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Dirty little secret

Chapter 1: Videoconferência

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- Bom, pessoal, acho que de recados era apenas isso. Queria parabenizar novamente a equipe pelo último trabalho. O cliente ficou tão satisfeito com o resultado que já contratou com a Devenementiel pelo menos mais cinco projetos e até está pensando em uma parceria no próximo ano – Devon disse e após sua fala era possível ver pela tela do computador vários quadrados com carinhas sorridentes de cada membro da Devenementiel. Era um pouco incomum chamadas de vídeo, mas Devon havia ficado tão animado com aquela informação, então por que não convocar uma mini reunião em uma sexta-feira à noite? Estavam em família, oras.

- Isso é incrível, Dev! – Elenda abriu seu microfone e os demais fizeram o mesmo. – Quando é o próximo happy hour?

- Questões muito relevantes – Thomas brincou.

- Acho válido – Devon sorriu. – Mas, de verdade, o esforço de todos foi essencial para a nossa vitória. Quero em especial parabenizar a Ysa, que foi determinante nas contratações dos locais.

Ysaline sorriu de forma nervosa enquanto via todos aplaudirem pelos quadradinhos.

- Muito obrigada, Devon – agradeceu ela. – Fico feliz demais em poder contribuir com o nosso sucesso.

- Arrasou demais, Ysa! – Roy disse.

- A maior que temos! – Elenda cumprimentou também.

- Nossa garota de ouro – Brune seguiu com mais elogios.

A cada um deles Ysaline sentia seu rosto querer travar com aquele sorriso.

- Não precisa ficar vermelha, viu? Você merece – assim que Amanda disse, Ysaline voltou sua atenção para a sua própria imagem, preocupada.

- Não estou! – Respondeu ela, de supetão. – Quer dizer, acho que é efeito da webcam. Eu estou me vendo mais vermelha também. Acho que preciso trocar...

- A imagem parece bem nítida para mim – Thomas disse.

Ysaline tinha, de fato, um excelente notebook. Foi até mesmo Thomas quem recomendou que ela comprasse daquela marca pelo processamento – e, aparentemente, a webcam fazia jus ao desempenho de todo o resto. Por isso que era fácil notar como Ysaline estava especialmente vermelha naquele dia. Naquele momento.

Apenas uma coisa a fazia corar daquele jeito.

Elogios definitivamente não era uma delas.

- Você tá bem coradinha, amiga – Elenda comentou. De repente parecia que o rubor nas bochechas dela havia se tornado o tópico mais interessante da reunião.

- Eu acho que sei o que está acontecendo – Ysa ouviu a voz de Brune e sentiu seu corpo gelar. Normalmente, ela sempre se sentia intimidada por Brune, como se a mulher estivesse de olho em coisas que ela não queria que ninguém soubesse. Por isso, engoliu em seco. – É bem óbvio, não?

- Como assim? – Ysaline ajeitou sua postura na cadeira.

- Não se finja de boba, Ysaline.

Merda.

- Gente, eu-

- É claro que ela foi a praia esse final de semana e nem chamou a gente!

O corpo dela finalmente relaxou na cadeira.

- Não acredito que saiu para a praia sem mim, Ysa! – Roy fingiu estar magoado e Ysaline balançou a cabeça.

- Jamais sairia sem meu companheiro de... praia – Ysaline disse, pausadamente, antes de tossir um pouco. – Nós podemos combinar outro dia de todos irmos, que tal?

- Seria uma boa. Hein, Devon? – Elenda logo se animou.

- Eu topo! – Brune disse.

- Não sou muito a favor, mas se todos forem não vou ser o estraga prazeres – Thomas deu de ombros.  – Imagino que a Amanda esteja comigo.

- Acho que a praia seria uma boa, sim. Só tenho que caprichar no protetor solar – Amanda comentou.

- É uma ótima ideia! Podemos combinar para o final do ano, que tal? – Devon sugeriu e de repente todos os microfones estavam ligados. Elenda pedia para que Roy a ensinasse a surfar, Amanda combinava com Brune alguns drinks que poderiam trazer e Devon e Thomas discutiam a possibilidade de alugarem uma casa de praia ou ficarem hospedados em algum hotel pelo litoral. – O que você acha, Ysaline? Sua mãe conhece alguma casa de praia?

Todos voltaram a atenção para Ysaline, a qual estava com uma expressão peculiar em seu rosto e com a respiração um pouco descompassada.

- Ysaline?

Ysaline piscou os olhos algumas vezes e tossiu ao perceber que falavam com ela.

- Ysa, seu microfone está desligado – Amanda disse.

- Me desculpe! É, eu tenho que verificar com ela, mas posso levar a resposta segunda-feira.

Ao notar a reação de todos a sua resposta, Ysaline percebeu que havia respondido de uma forma um tanto formal demais.

- Quer dizer, é que minha mãe com certeza vai querer fazer um relatório só para escolher a melhor casa pra alugar. Verificar com os amigos corretores dela. Somos muito detalhistas nessa família – Novamente, o sorriso nervoso surgiu em seu rosto. E as bochechas dela iam ficando cada vez mais vermelhas.

- Disso eu não tenho a menor dúvida – Devon respondeu, contente. – Mas sem estresse com isso. É justamente para a nossa diversão.

- Falou o cara que ainda está no escritório numa sexta-feira – Thomas comentou.

- Devon, você ainda tá na empresa? – Roy perguntou não muito abismado, afinal, não era de hoje que o amigo fazia isso.

- Só estava organizando algumas demandas para a próxima semana.

- Dev, aproveitando que você está aí, pode verificar se eu deixei meu gloss na minha mesa?

- Claro, Elenda!

- Ai, muito obrigada! É meu gloss favorito da vida.

- Qual você usa? – Amanda perguntou.

- Gente, vocês querem ver meu peixe de estimação?

E assim aquela reunião de última hora havia se tornado uma grande call entre amigos.

- Gente, desculpa interromper! – Ysaline disse e riu nervosa. – Me desculpa mesmo, é que eu tenho um compromisso daqui a pouco e se não tiver mais nenhum assunto... – ela queria dizer importante, mas sabia que usar aquela palavra iria deixar todos magoados. Porém, devido as circunstancias, as palavras simplesmente fugiram de seu cérebro.

- Pode ir sem problemas, Ysa! – Devon disse. Educado como sempre era, mas Ysaline sentiu aquele leve toque de decepção na voz dele. Não era nada em relação ao trabalho, óbvio. Acontece que ele tinha a esperança que depois de um ano Ysaline se sentisse mais à vontade como oficial membro da Devenementiel. Porque diferente de outros empregadores, Devon via aquelas pessoas como sua família. – Muito obrigado pela sua colaboração.

- Imagina! Bom final de semana para vocês. Tchau, tchau!

Assim que saiu da reunião, Ysaline automaticamente jogou sua cabeça para trás, deixando o gemido que estava preso em sua garganta praticamente explodir em sua boca, antes de olhar para debaixo de sua mesa. Ali, ajoelhado, sem camisa, entre suas pernas, estava Jason Mendal.

Tal qual muito utilizado em muitas videoconferências nos tempos da pandemia, Ysaline apenas estava vestida de cima. Quer dizer, quando Jason chegou ela estava – para a grande felicidade dele – usando uma saia, a qual havia sido gentilmente jogada por cima de uma planta.

- Você é diabólico. Sabia disso?

- Com toda a certeza – Jason sorriu, igualmente diabólico, enquanto subia um pouco até ficar à altura dos olhos dela. Os dois se encararam, luxúria quase que como gás explodindo no ar. Ysaline tentava ao máximo não demonstrar o quão sedenta estava por Jason, pois sabia que a busca dele por afagar seu ego só o fazia mais empenhado em arrancar aqueles gemidos tão prazerosos aos ouvidos dele. Mas, então, Jason subiu uma das suas mãos até o queixo dela, passando o dedo polegar pelos seus lábios, enquanto dava aquele sorriso diabolicamente travesso. – Mas isso nunca foi um problema para você. Não é, gatinha?

Ysaline precisou se segurar para não sorrir, ainda com os olhos semicerrados, tentando segurar a pose.

- Eles poderiam ter reparado, Jason. Como você me convenceu a fazer isso? Deus, eu estou enlouquecendo!

- Claro que não está. E a culpa não é sua de eu ser muito bom no que eu faço.
Ysaline revirou os olhos.

- Aliás, você se saiu muito bem. Para falar a verdade, não me pareceu nada incomodada, considerando que eu tive dificuldade para respirar algumas vezes enquanto você se esfregava-

Ysaline então colocou um dos dedos dela na boca dele, pedindo silêncio, o que apenas serviu para atiçar Jason. Se ela estava enlouquecendo, ele então nem se falava. Ele acompanhou Ysaline levantar-se da cadeira, indo em direção a cozinha para pegar as taças de vinho tinto que os dois haviam deixado para trás quando foi convocada a reunião.

- Eles não podem saber da gente, ok? – Disse Ysaline enquanto colocava mais vinho em sua taça. Olhando para Jason, ela completou em sua cabeça: não enquanto eu não tenho ideia do que isso significa.

Ysaline tentava a todo custo se convencer de que aquilo que os dois tinham era casual, sem sentimento algum envolvido, apenas um acordo entre dois adultos. Ainda eram de empresas rivais – se é que isso algum dia teria sentido – então se tratariam como os inimigos que deveriam ser fora dali.

Talvez não fosse inteligente convidar o inimigo para brincar no seu território, mas ele havia trazido vinho e a semana havia sido uma merda para os dois, então por que não? Não havia sido a primeira vez e cada vez mais ambos desejavam que não fosse a última.

Jason arqueou uma das sobrancelhas e riu logo em seguida, aproximando-se dela.

- Fique tranquila, gatinha. Se eu conheço o Devon como conheço, sei que ele está arrasado por você não fazer parte da grande família feliz dele – Jason zombou e o sorriso diabólico nasceu de novo em seus lábios. Ela reconhecia aquela deixa como ninguém. Abandonando a taca de vinho em cima da mesa, ela sentiu as mãos de Jason descer pela sua cintura, intoxicando seu corpo a cada premeditação de toque. – Nem nos piores pesadelos dele, ele imagina que eu faço a garota de ouro da Devenementiel ronronar.

- Eu odeio você – Ysaline disse antes que dele pegá-la no colo apenas para colocá-la em cima da ilha de mármore da cozinha.

- Permita-me mudar isso – Jason puxou a nuca dela e Ysaline finalmente pode se derreter com os beijos dele. Não demorou muito para que as roupas dos dois estivessem novamente jogadas pelo apartamento de Ysaline.

Aquilo não deveria acontecer, mas aconteceria pelo menos cinco vezes antes de finalmente acabar.

Chapter 2: Carro da empresa

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Toda história tem um começo. Sendo assim, o caso de Ysaline e Jason não seria diferente. Algumas pessoas dizem que as circunstâncias são determinantes em algumas situações. Aqueles “e se?” que até mesmo nos fazem questionar sobre realidades paralelas ou apenas perguntar “quando foi que eu peguei o caminho errado?” Óbvio, não é tão dramático assim, mas era nisso o que Ysaline vinha pensando.

E se naquele dia não estivesse chovendo o que deveria ter chovido em três meses?

E se eu tivesse aceitado o dinheiro da minha mãe para comprar um carro?

E se eu tivesse ouvido minha mãe e levado o guarda-chuva comigo?

E se eu não tivesse discutido com a Amanda?

E se eu não fosse tão teimosa a ponto de pedir ajuda para os meus colegas?

E se eu tivesse saído um pouco antes?

Será que eu ainda assim cairia na cama de Jason Mendal?

***

- Bom, da próxima vez nós fazemos do meu jeito – com aquela frase, Amanda havia encerrado a que talvez fosse a maior discussão que havia acontecido na Devenementiel. Ysaline precisou segurar cada célula do seu corpo para não revirar os olhos na cara dela. A força pareceu tanta que um raio riscou o céu naquele exato momento.

Devon, diplomático como sempre foi, logo começou um longo – e bem cansativo aos ouvidos de Ysaline – discurso sobre como o brainstorm era importante, que nenhuma ideia era melhor do que a outra, que a união deles era justamente o diferencial e mais alguma coisa que ela teria prestado atenção se fosse qualquer outro dia.

Sem falar que aquilo não era novidade nenhuma. Sim, Ysaline tinha seus defeitos, estava cheinha deles e até o final daquela noite ela teria mais um para ser apontada na rua. Mas aquele discurso deveria ser apenas para Amanda!

Deus, ela adorava a Amanda. De verdade, não havia nada contra ela, era muito grata por todo acolhimento que a loira havia oferecido desde que se mudou para a empresa e por tê-la ajudado em muitos projetos e esperava muito que as duas pudessem conversar no dia seguinte sobre, mas puta que pariu! Já não era a primeira vez que era difícil chegar ao consenso com ela. Ora, parecia que tudo o que ela falava era bosta comparado ao que ela falava.

- E é isso, pessoal! Muito obrigado pela colaboração e um ótimo final de semana – Devon finalizou. Ysaline despediu-se do pessoal, porém, lembrou-se de um pequeno e importante detalhe: Amanda tinha ficado de dar uma carona para ela mais tarde.

Não que ela quisesse dividir o mesmo espaço que ela no carro agora – Ysaline ainda tinha um restinho de dignidade e orgulho – mas nem que ela quisesse se humilhar para pedir uma carona, pois Amanda saiu em dois segundos. De propósito ou não, o mundo caia lá fora.

- Ysa, você não vai? – Devon perguntou ao sair da sala de reunião.

- Sim! Eu... é só tem uns arquivos que eu preciso colocar na minha nuvem. Deve levar uns minutinhos, mas logo logo estou indo também.

- Tudo bem! Preciso dar uma corrida. Hoje tem uma palestra de um investidor nosso – Disse ele e Ysa sorriu com um pouco de compaixão, pensando em como nunca via Devon fazer nada para se divertir. – Até mais, Ysa!

- Até – Ysaline deu um tchauzinho e então caiu em sua cadeira, bufando.

Ligou novamente o computador e passou os arquivos do seu projeto para a nuvem. Enquanto aguardava, foi abrindo o Uber. Como estava com muita sorte (nota-se a ironia), o aplicativo precisava de atualização e, assim como sua caixa de e-mails, seu celular estava praticamente explodindo sem armazenamento. Todo dia o Google enviava um e-mail para ela para comprar mais armazenamento, com mensagens do tipo “você NUNCA MAIS vai poder nem RECEBER e-mails se não comprar mais armazenamento! ”

Sempre lia aquilo como se no final houvesse uma carinha tipo >:(

Esperava milagrosamente que o aplicativo atualizasse, porque sua única opção era realmente ir andando até em casa – o que não seria uma má ideia se ela não fosse uma ANTA e tivesse esquecido o guarda-chuva em casa. Inclinou-se na cadeira para ver se ninguém havia esquecido algum guarda-chuva, mas o cestinho estava vazio exatamente como a sua vontade de viver.

Ysaline baixou a cabeça em sua mesa, lutando contra a vontade de se bater até desmaiar. Porém, recuperou-se num instante. Pegou sua bolsa num instante, colocou seu casaco e foi em direção ao elevador pensando que a chuva já deveria ter abaixado um pouco naquele momento.

Qual foi a surpresa dela, então, quando se deparou com aquela chuva torrencial caindo lá fora? Olhou novamente o seu celular para ver se o aplicativo tinha atualizado e ele só faltou mostrar o dedo do meio para ela.

- Merda! Merda! Merda! – Xingou ela, rangendo os dentes e colocando o capuz do casaco.

Zahra havia criado uma filha forte e não um cubo de açúcar, então ela iria SIM se aventurar em meio as arvores e pessoas quase voando.

Talvez a primeira gota gelada que caiu sobre o seu rosto tenha a desanimado um pouco, mas foi apenas na seis mil quatrocentos e setenta e oito que ela teve vontade de se jogar em meios aos carros!

Quando tudo parecia um caos – mais precisamente quando um carro passou com tudo em uma poça de agua que inevitavelmente acertou Ysaline – foi quando ela ouviu uma buzina ao seu lado. Iria ignorar, mas então ouviu:

- A gatinha gostaria de uma carona?

Merda.

Jason.

Não que ela tivesse muito tempo para pensar. Na verdade, se ela tivesse, iria olhar para Jason, depois olhar para a chuva, depois para ele de novo e só de olhar aquele sorrisinho convencido e irritante no rosto dele saberia que escolher voar pelos ares seria a melhor opção para ela. Sempre foi um sonho voar.

Mas ele não deu opção, pois saiu de dentro do carro com um guarda-chuva preto enorme para que ela não ficasse mais molhada do que já estava e a acompanhando até o assento passageiro.

Dessa vez, Ysaline apenas foi. Precisava admitir que discutir com Jason era estimulante em vários aspectos, mas naquele dia ela só queria chegar em casa e morrer no sofá assistindo filmes de qualidade duvidosa. Nem ao menos parou para cogitar o que seus amigos iriam pensar se vissem aquela cena.

Apenas voltou a pensar quando Jason abriu a porta para ela e se viu sentada naquele carro tão... Jason? Enquanto ele dava a volta para o assento do motorista, Ysaline notou que parecia tudo organizado, como se tivesse acabado de sair da loja. Se não estivessem sem aqueles plásticos, poderia jurar que aquele carro era novinho em folha.

Aliás, ficou genuinamente surpresa ao ver que Jason nem se importou que ela molhasse o banco de seu carro inteiro. Aquilo era bem amável até.

Jason entrou no carro e a olhou de um modo que Ysaline teve certeza que ele estava se divertindo muito com aquela situação. Talvez houvesse bondade nele, mas também não descartaria a teoria de que Jason só a ajudou para poder falar sobre aquilo pelo resto da vida.

- Obrigada – Ysaline disse rápido antes que ele a fizesse implorar. – Se você quiser pode me deixar no ponto de ônibus mais próximo.

- Aham, claro. Como se eu fosse deixar você ficar mais encharcada do que já está – Jason disse com ironia enquanto colocava o cinto. – Onde você mora?

Ysaline estava se sentindo vencida pelo cansaço, então apenas deu o endereço e Jason logo seguiu o caminho. Permaneceram em silencio por uns dois minutos, estes que foram recheados de olhadinhas discretas, tanto dele quanto dela. Ysaline tentou não pensar muito sobre isso, apenas observando a paisagem.

- Dia difícil no País das Maravilhas? – Ouviu ele perguntar. Jason continuava olhando a estrada. Tinham andado pouco devido ao transito lento.

- Não – mentiu ela e Jason virou-se para ela antes de voltar sua atenção de novo para o transito.

- Que bom. É um alívio para mim porque quando vi você ali na calçada, toda molhadinha – Ysaline revirou os olhos com a escolha de palavras dele – a primeira coisa que pensei “será que nenhum dos ursinhos carinhosos se ofereceu para dar uma carona?

- Ofereceram – mais uma mentira. Não que fosse um crime o que tivesse acontecido, mas Ysaline não queria deixar Jason sabendo dos detalhes. Ainda mais quando ele poderia “gentilmente” compartilhar essa informação com seus colegas em algum momento importante de trabalho. – Eu que não aceitei.

Jason fingiu-se convencido.

- É, você tem cara de que não gosta de pedir ajuda mesmo – disse ele. – A menos, é claro, que seja a minha ajuda. Afinal, o que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando, gatinha?

- Ficar quieto, infelizmente – respondeu ela com um sorriso debochado no rosto, o que fez Jason rir. – E eu não pedi sua ajuda. Você que quis dar uma de Príncipe Encantado.

Jason franziu o nariz. Príncipe Encantado não é exatamente como ele se descreveria, mas não ia deixar Ysaline caminhando na chuva.

- Você fala como se eu tivesse feito algo ruim.

- Não fez, mas não posso deixar de pensar que você ainda vai cobrar esse favor.

Jason riu.

- Que nem eu cobrei aquele outro favor?

Ysaline olhou para ele e notou que ele também a olhava antes de voltar sua atenção de novo ao trânsito. Realmente, Jason tinha a ajudado anteriormente em um de seus projetos na Devenementiel. Olhando para trás, Ysaline percebeu que ele nunca havia cobrado o favor dela. Tocou no assunto algumas vezes, mas cobrar mesmo nada.

- Aliás, por que você não me cobrou? – Perguntou Ysaline e ela viu o outro balançar a cabeça.

- É bem simples – respondeu ele. – Não cobrei porque simplesmente não precisei de você. Quer dizer, se a senhorita quisesse passar para o meu lado, teria muita serventia uma espiã. Mas tenho outros modos de destruir a Devenementiel, então...

Jason deu de ombros. Por estar concentrado dirigindo, ele não viu quando Ysaline revirou os olhos, furiosa. De fato, era bem óbvio a “serventia” dela. Estava tão brava que nem percebeu que sua reação estava um tantinho desproporcional para quem não estava nem aí para o CEO.

- As pessoas são só isso para você? Meras pecinhas que você move como um jogo de xadrez?

- Claro que não, gatinha. Minha vida está mais pra um Banco Imobiliário. E não vai demorar muito para o Devon querer me vender a Devenementiel – Jason estava brincando. Em partes, claro. Ele realmente fantasiava muito com a ideia de destruir a Devenementiel. Mas naquele momento ele só estava provocando a Ysaline por um motivo bem simples também: Jason amava vê-la toda irritadinha. E amava ainda mais quando ela tentava não parecer irritada, como era o caso.

- Pois saiba que o Banco Imobiliário foi feito pra dar errado! Por isso nunca termina – Ysaline cruzou os braços.

- Não sabia que era expert em jogos de tabuleiro – Jason provocou. – Nem fiel a Devenementiel.

- E a quem eu deveria ser fiel, Jason? Você?

- Seria mais inteligente vir para o lado que está ganhando.

- Não sei se é bem assim – foi a vez da Ysaline provocar. – Quando eu comecei a trabalhar na Devenementiel, uma das coisas que mais me surpreendeu foi como o Devon é confiante.

Jason engoliu em seco.

- Confiante, não é?

- Sim. Ele não precisa fazer várias propostas para o “lado inimigo” para que as pessoas continuem do lado dele. Nem ao menos ficar ressaltando toda hora como a Devenementiel é uma excelente empresa. Se ele sabe, então é.

- Se você diz, gatinha, então deve ser mesmo – Jason disse. Ysaline sorriu ao ver que ele parecia incomodado. – Só te desejo boa sorte quando o grande chefe quiser te pagar com balinhas. Ou com o poder da amizade. Aliás, a amizade de vocês deve ser tão forte que olha só quem está te levando para casa.

- Você é tão infantil... Quer saber? Para o carro. Eu vou andando na chuva mesmo.

- Não seja tonta, Ysaline.

- Tonta por não aguentar dividir o mesmo espaço que você?

- Falta menos de um quarteirão.

- Pois eu não divido nem mais um minuto com você, Jason. Pare o carro agora mesmo se não eu vou pular em movimento e você vai pagar a minha a conta do hospital.

- Como você é teimosa! – Jason estacionou o carro em uma rua. Ysaline ia sair andando, porém quando ia abrir a porta do carro, Jason puxou seu braço rapidamente para que ela não fosse (pausa dramática) atropelada por um carro que corria na mais alta velocidade, apesar da rua em si estar deserta. Devido à chuva caindo torrencialmente, poucos carros circulavam na região.

Ysaline olhou para Jason com os olhos arregalados. Jason fazia o mesmo. Naquele momento, mesmo com as roupas todas molhadas pela chuva, Ysaline sentiu seu corpo arder em fogo.

Talvez fosse pelo olhar de preocupação nos olhos de Jason ou o modo como as mechas brancas dele caiam bagunçadas no seu rosto. Talvez fosse por Ysaline quase ter realmente ido para o hospital ou o modo como a blusa social dela estava colada ao corpo devido a água da chuva. Talvez fosse porque os dois quisessem isso desde o momento em que viram.

O fato é que Jason puxou a nuca de Ysaline e a beijou.

Assim que tiveram percepção do que estava acontecendo se separaram.

Suas respirações ofegantes.

Os lábios vermelhos de Jason e os dela com o batom borrado.

Os olhares transbordando desejo.

- Foda-se – Ysaline disse antes de voltarem a se beijar violentamente.

Jason desafivelou o cinto, Ysaline pulou para o colo dele, aproveitando a deixa para capturar seus lábios novamente. Nem ao menos pensava no que estava fazendo, apenas precisava dele ali e agora.

O CEO pouco se importou das roupas dela estarem molhando seu terno caríssimo. Assim que sentou em cima dele, pôde sentir o volume nas calças de Jason, que sorriu diabolicamente quando Ysaline fez movimentos de vai e vem, provocando o homem descaradamente. Jason não deixou barato, capturando os lábios dela novamente com a mão em sua nuca.

Ysaline gemeu entre o beijo e agarrou o cabelo dele a ponto de doer, mas aquilo só deixava Jason mais embriagado de luxúria. Sua única “frustração” naquele momento era não estarem em sua cama. Ysaline odiava admitir – ela realmente ODIAVA admitir – que amava como os braços dele, apesar de não serem tão musculosos assim, encaixavam-se perfeitamente ao redor dela.

Ainda cego pelo desejo, Jason puxou a blusa dela para fora de sua saia, querendo tirar a roupa dela o mais rápido possível. Começou a desabotoar os botões da camisa social dela, revelando seu sutiã meia taça, e continuando a provoca-la com beijos e lambidas em torno da parte exposta de seus seios. Ysaline interrompeu o beijo para tirar a gravata dele, a qual foi jogada no banco de trás do carro.

Jason aproveitou para olhar para o corpo dela, o modo como ela tinha seus cabelos bagunçados caindo por todo o seu rosto, os lábios entreabertos tentando recuperar o folego. O olhar dele era um misto de fascínio e desejo que só aumentavam a cada troca de olhares entre os dois. Dias incontáveis de tensão sexual finalmente sendo quebradas.

Após conseguir tirar todos os botões da camisa dele, as mãos de Ysaline estavam no abdômen de Jason, sentindo os músculos, e em um instante os lábios dele estavam nos dela novamente.

Jason decidiu tomar controle da situação. Suas mãos subiram a saia dela e praticamente arrancaram a calcinha de Ysaline, a qual fez companhia a sua gravata no banco de trás, enquanto ela arrancava seu cinto e abaixava sua calca junto com sua boxer, finalmente liberando sua ereção.

Se havia alguma dúvida ou rivalidade besta por causa de empresas, nenhum dos dois conseguiam dar meia foda para isso. O que Jason e Ysaline sabiam é que estavam sedentos um pelo outro e nada mais importava no mundo que caía lá fora.

A chuva combinava com os dois, pois era intensa e violenta. O som dela junto ao gemido de Ysaline quando ele entrou nela também ficaria em seus pensamentos naquela noite.

Os lábios deles apenas se separaram para gemer com a fricção. Jason não perdeu tempo e continuou a se enterrar dentro dela. Várias e várias e várias vezes. O sorriso dele alargou-se ao perceber o quão molhada Ysaline estava para ele. Se ele havia pensando naquilo? Com certeza, sim. Puta que pariu, ele havia SONHADO com isso até. Não conseguia tirar aquela mulher da cabeça. Ainda assim, nenhum sonho poderia se comparar aquilo.

