísta? Em retrospecto, provou que não foi uma decisão sábia para nenhum deles. Ele pensou que sua paixão pela música tinha forçado a decisão, mas agora ele suspeitava que ele realmente foi à procura de maneiras de preencher a vazio que às vezes sentia dentro dele.
E ele andou, começando a se perguntar se foi nesta constatação de que ele eventualmente encontraria sua resposta.
Chapter 12: Luz celestial caindo em cascata
Notes:
ME PERDOEM A DEMORA.
A vida de uma esposa funcional que trabalha e cuida da casa não está fácil. Pretendo terminar de postar os capitulos, nao desistam de mim :)
Chapter Text
Jared
- Eu quero comer algo no restaurante antes de ir. - Bert disse.
- Então vá. - Disse Jared. - Eu não estou com fome.
Bert e Jared estavam no Bower's Point, junto com Jimmy e Bob, que tinha pegado duas das garotas mais feias que Jared já tinha visto e eles estavam no processo de ficarem bêbados. Jared tinha se aborrecido por encontrá-los aqui, em primeiro lugar e, em seguida Bert o tinha perseguido pela última hora, perguntando aonde ele tinha ido o dia inteiro.
Ele teve a sensação de que Bert sabia que tinha algo haver com Frank, porque Bert não era estúpido. Bert sabia o tempo todo de que Jared estava interessado em Frank, que explica o porquê de ter colocado os CDs na bolsa de Frank. Foi a solução perfeita para fazer Frank ficar longe... O que significava de que Jared não teria a chance de ver Frank quando quisesse.
Isso o irritou. E depois de encontrá-lo aqui, reclamando que está com fome e se pendurando em cima dele e lhe importunando com perguntas...
- Eu não quero ir sozinho. - Ele gemeu novamente.
- Você não me ouve? - Jared rosnou. - Você nunca ouve uma única coisa que digo? Eu disse que não estou com fome.
- Eu não estou dizendo que você tem que comer alguma coisa... - Bert murmurou, subjugado.
- Você quer calar a boca um pouco?
Isso o deteve. Pelo menos por alguns minutos, de qualquer maneira. Ele podia dizer que pela forma de como Bert estava encolhido que queria lhe pedir desculpas por alguma coisa. Sim, bem, isso não aconteceria. Passando pela água, Jared acendeu a bola de fogo, irritado com o fato de que ele ainda estava aqui. Com raiva de que Jimmy e Bob estavam aqui, quando ele queria um pouco de paz e tranquilidade. Irritado pelo plano de Bert tinha funcionado para afastar Frank, e especialmente irritado com o fato de que estava irritado sobre isso. Ele odiava o jeito que se sentia. Queria bater em alguma coisa, e quando ele olhou para Bert e viu seu beicinho, no topo da lista.
Quando ele ouviu pela primeira vez o que tinha feito, pensou que Bert poderia facilitar o caminho entre ele e Frank. Você coça minhas costas, e eu coço as suas, esse tipo de coisa. Mas quando ele sugeriu isso a Frank, ele preferia morrer a chegar perto dele. Mas Jared não era do tipo de desistir, e descobriu que eventualmente Frank perceberia que ele era seu único caminho para sair desta confusão. Então, tinha ido a sua casa para uma pequena visita, esperando uma chance para falar. Eles poderiam ir passear e talvez acabar indo ao píer, então o que acontecer, aconteceu. Certo? Mas quando chegou a sua casa, Gerard estava lá. De todas as pessoas, Gerard, sentado em uma duna, esperando para falar com Frank. E Frank finalmente foi para fora para falar com ele. Na verdade, eles pareciam discutir, mas pela forma como estavam agindo, havia claramente algo entre eles, o que irritou também. Porque isso significava que eles se conheciam. Porque significa que eles provavelmente tiveram algo.
O que significava que ele tinha lidado errado com Frank. Ele virou-se, desejando poder beber cerveja e voltar a música e pensar apenas sozinho por um momento. Sem todas essas pessoas o cercando.
E então? Oh, isso era como um coice. Depois que Gerard saiu, Frank percebeu que tinha dois visitantes, não apenas um. Quando o notou olhando para ele, sabia que uma das duas coisas iriam acontecer. Ou Frank sairia e falaria com ele, ou agiria com medo que tinha tido antes e correr para dentro. Ele gostou do fato de que ele poderia assustá-lo. Ele poderia usar a sua vantagem.
