Chapter Text
🎧 Trilha sonora do capítulo:
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Regulus está na caverna. A mão da criatura d'água puxa seu tornozelo com força sobrenatural, afundando-o na água gélida. O líquido invade seus pulmões como uma condenação inevitável. Ele não grita. Não há som. Apenas o puxar, a dor aguda nos pulmões e, de repente, a mente se fragmenta em mil memórias.
Como minha vida foi de "brilhante" para... isso?
Eu era o herdeiro da casa dos Black. Amado. Cuidado. Venerado. Ou pelo menos foi o que me fizeram acreditar por tempo demais. Mas antes de tudo isso, antes da Marca Negra, antes mesmo de Hogwarts... havia uma coisa que eu sempre tive. E que perdi: Sirius.
Eu vejo o rosto dele com nitidez agora. Nossos quartos conectados por um corredor estreito. Os livros empilhados no chão, o som de uma vitrola antiga tocando música trouxa que ele não devia ter. As risadas abafadas debaixo das cobertas. Nós dois, escondidos do mundo, inventando um onde tudo era mais leve.
Evan costumava dizer que Sirius e eu parecíamos estrelas gêmeas em órbita. Não sei se ele via o quanto isso era irônico.
Barty ria com um brilho cruel nos olhos, mesmo quando a piada era contra ele. Pandora falava de magia como se fosse poesia. Dorcas... Dorcas sorria como se o mundo não pudesse quebrá-la. E James...
James cheirava a sol.
A lembrança vem como um golpe direto no meu esterno, me forçando a curvar dentro da água, como se ainda tivesse ar para expelir. Mas não há ar. Apenas a lembrança do primeiro beijo, do primeiro toque, da primeira vez que ele me chamou de "Estrellita" em vez de "Black".
A mão do Inferi me puxa mais fundo. Eu deveria lutar. Mas não luto. Porque já estou longe. Longe demais, perdido em pensamentos.
...
O estalo do riso de Marlene ecoa pela sala. James está sentado entre Lily e Sirius, com um copo de hidromel na mão e os pés apoiados sobre a mesinha de centro. Remus está deitado no chão, lendo em voz alta uma passagem absurda de um romance trouxa que Mary trouxe. Peter está roncando no canto do sofá.
A noite está quente, iluminada por velas flutuantes e o som suave de um vinil girando na vitrola. Tudo está tranquilo. Familiar.
E então, o telefone toca.
Um som estranho. Frio. Fora de lugar.
James congela. O copo para no ar. Um arrepio sobe pela espinha.
— Que... é isso? — Marlene pergunta, franzindo a testa.
— Telefone trouxa — murmura Lily, já se levantando. — Mas... quem ligaria?
James se levanta antes dela. Não sabe por quê, mas alguma coisa em seu corpo já sabe. Um presságio. Um soco fantasma no estômago.
Ele atravessa a sala devagar, sentindo o coração acelerar. O telefone está no aparador, vibrando a cada toque. O som se alonga, cortando a conversa como uma navalha.
James pega o fone.
— Alô?
Silêncio. Uma respiração acelerada.
Depois, soluços. Um choro.
— Alô? Quem é?
— James... — a voz está desfeita. Fraca. Chorando. — É... sou eu... Pandora.
Ele sente o mundo congelar.
— Pandora? O que houve? O que está acontecendo?
Ela tenta falar algo, mas só soluça. Murmura palavras desconexas. James segura o fone com mais força.
— Pandora, me escuta. Respira. Fala comigo. Está segura?
Mais soluços. E então, de repente, sua voz muda. Mais rápida, mais focada. Como se estivesse vendo alguma coisa.
— A água está escura... o medalhão brilha... ele está cercado... tem mãos... mãos que puxam... ele...
A linha chia.
James está em pé, pálido. Todos olham pra ele agora.
— Pandora! Pandora, fala comigo!
Mais estalos, ruídos. E então, nada.
A chamada cai.
A casa está em silêncio.
James olha para o telefone como se fosse um artefato maldito.
— Era o Regulus... — ele diz, num sussurro.
E então, sem pensar, corre para o andar de cima, já procurando a varinha.
…
— Era o Regulus... — James diz, num sussurro.
Sirius não entende. Ele está em pé agora, franzindo a testa.
— Espera, o quê? Regulus? — ele murmura, confuso.
Peter acorda com um ronco e se senta bruscamente no sofá, os olhos arregalados.
— Que que aconteceu? O que tá rolando? Alguém morreu?
— Cala a boca, Peter — diz Marlene, sem tirar os olhos da escada. — O James disse o nome do Regulus. Que a Pandora ligou pra ele.
— Pandora Rosier? — Peter pisca. — A... a vidente maluca?
— Cala. A. Boca. — Sirius rosna, de novo. Mas agora ele não está com raiva. Está com medo. Com algo apertando o peito.
Por que Pandora ligaria para James sobre o meu irmão? Por que ele falaria o nome dele daquele jeito, como se tivesse levado um soco?
Sirius sobe os degraus rápido, alcançando James no corredor do andar de cima, que já estava com a varinha nas mãos pronto para aparatar sabe Merlin onde.
— Onde você pensa que vai?! — Sirius segura o braço dele, o puxa para trás. — Você vai me dizer o que está acontecendo, agora!
James tenta se soltar, mas Sirius aperta.
— Foi o Regulus, Sirius — James diz, ofegante. — Pandora me ligou. Ela teve uma visão. Ele está...
— Por que você?! Por que não ligou pra mim, por quê...? — Sirius está tonto. A mente gira. — James, por que a Pandora ligaria pra você sobre o MEU irmão?
James fica em silêncio. E isso é pior do que qualquer resposta.
Lá embaixo, todos ouvem a discussão e sobem também. Lily encosta na parede, pálida. Remus já percebeu tudo.
Sirius solta o braço de James devagar.
— O que você tem com o meu irmão, James?
James fecha os olhos. Respira fundo. Quando os abre, está com eles cheios de lágrimas.
— Sirius... eu acho que ele está morrendo.
O silêncio que se segue é como uma maldição descendo sobre todos ali.
E então Sirius recua um passo.
O mundo começa a ruir, de novo.