Ysaline nunca tinha chegado ao ápice tão rápido em sua vida e os olhares de Jason apenas a assistindo não ajudavam de forma alguma, porque apesar da competição ficar lá fora, os sorrisinhos dele ainda a estimulavam a vencer. A querer mais. Por isso, começou a subir e descer em seu pau com mais rapidez e mais forca. Quando Jason gemeu rouco foi a vez dela de sorrir diabolicamente.

- Puta merda – Ysaline soltou assim que gozou. Ainda estava sentindo seu corpo vertiginoso quando Jason gozou dentro dela.

Os dois se entreolharam com as respirações ofegantes. Quando Jason percebeu que o semblante de Ysaline estava demonstrando as preocupações do que tinham acabado de fazer, ele a beijou. Um beijo diferente dos que tinham trocado anteriormente, mas ainda com luxúria. Não sabia o porquê de ter feito aquilo, mas havia funcionado por alguns segundos.

- Isso foi...

- Nem um por cento do que eu posso fazer por você – completou Jason e Ysaline tentou segurar o sorriso em seu rosto. Apesar de preocupada, não poderia negar os efeitos que seu corpo estava sentindo. Começou a rir de nervoso.

- Deus, eu vou perder meu emprego! – Disse ela, colocando as duas mãos em seu rosto.

- Para o seu azar, não vai – Debochou ele, fazendo com que Ysaline olhasse para ele. – Mas se a sua sorte virar e o Devon realmente te demitir só porque teve um sexo maravilhoso no carro da Goldreamz, você pode vir trabalhar comigo.

- O carro é seu! E--- não! Óbvio que não!

- Eu não estou brincando!

- Isso é o que mais me assusta.

- Será que você não percebeu os benefícios que é trabalhar comig-

- Dá pra calar a boca, por favor?

Jason revirou os olhos.

- Gatinha, relaxa. Eles nunca vão saber. É só a gente não contar – Jason a tranquilizou. – Mas... não vou negar que gostaria que acontecesse de novo.

Ysaline soltou um suspiro pesado.

- Eu sei que você quer também.

E ela queria. Muito.

- Se, e eu disse se, voltar a acontecer, ninguém pode saber. Precisamos ser discretos e isso não pode afetar em nada a nossa vida profissional.

- Meus lábios estão selados – Jason disse, sedutor. Ysaline sorriu e os dois se beijaram novamente.

E assim começava o caso de Jason Mendal e Ysaline Dolga.

A verdade era que nenhuma circunstância era determinante. Poderia ter feito o dia mais lindo de sol, Ysaline poderia ter comprado um carro, poderia ter levado seu guarda-chuva, não ter discutido com a Amanda, não ser teimosa e até ter saído mais cedo. Nada disso importava, pois o que determinava, de fato, era o desejo latente de um pelo outro.

Chapter 3: Entrega especial

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O festival de verão era tradição de Amoris. E como toda boa tradição, ela precisava se renovar de tempos em tempos de uma forma especial para não ficar cansativo e ainda assim manter a magia. Diferente dos outros anos, o prefeito não havia aberto processo licitatório para a contratação de empresas de eventos para o festival, o que foi um belo balde de água na Devenementiel, a qual estava à procura de referências há uns bons meses.

Ainda assim, Devon não deixou se abater. Isso porque a festa da cidade havia deixado de ser a mais badalada fazia pelo menos uns cinco anos. O público que frequentava o festival agora tinha seus filhos e, apesar dos esforços da prefeitura em se reinventar e contratar artistas, dificilmente eles conseguiam trazer artistas famosos, justamente porque não valia tanto a pena em termos de logística e conflitos de agenda.

No entanto, após a abertura de novas casas de shows e centro de convenções na cidade nos últimos anos, era dada oportunidade para alternativas diferentes. Ainda mais quando os artistas viviam em after-parties e era ali que estava a grande mina de ouro.

O único problema era o mesmo de sempre: a Goldreamz estava novamente rondando feito um urubu em cima de carniça. Mas, por incrível que pareça, tudo estava muito quieto. Estranhamente quieto.

Jason e ela vinham se encontrando durante aquele mês inteiro. Até mesmo tinha jantado com ele, assistido a uns filmes ruins que estavam pipocando nos streamings, e conversado bastante. Ainda assim, seguindo a regra que ela mesmo havia estabelecido desde o início, os dois nem tocavam no assunto de trabalho. No máximo, Jason soltava algumas piadinhas infames e logo os dois estavam se atracando na cama. Era bem simples se você olhar por outro ângulo.

Mas também era estranho.

Estranho como os dois estavam dividindo esse nível de intimidade e ao mesmo tempo tinha uma parte da vida dele que ela nem ao menos sabia do que estava acontecendo.

Havia dias em que os dois estavam juntos, Jason olhando para ela com olhos dignos de qualquer galã em filmes de romance, beijando cada parte de seu corpo, e outros que eles tinham que se estraçalhar para disputar clientes. Dava uma apimentada? Com certeza.

Mas era estranho ser tão intima e quase como uma desconhecida.

E sabe o que era mais engraçado? É que não era Jason que estava fazendo isso.

De qualquer forma, naquela manhã Ysaline estava pensativa e paranoica. Jason e ela haviam se encontrado no final de semana, jantado comida japonesa, assistido Hit Man. Tudo normal, mas havia algo no olhar dele que chamou a atenção dela. Sempre cafajeste, mas dessa vez com um quê de estar aprontando algo...

Ysaline até mesmo conseguia imaginar Jason girando em sua cadeira de couro, rindo enquanto tomava seu whisky caro, a gravata frouxa devido a um ótimo dia de negócio, a camisa entre aberta-

- Ysaline? – A voz de Elenda se fez presente e espantou os pensamentos totalmente profissionais e competitivos que ela estava tendo a respeito de Jason. – Eita, você tá no mundo da Lua mesmo!

- Mil desculpas – pediu Ysaline, ajeitando-se na cadeira. Elenda deu risada.

- Relaxa, era mais fofoca mesmo.

- Ora, e que assunto pode ser mais importante que isso? – Disse ela e as duas voltaram a dar risada. – Qual é a fofoca?

- Pelo que eu ouvi é sobre o Castiel – Thomas chegou com um copo de café em mãos. Ao ver o olhar que Elenda fez para ele, o rapaz deu de ombros. – O quê? Você não é a mais discreta quando está animada.

- Isso é uma meia verdade! É sobre trabalho também – Elenda defendeu-se, mas logo era apenas sorrisos e risadinhas. – Você conhece a Crowstorm, não é?

- Claro! Eu vivo nesse planeta – Ysaline disse e Elenda riu.

- E você sabe que eu sou a maior fã do Castiel desde sempre!

- Suspeitei em alguns momentos – dessa vez foi Thomas quem riu, sentando-se com a cadeira invertida. Foi então que Ysaline entendeu. – Espera! A gente conseguiu o contrato com a Crowstorm?

- SIM! – Elenda quase gritou de alegria. – O Devon me contou ontem! Mas eu tinha que falar com alguém!

- Ué, ele pediu para você guardar segredo?

- Provavelmente, ele disse pra ela justamente para ela contar para todo mundo – Thomas disse e Elenda deu uma cotovelada de leve no rapaz, que riu. – Ainda não sei o que você vê nele. Ele é legal, mas é só um cara como qualquer outro.

- Você só diz isso porque é um sortudo e teve a chance de conhecer ele! – Elenda revirou os olhos. – E não é o que eu vejo nele. É o que eu ouco dele! Você já ouviu Lips of Ashes?

- Já e não é muito meu estilo.

- E qual é o seu estilo, Thomas?

- Linkin Park.

- Justo – Ysaline sorriu e suspirou. Uma parte dela estava muito feliz pelo contrato e outra estava se sentindo meio mal. Não sabia explicar, mas parecia que não teve muita participação nessa grande conquista da equipe. Ela nem mesmo sabia que Castiel vinha para Amoris nessa época do ano, ainda que fosse tão óbvio, afinal, a esposa dele literalmente morava aqui. Será que ela estava tão avoada assim? Se sim, tinha que colocar a cabeça no lugar imediatamente.

Em meio ao seu devaneio, Elenda continuava falando animadamente sobre a Crowstorm, praticamente discutindo todo o álbum com Thomas.

- É isso! Eu finalmente vou conseguir o autografo dele!

Enquanto Elenda batia palminhas, animada como se o seu futuro estivesse já na sua frente, Devon, Roy e Amanda saíram da sala do chefe para se juntar aos demais. Com semblantes bem contrastantes ao de Elenda.

- Que caras são essas? – Brune também chegou para fazer parte da roda.

- Quem mais você acha?

- Jason, é claro – Thomas disse sem emoção nenhuma. – O que ele fez dessa vez?

- O que ele sempre faz – Amanda suspirou. – Víbora venenosa...

- Sem nenhuma novidade nisso – Roy cruzou os braços. Ysaline sempre se surpreendia como os músculos do colega pareciam maiores a cada vez que notava. 

- Com certeza não... – Devon limpava os seus óculos.

Ysaline ia ouvindo todos os elogios e atributos dados ao seu não querido affair, tentando ao máximo não abrir aquele sorriso nervoso típico de criança quando fazia alguma merda. No caso, ela estava fazendo-

- É, ele é... tenebroso – xingou sem muita convicção em sua voz, mas os outros estavam tão imersos em seu desprezo que nem notaram. Talvez Thomas, que olhou para Ysaline de uma forma indecifrável. Nervosa, ela então pigarreou. – Mas, afinal, o que ele de fato fez dessa vez?

- Bom... Como vocês sabem a prefeitura fechou o contrato com a Goldreamz para realizar o evento na festa da cidade – disse Devon contornando e ficando encostado a mesa. – E a banda escolhida realmente foi a Crowstorm.

Ysaline ouviu Elenda sufocar um gritinho de alegria.

- Ok... mas a festa da cidade nem é mais tão relevante assim, não é? – Ysaline apenas repetiu o que haviam discutido alguns meses atrás. – Eles podem ter o evento da cidade, mas a after party é onde moram os lucros.

- Sim, mas aí que está. O nosso contrato com a banda iria ser assinado hoje à noite, porque era o horário em que o Castiel havia estipulado que já estaria aqui na cidade. Acontece que semana passada a prefeitura entrou em contato com ele para fazer todos os acertos legais, como uma clausula de exclusividade pessoal.

Ysaline uniu as sobrancelhas.

- E em conjunto a essa clausula estava também uma clausula de exclusividade indireta. Tanto de patrocínio quanto de participação – Devon disse e entregou para ela uma cópia do contrato, com as partes mencionas grifadas em amarelo.

Ysaline leu sentindo suas bochechas ficarem vermelhas. Estava possessa.

- Filho da puta – murmurou ela, enquanto lia. – “A Crowstorm não poderá se apresentar, fazer aparições ou participar de qualquer outro evento organizado por terceiros que não a contratante Goldreamz durante o período mencionado acima, salvo mediante aprovação prévia por escrito da Goldreamz.” Espera! Que período é esse?

- 72 horas – Roy respondeu. – Que casa justamente com a data do próximo show da Crowstorm.

- Que filho da puta! – Ysaline soltou e logo pediu desculpas. Devon apenas deu de ombros e sorriu cansado.

- E não é só isso – Amanda foi até ela e virou a página, mostrando outro bloco grifado em amarelo. Dessa vez aquele estava tão grifado que a página estava quase rasgada. – Ele também roubou a maioria dos nossos patrocinadores. Quer dizer, ele vai dizer que pegou emprestado...

- Eu não acredito nisso – Ysaline disse passando a mão no rosto.

- Por que não? – Thomas perguntou. – Se formos analisar tudo o que ele já fez até mesmo com outras empresas, diria até mesmo que está sendo gentil.

- Sou obrigado a concordar – Devon riu.

- Fico pensando até o porquê ele está sendo tão generoso em colocar um prazo de 72 horas e não um ano todo...

- Entrega para Ysaline Dolga.

- Aqui – estava tão imersa no seu ódio por Jason que nem ao menos viu o entregador entrar com o maior buque de flores que já havia visto em toda a sua vida. Só percebeu quando todos olharam para ele com os olhos arregalados. E, claro, quando foi colocado bem na frente de Ysaline, cobrindo o seu rosto com aquele risinho de “puta que pariu” agradável que tinha no rosto.

- Arrasando corações. Hein, Ysa? – Roy brincou.

- Eu nunca entendi essa pira de dar flor que vai morrer para representar que está gostando de alguém – Thomas comentou.

- Uau! – Elenda surgiu ao lado de Ysaline. – Alguém está apaixonado por você!

Ysaline riu de nervoso. Por que ninguém voltava a falar da grande vigarice que Jason havia feito?

- O quê? – A voz dela saiu tão estridente que até mesmo deu um pulinho para trás. Ysaline limpou a garganta, tentando assumir novamente o ar natural de sempre. E um pouco descolado porque a imagem que ela queria passar era de uma mulher independente arrebatadora de corações e que nada importava MENOS pra ela do que um homem apaixonado. – Ah, claro que não. O Thomas está certo, flores não significam nada. Os homens só mandam quando sabem que pisaram na bola.

- E esse pretendente misterioso pisou na bola com você?

- Você não faz ideia!

- Poxa, mas você também não conta nada pra gente! O que ele fez de tão mal para você?

- Pra mim? – Ysaline novamente se viu rindo de nervoso. – Olha, pra mim nada, mas...

Enquanto observava Elenda esperando ansiosamente pela resposta dela, Ysaline viu que além do buque de flores, havia uma caixa perdida em meio ao embrulho. Os olhos de Ysaline se arregalaram tanto que foi inevitável Elenda não perceber também.

- Oh, Meu Deus! Ele te comprou um anel?

- Anel? Isso aí está mais para uma pulseira – Brune comentou, chegando perto dela também. – Olha o tamanho da caixa!

- Tem razão! Ela é grandinha mesmo para um anel... Abre aí, Ysa!

- Meninas, deixem a Ysa! – Amanda as repreendeu e Ysaline ficou tao agradecida que poderia literalmente beijá-la naquele momento. – Temos que focar no que vamos fazer pelo menos em questão aos patrocinadores.

- Isso – Ysaline concordou, pegando as rosas e a caixinha e dirigindo-se a cozinha. – E nós vamos conseguir!

***

Mais calma e sozinha, Ysaline colocou as flores em cima da bancada da cozinha e pegou a caixinha nas mãos. Ficou com medo de abri-la na frente dos outros e fosse algo que desse alguma pista que o “pretendente” dela fosse justamente o mesmo cara que estava fodendo com a empresa deles.

O que você tá fazendo com esse cara, Ysaline?” Pensou ela relembrando o contrato e pensando no que Thomas havia dito. Talvez fosse apenas a culpa a pegando de jeito tal qual o Coração Delator, mas ela quase conseguia sentir julgamento na voz do colega, como se ele de fato soubesse de tudo. Sobre ela, sobre o Jason, sobre a porra da videoconferência!

Como ela havia deixado tudo isso acontecer?!

Ainda assim... ela olhou as flores e então a voz de Elenda veio à tona. Alguém está apaixonado por você! Ysaline revirou os olhos. Claramente não era o caso. Aparentemente, se tinha alguém que conseguia separar as coisas era Jason Mendal. Não soube o porquê de seu coração ter pesado ao constatar isso, afinal, havia sido uma regra dela, não?

- Foda-se – disse e resolveu abrir a caixinha. Apesar de ter vontade de ir até a Goldreamz e jogar tanto o buque de flores quanto a caixinha em Jason, Ysaline estava muito curiosa.

Realmente era meio grande para um anel.

Jason não tinha cara que iria lhe dar uma pulseira...

De qualquer forma, Ysaline pensou em tudo.

Exceto no que viu quando abriu a caixa.

E novamente teve vontade de beijar Amanda por interromper Elenda e Brune.

Porque com certeza ela iria ficar muito sem graça se elas abrissem e vissem a porra de um vibrador de calcinha.

- Que filho da-

Não conseguiu nem completar de raiva observando aquilo. “Jason Mendal, seu canalha, safado, tarado...” ela acrescentava algum sinônimo a cada segundo. Porém, uma coisa estava chamando a sua atenção. Já havia visto aquele sex toy quando foi numa loja assim com suas amigas. Faltava o controle remoto.

Chapter 4: Mesa do escritório

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Durante seus poucos anos de carreira, uma das perguntas que Jason mais ouvia era “como você consegue dormir à noite?” O que, caso você chegasse a perguntar a ele, era um completo exagero. Jason era um completo filho da puta? É óbvio que sim, mas um filho da puta que jogava dentro das regras. Mas voltando a primeira pergunta, Jason costumava dormir ao som de Songbird do Kenny G, a qual tocava em seu escritório naquela tarde.

Não estava dormindo, é claro, CEO’s dificilmente dormiam. No entanto, já tinha adiantado todo o trabalho que deveria ter sido feito, ligado para todos os investidores, batido um bom e belo papo com seu futuro cliente e estava aguardando a próxima reunião marcada daqui há uma meia hora, então estava apenas descansando os olhos, deixando que a música o embalasse até atingir a paz interior.

E ele teria facilmente atingido se não fosse pela barulheira que surgiu fora de seu escritório. Aquilo não nada comum na Goldreamz, por isso levantou-se num susto e correu até a sua porta. Já na sacada, teve a visão privilegiada de uma Ysaline completamente furiosa de bracos cruzados e, provavelmente, de saco cheio de Spencer, o qual havia colocado a sua frente e estava argumentando do porquê ela não poderia entrar na sala de Jason.

Danica também estava lá, mas, diferente do colega, só observava.

- É um assunto de muito interesse dele, Spencer – Ysaline revirou os olhos. Era quase inútil tentar argumentar contra o maior puxa-saco, mas ela não ia sair dali sem conversar com Jason. Tinha muitas palavras agradáveis para falar. – De verdade, eu acho que ele vai ficar muito irritado se você não me deixar falar com ele.

- Senhorita Dolga, eu já disse! O Sr. Mendal não quer ser incomodado e não porque a senhorita chegou aqui que ele vai, entendeu? Ou devo ser mais claro? – Spencer também cruzou os braços. Só pela resposta dele, Ysaline arregalou os olhos de uma forma que Danica soube na hora que deveria intervir.

- Opa, opa, licencinha – Danica entrou na frente do colega dando uma risadinha. – Ysa, o que o meu querido colega de trabalho está querendo dizer é que o Jason está em reunião no momento, mas eu tenho que certeza que assim que ele sair, vai-

- Ficar muito feliz em recebe-la – assim que Jason disse, todos olharam para cima. Apenas pelo olhar que Ysaline fez para ele, Jason teve a plena certeza de que ela havia recebido a notícia sobre o contrato da Crowstorm. E, claro, as flores junto com seu presentinho especial. – Por aqui, Gatinha.

- Senhor, eu disse a ela...

- Depois, Spencer, depois – Jason disse e Ysaline começou a subir as escadas.

Enquanto os dois entravam no escritório, Spencer balançava a cabeça repetidas vezes. Inconformado como sua autoridade havia sido driblada justamente por alguém da Devenementiel. O que estava acontecendo com aquela empresa?

- O que é isso agora? Estamos contratando todos da Devenementiel?

Danica arqueou uma das sobrancelhas para ele.

- Sem ofensas.

- Não me ofendi – Danica riu. – Mas você é muito ingênuo mesmo.

- Como assim? – Spencer perguntou enquanto acompanhava Danica de volta para as suas salas e devidos afazeres.

- Quando você crescer, eu te conto, Spence.

***

Assim que Jason fechou a porta atrás de si, viu Ysaline parada apenas olhando seu escritório. Songbird ainda tocava e Jason umedeceu os lábios pensando naquela música o embalar a outro cenário.

Jason aproximou-se dela, abraçando-a por trás e distribuindo beijos pela nuca. Ysaline revirou os olhos, não sabia se de irritação ou de prazer, visto que aquele era justamente seu ponto fraco.

- Ficou tão animada com o meu presente que veio me agradecer pessoalmente? – Sussurrou Jason no ouvido dela, continuando com os beijos. Infelizmente para ele, aquelas palavras foram o gatilho que Ysaline precisava para se lembrar do porquê estava ali. Logo, ela se desvencilhou do abraço dele e foi até a caixa de som para desligar aquela música. – Ok, vejo que não gostou do meu presente.

- Já, já falaremos sobre a sua gracinha com as flores! – Ysaline exclamou. Com o completo silencio da sala, voltou a ficar na frente dele. Jason suspirou fundo, puxando a cadeira em frente à mesa dele para que ela sentar. Ysaline sentou-se a contragosto e Jason fez o mesmo na sua grande cadeira de couro.

Estando frente a frente, Jason abriu um sorriso irônico e disse:

- Devo imaginar que a sua visita inusitada não seja pelos mesmos motivos que eu gostaria, certo?

- Com certeza não – Ysaline cruzou os braços. Jason tentou não demonstrar o quanto achava bonitinho ela agir toda marrenta. – Não estou aqui a prazeres. E, sim, a negócios.

- É uma pena – Jason disse, porém uma luz pareceu acender em suas ideias. Ysaline arqueou uma das sobrancelhas. - A menos, é claro, que tenha considerado a minha proposta de emprego. Se for esse o caso, tenho até mesmo champanhe no frigobar.

- Não, Jason! - Ysaline bufou. – Pare de bancar o engraçadinho! Você sabe muito bem o que fez!

- Claro que sei – Jason deu de ombros. – Fiz o meu trabalho.

Ah, não! Ele não disse isso! Ysaline pensou, desacreditada.

- Você é inacreditável! – Ela estava muito puta e não adiantou nada quando Jason começou a rir. Porra louca do caralho, pensou ela. – Sério, Jason? 72 horas?

- Bom, eu achei que você fosse ficar chateada se eu estipulasse o ano inteiro. Viu como eu sempre estou pensando em você?

Não soube qual força a segurou naquele momento para não voar para cima dele, mas fato é que Ysaline apenas colocou as mãos em seu rosto.

- É impossível conversar com você, sabia? – A fala dela saiu abafada e Jason deu risada. Sentiu a voz dele ficando mais próxima e quando retirou as mãos do rosto, viu que ele havia saído da cadeira e estava agora encostado a mesa, perto dela.

- Ah, gatinha! Não faz assim! O contrato foi feito dentro dos parâmetros legais, eu não obriguei ninguém a assinar nada. Todos os membros da banda, inclusive o queridão do momento, Castiel, o qual sou secretamente fã, assinaram. Aliados de seus advogados. Se houve algum erro, com certeza não foi com a equipe jurídica da Goldreamz.

- Mas o contrato era nosso, Jason!

- Eu sei, querida. E eu sinto muito por isso. Uma pena que o chefe de vocês seja tão lento em fazer essas coisas.

- Jason...

Jason revirou os olhos.

- Ysaline. Ok, falando sério agora – ele sentou-se na cadeira ao lado. - Você mesmo disse que a nossa relação não deveria afetar nosso lado profissional. Foi você quem disse isso e eu concordei.

- Tudo bem, Jason. Mas concorda comigo que não dá para a gente continuar com o que nós temos se você vive me fodendo-

- Achei que fosse o motivo pelo-

- Sem trocadilhos! Eu falo sério!

Ysaline suspirou fundo e Jason ficou quieto. Pelo menos por alguns segundos.

- Gatinha, o que eu estou querendo dizer é que nós dois temos objetivos muito claros. Por acaso, começamos a nos encontrar dessa forma... clandestina. Que eu devo lembrar que você pediu desde o inicio para que fosse assim.

- Eu amo como você fala como se fosse fazer diferente – riu ela. Jason comprimiu os lábios.

Eram tantas coisas não ditas. Nenhum dos dois sabia quem iria explodir primeiro. De qualquer forma, enquanto Jason preferia o silencio, Ysaline continuava falando:

- Isso significa que você ainda quer “destruir” a Devenementiel? – Perguntou ela, ressaltando no tom de sua voz o quão ridículo aquilo era. Jason iria começar a argumentar sobre o mercado de trabalho, porém Ysaline continuou: - Mesmo sabendo que eu estou lá?

Ysaline ficou esperando a resposta dele, mas surpreendeu-se ao notar que Jason ficou em silêncio. O modo como ele olhou para ela naquele momento foi curioso. Era quase como se ele tivesse esperança e decepção ao mesmo tempo. Quase que um olhar bem paradoxal que ela nem ao menos conseguia entender o porquê.

Era bem simples: Jason estava apaixonado. Não queria estar, mas não pode evitar. Não quando nas últimas semanas os dois haviam se tornando tão íntimos. Mas, como Ysaline fez questão de ressaltar várias vezes, os dois não passavam de um caso. Normalmente, era um alívio para ele ouvir aquela frase, porque ele mesmo não queria se envolver com ninguém. Mas talvez o carma finalmente tinha chegado para ele, porque tudo o que sentia quando ela dizia isso era pura agonia.

“Mesmo sabendo que eu estou lá?” Aquela pergunta o atingiu em cheio. Seu objetivo não era destruir Ysaline. Longe disso, se fosse a vontade dela, ele a puxaria para Goldreamz no mesmo instante. Mas sabia que não era assim que as coisas funcionavam.

Suas ações não faziam muito sentido, mas pensou que se continuasse a agir como sempre agiu com a Devenementiel, talvez ele se esquecesse do que estava sentindo. Apaixonado? Eu? Nem fodendo! Sem falar que, dessa forma, ele também estaria cumprindo o acordo deles. Não importa o quão agonizante fosse.

Os motivos daquele olhar eram bem óbvios, porém não para Ysaline. De qualquer forma, como ela não conseguiu ler os pensamentos de Jason naquele momento, notou como ela mesmo não estava falando coisa com coisa.

Afinal, o que ela estava pretendendo indo até o escritório de Jason? Implorar para que ele, por favorzinho, abrisse mão do contrato? Ainda mais na situação dos dois, aquilo era ridículo e até mesmo humilhante! Infelizmente, ela tinha que dar o braço a torcer. Jason estava seguindo o acordo dos dois. Então, ela deveria fazer o mesmo.

- Ysaline, eu-

- Esquece – disse ela, abanando uma das mãos. – Você tá certo.

Foi a vez de Jason arquear uma das sobrancelhas. Do tipo, estou?

- Quer dizer, não totalmente certo. Você ainda é um belo de um filho da puta por ter armado essa pra gente. Mas dá para resolver.

- Você acha mesmo que eu sou belo, é?

Ysaline revirou os olhos. Por que ela ainda saia com ele?

- Negócios, lembra? Foca!

- Ok, ok. Você disse resolver?

- Disse.

- Devo te lembrar que o contrato já é nosso, não?

- Não, Jason. Você fez questão de esfregar isso na nossa cara.