Mas Frank não fez nenhuma dessas coisas. Em vez disso, ele olhou em sua direção, como se dissesse, o que o trás aqui? Ele estava na varanda, sua linguagem corporal o mostrava desafiante e irritado, até que finalmente voltou para casa.
Ninguém nunca fez isso para Jared. Quem diabos ele acha que é? Ele não gostou. Ele não gostava nada disso.
Bert interrompeu seus pensamentos: - Você tem certeza de que não quer vir?
Jared virou-se para ele, sentindo uma súbita necessidade de limpar sua mente, para se refrescar. Sabia exatamente o que precisava e sabia que Bert daria a ele.
- Venha aqui. - Ele disse e forçou um sorriso. - Sente-se ao meu lado. Eu não quero que vá ainda.
Frank
Quando Frank acordou, olhou para o relógio, aliviado, pois era a primeira vez que conseguia dormir até tarde desde que havia chegado ali. E isso era motivo suficiente para estar de bom humor. O melhor de tudo, porque ele estava ouvindo uma voz dentro dele que sussurrava: "Você vai para casa hoje." Sem Bert, sem Jared ou Lindsey, sem acordar cedo toda manhã.
Mas sem Gerard também... O pensamento o fez parar. Em geral, Gerard não havia sido tão ruim. Na verdade, tinha passado um dia divertido com ele, ontem, até o final, pelo menos. Ele realmente deveria ter contado a ele o que Lindsey havia dito. Devia ter se explicado. Mas com Jared aparecendo daquele jeito...
Frank realmente, realmente, queria dar o fora da praia o mais rápido possível. Afastando as cortinas, ele olhou pela janela. Seu pai e o pastor Harris estavam conversando na entrada da garagem, e percebeu que não via o pastor Harris desde que era uma criança. Ele havia mudado desde então: estava apoiado em uma bengala, e seu cabelo e sobrancelha tão memoráveis, agora estavam brancos. Frank sorriu, lembrando quão gentil ele havia sido no funeral de seu avô. Ele sabia o porquê seu pai gostava tanto dele. Havia algo infinitamente bom nele, e Frank recordou-se de que após os serviços funerários, ele havia oferecido um copo de limonada que era mais doce do que qualquer refrigerante. Frank alcançou seu pai e o pastor Harris.
— Você está de pé — seu pai disse — Eu dei uma olhada em você a pouco tempo atrás e você estava morto para o mundo.
— Acabei de acordar.
Ele acenou com seu polegar: — Você se lembra do pastor Harris?
Frank estendeu sua mão. — Lembro sim. Olá de novo. É bom vê-lo.
Quando o pastor Harris pegou sua mão, notou cicatrizes brilhantes cobrindo seus braços e mãos: — Eu não acredito que é o mesmo menino que eu tive o prazer de conhecer tanto tempo atrás. Você está crescido agora. — Ele sorriu. — Você se parece sua mãe.
Ele vinha ouvindo bastante isso ultimamente, mas não sabia o que fazer com essa informação. Isto queria dizer que ele parecia velho? Ou que sua mãe parecia nova? Era difícil dizer, mas sabia que ele tinha dito isso como um elogio: — Obrigada. Como a Sra. Harris está?
Ele ajeitou sua bengala: — Ela está me mantendo na linha, como sempre fez. E eu tenho certeza que ela adoraria vê-lo assim tão bem. Se você tiver tempo de passar lá em casa, eu vou garantir que tenha uma jarra de limonada caseira para você.
Isso queria dizer que ele se recordava também.
Ele se virou para Cheech: — Obrigado novamente por se oferecer para fazer a janela. Está ficando linda.
Ele acenou: — O senhor não tem o que agradecer.
— Claro que eu tenho. Agora eu realmente tenho que ir. As irmãs Towson estão no comando do estudo da Bíblia, esta manhã, e se você as conhece, você sabe que é imperativo que eu não as deixe sozinhas. Elas adoram o Apocalipse, e parece que esqueceram que Coríntio também é um bom capítulo — Ele virou-se para Frank — Foi maravilhoso vê-lo novamente, meu jovem. Espero que seu pai não esteja lhe causando muitos problemas esses dias. Você sabe como os pais podem ser.
