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O mar que não retorna

Summary:

Ser filha de Poseidon nunca foi simples, mas para briely , a irmã gêmea mais nova de Percy Jackson, a vida sempre foi um redemoinho de monstros, missões e segredos familiares. Porém, nada poderia prepará-la para o que aconteceu no dia em que foi lançada para um universo completamente desconhecido.

Presos em uma mansão sombria, ela e um misterioso prisioneiro dividem o mesmo destino: Morpheus, o Senhor dos Sonhos, capturado por mortais e privado de seus poderes. Durante três longos meses de confinamento, a semideusa e o Perpétuo descobrem que suas origens e habilidades podem se complementar de maneiras inesperadas.
Quando finalmente são libertados, Morpheus decide que ela não pode simplesmente voltar para o seu mundo.

 

( This work is written in Portuguese, use Google Translate to translate)

Chapter 1: Sinopse

Chapter Text

Briely corria pelos corredores do antigo templo abandonado, sua respiração ritmada e o coração acelerado. Percy tinha avisado: “Cuidado com armadilhas, Briely. Nem tudo que brilha é bom.” Mas nada poderia prepará-la para aquilo.

O objetivo da missão era simples: recuperar um artefato antigo e devolvê-lo ao acampamento. Mas quando ela encontrou o item, um pequeno orbe coberto de runas desconhecidas, sentiu um frio percorrer a espinha. Ele parecia pulsar com vida própria, quase implorando para ser tocado.

— Só um segundo… — murmurou, estendendo a mão.

Mal ela encostou o objeto, uma onda de energia a envolveu, puxando-a para cima com força avassaladora. As paredes do templo se dissolveram, e o chão desapareceu sob seus pés. Briely gritou, mas a voz se perdeu no vazio. Tudo ao redor virou céu e estrelas distorcidas, um espaço entre mundos.

Quando finalmente caiu, não estava em nenhum lugar que conhecesse. Um jardim exuberante se estendia à sua frente: árvores impossíveis, flores que brilhavam com luz própria e um ar pesado de mistério. Ela havia caído do céu direto no que parecia ser uma mansão antiga, mas havia algo no lugar que lhe dava arrepios.

Antes que pudesse explorar, guardas surgiram das sombras.

— Alerta! Pressoa desconhecida! — gritou um deles, avançando.

Briely tentou explicar, mas quando tentou usar seus poderes, o efeito foi instantâneo: os guardas recuaram por um momento, mas rapidamente a dominaram. Ela tentou se soltar, lançar ondas de água, criar distúrbios, mas uma força mística a nocauteou antes que pudesse reagir.

Quando abriu os olhos, estava em um círculo iluminado por runas, no porão da mansão. E ao seu lado, em outra cela, estava ele: Morpheus, o Senhor dos Sonhos, preso e observando-a com olhos insondáveis.

— Quem… — começou Briely, mas sua voz falhou.
— Calma — disse uma voz firme Ele instruiu que você fosse colocada aqui.

--Um guarda se aproximou, conferindo o círculo.

— Onde estou ? — perguntou Briely, ainda zonza.
— em um porão é por enquanto, ficará aqui respondeu o gurda.

Morpheus a observava em silêncio. Ele não falou, mas algo em seu olhar transmitia mais do que qualquer palavra: curiosidade, interesse…

Briely tentou se levantar, mas o círculo parecia impedir qualquer movimento brusco. Ela respirou fundo, percebendo que não estava apenas em um circulo e não conseguia usar os seus poderes , mas também presa. E ao lado dela, um homem,o
que o que ela não sabia e que ele era um Perpétuo

E assim começou o primeiro dia de uma prisão que mudaria tudo — um lugar onde o Sonho e a semideusa se encontrariam, para nunca mais serem os mesmos.

Chapter Text

Briely corria pelos corredores úmidos e escuros de um templo abandonado, o som de suas botas ecoando contra as pedras gastas pelo tempo. Sua respiração era rápida, mas controlada, o coração batendo forte no peito enquanto seus olhos varriam cada canto em busca de perigos escondidos. Antes de partir, seu irmão gêmeo, Percy, havia sido claro, a voz carregada de preocupação:
— Cuidado com armadilhas, Briely. Nem tudo que brilha é bom.

Ela sabia que ele estava certo. Missões como aquela, mesmo as mais simples, nunca eram o que pareciam no Acampamento Meio-Sangue. O objetivo era direto: recuperar um artefato antigo, um orbe coberto de runas, e trazê-lo de volta ao acampamento antes que caísse em mãos erradas. Mas quando Briely finalmente encontrou o objeto, pousado sobre um pedestal rachado no centro de uma câmara esquecida, algo dentro dela congelou. O orbe parecia vivo, pulsando com uma energia própria, as runas na superfície brilhando em tons de azul profundo. Era como se ele a chamasse, quase implorando para ser tocado.

— Só um segundo… — murmurou ela, hesitante, enquanto estendia a mão.

No instante em que seus dedos roçaram a superfície fria do orbe, uma onda de energia a engolfou. Um frio cortante percorreu sua espinha, e antes que pudesse recuar, uma força invisível a puxou para cima com violência. As paredes do templo se desfizeram como névoa, o chão desapareceu sob seus pés, e sua voz se perdeu em um grito abafado no vazio. Tudo ao seu redor se transformou em um borrão de céu e estrelas distorcidas, um espaço impossível entre mundos.

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Quando finalmente caiu, o impacto foi duro, mas o chão sob ela não era de pedra. Era macio, coberto por grama densa e perfumada. Atordoada, Briely se levantou devagar, os olhos se ajustando à nova realidade. Um jardim exuberante se estendia à sua frente, com árvores de formas impossíveis, flores que emitiam uma luz suave e própria, e um ar pesado carregado de mistério. No centro do jardim, erguia-se uma mansão antiga, suas torres escuras cortando o céu como facas. Havia algo naquele lugar que fazia sua pele arrepiar, um sussurro de poder antigo que ela não conseguia identificar.

Antes que pudesse explorar ou mesmo entender onde estava, sombras se moveram ao seu redor. Guardas emergiram do jardim, figuras encapuzadas com armaduras que não pareciam pertencer a nenhum tempo ou lugar que ela conhecesse. Suas vozes eram duras, cortantes.
— Alerta! Presença desconhecida! — gritou um deles, avançando com uma arma na mão.

Briely ergueu as mãos, tentando explicar.
— Esperem, eu não quero problemas! Eu só… — Mas sua voz foi interrompida quando tentou invocar seus poderes. Uma onda de água surgiu do ar ao seu redor, mas antes que pudesse moldá-la, um dos guardas lançou algo em sua direção — um dispositivo ou feitiço que ela não reconheceu. A força mística a acertou em cheio, nocauteando-a instantaneamente.

Quando abriu os olhos, a cabeça latejava de dor. Ela estava deitada em um chão frio, cercada por um círculo de runas que emitiam um brilho fraco e azulado. O espaço ao redor era claustrofóbico, um porão úmido com paredes de pedra e um cheiro de mofo que impregnava o ar. Briely tentou se levantar, mas o círculo parecia pulsar, limitando seus movimentos como se fosse uma barreira invisível. Pior ainda, seus poderes não respondiam. Ela tentou chamar a água, sentir as correntes invisíveis que sempre a acompanhavam como filha de Poseidon, mas nada aconteceu. Era como se algo naquele lugar a bloqueasse.

Seus olhos finalmente notaram outro círculo de runas, idêntico ao dela, a poucos metros de distância. E dentro dele, havia alguém. Um homem alto e pálido,completamente nu que parecia absorver a luz ao seu redor. Seu rosto era angular, quase etéreo, com cabelos negros desgrenhados e olhos profundos, insondáveis, que a observavam em silêncio. Havia algo naquela mirada que a fez estremecer — não de medo, mas de uma inquietação que não conseguia nomear.

— Quem… quem é você? — perguntou Briely, a voz rouca e vacilante.

Ele não respondeu. Apenas continuou a observá-la, seus olhos como abismos que pareciam ver além dela, além daquele lugar. Um guarda se aproximou do círculo, verificando as runas com um olhar desconfiado.
— Onde estou? — insistiu Briely, tentando ignorar o peso do olhar do estranho.

O guarda a encarou por um momento antes de responder, a voz fria e desprovida de emoção.
— Você está em um porão. E por enquanto, ficará aqui.

Briely tentou se aproximar da borda do círculo, mas uma força invisível a empurrou de volta, quase como um choque elétrico. Ela respirou fundo, sentindo a frustração crescer dentro de si. Não só estava presa, sem poderes, mas também estava ao lado de um homem que não falava, apenas a encarava com uma intensidade que a deixava desconfortável.

Os dias seguintes foram um tormento silencioso. Os guardas raramente apareciam, e quando o faziam, ignoravam suas perguntas e ameaças.
— Meu irmão vai encontrar vocês! — gritava ela, a voz ecoando no porão vazio. — Meu pai vai afogar este lugar inteiro! Vocês não têm ideia de com quem estão mexendo!

Alguns guardas trocavam olhares rápidos, uma sombra de temor passando por seus rostos. Ela ouviu sussurros entre eles, fragmentos de conversas sobre seus poderes com água, especulações de que talvez fosse uma deusa do mar caída dos céus. Mas na maior parte do tempo, eles a ignoravam.

O estranho no outro círculo, no entanto, continuou em silêncio. Ele não se movia, não falava, apenas observava. Às vezes, parecia perdido em pensamentos, olhando para o vazio como se visse coisas que ela não podia imaginar. Outras vezes, seus olhos voltavam a ela, e Briely sentia um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo nele que a intrigava, mas também a assustava.

— Ei! — chamou ela, aproximando-se o máximo que podia da borda do círculo. — Você… pode me explicar o que está acontecendo aqui? Quem é você?

Nada. Nem um gesto, nem um olhar direto. Apenas aqueles olhos profundos, que pareciam ver através do tempo e do espaço. Frustrada, ela se afastou, encostando-se na parede invisível do círculo.

Com o passar das horas, algo estranho começou a se manifestar. Briely percebeu que não sentia fome ou sede. Seu corpo estava exausto, sim, mas não parecia precisar de sustento. Era um alívio misturado com inquietação. Não morreria de inanição, mas ainda estava presa, sem poderes, sem respostas, e com um companheiro de cela que parecia mais uma estátua do que uma pessoa.

Mas então, algo mudou. Na primeira noite que adormeceu no círculo, imagens fragmentadas invadiram sua mente. Era como um sonho, mas mais vívido, mais real. Ela viu um castelo de vidro em um céu impossível, figuras indistintas caminhando por paisagens que mudavam a cada segundo. Sentiu um calor suave, quase reconfortante, mas também uma presença que não conseguia identificar. Acordou ofegante, sem saber ao certo se havia sonhado ou se algo — ou alguém — havia tocado sua mente.

Seus olhos encontraram os do homem pálido no outro círculo. Ele ainda a observava, mas dessa vez havia algo diferente em seu olhar. Uma centelha de curiosidade, talvez. Ou interesse. Briely não sabia o que era, mas sentiu um arrepio.

— O que foi isso? — perguntou ela, mais para si mesma do que para ele.

Ele não respondeu com palavras, mas por um breve instante, ela jurou que sentiu algo — uma presença em sua mente, como um sussurro que não conseguia decifrar. Piscou, confusa, e decidiu não pensar mais nisso. Ainda não confiava nele, e algo naquele homem a fazia sentir que precisava manter a guarda alta.

No entanto, enquanto os dias passavam, os sonhos continuavam. Cada noite, as imagens se tornavam mais claras, os sentimentos mais intensos. E cada manhã, quando acordava, encontrava aqueles olhos insondáveis a observando. Era como se ele soubesse algo que ela não sabia, como se estivesse esperando que ela entendesse.

Briely não tinha certeza do que estava acontecendo, mas uma coisa era clara: sua prisão não era apenas física. Algo muito maior estava em jogo, e aquele homem, quem quer que fosse, era a chave para entender tudo.

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As palavras de Briely se dissolveram no ar, e o sonho se desfez como fumaça, deixando-a ofegante no frio do porão. Seu corpo estava tenso, os punhos cerrados, e o coração batia descompassado enquanto ela tentava separar o que era real do que havia sido apenas uma ilusão. O brilho das runas ao seu redor parecia mais opressivo do que nunca, como se zombasse de sua impotência. Seus olhos imediatamente encontraram os dele — Dream, como ele se chamara. Ele a observava, como sempre, mas havia algo diferente em seu olhar agora, uma intensidade que parecia quase tangível.

— Foi você de novo, não foi? — acusou ela, a voz rouca de frustração. — Não finja que não sabe do que estou falando. Eu ouvi uma voz no meu sonho. O que você quer de mim?

Ele permaneceu em silêncio por um longo momento, os olhos estreitados como se avaliasse cada palavra que ela dissesse. Quando finalmente falou, sua voz era baixa, quase frágil em comparação com o tom ressonante dos sonhos, como se o esforço de falar naquele lugar o desgastasse.

— Não posso... moldar os sonhos como antes. Não aqui. Mas eles ainda ecoam. O que você ouviu... não foi inteiramente minha vontade. Sua mente... ela chama. Eu apenas tento entender.

Briely franziu o cenho, tentando processar as palavras. Havia algo em sua voz, uma pontada de frustração, que parecia genuína. Ele não parecia estar no controle, não completamente, e isso a deixou ainda mais inquieta. Se não era ele manipulando seus sonhos de propósito, o que estava acontecendo? E por que a mente dela parecia “chamar” por ele, como ele dizia?

— Minhas mente não “chama” ninguém — retrucou ela, cruzando os braços e tentando esconder o desconforto que crescia dentro de si. — Eu só quero dormir sem ter minha cabeça invadida por vozes e lugares que não fazem sentido. Então, se não é você fazendo isso de propósito, o que está acontecendo?

Dream inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos fixos nela com uma curiosidade que parecia crescer a cada interação. Por um instante, ele pareceu hesitar, como se lutasse contra as limitações de sua própria prisão para encontrar as palavras certas.

— Os sonhos... são um reflexo. De quem você é. De onde você está. E, talvez... de mim. Não posso impedir que eles te toquem, não enquanto estamos aqui. Mas posso tentar ouvir. Diga-me... o que você vê?

Briely bufou, incrédula. Ele queria que ela compartilhasse seus sonhos, como se isso fosse algum tipo de terapia estranha? Mas, ao mesmo tempo, havia algo na maneira como ele perguntava, na urgência contida de sua voz, que a fez hesitar. Ele não parecia estar jogando com ela, não exatamente. Parecia mais alguém que estava tão perdido quanto ela, buscando respostas em um lugar onde nenhuma parecia existir.

— Não vou te contar nada até saber o que você é — disse ela, a voz firme, mas carregada de desconfiança. — Você fala de sonhos como se fossem algo que você controla, ou controlava. O que isso significa? Por que estamos aqui?

Os lábios dele se apertaram, e por um momento, Briely pensou que ele voltaria ao silêncio habitual. Mas então, ele falou, cada palavra escolhida com um cuidado quase doloroso.

— Fui... algo maior. Algo que moldava. Algo que governava. Mas aqui... sou apenas um eco. Preso, como você. Quanto ao motivo... não sei. Não completamente. Mas sua presença... ela não é comum. Você carrega algo que não deveria estar neste lugar. O que é?

Briely sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo na maneira como ele falava, no peso de suas palavras, que a fazia sentir que ele via mais dela do que ela mesma compreendia. Mas ela não podia deixar que ele percebesse sua insegurança. Como uma semideusa, ela aprendeu a manter a compostura, mesmo em situações impossíveis.

— Eu não “carrego” nada além de raiva por estar presa aqui — disparou ela, tentando desviar a conversa. — E se você não sabe por que estamos aqui, então de que adianta me perguntar sobre meus sonhos? Parece que nenhum de nós tem as respostas.

Dream não respondeu de imediato. Seus olhos a estudaram, e Briely sentiu o peso daquele olhar como uma pressão quase física. Ele parecia estar tentando desvendar algo, mas não tinha as ferramentas para isso — ou, pelo menos, não mais. Finalmente, ele falou, a voz quase um sussurro.

— Talvez... juntos, possamos encontrar. Seus sonhos... eles podem ser a chave. Deixe-me ouvir. Ou... tente ouvir você mesma.

Briely quis retrucar, quis dizer que não precisava da ajuda de ninguém, muito menos de um estranho enigmático que parecia falar em riddles. Mas algo a deteve. Talvez fosse o cansaço, ou a sensação crescente de que ela não sairia dali sozinha. Ou talvez fosse a memória dos sonhos, tão vívidos, tão estranhos, que pareciam carregar significados que ela não conseguia alcançar.

— Eu não confio em você — disse ela, por fim, a voz mais baixa, mas ainda afiada. — Mas se meus sonhos são tão importantes, então me diga como “ouvir”. Porque, até agora, tudo que vejo são imagens.

Um brilho sutil passou pelos olhos dele, algo que poderia ser o esboço de um reconhecimento, ou até mesmo de uma esperança contida. Quando falou, sua voz era quase gentil, mas ainda carregada de mistério.

— Feche os olhos. Não resista. Deixe as imagens virem. E, se ouvir minha voz... responda. Não posso fazer mais do que isso. Não aqui.

Briely hesitou, o instinto de autoproteção gritando para que não fizesse o que ele pedia. Mas o que mais ela tinha a perder? Estava presa, sem poderes, sem aliados. Talvez, apenas talvez, houvesse algo nos sonhos que pudesse ajudá-la a entender aquele lugar — ou a escapar dele.

Naquela noite, ela tentou. Fechou os olhos com relutância, o corpo ainda tenso contra a barreira invisível do círculo. O sono veio lentamente, carregado de apreensão. E, quando o sonho começou, não era como os anteriores. Ela estava em um espaço vazio, um vazio absoluto, onde nem o céu nem o chão existiam. Apenas escuridão, quebrada por fragmentos de luz que pareciam pulsar como batidas cardíacas.

E então, a voz veio, fraca e entrecortada, como se viesse de muito longe.

— ...está... aí...?

Briely congelou, o coração acelerando. Era ele, Dream, mas soava diferente — frágil, quase desesperado. Ela olhou ao redor, mas não havia nada além da escuridão e daquelas luzes pulsantes.

— Estou — respondeu ela, a voz ecoando no vazio. — Mas onde estamos? O que é isso?

A resposta demorou, e quando veio, era quase inaudível, como se ele lutasse para manter a conexão.

— ...um fragmento... do que fui... ouça... quem... você... é...?

A pergunta a pegou desprevenida. Ele ainda queria saber sobre ela, mesmo ali, naquele espaço estranho que parecia tão distante de tudo. Briely hesitou, o instinto de proteção brigando com a curiosidade. Mas antes que pudesse responder, o sonho começou a se desfazer, as luzes pulsantes desaparecendo uma a uma até que ela acordou, ofegante, no porão.

Seus olhos encontraram os dele imediatamente. Dream parecia exausto, se é que isso era possível, os ombros ligeiramente curvados, o olhar menos afiado do que antes. Ele não falou, mas Briely sentiu que algo havia mudado. Havia uma conexão ali, por mais frágil que fosse, algo que nenhum dos dois entendia completamente — mas que ambos precisavam explorar.

Chapter Text

O porão continuava sendo um túmulo de pedra e sombras, onde o tempo parecia não ter significado. Briely sentia cada dia como um peso a mais em seus ombros, mas algo havia mudado desde o último sonho. A voz de Dream, ou quem quer que ele fosse, havia se tornado mais clara, mais presente. Quando ela acordou naquela noite, ainda ofegante, o eco das palavras dele reverberava em sua mente com uma nitidez perturbadora.

— Eu sou Morpheus, Sonho dos Perpétuos. É assim que me chamam... ou chamavam, antes de estar aqui.

Ela piscou, o corpo rígido contra as barreiras invisíveis de seu círculo. O nome ecoou em sua cabeça como um trovão distante, carregado de algo que ela não conseguia identificar. Seus olhos verdes o encararam, estreitados, enquanto tentava processar o que acabara de ouvir.

— Morpheus? — repetiu ela, a voz carregada de desconfiança. — Se você é quem diz ser, eu saberia. Todo mundo saberia. Um deus como Morpheus não ficaria preso num buraco como este sem que o mundo soubesse. Você está mentindo.