Jason tentou não rir. Sabia como ela estava brava com ele e não queria que Ysaline usasse suas garrinhas para arruinar o rostinho dele. Mesmo a ideia em si não fosse pouco excitante...

- O que você propõe, então? – Perguntou ele, apoiando o braço na mesa.

- Uma reunião na Devenementiel.

Ao ouvir aquilo, foi impossível não rir. Enquanto Jason gargalhava feito uma hiena, Ysaline olhava para o teto, como se pedisse alguma benção divina para não ser condenada por homicídio triplamente qualificado.

- Eu falo sério – Ysaline suspirou.

- Impossível você estar falando sério! Para fazer o quê? Trocar pulseirinhas da amizade? Falar sobre os nossos sentimentos? Escrever uma redação com o tema “minhas férias”? Não, nem pensar! Sei como vocês tem tempo livre, mas eu não. Sou um homem muito ocupado.

- Mesmo? – Ysaline sorriu irônica. – Engraçado que você vive correndo atrás de mim feito um cachorrinho. Isso me parece bem desocupado da sua parte.

- Para você ver como eu sou milagroso e eficiente – e ridiculamente apaixonado por você, completou Jason em pensamento.

- Mais uma vez, por que eu ainda saio com você?

- Quer que te relembre?

- Não. Se você não concordou com a reunião, então não me restam outras opções.  – Ysaline levantou-se e Jason fez o mesmo. – Mantenha o contrato e continue com seus planos. O contrato vai ser nosso de outro jeito.

Jason olhou para ela de forma bem cafajeste.

- Não dessa forma.

- Justo, eu acho. Nós dois sabemos que você iria ganhar.

Ysaline revirou os olhos.

- Então, que de outra forma a senhorita pretende ganhar?

Foi a primeira vez naquele dia que Ysaline teve a iniciativa de chegar perto dele. Ela pareceu tão determinada que Jason se viu novamente encostando na mesa. Os dois se entreolharam de forma intensa, as respirações misturando-se uma a outra, as mãos de Ysaline brincando com a gravata perfeita dele. Seus lábios quase encostando. Jason não era o único que sabia provocar.

- Não vou contar – sussurrou ela. – Mas você pode ter certeza de uma coisa. Dessa vez, eu vou te destruir, Jason Mendal.

Jason sorriu de forma sádica. Como ele queria que ela começasse a fazer isso já.

- Posso te perguntar uma coisa, gatinha?

- Depende.

- Você por acaso está usando o presentinho que eu te dei?

Ysaline não respondeu, apenas sorriu.

- Vou deixar sua imaginação responder essa.

Jason umedeceu os lábios e suas mãos logo buscaram o telefone. Pressionando um botão, Jason disse:

- Spencer, cancele as reuniões.

- O quê? Mas chefe-

E Jason desligou na cara de Spencer.

Chapter 5: Ligações

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Ysaline estava determinada. Depois de sair do escritório de Jason – ou melhor, depois de terem profanado o escritório do CEO da Goldreamz – saindo observada com um olhar para lá de julgador vindo de Spencer (e um beeeem malicioso de Danica, do tipo, “é isso aí, garota!”), Ysaline sentiu que estava na hora de colocar a camisa da empresa da Devenementiel. Quer dizer, não havia melhor hora do que agora, não? Ainda mais depois de ter dado tantos benefícios a concorrência.

Não, aquilo definitivamente NÃO poderia ficar assim. E se tinha uma coisa que Ysaline estava determinada era fazer com que aquele engomadinho (com dons insanos) se arrependesse de ter roubado o contrato da Devenementiel.

Por isso, enquanto caminhava, ligou para Amanda e pediu para que ela enviasse uma cópia do contrato por e-mail para ela. Depois de ter ouvidos muito “eu já revisei o contrato todo” por parte de sua colega de trabalho, Amanda concordou.

Ysaline iria virar a noite se fosse preciso e para isso ela precisava de cafeína. Passou no Cosy Bear e pediu o maior café que havia no cardápio. Apenas um gostinho para adocicar o corpo antes de se intoxicar com litros de café puro. Parte sua estava manifestando para o universo que fosse atendida por Lynn. Para quê? Era uma ótima pergunta, porque Ysaline mesmo não sabia nem o que dizer sem soar uma maluca desesperada.

Boa tarde! Lynn? Nossa, é um grande prazer te conhecer. Seu café já me salvou várias vezes. E essas obras de artes? Fantásticas! Minha mãe é arquiteta e tem um fraco para decoração também, então ela é apaixonada pelos quadros da sua exposição. Uau! Que anel lindo no seu dedo! Casada? Meus parabéns! Quem é o sortudo? NÃO BRINCA! Que coincidência! Você acredita que meu ficante e eu estamos disputando seu namorado para os nossos eventos? Sim, empresas rivais. Como funciona? Na verdade, não funciona muito não. Mas dá uma apimentada. Se é sério? Nossa, não! Deus me livre... Quer dizer...

Por intervenção divina, talvez, foi uma garota loirinha quem atendeu Ysaline no café.

Então, ela apenas pagou e foi tomando seu café até em casa.

Uma parte dela ainda não desconsiderando aquela ideia em si...

***

Amanda, infelizmente, tinha razão. Era difícil admitir isso, mas não era atoa que ela era uma das melhores funcionárias da Devenementiel. Que olho clínico! Além disso, Ysaline tinha que dar parabéns a equipe jurídica que redigiu aquele contrato: os filhos da puta não deixaram NADA passar. Toda vez que ela lia uma clausula e tinha uma ideia para uma brecha, lá estava um outro artigo que impedia a tal brecha.

Nem mesmo aquele prazo ridículo era possível de ser burlado. “A Crowstorm terá a sua disposição o direito exclusivo e atrelado aos serviços, produtos, marcas e logotipos de todos os patrocinadores associados ao evento principal, incluindo, mas não se limitando a, qualquer evento associado, dentro de um raio de 100km do local do evento, por um período de 72 horas antes e 72 horas após o término do evento...

Enquanto Ysaline tentava imaginar que local fora de 100km de distância poderia servir como ideal para uma after party, pensava que Jason poderia esfaqueá-la com a faca da cozinha e nem assim seria uma facada pior do que aquela. Porra, apenas o doce alívio da morte poderia livrá-la daquela grande enrascada.

O pior é que ela sabia que estava batalhando meio que sozinha. Devon e os outros se conformaram com o roubo do contrato como se fosse NADA. Tudo bem que, juridicamente falando, seria essa a melhor opção mesmo, visto a mora dos trâmites legais e outras expressões que ela havia pegado em seu único semestre de Direito.

Enfim, não foi nenhuma surpresa quando acordou pela manhã e viu bolsas enormes debaixo dos olhos. Por que ela estava se esforçando tanto assim?

Ninguém mais parecia se importar...

Ou pelo menos foi essa a impressão que ela teve quando chegou no trabalho e viu seus colegas conversando alegremente, o que seria ótimo, se ela não estivesse com muito mal humor. Quando se viu irritada pela felicidade alheia, pensou que deveria estar saindo demais com Jason – e aquilo SIM era um problema!

Pouco antes do meio-dia, Devon convocou uma reunião com todos, ao que Ysaline deu graças a Deus (desde quando ela havia ficado tão workaholic???)

Não eram apenas notícias ruins como a perda do contrato, ainda que essa questão rondasse uma vez ou outra nos semblantes decepcionados de Devon e Roy. Amanda havia conseguido conversar com algumas outras empresas para servir de patrocínio. Algumas de marcas não tão conhecidas, porém que auxiliariam tanto com a organização quanto o marketing (o último completamente discutível, mas Amanda garantiu que não).

- Acho que isso deve suprir a maior parte das coisas – Devon concluiu.

- É, menos a Crowstorm – Elenda suspirou decepcionada.

- É... – Roy cruzou os braços. – Jason sendo baixo mais uma vez.

- Patético – Amanda revirou os olhos. – Ainda assim, não adianta chorar. Precisamos de um outro artista urgentemente!

- Você tem alguma ideia, Elenda? – Perguntou Devon e a amiga simplesmente deu de ombros. – Vamos lá, você deve conhecer alguém, não?

- Irei fazer minhas pesquisas – Ysaline sinceramente nunca tinha visto a amiga tão desanimada.  – Mas já digo que sem o Castiel, muita gente vai desanimar para esse after party.

- Quanto drama... – Thomas deixou por soltar e Elenda revirou os olhos. – Se soubesse que esse cara iria fazer tanto sucesso, iria ter pedido um autógrafo quando era criança.

Os colegas deram risada.

- Sua irmã não poderia ligar para ele, não? – Elenda perguntou esperançosa.

- Para falar o quê? Paga a multa do contrato?

- Até nisso o Jason é venenoso. Vocês viram o valor da multa? – Roy perguntou.

- A multa é tão alta assim? – Amanda perguntou inocentemente e foi o suficiente para que os funcionários voltassem a cair na gargalhada.

Todos, exceto, Ysaline, que rabiscava algumas coisas em um caderninho. Ainda tinha ficado pensando sobre as inúmeras possibilidades de retomar a banda. E, por mais que ela soubesse que não deveria significar nada visto que seus colegas já estavam pensando em alternativas melhores, ela não conseguia deixar para trás.

Devon foi o único quem percebeu que ela estava um tanto aérea.

- Ysa, você está bem?

Assim que perguntou, Ysaline levantou a cabeça do caderninho e viu que agora todos olhavam para ela.

- Sim – assentiu com a cabeça. – É que eu fiquei a noite toda pensando em como resolver essa situação.

- Mas já está resolvida – Amanda retrucou. Não de uma forma rude, mas Ysaline estava sem paciência demais para saber a diferença.

- Com os patrocinadores, sim. Mas e a banda?

- Nós vamos dar um jeito, Ysa – Devon tentou a confortar com seu olhar doce, quase como se ela fosse uma criança. Estava se sentindo mal de estar odiando todos eles naquele momento. Sentia-se mimada e meio pirracenta. Porra, ela se odiava muito. O que uma noite mal dormida não fazia com as pessoas. E o pior de tudo é que todos estavam notando. Vendo como Ysaline estava se mexendo na cadeira, Devon continuou: - Você disse que passou a noite pensando nisso. Tem alguma ideia que gostaria de compartilhar com a gente?

E foi a primeira vez que ela sorriu no dia.

- Na verdade, eu tenho – disse ela e então o sorriso se tornou um sorriso nervoso. – Mas eu já aviso que vocês não vão gostar nada.

Devon assentiu com a cabeça.

- Teremos a mente aberta.

- Ok – Ysaline levantou-se e pegou algumas pastas que havia trazido de casa, entregando para Devon e alguns rascunhos para os outros colegas com vários números. – A primeira folha acho que vocês podem ignorar porque é em relação aos patrocinadores.

Amanda tentou não esboçar nenhuma reação ao ver o Mercado de Tudo em um dos tópicos, mas sua língua foi mais rápida.

- Mercado de Tudo? – Perguntou ela. – Não é meio pequeno para um patrocinador?

E Ysaline tentou de tudo para segurar a revirada de olhos que deu. Sabe, ela sentia que em algum universo paralelo, Amanda e ela poderiam viver até mesmo um casamento dos sonhos. Mas isso seria impossível trabalhando juntas.

- Bom, se formos analisar que o festival de verão é uma festa tradicional de Amoris e que todos os patrocinadores são empresas de fora, talvez o melhor marketing pudesse ser feito no dia-a-dia, prestigiando de fato pessoas que contribuem com o desenvolvimento da cidade. Mas, enfim, como eu ia dizendo, na página... – Ysaline pegou o PDF em seu celular para verificar. – 3. São alguns termos de negociação em relação a possibilidade de parceria dos lucros, receitas adicionais e-

- Espera - foi a vez de Roy interromper. O modo como ele olhou para Ysaline naquele momento, meio que com um sorriso tentando se controlar em seus lábios. – Com quem a gente iria negociar?

Ysaline engoliu em seco.

- Com a Goldreamz.

- Com quem?! – Brune perguntou. Apesar de ter ouvido claramente, ela pensava ter alucinado por alguns segundos. Assim como o resto dos colegas.

Ysaline revirou os olhos e repetiu:

- Com a Goldreamz.

E o arrependimento por aquela simples frase foi instantâneo porque todos começaram a rir dela. E, sim, seria tudo muito divertido, caso ela não estivesse querendo matar alguém hoje.

- Eu disse que vocês não iriam gostar, mas não é uma ideia completamente absurda.

- Não – Roy riu. – É a melhor ideia que você já teve! Se o Jason vier aqui, eu vou fazer ele sentar na minha cadeira de golfinho!

E novamente os outros explodiram em risadas.

Todos, exceto Thomas e Devon, o qual estava tentando fazer com que Ysaline se sentisse mal. Um pouco tarde demais, mas tudo bem.

- Como nós iriamos fazer isso, Ysa? – Thomas perguntou.

Havia um tom peculiar em sua voz. Era como se ele não estivesse realmente curioso de como ela faria aquela reunião acontecer, mas sim querendo que ela apenas dissesse em voz alta.

- Bom, é claro que nós não estamos na melhor posição para negociar, mas-

- Nem estou falando disso – Thomas a interrompeu. – Você conhece o Jason, não? O cara venderia a própria mãe se ouvisse a palavra vantagem, o que não é o que ele vai encontrar aqui.

Ele não é assim, Ysaline pensou e logo surpreendeu-se consigo mesma. Óbvio que ele era assim! Não?

- Ele teria que ter um ótimo motivo só para pisar aqui – e pela primeira vez Ysaline pareceu ler os pensamentos de Thomas. Ele sabia. Era óbvio que sabia.

Diferente do que ela pensou que fosse reagir, Ysaline não sentiu medo em um único segundo. Na verdade, ela apenas sentiu a única emoção que conseguia sentir estando sem dormir nem quatro horas.

- Se vocês ao menos tivessem lido qualquer coisa do que eu preparei, saberia que ele tem motivo para estar aqui – disse ela, antes de sair recolhendo os papéis. – Enfim, era apenas uma ideia. Me desculpe interromper, Devon.

Não é preciso dizer que o clima que ficou era uma merda. Ainda assim, era pior do que parecia ser. Devon, diplomata do jeito que era, não demorou para conduzir as coisas de uma forma agradável. Ysa até teria rido de algumas piadas dele se não estivesse com tanta raiva. Dela mesma e da situação.

Por sorte, chegou a hora do almoço e pela primeira vez ela desde que havia chegado na Devenementiel, ela preferiu comer sozinha em algum restaurante qualquer. Com direito a um milk-shake depois porque só assim para melhorar minimamente o dia.

Sentou-se no lado de fora do Cosy Bear, onde ficou observando alguns adolescentes saindo da escola passando. Conversavam animadamente sobre um show de talentos que ocorreria em um mês, dizendo coisas sobre fazer sucesso e revolucionar o concurso da escola. Por ironia do destino, falavam em montar uma banda. Em seus devaneios malucos, Ysaline se viu indo até eles e disse “ei, criançada, seus pais deixam vocês ficarem acordados depois da meia-noite?

Ugh, ela queria MORRER.

- Dia difícil? – Ysaline tomou um susto ao ouvir uma voz. Era a mesma garota do dia anterior, trazendo seu milk-shake.

- É tão perceptível assim?

- Ah, com certeza! Mas, ei! Você continua arrasando nos looks. Parece até cena de filme.

Aquele comentário meio (talvez meio sem noção) a fez rir.

- Obrigada – Ysaline agradeceu, estendendo a mão. – Me chamo Ysaline.

- Nina – a garota a cumprimentou.

***

Era engraçado como um estranho qualquer poderia simplesmente melhorar o seu dia. Apenas alguns minutos conversando com Nina, criando uma amizade sólida a base de fofocas de seu trabalho e o comércio local está sendo destruído pelas grandes empresas”, fizeram Ysaline simplesmente esquecer que perderia seu emprego em algumas horas.

Provavelmente.

Dependia muito do quanto Devon iria ficar feliz sabendo que Ysaline estava confraternizando intensamente com o inimigo.

Ainda assim, quando ela voltou do almoço, todos estavam compenetrados em seus afazeres.

Isso, é claro, até Devon chama-la em sua sala.

- Puta merda – ela precisou verbalizar baixinho. Trocou um olhar muito ferido com Thomas, mas levantou-se com dignidade, pensando se ela enviava um currículo para Jason ou apenas chegava na Goldreamz perguntando o que ela tinha que fazer. Mentira, ela jamais trabalharia com Jason. Mas era sempre bom deixar opções em aberto.

Assim que Devon fechou a porta, Ysaline estabeleceu para si mesma que não iria se entregar até que ouvisse Devon dizer “eu sei que você está dando pro Jason”, o que ele jamais diria porque é educado demais, então a ideia mesmo era NUNCA se entregar.

Havia aprendido com Rodrick Heffley: negue, negue, negue.

- Ysa, já quero me desculpar pela reunião de hoje – Devon disse logo que sentou e Ysaline, feito uma maluca, ficou tentando analisar sua linguagem corporal, coisa que ela nunca nem havia estudado. Não sabia se tinha alguma micro expressão que pudesse dizer “estou decepcionado que você tenha nos traído dessa forma tão baixa”. – Você me pareceu cansada, então posso ver que passou a madrugada inteira pensando nisso, o que eu algo que eu admiro muito em você, porém peço que não faça isso de novo. Essa não é a cultura que eu quero para minha empresa.

Se Ysaline já não houvesse se apaixonado por Ioan antes, o primeiro chefe que ela se apaixonaria era Devon. Ele era um QUERIDO. E ela queria chorar só ouvindo aquelas desculpas.

Aparentemente, Thomas não tinha contado nada.

Ou era isso que eles queriam que ela pensasse.

Ou ela apenas uma maníaca paranoica.

Puta que pariu, eu preciso dormir, pensou ela.

- Eu realmente só quis ajudar. Não gosto de como o contrato foi tirado de nós de forma tão... – Ysaline engoliu em seco, imagens passavam pela sua cabeça – safada.

- Concordo plenamente. É que você sabe como o assunto Jason Mendal é algo sensível para a nossa empresa – Devon suspirou, ajeitando-se na cadeira. – Sinto que é um pouco minha culpa. Parece que acabei intoxicando todo mundo contra ele.

Nem todo mundo, Ysaline pensou.

- Acho que você não deve se sentir dessa forma. Afinal, não é como se você fosse nosso pai. Isso não deve ser um caso de alienação parental – Ysaline brincou e Devon riu.

- Bem falado. Ainda assim, quero mudar isso – Devon sorriu e Ysa arqueou uma das sobrancelhas. – Depois que você saiu para almocar, eu fiquei lendo o seu relatório e, realmente, tem ideias muito boas. Até mesmo para a nossa situação.

- Obrigada – ela queria chorar. Sério. Engoliu em seco. – Obrigada mesmo.

- Você é uma ótima funcionária, Ysa. Mas mesmo gostando das suas ideias, ouso dizer que vai ser difícil trazer o Jason até aqui. Talvez, a Danica seja mais fácil ou-

- Eu consigo trazer ele aqui – disse ela de prontidão. Devon até mesmo pareceu estranhar sua confiança. – Ele... ele é inconveniente, mas eu consigo ser bem persuasiva quando quero.

- Bom... Sendo assim, não custa tentar – Devon sorriu. – Diga que nossas portas estão abertas para fazer negócios.

- Pode deixar preparada a cadeira de golfinho.      

***

Uma boa taça de vinho tinha apenas dois efeitos em Ysaline: um, abraçá-la em um soninho bem gostoso; dois, deixa-la maluca de tesão. Por precisar dos dois, ela logo abriu uma garrafa, enrolando-se em seu roupão de seda após um bom e merecido banho.

Assim que estava na cama, já tomado meia taça, pegou seu celular e viu uma notificação do Instagram. Nina havia a seguido, elas realmente haviam virado amigas! De qualquer forma, procurou o número de Jason e ligou para ele.

Suspirou bem fundo enquanto aguardava ele atender e bebeu mais um gole, alojando a taça em seu colo.

- Você tá bem? – Não era exatamente o que Ysaline esperava que Jason fosse dizer assim que atendesse o telefone. Até a desconcertou um pouco.

- Oi, sim. Tá tudo bem – Ysaline bebeu mais um gole. – Sabe, só estou aqui em casa e pensei em você.

- Hmm, entendi – Jason pareceu relaxar ao telefone e logo assumiu aquele tom cafajeste de sempre. Que ela secretamente amava muito. - Quando você não está pensando em mim, gatinha?

- Eu poderia te perguntar o mesmo, mas nós sabemos que a resposta não seria a mesma.

Jason riu. Antes que ele levasse aquela conversa para o lado que ela pensaria que ele levaria, Ysaline logo cortou:

- Tenho uma proposta para você.

Ysaline ouviu um suspiro do outro lado da linha e não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seus lábios.

- Não era exatamente o que eu estava esperando.

- Eu ainda nem falei nada.

- Eu te conheço, Ysaline – disse ele. – Sei bem quando você está flertando e quando está negociando. Ainda que seja de uma forma bem parecida algumas vezes.

- Não entendo a decepção, então – provocou ela. - Achei que os negócios fossem o motivo para você levantar da cama.

- Você poderia ser o motivo de eu continuar nela – o modo como a voz dele soou tão suave, tão sexy, fez Ysaline repensar se deveria continuar com o assunto da ligação. Por um instante, é claro. – Mas me conta a sua grande proposta, gatinha.

- Bom, eu adoraria falar sobre ela em um ambiente mais apropriado.

- Hmm... Devo presumir que o ambiente apropriado é aquele jardim de infância.

- Se você está falando do meu local de trabalho-

- Deus, o que eu fiz para merecer isso?

- Tenho certeza que várias pessoas podem te responder isso.

- Está afiada hoje. Hein, gatinha? Uma pena que estamos gastando nossa energia com algo tão pequeno.

- Eu não diria pequeno – Ysaline trocou o celular de ouvido e começou a se levantar da cama. – Aliás, o que nós temos é uma mina de ouro.

- Mina de ouro, é? Difícil pensar na Devenementiel com uma mina de ouro, mas tudo bem...

- Você se surpreenderia.

- Capaz de me fazer desistir do contrato? Nossa, deve ser enorme. Tão grandiosa que até parece mentira, sabia?

- Por que eu mentiria para você?

- Ah, não se culpe por isso, meu amor. Eu também tentaria manobras absurdas se trabalhasse onde você trabalha.

Ysaline afastou um pouco o telefone para bufar. Tomou mais um gole de vinho enquanto ele dava risada.

Estava na hora de utilizar seu trunfo.

- Bom, eu sabia que a sua resposta seria essa... – Ysaline suspirou falsamente decepcionada. Jason arqueou uma das sobrancelhas. Se tinha algo que ele tinha certeza sobre Ysaline era que ela não desistia fácil. – É uma pena, sabia? Estava me divertindo aqui pensando...

- No quê?

- Ah, você sabe... – Ysaline estava bêbada o suficiente para ter o controle da situação e não sentir vergonha do que estava fazendo. O que ela teria mais tarde. – Pensando em como essa situação toda poderia ser tão divertida.

- Talvez nós tenhamos ideias diferentes de divertido.

- Pense só. Você lá na Devenementiel, na nossa sala de reunião, tendo que encarar, o Devon, o Roy, o Thomas, a Amanda, a Elenda, a Bruné... tudo isso enquanto eu estou lá – Ysaline ouviu Jason ajeitando-se na cama. Ela não poderia dizer com certeza, mas ela sabia que ele estava sorrindo naquele momento. E, de fato, ele estava. - Todos os meus colegas de trabalho olhando atentamente pra mim enquanto eu explico detalhadamente e com muita, muita precisão, todas as nossas grandes propostas.

- Gatinha, se eu não te conhecesse, diria que-

- Tudo isso enquanto eu tento demonstrar gratidão pelo presente que você me deu.

Puta que pariu, Jason pensou. Ysaline precisou afastar o telefone para que ele não ouvisse a risada que estava entalada em sua garganta.

- Você está sugerindo o que eu estou pensando?

- Pode apostar que sim – disse ela, tomando mais um gole de vinho. – Então, o que me diz?

- Eu digo que você é maluca – disse ele. – E que horas eu tenho que estar lá?

Ysaline sorriu, mordendo o lábio. Homens eram tão facilmente manipuláveis.

- Às 10h – respondeu ela. – Vou estar te esperando lá ansiosamente.

- Mal posso esperar.

Quando Jason ia fazer menção de desligar, achando que o assunto seria exclusivamente esse, Ysaline disse:

- Ei, quem disse que eu quero desligar?

- Como assim?

- Bom, não é porque vamos nos divertir amanhã... que a gente não possa se divertir hoje também.

E, novamente, ela não poderia afirmar com certeza, mas ela sabia que Jason estava sorrindo. E teve mais certeza ainda quando sentiu sua calcinha vibrar.

Chapter 6: Reunião

Chapter Text

- Você parece horrível – foi o que fez Ysaline levantar sua cabeça da mesa. Assim que olhou para cima, viu Nina com um pano de prato em cima dos ombros e com uma expressão no rosto que Ysaline teve certeza de que poderia estar espantando a clientela. Aliás, olhando ao redor, viu que o local estava bem vazio. Foi quando se deu conta que já estava bem no horário do final do expediente. - Assim, com todo o respeito, viu?

- Sem problemas – Ysaline respondeu, convicta de que as intenções de Nina eram as melhores. E, depois de tudo, nem precisava se olhar no espelho para saber que sua cara não estava das melhores mesmo. Não depois de tudo o que havia acontecido naquela semana...

- Dia difícil? – Perguntou ela, limpando a mesa do lado da dela.

Ysaline poderia apenas responder que sim, dar boa noite e ir embora para o conforto da sua casa. No entanto, aquele havia sido um dia bem difícil, então só com aquela mísera pergunta viu seus olhos desaguarem em lágrimas.

Nina precisou verificar umas três vezes pelo menos para ter certeza de que Ysaline estava chorando, porém quando ela teve certeza, aproximou-se da moça rapidamente.

 – Ysaline? Ah, meu Deus! O que aconteceu?

Ysaline tentava falar, mas não conseguia. Seus lábios tremiam e ela apenas balbuciava palavras. Nina logo foi até a cozinha buscar um copo de água enquanto Ysaline tentava parar de chorar ou responder a pergunta.

O que havia acontecido? Por incrível que possa parecer, aquela era uma história bem engraçada.

E para responder isso era preciso voltar alguns dias atrás...

***

Ysa: Se chegar atrasado, eu corto o seu pau fora <3

Jason: Isso é tudo vontade de me ver?

Ysa: Bem que você queria, mas só nos seus sonhos.

Jason: Não foi o que você disse na noite passada.

Lembra?

Quando você

Implorou

Ysa: OK, OK! Só não se atrase!

Jason: Você fica uma gracinha quanto tá com vergonha.

Ysa: E você fica uma gracinha quieto <3

Apesar do instantâneo interesse de Jason na reunião em que Ysaline propôs, ela só foi de fato acontecer na semana seguinte. Pelo menos foi um tempo razoável para que os outros pudessem aceitar a ideia de que Ysaline levasse o “Poderoso Chefão da Shoppe” como Brune havia carinhosamente o apelidado e organizar algumas questões que estavam pendentes.