Frank sorriu: — Ele é legal.
— Bom. Se ele lhe trouxer algum problema, venha falar comigo, e eu farei o meu melhor para colocá-lo na linha. Ele costumava ser arteiro quando criança.
— Eu não era arteiro — seu pai protestou — Tudo que eu fazia era tocar piano.
— Lembre-me de te contar da vez em que ele colocou corante vermelho carmim na água benta de um batismo.
Ele pareceu mortificado: — Eu nunca fiz isso!
Pastor Harris parecia estar se divertindo: — Talvez não.
Com isso, ele se virou para ir embora. Frank observou-o indo, divertido. Qualquer um que pudesse fazer seu pai sofrer – de um jeito inofensivo, é claro – era alguém que ele definitivamente gostaria de conhecer melhor. Especialmente se soubesse histórias do passado. Histórias divertidas. Boas histórias. A expressão de seu pai enquanto o via ir embora era inescrutável. Entretanto, quando ele se virou, pareceu voltar a ser o pai que conhecia.
Frank entrou pela primeira vez na oficina. Durante os últimos três meses, seu pai passou a maior parte das tardes aqui, cercado por ferro-velho e pequenos pedaços de vidro colorido. Ele franziu o nariz para os animais empalhados empoleirados nas estantes, a especialidade do antigo dono. Era difícil não se ver hipnotizado pela criatura meio-esquilo/meio-lobo-do-mar ou com a cabeça de um gambá unida ao corpo de uma galinha.
Seu olhar foi até a mesa, onde viu a janela que seu pai estava trabalhando. O que Frank deduziu que ele tinha um longo caminho a percorrer. No centro da oficina estava uma larga mesa de trabalho com o começo de um vitral. Não tinha nem um quarto da janela completa, e se um padrão estivesse sendo seguido, ainda haviam muitos pedaços de vidros faltando.
― Por que você está trabalhando nesta janela?
―Estou fazendo para a igreja no final da rua. Ela foi queimada no ano passado, e a janela original fora destruída pelo fogo.
― É por isso que o pastor Harris deixou você ficar na casa?
― Não, eu teria feito de qualquer maneira... ― Ele se calou. Frank olhava para ele com expectativa. ― É uma longa história. Tem certeza que quer ouvi-la?
Ele acenou.
― Eu tinha seis ou sete anos quando entrei na igreja do pastor Harris pela primeira vez. Eu me refugiei da chuva lá - era um temporal e eu estava ensopado. Quando ouvi que ele estava tocando piano, lembro-me de ter pensando que ele não me deixaria ficar. Mas ele deixou, e me trouxe um cobertor e uma caneca de sopa, e ligou para minha mãe para que ela fosse me buscar. Antes dela chegar, ele me deixou tocar piano. Eu era apenas uma criança batendo nas teclas, mas... Enfim, eu acabei voltando lá no dia seguinte e ele se tornou meu primeiro professor de piano. Ele tinha um grande amor pela música e costumava me dizer que uma bela canção era semelhante a anjos cantando. Eu ia a igreja todos os dias e tocava por horas embaixo da janela original, com a luz celestial caindo em cascata ao redor de mim. Essa é a imagem que eu sempre vejo quando me lembro das horas que passei lá. Essa bela inundação de luz. Há alguns meses atrás, quando a igreja pegou fogo... O pastor Harris quase morreu naquela noite. Ele estava lá dentro fazendo uma revisão de último minuto em seu sermão, e ele quase não saiu. A igreja... queimou e em um minuto estava no chão. Pastor Harris ficou no hospital durante um mês, a igreja está parada. Até que ele me disse que o seguro só cobria metade do dano, e não havia nenhuma maneira de arcar com uma nova janela. Eu não consegui imaginar isso. A igreja não seria o mesmo lugar que eu me lembro e sem a janela. Então eu vou terminar", ele limpou a garganta, ― Eu preciso terminar.
Enquanto ele falava, Frank se pegou tentando imaginar seu pai quando criança, sentado ao piano da igreja, seu olhar flutuando dele para o recorte na parede.