Ele inclinou a cabeça, os olhos profundos fixos nos dela. Havia uma calma quase frustrante em sua postura, como se ele esperasse essa reação. Quando falou, sua voz era lenta, cada palavra escolhida com precisão.

— Não minto. Sou Morpheus, um dos Perpétuos. Meu domínio é o Sonhar, o reino dos sonhos e das histórias. Mas aqui... estou reduzido. E você, quem é para duvidar de mim com tanta certeza?

Briely bufou, cruzando os braços o melhor que pôde dentro do confinamento. A desconfiança ainda queimava em seu peito, mas havia algo na maneira como ele falava que a deixava inquieta. Ele parecia acreditar no que dizia. Respirando fundo, ela decidiu que, se ele estava jogando, ela também jogaria.

— Meu nome é Briely. Sou uma semideusa, filha de Poseidon. E, se você fosse mesmo Morpheus, saberia que um deus como meu pai não deixa suas filhos passarem despercebidas.

Os olhos de Morpheus se estreitaram, e pela primeira vez, Briely viu algo como genuína surpresa em sua expressão. Ele parecia processar as palavras dela, como se tentasse encaixá-las em um quebra-cabeça que não fazia sentido. Quando respondeu, sua voz era mais baixa, quase reflexiva.

— Poseidon... conheço-o. Senhor dos mares, esposo de Anfitrite, pai de Tritão. Mas uma filha? Uma semideusa, nascida de uma humana e de um deus? Isso... não estava em meu conhecimento.

Briely franziu o cenho, confusa. Como ele podia saber de Anfitrite e Tritão, mas não dela ou de outros semideuses? Ela sentiu um nó apertar em seu estômago, uma sensação de que algo estava errado, muito errado. Pensou no irmão eles são os filhos gêmeos de Poseidon, figuras tão conhecidas por seus feitos na guerra, e hesitou. Não queria soar como se estivesse se gabando ou invocando o nome de seu pai como troféu, mas a ignorância dele a deixava preocupada.

— Como você não sabe disso? — perguntou ela, a voz mais baixa agora, carregada de incerteza. — Meu pai teve outros filhos, semideuses como eu. Alguns são... bem conhecidos.

Morpheus não respondeu de imediato. Seus olhos a estudaram com uma intensidade que a fez sentir como se estivesse sendo dissecada. Finalmente, ele falou, o tom cauteloso, mas com um brilho de curiosidade.

— Não há notícias de tais filhos no mundo que conheço. Diga-me mais. De onde você vem?

Briely hesitou, mas decidiu que não tinha nada a perder. Talvez contar a ele ajudasse a entender o que estava acontecendo, por mais louco que parecesse. Respirando fundo, ela começou.

— Eu venho do Acampamento Meio-Sangue. É um lugar para semideuses como eu, onde treinamos, vivemos, nos protegemos. É um refúgio contra monstros e... outras coisas. Lá, aprendemos a sobreviver.

Morpheus piscou, e a surpresa voltou a sua expressão, mais evidente agora. Ele inclinou a cabeça, como se tentasse imaginar algo que não conseguia conceber.

— Acampamento Meio-Sangue... não conheço tal lugar. Nem ouvi falar de refúgios para semideuses. Isso não existe em meu mundo.

Briely o encarou, chocada. Seus olhos se arregalaram, e por um momento, ela não conseguiu encontrar palavras. Como ele podia não saber? O Acampamento era uma parte essencial de sua vida, um pilar para todos os semideuses. A ideia de que ele nunca tivesse ouvido falar daquilo era absurda.

— Como assim, não existe? — retrucou ela, a voz subindo de tom. — Todo mundo que conhece os deuses sabe do Acampamento! Ou pelo menos ouviu falar. Onde você esteve?

Morpheus permaneceu em silêncio por um longo momento, os olhos fixos nos dela. Quando falou, sua voz era grave, carregada de algo que parecia uma conclusão inevitável.

— Talvez... você não pertença a este universo. Talvez venha de um lugar diferente do meu, um mundo alternativo. Isso explicaria o que não compreendo sobre você.

Briely sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Suas mãos tremeram ligeiramente, e ela o encarou, incapaz de processar o que acabara de ouvir. Um universo alternativo? Isso era loucura. Seu mundo era o único que conhecia, o único que importava. Mas, ao mesmo tempo, algo nas palavras dele fazia sentido, por mais que doesse admitir.

— Isso... isso é impossível — murmurou ela, mais para si mesma do que para ele. — Eu estava em uma missão. Eu tinha um objetivo. Peguei um artefato, algo importante, e então... algo deu errado. Acordei aqui. Não pode ser outro universo. Não pode.

Morpheus não a interrompeu. Ele apenas ouviu, os olhos atentos a cada palavra. Quando ela terminou, ele falou, a voz ainda calma, mas com um peso que a fez estremecer.

— Um artefato. Uma missão. Isso pode ter sido a ponte. Algo que a trouxe para cá, para um lugar que não é seu. Se for verdade, então estamos ambos perdidos... mas de formas diferentes.

Os dias seguintes foram um borrão de pensamentos confusos para Briely. Cada vez que adormecia, a presença de Morpheus se tornava mais forte em sua mente. Os sonhos não eram mais fragmentados; eram espaços vastos e estranhos, às vezes belos, às vezes aterrorizantes, onde eles podiam conversar. Ele a guiava por paisagens impossíveis — bibliotecas infinitas, desertos de areia negra, céus que pulsavam como corações — e, aos poucos, eles começaram a se conhecer.

— Então, você realmente molda sonhos — disse ela em um desses encontros, caminhando ao lado dele em um campo de flores que brilhavam como estrelas. — Não era só conversa.

— Era meu propósito — respondeu ele, a voz mais suave ali, quase melancólica. — Mas agora... é apenas um eco do que fui.

Briely o olhou de soslaio, começando a ver além da fachada distante. Havia algo humano nele, ou quase isso, uma dor que ele não expressava com palavras. À medida que as semanas passaram, ela começou a pensar nele como um amigo, alguém com quem podia compartilhar suas dúvidas, seus medos. E Morpheus, por sua vez, parecia desenvolver um carinho por ela, um apego que ia além da curiosidade inicial. Ele não sorria, não exatamente, mas havia uma leveza em sua voz quando falava com ela, uma atenção que não estava lá antes.

— E o Acampamento? — perguntou ele uma noite, enquanto estavam sentados em um penhasco que dava para um oceano de tinta. — Como era viver lá?

Briely sorriu, algo raro nesses dias. — Caótico. Mas bom. Tínhamos treinos, missões, e... amigos. Pessoas que entendiam o que era ser como eu. Sinto saudade.

Ele a observou, os olhos refletindo algo que ela não conseguia identificar. — Talvez... possamos encontrar um caminho de volta. Para o seu mundo.

Ela assentiu, sentindo um calor estranho no peito. Pela primeira vez, não se sentia tão sozinha naquele porão frio. Pela primeira vez, sentia que talvez, apenas talvez, houvesse esperança.

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O porão da mansão permanecia como um túmulo de pedra, onde a escuridão parecia engolir qualquer esperança de luz. Briely, sentada contra a parede fria, sentia o peso de cada dia que passava três meses, segundo os cálculos que Morpheus fazia em sua mente desde o primeiro dia de sua prisão conjunta, embora ela própria tivesse perdido a noção exata do tempo. Cada noite, no entanto, trazia um refúgio: os sonhos que compartilhavam, um espaço onde as paredes do porão não podiam contê-los.

Naquela noite, o sonho os levara a um oceano vasto e inquieto, as ondas refletindo um céu crepuscular. Briely estava de pé na praia de areia negra, o som das águas ressoando em seu peito como um chamado de casa. Morpheus se encontrava ao seu lado, sua presença uma sombra tranquila, mas imponente, como se até ali, no reino dos sonhos, ele carregasse o peso de sua verdadeira natureza.

— Quando apareci, os guardas me capturaram e me colocaram aqui — começou Briely, a voz carregada de frustração enquanto encarava o horizonte. — Tenho certeza de que me confinaram nesses limites achando que eu representava algum tipo de ameaça depois que tentei atacá-los com meus poderes de água.

— Você tentou usar seus poderes de água — disse Morpheus, um toque de fascínio tingindo sua voz mental, clara e profunda como o próprio oceano diante deles. — Talvez por isso pensaram que você poderia ser uma deusa.

Briely assentiu, surpresa com a percepção dele. — Sim. Mas eu não sei se eles entenderam o que eu sou.

Morpheus permaneceu silencioso por alguns segundos, absorvendo a informação, e então começou a falar sobre algo que raramente compartilhava, como se o peso do confinamento tivesse começado a abrir fissuras em suas defesas. — Eu sou um dos Perpétuos. — Seus pensamentos ecoavam em sua mente com autoridade e mistério. — Tenho irmãos: o mais velho, Destino; depois Morte e Destruição; os gêmeos, Desespero e Desejo; e a mais nova, Delírio. Cada um governa seu domínio. Eu sou o Sonho.

Briely ouvia atentamente, fascinada e ao mesmo tempo apreensiva. — Perpétuos… — murmurou ela, lembrando-se de que deuses e imortais eram diferentes, mas nunca tinha ouvido falar dessa categoria.

— Sim — continuou ele, com uma calma quase acadêmica. — Perpétuos não são deuses. Deuses influenciam, criam e exigem devoção. Nós… existimos. Sempre existimos, como conceitos e forças. O sonho é meu domínio, e minha responsabilidade é manter o equilíbrio de todos os sonhos e pesadelos.

Ele pareceu respirar mentalmente, como se contar tudo isso fosse um fardo pesado. — Diferente de um deus, eu não posso ser enganado ou destruído pelo devoto, nem manipulado por ambição. Mas ainda posso ser aprisionado… como fui. E agora você está aqui.

Briely sentiu o peso de tudo aquilo. Sua própria confusão e medo desse novo universo misturavam-se com uma curiosidade insaciável. — Então… você entende agora por que me colocaram aqui com você? — perguntou ela, a voz carregada de incerteza. — Eles pensaram que eu poderia matá-lo ou libertá-lo… e não entendiam meus poderes.

Morpheus permaneceu contemplativo, e algo dentro dele parecia despertar — não apenas curiosidade, mas um fascínio genuíno. A presença dela era diferente de qualquer coisa que já tivesse encontrado, uma aura de deus em forma humana, vibrando em uma escala menor, mas intensa, impossível de ignorar. — É possível — respondeu ele, os olhos fixos nos dela, mesmo no sonho. — Sua força os assustou, como a minha os assustou. Somos enigmas para eles, perigos que não podem prever.

Naquele momento, dentro do espaço onírico, entre silêncios, revelações e pensamentos compartilhados, Briely e Morpheus perceberam que algo novo estava surgindo — uma conexão mais profunda, marcada por mistério, poder e uma atração silenciosa que ambos ainda não compreendiam.

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O tempo passou no mundo físico, e o porão da mansão tornou-se um lugar de poeira e memórias malditas. Briely não sabia ao certo quantos dias ou semanas se passaram mais Morpheus disse a ela que contava desde que ela chegou e estava quase chegando a três meses ali, mas a opressão do confinamento parecia crescer a cada instante. Até que, em uma tarde que parecia como qualquer outra, algo mudou.

Alex, agora idoso e fragilizado, desceu a escada pela última vez, empurrado em uma cadeira de rodas por seu marido, Paul. Diante da prisão de vidro de Morpheus, ele ergueu o olhar cansado para a figura imóvel dentro do confinamento. Morpheus, mesmo após décadas de prisão, permanecia imponente, mas seus olhos eram dois poços insondáveis de paciência e fúria contida.

— Eu... eu sempre disse que se pudesse, te libertaria — começou Alex, a voz embargada pelo peso da idade. — Mas não posso. Não... não sem garantias.

Morpheus inclinou levemente a cabeça, mas não respondeu.

— Meu pai... ele te temia. E eu entendo por quê. Você não é um homem, é algo... muito além disso. Eu... eu não sei o que você faria comigo, com Paul. Eu só quero... — Alex hesitou, olhando para as próprias mãos frágeis. — Quero que prometa. Prometa que não vão nos machucar.

Morpheus permaneceu em silêncio, seu olhar profundo e impassível, como se cada segundo fosse um julgamento silencioso. Alex esperava uma resposta, mas o Senhor dos Sonhos não cedeu um único gesto.

— Eu nunca mais descerei aqui. Nunca — disse Alex, a voz quase um sussurro derrotado.

Enquanto isso, Briely, sentada em seu espaço de confinamento, ergueu o queixo e falou com firmeza: — Vocês deviam ter medo. Soltem-nos, agora. Meu pai não deixará isso passar. Eu juro que a ira do mar virá para vocês.

Alex ficou visivelmente nervoso, e Paul desviou o olhar, como se o peso daquelas palavras o incomodasse. Sem mais nada a dizer, ele girou a cadeira de rodas, e, sem que Alex percebesse, um movimento descuidado de Paul roçou contra a barreira que mantinha Morpheus preso, quebrando o selo que o confinava. Os dois subiram, deixando o porão em silêncio.

Quando a porta se fechou, os guardas começaram a cochichar entre si: — Essa garota... não é humana. Você viu como ela falou? Ela parecia uma ninfa... ou pior, uma deusa caída. — E aquele lá? Um dos Dráculas, só pode ser. Ficar preso tanto tempo e ainda ter esse olhar... eu não chegaria perto dele.

Foi então que Morpheus se voltou mentalmente para Briely, sua voz ecoando em sua mente: — O selo foi rompido.

Ela o fitou, surpresa, o coração disparando, mas antes que pudesse responder, um dos guardas piscou, seus olhos ficando vazios enquanto a mente dele se preenchia com imagens de praias ensolaradas. Morpheus dominava seus sonhos. O guarda, sorrindo como se estivesse de férias, ergueu a arma e atirou no vidro da prisão. O som ecoou pelo porão, e os cacos se espalharam pelo chão.

O Senhor dos Sonhos estava livre.

Briely sentiu o ar mudar ao redor, como se a presença de Morpheus, agora desimpedida, preenchesse cada canto do porão. Ele se voltou para ela, os olhos intensos, e sua voz mental ressoou mais uma vez: — Sua liberdade virá em seguida. Prepare-se.

E então, com um gesto quase imperceptível, ele estendeu a mão, e a barreira invisível que a prendia tremeu antes de se desfazer. Briely caiu para a frente, ofegante, o corpo protestando contra a súbita liberdade após tanto tempo. Ela levantou o olhar para Morpheus, que permanecia de pé, uma figura de poder e mistério, esperando que ela se recuperasse.

Os dois guardas restantes recuaram, armas em punho, o medo estampado em seus rostos trêmulos. Mas não tiveram chance. Morpheus abriu a mão, e dela fluiu um punhado de areia negra e cintilante, materializando-se como se fosse uma extensão de sua essência. O pó espalhou-se pelo ar como um sopro vivo, pairando por um instante antes de envolver os homens. Eles caíram ao chão suavemente, adormecidos, os rostos serenos como se sonhassem com algo muito melhor do que suas vidas podiam oferecer.

Ele então voltou-se para Briely, a voz grave e firme quebrando o silêncio denso do porão:
— Vamos. Não temos mais nada a fazer aqui.

Ela ergueu uma sobrancelha, ainda surpresa por ouvi-lo falar assim, com tal autoridade, após tanto tempo preso em silêncio físico. — Só isso? Sem um “obrigado por aguentar tudo isso comigo”?

Um leve traço de um sorriso, quase imperceptível, surgiu em seu rosto pálido. — Haverá tempo para gratidão depois. Agora, precisamos ir.

Antes que Briely pudesse responder ou se preparar, o mundo ao redor vibrou. A mansão sombria pareceu se dissolver em grãos dourados, as paredes de pedra desmoronando como se fossem feitas de areia. O chão cedeu sob os pés dela, e Briely teve tempo apenas de dar um passo hesitante antes de ser sugada para um redemoinho de escuridão e luz. A sensação era desorientadora, como se estivesse caindo através de um vazio sem fim, o vento chicoteando seu rosto e cabelos.

A queda foi breve, mas intensa. Quando a areia finalmente cedeu, eles caíram juntos sobre uma praia iluminada por um céu que parecia estar em constante mutação, ora tingido de púrpura, ora de um azul profundo salpicado de estrelas. Morpheus caiu sobre ela, o corpo magro e frio pressionando o dela contra a areia quente. Briely ofegou, as mãos instintivamente empurrando-o enquanto o calor subia ao seu rosto.

— Você... está pelado! — reclamou, virando o rosto enquanto o rubor se espalhava por suas bochechas.

Ele se levantou com a calma de quem não sentia qualquer traço de vergonha, a postura tão natural quanto se estivesse vestido com um manto real. — Minhas vestes foram roubadas de mim.

Ela desviou o olhar, lembrando-se de como ele sempre estivera assim na prisão, e sentiu a vergonha aumentar ainda mais. — Onde estamos? Tá cheio de areia — resmungou, sacudindo os cabelos para tirar os grãos que grudavam em seus fios.

Antes que pudesse dizer mais ou processar a transição abrupta, uma figura surgiu à distância, caminhando com naturalidade por aquela praia onírica. Era uma mulher de pele escura e expressão firme, carregando um livro fechado nos braços. Seus passos eram elegantes, quase como se deslizasse sobre a areia, e seus olhos transmitiam uma mistura de surpresa e alívio ao se fixarem em Morpheus.

— Mestre? — disse ela, a voz carregada de reverência, mas também de uma preocupação contida. — Finalmente voltou. — Seus olhos percorreram Briely de cima a baixo, analisando-a com curiosidade. — E trouxe companhia?

— Lucienne, esta é uma aliada inesperada — respondeu Morpheus, agora completamente no controle, a voz suave mas carregada de uma autoridade inquestionável.

— Aliada? — Briely cruzou os braços, lançando um olhar afiado para ele. — Você me sequestrou, disse brincando

Lucienne deu um pequeno sorriso, como quem sabe mais do que revela. — Bem-vinda ao Sonhar, senhorita. Temos muito a conversar.

 

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De volta ao castelo em ruínas, Morpheus observava os salões vazios e as sombras silenciosas do Sonhar. Cada detalhe denunciava o abandono forçado: os portões partidos, os corredores rachados, a biblioteca quase deserta. Luciene estava ao lado dele, firme, mas com um olhar triste.

— Eles acreditaram que você os tinha abandonado. Não seria a primeira vez que um Perpétuo faz isso — disse ela com suavidade.
Morpheus apenas inclinou a cabeça, a expressão fechada.

— Eu não os abandonei. Fui tomado. Mas agora... vou restaurar tudo. Para isso, preciso das minhas ferramentas: a areia, o elmo e o rubi. Sem elas, não posso reconstruir o Sonhar.

Briely, que observava em silêncio, cruzou os braços.
— Você sabe onde estão?

— Não — ele admitiu. — Foram roubadas quando fui capturado. Mas sei como descobrir. Preciso falar com as Moiras, as Parcas.

Elas veem o que nenhum mortal ou imortal ousa olhar. Mas invocá-las exige poder, e eu ainda estou fraco. Preciso de oferendas para chamá-las.

Ele então revelou o que seria necessário: um pouco do sangue de uma criatura do Sonhar, o batimento de uma mente viva, o hálito de um fantasma e uma vela acesa em seu nome.

E, com pesar, pediu algo maior.
— Para conseguir força suficiente, precisamos de sacrifício. Gregory.

A viagem até a casa de Caim e Abel foi silenciosa, Briely andando ao lado dele, desconfiada.

Ao chegarem, foram recebidos pelos dois irmãos. Caim, sempre desconfiado e de temperamento explosivo, os fitou com desagrado, enquanto Abel tentava ser cordial. Gregory, o grande gárgula, aproximou-se feliz ao ver o mestre.

Morpheus acariciou o com carinho.
— Sinto muito, meu velho amigo... preciso de você uma última vez.

Ao explicar o que precisava, Abel ficou desconsolado, e Caim explodiu de raiva:
— Você some por um século e volta para arrancar de nós nosso companheiro mais fiel?!
Mas Gregory, como se entendesse cada palavra, tocou a mão de Morpheus e, com um som baixo, aceitou o destino.

Em um ritual calmo, Morpheus absorveu a essência do gárgula, prometendo que sua energia seria usada para restaurar o Sonhar. Abel chorava silenciosamente, enquanto Caim, por mais irado que estivesse, não interveio.