E com questões pendentes ela também se referia as regras que havia estabelecido com Jason – o que o deixou estranhamente animado... Ysaline preferia não pensar muito nessa parte. Por mais que uma parte sua gritasse que aquilo era uma péssima ideia, ela também não conseguia resistir à tentação.

A proibição, as regras, o medo de ser descoberta... Tinha que estudar de onde todo aquele fetiche estava vindo, porque não era possível que ela estivesse se submetendo a uma situação daquelas. De qualquer forma, Ysaline precisaria deixar esse diagnóstico para mais tarde.

Apesar da grande enrascada que ela poderia estar se metendo, havia testado o volume do vibrador e se surpreendeu ao perceber como era silencioso! Odiava ter que dizer, mas Jason havia mandado bem na escolha – o que a fascinava e a assustava ao mesmo tempo.

Enfim, chegou a passos apressados na Devenementiel naquela fatídica sexta-feira. Havia passado no Cosy Bear e pegado um cappuccino para aliviar todo o seu estresse, já se preparando para as eventuais picuinhas que iriam acontecer nas próximas horas. Quando entrou na sala de reunião, viu Roy e Elenda dando muita risada. O motivo? A cadeira de golfinho já posicionada. Óbvio.

- Bom dia, Ysa! – Elenda foi a primeira a notar a presença dela, a cumprimentando com um sorriso caloroso e ansiosa para que Ysaline comentasse sobre a pequena artimanha dela e de Roy.

- Bom dia – Ysa disse aproximando-se do grupo. Thomas também estava por perto.

Cumprimentaram-se com um aceno de cabeça. Desde a última reunião, os dois vinham se estranhando, trocando apenas algumas palavras para um trabalho ou outro. Era engraçado como as coisas eram. Uma hora, pareciam melhores amigos, zoando um ao outro, combinando de sair para barzinhos – Thomas até mesmo havia chamado Ysaline para ouvir sua irmã tocar num show! E agora... isso.

Ysaline havia se perguntado em que momento os dois haviam ficado tão desconfortáveis com a presença um do outro. Ou melhor, em que momento ele havia descoberto sobre Jason e ela, porque era mais do que óbvio que era essa a questão.

- Uau! Vocês não estavam brincando – Ysaline riu, dando alguns tapinhas na cadeira de golfinho.

- Não mesmo – Roy a fitou com um olhar digno de uma criança arteira.  – Olha, eu nunca quis tanto que ele viesse para essa empresa.

- Sério que vocês vão fazer ele sentar nisso? – Amanda perguntou entrando na sala de reuniões com um semblante incomodado no rosto. – Ele vive nos ridicularizando por sermos infantis e lá vão vocês querendo que ele sente em uma cadeira de golfinho.

Roy tentou não parecer ofendido com o comentário da colega, mas cruzou os braços mostrando sua indignação.

- E eu lá ligo para opinião dele? A opinião dele não poderia importar menos pra mim!

Amanda revirou os olhos.

- Bom, hoje deveria – retrucou ela e tocou no ombro de Ysaline. – Afinal, a Ysa vai fazer uma apresentação importante e, querendo ou não, ele tem todas as cartas na mão. Irritá-lo não é a melhor estratégica, concordam?

- Está tudo bem, Amanda – Ysa sorriu. – Acho que ele merece ser humilhado um pouquinho.

Amanda suspirou fundo e deu de ombros meio estressada.

- Façam como quiserem – disse ela, deixando a sala.

Sinceramente, Ysaline achava que Jason iria se atrasar – só pelo belo prazer de desdenhar da Devenementiel. No entanto, lá estava ele, dez minutos adiantado.

Assim que Jason chegou, Ysaline sentiu seu coração bater mais forte na caixa de seu peito. Ele ainda nem tinha a visto, estava observando o local de trabalho da Devenementiel com um semblante julgado a lá Miranda Priestly de O Diabo veste Prada. Teria rido se Devon não soltasse um suspiro do seu lado. Ambos sabiam que aquela seria uma longa tarde. Ainda que fosse minimamente mais proveitosa para Ysaline.

Foi Thomas quem o recebeu, já que tinha perdido no pedra-papel-tesoura com Brune e Roy. Amanda apenas se recusou cumprimenta-lo, dizendo que iria chegar “atrasada” na reunião. Ysaline poderia ter feito isso, mas estava ocupada demais tentando não transparecer que os dois tinham um caso.

- Por aqui – Thomas fez sinal para que o acompanhasse sem muito ânimo, conduzindo o CEO até a sala de reuniões. – Aceita uma água ou sei lá café preto sem açúcar?

- Não, obrigado – Jason riu. – Prefiro não correr o risco de ser envenenado ou algo do tipo.

- Isso é mais a sua cara do que a nossa – Thomas retrucou.

- Até que você tem razão. Eu deveria ter mais medo de ser sufocado com uma pilha de bichinhos de pelúcia ou... atropelado na saída de um escorregador. Ou-

- O Jason chegou – Thomas o interrompeu, dando passagem para o homem. O ruivo tinha a intenção de trocar um olhar rápido com Ysaline, mas ela estava de olho em sua papelada. Você sabe, fingindo que a presença de Jason era como outra qualquer. As pernas dela tremiam em euforia e excitação.

Ysaline sentia o olhar de Jason a perfurando, mas por sorte Roy e Devon o cumprimentaram.

- Seja bem-vindo a Devenementiel – Devon cumprimentou Jason com um aperto de mão firme. – Jamais esperava dizer isso a você.

- Muito menos eu, mas é surpreendente como a vida tem seus caprichos.  – Jason forçou um sorriso e então tornou sua atenção em Roy, que estava de braços cruzados, com um misto de expressões em seu rosto. Uma espécie de irritação por Jason ser... bem, o Jason. E um pouco de animosidade por estar curioso com os planos de Ysaline. Afinal, para trazer ele até lá, algo ela deveria ter. – Roy.

- Jason – Roy disse e sorriu provocativo. - Que surpresa ver você sem o seu capacho do lado.

- Também é surpreendente ver você com uma camisa, Roy – Jason provocou de volta e passou por ele, analisando mais a sala de reuniões com as mãos nos bolsos. Aquilo era apenas pretexto para fazer Ysaline olhar para ele. – Essas plantas são de verdade?

- São – Devon suspirou, pensando se era tarde demais para simplesmente chutá-lo dali.

- Nunca viu plantas de verdade? – Foi Brune quem perguntou dessa vez e Jason deu uma risada discreta.

- Nenhuma dessas em salas de reuniões respeitáveis.

Ysaline revirou os olhos. Agora quem não estava achando aquilo uma boa ideia era ela!

- Impressionante como você destoa desse lugar – Roy disse.

Jason virou-se para o homem, com uma falsa surpresa.

- Não esperava um elogio de você, Roy! Muito obrigado. É apenas uma pena que eu não possa retribuir, mas vamos aos negócios! Tempo é dinheiro. Onde está a minha negociadora?

Ysaline fechou os olhos. Minha negociadora. Como ser mais óbvio?

Então, Jason foi até a Ysaline e ela foi obrigada a olhar nos olhos dele.

- Oi – a voz dele era de um suave como uma pluma. Interessante demais era o contraste de tratamento de Jason com ela em comparação aos seus colegas. Apesar da óbvia tensão que se estava se instalando ali, Ysaline precisou muito se controlar para não rir, lembrando-se da ligação que os dois tiveram no outro dia.

- Oi – Ysaline respondeu e engoliu em seco. Fingindo que não tinha naquele homem que a fizesse perder as estribeiras. – Boa tarde, Jason. Obrigada por ter vindo.

- Tão formal – murmurou ele para que somente ela ouvisse.

- Não quer já se acomodar no seu lugar? – Provocou Ysaline, indicando com suas sobrancelhas arqueadas um local perto a porta. Jason apertou os olhos para ela, mas a obedeceu.

- Suponho que eu tenha que sentar nisso – disse ele, referindo-se a cadeira de golfinho de Roy, que umedeceu os lábios, tentando controlar um sorriso no rosto e dando pequenos esbarrões em Devon, tal qual uma criança que tinha acabado de aprontar.

- É, nós já temos lugares demarcados.

- Sei – Jason suspirou. – Bom, na verdade é um alívio. Essa coisa parece ser mais confortável do que esse balanço que vocês chamam de assento. Isso deve ser horrível para as costas a longo prazo, sabiam? Se bem que vocês não devem usar tanto essa sala, não é mesmo?

Engraçado ouvir isso do cara que sempre me achava em qualquer outro lugar que não fosse o escritório dele, Ysaline pensou.

- Será que podemos focar na reunião? – Devon perguntou já se sentando. Bem longe de Jason.

- Claro, claro – Jason suspirou, porém ainda ficou de pé. – Mas, sinceramente, eu não entendo o porquê de vocês terem me convocado para essa reunião, sendo que eu só estou obedecendo ordens.

- Sabe quem também só seguia ordens, Jason? – Roy perguntou afrontoso e foi a gota d’água para que Ysaline interviesse antes que Jason pudesse responder com alguma coisa pior. 

- Ok, ok – ela se colocou na frente dos dois homens. – Vamos acalmar os nossos ânimos. Jason – Ysaline virou-se ele com um falso sorriso no rosto.  – Antes de começarmos, posso dar uma palavrinha com você?

- Mas é claro, senhorita Dolga – respondeu ele, cheio de malícia nos olhos e no sorriso.

Devon arqueou uma das sobrancelhas, confuso, e Ysaline sibilou um “confia em mim, por favor”. Evitou o olhar de Thomas a todo momento, mas sentia o julgamento dele praticamente queimar suas costas enquanto ela atravessava a sala de reunião para o lado de fora.

Assim que fechou a porta, Jason começou a sussurrar:

- Não aguenta nem uns minutinhos sem me agarrar, é?

- Sim, porque se você continuar com essa infantilidade eu vou voar na sua garganta! – Ysaline sussurrou de volta entredentes.

- Infantilidade? Eles me colocaram em uma cadeira de golfinho!

- Awwn, o que foi, machão? – Ysaline cruzou os bracos e sorriu debochada. - Não consegue manter a pose numa cadeira de golfinho?

Jason a imitou.

- Eu poderia fazer muitas coisas naquela cadeira.

Ysaline revirou os olhos, murmurando um puta que pariu.

- Pelo amor de Deus... você se ouve quando fala? – Ele estava disposto a responder, mas Ysaline continuou: - Dá para se comportar pelo menos uma vez? Isso é importante!

- Eu sei – disse ele, dessa vez sério. – É por isso que estou aqui.

Apesar de ter soado convicentemente sério, Ysaline ainda assim arqueou uma de suas sobrancelhas. Afinal, ela sabia muito bem o motivo de ele estar ali...

Ysaline ia entrar novamente na sala de reuniões, porém Jason perguntou:

- Você quer mesmo continuar com isso?

A pergunta dele a pegou de surpresa. Virou-se novamente para ele, até mesmo analisou as feições de seu rosto para ver se não tinha nenhuma brincadeira ou piadinha maliciosa por trás. Depois de alguns segundos, ela constatou que Jason falava sério.

- Sim – respondeu ela, ainda meio desconcertada. – Quer dizer, eu falo muito sério sobre a proposta e eu quero que você preste atenção. Mas... é uma ideia... divertida.

- Vou estar atento. Eu garanto – e ela sabia que Jason não estava mentindo. Tanto sobre a proposta quanto sobre o joguinho deles.

Jason então finalmente sorriu maliciosamente, mas não foi o suficiente para deixa-la menos inquieta.

- Espera... e se eu dissesse não?

Jason deu de ombros.

- Então, seria um não. Não? – Perguntou ele, colocando as mãos nos bolsos.

- Sim, mas você ainda ficaria aqui e ouviria a minha proposta?

- Você disse que era uma boa proposta – disse ele. Não havia tanta certeza em sua voz, mas isso não vinha de qualquer desconfiança sobre a capacidade de Ysaline. Apenas porque tinha a crença que as probabilidades das propostas vindo da Devenementiel seriam praticamente nulas. Afinal, foi como ele disse, a Goldreamz estava com tudo na mão.

Por que ele estava ali? Óbvio que por ela. Não poderia negar que aquela competiçãozinha entre eles sempre o estimulava, comercialmente e, bom, ele também havia trazido o controle do presentinho. Jason Mendal não era um santo.

- É – Ysaline tentou conter o sorriso que se formava em seus lábios e Jason acabou sorrindo de volta.

- Só para confirmar, então... – ele disse assumindo já o tom de cafajeste que ela conhecia e puxando o famoso controle de seu bolso, mostrando para Ysaline como se fosse um visco. – Nós vamos brincar, gatinha?

- Vamos – respondeu ela. – E saiba que eu não jogo para perder.

Dito isso, os dois entraram na sala.

***

Todos estavam já sentados em suas cadeiras – Jason obviamente na de golfinho, o que vez ou outra arrancavam risos dos demais, mas Jason mesmo não estava nem aí. Só havia uma pessoa naquela sala a quem ele tinha sua total atenção. E naquele momento, ela estava começando sua apresentação.

- Bom, obrigada novamente por ter vindo – Ysaline disse mais pelos demais do que para Jason. Ela já tinha ideias de mensagens que poderia mandar para agradecer pela presença dele.

- Obrigado pelo convite – respondeu Jason. Apenas Ysaline entendeu a malícia daquele comentário. Com um sorriso cafajeste, Jason continuou: - Como eu já mencionei antes, devo dizer que essa reunião não estava nos meus planos e ainda não entendo muito bem como vocês podem ter algo que me faça abrir mão do contrato de exclusividade. Mas...

- Sabemos que não – ela disse, indo até Jason e entregando uma cópia de alguns relatórios financeiros. Era um grande relatório. Os dois se entreolharam tentando não esbanjar nenhum resquício de tesão na frente dos outros, mas Ysaline logo continuou: - Esse relatório é algo para ser lido com calma. Você pode levar para fazer o seu dever de casa.

Jason assentiu com a cabeça, comprimindo um sorriso que lutava para nascer em seus lábios e arqueando uma das sobrancelhas enquanto folheava por alto o relatório com uma das mãos.

E, com a outra, apertou o botão de ligar do vibrador.

Ysaline estava voltando a frente quando sentiu a vibração. Deu um pulinho surpresa, porém logo voltou a normalidade, como se nada estivesse acontecendo. E aquilo deixou Jason mais animado.

- É importante começarmos com o histórico de Amoris com o festival de verão – Ysaline começou a falar, apontando para os slides que havia preparado. – Como todos sabem, as três últimas gestões da Secretaria da Cultura foram alvos de críticas tanto nas redes sociais quanto até mesmo em alguns jornais da nossa cidade. Antigamente, o Festival de Verão era um dos eventos mais aguardados pela cidade de Amoris, só perdendo para as comemorações de Natal!

Jason assentiu com a cabeça.

- Ocorre que nos últimos tempos, o festival pareceu querer ficar preso ao regramento das tradições, criticando totalmente a modernidade e qualquer ideia para dar uma repaginada e alcançar novos públicos. Só que o sentimento de nostalgia não foi o bastante para manter a porcentagem do grupo mais velho e o festival em si não conseguiu atrair nem os jovens e muito menos os jovens adultos, que teriam condições de gastar no evento.

- Nesse sentido, a Goldreamz está se saindo de forma excelente – Jason disse. – Afinal, a Crowstorm é o maior atrativo do festival esse ano.

- Concordo, porém, se olhar na página... – Ysaline começou a folhear e de repente mordeu o lábio. Jason havia aumentado a potência. Filho da puta, filho da puta, filho da puta. Não, nem fodendo que ela iria deixar aquilo acontecer. Reuniu forças do útero para não demonstrar nenhuma reação sequer. Pigarreou apenas. – Na página... 69.

- Perdão, qual página? – Jason perguntou com falsa inocência.

Cretino.

- Sessenta e nove – Ysaline repetiu, olhando bem nos olhos dele e tendo a plena certeza que ele havia ouvido da primeira vez.

- Obrigado – Jason abriu na página requerida e começou a analisar os gráficos e índices de pesquisa que Ysaline havia feito. – Bem completo.

Eu sei, pensou ela, tomando um grande gole do seu copo de água. De repente havia ficado tudo muito quente naquele ambiente.

-  Ok, então a Crowstorm não seria o suficiente para trazer o público? – Perguntou Jason, ajeitando-se na cadeira. – Mas os meus números dizem o contrário.

- Será? – Ysaline rebateu. – Se formos analisar de uma perspectiva medíocre... – segundos depois de dizer aquela palavra, ela sentiu a vibração aumentar mais um nível. Ysaline travou a mandíbula e sorriu. – Medíocre e apenas para bater metas, então sim, talvez a Goldreamz esteja fazendo um excelente trabalho.

Roy e Devon trocaram um olhar um tanto engraçado, que Jason novamente não viu porque estava extremamente encantado com Ysaline explicando o quanto ele era um fracassado inútil que não conseguia nem organizar um evento falido de uma forma melhor. Ou qualquer coisa parecida que estivesse acontecendo ali, a mente dele não parecia discernir muito bem.

- Só que a política da Devenementiel, além de ser pensada para a retribuição para a sociedade, também está visando coisas maiores e pensando no potencial do evento – continuou Ysaline, sentindo suas pernas vez ou outras esbarrarem uma na outra. Porém, evitou fazer isso pela terceira vez, porque estava ficando difícil manter o foco.

Até porque – um fato extremamente interessante – aquela vibração a qual Jason tinha colocado de bom grado foi justamente a qual Ysaline tinha conseguido gozar na noite em que usaram o brinquedo. A partir dali era completamente nebuloso, então ela precisava se apressar.

- Tudo bem, senhorita Dolga – Jason disse. Ysaline sabia que ele estava se segurando para não soltar um “gatinha” a cada instante, o que era também muito surpreendente da parte dele.– Então, o que é exatamente o que você está sugerindo?

- Bom, nós sabemos que a Prefeitura investiu bastante nesse contrato de exclusividade – Ysaline manteve o contato visual enquanto Jason aumentava mais um nível de vibração. Ela já conseguia se sentir molhada, com o desejo de sair daquela sala e poder se resolver sozinha. Ou até mesmo com Jason se ele não fosse um cretino. Um cretino absolutamente gostoso. – Por isso, estamos propondo uma parceria de co-branding com participação nos lucros.

Jason arqueou uma das sobrancelhas, inclinando-se na cadeira.

- Parceria?

- Pois é... – Roy suspirou e recebeu um cutucão de Brune.

- Na página 90 tem a nossa previsão de receitar para a after party com a presença da banda – disse Ysaline meio ofegante porém nada que alguém pudesse notar. – Podemos oferecer 20% para a Goldreamz e sem o custo de marketing para vocês.

- Sem o custo de marketing? – Jason riu. – Ysaline... você vai me perdoar-

- Jason, todos os números estão no relatório – disse ela meio impaciente e sentindo tremeliques pelo corpo todo. De quem havia sido a bendita ideia do vibrador mesmo? – Com todo o respeito, o modo como vocês estão lidando com esse festival não vai dar em lugar nenhum.

- Mas a sua ideia de marketing é exatamente qual? Sendo que todos os nossos patrocinadores também fecharam com a gente?

- A nossa ideia é utilizar algo que a própria prefeitura tem menosprezado durante todo esse tempo – respondeu ela e quando Jason continuou com interrogações no rosto, Ysa disse: - Página 95.

Jason voltou a folhear as páginas.

- Nossa, você realmente decorou... – disse ele enquanto lia.

- Eu não faço meu trabalho pela metade, Jason.

Jason riu.

- Nem eu, mas disso você já sabe – disse ele. – Comércio local?

- Sim.

- Me explique, então – ele disse, apoiando os cotovelos na mesa. – Estou curioso para como vocês iriam fazer essa mágica.

- Não é mágica! É matemática, Jason! – Exclamou ela e Devon estava a olhando um tanto assustado com tanta paixão e garra que Ysaline estava depositando naquele trabalho. E mais surpreso ainda de Jason estar a ouvindo. Procurou o olhar de Thomas e ele também olhava para Ysaline, mas reparando na respiração dela. – O festival perdeu a nostalgia justamente porque a única modernidade que eles acrescentaram foi o uso de influencers para cobrir a festa. Pessoas que a população da cidade conhece mas não estão nem aí!

- Tudo bem, concordo em partes – Jason voltou a se ajeitar na cadeira, irritando-se um pouco não tinha nenhuma posição naquela porra de golfinho. – Ainda assim, qual é a sua garantia que o público supostamente iria parecer na after party?

- Sinceramente? A Goldreamz é quem deveria dar uma garantia a prefeitura de comparecimento.

- Como assim? – Perguntou ele e lá subia mais um nível. Ysaline já havia percebido que Jason estava amando questionar e fazê-la se explicar enquanto aumentava os níveis de vibração. Só que dessa vez ela levou um sustinho. Um sustinho daquele típico de uma montanha russa descendo.

Ysaline respirou fundo e tentou disfarçar tomando um gole de água.

E continuava vibrando, vibrando, vibrando...

E as pernas dela cada vez mais bambas.

E cada vez mais molhada.

E o sorriso de Jason percebendo o rubor nas bochechas dela ficando cada vez maior.

E a vontade de Ysaline de parar aquela reunião e dar para ele no banheiro da Devenementiel crescendo, crescendo, crescendo...

- O valor do ingresso... – Ysaline arfou para conter o gemido que estava preso em sua garganta.

- Aham? – Provocou Jason, divertindo-se.

Cretino. Cafajeste. Cachorro.

- O valor do ingresso cobrado pela prefeitura deixou de ser atrativo faz um bom tempo – ela continuou retomando a postura e rezando para que Jason não subisse mais um nível naquele instante. Estava ficando difícil se segurar. – Esse dinheiro nem é mais utilizado para as causas de antigamente. Para falar a verdade, além de pagar a empresa da licitação, é bem nebuloso o destino desse dinheiro. Enfim... – recuperou o fôlego.

- Isso é verdade – Elenda permitiu-se fazer um comentário e Ysaline agradeceu demais por isso. - Os participantes do evento já fizeram várias críticas sobre as atrações, disseram que não compensam o valor investido no ingresso por serem chatas, bobas. A comida em si é de carrinhos comprados justamente para esses eventos de baixa renda. Não há inovações. As apresentações de verão, então, que investiam em talentos da comunidade, nem mesmo tem uma abertura de inscrições.

- A Crowstorm não seria a solução para esses problemas todos?

- Sim, se fosse algo que valesse a pena! – Ysaline insistiu gesticulando. A energia tinha que ir para algum lugar. – O ingresso só vale para quem quer assistir a essa banda específica, e, mesmo assim, as pessoas se decepcionam. Isso porque a banda toca, no máximo, três músicas, porque o setlist é dividido com outras atrações que, convenhamos, não têm tanto apelo!

- Não mesmo – Elenda murmurou para Thomas.

Vendo que Jason prestava atenção, Ysaline continuou:

- O diferencial da nossa after-party é justamente a experiência mais rica, com um espaço em que o público possa de fato apreciar a banda e que faz total sentido com a personalidade da Crowstorm em atender os fãs. Além disso, o nosso projeto oferece possibilidades para o comércio local. Comida, atrações, cultura que da nossa cidade que pode ser de fato prestigiada. Com um valor agregado que beneficia toda a comunidade de volta.

- Lindo, realmente lindo. Mas como você espera que um after party vá atingir esse impacto todo? – Perguntou ele com um tiquinho de deboche e ceticismo, mas Ysaline se manteve confiante pois conhecia Jason o suficiente para saber que ele estava sim interessado.

- Se formos considerar que a tática da prefeitura é trazer apenas pessoas de fora para esse evento em específico, o que não seria uma coisa ruim se não ignorasse os comércios da cidade, temos que pensar que o comércio local é diretamente beneficiado pelo movimento. Para conseguirmos alcançar isso, a Devenementiel está disposta a proporcionar vouchers de desconto nos ingressos.

- Como, por exemplo, o Mercado de Tudo – Devon disse e Ysaline assentiu. – Está aqui na cidade desde os anos cinquenta, começou só como uma lojinha de esquina e até hoje salva a qualquer pessoa.

- E não é o tipo de local que se utiliza do dinheiro e o manda para fora como é a maioria das franquias que chegam por aqui – Roy complementou.

- Exatamente! – Ysaline concordou. – Prestigiar quem de fato reinveste na cidade é o que pode fortalecer a economia, o que deveria ser o principal objetivo desse Festival. Afinal, a tradição começou justamente com esse intuito!

Jason desviou o olhar por um momento, trazendo sua atenção para o relatório na mesa, processando a proposta. Enquanto ele fazia sua pausa, Ysaline bebeu um copo de água, ainda tentando conter as vibrações, mas fato é que suas pernas estavam até mesmo bambas. Poderia sentar, mas não sabia se o vibrador seria tão discreto se estivesse batendo incansavelmente contra a cadeira.

Nem sabia como estava aguentando tanto tempo, mas estava amando cada segundo em que não nada aquele gostinho para o Jason. O que era um contrassenso se você fosse pensar bem a fundo.

- Ok, vamos falar de valores – Jason ajeitou seu terno e a encarou. – Digamos que vocês não alcancem a previsão do relatório em bilheteria. Estariam dispostos a garantir um mínimo? Porque sendo sincero não vejo vocês conseguindo cobrir...

- Para a sua informação, temos sim – foi Devon quem respondeu. – Isso até mesmo independente da bilheteria.

Jason arqueou as sobrancelhas, genuinamente surpreso. Estava mais relaxado quanto aos possíveis riscos, mas ainda não totalmente convencido. Voltou a encarar Ysaline e ela soube pelo remexer do bolso esquerdo dele que ali vinha mais um nível.

- E quanto a exclusividade da marca? Como podem garantir que a imagem da Goldreamz não se dilua nesse evento em específico?

Era óbvio que ele iria perguntar isso, Ysaline pensou e quase revirou os olhos.

E aumentou mais um nível.

- A Devenementiel vai cobrir todos os custos de branding e oferecer a exclusividade da marca dentro dos parâmetros acordados – Devon respondeu e Ysaline agradeceu aos céus. – Além disso, o Thomas conversou já com pessoas especializadas e estamos dispostos a contratar uma auditoria para que você tenha relatórios detalhados e garantindo que o nosso acordo se cumpra.

- Aham... – os olhos dele não saiam de Ysaline e ela sentiu mais um nível aumentar. – E quanto ao valor extra?

- Que valor extra? – Ysaline perguntou. – Seja mais específico.

- Com prazer – Jason sorriu e aumentou mais um nível.

Ysaline suspirou e dessa vez todos se viraram para ela, que sentiu suas bochechas arderem em fogo. Não estava totalmente reta, mas ainda assim assumiu uma pose respeitável.

- Perdão – ela forçou uma tosse. – Pode continuar.

- Claro – e aumentou mais um nível. – Bom, eu me referia caso o evento seja mais lucrativo do que o esperado.