―Eu não sabia que você fazia janelas.
―Acredite ou não, o artista que morava aqui costumava me ensinar.
―O cara que mexia com os animais?
―Esse mesmo.
―E você o conhecia?
Steve se juntou ao seu filho na mesa.
― Quando eu era criança, eu fugia para cá quando supostamente deveria estar na aula sobre a Bíblia. Ele fazia vitrais para mais igrejas por aqui. Vê essa foto na parede? ― Steve apontou para uma pequena fotografia da cristo ressuscitado presa a uma das prateleiras, fácil de se perder no caos. ― Espero que o vitral se pareça como esse quando terminado.
― Isso é muito legal, pai.
―Você quer ajudar?
― Me desculpe, pai... ― Frank falou como se lembrasse de seu plano de sair daquela cidade. ― Eu tenho umas coisas para resolver antes de... bem. Meu lugar não é aqui.
Cheech pegou cuidadosamente um pedaço de vidro e o examinou, o segurando na luz, com uma expressão séria. Ele não respondeu.
— Porque você nos deixou, pai? — Frank perguntou — E eu sou velho o suficiente para a verdade, ok?
Ele parecia lutar contra algo, tentando descobrir o que dizer e por onde começar, antes de começar com o óbvio.
— Depois que parei de ensinar em Julliard, eu fiz todos os shows que eu podia. Era meu sonho, sabe? Ser um pianista famoso. Enfim... Acho que eu deveria ter pensado mais sobre a realidade da situação antes de tomar a decisão. Mas não. Eu não percebi como seria difícil para sua mãe. — Ele olhou seriamente para Frank — No fim, acabamos nos afastando.
Frank observou-o enquanto ele falava, tentando ler entre as linhas: — Você tinha outra pessoa, não tinha? — A voz dele era inflexível.
Seu pai não respondeu, e seu olhar se afastou. Frank sentiu um peso dentro dele. Quando ele finalmente falou, ele parecia cansado:
— Eu sei que deveria ter tentado mais para salvar o casamento, e eu sinto muito sobre isso. Mais do que você pode imaginar. Mas eu quero que você saiba algo, ok? Eu nunca deixei de acreditar em sua mãe. Eu nunca deixei de acreditar na resistência do nosso amor. Mesmo que não tenha dado certo do jeito que eu e você gostaríamos, eu vejo você e penso o quão sortudo eu sou. Em uma vida cheia de erros, você é a melhor coisa que aconteceu para mim.
Quando ele terminou, Frank passava a mão na escultura de vidro, sentindo-se cansado novamente.
— O que eu vou fazer? — Frank perguntou, enquanto admirava o vitral.
— Você fala de hoje?
— Eu falo de tudo.
Frank sentiu seu pai descansar a mão gentilmente em suas costas: — Eu acho que seu primeiro passo deveria ser conversar com ele.
— Quem?
— Gerard — ele disse — Você se lembra de quando vocês passaram pela casa ontem? Quando eu estava parado na varanda? Eu estava observando vocês, pensando o quão natural vocês dois parecem quando estão juntos.
— Você nem mesmo o conhece — Frank disse, sua voz uma mistura de surpresa e maravilha.
— Não — ele disse. Ele sorriu afetuosamente. — Mas eu conheço você, e você estava feliz ontem.
— E se ele não quiser falar comigo?
— Ele quer.
— E como você sabe?
— Porque eu estava observando, e ele parecia feliz também.
Parado na entrada da Discos & Café, Frank só conseguia pensar que não queria fazer aquilo. Ele não queria encará-lo. Só que meio que queria sim, e sabia então que não tinha outra opção. Ele sabia que tinha sido injusto com Gerard e ele merecia saber o que Lindsey havia dito. Ele tinha esperado fora da casa dele por horas, certo?
Além do mais, Frank tinha que admitir que seu pai tinha razão. Ele se divertia muito com Gerard, pelo menos o máximo de diversão que se podia conseguir em um lugar como aquele. E tinha algo sobre ele que o fazia diferente dos garotos que Frank conhecia. Não só porque ele cantava e era mais inteligente do que aparentava. Frank gostou de como ele tinha levado-o para pescar, mesmo que ele tivesse odiado machucar o peixe. Foi o jeito com que demostrou que "esse é quem eu sou, e isso é o que eu gosto, e de todas as pessoas que eu conheço, é com você que quero aproveitar o dia". Muitas vezes, quando alguém o chamava para sair, ia buscá-lo sem a menor ideia de para onde iriam, normalmente forçando-o o escolher um lugar. Isso era tão sem graça. Gerard era tudo, menos sem graça, e Frank não podia evitar gostar dele por causa disso.