De volta ao castelo, com a força de Gregory em si, Morpheus se preparou. Ele reuniu os itens, montando o círculo de invocação. Briely se aproximou.
— Você tem certeza que quer fazer isso agora? Você ainda está fraco.

— Não posso esperar. Cada instante que passo longe de minhas ferramentas, o Sonhar se desfaz mais. Confie em mim.

Quando a vela foi acesa e o círculo completo, a sala se encheu de vento e sombras. As Parcas apareceram — três mulheres em uma só, que falavam com vozes sobrepostas.
— Pergunte, Sonho dos Perpétuos. Tens apenas três perguntas.

Morpheus escolheu com cuidado. Primeiro quis saber onde estava sua areia: elas responderam que estava nas mãos de Johanna Constantine, uma exorcista que cuidava de assuntos que poucos ousavam tocar.

Depois perguntou pelo elmo: elas disseram que o objeto tinha sido levado para o Inferno, guardado por um demônio.

Por fim, o rubi: este havia caído nas mãos de John Dee, um homem perigoso e instável, trancado no mundo desperto.

Antes que desaparecessem, Morpheus comentou com um leve suspiro, mais para si mesmo:
— Conheci uma Constantine há muito tempo. Parece que essa família ainda cruza meu caminho.

Quando o ritual terminou, Briely olhou para ele.
— Então é isso? Esse é o começo da caçada?
— Sim. Recuperarei cada um deles. E então, Briely, o Sonhar voltará a viver.

O Sonhar ainda carregava a marca de seu abandono forçado. Morpheus caminhava pelos salões, a areia dourada de Gregory ainda se dissipando suavemente ao redor.

Briely o seguia silenciosa, observando cada gesto do Senhor dos Sonhos, seus olhos atentos, cheios de determinação.

— Morpheus... posso ajudá-lo a recuperar suas ferramentas — disse ela, a voz firme, porém hesitante. — Depois que você recuperar tudo, eu posso pedir que me ajude a voltar ao meu universo.

Ele parou, olhando-a com olhos profundos e sombrios.
— Briely, o mundo desperto é perigoso demais para você. Não posso permitir que vá comigo.

— Então você me deixa aqui, à mercê do que restou do Sonhar? — ela respondeu, firme. — Eu vou com você. Não vou ficar trancada enquanto você enfrenta isso sozinho.

O silêncio caiu pesado entre eles. Morpheus desviou o olhar, pesando a decisão.
— Se realmente insistir, concordarei, mas com uma condição: você permanecerá ao meu lado, sempre, e jamais se afastará. Não quero que se machuque.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

As ruas frias do mundo desperto cortavam a noite como cicatrizes escuras, o ar gelado trazendo o cheiro de asfalto úmido e decadência. Morpheus, o Rei dos Sonhos, caminhava com passos firmes, sua presença imponente mesmo em um corpo que ainda carregava as marcas de um longo cativeiro. Sua capa escura ondulava ao vento, um contraste com a vulnerabilidade que só ele sabia que ainda sentia sem suas ferramentas. Ao seu lado, Briely acompanhava o ritmo, seus olhos atentos a cada canto sombrio, enquanto o corvo Matthew voava baixo, as asas batendo com um som quase rítmico contra o silêncio opressor. Eles seguiam para recuperar a areia dos Sonhos, a primeira peça do quebra-cabeça que Morpheus precisava para reconstruir o Sonhar, um reino que, sem suas ferramentas, permanecia em ruínas, um eco vazio de sua antiga glória.

Briely insistira em acompanhá-lo, mesmo quando ele tentara deixá-la em segurança com Lucienne no Sonhar. Sua determinação era algo que ele, em segredo, admirava, embora sua preocupação por ela fosse uma corrente invisível que apertava seu peito. “Ficará sempre perto de mim,” dissera ele mais cedo, a voz grave reverberando com uma ordem que não admitia recusa, mas também com um traço de algo mais profundo, um desejo de protegê-la que ela não percebeu. Para Briely, era apenas uma condição, um pacto de companheirismo. Para Morpheus, era um juramento silencioso, alimentado por um sentimento que crescia dentro dele como uma sombra que ele não conseguia banir.

O primeiro destino era uma igreja antiga, suas paredes de pedra desgastadas pelo tempo, os vitrais quebrados lançando fragmentos de luz colorida no chão empoeirado. O interior era iluminado por velas tremulantes, o cheiro de cera derretida misturando-se ao ar pesado de santidade e desespero. Johanna Constantine estava lá, no centro de um exorcismo, sua voz ecoando pelas paredes com uma mistura de autoridade e sarcasmo afiado. “Saia agora, seu desgraçado, ou eu te mando de volta pro inferno com um chute no traseiro!” gritava ela, segurando um crucifixo manchado enquanto traçava sigilos no ar com a outra mão, o rosto marcado por suor e determinação.

Morpheus observava de longe, escondido nas sombras da entrada, seus olhos frios analisando cada movimento. Ele se voltou para Briely, que estava ao seu lado, e murmurou: “Fique do lado de fora. Se algo acontecer, chame-me.” Sua voz era baixa, mas carregada de uma intensidade que parecia atravessar o ar.

Ela franziu a testa, claramente contrariada, mas assentiu com um suspiro. “Tudo bem, mas não demore. Não gosto de ficar de babá do vazio.” A leveza em suas palavras era um contraste com a tensão do ambiente, e Morpheus sentiu um canto de sua boca se curvar quase imperceptivelmente antes de se virar e entrar no templo, a escuridão o envolvendo como um velho amigo.

Dentro da igreja, o ar estava denso com o cheiro de incenso e algo mais sombrio, algo que pertencia aos reinos abaixo. Johanna terminava o exorcismo, o demônio preso em um círculo de sal uivando em agonia antes de ser banido com um flash de luz amarelada e um grito final. Antes de desaparecer, a criatura fixou seus olhos em Morpheus e rosnou com desdém: “O Rei dos Sonhos, hein? Preso por mortais e agora mendigando por migalhas. Patético.” Morpheus não se abalou, seu olhar profundo parecendo atravessar a essência da criatura, que foi sugada de volta para o abismo com um gemido distorcido.

Johanna, limpando o suor da testa com a manga de sua jaqueta de couro gasta, virou-se para ele sem demonstrar surpresa, os olhos semicerrados com um misto de curiosidade e irritação. “Se o Rei dos Sonhos veio até mim, não deve ser por devoção,” disse ela, o tom carregado de um humor ácido que parecia ser sua marca registrada.

Morpheus inclinou a cabeça levemente, sua voz calma mas impregnada de propósito. “Preciso de sua ajuda, Constantine. Minha areia dos Sonhos. Sei que não está mais com você, mas pode descobrir onde está.”

Ela cruzou os braços, avaliando-o por um momento antes de soltar um suspiro dramático, quase teatral. “Tudo bem, Majestade. Mas espero que tenha algo em troca. Não trabalho de graça.” Ele apenas assentiu, um gesto que prometia mais do que palavras poderiam, seus olhos escuros capturando um brilho de reconhecimento por sua habilidade e coragem.

A busca os levou a uma casa decadente na periferia da cidade, um lugar que parecia sugado de toda vida, suas janelas cobertas por cortinas rasgadas, o ar ao redor carregado de um peso que parecia grudar na pele como névoa. Rachel, uma antiga conhecida de Johanna, vivia ali, e a energia da areia dos Sonhos pulsava de dentro da casa como um coração doente. Johanna insistiu em entrar sozinha, empurrando a porta rangente com o ombro. “Deixem comigo,” disse ela, confiante, lançando um olhar por cima do ombro para Morpheus e Briely, que esperavam do lado de fora sob o olhar vigilante de Matthew, empoleirado em um poste de luz quebrado, suas penas brilhando na penumbra.

Os minutos se arrastavam, e a demora começou a inquietar. Briely cruzou os braços, batendo o pé no chão de forma impaciente, a testa franzida. “Já faz tempo demais. Algo está errado,” murmurou ela, mais para si mesma do que para Morpheus. Ele, porém, sentiu um aperto no peito, uma mistura de preocupação pela areia e por Briely, tão perto do perigo. Sem dizer uma palavra, ele avançou, a porta abrindo-se com um empurrão de sua mão pálida, a madeira rangendo em protesto. Briely o seguiu sem hesitar, ignorando qualquer cautela, seus passos rápidos ecoando no silêncio.

Dentro, a cena era inquietante. O interior da casa era sufocante, o papel de parede descascando revelando paredes mofadas, o chão coberto por poeira e objetos quebrados. Johanna estava caída perto de uma mesa, inconsciente, o rosto pálido e uma marca de queimadura leve em sua mão. Perto dela, Rachel jazia em um canto, o corpo frágil e consumido, os olhos vidrados enquanto segurava uma bolsa de couro com força desesperada, como se sua vida dependesse disso. A areia dos Sonhos estava ali, sua energia pulsando de forma quase palpável, corroendo a mente da mortal que a possuía com um veneno lento e cruel.

Morpheus aproximou-se de Johanna primeiro, agachando-se ao seu lado e tocando sua testa com a ponta dos dedos. Uma onda de energia sutil a despertou, e ela abriu os olhos, ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente. “Maldição… aquela coisa é veneno puro pra humanos,” murmurou ela, levantando-se com esforço, o rosto ainda pálido mas os olhos recuperando o brilho de sempre.

Morpheus não respondeu, seus olhos agora fixos em Rachel. Ele pegou a bolsa de areia com um movimento preciso, sentindo o poder familiar retornar a ele, uma parte de sua essência se reconectando como um pedaço perdido de um quebra-cabeça. Mas Briely não conseguia tirar os olhos da mulher no canto, o coração apertado com compaixão diante do sofrimento estampado em cada linha do rosto dela. Ela se virou para Morpheus, a voz suave mas carregada de um pedido sincero. “Você pode fazer algo por ela?”

Ele a encarou por um longo momento, e algo em seu olhar rígido suavizou, um raro vislumbre de vulnerabilidade que apenas ela parecia evocar, uma fenda em sua armadura imortal. “Sim,” disse ele, a voz baixa, quase um sussurro, como se temesse que falar mais alto revelasse demais. “Posso dar a ela um fim em paz.”

Ele se aproximou de Rachel, agachando-se ao seu lado com uma graça que parecia deslocada em um lugar tão sombrio. Com um gesto delicado, quase reverente, ele estendeu a mão, e uma brisa leve, quase etérea, envolveu o corpo frágil da mulher. Seus traços relaxaram, a dor desaparecendo enquanto seus olhos se fechavam, um suspiro final escapando de seus lábios antes que ela encontrasse descanso. Briely observou em silêncio, um suspiro de alívio escapando enquanto agradecia com um leve aceno de cabeça, seus olhos brilhando com uma gratidão que Morpheus absorveu como uma chama em sua alma eterna. Johanna, ainda recuperando o fôlego, apenas assistiu, sem comentário, o rosto fechado mas os olhos traçando um respeito silencioso.

“Não há mais nada aqui para nós,” disse Morpheus finalmente, levantando-se com a bolsa de areia nas mãos, sua voz retomando a frieza habitual enquanto se endireitava. “Vamos.”

Do lado de fora, a noite parecia ainda mais fria, o vento cortante carregando o cheiro de chuva distante. Havia, no entanto, uma estranha paz no ar, como se o peso opressivo da casa tivesse ficado para trás com o corpo agora em repouso. Johanna recuperava a postura, esfregando o pescoço enquanto Matthew saltitava curioso por perto, suas penas brilhando sob a luz fraca de um poste. Morpheus mantinha o olhar distante, sempre calculando o próximo passo, mas sua atenção parecia dividida, voltando constantemente para Briely de uma forma que ele tentava — e falhava — disfarçar, seus olhos capturando cada movimento dela como se temesse que ela pudesse desaparecer na escuridão.

Johanna, percebendo isso com um sorriso intrigado, aproximou-se de Briely, os passos casuais mas os olhos afiados. “Então, você e o Rei dos Sonhos, hein? Como acabou nessa história?”

Briely deu um sorriso leve, cruzando os braços enquanto o vento bagunçava seus cabelos, jogando mechas sobre seu rosto. “Ele precisava de ajuda, eu também. Agora seguimos juntos.”

Johanna arqueou uma sobrancelha, claramente divertida, o canto da boca se curvando em um sorriso debochado. “E o que ele é pra você? Um mestre? Protetor?”

“Nada disso,” retrucou Briely, rindo baixo, completamente alheia ao modo como as palavras poderiam ressoar no coração de Morpheus, que ouvia a conversa a poucos passos de distância, cada sílaba atingindo-o como uma lâmina fina. “Somos amigos. Pelo menos eu acho que sim. Ele é... diferente, mas está me ajudando, e eu o ajudo a recuperar o que perdeu.”

Matthew, pousando no ombro de Johanna, inclinou a cabeça de forma cômica, as asas se mexendo com impaciência. “Primeira vez que vejo o Morpheus com uma amiga. Isso é novo.”

Johanna riu de lado, lançando um olhar para o Sonhar de longe, os olhos semicerrados com um misto de curiosidade e diversão. “Amigos do Rei dos Sonhos... Isso não deve ser fácil. Mas parece que funciona. Se ele disse que vai te ajudar, então confie.”

Briely apenas fitou Morpheus, sua expressão mesclando curiosidade e uma ternura que ela não sabia que ele via com tanta intensidade. Para ela, era apenas gratidão, a confiança de alguém que encontrou um aliado em tempos sombrios. Para ele, cada olhar, cada sorriso, era um golpe contra as muralhas que ele construíra ao redor de si por eras. Ele queria se aproximar, dizer algo que expressasse o que sentia — a necessidade de tê-la perto, não apenas como companheira de jornada, mas como algo mais. Mas ele sabia que ela não via isso, não sentia o mesmo, e o pensamento o corroía em silêncio enquanto mantinha sua postura fria e distante, os dedos apertando a bolsa de areia como se buscasse ancoragem em algo familiar.

“Já recuperamos o que vim buscar,” disse ele, cortando a conversa, sua voz ressoando com a autoridade de um Perpétuo, o tom cortante como o vento ao redor. “Não há motivo para nos demorarmos aqui.”

Johanna deu de ombros, acenando com um gesto casual, o rosto ainda marcado pelo esforço da noite. “Sempre um prazer, Majestade. Se precisar de mim pra achar mais das suas bugigangas mágicas, sabe onde me encontrar. Mas não espere que eu faça isso de graça da próxima vez.”

Ele inclinou a cabeça em reconhecimento, mas seus olhos já estavam em Briely, uma intensidade neles que quase a fez hesitar. “Você não precisava vir. Este mundo não é seguro para alguém como você,” murmurou ele, as palavras carregadas de um peso que ela não percebeu, um desejo não dito de protegê-la a qualquer custo.

Ela sorriu, o tom brincalhão de sempre, alheia à tempestade interna que suas palavras causavam nele. “E desde quando eu deixo você enfrentar essas coisas sozinho? Além disso, não sou tão frágil quanto você pensa, Morpheus. Já passamos por coisas piores juntos, não foi?”

Ele não respondeu de imediato, apenas a observou, os olhos capturando cada detalhe dela como se quisesse guardá-la em um sonho que nunca se desfizesse. “Fique perto, então. Como prometeu,” disse finalmente, a voz baixa, mas carregada de uma densidade que parecia ecoar além do que as palavras diziam.

“Sempre,” respondeu ela, sem captar a profundidade do que ele sentia, o sorriso ainda brincando em seus lábios. “Agora, qual é o próximo passo? O elmo ou o rubi?”

Matthew interveio, voando para perto de Morpheus, a voz rouca cortando o silêncio. “Se quer minha opinião, o Inferno não parece um lugar de férias. Mas, ei, sou só um corvo. O que eu sei?”

“O elmo está no Inferno,” confirmou Morpheus, os olhos fixos no horizonte escuro, a linha de sua mandíbula tensa enquanto pensava no que os aguardava. “Será desafiador. Mas não há escolha. O Sonhar não pode ser restaurado sem todas as minhas ferramentas.”

Briely apenas deu de ombros, o vento levantando uma mecha de seu cabelo enquanto sorria, um desafio nos olhos. “Então vamos ao Inferno. Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer.”

Ele sentiu um aperto no peito, uma mistura de admiração por sua coragem e temor pelo que estava por vir. Queria protegê-la de tudo, mantê-la longe de qualquer perigo, mas sabia que ela nunca aceitaria ser deixada para trás. E, em segredo, ele não queria que ela ficasse. Sua presença, mesmo sem o sentimento que ele desejava, era a única coisa que parecia ancorar sua essência em meio ao caos.

“Vamos retornar ao Sonhar primeiro,” disse ele, retomando a frieza habitual, a voz como um fio de gelo na noite. “Preciso preparar o caminho para o que nos espera. E você… precisa estar pronta.”

Ela riu baixinho, um som que para ele era mais doce que qualquer melodia do Sonhar, mesmo que doesse saber que não era por ele como ele desejava. “Estou pronta desde que te conheci. Vamos lá.”

Enquanto caminhavam, a noite engolindo seus passos, Morpheus permitiu-se um pensamento que raramente deixava emergir. Sabia que o Inferno seria implacável, mesmo para ele. Mas o verdadeiro medo não era o que poderiam enfrentar lá, e sim o que poderia acontecer a ela. Em silêncio, ele renovou um juramento que nunca compartilhará: enquanto estivesse ao seu lado, nada a tocaria. Não enquanto ele existisse.

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O ar gelado do Inferno cortava como lâminas invisíveis, carregado

“Tem muitos nomes. Averno, Tártaro, Hades… a região infernal que vocês chamam de Inferno,” falou Morpheus, sua voz grave e distante, enquanto seus olhos escuros pareciam atravessar as profundezas do lugar, como se ele próprio fosse parte daquela escuridão.

“Então, o Inferno existe?” perguntou Matthew, surpreso, suas penas se eriçando enquanto girava a cabeça para absorver cada detalhe do ambiente hostil.

“Sim, para alguns,” respondeu Morpheus, o tom carregado de uma sabedoria antiga que parecia ecoar além das palavras.

“Isso significa que não existe se você não acredita nele?” insistiu Matthew, inclinando a cabeça com curiosidade.

“Você acreditava nisso? Quando era humano?” retrucou Morpheus, um leve suspiro escapando dele enquanto fixava o corvo com um olhar penetrante.

Suspirando, Matthew respondeu: “Sim. Eu simplesmente não esperava que o Inferno fosse frio. Então, para onde vamos?”

“Sugiro que sigamos os condenados,” disse Morpheus, apontando para um caminho tortuoso à frente, ladeado por saliências que pareciam se mover como seres vivos, retorcendo-se com uma vontade própria.

O grupo avançou, o ar gelado e pesado os envolvendo enquanto atravessavam corredores sombrios. Morpheus caminhava à frente, firme, mas segurava a mão de Briely com uma força protetora, guiando-a por escadas irregulares que rangiam sob o peso de eras de abandono. Cada degrau parecia protestar contra sua presença, e o som ecoava como um lamento distante.

“O Hades…” Briely começou, hesitante, sua voz quase engolida pelo silêncio opressivo do lugar. “Quero dizer, o tio Hades, como ele é nesse universo? Você o conhece?”

Morpheus desviou o olhar, seus olhos refletindo a luz espectral que parecia surgir de lugar nenhum, lançando sombras inquietantes ao redor. “Sim, Briely. Conheço. Posso lhe contar sobre as contrapartes deles e até sobre seu pai quando voltarmos. Por enquanto, concentre-se em permanecer segura.”

Eles continuaram até chegar a um imenso portão, seus contornos grotescos esculpidos em pedra negra, com detalhes que pareciam pulsar como veias. A paisagem era fria, desolada, diferente de qualquer descrição que Briely já ouvira em seu mundo. Matthew olhou para Morpheus, confuso e apreensivo. “Então… precisamos levar o próprio fogo para entrar…”

“Um rei não pode entrar no reino de outro monarca sem ser convidado,” respondeu Morpheus com firmeza, sua voz cortando o ar como um decreto. “Há regras e protocolos que devem ser seguidos.”

Ao se aproximarem do portão, uma voz ecoante e rouca os saudou, carregada de desdém e provocação. “Tem um na porta… À porta da condenação. Ladrão, bandido ou prostituta? Há espaço para mais um…”

“Saudações, Squatterbloat,” disse Morpheus com autoridade, sua presença dominando o espaço. “Peço uma audiência com seu soberano.”