- Ahhh sim – a voz de Ysaline tremeu e ela conteve mais uma arfada porque sentiu Thomas a encarando novamente. – Página 100. Podemos oferecer uma comissão adicional de 5% sobre qualquer valor que ultrapasse a receita. Assim, se a arrecadação for maior do que o previsto, vocês também ganhariam mais.

- 5%? – Perguntou Jason, voltando a se inclinar sobre a mesa. O sorriso dele era algo peculiarmente saboroso aos olhos de Ysaline, mas ela não poderia apreciar direito porque sabia o que estava por vir. – Vocês não estão sendo muito generosos, não?

- Já não fomos por não termos processado você? – Roy suspirou.

- E por te receber aqui? – Brune complementou.

- E por ter dividido o mesmo ar? – Thomas continuou.

Elenda queria ter pensado em um comentário, mas não odiava o homem tanto quanto os seus colegas, então apenas disfarçou as risadinhas.

Mas Jason não estava nem aí para os comentários dos outros, porque seus olhos estavam exclusivamente em Ysaline.

- 5% é um ótimo valor – disse ela.

Jason arqueou uma das sobrancelhas.

- Não acho.

Ysaline apoiou os braços na mesa, inclinando-se também.

- Até onde você quer chegar com isso?

- Eu? Meu bem, eu não saio daqui sem, no mínimo, 10%.

O vibrador tinha 10 níveis. Ela estava no 9.

- Não acho que vá conseguir o que quer dessa vez – Ysaline sorriu.

- Acho que você não sabe exatamente o que eu quero.

- 10% é o que você quer. Mas 5% é um ótimo valor e é o que você vai ter – Ysaline pendeu um pouco sua cabeça para trás, sentindo seu corpo todo quente, as pernas querendo se esfregar umas contra as outras mais do que tudo, a vontade de arrancar a roupa e simplesmente extravasar. E ela faria tudo isso mais tarde. Mas ela não ia dar aquele gostinho para Jason.

Nem fodendo.

- É até ridículo pensar na quantia sendo que você não vai fazer nada – Ysaline complementou e Jason riu sádico.

- Na verdade, eu posso fazer mais se for essa a sua vontade.

- Mesmo? Que tal uma outra reunião para você demonstrar do que a Goldreamz é capaz?

- Será um prazer – e aumentou mais um nível.

Todos olhavam para os dois discutindo quase como se acompanhassem um jogo de tênis.

Devon mesmo estava bem confuso porque, para ser sincero, ele teria concordado com os 10%, visto que tinha analisado as previsões e talvez fosse algo plausível em relação a liberação da Crowstorm. Mas como a apresentação era de Ysaline, deixou com que ela conduzisse.

Roy estava junto de Elenda e Brune torcendo para que Ysaline acabasse com aquele metido a besta.

Já Thomas, este bebericava seu copo de água e nem mais prestava atenção na discussão dos dois.

Agora Ysaline...

Era impossível não gemer naquela situação, mas ela sufocou o máximo que pode quando finalmente gozou. Por sorte, todos acharam que aquela súbita procura por ar dela era de estar tão indignada com Jason. Mas ele sabia a verdade e por isso sorriu mais uma vez bem cafajeste – e do jeitinho que ela gostava.

- Bom... – Jason levantou-se da cadeira com um alívio enorme de não ter que sentar mais naquilo. Pegou o relatório em cima da mesa também. – Irei avaliar com mais calma a proposta de vocês.

- Perfeito – Ysaline disse, engolindo em seco.

- Caso eu tenha uma resposta positiva, podemos conversar mais a respeito sobre a questão dos 5% - informou ele, passando os olhos por todos até chegar em Ysaline. – Mas devo ser humilde e admitir que é uma boa proposta, sim.

Ysaline tentou conter um sorriso em seus lábios e olhou para qualquer coisa que não fosse Jason.

- Ótimo – Devon tomou a frente. – Estaremos aguardando a sua resposta então.

E com isso aquela reunião se encerrou.

***

Ysa: Ainda não acredito que você aumentou aquela coisa no limite!

Jason: Bom, você sabe como eu jamais te deixaria insatisfeita.

Ysa: Sabia que eu te odeio tipo MUITO?

Jason: Mesmo?

Não é o que pareceu na sala de reunião.

As bochechas coradas...

A respiração ofegante...

Contorcendo as pernas...

Parecia até mesmo que você estava pedindo por alguma coisa.

Ysa: Pedindo pra você aceitar o contrato <3

Jason: Aham, claro.

Enfim, posso passar na sua casa para nós continuarmos a nossa reunião?

Sabe como é, eu preciso muito que você me convenca do porquê eu não mereço 10%.

Ysa: Claro, vou te mostrar direitinho.

Jason: Mal posso esperar.

***

Ysaline tinha deixado tudo pronto em seu apartamento. Havia se certificado que o vinho estava gelado, colocado algumas velas ao redor do ambiente, vestido sua melhor lingerie e sua playlist para se sentir uma grande gostosa já estava tocando ao som de Nelly Furtado.

Eram lá paras 20h e havia visto algumas mensagens de Thomas e Amanda, porém não quis responder qualquer coisa de trabalho. Afinal, ela já tinha trabalhado muito naquele dia.

Assim que a campainha tocou, Ysaline correu vestida em seu robe de cetim vermelho. Jason nem havia entrado direito no apartamento quando Ysaline pulou em cima de seu colo, enchendo-o de beijos.

Jason sorria em meio toda aquela recepção e a carregou pelo apartamento, fechando a porta com os pés.

- Puta merda, você é uma tentação – disse ele entre um beijo e outro, jogando-a no sofá. Ysaline só sabia sorrir enquanto Jason descobria seu corpo e beijava a parte exposta de seu pescoço, apalpando o interior de suas coxas.

- Eu já não aguentava mais – Ysaline arfava enquanto tentava desabotoar a camisa dele. Estava cheiroso demais, ficava pensando se ele havia se perfumado daquele jeito pensando nela e no efeito que causava.

- E eu? – Jason riu, puxando-a para mais um beijo desesperado. Após se afastarem um pouco, ele chegou mais perto dela e começou a sussurrar em seu ouvido enquanto suas mãos subiam para os seios dela. – A cada vez que você falava, eu tinha vontade de te foder em todos os cantos. Até naquela porra de cadeira de golfinho.

Ysaline riu e os olhos de Jason brilharam ao vê-la assumir a posição de cima, esfregando-se sobre seu membro já tão necessitado.

- Você é perfeita – Jason murmurou, apalpando a bunda dela e a aproximando dele. – Eu nunca fiquei com tanto tesão em uma reunião na vida.

- Eu arrasei demais, pode falar – Ysaline riu.

Jason riu.

- Sou obrigado a admitir que sim.

- Perfeito – Ysaline o beijou de novo e riu. – Tô tão feliz que você vai aceitar! Finalmente você vai realizar o seu sonho de trabalhar comigo.

Merda, Jason pensou.

Ysaline iria continuar mais uma sessão de beijos, porém após ver a cara estranha que Jason fez, ela parou. Deu um riso sem graça e Jason acabou sentando-se no sofá.

- O que foi? – Perguntou Ysaline enquanto observava Jason.

- Ysa... – começou ele e foi a primeira vez que Ysaline o viu sem saber o que dizer.

- O que foi, Jason? – Ysaline repetiu, mas uma parte sua já suspeitava o que estava por vir e por isso o tom de voz dela saiu um tanto impaciente. Jason olhou nos olhos dela e ela notou a mágoa.

- A proposta é ótima – Jason disse, sério e sem qualquer tipo de deboche. – O seu trabalho é excelente, você é inteligente e esforçada e eu não quero que você pense que-

- Você não vai aceitar, não é? – Perguntou ela, mas a resposta era óbvia.

- Eu não posso.

Ysaline riu balançando a cabeça e saindo de cima dele.

- Não pode ou não quer? Quer saber? Nem me fala, porque é tão óbvio que é porque você não quer!  – Ysaline ia dizendo enquanto caminhava até a cozinha e buscava sua taça de vinho.

- Ysaline, não é uma questão disso – Jason bufou. – Ok, no começo era e eu nunca iria acordar com a Devenementiel. Vocês poderiam me trazer cinco milhões de dólares e eu ainda assim iria dizer não!

- Eu amo como você fala como se não fosse exatamente isso o que está fazendo! – Rebateu ela, despejando o vinho na taça e bebendo logo em seguida.

Jason riu e ela o odiou muito por isso.

- Por favor, trinta mil está bem longe de cinco milhões. Não acha, querida?

- É, mas esse valor seria vindo do nada para você! Não teria nenhum esforço da sua parte! Nem da Prefeitura!

- Ysaline, você mesma disse que faz anos que a prefeitura-

- Quer saber? Foda-se a prefeitura! Foda-se você também! – Ysaline exclamou. – Isso não faz o menor sentido... Você sabia disso quando veio pra nossa reunião?

- Claro que não! – Jason exclamou.

- Então, não esperava que eu fosse capaz de vir com uma proposta tão boa?

- Ysaline, quantas vezes eu já pedi pra você largar o seu emprego e vir para Goldreamz? É óbvio que eu tinha em mente que a sua proposta seria boa! – Jason explicou tentando manter a paciência. – Mas não sabia que seria tão focada no bem-estar da cidade.

- Ainda assim...

- Eu quis analisar todos os ângulos, ok?

- Ah, eu imaginei que quisesse.

Jason tentou se aproximar dela, mas Ysaline se afastou.

- Você realmente vai ficar chateada comigo por conta disso? – Perguntou ele e Ysaline precisou rir.

- Mas é óbvio que sim! Isso é ridículo, Jason! O que nós fizemos hoje foi ridículo! – Ysaline suspirou. – Na verdade... o que nós estamos fazendo é ridículo.

Jason cruzou os braços. A expressão no seu semblante não tinha nada a ver com escárnio ou raiva. Ysaline tentou desviar sua atenção dos olhos dele de tão tristes que estavam. Coisa que ela nunca pensou na vida ver.

- Estou interpretando errado ou você tá terminando comigo por causa de um contrato?

Ysaline sentiu seus olhos arderem e não entendeu o porquê de estar com tanta vontade de chorar. Sabia que não era raiva, mas...

Nem pensou muito e virou-se para ele com a melhor das suas expressões impassíveis.

- Terminar o quê? – Perguntou ela e viu o exato momento em que Jason sentiu aquelas palavras. Mesmo assim, mesmo sentindo seu coração despedaçar, Ysaline continuou. – A gente nunca teve nada, Jason.

Jason assentiu com a cabeça, olhando para baixo algumas vezes. Parte dele esperava que ela voltasse atrás. Mas Ysaline se manteve firme.

- Claro que não – Jason concordou, abotoando sua camisa novamente. – Uma besteira eu achar que poderia ser o contrário.

- Por favor, não aja como se estivesse apaixonado por mim ou coisa do tipo.

- Eu estou – Jason disse, olhando bem no fundo dos olhos dela e Ysaline tremeu. O coração dela estava batendo tão rápido naquele momento, era um quentinho misturado a sensação metálica de uma facada. E ela nem ao menos conseguia dizer nada. – E é uma pena porque eu tenho certeza que você não sente o mesmo.

Ysaline engoliu em seco.

- Você tem um jeito muito estranho de demonstrar isso, sabia?

- É – Jason riu. – Você também, Ysa. Porque ao mesmo tempo em que eu preciso me conformar que você não sente o mesmo que eu, parte minha também acha que você se agarrou nesse contrato bem mais do que deveria como forma de escapismo.

Ysaline iria se defender, mas Jason não deixou com que ela falasse.

- Uma última coisa e eu prometo que você não vai ouvir mais falar de mim – disse ele, chegando perto dela em uma distância respeitável. Jason parecia deplorável aos olhos dela. Queria sentir raiva dele como em alguns minutos antes, mas não conseguia. - Se vocês não são os mais fortes, então obrigatoriamente vocês devem ser os mais inteligentes. As propostas são todas muito boas, eu reconheço o seu esforço. Mas ainda estão tentando se basear em força, o que não é bem o forte da Devenementiel.

- Do que você está falando?

- Adeus, Ysa – disse ele sem nem olhar para trás. Ysaline obviamente não viu, mas Jason estava com os olhos brilhando. Completamente destruído.

Diferente do que achou que aconteceria, Ysaline não chorou. Apenas ficou encarando o teto de seu quarto, ainda sentindo o cheiro de Jason em seu robe. Alguns momentos dos dois juntos se passaram na cabeça dela e todos eles doíam em alguma parte diferente de seu coração.

Tentou se distrair daquilo com mais trabalho e foi olhar as mensagens de Thomas e Amanda.

E se surpreendeu quando não sentiu nem um pingo de remorso ou receio quando viu que os dois haviam descoberto sobre Jason e ela.

Thomas: Esse cara não presta. Não faz isso com você.

Amanda: Ysaline, eu não quero me meter na sua vida. Ainda que eu ache que ele não seja a melhor escolha para você, eu só venho pedir para não misturar os assuntos da empresa. Você sabe como ele pode ser traiçoeiro.

Ela deveria ter ouvido quando os dois estavam conversando fora da sala. Burra, completamente burra. Ainda assim, não poderia se importar menos. Não quando ela era a única fazendo alguma coisa naquela empresa. De qualquer forma, não era tempo para se preocupar com aquilo. Não às 21h.

Com um suspiro final, Ysaline adormeceu, implorando para que acordasse e nada daquilo tivesse acontecido.

***

- E foi isso... – Ysaline deu de ombros. O expediente de Nina já havia acabado faz tempo. Meu Deus, ela nunca pensou que fosse tão tagarela. Muito menos desabafar com uma estranha.

Aliás, estava prestes a se desculpar com Nina por tê-la feito de muro das lamentações, porém quando olhou para a garota, ela estava mais do que entretida. Ela apoiava uma mão na cabeça e seus olhos brilhavam.

- Você parece estranhamente entretida – comentou ela.

- Tá brincando? Essa foi a melhor coisa que me aconteceu no dia! Se todos os clientes tivessem uma história assim para me contar durante o expediente eu não estaria pensando seriamente em pedir demissão! – Nina suspirou fundo e então abriu um sorrisinho. – Sem falar que eu amo histórias românticas.

Ysaline abriu a boca, desacreditada.

- Mas não é uma história romântica, Nina! Esse cara quer me foder-

- E como... – Nina riu. – Esse Jason Mendal deve ser um gostoso!

- Nina!

- Com todo o respeito é claro! Não me entenda mal, por favor! – Pediu ela ainda risonha e Ysaline acabou por rir também. – Mas o que eu não entendo é porquê você tá tão relutante nessa situação.

Novamente, Ysaline a olhou como se Nina fosse doida. Ou não tivesse prestado atenção na história, o que ela não a culparia se fosse o caso, não era nem um pouco a obrigação dela.

- Porque ele recusou a minha proposta! – Respondeu ela.

- Mas ele disse que não poderia aceitar...

- E você acredita nele?

- Bom, eu não conheço ele – Nina considerou. – Mas pelo que você tava me contando, vocês sempre foram... honestos um com o outro.

- É, eu achava que sim.

- Quer dizer, se fosse qualquer um dos seus colegas de trabalho eu até diria que ele pudesse dar uma rasteira... Mas em você?

Ysaline suspirou.

- Era uma boa proposta, Nina. Ele sabia disso e mesmo assim... preferiu só recusar. Mesmo sabendo que era importante pra mim...

- Mas... – Nina pigarreou – você disse para ele separar as coisas não?

- Disse, mas-

- Ele separou – ela deu de ombros. – Você é quem não está separando... E eu sei bem o porquê você não está separando.

- Ah, é? Por quê? – Ysaline cruzou os braços.

Nina arqueou as duas sobrancelhas, parecendo surpresa.

- Espera, eu tava brincando. Quer dizer... você sabe que... Né? – Perguntou ela, meio incerta. Ysaline franziu a testa e balançou a cabeça como se dissesse “sei o quê?” Nina acabou por soltar outra risada nervosa. – Você sabe que tá apaixonada por ele, não é?

Ysaline abriu a boca, surpresa e ofendida.

- O quê?!

- Ai, que emoção! – Nina começou a se abanar. – Eu amo esse trabalho agora! Me sinto muito em uma cena de filme!

- Não! Claro que não! Apaixonada por ele? Óbvio que não! – Ysaline ia dizendo todas as variações daquela mesma frase enquanto Nina a observava com um semblante sonhador no rosto, o qual Ysaline estava odiando muito naquele momento. – Eu só... ele é como se fosse um amigo.

- Será que ele quer ser meu amigo também? – Nina provocou e Ysaline sentiu seu rosto esquentar de raiva. Mas não demonstrou porque só seria mais uma coisa que Nina iria amar saber. Aliás, por que ela estava com ciúmes mesmo?????????? – Continue, por favor.

- Eu gosto da competição – Ysaline disse, direta.

- Ué, então você deve estar nas nuvens, não? Afinal, ele meio que acabou com as suas chances.

- Estou considerando falar com a sua chefe nesse exato momento – Ysaline brincou e Nina deu risada. – Sei lá, eu só gostava da companhia dele. Ele não é tão irritante quando como está trabalhando. Aliás, quando ele vem lá em casa, a gente se diverte bastante assistindo filmes, conversando, provocando um ao outro...

Ysaline ia continuar, mas viu o olhar brilhante de Nina e parou.

- Talvez eu sinta algo por ele.

- Talvez? – Nina riu. – Tudo bem, já é um progresso.

Ysaline riu.

- Ai, ai, saudade de estar apaixonada – Nina disse. – Faz muito tempo que isso não acontece.

- Sério? Você parece a última das românticas pra mim.

- Fiquei meio traumatizada com esse lance de amor – contou ela.

- Sei bem como é... – e como ela sabia. – O que aconteceu com você?

- É uma história engraçada até – Nina riu de maneira nervosa. – Sabe aquele cantor famoso da Crowstorm? O Castiel?

Ysaline arregalou os olhos. Enquanto contava a sua história para Nina, nunca nem mencionou a banda ou o nome do Castiel. Havia apenas contado partes importantes como a reunião e o vibrador de calcinha. Prioridade, né?

- Mais ou menos – mentiu ela, incentivando para que Nina contasse.

- Ele é marido da minha chefe. Muito gente boa. Enfim, eu conheço ele faz tempo, desde a época que os dois ainda namoravam no Ensino Médio. Ele tinha uma banda com o, na época, amor da minha vida. O Lysandre... Eu era maluquinha por ele... Sério, na época que eles tinham a banda deles, eles fizeram um mega sucesso e eu ficava com muito ciúmes de todas as fãs que apareciam. Sabe de uma coisa? Eu acho que a Crowstorm só fez sucesso justamente porque existiu essa banda da escola!

- Nina... – Ysaline sorriu. – Você é um gênio!

- Sou? Quer dizer, é óbvio que sim! Mas por quê?

- Depois eu te conto! – Disse e saiu porta afora.

- Poxa, só porque estava na minha vez de me abrir... – bufou Nina.

Vendo que o expediente já tinha acabado, Nina buscou seu celular no bolso e abriu no Instagram, procurando o nome de Jason Mendal. Assim que viu a foto, ela deu risada e disse:

- É, eu tinha razão – e voltou aos seus afazeres.

Chapter 7: Negociação

Chapter Text

O bater incansável da caneta de Spencer estava começando a tirar Danica do sério. Normalmente, o rapaz apenas ficava ansioso em dias de apresentações ou quando Jason não elogiava o seu trabalho – fazendo com que ele ficasse em uma espiral de paranoia pensando que seria demitido ou pior: que Jason o odiava!

De qualquer forma, aquele não era nenhum dos casos. Jason estava conversando com o comitê da prefeitura durante aqueles dias. A única coisa de anormal – e que talvez fosse o motivo de Spencer estar tão inquieto – é que o CEO da Goldreamz havia convocado uma reunião junto ao prefeito. Afinal, a maioria das reuniões era Jason que se deslocava até a prefeitura. Não o contrário.

Danica não estava pensando muito sobre isso. Aliás, ela não conseguia pensar enquanto estivesse ouvindo aquele barulho irritante. Estava prestes a jogar sua bolinha de ansiedade bem na cara de Spencer quando a porta do escritório de Jason abriu.

Saíram de lá vários homens engravatados e o próprio prefeito, que não estava com uma das melhores expressões em seu rosto.

- Spencer – Jason chamou o funcionário, o qual se acendeu feito uma lâmpada. Danica quase soltou fogos de alegria. – Poderia acompanha-los até a porta, por gentileza?

- Será um prazer! – Spencer se pôs de pé em segundos e logo estava descendo a escadaria junto aos outros.

Aquele foi o primeiro sinal de que algo não estava em seu devido lugar, Danica pensou enquanto arqueou uma de suas sobrancelhas. Jason costumava ser bem diplomata quando se tratava dos clientes. O prefeito então? Nossa, Danica nunca viu alguém ser tão falso como Jason era com o prefeito. Spencer a corrigia dizendo que ele era diplomata e Danica concordava em partes. Jason tinha a habilidade quase única de ser falso em uma medida equilibrada sem perder a sua essência.

Enfim, fato era que não acompanhar os clientes até a porta – como ele sempre fazia – não era nada diplomático da parte dele. Nem falso. E aquilo chamou a atenção de Danica.

Ela precisava conversar com Jason sobre alguns relatórios de pesquisa que ele havia pedido ainda no começo da semana, mas aquele comportamento em especial a fez pensar se não poderia adiar um pouco aquela tarefa.

Porém, ela só teve certeza de que algo estava errado quando ouviu o instrumental de Sunsetz do Cigarrettes After Sex.

- Puta que pariu... – ela suspirou fundo enquanto revirava os olhos. Céus, como ele era dramático. Então, era disso do que se tratava.

Novamente, ela não teve muito tempo para pensar sobre isso, porque após a música parar, Jason saiu e disse que voltava em algumas horas. Danica ia voltar ao seu trabalho, porém logo viu Spencer correndo até a sua mesa.

Com os olhos arregalados – pensando seriamente em ser a oportunidade perfeita para jogar a bolinha nele – Dancia resmungou:

- Meu Deus do céu! O que deu em você hoje, hein?!

- Danica... – Spencer tentava dizer em meio a afobação. – Onde o Jason foi?

- Nossa, sem “Senhor Mendal” dessa vez? – Danica riu. – Estamos começando a fazer progresso hein, Spence!

- É sério! Onde ele foi?!

- Eu sei lá! – Danica revirou os olhos. Spencer choramingou enquanto buscava um copo de água. – Spencer, por favor não tenha um ataque cardíaco na minha frente. Eu faltei na aula de primeiros socorros e estou considerando deixar você morrer.

- Não me surpreende nenhum pouco! – Disse ele, finalmente recuperando o fôlego, porém ainda preocupado com alguma coisa.

Danica suspirou fundo.

- Vai logo! Me conta o porquê de você estar assim!

- Eu não! Ainda mais com as informações que eu obtive! – Spencer cruzou os braços.

Dai-me paciência! Danica pensou sentindo a bolinha das suas mãos querer escapar bem direto no nariz dele.

- Não vou insistir porque sei que a sua alma fofoqueira não vai aguentar por muito tempo.

- Eu não sou fofoqueiro! – Defendeu-se. – Mas eu vou falar. Só porque é caso de vida ou morte!

- Sério, é? – Danica riu, sabendo que não era o caso. – Vai, me conta!

Spencer contou e o sorriso no rosto de Danica murchou na hora, trocando para uma expressão muito surpresa no rosto.

- Ele fez o quê?

***

- Um café preto puro, por favor – Jason pediu sem muita emoção. Estava tão disperso em seus pensamentos, ainda repassando a última conversa que havia tido com Ysaline, que nem ao menos notou que a atendente estava o observando. Aliás, observando era mero eufemismo, porque a garota de cabelos loiros estava com os olhos tão arregalados de surpresa que estava até mesmo de boca aberta. Jason arqueou uma das sobrancelhas, tentando decidir se achava suspeito ou engraçado. – Me desculpe. Acho que não dei bom dia.

A moça então piscou os olhos algumas vezes.

- Não, não! Me desculpe, é que você não me é estranho – explicou ela, tratando logo de fazer o café na máquina. Café preto puro? Uau, Ysaline, ele realmente está na merda depois do seu fora, pensou Nina, vez ou outra observando Jason. Em uma delas, acabou notando que o homem também a analisava.

- Acho meio improvável – disse ele. – Não venho tanto aqui.

- Ah, é uma pena! Quer dizer, esse é o melhor café da cidade – Nina disse, meio atrapalhada. Ele não parecia ser o tipo de cara que iria chorar suas pitangas tão facilmente, como Ysaline mesmo havia feito. Mas quem sabe com um pouco de jeitinho... Nina levou o café até na mesa e comentou: - Você não me parece o tipo de cara que toma café preto puro.

Novamente, Jason a observou com curiosidade.

- Mesmo?

- Ah, sim! Na verdade, você me parece o tipo de cara meio formiguinha.

- Não é uma opinião popular – Jason riu educadamente. Novamente, não sabia se ficava incomodado ou se simpatizava com a moça. Mas a tendência mesmo era a simpatia. – Mas você está certa.

Nina deu de ombros e sorriu. Quando eu não estou certa?

- Depois de tanto servir cafés, acabei adquirindo um sexto sentido para a coisa – continuou ela, vendo que Jason havia lhe dado um pouco de abertura. Ia recolhendo algumas coisas nas mesas ao lado, uma segura distância para que ele não se sentisse sufocado. – Se estou certa e você está tomando um café puro, você deve ter tido uma semana daquelas, não?

Jason apenas riu fraco. No entanto, não havia um pingo de alegria ou graça. Nina tentava não analisar toda aquela situação, mas logo seus óculos cor-de-rosa, apaixonada pelo romance alheio, logo lhe caiam sobre os olhos e ela acabava se traindo.

- É... – Jason suspirou, deixando-se encostar um pouco na cadeira. – Acho que você acertou de novo.

Nina comprimiu os lábios.

- Sinto muito por isso – disse ela, com mais sinceridade do que ele poderia entender. Nina abriu a boca algumas vezes, pensando se deveria ou não falar alguma coisa. Quando viu Jason perceber, fingiu estar limpando a mesa que tinha acabado de limpar.

- É, eu também – disse ele. – Mas é a vida.

- Sim... – Nina suspirou, mordendo o lábio. Será que ela deveria falar alguma coisa? – Ela é como ela é, mas dá para viver em paz com isso.

- É...

Nina revirou os olhos. Ah, que se foda!

- Se me permite um comentário – começou ela com medo que ele dissesse um não bem grande e saísse sem deixar nenhuma gorjeta. No entanto, Jason apenas olhou para ela, esperando que ela continuasse. Tudo isso enquanto charmosamente bebia o seu café preto puro com gosto de morte. É, Ysaline, eu também ficaria indecisa entre as empresas por ele. – Eu acho que nem sempre as coisas são como são, sabe? Às vezes, nós passamos por algumas coisas que não conseguimos entender o todo, seja por termos apenas a nossa visão ou por algum mal-entendido...