O que significava, é claro, que tinha que consertar as coisas. Preparando- se para o caso dele ainda estar com raiva, Frank entrou na loja. Gerard trabalhando no computador e Mikey, que estava atrás do balcão, disse algo para Gerard, que se virou e o viu, mas não sorriu. Ao invés disso, foi em sua direção. Gerard parou a um passo dele. De perto, sua expressão era ilegível.
— O que você quer?
Não era exatamente a abertura que Frank queria, mas também não era inesperado.
— Você estava certo, — Frank respondeu. — Ontem, eu saí do ensaio porque Lindsey disse que eu era sua mais recente conquista. Ela também insinuou que eu não era o primeiro, que nosso dia juntos, e todas as coisas que fizemos e lugares onde fomos, eram truques que você usava com todo mundo.
Gerard continuava encarando: — Ela mentiu.
— Eu sei.
— Então porquê você me deixou esperando fora de sua casa por horas? E porquê você não disse nada ontem?
Frank colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, sentindo a vergonha subir em seu peito, mas tentando não demonstrar: — Eu estava com raiva e chateado. E eu ia falar para você, mas você foi embora e eu não tive como.
— Você está dizendo que é minha culpa?
— Não, de jeito nenhum. Tem muitas coisas que estão acontecendo que não tem nada a ver com você. Os últimos dias têm sido difíceis. — Frank passou a mão pelos cabelos. Estava tão quente ali dentro.
Gerard levou um momento para absorver o que Frank tinha dito: — Porquê você acreditaria nela, em primeiro lugar? Você nem a conhece.
Ele fechou os olhos. Porquê? Se perguntou. Porque eu sou idiota. Porque eu deveria ter confiado em meus instintos sobre ela. Mas Frank não disse essas coisas. Só sacudiu a cabeça: — Eu não sei.
Quando Frank não parecia mais disposto a falar nada, Gerard enfiou as mãos no bolso: — Isso é tudo que você veio dizer? Porque eu tenho que voltar ao trabalho.
— Eu também vim me desculpar. — Frank disse, com a voz deprimida, — Sinto muito. Eu exagerei.
— Sim, você exagerou, — Gerard rebateu — E foi completamente irracional. Algo mais?
— E eu também queria que você soubesse que eu tive um ótimo dia ontem. Bem, pelo menos até o ensaio.
— Ok.
Frank não tinha certeza do que ele quis dizer com aquilo, mas quando Gerard lançou lhe um breve sorriso, ele começou a relaxar.
— 'Ok'? É isso? É tudo que você vai me dizer depois de eu ter vindo até aqui pedir desculpas?
Em vez de responder, Gerard deu um passo em direção a ele, e então, tudo aconteceu tão rápido que nem fez sentido. Um segundo atrás Gerard estava distante, e então, ele colocou uma mão no quadril dele e o puxou para perto. Inclinando-se, ele o beijou. Seus lábios eram macios, e ele era surpreendentemente gentil. Talvez tenha sido porque ele o pegou de surpresa, mas se viu retribuindo o beijo. O beijo não durou muito, e não foi um beijo de sacudir-a-terra ou de destruir-a-alma como os do filmes; mesmo assim, Frank estava feliz de ter acontecido, e percebeu que era exatamente isso que queria que Gerard fizesse.
Quando ele se afastou, Frank sentiu o sangue esquentar em suas bochechas.
Sua expressão era meio séria, e não tinha nada de sem graça nisso.
— Na próxima vez que você estiver chateado, você fala comigo, — ele disse. — Não me afaste. Eu não gosto de joguinhos. E eu tive um ótimo dia também.
BiaGoth on Chapter 1 Mon 06 Mar 2023 11:11PM UTC
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pickthebesttimes on Chapter 1 Tue 07 Mar 2023 12:00AM UTC
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