“Mm. Sim, meu palhaço. Então, onde está sua coroa?” zombou o demônio, seus olhos brilhando com malícia enquanto se inclinava para mais perto, o fedor de enxofre emanando de sua forma retorcida.

“Guarde sua língua, demônio. O Governante do Inferno não será gentil com quem insulta um convidado de honra. E eu sou um convidado neste reino, pois sou meu próprio monarca. Abrirá os portões do Inferno e nos deixará passar?” retrucou Morpheus, cada palavra afiada como uma lâmina.

Squatterbloat, com um grunhido relutante, conduziu-os pelo portão, e o grupo seguiu por um caminho tortuoso, subindo escadas irregulares. Morpheus segurava a mão de Briely com cuidado e firmeza, cada toque transmitindo uma segurança que ela sentia, mas não compreendia por completo. A paisagem ao redor parecia mudar a cada passo, moldada pelos caprichos de um poder superior.

“A Estrela da Manhã?” perguntou Briely, olhando ao redor com um misto de fascínio e temor, enquanto as formas distorcidas das rochas se retorciam como se observassem sua passagem. “Temos que passar a noite neste lugar literalmente esquecido por Deus?”

“Sim,” respondeu Morpheus, sério, seus olhos fixos no horizonte sombrio. “Mas não se preocupe, estarei com você.”

“Como o Diabo?” sussurrou Matthew, assustado com a magnitude do local, suas asas tremendo levemente. “O Governante do Inferno não é um mero diabo?”

“Não é qualquer anjo,” explicou Morpheus calmamente, sua voz carregada de um peso que parecia carregar eras de história. “Quando nos conhecemos, Lúcifer era o anjo Samael. O mais belo, mais sábio e mais poderoso de todos os anjos. Com exceção apenas do Criador, Lúcifer é talvez o ser mais poderoso que existe.”

“Mais poderoso que você?” perguntou Matthew, surpreso, seus olhos redondos fixos em Morpheus.

“De longe,” respondeu Morpheus. “Principalmente agora.”

Finalmente, chegaram a uma cela, um espaço frio e úmido, onde o ar parecia sufocar qualquer esperança. Matthew comentou, desconfiado, enquanto olhava ao redor. “O demônio… sumiu.”

Dentro da cela, uma figura frágil os encarou, seus olhos cheios de um reconhecimento doloroso. “Senhor dos Sonhos… Kai’ckul… e você?” falou ela, ofegante, a voz tremendo com uma mistura de alívio e desespero.

“Quem é ela?” perguntou Matthew, surpreso, enquanto suas asas batiam inquietas.

“Senhor dos Sonhos?” continuou a mulher, respirando pesadamente. “Kai’ckul… eu sabia que você viria. Por favor, liberta-me. Somente o teu perdão pode me libertar.”

Morpheus permaneceu sério, contemplando a figura à sua frente, seus traços impassíveis. Briely sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas manteve-se firme ao lado dele, a mão ainda segura na dele.

“Por quanto tempo ela está aqui?” perguntou Matthew, curioso, repetindo a pergunta como se tentasse absorver a gravidade da situação.

“Mais de 10.000 anos,” respondeu Morpheus com firmeza. Briely arregalou os olhos, chocada, e ficou momentaneamente em silêncio, assustada com a magnitude do tempo e do castigo.

“10.000 anos? Como… como isso é possível?” perguntou a mulher, incrédula, seus olhos arregalados enquanto sua voz tremia.

“Foi porque você me desafiou,” respondeu Morpheus calmamente, sem desviar o olhar.

“Você… você ainda me ama?” perguntou ela, a voz tremendo com uma esperança frágil.

Morpheus desviou o olhar, lançando um breve e intenso vislumbre para Briely antes de responder com firmeza. “Não. Eu não a amo mais. Amo outra pessoa.”

Briely engoliu em seco, um frio percorrendo sua espinha ao ouvir aquelas palavras. Não sabia de quem ele falava, mas sentia a intensidade do afeto que ele carregava por alguém além daquela cela. Seu coração apertou de uma forma que ela não conseguia explicar, alheia ao fato de que era para ela que os olhos de Morpheus sempre retornavam.

Matthew permaneceu em silêncio, atônito, tentando processar tudo que acabara de ouvir.

“Não se preocupe com isso,” disse Morpheus suavemente, virando-se para Matthew e Briely. “Venham. Temos assuntos mais importantes a tratar.”

Ele conduziu Briely para longe da cela, segurando sua mão com firmeza, enquanto Matthew os seguia, observando cada movimento. A presença da mulher ali era inquietante, mas Morpheus permanecia resoluto, sua determinação inabalável enquanto guiava seus companheiros para o próximo confronto.

Eles se aproximaram de um imponente palácio infernal, suas torres retorcidas perfurando a escuridão como dentes afiados. Lúcifer Morningstar e Mazikeen os aguardavam, os olhos do primeiro brilhando com curiosidade e um desafio velado.

“Olá, Sonho. Saudações a você, Lúcifer Morningstar,” disse Morpheus, mantendo a postura firme. “Saudações, Mazikeen dos Lillim.”

Lúcifer franziu o cenho, olhando para Briely ao lado de Morpheus. “Vejo que trouxe companhia,” disse ele, a voz carregada de ironia. Seus olhos percorreram Briely, mas então seu olhar se congelou. “Espere… o que é isso?” murmurou, sentindo algo estranho na aura da jovem. “Essa presença parece um certo Deus, Morpheus… o que você está fazendo com alguém do panteão grego?”

Briely ficou tensa, surpresa com a atenção do governante do Inferno. Morpheus apenas manteve a mão sobre a dela, protegendo-a, enquanto respondia com calma: “Ela me acompanha para manter-se segura. Nada mais.”

“Hm…” Lúcifer arqueou uma sobrancelha, desconfiado, mas recuou um passo, estudando a situação. “Veremos como isso se desenrola.”

Lúcifer sorriu, mas não era um sorriso amigável. “Sempre misterioso. Mas vamos ao que importa. Presumo que esta não seja uma visita social. Ou veio, quem sabe, reconhecer a soberania do Inferno?”

“Você sabe que não é disso que se trata, Lightbringer,” disse Morpheus. “Vim recuperar algo que me pertence. Meu Elmo de Estado foi roubado e acredito que esteja com um de seus demônios.”

“Ah, Morpheus… sempre tão direto,” murmurou Lúcifer. “Mas as coisas não são tão simples aqui. Existem regras, protocolos. Diga o nome e o trarei a você.”

“Não sei o nome,” respondeu Morpheus.

Um sorriso se abriu lentamente no rosto de Lúcifer. “Então teremos que convocar todos eles.”

Mazikeen ergueu o queixo e estalou os dedos. Das profundezas do palácio, um rugido se ergueu, seguido por um coro de vozes, até que o chão pareceu tremer.

“Muito bem, Sonho,” disse Lúcifer, com um brilho divertido nos olhos. “Todos estão aqui. Faça sua pergunta.”

O salão do Inferno estava lotado. Demônios de todas as formas e tamanhos, desde sombras rastejantes até criaturas titânicas, se reuniam para ver o que estava por vir. O ar vibrava com expectativa.

Lúcifer ergueu a mão, pedindo silêncio, e então, com um sorriso enigmático, disse: “Pronto, Sonho. Você pode perguntar. Qual demônio está com seu capacete? Vamos entrevistá-los um de cada vez ou…?”

Morpheus ergueu o queixo, a postura firme. “Isso não será necessário.”

Lúcifer inclinou levemente a cabeça, intrigado. “Nos surpreende a facilidade com que você desiste, Dream. Sabemos o quanto você confiou em suas ferramentas. Mas as ferramentas são as armadilhas mais sutis. Tornamo-nos dependentes delas e, sem elas, ficamos vulneráveis, fracos e indefesos.”

“Não totalmente,” respondeu Morpheus, a voz tão fria quanto o mármore. “Recuperei minha areia. Ela me trouxe até aqui, e agora trará para mim o que é meu.”

A voz ecoou pelo salão. “Diga-me seu nome, demônio.”

Um murmúrio correu entre a multidão. Um demônio avançou, esguio e arrogante, com olhos que pareciam abismos. “Eu tenho que contar a ele?” perguntou, com um sorriso torto.

Mazikeen respondeu antes que Lúcifer pudesse falar: “Esse é Choronzon. Um Duque do Inferno.”

Os olhos de Morpheus se estreitaram. “Choronzon… O elmo é meu. Você deve devolvê-lo para mim.”

Choronzon riu, um som gutural e provocador. “Não. Agora é meu. Troquei-o com um mortal por algo insignificante. Foi uma troca justa. Não infringi nenhuma lei.”

“E se o Rei dos Sonhos quiser seu elmo de volta,” completou Lúcifer, com um brilho malicioso nos olhos, “ele terá que lutar por ele.”

Choronzon abriu os braços, teatral. “Exato. Eu o desafio, Dream. Se vencer, seu capacete será devolvido. Mas se perder, você será meu escravo aqui no Inferno… por toda a eternidade.”

Matthew deu um passo à frente, a voz carregada de preocupação. “Morpheus, isso é loucura…”

Mas Morpheus não desviou o olhar do demônio. “Eu aceito os termos.”

A sala explodiu em gritos e risos demoníacos. Choronzon gargalhou, saboreando cada segundo, enquanto o ar ao redor parecia pulsar com uma energia sombria. Briely apertou a mão de Morpheus instintivamente, seu coração disparando com uma mistura de medo e admiração pela determinação implacável dele. Ele retribuiu o aperto por um breve momento, um gesto quase imperceptível de conforto, antes de soltá-la e dar um passo à frente, enfrentando o desafio que definiria não apenas sua busca, mas talvez seu destino no Inferno.

Chapter Text

Lúcifer ergue as asas, imponente, enquanto a arena do Inferno se abre em um grande círculo de fogo e trevas.

Lúcifer (voz ecoando):
— Governante dos Sonhos, quem lutará por você?

Morpheus, firme:
— Eu mesmo me representarei.

Lúcifer, sorrindo de canto:
— Muito bem. Choronzon, quem lutará por você?

Choronzon, com um tom quase servil:
— Eu escolho... você, meu senhor.

Lúcifer ergue a sobrancelha, um brilho de orgulho e desafio nos olhos.
— Assim seja.

Matthew, inquieto:
— Sonho, isso é loucura. Você não precisa fazer isso sozinho!

Morpheus:
— Matthew, volte para o Sonhar. Esta batalha é minha.

Briely, aproximando-se com o olhar sério:
— Você vai ficar bem?

Morpheus a encara por um segundo, o olhar firme mas sereno.
— Confie em mim.

A arena vibra com gritos demoníacos. Lúcifer caminha para o centro, cada passo reverberando como um trovão.

Choronzon, como mestre de cerimônias, anuncia:
— Bem-vindos, senhores do Inferno! Hoje testemunharemos um duelo entre o Governante dos Sonhos e a Estrela da Manhã, no jogo mais antigo. Uma batalha de imaginação e poder!

Lúcifer abre um sorriso frio:
— Vamos ver se você ainda é digno do título que carrega, Morpheus.

Morpheus, calmo:
— Estou pronto.

As chamas aumentam. A arena silencia. O primeiro movimento está prestes a ser feito.

A arena mergulha em um silêncio profundo. O ar pesa, como se o Inferno inteiro prendesse a respiração.

Lúcifer dá um passo à frente, o olhar frio e desafiador.
— Então, vamos começar. Eu sou um lobo, feroz e faminto, caçando sob a lua sangrenta.

Uma explosão de energia. Lúcifer se transforma em um lobo gigantesco, as presas brilhando, o pelo feito de fumaça e fogo. Ele avança.

Morpheus ergue o queixo, tranquilo:
— Eu sou um caçador, um homem com a lança certeira, que encontra o lobo e o abate.

Sua forma muda. Surge um caçador com armadura negra, a lança em mãos, firme, mirando o peito do lobo.

Matthew, no alto, comenta nervoso:
— Isso é insano. Eles estão se transformando em palavras... em ideias.

Briely observa em silêncio, o rosto sério, mas uma centelha de preocupação nos olhos.

Lúcifer rosna, a voz ecoando mesmo na forma de fera:
— Então eu sou uma serpente, que desliza, veneno nas presas, escondida na sombra para matar o caçador.

O corpo do lobo se contorce, transformando-se em uma serpente colossal, verde-escura, os olhos ardendo como brasas. Ela avança.

Morpheus, firme, responde:
— Eu sou um pássaro, um falcão no alto, que mergulha e devora a serpente.

Lúcifer sorri, voltando à forma angelical por um instante.
— Eu sou um gato, ágil e veloz, que caça o pássaro no ar.

Morpheus:
— Eu sou um lobo, maior do que o anterior, que mata o gato.

O ritmo acelera. Cada frase é um golpe, cada palavra uma forma.

Briely, sussurrando para Matthew:
— Isso não é só poder... isso é imaginação pura.

Matthew, com os olhos arregalados:
— É o jogo mais antigo... e se ele perder... ele vai ser escravo aqui para sempre.

A plateia de demônios ruge enquanto o duelo prossegue, cada forma mais ameaçadora que a anterior.

Lúcifer sorri, a voz carregada de desprezo:
— Muito bem, Sonho, mas ainda está jogando pequeno. Eu sou um dragão, imenso, com asas que cobrem o céu, cuspindo chamas que consomem tudo.

O calor do fogo ilumina a arena, os demônios gritam em aprovação.

Morpheus ergue o olhar, inabalável:
— Eu sou uma árvore antiga, enraizada na terra, imune às chamas, que sufoca o dragão com seus galhos eternos.

Briely morde o lábio, apreensiva. Ela murmura para Matthew:
— Ele está cansado... mas ainda firme.

Matthew responde:
— Ele sempre tem uma carta escondida.

Lúcifer, os olhos brilhando, inclina a cabeça com um sorriso perigoso:
— Então eu sou um machado, afiado, que corta a árvore ao meio.

Morpheus fecha os olhos, a voz baixa mas firme:
— Eu sou uma ferrugem que corrói o machado até o pó.

Os demônios murmuram, inquietos. A cada transformação, a tensão aumenta.

Lúcifer ergue a mão, a aura crescendo, e grita:
— Então eu sou uma doença, invisível, sem cura, que consome tudo.

Briely dá um passo à frente, a preocupação evidente:
— Isso está indo longe demais...

Morpheus, com calma, responde:
— Eu sou esperança.

A arena silencia. A palavra ecoa como um sino quebrando o ar pesado. A própria luz do Inferno vacila.

Lúcifer hesita, a expressão fechada.
— Esperança...

Matthew, quase sussurrando para Briely:
— Isso é o que eles não entendem... esperança não morre.

Lúcifer, com um sorriso forçado, declara:
— Muito bem, Sonho... o capacete é seu.

Matthew solta o ar em alívio, enquanto Briely, apesar de não querer admitir, sente um nó no peito desatar. Ela murmura:
— Ele venceu... mas por pouco.

Os gritos dos demônios ecoam pela arena, alguns em fúria, outros em descrença. Choronzon, derrotado, cai de joelhos, ofegante.

Lúcifer caminha até Morpheus, os olhos semicerrados, mas um sorriso elegante no rosto. Ele segura o capacete nas mãos, reluzindo com um brilho sombrio.
— Muito bem, Sonho... uma vitória é uma vitória. Como prometido, o capacete é seu.

Morpheus pega o capacete com calma, mas antes que possa dizer algo, Lúcifer vira o olhar para Briely.
— E você... há algo em você... uma centelha familiar. Não é exatamente um deus, mas carrega a marca de alguém grande. Poseidon, talvez? — Ele inclina a cabeça, curioso, mas o tom é provocativo. — O que o Rei do Sonhar faz acompanhado de alguém que carrega o eco de um deus grego?

Briely sustenta o olhar, mas não responde. Apenas aperta os punhos, firme.

Matthew se aproxima dela, em alerta, mas Morpheus se adianta:
— Ela não está aqui para satisfazer sua curiosidade, Estrela da Manhã.

Lúcifer ri baixo, mas dá um passo para trás.
— Como desejar.

Ele faz um gesto e a multidão de demônios começa a dispersar. O ar frio do Inferno volta a soprar.

Matthew, aliviado, murmura:
— Hora de voltar para casa?

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

As portas do Inferno se fecharam atrás deles com um estrondo que ecoou como um suspiro de alívio. O peso do ar pesado e frio foi substituído pela sensação etérea do Sonhar, onde a realidade parecia respirar de forma diferente, com cores mais vivas e contornos que dançavam entre o tangível e o imaginado. O céu acima era um mosaico de tons impossíveis, e o chão sob seus pés parecia pulsar com uma energia silenciosa, como se acolhesse seu retorno.

Morpheus caminhava à frente, o elmo recuperado em suas mãos, a superfície lisa refletindo fragmentos de luz onírica. Briely e Matthew o seguiam de perto, mas um silêncio carregado pairava entre eles, quebrado apenas pelo som suave dos passos e pelo ocasional bater das asas de Matthew. Briely, que até então mantinha uma expressão firme, desviou o olhar para Morpheus, a voz saindo em um tom baixo, quase hesitante.

— Você vai ficar bem?

Ele não respondeu de imediato, mas parou por um instante, virando-se para ela. Seus olhos, profundos e insondáveis como abismos, suavizaram levemente, um raro vislumbre de algo além de sua habitual impassividade.

— Sim — disse por fim, a voz calma, mas firme. — Estou em casa agora.

Matthew bateu as asas, pousando ao lado deles com um leve farfalhar de penas. Seus olhos brilhavam com uma mistura de alívio e curiosidade.

— Bom, eu não vou mentir, chefe. Aquilo foi insano. E… — ele lançou um olhar de canto para Briely, um sorriso malicioso no bico — tenho certeza de que ainda vai ter muita explicação sobre aquele “tio Hades” e o lance do panteão grego, né?

Morpheus apenas lhe lançou um olhar enigmático, o tipo de expressão que parecia dizer tudo e nada ao mesmo tempo.

— Quando for a hora, Matthew.

Os três seguiram pelo caminho onírico, o castelo do Sonhar surgindo ao longe como uma miragem que se solidificava a cada passo. Suas torres se erguiam em formas impossíveis, moldadas por sonhos e pesadelos, promessas e perguntas ainda pairando no ar como névoa.

Morpheus olhou para Briely e Matthew, sua expressão séria, o peso de suas palavras cortando o silêncio.

— O próximo passo é recuperar o rubi que foi roubado. Ele está nas mãos de John Dee, e não posso permitir que seu poder continue prejudicando o mundo.

Briely franziu a testa, a apreensão desenhando linhas em seu rosto enquanto processava a gravidade da situação.

— O rubi? É perigoso, não é?

— Sim — respondeu Morpheus, a voz calma, mas carregada de uma certeza inabalável. — Mas preciso buscá-lo. Vocês dois vão comigo, mas permaneçam atentos.

Matthew assentiu, suas asas se movendo inquietas enquanto ele sentia a tensão no ar.

— Entendido. Só espero que possamos voltar sem problemas.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A transição para o mundo desperto foi abrupta, como atravessar uma cortina de água fria. Eles emergiram em um espaço sombrio, um ambiente claustrofóbico iluminado apenas por luzes tremeluzentes de lâmpadas antigas. O ar carregava um cheiro de poeira e decadência, e ali, no centro do cômodo, estava John Dee, seus olhos fixos no rubi que segurava com mãos trêmulas, a joia pulsando com uma luz rubra e ameaçadora.

John Dee ergueu os olhos, reconhecendo a presença do Senhor dos Sonhos. Um sorriso estranho, quase infantil, curvou seus lábios.

— Olá. Eu sou John. Que bom que você está aqui. Acabou a energia. Então não há TV e não há ninguém com quem conversar. O que você pensa que está fazendo?

Morpheus avançou com passos deliberados, sua voz cortante como o frio de uma noite sem fim.

— Salvando o mundo de suas mentiras. O rubi não foi feito para isso.

John inclinou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de desafio e desespero.

— Ah, você é o Sandman. Minha mãe tinha razão. Ela disse que você viria buscá-lo. Você deve devolvê-lo para que eu possa reparar o dano que você causou.