Jason arqueou uma das sobrancelhas, suspeito. Nina engoliu em seco.

- Talvez esclarecer as coisas seja um caminho melhor – ela comprimiu os lábios. Não foi o melhor de seus conselhos, mas estava valendo.

- Bem específico eu diria – Jason riu. Não sabia se por achar graça dela ou se por coincidências da vida. – Você também joga tarot?

- Não profissionalmente – Nina riu.

Jason sorriu enquanto se levantava e ia até a vitrine de doces.

- Talvez você tenha razão... mas acho que tem coisas que estão claras demais para serem meros mal-entendidos...

- Será? – Perguntou ela. – Não podemos ler as mentes das pessoas. Mas conversando, podemos consertar as coisas. Quer dizer, entender de verdade.

Sua mancosa! Nina repreendeu-se mentalmente por ser tão óbvia, mas Jason apenas sorriu, pensando sobre aquilo.

- Acho que eu acabei de consertar.

Nina arqueou uma das sobrancelhas. Será que Ysaline ainda não havia passado ali para as duas fofocarem sobre?

De qualquer forma, Jason não levou nenhum doce, mas deu um sorriso de despedida. Quando Nina foi ver sua caixinha de gorjetas, ficou boquiaberta ao ver uma nota de cinquenta euros.

- Esse negócio está compensando demais.

***

Quando Jason voltou ao escritório, encontrou Danica bebendo um copo de água. Olhou em seu relógio e viu que já estava na hora do almoço.

- Danica, não vai almoçar?

- Já almocei – disse ela e pelo modo como tamborilava seus dedos em suas pernas, Jason percebeu que estava meio ansiosa. – Será que nós dois poderíamos conversar?

Jason pensou um pouco. Estava realmente tentado a aproveitar alguns minutos sofrendo ao som de sua playlist de fossa. Porém, Danica completou:

- Eu esperei o Spencer sair para poder conversar com você.

Jason arqueou as duas sobrancelhas.

- Entre.

Os dois caminharam até a sala de Jason e ela sentou-se na sua frente. Quando Jason sentou em sua cadeira, pediu para que ela dissesse:

- Bom, tem dois tópicos importantes que eu gostaria de conversar com você.

- Por que eu sinto que já sei dos dois?

- Sinceramente? Porque é muito óbvio, mas ainda assim eu preciso saber de você o que está acontecendo. Principalmente para poder controlar o Spencer depois.

Jason riu.

- Eu sabia que não ia demorar tempo para ele começar a dar algumas leves surtadas.

- É, mas dessa vez eu acho que devo dar um pouco de razão para ele, não?

- Não – Jason deu de ombros. – Se eu fiz o que fiz, é porque posso aguentar os riscos.

Danica suspirou.

- Ok, eu vou ser mais clara – Danica gesticulou com as mãos. – Eu sei o que está acontecendo. Como eu disse, é bem óbvio. E não sou só eu que sei.

- Prossiga.

Danica revirou os olhos.

- Lembra aquele relatório que você me pediu? Sobre o Thomas?

- Lembro.

- Pois é... Os dados que eu consegui é que ele andou vasculhando sim algumas das suas conversas com a Ysaline. Ainda que eu ache que não fosse necessário visto...

O misto de sentimentos nos olhos de Jason fez Danica parar por um instante. Tinha um pouco de desafio, uma pitada de escárnio e muita, mas muita tristeza. Era um pouco fascinante até. De qualquer forma, ela continuou:

-...visto a natureza do relacionamento de vocês.

Jason riu sem nem um pingo de graça. Relacionamento... era uma palavra engraçada quando ele pensava na última conversa que tiveram.

- Bom, ele não pode usar nada disso sem enfrentar um processo judicial, o que eu faço questão de acionar os meus advogados caso ele pense em fazer isso. Principalmente, se... – Jason pigarreou. – Bom, principalmente, se isso a prejudicar.

Com aquela frase, Danica não pôde evitar de sorrir.

- Ok, chefe, o que aconteceu com vocês dois? – Disse ela, assumindo um ar muito menos tenso do que há alguns segundos atrás. – Eu via o modo como vocês dois se olhavam e, devido as últimas informações, que eu quero muito discutir com você também, me pareceu bem sério.

- Danica, eu não entendi bem ou você está pedindo para eu falar sobre os meus sentimentos?

Danica riu.

- Qual é! Você estava quase colocando My Chemical Romance não tem nem duas horas. Isso é claramente um pedido de socorro.

Jason cruzou os braços.

- São músicas como qualquer uma outra.

- Claro – Danica zombou. Pensou na cara de Spencer se visse aquilo. Claramente ele ficaria completamente horrorizado com a cara de pau dela de perguntar algo assim para o chefe. E, claro, com muita inveja também.

- Impressionante... Você saiu da Devenementiel, mas a Devenementiel não saiu de você, não é? – Zombou ele e Danica revirou os olhos. – O Devon fazia rodinhas dos sentimentos? Só falava quem tinha um ursinho de pelúcia na mão? Vocês todos sentavam naquelas cadeiras de animais ou sentavam no chão?

- Você está fugindo do assunto...

Jason suspirou.

- Foda-se. Eu... tomei uma decisão um tanto... impensada. – Disse ele.

- A de hoje?

- Não – respondeu Jason, sério. – Eu falei bem sério sobre a decisão de hoje. Estou me referindo a da reunião que eu tive na prefeitura depois da reunião na Devenementiel.

Danica estreitou os olhos.

- Não sabia que você tinha ido até a prefeitura naquela tarde.

- É.. – Jason suspirou. – Eu fui conversar pessoalmente com o prefeito sobre a proposta que havíamos recebido. A Ysaline tinha me dado um relatório com tudo explicado, então eu já tinha uma ideia de como argumentar e-

- Você ia aceitar a proposta dela?

Jason sorriu, melancólico.

- Claro que eu ia – suspirou pesado. – Quer dizer, no começo da nossa... se você me fizesse essa pergunta há uns três meses atrás, ela poderia me trazer a proposta que fosse, eu não iria dar lucros para a Devenementiel nem que isso me trouxesse também. Mas a proposta dela era realmente boa e eu já estava imaginando como seria trabalhar com ela.

- Mas o prefeito não quis, não é?

Jason comprimiu os lábios e balançou a cabeça em negação.

- Eu nunca saí tão estressado de uma reunião antes – contou ele. Do céu ao inferno, pensou consigo. – Tentei argumentar de todas as formas possíveis e imagináveis, mas ele não quis dar ouvido. E, na verdade, é bem óbvio o porquê. O dinheiro sendo revertido para a cidade não seria tão benéfico para ele a curto prazo, se é que você me entende...

Danica assentiu.

- E você explicou isso pra ela?

- Não.

Danica arregalou os olhos.

- Ué? Por que, não?

- Bom, não é como se fosse relevante.

- Como não pode ser relevante, Jason?

- Porque ela não sente o mesmo que eu, Danica – ele disse um tantinho irritado. – Meu Deus, vocês realmente gostam de falar todos os sentimentos possíveis e imagináveis?

Danica riu, mas estava se sentindo mal pelo chefe. Uma coisa bem difícil de acontecer no mundo capitalista.

- Você acha mesmo isso?

- Sim e não – Jason deu de ombros. – Por um lado, eu conheço bem a Ysaline para saber que ela tem algumas questões pendentes devido aquele nepobaby do Ioan. Inclusive, como estão as negociações com a empresa rival dele?

- Muitíssimo bem – respondeu ela. – Inclusive, ouvi uns burburinhos por aí que o Sr. Munhoz não anda nada feliz.

- Ótimo – sorriu ele. – Enfim, e por outro lado... quando conversamos sobre isso naquela noite, ela pareceu estar muito mais incomodada por eu não ter aceitado o contrato. E, bom, ela também verbalizou que nós não tínhamos nada.

- E você acreditou? – Danica perguntou com um tanto de deboche. – Céus, você é pior que o Spencer.

- Ofensas de graça?

Os dois acabaram por rir.

- Tenho certeza que se vocês conversarem, vão se entender.

- Duvido muito. Não é como se eu tivesse desistido, mas quero deixar isso quieto durante um tempo.

Danica riu.

- Jason, você tem uma ideia de quieto bem diferente do comum, sabia? Isso o que você fez com certeza vai ter repercussão...

***

Surpreendentemente, naquele dia Thomas havia chegado no horário. Assim que Ysaline chegou, ele já foi até ela, enquanto Amanda a olhava com um olhar bem esquisito do tipo “eu literalmente SEI o que você anda fazendo fora do expediente”. Mas Ysaline não poderia se importar menos com o que os dois estivessem pensando sobre ela. Não quando ela tinha mais uma apresentação em mente para salvar a porra do after party.

- Bom dia, Ysa! O Devon convocou uma reunião agorinha! – Elenda disse passando por ela junto a Brune e Roy.

- Ótimo! Só vou arrumar umas coisas e já entro – disse ela. A outra sorriu e os três entraram na sala. Amanda foi alguns segundos depois. Ysaline deixou sua bolsa, pegou seu protótipo de novo relatório, caderno e seu celular. Quando estava prestes a entrar na sala, viu Thomas ao seu lado. – Bom dia, Thomas.

- Podemos conversar? – Perguntou ele, no mesmo tom de sempre.

- Na verdade, sim. Eu queria muito falar com você.

- Sério? Você não respondeu minha mensagem.

Ysaline riu.

- Porque claramente não é sobre aquilo que eu quero conversar.

Thomas a olhou sem entender muito bem.

- Eu não quis te ofender.

- Não ofendeu, porque até agora eu não sei do que você está falando – disse ela, dessa vez disfarçando muito bem. Talvez fosse mais fácil quando não tinha Jason ao seu lado a levando ao ápice com a porra de um controle remoto. – Enfim, eu preciso do telefone da sua irmã, Iris.

Novamente, Thomas não entendeu nada.

- A Iris?

- É. Pode me fazer esse favor?

- Claro, mas-

- Ótimo! – Disse e foi até a sala de reunião.

Negue, negue, negue. Foda-se.

Entrando na sala de reunião, evitou novamente o olhar de Amanda e sentou-se ao lado de Elenda. Thomas entrou logo após ela e tomou o lugar onde ela normalmente se sentava. Se ela não estivesse destruída emocionalmente, até acharia engraçado os dois a olhando com tanta atenção.

Não teve tanto tempo para pensar sobre isso, pois logo Devon entrou na sala. Com um semblante... esquisito no rosto.

- Bom dia, pessoal!

- É mesmo um bom dia? – Roy perguntou. – Você tá com uma cara...

- O que aconteceu, Devon? – Elenda perguntou.

- Na verdade, eu não sei com que cara eu estou porque até agora eu não sei exatamente o que está acontecendo.

Ysaline franziu o cenho.

- É algo grave?

- Não, muito pelo contrário.

- Ai! Tá me dando ansiedade! – Elenda exclamou, divertida. – Fala logo!

- É, Devon! – Brune a acompanhou.

Devon sentou-se então e começou a dizer:

- Bom, novamente, eu não sei ainda muito bem o que está acontecendo porque eu acabei de receber a notícia, mas aparentemente teve uma mudança brusca em relação ao evento da prefeitura.

Ysaline sentiu os olhos de Thomas e Amanda queimarem a pele dela.

- Estava até agora conversando com o assessor do evento e ele me disse que a prefeitura teve uma reunião com a Goldreamz hoje pela manhã e que a Goldreamz não está mais como organizadora oficial do evento.

Todos olharam para eles surpresos. Ysaline, então, era a mais boquiaberta entre todos.

- O Jason foi pego fazendo alguma coisa ilegal, não é? – Roy perguntou.

- Não – Devon riu, nervoso. – Na verdade, foi ele quem pediu para a empresa deixar o evento. E não só isso...

- O que mais? – Amanda perguntou.

- Ele deixou a Devenementiel como indicação.

Um silencio absurdo encheu aquela sala. Ysaline sentiu seus olhos marejarem. Engoliu em seco algumas vezes, antes de tomar a compostura e perguntar:

- Ele fez o quê?

Chapter 8: Insight

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Ysaline apenas se deu conta do fim da reunião quando Thomas tocou em seu ombro. Ela olhou para o rapaz confusa e viu que todos já estavam se levantando. Seu caderno de anotações, costumeiramente tão cheio de tópicos e ideias mirabolantes, não havia um rabisco sequer. Tudo isso porque não conseguia tirar sua cabeça de que Jason havia desistido do projeto por ela.

Pelo que Devon tinha explicado, a Goldreamz tinha realizado uma reunião naquela manhã com todos os representantes da Administração Pública, formalmente comunicando a sua desistência e dando ciência a todos os encargos que aquela decisão poderia acarretar.

Se fosse esse o fim, Ysaline já estaria mais do que surpresa, mas não parava por aí. A cessão da contratação para a Devenementiel como empresa organizadora dependia da autorização da prefeitura e, claro, de Devon –  que aceitou assim que recebeu a ligação. E devido a aceitação da prefeitura em ceder o contrato para a Devenementiel, Jason teve que convencer todos os executivos e apresentar documentação de que a Devenementiel atendia a todos os requisitos solicitados pela licitação original. Era quase como se ele tivesse feito uma apresentação com tema: Motivos para contratar a Devenementiel.

A empresa que ele jurou reduzir a pó.

Ysaline não conseguia acreditar.

Era quase como um sonho. E, estranhamente, ela não estava feliz.

Quando estava saindo da sala de reuniões, Thomas e Amanda vieram falar com ela, pedindo para conversar. A postura deles era genuína e até que amigável. Talvez a cara dela não estivesse uma das melhores para que ele agisse de outra forma. Ou nunca tivesse sido a intenção deles repreendê-la. Mas nada disso importava naquele momento e Ysaline educadamente pediu que deixassem para depois. Não tinha cabeça nenhuma para aquilo e ela se dirigiu para o único lugar que a faria pensar melhor.

***

Para a infelicidade de Lynn, o movimento no Cosy Bear não estava sendo um dos melhores. Nina, então, nem se fala! Nada pior para ela do que ficar naquele café a beira das moscas, sem nenhuma fofoquinha sequer para comentar ou alguma coisa para fazer. Teoricamente, ela poderia estudar para suas provas da faculdade nesse meio tempo, mas seria contra sua “forte” ética de trabalho – leia-se: ela estava com muita preguiça para estudar.

Por isso, quando Ysaline entrou pela porta daquele café, ela praticamente dançou de alegria.

– Eu SABIA que você iria aparecer por aqui hoje! – Nina caminhou dando pulinhos e batendo palminhas, quase parecendo uma criança ao chegar a hora do recreio. – Na verdade, se você não viesse eu seria obrigada a te mandar mensagem!

– Como assim? – Ela perguntou enquanto se sentava ao balcão. Uma parte dela estava curiosa e a outra só conseguia pensar que toda a sua tristeza seria curada com aquele cupcake de morango que estava na vitrine, o qual Nina prontamente a entregou.

– Já tá sentadinha? – Perguntou ela, mas antes que Ysaline pudesse responder, Nina contou: –  O JASON PASSOU POR AQUI!

Os olhos de Ysaline se arregalaram tal duas bolas de golfe.

– O QUÊ? QUANDO?

– HOJE! – O sorriso de Nina e o seu entusiasmo eram como se ela tivesse encontrado uma celebridade. Mas não era para pouco, afinal, pela história que Ysaline contou, era como se ela estivesse conhecendo os personagens da sua fofoca favorita. – E ele estava na mer– da!

– Ah, meu Deus... – Ysaline colocou as duas mãos em seu rosto.

– Juro, você tinha que ver! Ele pediu um café preto puro! Já tomou café preto puro? Aquilo tem gosto de morte! Quase me recusei a fazer um para ele. Sabe como é... não estou nenhum um pouco a fim de ser acusada de auxiliar um suicídio.

– Isso não faz o menor sentido! – Nina quase não conseguiu entender devido a voz de Ysaline ter saído abafada pelas mãos.

– Claro que faz! Porque o café tem gosto de morte e–

– Não, Nina! – Ysaline finalmente levantou a cabeça. – O Jason desistiu do contrato! Por minha causa!

Se Ysaline não estivesse praticamente chorando na frente dela, teria rido do modo como Nina abriu a boca completamente em choque e até mesmo colocado a mão no coração, quase como se estivesse sentindo a dor da amiga.

– Meu Deus... – Nina suspirou, antes de fazer um beicinho fofo. – Isso é tão romântico!

E foi o necessário para que Ysaline revirasse os olhos, ainda que um riso melancólico tivesse escapado de seus lábios. Aquela garota era realmente inacreditável!

– Espera, então deve ter sido isso o que ele quis dizer quando disse que iria consertar as coisas! – Disse ela colocando sua mão no queixo tal qual um Sherlock Holmes juntando todas as informações.

Ysaline fez uma cara confusa enquanto assoava o seu nariz em um guardanapo que havia pegado no balcão.

– Como assim?

– Bom... – Nina sentou– se ao lado dela ao balcão, cruzando as pernas. – Quando ele entrou aqui eu o reconheci logo de cara porque, né? Eu dei uma leve stalkeada... – Nina coçou a orelha enquanto ria nervosa. Vendo Ysaline levantar uma das sobrancelhas de forma meio assassina, Nina apontou o dedo para ela.  – Sem ciúmes, ok? Eu sou curiosa!

– Ciúmes? – Ysaline riu forçada e foi a vez de Nina a olhar de forma assassina. – Desculpa, força do hábito... Pode continuar.

– Ok, ok! Bom, você sabe como eu sou, não é? Não consigo calar a boca nessas situações, então tentei puxar um assunto com ele por causa do café preto puro. Para ser bem sincera, eu nem esperava que ele fosse de fato responder, mas ele começou a falar coisas meio deprê. Do tipo, ai “a vida é como ela é” e dava para ver na cara dele que ele queria muito que um caminhão atropelasse ele. Ou um abraço. Sei lá! Não consegui distinguir e também não ofereci o abraço! EM RESPEITO A VOCÊ, CLARO!

Ysaline riu. Apenas Nina para tirá-la do marasmo completo. Havia ido ao lugar certo. Enquanto Nina ia contando o resto da passada de Jason no Cosy Bear da maneira mais animada possível – tendo dificuldade em respirar entre dois monólogos – Ysaline ia se sentindo mais incomodada com toda aquela situação.

–  E ele ainda me deu uma gorjeta GORDA! Cinquenta euros! Tem noção disso? O máximo de gentileza que eu recebi de um cliente desse café foi não terem cuspido na minha cara quando trouxe um café errado! Esse homem é um anjo!

Ysaline fungou.

– Jason Mendal pode ser muitas coisas nessa vida, mas anjo definitivamente ele não é – disse ela, comendo um pedaço de seu cupcake enquanto apoiava seu cotovelo no balcão. Nina não quis rebater, ainda estava pensando no que iria gastar com aqueles cinquenta euros extras. Só voltou a prestar atenção quando Ysaline suspirou fundo. – Eu não consigo entender esse cara...

Nina também deixou um suspiro escapar.

– Por que foi tão ruim ele deixar o contrato para vocês? – Perguntou ela, confusa. – Não era isso o que você queria desde o início?

Ysaline ficou um tempo em silêncio, pensando na resposta. Sim, no começo ela faria de tudo para aquele contrato vir para as mãos dela, para que a Crowstorm pudesse participar do after party sem quaisquer amarras... Mas agora ela não só tinha o contrato e a exclusividade da banda, também tinha um outro evento inteiro para comandar.

– Não queria que ele tivesse feito isso – disse ela, por fim. – Não me parece... certo.

– Mas... – Nina pigarreou. – Ele não tinha pego o contrato de exclusividade da banda?

– Tinha, mas... Sei lá, tantas coisas aconteceram depois disso – Ysaline deu de ombros. – Nós somos de empresas rivais e o nosso relacionamento não deveria interferir nessas contratações. Tanto é que depois eu me esforcei demais para vir com toda uma nova proposta para que nós pudéssemos dialogar, porque é assim que se fazem acordos.

Nina comprimiu os lábios.

- Ele provavelmente deve ter condições de arcar com essa desistência.

- Não se trata do dinheiro – Ysaline explicou. – Jason também não é burro de lidar com um risco que ele não pudesse arcar.

– Hmm, então você tá chateada porque ele desistiu da competição entre vocês?

– Não... Quer dizer, eu não sei... – Ysaline engoliu em seco e sentiu um nó se formar em sua garanta. – Teve uma vez que nós estávamos lá em casa e, bom, o assunto de trabalho acabou surgindo. O modo como ele falou da Goldreamz pra mim... – ela precisou suspirar pela lembrança estar quase tão nítida quanto a imagem de Nina a sua frente. – Ele ama demais aquela empresa. Não é à toa que seja uma das melhores da cidade. Me incomoda demais que ele tenha desistido de uma contratação... por minha causa.

Causava estranheza a ela o modo como aquela situação toda seria impensável a três meses atrás.

- E... Céus, vai soar muito estúpido o que eu vou dizer agora – continuou ela, passando uma das mãos em sua testa. – Mas desde a nossa última conversa, eu não tenho notícias dele e isso tá me deixando maluca!

Nina a olhou surpresa.

– É ridículo porque antes mesmo da gente ter começado com esse segredo, eu não conseguia dar nem um passo nessa cidade sem me encontrar com ele – um sorriso melancólico se abriu em seus lábios, lembrando-se de quando encontrou com Jason no parque depois de um péssimo dia de trabalho. A imagem logo foi substituída pelo modo como ele a olhou naquela noite. Nunca tinha visto Jason daquele jeito. Passou tanto tempo ouvindo tantas coisas horríveis sobre ele que jamais pensou que pudesse de fato machucá-lo. – Mesmo que ele já tivesse me dado a resposta, ele iria pelo menos mandar um e-mail formal recusando a proposta, que seria pelo menos um sinal de vida ou qualquer merda! Mas agora nem isso...

Nina soltou um riso fraco.

– Acho que isso é saudades... – disse ela fazendo com que Ysaline voltasse seu olhar para a amiga. – Quer dizer, tem um pouco de ego ferido por causa de todos esses negócios, que, se me permite dizer, vocês vão ter que resolver na terapia... Mas é, você tá com saudades. Muuuita saudade.

Ysaline torceu o nariz, tentando evitar o choro que ela estava reprimindo desde a discussão deles.

– Eu estaria mentindo se dissesse o contrário – confessou Ysaline. Nina respeitou que ela estava mais sensível para não dar um surto com a amiga chegando finalmente a fase da aceitação. – Sinto falta até mesmo de quando ele me tirava do sério.

Divagando mais um pouco, Ysaline continuou:

– Ainda não consigo acreditar que ele desistiu do contrato! – Exclamou ela, dessa vez com raiva. – Se ele iria desistir, por que não aceitar a minha proposta? Nem ao menos teríamos brigado! É tão absurdo assim a ideia de nós trabalharmos juntos uma vez na vida?

- Na verdade, é um pouco sim – Nina respondeu. – Do jeitinho que vocês são é capaz que se matassem no mesmo dia ou, é claro, não trabalhassem um minuto sequer.

Ysaline sorriu com um pouco de malícia. É, era verdade. Esse era um dos motivos pelos quais ela jamais iria para a Goldreamz. Apesar de tudo, amava trabalhar na Devenementiel. Mesmo que muitas vezes ainda não se sentisse parte da grande família que o grupo havia se tornado ao longo dos anos. “Agradecia” isso a Ioan, que arruinou qualquer tipo de confiança que ela pudesse ter em alguém.

Mas ela vinha melhorando isso aos poucos. Caso contrário, jamais estaria se abrindo com Nina.

– Acho que você vai ter que perguntar para ele.

Aquele pensamento a fez torcer o nariz. Não era como se ela não quisesse ouvir o lado de Jason. Ela queria e muito! Mas tinha algo nessa situação de ir até ele que a lembrava de traumas passados. Quantas vezes Ioan tinha pisado na bola e ela ainda precisou pedir desculpas? Aquilo a deixava apavorada.

Mas Jason não era Ioan.

Ioan era um canalha asqueroso que havia a traído com todas as pessoas do escritório. Aquele que fazia tudo para escondê– la como se ela fosse motivo de vergonha. Ysaline para ele era apenas mais um número. E por falar em números, nunca que Ioan desistiria de um negócio inteiro por ela. Ainda mais para um suposto rival... Céus, Devon deveria estar tão confuso.

– Talvez seja pela teimosia dele – Ysaline supôs.

– Depois de ele desistir de um negócio de bandeja para a empresa que ele odeia? Aquele cara? – Nina riu. – Duvido muito.

– Então, por quê?

–  Só perguntando para saber! E assim que você perguntar... Você precisa me contar porque eu não vou nem dormir direito de ansiedade!

Ysaline riu.

– Eu não sei se ele quer falar comigo.

O sorriso de Nina se desfez no mesmo instante.

– Ysaline, não me obrigue a te esculachar.

– Ok, parei – disse ela e as duas riram. – Mas e você? Não tem mesmo alguém especial para deixar esse coraçãozinho fofoqueiro abalado?

Nina sorriu.

- Infelizmente, ninguém é interessante o suficiente para me deixar obcecada. O que é ótimo! Não quero ficar mais obcecada por ninguém.

Ysaline arqueou uma das sobrancelhas, curiosa.

- Você disse que tinha se apaixonado pelo cara daquela banda da escola, né? – Perguntou Ysaline e Nina assentiu. – Me conta! Preciso muito me distrair!

- Só porque você é a minha cliente favorita – Nina disse e Ysaline se ajeitou na cadeira. – Mas saiba que é uma longa história. Provavelmente levaria, sei lá, quarenta episódios...

***

Ainda que Nina tivesse conseguido melhorar um pouco o seu humor e a distraído da catástrofe que era sua vida amorosa, Ysaline ainda sentia-se um tanto “fora do ar” enquanto andava de volta para a Devenementiel. Quando acordou pela manhã, jurava que seu dia seria preenchido em reestabelecer outros planos para o after party com sua nova ideia. Nunca nem passou pela sua cabeça que teria que organizar o próprio festival de verão. Muito menos ter que lidar com toda a hipocrisia desse evento...

Estava tão pensativa que nem ao menos viu quando um carro veio na mais alta velocidade.

Provavelmente, teria a atingido em cheio se não fosse por Jason, que a puxou com tudo para a calçada novamente.

O carro até mesmo havia passado no sinal vermelho! Enquanto Ysaline se recuperava do susto e reconhecia Jason, ele a olhava com muita preocupação.

- Você está bem? – Perguntou ele com dificuldade. Sua respiração estava inquieta devido ao susto e a urgência.

Ysaline não respondeu de pronto. Ainda estava perplexa que estava vendo Jason em sua frente. Uma parte dela só queria pular em seus braços, beijá-lo não importava quem fosse assistir. E outra queria gritar com ele por toda a confusão que vinha fazendo em sua vida e a deixando maluca.

- Ysaline? – Jason a chamou de seu transe e ela piscou os olhos.

- Sim, estou bem – assentiu com a cabeça, ainda o observando como se ele fosse um fantasma. Talvez fosse puro exagero, mas os dois haviam passado tanto tempo juntos nos últimos meses que era quase impossível não estranhar a ausência de um único dia. Que dirá dois.

Certificando-se que ela estava bem, Jason voltou a ajeitar sua postura novamente, balançando a cabeça algumas vezes indignado.

- Precisa tomar mais cuidado – Ysaline não gostou da forma como ele havia dito aquela fala. E ela lá tinha culpa que o motorista fosse um louco varrido? Porém, sua atenção nem insistiu muito nisso, porque reparou o modo como os lábios dele quase pronunciaram um “gatinha” e ele no mesmo instante se conteve. Aquilo a deixou mais chateada do que ela pensava que algum dia ficaria.

Aliás, era nítido no modo como ele estava olhando para Ysaline como ele estava se contendo de muitas coisas.

Mas parecia ser mais forte que ele.

- Quer que eu te acompanhe até a Devenementiel? – O tom de Jason tinha um quê de provocação, Ysaline sabia que ele não havia dito de forma séria porque ela com certeza recusaria.

Em outros tempos, ela responderia: Já sou bem grandinha, não acha?

- Quero – nenhum dos dois acreditou quando ela respondeu isso.

Não era nem ao menos um caminho muito longo a se percorrer e ainda assim os dois caminharam lado a lado em silêncio. Ysaline vez ou outra olhava para Jason, verificando se ele iria falar alguma coisa ou pelo menos quebrar o gelo, mas ele continuou olhando para a frente.

Então, ela mesmo tentou quebrar o gelo...

- Está me seguindo? – Da pior forma possível. Era para sair em tom de brincadeira, mas ela estava confusa demais com tudo para dosar. Repreendeu-se internamente, pensando o que caralho ela estava fazendo? Onde estavam todas as suas habilidades sociais? Os dois literalmente já haviam se visto completamente nus incontáveis vezes, por que ela estava tão nervosa na frente dele?!

Jason soltou um riso pelo nariz.

- Não – respondeu ele. – Eu nem quero a sua atenção... tanto assim.

Ysaline sorriu com a birra dele. Céus, ela não conseguia parar de olhar para ele.

- Apenas um acaso do destino – Jason pigarreou logo em seguida, cruzando os braços.

- Que nem aquele dia da chuva – Ysaline disse antes que seu cérebro pudesse a interromper. Ele pareceu confuso por alguns instantes.

- É – Jason concordou antes de assumir um tom de quando ele falou com Elenda uma vez. Ou seja, era meio desagradável, mas não tanto quanto era com Devon ou Roy. – Acho que seu anjo da guarda tenha saído de férias.

- Ou talvez você seja o meu anjo da guarda.

O modo como os olhos de Jason se suavizaram com o que ela disse fez Ysaline ter vontade genuína de chorar. Não conseguia entender absolutamente NADA do que estava acontecendo.

- Não acho que eu me encaixo na categoria anjo – disse ele depois de um tempo. Haviam chegado a praça em frente a Devenementiel. – Entregue. Acho que você consegue caminhar até lá sem ser atropelada, não?

Ysaline ia responder, mas Jason estava até mesmo indo embora.

Ela pegou seu braço com delicadeza, ainda que estivesse sem muita paciência. Jason virou-se para ela na mesma hora e Ysaline sentiu o corpo dele relaxar ao seu toque.

- Sério que você vai embora sem me explicar o que está acontecendo? – Perguntou ela, magoada. - Ou do porquê ter feito aquilo?

Jason soltou um arzinho pelo nariz, olhando para ela do mesmo jeito de sempre. Ysaline ficou observando enquanto ele dava alguns passos a mais em direção a ela, deixando tão próximos que as respirações dos dois inevitavelmente se misturaram.

- Achei que eu tivesse dito o porquê naquela noite – sussurrou ele no ouvido dela. Ysaline fechou os olhos por alguns segundos, apenas ouvindo a voz dele.

Ao sentir ele se distanciar um pouco, Ysaline inclinou a cabeça para o lado, tentou controlar o tremor de seus lábios.

Ela não queria isso.

Era bem óbvio o que ela queria.

Quem ela queria.

- Jason-

- Eu adoraria te lembrar, mas seus coleguinhas vieram te buscar – Ysaline viu quando ele inclinou a cabeça indicando Thomas perto a porta.

Ela nem ao menos tentou argumentar. Jason já havia atravessado a rua.

Com um nó na garanta, ela dirigiu-se a porta do prédio, onde Thomas a esperava.

- Você tá bem?

Ysaline olhou para trás, verificando se ainda conseguia ver Jason mesmo de longe, mas não havia nenhum resquício dele.

De repente, começou a sentir seu corpo ficar quente. Estava com raiva.

Jason não deveria ter desistido.

A desistência dele não combinava com a Goldremz.

A desistência dele não deixava margem para o real potencial da Devenementiel.

A desistência dele não combinava com ele.

E aquela pequena interação definitivamente não era eles.

E, claro, como boa teimosa que Ysaline era, não poderia deixar isso perdurar por nem mais um segundo.

- Não – respondeu ela com um suspiro, porém decidida. – Mas eu vou ficar e você vai me ajudar nisso.

Thomas arqueou uma das sobrancelhas, confuso.

- Vamos entrar – pediu ela. – Temos muitas pesquisas e ligações para fazer.

Chapter 9: Turnaround

Notes:

OIOI <3 Tudo bem?

Gente, a minha vida está um CAOS. Mas eu estou viva (mais ou menos também, com essa crise climática, política e existencial as vezes eu sinto que não MAS ENFIM!).

Resolvi postar esse mini capítulo (SIM, não é o último porque eu sou uma procrastinadora MASTER) apenas para não deixarem vocês sem nada por mais um mês. Nem vou dizer que pretendo atualizar o quanto antes porque eu realmente tô me organizando por aqui com tudo. O trabalho tem me deixado bem cansadita e sem condições de escrever. Sem drama mas eu tô odiando a minha escrita nesse momentokkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Enfim, apesar de tudo, eu espero que vocês gostem!!

Antes de terminar, eu só queria deixar aqui a minha FELICIDADE de Ainda Estou Aqui ter ganhado Oscar de Melhor Filme Internacional. Que alegria é poder ver o nosso cinema nacional, tão lindo, tão importante, ser reconhecido. Que isso só sirva para que o nosso povo dê mais valor as nossas maravilhas do nosso país também. VAI BRASIL!!!

Boa leitura!!

Chapter Text

Jason era o único pensamento de Ysaline. Odiava como sua mente contornava todas as suas responsabilidades para desenhar o rosto dele. E em todas as vezes sentia seu coração se apertar quando o imaginava com o semblante que havia visto na rua.

Diferente dos outros dias, simplesmente se matar de trabalho não a distraía da saudade que sentia dele – o que meio que significava que Nina estava mais do que certa, mas enquanto ela pudesse negar aquela possibilidade tão alarmante, ela negaria. Afinal, não era como se Jason Mendal não fosse um belo de um teimoso e estivesse querendo falar com ela.

Pelo menos, ele não tinha mandado uma mísera sequer mensagem.

Ysaline tinha todos esses sentimentos e pensamentos enquanto Thomas vez ou outra a encarava pela tela do computador.

Que situaçãozinha agradável...

Parecendo ler os pensamentos dela, Thomas quebrou o silêncio:

- Ainda não entendi o que você quer fazer – Thomas suspirou, alongando os braços. Ysaline o olhou rapidamente antes de voltar sua atenção para o relatório escrito no Google Docs. Devido a estar com um tantinho de birra, sua vontade era responder que estava surpresa que ele mesmo não houvesse descoberto sozinho, afinal, ele era bom nisso. Parecia descobrir as coisas antes mesmo dela serem pensadas!

Observando o amigo, porém, Ysaline pôde perceber que o cansaço já estava começando a vencê-lo. Também, não era para menos, afinal, os dois estavam naquelas mesas há pelo menos três horas sem nenhum intervalo sequer. Tudo isso porque Ysaline era uma maluca, maníaca por controle e com uma leve tendência de carregar o mundo em suas costas.

– Isso tudo é por causa do Jason? – Ele nem ao menos a deixou responder a outra provocação.

Ysaline ajeitou a postura e continuou a destinar sua atenção para a tela brilhante do computador. Assunto sensível, Thomas nem sabia o porquê de insistir, sendo que Ysaline iria mudar de assunto.

– Não – respondeu ela, seca, para a surpresa dele. Ou meia-surpresa. Sei lá.

De qualquer forma, aquela era uma meia verdade.

Era por causa de Jason? Sim.

Totalmente por causa dele? Não.

Mas se fosse colocar em estatísticas...

– Então, por que nós estamos trabalhando como se o projeto da prefeitura não fosse nosso?

Era uma ótima pergunta, na verdade.

– Porque o que vem fácil, vai fácil – disse enquanto continuava a digitar.

Thomas soltou um arzinho pelo nariz. Tão expressivo que era como se Ysaline pudesse ouvir “que desculpinha esfarrapada...

A sorte favorece a mente bem preparada – Ysaline o ouviu dizer e balançou a cabeça. - Louis Pasteur.

O acaso governa todas as coisas – suspirou ela, fechando o notebook a sua frente e o olhando nos olhos novamente.  – Heródoto.

Thomas arqueou uma das sobrancelhas. Quando Ysaline estava prestes a se declarar vencedora daquela pequena troca de farpas, Thomas ressuscitou a conversa, dizendo:

– E o que me diz sobre “sentir pena do culpado é traição aos inocentes”?

Ysaline se segurou para não revirar os olhos na cara dele e rebateu:

Diante do Senhor, ninguém é inocente – dito isso, Ysaline sorriu ao ver a caretinha de Thomas. – Salmo 143:2.

– Não sabia que era religiosa...

– Não sou-

– E nem que ele era tão importante para você.

Ysaline nem tentou disfarçar. Nem tinha o porquê também, afinal, Thomas de fato sabia o que estava acontecendo. Pelo menos ele não parecia a olhar com nojinho que nem Amanda estava fazendo – ainda que ela fosse extremamente educada, era perceptível como a nova descoberta transparecia em seu rosto mesmo que não fosse essa a intenção. Mesmo com as provocações, Ysaline permaneceu quieta.

- Não sei o que aconteceu entre vocês dois – Thomas continuou. Ysaline pensou como ele era corajoso por estar cutucando a onça com a vara curta. Ainda mais quando ela estava vindo de uma semana daquelas... Mas talvez fosse ela que não estivesse em posição nenhuma para fazer qualquer tipo de comentário. – Sinceramente, ainda acho que ele é uma pessoa com um caráter extremamente duvidoso, mas de todas as pessoas, acho que você é a única que eu não teria receio de se envolver com ele.

Ysaline arqueou uma das sobrancelhas. Ok, aquilo era novo.

– Não foi isso que eu entendi da sua mensagem – disse ela, cuidadosa. Novamente calculando as suas respostas. Thomas percebeu isso e Ysaline percebeu que ele tinha percebido.

Talvez se fosse um tantinho mais nova nessa questão de empresa família ficaria decepcionada de não poder tratar seus colegas de trabalho como a família que eles queriam que ela participasse. Mas aquilo não existia em contexto nenhum. Ysaline suspeitava que até mesmo Thomas se sentisse assim em alguns momentos. Se não fosse o caso, não teria porquê ele ser tão investigador com as pessoas que estava ao redor dele.

– Bom, eu tinha mandado aquela mensagem antes do contrato voltar para gente... – respondeu ele e Ysaline riu um tanto ofendida. – Pra mim, na verdade é um alívio que você não seja manipulável por ele e que esteja no controle.

Controle – Ysaline voltou a rir. Com raiva, dessa vez. Não exatamente do colega, mas pela suposição de uma situação que definitivamente não era uma realidade na vida dela. – Se tem uma coisa nessa vida que eu não tenho é controle.

Thomas arqueou as sobrancelhas, curioso.

– Bom, pelo menos nessa situação você teve.

– Óbvio que não! – Exclamou Ysaline. Que se foda! – Sinceramente, Thomas! Não importa o que você ache que aconteceu, você não sabe sobre tudo! Se soubesse, ia entender que nada do que está acontecendo agora é por minha vontade!

A expressão do rosto do colega ainda estava confusa e aquilo estava começando a confundir Ysaline também. Por que diabos ele estava olhando para ela como se ela não soubesse algo?

A paranoia finalmente havia a atingido em cheio? Ela precisava urgentemente de cinco dias de sono ininterruptos.

– Ysa – Thomas começou a dizer sem muita emoção e com a cautela de quem também estava entendendo as coisas. – Não foi você quem pediu para o Jason desistir do contrato com a Prefeitura?

Ysaline revirou os olhos.

– Não! – Riu com desespero. – Quem me dera ser a grande manipuladora que vocês acham que eu sou!

– Então, o Jason só voltou atrás por livre e espontânea vontade?

– Você acha mesmo que eu fiquei falando “Jay-Jay, será que você pode, por favorzinho, desistir do contrato?” – Ysaline fez um beicinho irônico e voltou a bufar de raiva. Thomas não sabia se ria da imitação dela ou se fazia uma careta de nojo por de fato imaginar os dois naquele contexto. – Óbvio que não! Seria ridículo, humilhante e vai contra todos os meus princípios como feminista!

–  Concordo – Thomas suspirou e deu de ombros. – Não faz o seu estilo. Só achei que... Bom, como o Prefeito recusou a proposta da Goldreamz em aceitar o nosso plano, você-

Os olhos de Ysaline se arregalaram de tal forma que até mesmo Thomas havia parado de falar.

E lá estava a última peça do quebra-cabeça.

– Você sabia disso, não é?

–  Puta merda – ela disse, descrente de como não tinha visto aquilo que era tão óbvio. Ela voltou a olhar para Thomas. – Mas... Como você soube disso?

Thomas sorriu.

– Você não é a única que tem suas ligações com a Goldreamz.

Ysaline abriu a boca para reclamar, mas acabou soltando apenas uma risada.

–  Danica?

Thomas balançou a cabeça.

– Ela não é muito do xadrez...

***

Nina: eiii, você tá bem?

se tiver ainda meio sad vibes vamos fazer alguma coisa juntas!!

ou se resolve logo com o bonitão para podermos ter novas fofocas.

enfim, fica bem, ysaaa <3

Ysaline: hoje eu não vou poder MAS AMANHÃ EU ATUALIZO VOCÊ

Nina: que animação é essa???

MEU DEUS!

VOCÊS VOLTARAM???

YSALINE VOLTE AQUI IMEDIATAMENTE!!!!!!!!

***

Jason tinha acabado de sair do banho quando ouviu o interfone tocar. Não estava com um dos seus melhores humores naquela semana – se é que ele algum dia esteve com pleno bom humor – e enquanto colocava sua calça moletom preta para atender quem quer que fosse rezou veementemente para que não fosse Spencer aparecendo do nada para lembra-lo de algo do trabalho ou – pior – lembrá-lo o bom funcionário puxa-saco que ele era.

Procurou o relógio da cozinha com os olhos e viu que se tratava de 22h da noite. Se de fato fosse Spencer, a cabeça dele iria rolar. Não importava quão bom funcionário fosse ou o quanto inflava o ego já inflado do patrão. Colocou seu roupão e foi em direção a porta para expulsar qualquer pessoa que pretendesse o tirar do seu marasmo pessoal.

E, para falar a verdade, Jason esperava que fosse qualquer um.

Qualquer pessoa.

Puta que pariu, poderia estar Devon Okere ou Roy Aquino na sua frente e ainda assim ele não ficaria tão surpreso quando viu Ysaline ali parada a sua frente.

Chapter 10: Turnaround

Notes:

OIOI <3 Tudo bem?

Gente, a minha vida está um CAOS. Mas eu estou viva (mais ou menos também, com essa crise climática, política e existencial as vezes eu sinto que não MAS ENFIM!).

Resolvi postar esse mini capítulo (SIM, não é o último porque eu sou uma procrastinadora MASTER) apenas para não deixarem vocês sem nada por mais um mês. Nem vou dizer que pretendo atualizar o quanto antes porque eu realmente tô me organizando por aqui com tudo. O trabalho tem me deixado bem cansadita e sem condições de escrever. Sem drama mas eu tô odiando a minha escrita nesse momentokkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Enfim, apesar de tudo, eu espero que vocês gostem!!

Antes de terminar, eu só queria deixar aqui a minha FELICIDADE de Ainda Estou Aqui ter ganhado Oscar de Melhor Filme Internacional. Que alegria é poder ver o nosso cinema nacional, tão lindo, tão importante, ser reconhecido. Que isso só sirva para que o nosso povo dê mais valor as nossas maravilhas do nosso país também. VAI BRASIL!!!

Boa leitura!!

Chapter Text

Jason era o único pensamento de Ysaline. Odiava como sua mente contornava todas as suas responsabilidades para desenhar o rosto dele. E em todas as vezes sentia seu coração se apertar quando o imaginava com o semblante que havia visto na rua.

Diferente dos outros dias, simplesmente se matar de trabalho não a distraía da saudade que sentia dele – o que meio que significava que Nina estava mais do que certa, mas enquanto ela pudesse negar aquela possibilidade tão alarmante, ela negaria. Afinal, não era como se Jason Mendal não fosse um belo de um teimoso e estivesse querendo falar com ela.

Pelo menos, ele não tinha mandado uma mísera sequer mensagem.

Ysaline tinha todos esses sentimentos e pensamentos enquanto Thomas vez ou outra a encarava pela tela do computador.

Que situaçãozinha agradável...

Parecendo ler os pensamentos dela, Thomas quebrou o silêncio:

- Ainda não entendi o que você quer fazer – Thomas suspirou, alongando os braços. Ysaline o olhou rapidamente antes de voltar sua atenção para o relatório escrito no Google Docs. Devido a estar com um tantinho de birra, sua vontade era responder que estava surpresa que ele mesmo não houvesse descoberto sozinho, afinal, ele era bom nisso. Parecia descobrir as coisas antes mesmo dela serem pensadas!

Observando o amigo, porém, Ysaline pôde perceber que o cansaço já estava começando a vencê-lo. Também, não era para menos, afinal, os dois estavam naquelas mesas há pelo menos três horas sem nenhum intervalo sequer. Tudo isso porque Ysaline era uma maluca, maníaca por controle e com uma leve tendência de carregar o mundo em suas costas.

– Isso tudo é por causa do Jason? – Ele nem ao menos a deixou responder a outra provocação.

Ysaline ajeitou a postura e continuou a destinar sua atenção para a tela brilhante do computador. Assunto sensível, Thomas nem sabia o porquê de insistir, sendo que Ysaline iria mudar de assunto.

– Não – respondeu ela, seca, para a surpresa dele. Ou meia-surpresa. Sei lá.

De qualquer forma, aquela era uma meia verdade.

Era por causa de Jason? Sim.

Totalmente por causa dele? Não.

Mas se fosse colocar em estatísticas...

– Então, por que nós estamos trabalhando como se o projeto da prefeitura não fosse nosso?

Era uma ótima pergunta, na verdade.

– Porque o que vem fácil, vai fácil – disse enquanto continuava a digitar.

Thomas soltou um arzinho pelo nariz. Tão expressivo que era como se Ysaline pudesse ouvir “que desculpinha esfarrapada...

A sorte favorece a mente bem preparada – Ysaline o ouviu dizer e balançou a cabeça. - Louis Pasteur.

O acaso governa todas as coisas – suspirou ela, fechando o notebook a sua frente e o olhando nos olhos novamente.  – Heródoto.

Thomas arqueou uma das sobrancelhas. Quando Ysaline estava prestes a se declarar vencedora daquela pequena troca de farpas, Thomas ressuscitou a conversa, dizendo:

– E o que me diz sobre “sentir pena do culpado é traição aos inocentes”?

Ysaline se segurou para não revirar os olhos na cara dele e rebateu:

Diante do Senhor, ninguém é inocente – dito isso, Ysaline sorriu ao ver a caretinha de Thomas. – Salmo 143:2.

– Não sabia que era religiosa...

– Não sou-

– E nem que ele era tão importante para você.

Ysaline nem tentou disfarçar. Nem tinha o porquê também, afinal, Thomas de fato sabia o que estava acontecendo. Pelo menos ele não parecia a olhar com nojinho que nem Amanda estava fazendo – ainda que ela fosse extremamente educada, era perceptível como a nova descoberta transparecia em seu rosto mesmo que não fosse essa a intenção. Mesmo com as provocações, Ysaline permaneceu quieta.

- Não sei o que aconteceu entre vocês dois – Thomas continuou. Ysaline pensou como ele era corajoso por estar cutucando a onça com a vara curta. Ainda mais quando ela estava vindo de uma semana daquelas... Mas talvez fosse ela que não estivesse em posição nenhuma para fazer qualquer tipo de comentário. – Sinceramente, ainda acho que ele é uma pessoa com um caráter extremamente duvidoso, mas de todas as pessoas, acho que você é a única que eu não teria receio de se envolver com ele.

Ysaline arqueou uma das sobrancelhas. Ok, aquilo era novo.

– Não foi isso que eu entendi da sua mensagem – disse ela, cuidadosa. Novamente calculando as suas respostas. Thomas percebeu isso e Ysaline percebeu que ele tinha percebido.

Talvez se fosse um tantinho mais nova nessa questão de empresa família ficaria decepcionada de não poder tratar seus colegas de trabalho como a família que eles queriam que ela participasse. Mas aquilo não existia em contexto nenhum. Ysaline suspeitava que até mesmo Thomas se sentisse assim em alguns momentos. Se não fosse o caso, não teria porquê ele ser tão investigador com as pessoas que estava ao redor dele.

– Bom, eu tinha mandado aquela mensagem antes do contrato voltar para gente... – respondeu ele e Ysaline riu um tanto ofendida. – Pra mim, na verdade é um alívio que você não seja manipulável por ele e que esteja no controle.

Controle – Ysaline voltou a rir. Com raiva, dessa vez. Não exatamente do colega, mas pela suposição de uma situação que definitivamente não era uma realidade na vida dela. – Se tem uma coisa nessa vida que eu não tenho é controle.

Thomas arqueou as sobrancelhas, curioso.

– Bom, pelo menos nessa situação você teve.

– Óbvio que não! – Exclamou Ysaline. Que se foda! – Sinceramente, Thomas! Não importa o que você ache que aconteceu, você não sabe sobre tudo! Se soubesse, ia entender que nada do que está acontecendo agora é por minha vontade!

A expressão do rosto do colega ainda estava confusa e aquilo estava começando a confundir Ysaline também. Por que diabos ele estava olhando para ela como se ela não soubesse algo?

A paranoia finalmente havia a atingido em cheio? Ela precisava urgentemente de cinco dias de sono ininterruptos.

– Ysa – Thomas começou a dizer sem muita emoção e com a cautela de quem também estava entendendo as coisas. – Não foi você quem pediu para o Jason desistir do contrato com a Prefeitura?

Ysaline revirou os olhos.

– Não! – Riu com desespero. – Quem me dera ser a grande manipuladora que vocês acham que eu sou!

– Então, o Jason só voltou atrás por livre e espontânea vontade?

– Você acha mesmo que eu fiquei falando “Jay-Jay, será que você pode, por favorzinho, desistir do contrato?” – Ysaline fez um beicinho irônico e voltou a bufar de raiva. Thomas não sabia se ria da imitação dela ou se fazia uma careta de nojo por de fato imaginar os dois naquele contexto. – Óbvio que não! Seria ridículo, humilhante e vai contra todos os meus princípios como feminista!

–  Concordo – Thomas suspirou e deu de ombros. – Não faz o seu estilo. Só achei que... Bom, como o Prefeito recusou a proposta da Goldreamz em aceitar o nosso plano, você-

Os olhos de Ysaline se arregalaram de tal forma que até mesmo Thomas havia parado de falar.

E lá estava a última peça do quebra-cabeça.

– Você sabia disso, não é?

–  Puta merda – ela disse, descrente de como não tinha visto aquilo que era tão óbvio. Ela voltou a olhar para Thomas. – Mas... Como você soube disso?

Thomas sorriu.

– Você não é a única que tem suas ligações com a Goldreamz.

Ysaline abriu a boca para reclamar, mas acabou soltando apenas uma risada.

–  Danica?

Thomas balançou a cabeça.

– Ela não é muito do xadrez...

***

Nina: eiii, você tá bem?

se tiver ainda meio sad vibes vamos fazer alguma coisa juntas!!

ou se resolve logo com o bonitão para podermos ter novas fofocas.

enfim, fica bem, ysaaa <3

Ysaline: hoje eu não vou poder MAS AMANHÃ EU ATUALIZO VOCÊ

Nina: que animação é essa???

MEU DEUS!

VOCÊS VOLTARAM???

YSALINE VOLTE AQUI IMEDIATAMENTE!!!!!!!!

***

Jason tinha acabado de sair do banho quando ouviu o interfone tocar. Não estava com um dos seus melhores humores naquela semana – se é que ele algum dia esteve com pleno bom humor – e enquanto colocava sua calça moletom preta para atender quem quer que fosse rezou veementemente para que não fosse Spencer aparecendo do nada para lembra-lo de algo do trabalho ou – pior – lembrá-lo o bom funcionário puxa-saco que ele era.

Procurou o relógio da cozinha com os olhos e viu que se tratava de 22h da noite. Se de fato fosse Spencer, a cabeça dele iria rolar. Não importava quão bom funcionário fosse ou o quanto inflava o ego já inflado do patrão. Colocou seu roupão e foi em direção a porta para expulsar qualquer pessoa que pretendesse o tirar do seu marasmo pessoal.

E, para falar a verdade, Jason esperava que fosse qualquer um.

Qualquer pessoa.

Puta que pariu, poderia estar Devon Okere ou Roy Aquino na sua frente e ainda assim ele não ficaria tão surpreso quando viu Ysaline ali parada a sua frente.

Chapter 11: Final

Notes:

OIOI ♡

Demorei, mas VOLTEI! E justamente para entregar o final desse caos de fanfic que eu amei TANTO escrever.

Gente, antes de tudo eu queria agradecer por toda a paciência de vocês por toda a demora e por continuarem comentando em todos os capítulos. Isso me motivava demais a voltar com a fanfic. Tive alguns belos bloqueios criativos no meio do caminho e voltei a trabalhar nesse meio tempo (e a estudar pra concurso 💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀💀).

Enfim, A SEMANA É SANTA, PERO SANTA NO SOY e eu demorei para escrever esse capítulo porque queria provar isso KKKKKKKKK. Mentira, gente, nem coloquei tanta safadeza assim porque depois do capítulo da reunião eu travei demais.

Espero que vocês gostem do final 🖤

Boa leitura!

E até a próxima fanfic!

P.S.: a próxima missão é terminar spellbound (que eu espero terminar ANTES do halloween esse anokkkkkk).