— Não vou devolver. É meu — retrucou, a voz firme, sem um traço de hesitação. — Está prejudicando você, John, e seu mundo.

John apontou para o rubi, suas mãos tremendo enquanto segurava a joia como se fosse sua própria vida.

— Está revelando a verdade. Esta é a verdade da humanidade.

Briely observava de longe, os olhos alternando entre Morpheus e John, a curiosidade misturada à apreensão. Ela se aproximou de Matthew, a voz um sussurro tenso.

— Senhor Morpheus, o que ele quer dizer com “verdade da humanidade”?

Matthew, com as asas ligeiramente eriçadas, respondeu em um tom baixo, quase sombrio.

— Os sonhos o mantêm vivo. Mas se ele roubar os sonhos, se tirar a esperança das pessoas… é perigoso.

Morpheus estendeu a mão, os dedos pairando sobre o rubi, que brilhou intensamente como se reconhecesse seu verdadeiro mestre.

— O rubi está machucando você, John. Ele contém muito do meu poder. Se você continuar, ele só ampliará sua dor.

John riu, um som rouco e amargo, os olhos arregalados com uma loucura contida.

— Ah, você acha que sou eu quem precisa ser salvo? Meu pai roubou o rubi. Seu reinado terminou quando meu pai o capturou. Seu reino é meu direito de nascença. Seu poder reside dentro de mim. Como você se sente sabendo que tenho sua vida em minhas mãos?

Morpheus o encarou, a voz grave, cada palavra pesando como uma sentença.

— Você está machucando os sonhadores. Mas ainda não é tarde demais para se salvar.

Com um gesto preciso, Morpheus tomou o rubi das mãos de Dee. A joia irradiou uma luz intensa, quase ofuscante, mas, ao invés de guardá-la, Morpheus a segurou com firmeza, a energia contida nela começando a vibrar de forma descontrolada. Ele fechou os olhos por um instante, e então, com um movimento deliberado, esmagou o rubi entre seus dedos. A pedra se desfez em fragmentos de luz carmesim que se dissiparam no ar, liberando uma onda de poder que pareceu restaurar o equilíbrio ao redor. John Dee caiu de joelhos, exausto, o rosto pálido e marcado pela derrota.

— Eu matei você — murmurou Dee, a voz quase inaudível, os olhos fixos no vazio onde o rubi outrora brilhou.

Morpheus o observou por um momento, a expressão impassível, mas com um traço de compaixão nas palavras.

— Não, John. Você destruiu o rubi e liberou o poder contido nele. Eu nunca teria pensado nisso. Mas a pedra dos sonhos não foi feita para mortais. Você não tem culpa alguma. Durma bem, John.

Matthew soltou um suspiro longo, as penas relaxando ligeiramente enquanto a tensão no ar começava a se dissipar.

— Todo o dano que o rubi causou, você pode desfazer?

Morpheus desviou o olhar para os fragmentos de luz que ainda pairavam no ar, agora inofensivos, quase como poeira ao vento.

— O rubi não fez isso. John apenas o usou para revelar feridas que estavam escondidas, mas nunca cicatrizaram. Amanhã, a reconstrução começará. Neste reino e no meu. Mas pelo menos esta noite… a humanidade dormirá em paz.

Briely olhou para Morpheus, os olhos ainda brilhando com uma mistura de alívio e admiração, incapaz de desviar o olhar da figura que parecia carregar o peso de mundos inteiros nos ombros.

— Então… está tudo bem agora?

— Sim — respondeu Morpheus, a voz finalizando o capítulo com uma certeza tranquila, enquanto os últimos vestígios do poder do rubi se dissipavam ao redor.

O ambiente ao redor pareceu se aquietar, como se até o mundo desperto reconhecesse o fim daquele confronto. Ainda assim, uma sensação de expectativa permanecia, como se cada vitória trouxesse consigo a sombra de novos desafios no horizonte do Sonhar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O ar do Sonhar se tornava mais leve a cada passo de Morpheus, enquanto reconstruía meticulosamente os salões, corredores e torres que haviam sido danificados pelas últimas aventuras. A energia fluía de suas mãos, formando estruturas flutuantes de vidro, pedra e luz. Ao lado dele, Briely observava, maravilhada, sentindo o poder do governante do Sonhar em cada gesto.

— Isso… — disse ela, sem conseguir completar a frase. — É incrível.

— Ainda há muito a ser feito — respondeu Morpheus, a voz firme, mas suave. — Mas estamos chegando lá.

Quando terminou de restaurar o grande salão central, Morpheus conduziu Briely até um corredor recém-construído, iluminado por velas flutuantes e símbolos etéreos. Ele abriu uma porta discreta, revelando um espaço acolhedor, cheio de livros, tapestries e um leito amplo com cortinas translúcidas.

— Aqui estarão seus aposentos — disse ele, olhando para Briely. — Você terá seu próprio espaço dentro do Sonhar.

Ela deu um passo à frente, ainda encantada.
— Eles são… lindos. Obrigada.

Morpheus não respondeu, apenas observou em silêncio, sabendo o significado daquela divisão de espaço. Ele próprio tinha seus aposentos adjacentes, e somente Luciene sabia que aquela era, na verdade, a ala da rainha do Sonhar. Luciene observava à distância, com um leve arrepio de apreensão, mas não comentou.

No dia seguinte, uma carta flutuou magicamente até suas mãos de luciene , marcada com o símbolo do Panteão Grego. Luciene a entregou a Morpheus, que a abriu com cuidado, os olhos percorrendo as palavras com atenção crescente.

— Briely… — disse ele, com o cenho franzido. — Esta carta traz notícias do panteão. Diz que eles sabem da sua essência, e querem conhecê-la… junto de seus parentes.

Briely engoliu em seco, seu coração acelerando.
— Meus parentes?

— Sim — respondeu Morpheus, observando-a com atenção. — Eles convidam você para vir e apresentar-se diante deles. Confesso que isso é… preocupante. Não sei exatamente o que esperam, nem oque despertou tal interesse.

Briely respirou fundo, sentindo uma mistura de medo e curiosidade. Luciene se aproximou, surpresa sobre o conteudo da carta ela olhou para a briely um pouco curiosa sobre o porque de eles a convidarem.

— Eu sou filha de Poseidon disse briely

Houve um silêncio. Matheus olhou para ela com os olhos arregalados, e Luciene pareceu boquiaberta. A informação era impressionante, ainda mais considerando a aura de poder que ela emanava.

— Então… você realmente carrega o sangue de um deus — disse Luciene, em um tom que misturava admiração e preocupação.

— Sim — murmurou Briely, sem explicar que sua linhagem se originava de outro universo. Morpheus apenas observava, satisfeito com a decisão dela.

— Excelente — disse Luciene, recuperando a compostura. — A biblioteca voltou. Precisamos aproveitar.

Morpheus conduziu Briely até a biblioteca, cujas torres de livros flutuavam, formando um espaço labiríntico de sabedoria infinita.
— Aqui, Briely, você poderá estudar e compreender melhor este universo. Também posso explicar um pouco sobre os deuses que existem aqui — começou Morpheus. — Poseidon, no nosso mundo, ainda domina os mares, mas sua influência é mais contida. Zeus é equilibrado e justo, Atena ainda ensina através de testes, e Dionísio… bem, continua imprevisível, mas seu caos é contido

Briely, fascinada, começou a traçar paralelos com os deuses de seu próprio universo.
— No meu mundo, os deuses do Olimpo são mais… temperamentais. Eles brigam entre si, interferem com os mortais por capricho, e cada ação deles causa um impacto enorme. Atena é estrategista, sim, mas mais direta; Dionísio é pura diversão e caos. — Ela sorriu, comparando mentalmente. — Mas, pelo que você me diz, os deuses daqui são mais calculistas, controlando seu poder sem interferir demais.

Morpheus assentiu, admirando a perspicácia dela.
— Exatamente. Aqui, eles equilibram seu poder com a necessidade de manter o cosmos estável. Mesmo os mais temperamentais agem com propósito e controle.

— Então, minha essência de Poseidon será sentida — disse Briely, pensativa. — Eles perceberão minhas intenções, mas ainda terão que decidir se confiam em mim.

— Sim — respondeu Morpheus. — E, enquanto você aprender com eles, também se conhecerá melhor.

Briely sorriu, sentindo um misto de ansiedade e determinação.
— Espero que eles vejam que não vim para causar problemas. Apenas quero aprender e entender.

— E isso é suficiente — disse Morpheus, olhando para ela com suavidade. — Para eles, e para você.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após a visita à biblioteca e a explicação sobre os deuses daquele universo, Morpheus acompanhou Briely pelos corredores do Sonhar até seus aposentos. “Você pode se trocar aqui. Vamos jantar juntos em breve,” disse ele, a voz calma, mas firme.

Briely entrou no quarto com curiosidade, observando cada detalhe: os móveis eram imponentes, tapeçarias finas decoravam as paredes, e uma luz suave filtrava-se pelas janelas. Ela caminhou até o closet e abriu as portas, revelando roupas luxuosas que pareciam ter sido feitas sob medida para alguém de alta linhagem.

“Uau… isso é incrível,” murmurou para si mesma. Entre vestidos e trajes de várias cores, seus olhos pararam em um azul intenso, sua cor favorita. Ela pegou a peça cuidadosamente e decidiu que seria a escolha perfeita para o jantar. Após um banho rápido, vestiu-se e ajeitou o cabelo, admirando-se por um instante no espelho antes de sair.

Do lado de fora, Morpheus esperava em silêncio. Ao vê-la, um leve sorriso surgiu em seu rosto, mas ele rapidamente voltou à postura séria. “Está pronta?” perguntou. Ela assentiu, e juntos seguiram pelos corredores até a sala de jantar do Sonhar.

O ambiente estava tranquilo, iluminado por uma luz difusa que refletia nas superfícies douradas e prateadas. Sentaram-se à mesa e começaram a conversar. Morpheus explicou novamente que, em dois dias, ela deveria se apresentar aos deuses gregos. “Eu vou acompanhá-la,” disse ele, com firmeza.

Briely respirou fundo antes de perguntar: “E sobre meu universo… você conseguiu descobrir como eu posso voltar para lá? Alguma pista?”

Morpheus ergueu a cabeça e olhou para ela por um instante, sua expressão se fechando por um segundo. “Ainda não,” respondeu, controlando a irritação que sentia. “Não tenho nada concreto.”

Ela percebeu a mudança em seu tom, mas decidiu não insistir. Em vez disso, concentrou-se na comida e nas informações que ele compartilhava sobre os gregos. Apesar de não demonstrar, Morpheus estava preocupado — o fato de alguém com a essência de Poseidon daquele universo ter surgido naquele mundo poderia trazer complicações inesperadas.

O jantar prosseguiu em silêncio confortável, com pequenas conversas sobre trivialidades do Sonhar e detalhes das futuras apresentações de Briely. Ambos sabiam que dias decisivos estavam por vir, mas, por enquanto, era apenas um momento para se preparar.

 

no dia seguinte Briely deixou a biblioteca ao lado de Morpheus, ainda processando as informações sobre os deuses daquele universo. Ele a conduziu com passos firmes pelos corredores silenciosos do Sonhar até seus aposentos, a luz etérea do castelo lançando sombras suaves em seu caminho.

— Chegamos — disse Morpheus, abrindo a porta com um gesto quase cerimonial. — Você pode se trocar antes de jantarmos juntos hoje.

Ela entrou, os olhos percorrendo o luxo do quarto. O espaço era majestoso, com móveis esculpidos em detalhes que pareciam mudar sob diferentes ângulos de luz. O closet estava repleto de roupas finas e cintilantes, predominando tons de azul profundo, sua cor favorita, em tecidos que lembravam veludos e sedas raras. Lucienne permaneceu alguns minutos ao seu lado, ajudando-a a escolher o que vestir com sugestões discretas, antes de se retirar, deixando os dois sozinhos.

Enquanto Briely explorava o ambiente, selecionando uma das peças azuladas, Morpheus esperava do lado de fora, silencioso, mas com uma presença atenta que parecia preencher o espaço. Ela se dirigiu ao banheiro, tomou um banho rápido e vestiu a roupa escolhida. Ao sair, encontrou Morpheus encostado à parede do corredor, esperando pacientemente, seus olhos insondáveis fixando-a por um breve instante antes de se recompor.

No jantar, realizado em uma sala de jantar serena do Sonhar, banhada por uma luz difusa que refletia nas superfícies douradas, a conversa fluiu de maneira mais íntima. Briely abriu-se sobre sua vida, contando a Morpheus sobre seu irmão gêmeo, sua mãe e seu padrasto Paul. Falou também da guerra dos semideuses e das perdas que a marcaram, mencionando seu melhor amigo, Nico, filho de Hades.

— E sobre a guerra? — perguntou Morpheus, sua curiosidade genuína, inclinando-se ligeiramente para frente.

Ela respirou fundo, a voz carregada de lembranças dolorosas. — Houve traições… E Luke Castellan… eu gostava muito dele, antes de trair nosso acampamento.

Morpheus notou a tristeza em seus olhos, e algo como um ciúme silencioso o atingiu ao perceber o afeto que ela nutria por esse Luke. Ele não demonstrou, mas seu semblante endureceu levemente, os dedos apertando a taça em sua mão por um instante antes de relaxar.

Após o jantar, eles retornaram aos aposentos dela. Morpheus havia preparado algo especial para o encontro iminente com os gregos. Sobre a cama, repousava um vestido preto luxuoso, com detalhes sutis que ecoavam o estilo de suas próprias vestes escuras.

— É para você — disse ele, aproximando-se, o olhar sério, mas carregado de uma gentileza rara. — E trouxe algo mais.

Ele revelou um conjunto de colar e brincos feitos de rubi, a pedra reluzindo sob a luz suave do quarto. Com um gesto cuidadoso, ele os colocou em Briely, seus dedos roçando levemente sua pele. Ela sentiu um arrepio, encantada com a atenção e o cuidado dele.

— Lucienne ajudará você a se preparar depois, mas agora… estamos sozinhos. — A voz dele era firme, mas carregava uma nota de ternura que ecoava no silêncio do quarto.

Briely olhou para ele, sentindo o peso da atenção que recebia. O ambiente estava quieto, exceto pelo sussurro do tecido do vestido. Havia uma intimidade naquele momento que ambos percebiam, mesmo sem precisar verbalizar.

— Obrigada — disse ela, finalmente, baixando o olhar, ainda um pouco tímida.

Morpheus apenas assentiu, observando-a com uma intensidade que parecia captar cada detalhe. Ela estaria pronta para conhecer os deuses gregos em breve, mas, naquele instante, era apenas ela e ele, envoltos no silêncio seguro do Sonhar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Na manhã seguinte, Morpheus acompanhou Briely pelos corredores do Sonhar até os portões que levavam ao Panteão Grego. Ela vestia o vestido preto luxuoso, os rubis refletindo a luz do Sol nascente. Seu coração batia acelerado; nunca imaginara que chegaria a esse momento.

— Lembre-se, Briely — disse Morpheus, segurando sua mão por um breve instante —, esteja confiante, mas atenta. Eu estarei ao seu lado.

— Estou pronta — respondeu ela, respirando fundo para controlar a ansiedade. — Mas… você conseguiu descobrir alguma pista sobre como voltar ao meu universo?

Morpheus endureceu ligeiramente, a tensão em sua postura denunciando um leve desagrado, embora sua expressão permanecesse controlada. — Ainda não, Briely. Mas concentre-se agora. Isso será importante.

Eles atravessaram o portal e se encontraram em uma sala monumental, cercada por figuras imponentes: deuses gregos de diversas eras e funções, alguns claramente desconfiados, outros curiosos. Um símbolo familiar do Tridente de Poseidon estava projetado em pedra no centro do salão.

— Então… você é minha filha — disse uma voz grave, fazendo Briely erguer a cabeça. Era Poseidon em pessoa, sua presença imponente e majestosa. — É verdade?

— Sim, senhor — respondeu ela com firmeza, mantendo em segredo, como combinado com Morpheus, que não pertencia àquele universo. — E estou ansiosa para conhecê-los.

O olhar de Morpheus percorreu os deuses, cauteloso. Ele sabia que, embora fossem divindades, qualquer aproximação indevida poderia gerar conflitos.

— Notícia se espalhou rapidamente — murmurou Morpheus para Briely, em um tom baixo —, sobre alguém com a essência de Poseidon. Precisamos ser cautelosos.

— Eu sei — respondeu ela. — No meu universo, os deuses têm semelhanças, mas existem diferenças. Posso contar um pouco sobre eles, se quiser.

— Faça isso — disse Morpheus, observando atentamente cada reação dos deuses.

Enquanto Briely explicava sobre os deuses que conhecia — Zeus, Hera, Atena, Ares e suas influências sobre os mortais —, Morpheus comparava mentalmente com as contrapartes daquele panteão, apontando nuances e poderes que diferiam de seu mundo.

Os deuses a observavam em silêncio, alguns murmurando entre si. Afrodite notou algo curioso: a proximidade e proteção de Morpheus sobre Briely indicava um laço silencioso, quase obsessivo, mas apenas do lado dele; de Briely, a conexão parecia apenas amistosa. Ela comentou baixinho com Ares:

— Olhe, eles têm um laço estranho… ele a protege como se fosse dele, mas ela parece apenas vê-lo como amigo.

Enquanto isso, Briely também percebeu algo sutil: as roupas de Morpheus e o vestido negro que usava eram semelhantes em estilo, impondo uma presença complementar entre os dois.

— Ele quer conhecê-la melhor — comentou Morpheus em voz baixa para Briely —, e a intenção de todos os outros é observar com cautela. Este será um teste social e, em certa medida, político.

— Então, não há motivos para preocupação? — perguntou ela, um pouco nervosa.

— Apenas esteja atenta e seja você mesma — respondeu Morpheus. — Lembre-se, estou ao seu lado.

Briely respirou fundo e assentiu.

O salão do Panteão Grego parecia ainda mais grandioso quando ela entrou, acompanhada por Morpheus. A luz refletia nas colunas de mármore e nos símbolos divinos gravados nas paredes, criando uma atmosfera quase etérea. Poseidon, imponente, a observava atentamente assim que ela se aproximou.

— Então você realmente passou esse tempo com ele no Sonhar — disse Poseidon, analisando-a com interesse. — Nunca pensei que alguém pudesse compartilhar tantos momentos com o Governante dos Sonhos.

Os outros deuses trocaram olhares, notando imediatamente a semelhança física entre ela e Poseidon. Cabelos longos e negros, pele morena e olhos verdes profundos, como o próprio mar — era impossível não notar sua beleza. Além disso, as vestes negras e luxuosas de Briely lembravam os trajes de Morpheus, e os deuses perceberam o paralelo visual e simbólico entre mestre e protegida.

— Ela tem apenas três meses, mas nasceu adulta — explicou Morpheus, antecipando perguntas. — Ela foi capturada por ocultistas e permaneceu comigo no mesmo círculo durante esse período.

Os deuses que a rodeavam ficaram surpresos e, após ouvirem o relato de Morpheus, tornaram-se ainda mais amigáveis com Briely, recebendo-a calorosamente em sua presença. Ela se sentiu acolhida, mesmo em meio a seres tão poderosos e ancestrais.

Quando chegou a hora do jantar, Briely foi conduzida a uma mesa longa e elegante. Morpheus se sentou ao seu lado, seu olhar firme e atento refletindo a proteção silenciosa que oferecia. Afrodite, discretamente, observava cada gesto, notando a proximidade e a tensão implícita entre eles — a obsessão silenciosa dele por ela e a admiração respeitosa dela por seu protetor.

Poseidon franziu ligeiramente o cenho, surpreso e maravilhado. — Então você é minha primeira filha mulher — disse ele, com um misto de admiração e ternura. — Meu único filho legítimo é Tritão, filho de Anfítrite, e sempre achei impossível gerar filhas.

Poseidon se aproximou dela, com o olhar firme, mas amistoso. — Você é minha única filha mulher… Tenho também um filho, Tritão, legítimo, mas nunca consegui gerar filhas mulheres até você. Gostaria que vocês se conhecessem algum dia. E eu… gostaria muito de conhecê-la melhor também. Quero convidá-la a morar comigo em Atlântida. Lá você estaria segura, cercada pelos mares e sua verdadeira herança.

Morpheus, sentado ao lado dela, ergueu os olhos lentamente, sentindo um aperto no peito. Sua mão se fechou com força sobre o garfo à sua frente. Um estalo seco ecoou pela mesa quando ele partiu o garfo ao meio, chamando a atenção de todos.

— Briely — disse ele, com calma controlada, olhando Poseidon —, ela não pode ir. Ela pertence ao Sonhar agora.

Poseidon suspirou, mantendo o sorriso gentil, e se voltou para Briely: — Mas você pode me visitar quando quiser. Estarei esperando por você.

As deusas observavam, notando a proteção intensa de Morpheus. Afrodite murmurou baixinho para Ares: — Eles têm um laço interessante… ele é muito protetor.

Briely interpretou o cuidado de Morpheus apenas como amizade profunda e proteção, sem perceber a intensidade real do sentimento dele.

O jantar prosseguiu, com Poseidon respeitando os limites, Morpheus atento a cada gesto, e as deusas conversando casualmente com Briely sobre sua presença, força e jeito único.

O jantar chegava ao fim e, aos poucos, a tensão que pairava sobre a mesa começava a se dissipar. As conversas se tornavam mais leves, e até mesmo Morpheus parecia menos rígido, embora seu olhar permanecesse atento a cada movimento de Briely.

Surpreendentemente, Zeus, com sua presença imponente, disse com um sorriso quase paternal: — Briely, saiba que você é sempre bem-vinda ao Panteão Grego. Pode voltar quando quiser.

Ela corou levemente, surpresa e lisonjeada, enquanto os outros deuses faziam pequenos acenos de aprovação, tornando o ambiente mais acolhedor.

Poseidon se levantou, despedindo-se de todos. Voltou-se para Briely e Morpheus, seu olhar preocupado, mas sereno. — Cuide bem dela, Morpheus — disse, sua voz firme, mas com um toque de carinho.

Enquanto ficavam a sós, Poseidon voltou-se para Briely com um sorriso mais suave: — Briely, saiba que sempre poderá me visitar… e se quiser, até morar comigo na Atlântida. Mas fico de olho na sua relação com o Morpheus. Espero que não haja confusões.

Ela sorriu, compreendendo suas preocupações: — Está tudo bem, pai. Ele e eu somos apenas amigos.

Poseidon lançou um olhar de avaliação para Morpheus, franzindo levemente a testa. O comportamento calmo, porém intenso e reservado do Senhor dos Sonhos, parecia estranho para o deus do mar, como se escondesse algo que ele ainda não podia compreender totalmente. — Hm… muito bem. Mas cuidado com ele — murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

Nesse instante, Morpheus apareceu, interrompendo a conversa com seu costumeiro tom calmo, porém autoritário: — Briely, já está na hora de irmos.

Poseidon lançou um último olhar de advertência, misturado a uma curiosa suspeita, para Morpheus. — Cuide bem dela — disse, e com isso se retirou, deixando-os sozinhos.

Morpheus estendeu a mão para Briely, que a segurou sem hesitar, e juntos saíram da sala. O olhar de Poseidon permaneceu sobre Morpheus enquanto eles desapareciam, misturando preocupação, curiosidade e uma silenciosa aprovação pelo cuidado que o Senhor dos Sonhos dedicava à filha.

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A viagem de volta ao Sonhar foi silenciosa, a atmosfera ainda carregada das emoções e formalidades do jantar. Briely permanecia ao lado de Morpheus, absorvendo cada detalhe, ainda maravilhada com a experiência entre os deuses. Seus olhos vagavam pelas paisagens mutáveis do Sonhar, onde os contornos de montanhas distantes pareciam se dissolver em névoa, e o céu carregava tons impossíveis de azul e violeta.

— Morpheus — começou ela, olhando ao redor enquanto a paisagem do Sonhar se formava lentamente à sua frente —, eles são… tão amigáveis. Nunca pensei que deuses pudessem ser tão receptivos. Me senti em casa lá.

Morpheus franziu a testa, observando-a com seu olhar intenso, quase penetrante, enquanto uma mecha de cabelo negro caía sobre sua testa pálida, destacando ainda mais a profundidade de seus olhos.
— Briely, sua casa agora é aqui, no Sonhar. — Ele fez uma pausa, escolhendo suas palavras com cuidado, enquanto o som de seus passos ecoava suavemente no chão de pedra polida do caminho que se formava sob seus pés —. E é melhor que você fique comigo. Caso alguém descubra sobre sua origem… eles podem querer matá-la.

Briely engoliu em seco, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. A ideia de que sua própria vida pudesse estar em perigo por causa de algo que ela mal compreendia a deixou assustada. Seus dedos se fecharam levemente sobre a borda do vestido negro, como se buscassem algo sólido para se ancorar.
— Mas… eu não esperava que fosse tão sério — disse, com a voz baixa, quase um sussurro, enquanto uma brisa leve do Sonhar agitava seus cabelos.

Morpheus apertou levemente a mão dela, oferecendo um pouco de conforto, mesmo sem sorrir. O toque dele era frio, mas firme, e por um instante ela sentiu o peso de sua proteção como algo quase palpável.
— É sério. E é por isso que você precisa permanecer comigo. Aqui você estará segura, e eu garanto isso.

Briely respirou fundo, tentando absorver a gravidade da situação, mas ao mesmo tempo sentiu uma sensação de proteção e pertencimento que apenas o Sonhar, e Morpheus, poderiam oferecer. Seus olhos encontraram os dele por um breve momento antes de desviarem, fixando-se em um rio de luz prateada que cortava a paisagem à frente.
— Eu confio em você — disse finalmente, com firmeza, apesar do medo.

Morpheus assentiu, satisfeito com a resposta, um leve brilho de algo indecifrável passando por seu olhar antes de retornar à sua habitual imperscrutabilidade.
— Então fique tranquila. Por enquanto, concentre-se em se adaptar. O Sonhar tem muito a oferecer, e você terá seu lugar nele.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto a paisagem onírica se expandia ao redor deles, Briely sentiu que, apesar de tudo, havia encontrado um refúgio seguro — mesmo que estivesse longe de tudo que conhecia antes. O ar ao seu redor parecia pulsar com uma energia suave, como se o próprio Sonhar a acolhesse, e pequenos pontos de luz dançavam à distância, lembrando estrelas cadentes.
De volta ao Sonhar, Morpheus continuava ocupado cuidando da reconstrução do reino. Observando Briely, percebeu que ela precisava de companhia e de alguém para guiá-la nos primeiros dias. Ele parou por um momento, os olhos fixos nela enquanto ela explorava um canto do salão principal, antes de chamar com sua voz firme:
— Matheus — disse ele calmamente —, quero que passe algum tempo com Briely. Mostre a ela o que for necessário e assegure-se de que esteja confortável.
— Claro, mestre — respondeu Matheus, inclinando a cabeça com uma reverência discreta, enquanto um leve sorriso de curiosidade se formava em seus lábios.

Briely passou grande parte do dia na biblioteca, fascinada pelos corredores infinitos de conhecimento e pelos volumes que pareciam quase respirar. As estantes se erguiam como torres, e o cheiro de pergaminho antigo preenchia o ar. No entanto, ela encontrava dificuldades para ler e acompanhar os textos, relendo várias vezes para compreender o que estava escrito, suas sobrancelhas franzidas em concentração enquanto traçava as linhas com o dedo. Lucienne, passando pela biblioteca, percebeu que algo estava errado ao notar a expressão de frustração no rosto dela.

Observando Briely tentando decifrar os livros, sentiu preocupação e mais tarde se aproximou de Morpheus, ajustando os óculos com um gesto cuidadoso enquanto falava.
— Meu senhor — começou ela, com um tom discreto —, percebi que Briely está tendo dificuldades com a leitura. Talvez seja algo que devamos observar.
Morpheus franziu levemente a testa, seu olhar intenso fixo em Lucienne, enquanto cruzava os braços, a capa negra ondulando suavemente atrás dele.
— Entendo. — Ele fez uma pausa, refletindo, enquanto tamborilava os dedos de forma quase imperceptível contra o braço —. Precisaremos prestar atenção e garantir que ela receba apoio adequado.
Enquanto Matheus acompanhava Briely pelos corredores da biblioteca, ela se sentia um pouco mais segura, sabendo que havia alguém ao seu lado para ajudá-la. Ele apontava para algumas estantes específicas, explicando com paciência a organização dos volumes, e o som de sua voz calma ecoava suavemente pelo vasto salão.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O dia amanheceu cinzento, mas no mundo desperto havia uma tranquilidade quase irônica para quem passara a noite entre deuses e panteões. Morpheus levou Briely para um parque silencioso, onde as árvores balançavam sob uma brisa suave e o som distante das crianças misturava-se ao farfalhar das folhas. Ele caminhava devagar, com as mãos cruzadas atrás das costas, até sentar-se em um banco de madeira. À sua frente, um bando de pombos se dispersava e retornava conforme ele jogava pequenos grãos, um gesto quase humano para alguém tão distante dos mortais, suas mãos pálidas contrastando com o tom escuro do banco.

Briely permaneceu ao seu lado, o olhar atento aos humanos ao redor: casais rindo, idosos caminhando, crianças correndo em uma liberdade que parecia quase sagrada. Havia algo de estranho e belo ali para ela, um contraste com o mundo que conhecia. Ela ajustou o vestido ao sentar-se, sentindo o tecido roçar suavemente contra sua pele enquanto observava um menino correr com um balão vermelho.

— Pensando no jantar? — ela perguntou, quebrando o silêncio, enquanto voltava os olhos verdes para ele.

Morpheus soltou um som baixo, algo entre um riso contido e um suspiro, enquanto um pombo mais ousado se aproximava de sua mão.
— Pensando, sim. Os deuses são previsíveis em suas vaidades. Mas você... — ele virou o rosto para ela, os olhos escuros refletindo uma decisão que ainda não existia, enquanto a luz do sol filtrada pelas árvores lançava sombras sutis sobre seu rosto — você os enfrentou com naturalidade.

Ela riu suavemente, desviando o olhar, enquanto um leve rubor subia às suas bochechas, e seus dedos brincavam distraidamente com uma folha seca que caíra no banco.
— Eles foram gentis. E Poseidon... bom, ele foi mais gentil do que eu esperava.

Morpheus não comentou, mas os dedos dele, mesmo enquanto alimentavam os pombos, ficaram mais tensos, apertando os grãos com uma força quase imperceptível. Por dentro, as memórias do jantar voltavam como ecos, e com elas um pensamento que crescia silenciosamente: como conquistar alguém que não sente o mesmo que ele sem ser forçado? Ele sabia que qualquer pressão a afastaria, e isso o incomodava mais do que gostaria de admitir, enquanto um músculo em sua mandíbula se contraía levemente.

Antes que pudesse se perder mais nos próprios devaneios, uma voz familiar soou atrás deles, carregando a naturalidade de quem pertence a todos os lugares:
— Interessante... o Senhor dos Sonhos, sentado num parque, alimentando pombos. Isso é novo.

Morpheus ergueu os olhos. Morte estava ali, os cabelos escuros soltos, o sorriso sereno, com um colar prateado reluzindo suavemente contra sua pele enquanto a luz do sol a envolvia. Ela os cumprimentou com um aceno leve, o olhar dançando entre o irmão e a jovem ao lado dele. Percebeu algo diferente, uma pequena tensão silenciosa em Morpheus, mas não comentou, apenas inclinando a cabeça com curiosidade.

— Veio nos visitar? — perguntou ele, em um tom calmo, enquanto se levantava lentamente, deixando os últimos grãos caírem ao chão.

— Vim trabalhar — respondeu Morte, com um leve dar de ombros, enquanto enfiava as mãos nos bolsos de sua jaqueta preta. Depois, inclinou a cabeça, curiosa. — E vocês? Querem me acompanhar? É um dia tranquilo, nada muito pesado.

Morpheus se voltou para Briely, seus olhos buscando os dela por um instante enquanto esperava sua resposta. — Quer ir?

Ela hesitou por um segundo, mordendo o lábio inferior de forma quase inconsciente, mas havia algo na expressão gentil da Morte que a fez sorrir.
— Quero.
Morpheus se levantou, as mãos nos bolsos do casaco preto, e a guiou ao lado da irmã. Sem pressa, eles deixaram o parque para trás, atravessando a tênue fronteira entre o ordinário e o eterno, prontos para seguir Morte em seu trabalho, enquanto o som das folhas sob seus pés parecia marcar o ritmo de sua partida.

Atravessaram o parque como se o mundo mortal não pudesse contê-los. Morte andava na frente, passos leves, quase dançantes, enquanto Morpheus e Briely a seguiam lado a lado. Briely sentia uma curiosidade crescente. Havia algo de diferente na presença daquela mulher — calma, gentil, mas com um peso invisível por trás do sorriso, algo que parecia ecoar em cada gesto dela, mesmo no simples ato de ajustar uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Nunca pensei que veria um Perpétuo fora do Sonhar assim — disse Briely, baixinho, quase como se temesse interromper a harmonia, enquanto olhava para as costas de Morte à frente.

— Minha irmã é diferente — respondeu Morpheus, a voz baixa e firme, enquanto mantinha o olhar fixo no caminho à frente, embora um canto de sua boca se erguesse de forma quase imperceptível. — Ela lida com o fim, mas não vê nele crueldade.

Morte olhou por cima do ombro e piscou para Briely, o gesto carregado de uma leveza que contrastava com sua essência.
— Ele gosta de complicar as coisas com palavras. Mas a verdade é que eu só faço o que precisa ser feito. Vamos, o primeiro da lista não está longe.

Atravessaram algumas ruas até um pequeno prédio antigo, o cheiro de tinta descascada e umidade impregnando o ar. Subiram as escadas estreitas até um apartamento modesto, cada degrau rangendo sob seus pés. Dentro, um homem idoso estava sentado numa poltrona, o olhar perdido na janela, com uma xícara de chá frio esquecida ao seu lado. Ele se virou quando sentiu algo, como se soubesse. Morte se aproximou com um sorriso gentil, agachando-se ao seu lado.

— É hora, querido — disse ela suavemente, a voz como um sussurro reconfortante.

O homem apenas suspirou, um alívio sereno no rosto, enquanto seus olhos enrugados encontravam os dela. — Eu já sabia que vinha. Obrigado.

Briely observou em silêncio, os olhos arregalados, enquanto se mantinha perto da porta, as mãos cruzadas à frente do corpo. Não havia dor, apenas uma estranha paz, e a luz fraca da tarde que entrava pela janela parecia suavizar a cena. Quando a alma do homem seguiu Morte por um breve instante antes de desaparecer, Briely se virou para Morpheus, a voz baixa:
— É... lindo e triste ao mesmo tempo.

— Assim é o ciclo — ele respondeu, fitando a porta fechada, enquanto uma sombra de melancolia parecia cruzar seu olhar por um segundo antes de desaparecer.

Seguiram para outros lugares: uma jovem em um hospital, com tubos e máquinas ao seu redor, uma criança dormindo que nunca acordaria, envolta em lençóis brancos sob a luz suave de um abajur, um músico em uma esquina que sorriu ao ver Morte antes de cair em silêncio eterno, sua guitarra ainda repousando contra o peito. Cada encontro tinha sua própria melodia de despedida, e Briely sentia o peito apertar a cada nova cena.

Briely se mantinha próxima, absorvendo cada gesto, cada palavra da Perpétua. Em algum momento, enquanto esperavam em uma praça entre uma visita e outra, Morte se sentou em um banco e olhou para a jovem com um interesse silencioso, enquanto brincava com uma folha seca entre os dedos.

— Você tem uma alma bonita — disse ela de repente, o tom casual, mas carregado de sinceridade. — E um olhar curioso sobre o mundo. É raro.

Briely corou levemente, sem saber o que responder, enquanto baixava o olhar para as próprias mãos, sentindo o calor subir ao rosto. Morpheus desviou o olhar, os traços do rosto mais fechados, mas não disse nada, embora sua postura parecesse mais rígida.

— Cuidar do que se ama é sempre mais difícil do que parece, irmão — comentou Morte, levantando-se como se nada tivesse dito, enquanto jogava a folha ao vento com um gesto leve.

Morpheus a seguiu em silêncio, mas Briely percebeu um brilho diferente nos olhos dele, algo que ela não conseguia decifrar, enquanto ele ajustava o colarinho do casaco com um movimento quase inconsciente.

Voltaram para o parque à medida que o sol começava a se inclinar, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto longas sombras se estendiam pelo gramado. Morte parou, girou sobre os calcanhares, e sorriu para os dois com aquela expressão calorosa que parecia suavizar até o semblante mais sério.

— Foi um bom dia — disse, com leveza, enquanto o vento agitava levemente seus cabelos. — Vocês são uma ótima companhia.

Ela olhou para o irmão com um toque de seriedade escondido no brilho dos olhos, enquanto cruzava os braços de forma casual.
— Não suma, Sonho. Nem do mundo, nem das pessoas que importam.

Morpheus apenas inclinou a cabeça, mas Briely notou o leve cerrar de sua mandíbula, um movimento quase imperceptível sob a luz dourada. Então, Morte voltou-se para a jovem, os olhos gentis e brincalhões:
— E você, cuide-se. Espero vê-la no próximo jantar de família.

Briely riu suavemente, achando graça na escolha de palavras, sem perceber o peso que carregavam. Para ela, soava como um convite divertido e informal, e ela inclinou a cabeça com um sorriso tímido.
— Vou adorar — respondeu.

Mas Morpheus permaneceu imóvel, e apenas os olhos dele seguiram a irmã, silenciosos. Ele sabia que aquelas palavras tinham outro tom — uma aceitação velada de Briely como alguém mais próximo do que ela própria imaginava, um reconhecimento que não escapou ao Perpétuo, enquanto seus dedos se fechavam levemente dentro dos bolsos.

— Até breve — disse Morte, piscando para Briely antes de desaparecer entre os transeuntes, sumindo como um sopro de vento, enquanto o som de seus passos leves ainda parecia ecoar no ar.

Por alguns segundos, o silêncio reinou. Morpheus continuou olhando o vazio onde a irmã estivera, o rosto impassível, mas com um brilho de reflexão em seus olhos, antes de dizer calmamente:
— Vamos

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Quando saíram do parque, a tarde já começava a escurecer, o céu tingido por tons dourados e lilases. As ruas estavam cheias, mas havia uma calma peculiar naquele momento. Morpheus caminhava ao lado de Briely, sua mão envolvendo a dela com naturalidade, um gesto aparentemente simples, mas carregado de uma intensidade silenciosa.

— Vamos a um lugar — disse ele, a voz baixa, quase como um segredo. — Quero que conheça um velho amigo.

Briely ergueu as sobrancelhas, surpresa com o tom suave.
— Velho amigo? Você tem muitos?

Ele lançou-lhe um olhar de canto, um raro traço de humor nos lábios.
— Poucos. Este é um dos mais antigos.

Eles caminharam por algumas ruas até chegarem a uma taberna discreta, antiga, com paredes de tijolos escuros. Morpheus parou diante da porta e a empurrou, apenas para encontrá-la trancada. Briely riu baixinho.
— Esqueceu que o mundo muda, Sonho?

Morpheus apenas inclinou a cabeça, a expressão impassível.
— Alguns lugares deveriam permanecer eternos. — Ele se virou para ela e apontou para a rua. — Venha, ele deve estar em outro lugar.

Seguiram até uma pequena cafeteria, moderna e iluminada, com o aroma de café fresco impregnando o ar. Lá dentro, em uma das mesas, um homem de aparência comum, mas com um olhar caloroso e curioso, acenou ao vê-los.

— Você está atrasado — disse Hob, com um sorriso divertido. — Cem anos e alguns minutos… estou surpreso.

— Atrasos não são comuns a mim — respondeu Morpheus, sem desculpas, mas com um leve inclinar de cabeça. — Hob, esta é Briely.

Hob levantou-se para cumprimentá-la, e ela sorriu, sentando-se ao lado de Morpheus.
— Então, você é o famoso Hob? — perguntou, com um brilho curioso nos olhos.

— Famoso não sei, mas tenho vivido mais do que deveria — respondeu ele com humor. — Prazer, Briely.