Chapter Text

Assim como era recorrente no relacionamento dos dois, Ysaline não sabia se queria pular em cima dele e enchê-lo de beijos ou de tapas. Era uma saudade imensa misturada aquela revolta dos dois terem ficado sem se falar – mesmo que não por muito tempo. Bem oito ou oitenta. Entre tapas e beijos.

Mas, se ela fosse bem sincera, esperava a última opção. Ainda mais vendo-o ali na sua frente apenas de roupão e calça moletom.

– Oi – ela disse com a respiração ofegante e foi apenas neste instante que ela percebeu o quão rápido tinha feito tudo depois de Thomas ter contado para ela sobre a prefeitura. Ainda dava para se sentir o frescor do banho tomado e o perfume que ela tinha feito questão de passar justamente para ele. Viu que Jason piscou os olhos algumas vezes, parecendo decidir se estava alucinado ou não com a imagem dela ali.

– Ysaline? – Perguntou ele, ainda descrente.

O semblante dela de confusão pareceu engraçado aos olhos dele.

– Sim – disse ela, contendo sua vontade de usar a sua ironia charmosa. Porém, a cara dele continuava estranha, então ela disse em seguida: –A menos, é claro, que você esteja esperando outra pessoa.

A fala carregada de ciúmes em sua voz o fez despertar de qualquer transe que ela mesma o tivesse colocado e Jason balançou a cabeça, tendo mais vontade de sorrir do que há alguns minutos atrás.

– Não – certificou ele, indicando que ela entrasse. Enquanto ela passava pela porta, Jason pôde sentir o aroma de baunilha invadir suas narinas. Quase cerrou os olhos por um momento, mas logo seus sentidos voltaram ao normal e ele fechou a porta. Observando-a já em meio a sala, Jason percebeu uma certa inquietação nos movimentos dela. – A que devo o prazer da visita?

Foi a vez de Ysaline o olhar com descrença. Jason se aproximou um pouco, com os braços cruzados, vez ou outra evitando o olhar dela. Apesar da fala dele estar carregada de ironia, Ysaline suspirou fundo e alguns passos em direção a ele.

– Por que você não me disse que o prefeito é quem tinha recusado a proposta? – Perguntou ela.

Jason ouviu aquilo e imediatamente revirou os olhos, com um sorriso cínico no rosto. Ysaline franziu a testa, confusa.

– Claro – Jason continuou com o sorriso aberto - Então, é sobre isso... – disse ele e seus olhos procuraram qualquer coisa na sala que não fossem os olhos dela.

– Sim, eu... – Ysaline coçou a testa. Jason a interrompeu logo em seguida:

– Nesse caso, bom, eu tentei dizer.

– Sim, eu sei. Eu sei que não te ouvi, mas eu estava de cabeça quente na hora e... – Notando que Jason ainda evitava olhar para ela, Ysaline suspirou fundo e deixou as mãos cair pelas pernas em frustração. – Mas você poderia ter me falado depois, poxa!

Jason finalmente a olhou nos olhos.

– Mandado mensagem, sinal de fumaça, um carro de som, sei lá! Qualquer coisa que pudesse desfazer esse mal-entendido!

– E no que isso teria mudado, Ysaline?

– Tudo, ora! – Ysaline jogou as mãos para o alto. – Se eu soubesse do que tinha acontecido, nós jamais teríamos brigado por algo tão bobo!

Ysaline sentiu quase um marejar nos olhos e sua voz se suavizou um pouco enquanto ela se aproximava mais dele, colocando suas mãos em seu peitoral.

Eu fiquei com saudade.

Jason destinou alguns segundos apenas para notar cada detalhe do rosto de Ysaline. Afinal, ela não era a única com saudades. Dava para notar a maciez da pele dela sem nem ao menos tocar ao mesmo tempo que conseguia ver as modestas olheiras sobressaindo pela pouca maquiagem usada por ela naquela noite. Os lábios tão convidativos, porém não mais que seus olhos, que praticamente imploravam para que ele desse o próximo passo. O próprio corpo dele estava quase atendendo as vontades dela. Suas mãos já tinham encontrado a curvatura da cintura dela, suas respirações já se misturavam ao aroma adocicado dela.

Mas não era só isso que ele queria de Ysaline e por isso ele parou no meio do caminho e suspirar profundamente.

O suspiro de frustração de Ysaline foi quase instantâneo.

– Jason, por favor, me fala logo qual é o problema – pediu ela, um tanto desesperada.

Não era essa exatamente a reação que Ysaline esperava dele.

Muito pelo contrário. Ela já estava pronta para se jogar nos braços fortes dele e ser prensada na parede. No entanto, ela assistiu Jason se virar e colocar as mãos na cintura, olhando novamente para qualquer lugar que ela não estivesse.

Jason riu de si mesmo. Talvez fosse o carma finalmente o alcançando depois de tanto tempo – como ouviu Danica dizer uma vez – piranhando.

– Por favor, não espere que eu diga. Isso já é humilhante o suficiente.

– Céus! – Disse ela com a intensidade de um “puta merda!” e foi atrás dele, colocando-se na frente. – Fala de uma vez!

Jason revirou os olhos.

– Vai soar muito estúpido – Jason disse mais pra si mesmo do que para Ysaline, a qual sorriu meio sarcástica, ainda tentando conter um tantinho de deboche dentro dela.

– Ora, meu bem, não seria a primeira vez.

Jason revirou os olhos. De novo.

– Esse é o problema, sua engraçadinha.

– Eu ser engraçadinha?

– Não! Isso infelizmente funciona comigo – murmurou ele. – O problema é que você não me leva a sério.

Ysaline ficou quieta. Os dois ficaram quietos por alguns segundos, apenas se olhando. Jason voltou a assumir uma postura. Afinal, se era para ele se humilhar, então que fosse pelo menos com uma pose mínima de respeito. Dessa vez, pelo menos ele iria olhar nos olhos dela.

– Naquela noite, tudo aconteceu muito rápido. Eu ia te contar o que o prefeito tinha me comunicado, mas você estava tão feliz e eu estava.... Ridiculamente apaixonado por você... – disse Jason e olhar de Ysaline automaticamente suavizou.

Jason não ouviu o suspiro também ridiculamente apaixonado dela, pois estava imerso nas suas próprias lamúrias. As mãos de Ysaline levantaram-se para tocar o rosto dele, mas logo abaixaram-se novamente quando ele voltou a olhar para ela.

Ela queria tanto tocar nele.

Não apenas de uma maneira sexual, como haviam sido a maioria das vezes dos dois. Ela queria beijar seu rosto, enrolar uma das mechas brancas com a ponta dos dedos, abraçá-lo.

Ysaline queria o Jason por inteiro.

 – ...só que depois que tudo veio à tona, mais precisamente quando eu disse que não teria contrato algum com a Devenementiel, você disse que nós nunca tivemos nada.

Ysaline abriu a boca algumas vezes, porém Jason continuou falando:

– Não acho você interesseira ou coisa do tipo antes que você venha me atacar com suas garrinhas. Na verdade, uma parte minha acha isso muito admirável e... excitante – Jason disse e Ysaline automaticamente revirou os olhos, mas não de maneira irritada. – Sinceramente, deve ter sido o carma atuando de tanto que eu já disse isso para outras pessoas. E era óbvio que quando fosse eu o apaixonado, aconteceria isso. Ainda mais sendo você, Ysa – ele deu um suspiro cansado e sorriu da maneira mais doce que ela havia visto. – É impossível ter alguma versão minha que não seja apaixonado por você. E eu tenho que aceitar que-

Ysaline riu e Jason finalmente parou de falar.

– Você por acaso está rindo da minha miséria?

– Não – e ela gargalhou mais ainda, deixando Jason num misto de confusão e depressão. – Tô rindo de como nós dois somos burros!

Jason arqueou uma das sobrancelhas.

– Olha, não é porque eu estou aqui me humilhando que-

– Jason, eu também estou apaixonada por você – Ysaline disse e colocou as duas mãos no rosto dele. O sorriso dela era uma das coisas mais lindas que Jason tinha visto em toda a sua vida. Por um momento, ele ficou apenas olhando, achando que estava sonhando. Tanto é que segurou as mãos dela para ver se era real. E ele começou a sorrir ainda meio descrente ao sentir a maciez dela. Apenas um atestado de como ele estava miserável sem ela. – Me desculpa por perceber isso tão tarde.

Dito isso, os dois se beijaram.

Jason puxou o rosto dela com necessidade, como se dependesse daquele beijo para viver. Fazia apenas alguns dias, mas aquilo foi o suficiente para que os dois sentissem a falta um do outro como se tivessem se separado por anos. Os dois se beijavam com uma voracidade que mal conseguiam respirar direito.

– Nunca mais vamos brigar – pediu ele entre beijos, logo após descendo e encaixando sua boca na curvatura do pescoço dela. Ysaline sorria entorpecida e praticamente flutuava enquanto Jason puxava sua cintura, grudando-a em seu corpo.

Alguns segundos daquele jeito foi o suficiente para deixar o redor da boca de Jason completamente vermelho. 

– Achei que só fosse isso o que fizéssemos – brincou Ysaline.

Não – disse ele e a levantou do chão apenas para colocá-la em seu colo. Ysaline prontamente enlaçou suas pernas ao redor da cintura de Jason enquanto ele levava os dois até seu quarto.

Assim que chegaram no quarto, ele a colocou em sua cama, retirando o roupão e o jogando em qualquer canto do quarto, sem nem ao menos desviar o olhar dela.

Jason amou a expressão no rosto de Ysaline. Seus olhos brilhavam de desejo e o seu sorriso transbordava sedução, a necessidade de ser dominada por ele.

Ysaline o puxou para mais um beijo.

– Eu senti tanto a sua falta, gatinha – murmurou ele.

– Mesmo, é? – Ela riu. – Não deu para perceber.

Você é tão má, Ysaline – Jason zombou. – Céus, isso é tão sexy.

– Eu também senti sua falta – disse ela, parando um momento para olhar para ele enquanto passava a mão pelo rosto dele. – Você não sabe o quanto.

– Sei, sim. Provavelmente estaria na sua porta agora mesmo, caso você não tivesse aparecido – disse ele. – Provavelmente com um buquê de flores e um carro de som.

– Céus! Você estava tão desesperado assim?

– Eu faria qualquer coisa para ter você de volta – afirmou ele, descendo os beijos para o seu colo. Ysaline sorriu em meio ao calor, sentindo seu corpo faiscar e derreter-se em meio a ele.

E, por falar em faísca, algo veio em sua mente enquanto ela olhava para o teto.

– Qualquer coisa? – Perguntou ela e Jason falou um sim meio abafado. O sorriso de Ysaline abriu-se mais ainda e ela afastou Jason um pouquinho.

Ele não entendeu nada por alguns segundos, porém, reparando no sorriso dela, viu exatamente do que se tratava e revirou os olhos.

– O que você gostaria de discutir agora, Ysaline?

– Você disse qualquer coisa.

– E isso não é humilhante o suficiente?

– Não acho – sorriu ela.

– Não quero brigar de novo – disse ele, falando sério.

– Não vamos. Eu prometo! – Ysaline disse. Jason não se deu por convencido e Ysaline estranhou. – O que você acha que eu vou sugerir afinal?

Jason revirou os olhos e suspirou logo em seguida.

– Se fosse para apostar, eu diria que aquela empresinha tem alguma coisa a ver com isso.

Um sorriso sem vergonha tentava surgir nos lábios dela. Jason riu irônico, balançando a cabeça completamente descrente. Ysaline o viu se aproximar, seus rostos ficando a poucos centímetros de distância um do outro.

– Você é maluca de trazer isso numa hora dessas – disse ele, provocativo.

– Achei que isso fosse parte do meu charme – rebateu ela, igualmente provocativa.

– E é – Jason suspirou, deixando-se cair do outro lado dela na cama, olhando para o teto e esfregando as mãos no rosto. Ysaline levantou-se da cama, ainda rindo do estado em que estava seu querido “rival”. Uma parta dela estava se sentindo vingada pelos primeiros encontros que os dois tiveram quando se conheceram.

Ysaline levantou-se da cama, ficando alguns passos à frente dele, com as mãos na cintura e ainda com um sorriso vencedor nos lábios. Jason espiou e cada vez mais a achava maluca.

Insanamente atraente? Sim

O amor de sua vida? Com toda certeza sim.

– Posso tentar te convencer? – Os olhos de Ysaline estavam fixos nos de Jason quando disse aquilo e continuaram o observando enquanto ele entreabria de leve os lábios e a expressão em seu rosto suavizava. Ela deu alguns passos em sua direção novamente, apenas o suficiente para que Jason ajeitasse sua postura.

O sorriso dele foi se abrindo enquanto as mãos dele tomavam conta da parte de trás das coxas de Ysaline.

– Duvido que seja capaz – disse ele, olhando-a de cima abaixo. Obviamente, ele não acreditava nenhum um pouco nas próprias palavras, mas tinha firmado consigo mesmo que faria de tudo para não se render aos encantos dela. Pura pirraça.

Ysaline riu charmosa, passando as mãos pelo cabelo de Jason.

– Eu já ouvi isso antes – sussurrou ela, sentando no colo de Jason.

– Receio que eu seja um tanto rancoroso... – brincou ele, puxando-a para mais perto. Ysaline entrelaçou seus braços pelo pescoço dele.

– É? – Perguntou ela e Jason fez que sim com a cabeça. Ysaline riu. – Tudo bem. Eu sempre amei um desafio.

Jason umedeceu os lábios, sedento por ela.

– Você nunca deveria ter desistido do contrato por minha causa – disse ela, enquanto beijava o pescoço de Jason. – Essa nunca foi a minha intenção.

– Eu sei – afirmou ele, depositando suas mãos em sua cintura com firmeza. – Só queria que você soubesse o quanto importa para mim.

Ysaline sorriu.

– Eu sei disso, meu bem. E agora está na hora de você saber o mesmo.

Jason iria rebater, mas Ysaline tirou sua blusa antes que ele conseguisse raciocinar com clareza.

– A Devenementiel ainda não assinou o contrato com a prefeitura – contou Ysaline. Os olhos de Jason foram dos seios dela automaticamente para o semblante vitorioso de Ysaline. Estava em choque, nem ao menos sabia se havia escutado direito. – Então, você precisa agir rápido.

Jason voltou a olhar para os olhos dela, surpreso. Enquanto isso, suas mãos iam até a barra da calça de moletom dele.

– O que exatamente você tem em mente? – Perguntou ele em um sussurro sedutor. As mãos dele foram até atrás do pescoço dela e ele sorriu. Era um sorriso meio sádico, mas de pura satisfação. – Está passando para o meu lado, gatinha? 

Os dedos dele passaram pelos lábios dela. Tinha tanta felicidade na voz dele que Ysaline por um momento sentiu pena. A ideia realmente o animou muito. Ela conseguia sentir.

Com destreza, ele atirou a calca dele para qualquer canto do quarto enquanto Ysaline esfregava-se sobre ele, apenas entretendo aquela ideia um pouco mais. Os lábios de Jason se entreabriram e ele arfou.

– Vai ser minha espiã? – Disse logo antes de Ysaline levantar-se e virar-se de costas para ele.

Rapidamente, tirou sua saia e sentou-se no colo de Jason, rebolando lentamente sobre ele. Jason pendeu levemente a cabeça para trás, mas logo sua boca encontrou a nuca dela. Ysaline fechou os olhos enquanto sentia os beijos molhados dele.

Apesar de querer continuar com toda aquela provocação, ela mesma estava quase subindo pelas paredes. Os dedos dele automaticamente foram para debaixo da calcinha dela, dedilhando-a com uma precisão que a assustava de uma forma maravilhosa.

– Não estou traindo a Devenementiel, querido – arfou Ysaline. Jason não parou por nenhum segundo.

– Não? – Ele mordeu o lóbulo da orelha dela e Ysaline virou-se, finalmente o beijando novamente.

Ela queria estar no controle total da situação.

Enquanto Ysaline deitava Jason na cama novamente, as mãos dele passeavam por todo o seu corpo, apertando sua bunda. Quando ele já estava deitado, ela sorriu, provocando a abertura de seu sutiã a qualquer momento. O semblante aflito e ansioso de Jason a fez sorrir sádica também.

– Não – disse ela. – Você sabe que eu tenho os meus princípios muito fortes.

– Sei – disse ele, sentando-se novamente na beirada da cama.

– E eu jamais faria algo para prejudicar meus colegas – as mãos dela desceram para sua calcinha de renda e logo para a boxer dele.

– Então, por que está me contando isso? – Perguntou ele. Por incrível que pareça, não havia nenhum tom de ironia em sua voz. Estava realmente interessado no que aquela cabeça maluca que ele amava tanto pensava. Sem falar que, sendo ele um workholic também, encontrar alguém tão maluco quanto ele deixava Jason mais apaixonado por ela. Se é que isso era possível.

Com meia menção dela tirar sua boxer, Jason rapidamente a tirou. Ela foi fazer o mesmo com sua calcinha, mas ele a impediu.

– Conta pra mim o porquê – pediu ele com a voz rouca. Ysaline estava de pé e ele empalmou a parte de trás de suas coxas.

– É bem simples – Ysaline dizia com certa dificuldade. Tal qual a reunião que os dois tiveram com o vibrador. Pelo menos, naquele momento, ela não precisava disfarçar nenhum dos gemidos de prazer. – O evento da prefeitura não é do estilo da Devenementiel.

Ysaline agarrou os cabelos de Jason com força enquanto ele beijava toda a extensão da parte interior se sua coxa, dando mordiscadas, e sempre dando especial atenção à parte ao redor onde era coberta por sua calcinha. Brincando e provocando, deixando-a completamente maluca.

– Como assim? – Perguntou ele e a mordeu, fazendo sua cabeça pender levemente para trás.

– A Prefeitura não vai deixar a Devenementiel atingir o potencial porque a nossa proposta é diferente da deles.

­– Não seria melhor apenas se adequar ao cliente?

– Não – disse ela, colocando a mão no queixo dele e fazendo ele olhar para ela. – Algumas exigências vão contra a nossa política.

Jason sorriu, sarcástico.

– E isso é um trabalho para a Goldreamz?

– Claro – sorriu ela. – Vocês não se importam nenhum pouco com toda aquela sujeira.

– Vamos entrar no dirty talk agora?

–  Ainda não – Ysaline riu sedutora. – Quero que você preste atenção direitinho.

– Você tem um jeito bem diferente de pedir por atenção, gatinha – zombou Jason, voltando a agarrar a bunda de Ysaline e aproximar-se mais de seu rosto. – Mas quanto a isso você pode ficar tranquila, sou todo seu.

Aquilo era a coisa mais sexy que Jason tinha dito a ela.

E ele já tinha dito muitas.

Com a ponta dos dedos, Jason foi puxando a calcinha dela para baixo lentamente.

– Não precisamos do evento da Prefeitura, temos a nossa after party – disse ela. – Querendo ou não, ainda estamos em lados opostos. Não vamos disputar o mesmo evento, mas em termos de sucesso, você pode apostar que é o nosso que vai estar na boca do povo no dia seguinte.

Jason passou a língua pela ponta dos dentes.

Confiança também era muito atraente aos seus olhos.

– Entendi... – Jason sorriu. – Mas ainda não me sinto convencido o suficiente.

Ysaline o olhou de cima abaixo e sorriu safada.

– Algo me diz o contrário...

Jason revirou os olhos.

– Já entendi que você quer eu faça o trabalho sujo – disse ele. – Mas toda essa benevolência... Você não quer algo em troca?

Ysaline balançou a cabeça e aquilo confundiu Jason.

– Eu não preciso de nada de você – disse ela passando as mãos pelo rosto de Jason. – Nada além do seu amor.

Aquela frase foi o estopim para que os dois de fato começassem a se atacar. O resto das roupas dos dois voaram pelo quarto e já não havia nenhum tipo de dinâmica ou controle de poder.

Ainda que em igualdade, quando ela viu, Jason já estava em meio a suas pernas, com beijos molhados e completamente devotos ao seu prazer, como se ela fosse uma deusa.

Alguns momentos depois, ela já estava por cima dele, cavalgando-o.

Os gemidos eram altos para compensar tudo o que tiveram que conter, todos os dias que ficaram se se ver.

Era de uma intensidade inebriante. Quase paralisante.

 – Também senti sua falta – Jason disse alguns minutos após terem acabado, ainda em choque e com Ysaline aninhada em seus braços. Ela sorriu e beijou sua bochecha.

Os dois desceram alguns segundos depois.

Jason insistiu para que os dois fizessem um lanche da noite e assistirem alguma coisa, assim como tinham feito das outras vezes.

Estavam felizes como nunca estiveram antes.

Se alguém entrasse na sala, encontraria os dois abraçados feito um casal de velhos – afinal, eles já brigavam como um. Ysaline havia roubado o roupão de Jason para ela e vez ou outra o cheirava para sentir o perfume dele impregnado no tecido.

Jason, no entanto, soltou um suspiro.

– Ei, o que foi? – Perguntou Ysaline, preocupada.

– Não sei... Uma parte de mim imaginava nós dois trabalhando juntos.

Ysaline pendeu a cabeça para o lado, achando fofo.

– É uma ideia tão absurda? – Perguntou ele, beijando os nós dos dedos dela.

Ysaline riu.

– Jason, a única vez que nós tentamos trabalhar juntos, eu quase dei um show na frente do meu chefe!

Jason iria argumentar, mas Ysaline logo disse em seguida:

– Tem ideia de como vamos nos divertir?

E ele deu um sorriso tão safado quanto o dela.

– Me considero convencido – suspirou ele, puxando Ysaline mais para o colo dele. – Afinal, eles podem ter você por algumas horinhas, mas no final do dia você é toda minha.

Ysaline sorriu meio boba.

– É impressão minha ou... Você tá me pedindo em namoro?

– Achei que você iria achar muito cedo para ser minha noiv-

Os dois se entreolharam. Jason com um tanto de medo da reação dela. Ysaline com os olhos arregalados de surpresa e animação. Jason, no entanto, pigarreou, desconversando.

Mas Ysaline não se importou.

Aquilo era diferente.

Então, ela pegou o rosto de Jason e os dois se beijaram apaixonadamente.

***

Nina já tinha atendido várias mesas naquela manhã. Todas elas com clientes completamente tagarelas – porém nenhum deles querendo fofocar com ela! Um completo desperdício de informação...

Ou seja, apenas trabalho, trabalho e MAIS trabalho!

Era para ser o dia mais chato do mundo.

Mas então ela viu um casal entrando e a cara que ela fez foi o suficiente para que Ysaline e Jason caíssem na gargalhada.

– CHO-CA-DA! – Nina exclamou e foi abraçar Ysaline.

–  Eu sei, eu sei! – Ysaline riu e a abraçou de volta.

Era engraçado como as coisas eram. Jamais pensou encontrar uma amiga naquele caos.  

– Bom, Nina. Esse é o Jason, meu namorado.

***

A Devenementiel poderia não ser a primeira empresa de eventos da cidade que as pessoas pensavam quando queriam fazer um evento. No entanto, aquilo estava com certeza prestes a mudar.

Afinal, como se era esperado, a Goldreamz fez um ótimo trabalho com as condições passadas pelo Prefeito. A cada decisão tomada, Jason mandava uma mensagem para Ysaline, completamente indignado com a equipe da prefeitura. Acabava desabafando com ela para não ser processado criminalmente por ameaça.

E, sim, a Crowstorm tocou no evento da Prefeitura. Apenas três músicas, deixando a plateia muito decepcionada.

Mas, para a sorte da cidade de Amoris, a Devenementiel e Ysaline Dolga existiam e fizeram algo completamente inesperado.

Sim, a Crowstorm não pôde tocar no evento.

Mas qual evento seria capaz de juntar Castiel Veilmont, Lysandre Ainsworth, Nathaniel Carello e Iris Rheault?

Com certeza a after party da Devenementiel.

Elenda ficou completamente MALUCA pela ideia e foi uma das líderes do projeto ao lado de Ysaline. Só de ter credenciais especiais para falar com todo os integrantes E com a Crowstorm foi motivador o suficiente para que tudo saísse PERFEITO.

Não apenas Elenda. As pessoas ficaram enlouquecidas por poderem ouvirem os hits da adolescência e fez um sucesso tão grande, que o Twitter começou a especular se Castiel deixaria a Crowstorm ou faria como Eddie Vedder e Chris Cornell e ter duas bandas com membros diferentes.

Ysaline observava os fãs entrarem na after party com um sorriso de satisfação no rosto e uma taça de vinho em uma das mãos. Do outro lado do evento, Devon a olhou com satisfação e orgulho.

E, claro, um sorriso meio nervoso quando viu Jason se aproximar e beijar o topo de sua cabeça.

A empresa não recebeu tão bem a notícia que Jason e Ysaline eram um casal. Mas meio que já esperavam, até porque os dois patetas não escondiam NENHUM pouco a tensão sexual nos ambientes. Sem falar que Thomas já soube assim que aconteceu.

Tudo acabou se tornando uma piada na empresa e pela primeira vez Ysaline se sentiu parte da grande família que Devon há tempos vinha querendo que ela se tornasse parte.

E Jason logo logo também faria (ele apenas ainda não sabia disso!)

– Tive que me retirar da conversa – Jason disse apontando para Nina e Gabin, integrante da Crowstorm. Depois das negociações com Castiel, Lysandre e Nathaniel, Ysaline passou a ter mais contato com a banda e começou a notar um climinha entre a amiga e o baixista da Crowstorm.

– Ela definitivamente tem uma queda por músicos – Ysaline riu.

A cada minuto, o local ia enchendo mais.

– Bom, gatinha, eu tenho que admitir – Jason estendeu a taça de vinho. – O evento é um sucesso.

Ysaline sorriu.

– Óbvio! Eu não faço meu trabalho pela metade.

– Eu sei bem disso – disse ele e antes que ela desse uma cotovelada, Jason beijou seus lábios.

Ela estava apaixonada demais por Jason Mendal.

Claro que os dois ainda tinham suas briguinhas. Naquela semana mesmo, Ysaline havia ficado indignada com uma reunião feita com Goldreamz com a Devenementiel (o que já é absurdo pensar ser possível) e Jason ficou indignado quando ela não quis dar um selinho nele depois da reunião – mesmo após ter provocado toda a equipe com seu jeito bem Jason Mendal de ser. Mas tudo era resolvido da melhor forma possível.

Ysaline entrelaçou seus braços ao redor do pescoço de Jason.

–  Ei, eu tenho um presentinho para você.

– Pra mim? – Jason perguntou com um sorriso. – Nem é meu aniversário.

– Eu sei, mas... já que o meu evento foi mais bem sucedido que o seu...

Jason revirou os olhos e observou a caixinha que ela entregou para ele. Abriu com um sorriso enorme... que logo desapareceu assim que viu o que era.

– Isso é para você usar na nossa próxima reunião – sorriu ela, safada.

– Você é má, Ysaline! – Jason disse, guardando no bolso de seu paletó. – Eu te amo tanto.

Ysaline sorriu mais ainda e voltou a beijá-lo.