Enquanto conversavam, ela aproveitou para pedir um doce da vitrine, mordendo-o distraidamente enquanto bombardeava Hob com perguntas:
— É verdade que você é imortal?
— Viu guerras, reis e reinos caírem?
— Como é viver tanto tempo sem cansar?

Hob ria com cada pergunta, paciente e divertido.
— É verdade. Vi coisas que ninguém acreditaria. Mas, no fim, o segredo é simples: sempre há algo novo para amar.

Morpheus os observava, uma mão apoiada sobre a mesa, a outra repousando discretamente sobre a dela, quase como se aquele toque fosse um lembrete silencioso de que ela estava com ele.

Quando Hob perguntou como eles se conheciam, Morpheus respondeu calmamente:
— Ela é uma convidada no Sonhar. E, como você, ela é… singular.

— E vocês dois… — Hob ergueu uma sobrancelha, curioso, mas não insistiu.
— Não. — disse Morpheus foi direto —ainda nao disse murmurando baixinho com o tom frio, mas com uma firmeza quase possessiva na palavra.

Mais tarde, enquanto bebiam café, Morpheus explicou a Briely:
— Hob e eu nos encontramos a cada cem anos, sempre no mesmo dia, no mesmo lugar. A Morte concedeu a ele a vida eterna porque apostei que ele iria cansar de viver. Ele nunca cansou.

Briely o olhou, fascinada, os olhos verdes brilhando.
— Acho que entendo. O mundo é grande demais para querer ir embora cedo.

Hob sorriu.
— Exatamente.

Quando saíram da cafeteria, a noite já havia caído sobre a cidade. As luzes dos postes lançavam um brilho amarelado sobre a calçada molhada pela chuva fina que caíra mais cedo. O ar tinha aquele cheiro fresco de terra e café, e Briely caminhava entre os dois homens, ainda encantada com as histórias que ouvira.

Hob, de mãos nos bolsos e um sorriso nos lábios, olhou para ela com curiosidade.
— Você fez mais perguntas em uma hora do que muitos em uma vida inteira — comentou, divertido. — Gosto disso.

Briely riu, balançando os ombros.
— Não é todo dia que se conhece alguém que já viu séculos de história acontecendo. Tive que aproveitar.

Morpheus caminhava ao lado dela, silencioso, mas atento a cada palavra. Hob, percebendo a forma como o senhor do Sonhar mantinha os olhos sobre Briely, não resistiu a provocar:
— E você… — Hob parou por um instante, olhando para Morpheus com um ar malicioso. — Nunca te vi apresentar alguém assim antes. Ela é especial, não é?

Morpheus apenas ergueu uma sobrancelha, o rosto impassível.
— Briely é única — respondeu, e embora o tom fosse neutro, havia algo de firme e possessivo nas palavras.

Hob assentiu, satisfeito com a resposta, mas deixou o assunto morrer ali. Em seguida, voltou-se para Briely:
— Cuide-se, garota. Viver é um presente, mas também um peso às vezes. Tenho a sensação de que seu caminho não será leve.

Briely arqueou as sobrancelhas, surpresa com a seriedade repentina, mas sorriu.
— Eu me viro bem. E tenho ele comigo — disse, apontando discretamente para Morpheus.

Hob riu.
— Isso já te coloca em vantagem.

Chegaram a uma esquina, onde as luzes eram mais fracas e as pessoas menos numerosas. Morpheus parou, fitando Hob.
— Até a próxima vez, velho amigo.

Hob apertou a mão de Morpheus e, por um instante, olhou para Briely com um sorriso gentil.
— Espero ver você novamente, Briely. Mas, se não… bem, aproveite cada segundo.

Com um último aceno, Hob seguiu seu caminho, desaparecendo na multidão da cidade.

Ficaram apenas Briely e Morpheus. Ela olhou para ele, curiosa.
— Ele gosta de você. Acho que é o único que ousa brincar contigo.

Morpheus inclinou levemente a cabeça, um traço quase imperceptível de um sorriso nos lábios.
— Hob é… constante. E leal. São raras virtudes, mesmo entre mortais.

Briely sorriu, sentindo o toque frio e firme dele entrelaçar seus dedos.
— Vamos para casa?

— Vamos — disse ele, e naquele instante o mundo à volta pareceu dissolver-se, a noite da cidade escorrendo como tinta até dar lugar ao céu estrelado do Sonhar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O Sonhar estava tranquilo naquela hora da noite, o céu estrelado refletindo sobre o lago sereno. Morpheus segurou a mão de Briely com firmeza, mas de maneira delicada, guiando-a até a margem da água. Ela podia sentir a intensidade dele, silenciosa, mas presente em cada gesto.

— Estou preocupado com você — disse ele, baixando a voz, e, antes que ela pudesse responder, inclinou-se e depositou um beijo suave em sua testa. — Quero que fique bem, sempre.

Briely sentiu um arrepio subir pela espinha, um misto de conforto e algo novo que não conseguia nomear.
— Vamos caminhar um pouco? — ele sugeriu, conduzindo-a pela areia macia ao redor do lago. O som da água batendo suavemente na margem parecia acalmar ambos.

Quando se sentaram, lado a lado, Morpheus observou Briely fixamente por um momento antes de deixar que ela se concentrasse em algo que estava ali, mas ainda intocado: a própria essência do Sonhar.

Ela fechou os olhos e, quase sem perceber, começou a manipular a água do lago, moldando-a em pequenos peixinhos que nadavam e giravam alegremente sobre a superfície.

Morpheus não conseguiu conter um sorriso genuíno.
— Isso é incrível — murmurou, maravilhado. Seus olhos, tão intensos quanto o mar que refletia o céu, não se desviavam dela.

Enquanto observava Briely brincar com a água, pensamentos atravessavam sua mente como relâmpagos silenciosos: cada gesto dela o fascinava mais, cada risada deleitava sua alma, e ele se pegava cada vez mais apaixonado. Uma certeza crescia dentro dele: faria qualquer coisa para conquistá-la, para fazê-la ficar ao seu lado.

Briely olhou para ele, percebendo o brilho em seus olhos, e sorriu timidamente, sem dizer nada. Aquele momento, simples e íntimo, aproximava-os de um jeito que nenhuma palavra poderia explicar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A brisa suave do Sonhar soprava pelo lago, e Briely sentou-se na areia, molhando os pés na água tranquila. Pequenos peixinhos de água que ela moldava nadavam ao seu redor, girando e saltando na superfície como se brincassem com ela. Morpheus permaneceu atrás, alguns passos afastado, observando cada movimento, cada sorriso que surgia no rosto dela.

Ele manteve-se silencioso, deixando que ela sentisse liberdade, mas cada gesto dela era cuidadosamente vigiado. Quando um peixinho de água ameaçou se desfazer próximo à borda, ele inclinou-se discretamente e tocou levemente sua mão, afastando-o com delicadeza. Briely apenas sorriu, pensando que ele queria ajudá-la como amigo, sem suspeitar da intensidade por trás do toque.

Morpheus a observava com atenção silenciosa, sentindo cada emoção dela como se fossem suas próprias. Ele pensou: “Preciso encontrar uma maneira de mantê-la comigo… para sempre. Talvez eu deva pedir a mão dela a Poseidon, e só depois contar como realmente me sinto.” O pensamento trouxe um aperto no peito, mas também um impulso de proteção ainda maior.

Enquanto Briely moldava novas figuras de água — estrelas, conchas e pequenas ondas que dançavam em torno de suas mãos — ele se aproximou mais, mas sem que ela notasse, inclinando-se de forma a estar sempre próximo para intervir caso algo acontecesse.

— Está incrível… — disse ele suavemente, a voz quase um sussurro, flertando de forma sutil, enquanto ela apenas olhava para os peixinhos e riu, sem perceber a intenção.

Ele deixou escapar um sorriso discreto ao notar que ela havia moldado uma pequena onda que refletia a lua. “Cada gesto dela me faz querer protegê-la ainda mais… cada sorriso dela me prende”, pensou Morpheus, segurando a respiração para não deixar transparecer o quanto estava envolvido. Então, de forma ainda mais leve, ele brincou:
— Se continuar assim, você vai acabar criando todo um exército de peixinhos de água… e eu vou ter que protegê-los também.

Briely riu, achando que ele falava sério, e respondeu:
— Então você vai ter que ficar por perto o tempo todo!

Morpheus piscou, flertando novamente em seu tom discreto, mas sem que ela percebesse:
— Eu estava pensando exatamente nisso.

Ela apenas sorriu, achando que ele falava como amigo. Enquanto isso, Morpheus sentiu o impulso de se aproximar ainda mais, envolvendo-a em seu manto de proteção silenciosa, mas mantendo sempre a distância suficiente para que ela se sentisse livre.

Enquanto o luar refletia sobre a água do Sonhar, ele observava cada movimento dela, cada risada, cada toque, e, em silêncio, prometeu a si mesmo que faria qualquer coisa para que Briely permanecesse sempre ao seu lado

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto Briely brincava com a água, moldando pequenos peixinhos que nadavam ao redor de suas mãos, Morpheus a observava atentamente, um sorriso suave no rosto. Cada gesto dela parecia encantar o Sonhar, e, secretamente, ele pensava em maneiras de mantê-la sempre por perto, protegida e segura, enquanto seu coração se afundava cada vez mais por ela.

De repente, uma voz familiar interrompeu o momento:
— Aí estavam vocês! Luciene está te procurando, mestre — disse Matheus, surgindo na margem. Ele parou por um instante, franzindo a testa ao notar a interação entre Morpheus e Briely. Havia algo ali, uma energia silenciosa que ele não sabia explicar.

Matheus se aproximou e então percebeu algo ainda mais impressionante: a água parecia obedecer aos gestos de Briely, dançando e se moldando conforme sua vontade.
— Uau… isso é… incrível! — comentou ele, surpreso. — Você está fazendo a água reagir assim?

Briely olhou para ele, um pouco tímida, mas orgulhosa:
— Ah, isso… é um dos meus talentos. Deriva do meu pai. — Ela sorriu, desviando o olhar para Morpheus por um instante. — E… posso fazer outras coisas também… pequenas tempestades, até… terremotos.

O coração de Morpheus deu um pequeno salto. Ele não sabia que ela tinha esse potencial — nem que podia controlar forças tão vastas. Uma preocupação imediata surgiu em sua mente: nenhum semideus daquele universo jamais havia herdado tanto poder.

— Você consegue controlar tudo isso bem? — perguntou ele, a voz carregada de cautela e preocupação.

Briely balançou a cabeça, rindo levemente, mas com um toque de honestidade:
— Não… ainda não. Estou aprendendo. — Ela olhou para a água novamente, moldando pequenas ondas e peixinhos. — Mas é divertido.

Morpheus respirou fundo, tentando acalmar a apreensão que crescia dentro dele. Proteger Briely nunca tinha parecido tão essencial, e agora, vendo o verdadeiro alcance de seus poderes, ele sabia que precisava estar sempre atento.

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Morpheus segurou a mão de Briely com firmeza enquanto caminhavam pelos corredores do Sonhar. Ela sentia a força dele em seu aperto, quase possessivo, mas não disse nada, deixando o silêncio pesado pairar entre eles. Ao chegarem à sala do trono, Lucienne já os esperava, seus olhos atentos deslizando sobre ambos com uma curiosidade contida.

— Vejo que vieram juntos — disse Lucienne, um leve sorriso curvando seus lábios, sem mencionar o gesto protetor de Morpheus.

Ele guiou Briely até seu lado e, com um movimento deliberado, soltou sua mão, como se quisesse demonstrar controle sobre cada ação.

— Concluí o censo que você pediu — continuou Lucienne, pegando alguns pergaminhos antigos. — Há 11.062 moradores registrados no Sonhar.

Morpheus assentiu, absorvendo a informação com uma seriedade que parecia carregar o peso de mil anos.

— E quanto aos Arcanos? — perguntou, sua voz grave, mas controlada, como o murmúrio de uma tempestade distante.

Lucienne respirou fundo, hesitando por um instante.

— Gault, Corintio e o Verde Violinista desapareceram. — Seus olhos encontraram os dele, firmes. — E há rumores entre as criaturas sobre um vórtice. Pode estar surgindo novamente.

Morpheus franziu a testa, mas sua postura permaneceu inabalável.

— É real — afirmou ele, a voz carregada de certeza. — Este é o primeiro vórtice desta era.

Enquanto Morpheus refletia sobre o vórtice, Matheus se aproximou, sua expressão determinada refletindo uma lealdade inquestionável.

— Senhor, posso vigiar o vórtice no mundo desperto — ofereceu, com firmeza. — Assim teremos controle e notaremos qualquer alteração antes que se torne um problema.

— Muito bem — respondeu Morpheus, após um momento de silêncio. — Faça isso. Mas mantenha contato constante. Ao menor sinal de instabilidade, me avise imediatamente.

— Pode deixar — retrucou Matheus, com um aceno resoluto. — Estarei atento.

Enquanto Matheus assumia a vigilância no mundo desperto, Morpheus, no Sonhar, tramava algo que poderia mudar o destino de Briely pra sempre Com um gesto decidido, ele enviou uma carta formal a Poseidon, solicitando a mão de sua filha em casamento, na esperança de que o deus dos mares aceitasse a união.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Dias depois, Morpheus estava sentado em seu trono, a resposta de Poseidon aberta em suas mãos. Seus olhos percorriam as palavras com uma fúria crescente, cada letra parecendo um insulto gravado em sua alma. A recusa era clara e cortante: "Ela ainda é muito jovem para se casar. Em breve, visitarei o Sonhar para levá-la comigo para Atlântida."

Ele amassou a carta com força, o som do papel rasgando ecoando no salão vazio. Seus punhos cerrados tremiam de raiva. “Como ousa me negar? Como ousa ameaçar tirar o que é meu?” sussurrou para si mesmo, a voz baixa, mas carregada de um ódio visceral.

Lucienne, percebendo a tensão que parecia sufocar o ar, aproximou-se com passos cautelosos. “milorde, o que houve? Por que está tão enfurecido?”

Ele virou-se para ela, os olhos brilhando com uma intensidade que beirava a loucura. “Poseidon recusou minha proposta. Ele diz que Briely é jovem demais para ser minha esposa . E agora, ousa dizer que a levará para Atlântida com ele!”

Lucienne pousou uma mão gentil em seu braço, tentando aplacar a tempestade que via se formar. “Mestre, talvez seja o melhor. Briely ainda tem muito a descobrir sobre si mesma, e o destino dela pode não estar aqui.”

Mas Morpheus rejeitou o toque dela com um movimento brusco, seu rosto uma máscara de escuridão. “Eu não a perderei, Lucienne. Ela é minha. E sera pra sempre.”

De repente, uma perturbação cortou o ar, uma onda de pânico e medo que ele reconheceu de imediato. Briely estava tendo um pesadelo. Sem hesitar, ele se levantou, sua mente fixa em um único propósito: estar com ela, convencê-la de que pertenciam um ao outro, custasse o que custasse.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A porta do quarto dela abriu-se lentamente, revelando a figura imponente de Morpheus, sua silhueta destacada contra a luz fraca do corredor. Briely, ainda tremendo após o pesadelo, olhou para ele com olhos arregalados.

“Morpheus, o que você está fazendo aqui?” perguntou, sua voz vacilante, tentando esconder o medo do pesadeo que ainda a consumia.

Ele avançou até a cama, cada passo silencioso, mas carregado de intenção. “Preciso falar com você. Sobre nós.”

Briely sentou-se na cama, agarrando as cobertas como um escudo. “Sobre nós? Do que está falando?”

Morpheus ajoelhou-se ao lado dela, os olhos fixos nos seus, queimando com uma obsessão que a fez estremecer. “Sobre o destino que nos espera. Eu... pedi sua mão em casamento a Poseidon. Ele recusou.”

Briely piscou, atônita, o choque estampado em seu rosto. “O quê? ”

“Fiz o que meu coração exigiu,” retrucou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “Mas a bênção dele não importa. Eu te quero, Briely. Quero que sejamos um, de corpo e alma.”

Ela balançou a cabeça, horrorizada. “Morpheus, eu... só te vejo como um amigo. Nada além disso. E eu ainda espero voltar ao meu universo original. Não pode haver nada entre nós.”

A expressão dele transformou-se em um instante, a fúria explodindo como uma tempestade descontrolada. “Como ousa me rejeitar? Você é minha, Briely! Minha para sempre!”

Antes que ela pudesse reagir, Morpheus lançou-se sobre ela, suas mãos agarrando seus ombros com força desmedida. Ele a beijou com uma brutalidade que a fez sentir o gosto de sangue em seus lábios. Briely tentou se libertar, empurrando-o com toda sua força, mas ele era inabalável.

“Morpheus, pare!” gritou ela, o desespero ecoando em sua voz.

Ele a empurrou de volta na cama, seu corpo pesado prendendo o dela contra o colchão. Em pânico, Briely invocou seus poderes de água. A pia do banheiro explodiu com um estrondo, e uma onda gelada de água jorrou, atingindo Morpheus o empurrando pra fora da cama em cheio. momentaneamente distraído, e ela aproveitou para correr .

Com o robe parcialmente rasgado, ela correu para a porta, o coração disparado. Morpheus, ainda recuperando-se, tentou segui-la, mas Briely já estava no corredor, correndo em direção à biblioteca, o único lugar onde poderia encontrar refúgio.

Ao chegar lá, ofegante e desgrenhada, encontrou Lucienne, que a encarou com preocupação imediata. “Briely, o que aconteceu? Você está machucada?”

Briely, tremendo, mal conseguia falar. “Morpheus... ele tentou... ele tentou me forçar...”

Lucienne, com uma expressão de horror, segurou-a pelos ombros, tentando transmitir segurança. “Calma, você está segura agora. Vou resolver isso. Fique aqui.”

Briely deixou-se envolver pelos braços de Lucienne, aliviada por ter alguém em quem confiar, mas o medo ainda a consumia. Ela sabia que precisava de toda ajuda possível para enfrentar Morpheus.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Ainda trêmula, escondeu-se em um canto da biblioteca, tentando controlar a respiração. Porém, o som de vozes a fez congelar de terror. Era Morpheus, discutindo com Lucienne. O pânico tomou conta dela novamente. Ela não podia ficar ali. Com um movimento rápido, levantou-se e correu para a janela mais próxima, saltando para fora sem pensar nas consequências.

O impacto com o chão foi brutal, a dor explodindo em seu pulso ao rolar pelo terreno. Ignorando a agonia, ela se ergueu e correu, sem direção, até que a Floresta dos Pesadelos se materializou à sua frente, sombria e ameaçadora. Não havia outra escolha; ela continuou, os pés mal tocando o solo úmido.

De repente, uma presença sufocante surgiu atrás dela. Morpheus. Seus olhos brilhavam na penumbra, cheios de uma obsessão doentia. Briely gritou, tentando acelerar, mas ele era mais rápido. Em um piscar de olhos, ele a alcançou, agarrando-a com força e lançando-a ao chão com violência.

“Por favor, Morpheus, não faça isso!” implorou ela, debatendo-se sob o peso dele, mas sua força era desumana.

“Você é minha, Briely. Sempre será minha,” sussurrou ele, o hálito quente em seu ouvido, carregado de uma possessividade que a fez tremer.

Morpheus a imobilizou com seu corpo, suas mãos rasgando o tecido já danificado de seu robe, expondo sua pele ao ar frio da floresta. Briely tentou gritar novamente, mas a voz saiu como um soluço fraco. Ele a beijou com ferocidade, forçando sua boca contra a dela, enquanto ela virava o rosto, as lágrimas escorrendo por suas bochechas.

“Morpheus, pare! Eu te imploro, pare!” choramingou ela, mas suas palavras foram ignoradas.

Ele baixou a cabeça, capturando um de seus seios com a boca, sugando e mordendo a pele sensível com uma intensidade que a fez arquejar de dor e vergonha. Suas mãos deslizaram por seu corpo, descendo até suas coxas, forçando-as a se abrirem apesar de sua resistência desesperada. Seus dedos invadiram sua intimidade, explorando-a sem qualquer cuidado, e ela sentiu uma umidade traiçoeira que a enojou ainda mais.

“Não, Morpheus! Por favor, não!” gritou ela, tentando fechar as pernas, mas ele as manteve abertas com facilidade, seu toque implacável e invasivo.

Ele posicionou-se entre suas pernas, e Briely sentiu o peso de sua ereção pressionando contra ela. Com um movimento brusco e violento, ele a penetrou, arrancando um grito de dor enquanto rasgava sua inocência. A sensação era insuportável, como se seu corpo estivesse sendo partido ao meio.

“Você será minha, Briely. Minha para sempre,” rosnou ele, os olhos ardendo de obsessão enquanto se movia dentro dela com fúria cega. “Esse é o único jeito de te tornar minha antes que o panteão grego intervenha. Seu pai não terá escolha a não ser aceitar nosso casamento.”

Briely sentiu a dor misturar-se a um prazer indesejado, seu corpo traindo sua mente enquanto respondia contra sua vontade. Ela tentou empurrá-lo, as mãos fracas contra seu peito, mas suas forças se esvaíam a cada movimento dele. Morpheus a beijou profundamente, o gosto de suas lágrimas misturando-se ao beijo, enquanto seus quadris continuavam a investir com uma urgência selvagem.

“Por favor, Morpheus, está doendo muito,” sussurrou ela, a voz quase inaudível entre os soluços.

“Shh, aguente só mais um pouco. Vai passar,” respondeu ele, a voz quase terna, mas carregada de uma determinação fria.

Ele intensificou o ritmo, os movimentos tornando-se mais rápidos e brutais, cada estocada um lembrete de sua dominação. Briely sentiu uma onda de calor crescer dentro dela, um prazer forçado que a encheu de nojo de si mesma. Morpheus grunhiu baixo, o som gutural reverberando no ar, enquanto gozava dentro dela, seu corpo tremendo com a liberação.

A sensação foi esmagadora, uma mistura de dor, humilhação e um êxtase distorcido que fez sua visão embaçar. Ela tentou se agarrar à consciência, mas tudo girava ao seu redor. Morpheus a envolveu em seus braços, acariciando seus cabelos com uma gentileza que contrastava grotescamente com a violência de seus atos, beijando sua testa com uma ternura falsa.

“Agora está tudo bem, Briely. Vou cuidar de você. Tudo vai ficar bem,” murmurou ele, a voz doce, como se aquilo pudesse apagar o horror do que acabara de acontecer.

Briely sentiu sua mente escapar, flutuando para a escuridão. O último som que ouviu foi o eco de seu próprio choro, fraco e distante, antes de desmaiar completamente, seu corpo inerte nos braços de Morpheus. Ele a levantou com cuidado, como se fosse uma boneca de pano, e a carregou de volta ao castelo do Sonhar, um sorriso sombrio curvando seus lábios enquanto planejava os próximos passos para mantê-la ao seu lado para sempre.

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Morpheus carregou o corpo inconsciente de Briely de volta ao Sonhar, seus passos ecoando como tambores de guerra pelos corredores etéreos. Cada movimento era firme, quase mecânico, como se carregasse um troféu conquistado a qualquer custo. Ele a conduziu aos seus aposentos privados, um santuário sombrio e intocado, onde as sombras pareciam pulsar com sua própria vontade. Com uma delicadeza que contrastava com sua brutalidade anterior, deitou-a em sua cama, os lençóis negros envolvendo seu corpo frágil como uma mortalha. Um cobertor suave, de um cinza profundo como nuvens de tempestade, foi colocado sobre ela, mas mesmo esse gesto carregava um peso de posse.

No caminho, cruzaram com Lucienne, que parou abruptamente, seu rosto normalmente sereno congelado em uma máscara de choque. Seus olhos percorreram a cena com uma lentidão dolorosa: Briely, enrolada no casaco de Morpheus, parecia uma boneca quebrada. Marcas arroxeadas salpicavam seu pescoço, os lábios inchados e mordidos exibiam traços de sangue seco, e o cabelo, antes brilhante, estava emaranhado com galhos e folhas da Floresta uma testemunhas silenciosas de sua fuga fracassada.

“Mestre, o que você fez?” A voz de Lucienne saiu trêmula, quase um sussurro, carregada de uma mistura de medo e reprovação. Ela sabia, no fundo, a resposta, mas precisava ouvir as palavras dele.

Morpheus lançou-lhe um olhar cortante, os olhos brilhando com uma determinação sombria que parecia engolir a luz ao redor. “O que precisava ser feito, Lucienne. Agora, Não há força no universo que possa tirá-la de mim.”

Lucienne sentiu um aperto no peito, uma dor que ela raramente experimentava. Sua lealdade a Morpheus era inabalável, mas algo dentro dela se retorcia ao ver o estado de Briely. No entanto, sabia que questioná-lo agora seria inútil, talvez até perigoso. Com um aceno de cabeça resignado, ela deu passagem, seus olhos seguindo a figura imponente de Morpheus enquanto ele continuava, o peso de Briely em seus braços uma declaração silenciosa de vitória.

Ao chegar ao quarto, Morpheus a deitou na cama com uma reverência perturbadora, seus dedos demorando-se por um instante em seu rosto. Ele se deitou ao lado dela, puxando-a para seus braços como se ela fosse uma extensão de si mesmo. Um beijo suave, quase sagrado, pousou em sua testa, mas havia algo de profano na intensidade com que a segurava.

“Agora você é minha. Para sempre,” sussurrou contra sua pele, a voz um murmúrio baixo, mas carregado de uma possessividade que parecia ecoar pelas paredes do aposento.

Briely, ainda perdida na escuridão de sua inconsciência, não respondeu. Seu rosto, mesmo em repouso, carregava traços de angústia, as sobrancelhas franzidas como se estivesse presa em um pesadelo sem fim. Morpheus a segurou com mais força, os dedos cravados em sua cintura, como se temesse que ela pudesse evaporar no ar. Fechou os olhos, inalando o cheiro de terra e medo que ainda impregnava sua pele, e soube, no fundo de sua alma infinita, que havia cruzado um limite irreversível. E, pior, sabia que faria tudo de novo, sem hesitar, para mantê-la ao seu lado.

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Briely acordou com o corpo pesado, como se estivesse afundando em um pântano invisível. Cada músculo gritava de dor, cada movimento enviando pontadas agudas por suas coxas e abdômen. O calor de uma presença ao seu lado a fez congelar, e então sentiu os dedos de Morpheus deslizando por seu cabelo, um toque que deveria ser reconfortante, mas que a fez estremecer de repulsa. As memórias da noite anterior invadiram sua mente como uma enchente: a Floresta dos Pesadelos, o peso esmagador dele, a dor rasgante. Lágrimas quentes começaram a escorrer por seu rosto, e um soluço rouco escapou de seus lábios partidos.

“Shh, está tudo bem. Estou aqui agora. Vou cuidar de você,” murmurou Morpheus, a voz suave, mas com uma firmeza que não deixava espaço para discordância.

Briely tremeu, o corpo encolhendo-se instintivamente ao som daquelas palavras. Ela lembrava vividamente da brutalidade, da forma como ele ignorara seus gritos. “Morpheus, por favor... me deixe ir,” implorou, a voz fraca, quase afogada pelas lágrimas, mas ele já a estava levantando da cama com uma facilidade desconcertante, como se ela não tivesse peso algum.

“Vamos tomar um banho. Isso vai te fazer bem,” disse ele, carregando-a em direção ao banheiro como se fosse uma criança incapaz de andar sozinha.

Ao chegar ao banheiro, um espaço de mármore negro polido que refletia as luzes tremeluzentes como estrelas em um céu morto, Morpheus a colocou no chão com uma gentileza calculada. Ele removeu o casaco que a cobria, expondo sua nudez vulnerável ao ar frio. Briely tentou cruzar os braços sobre o peito, um gesto instintivo de proteção, mas as mãos de Morpheus foram mais rápidas, segurando seus pulsos com uma firmeza que não admitia resistência. Seus olhos, profundos e insondáveis, fixaram-se nos dela, carregados de uma intensidade que a fez engolir em seco.

“Deixe-me cuidar de você,” murmurou, a voz um sussurro que parecia deslizar por sua pele como uma carícia indesejada.

Ele a levantou mais uma vez, depositando-a na banheira já cheia de água quente, o vapor subindo em espirais preguiçosas ao redor deles. A água envolveu seu corpo machucado, oferecendo um alívio momentâneo, mas a tensão voltou em dobro quando Morpheus começou a despir suas próprias roupas. Cada peça caía ao chão com um som abafado, revelando seu corpo musculoso, esculpido em linhas duras e sombras, uma visão que era tanto hipnotizante quanto aterrorizante. Ele entrou na banheira atrás dela, suas pernas longas envolvendo-a, o peito firme pressionado contra suas costas. Briely ficou rígida, cada músculo de seu corpo gritando em protesto, o coração acelerado de medo e dor.

“Vou lavar você. Deixe-me cuidar de você,” sussurrou ele, o hálito quente roçando sua orelha enquanto pegava o sabonete com mãos que pareciam grandes demais contra sua pele delicada.

Briely não respondeu, o corpo tremendo sob seu toque, a mente ainda fragmentada pelo trauma. Morpheus começou a esfregar o sabonete por seus ombros, os movimentos lentos e quase reverentes, como se estivesse adorando um ídolo sagrado. Ele lavou seu cabelo, os dedos massageando seu couro cabeludo com uma delicadeza que parecia zombar da violência anterior, enquanto a água escorria por seu rosto, misturando-se às lágrimas silenciosas.

Quando seus olhos desceram para a água, notou o tom avermelhado que tingia a superfície, o sangue seco de suas coxas dissolvendo-se em redemoinhos carmesim. Ele moveu as mãos para lavar aquela área, mas Briely se encolheu violentamente, agarrando sua mão com uma força que nem sabia que ainda tinha.

“Por favor, Morpheus, eu faço isso,” pediu, a voz trêmula, quase engasgada pelo pânico.

Ele negou com a cabeça, um sorriso suave, mas implacável, curvando seus lábios. “Não. Você não se moverá. Eu lavarei minha esposa.”

Briely virou o rosto para encará-lo, os olhos brilhando com lágrimas de desespero e raiva. “Eu não sou sua esposa, Morpheus. Você me estuprou,” sussurrou, a voz tão baixa que quase se perdeu no som da água, mas cada palavra carregava o peso de sua dor.

Morpheus inclinou-se, seus lábios roçando a curva de seu pescoço, um beijo suave contra a pele ainda marcada por seus próprios dentes. “Você é minha esposa. Agora que você não é mais donzela, Poseidon não tem escolha. E eu sou um Perpétuo. Nenhum deus pode se opor a mim.”

Um arrepio gelado percorreu a espinha de Briely, mais frio que qualquer água. Ela sabia que estava presa, que suas correntes não eram de ferro, mas de poder e obsessão. Morpheus a segurava com uma possessividade que parecia esmagar qualquer esperança de fuga, e ela se sentia impotente contra sua vontade.

“Morpheus, por favor... não faça isso,” implorou mais uma vez, a voz quebrando, mas ele já retomava o movimento, as mãos lavando-a com uma determinação gentil, porém inabalável.

“Shh, está tudo bem. Agora eu vou cuidar de você,” murmurou, os braços envolvendo-a em um abraço que era ao mesmo tempo protetor e sufocante, sua respiração quente contra sua nuca.

Briely fechou os olhos, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Cada toque dele era uma lembrança do que havia perdido, e ela não sabia como escapar daquele pesadelo que parecia se estender por toda a eternidade.

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Artemis, a deusa da caça, caminhava pelas florestas selvagens do mundo mortal quando sentiu uma perturbação no ar, uma mudança tão sutil quanto o farfalhar de uma folha, mas tão significativa quanto o rugido de uma tempestade. Seus instintos aguçados captaram a essência da transformação: a virgindade de sua nova prima Briely havia sido tomada. Uma onda de tristeza, misturada a uma raiva primitiva, apertou seu coração. Seus dedos apertaram o arco em sua mão, como se pudesse caçar o responsável por tal profanação.

Sem perder tempo, dirigiu-se ao palácio de seu tio Poseidon, suas botas de couro batendo contra o chão de coral com determinação feroz. Ao encontrá-lo, não se deteve com formalidades, sua postura rígida como a de um predador pronto para o ataque.

“Tio, senti a virgindade de Briely desaparecer. Morpheus a desonrou,” declarou, sua voz cortante, carregada de uma emoção que raramente deixava transparecer.

Poseidon, sentado em seu trono de conchas e pérolas, levantou-se de repente, o rosto transformado por uma fúria que fez o ar ao redor vibrar com o poder do mar. Seus olhos brilhavam como as profundezas de um oceano enfurecido. “Como ele ousa? Eu neguei seu pedido de casamento! Ele me deixou impotente, incapaz de fazer qualquer coisa além de aceitar essa união forçada!”

Ele começou a andar pelo salão, cada passo ecoando como ondas quebrando contra rochedos, sua raiva palpável em cada músculo tenso. “E agora, como um Perpétuo, ele está acima de qualquer intervenção minha. Não há nada que eu possa fazer para reverter isso.”

Artemis observou seu tio, os olhos estreitados, vendo a frustração e a impotência estampadas em seu rosto. Ela sabia que ele estava certo; contra um Perpétuo, até mesmo um deus como Poseidon era limitado.

“Tio, algumas deusas do nosso panteão já devem saber. Elas também ja devem ter sentido a mudança,” acrescentou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de um peso que parecia afundar o ambiente ao redor.

Poseidon parou, virando-se para encará-la, o rosto contorcido de humilhação. “Isso só piora as coisas. Agora, todos saberão que fui desonrado, e que não consegui proteger minha unica filha.”

Com um suspiro que parecia carregar o peso de mil maremotos, ele se dirigiu ao seu escritório, os passos pesados como se carregassem o fardo de sua posição. Anfítrite, sua esposa, encontrou-o lá, seus olhos verdes como o mar calmo cheios de preocupação enquanto segurava um pano bordado entre os dedos delicados.

“Poseidon, as notícias são verdadeiras?” perguntou, a voz trêmula, quase temendo a resposta.

Ele assentiu, o olhar distante fixo nas correntes de água que dançavam pelas janelas do palácio. “Sim, são. Morpheus a desonrou e agora não há nada que possamos fazer além de permitir que eles se casem.”

Anfítrite aproximou-se, pousando uma mão suave em seu ombro, tentando ancorar sua tempestade interior. “Isso é difícil, meu amor, mas talvez haja uma maneira de encontrar paz nisso. Briely está viva, e Morpheus parece determinado a mantê-la ao seu lado. Ele a protegerá, à sua maneira.”

Poseidon virou-se para ela, os olhos ainda carregados de fúria, mas suavizando-se ao ver a esperança em seu olhar. “Talvez você esteja certa. Mas a humilhação... a humilhação corta mais fundo que qualquer tridente.”

Anfítrite ofereceu um sorriso tímido, quase frágil, mas cheio de uma força serena. “Nós somos deuses, meu amor. Temos a eternidade para nos curar. E quem sabe? Talvez este casamento traga algo positivo. Uma união entre um Perpétuo e ela poderia fortalecê-la, protegê-la de perigos maiores. Afrodite me confidenciou que Morpheus a aprecia de uma forma... intensa.”

Poseidon soltou um suspiro longo, quase um ronco de ondas se acalmando após a tormenta. “Você sempre encontra luz, mesmo nas sombras mais escuras. Obrigado, esposa ”

Com isso, ele se sentou, a mente ainda um turbilhão de emoções, mas com uma faísca de aceitação começando a surgir. Sabia que o caminho à frente seria tortuoso, cheio de murmurações entre os deuses e olhares de julgamento, mas estava determinado a encontrar uma maneira de engolir o amargo sabor da derrota e transformar isso em algo que pudesse, pelo menos, garantir a segurança de sua filha.

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Morpheus, com uma delicadeza que mascarava sua autoridade inabalável, envolveu Briely em um roupão macio após o banho, o tecido sedoso contrastando com o frio que parecia impregnado em seus ossos.

 

A água ainda gotejava de seus cabelos, formando pequenas poças no chão de mármore negro enquanto ele a conduzia de volta ao quarto, seus passos ecoando com uma firmeza que denunciava o controle absoluto que exercia sobre cada movimento.

Com um cuidado quase reverente, mas carregado de intenções ocultas, ele a depositou na cama, o colchão afundando levemente sob seu peso.

 

Briely desviou o olhar, incapaz de sustentar a intensidade daqueles olhos de um azul abismal, que pareciam desnudar cada pensamento seu. Seu corpo ainda pulsava com as lembranças dolorosas da noite anterior, uma mistura de vergonha e medo apertando seu peito.

Morpheus, alheio ou indiferente à sua relutância, vestiu-se com uma precisão metódica, as roupas negras e elegantes moldando-se ao seu corpo como uma segunda pele, cada dobra do tecido refletindo sua posição como senhor daquele reino onírico. Ele abriu o guarda-roupa com um gesto fluido, retirando um vestido preto que parecia tecido de sombras, seus detalhes intrincados capturando a luz de maneira hipnótica.

"Vou vestir você," declarou, a voz suave como um veludo, mas impregnada de uma autoridade que não admitia recusa.

Sem esperar por consentimento, ele deslizou o roupão de seus ombros, deixando sua pele exposta ao ar gelado do quarto. Um arrepio percorreu sua espinha, mas ela permaneceu imóvel, o medo de provocar sua ira maior que qualquer impulso de resistência. Com movimentos lentos e deliberados, Morpheus a vestiu, ajustando o tecido para que abraçasse cada curva de seu corpo com uma perfeição perturbadora. O vestido, embora confortável, carregava um peso sombrio, um eco de suas próprias vestes, como se marcasse sua submissão a ele. Briely engoliu em seco, os lábios apertados para não deixar escapar nenhum som de protesto.

"Vou pedir a Mavern para preparar algo para você comer," disse ele, conduzindo-a até a cama com uma mão firme em suas costas. "Você precisa se fortalecer."

Ele se afastou por um momento, e logo Mavern, um servo do Sonhar de presença etérea e silenciosa, entrou no quarto carregando uma bandeja repleta de pratos que exalavam aromas tentadores. Frutas lustrosas, pães dourados e cremes delicados estavam dispostos com uma perfeição quase irreal, mas o estômago de Briely se revirava, enojado pela situação. Ela hesitou, os olhos fixos na comida sem realmente vê-la, enquanto Morpheus se sentava ao seu lado, sua presença sufocante preenchendo o espaço.

"você precisa comer," insistiu, a voz firme, cortando o silêncio como uma lâmina. "Vou acompanhá-la."

Ele a guiou até uma cadeira próxima, puxando-a com gentileza, mas sem deixar margem para recusa. Sentada, Briely encarou a bandeja, os dedos trêmulos enquanto pegava um pedaço de pão e uma fruta, forçando-se a mastigar sob o peso daquele olhar implacável.

"Escolha o que quiser," ele murmurou, o tom suave, mas carregado de um comando implícito que a fez estremecer.

Ela continuou a comer em silêncio, cada mordida um esforço contra a náusea que crescia em seu peito. Morpheus, ao seu lado, também se alimentava, mas seus movimentos eram precisos, quase mecânicos, os olhos fixos nela com uma intensidade que a fazia sentir-se como presa sob a mira de um predador. Após alguns minutos, ele pousou os talheres com um som metálico seco, o ruído ecoando no quarto opressivo.

"Briely," começou, a voz firme e decidida como o peso de uma sentença, "vou pedir a Luciene para fazer os preparativos para nosso casamento."

Ela congelou, o pão escorregando de sua mão, os olhos arregalados enquanto o choque a atravessava como uma corrente elétrica. "O quê? Mas... eu não posso... eu não quero me casar com você," gaguejou, a voz trêmula, quase se quebrando sob o peso do desespero.

Morpheus sorriu, um sorriso frio que não alcançava seus olhos, um brilho cruel dançando em suas profundezas azuis. "Você não tem escolha".

Eu decidi que nos casaremos em uma cerimônia antiga, uma que une nossas essências. Com isso, você deixará de ser parcialmente humana e se tornará uma deusa, ligada a mim para sempre."

Um arrepio gelado desceu por sua espinha, o coração disparando enquanto as palavras se assentavam como grilhões em sua mente. "Morpheus, por favor... não faça isso. Eu não quero ser uma deusa. Eu só quero voltar para o meu universo original. Sinto tanta falta da minha família, dos meus amigos... da minha mãe, do meu irmão," implorou, as lágrimas escapando apesar de seus esforços para contê-las, traçando linhas quentes por suas bochechas.

A expressão de Morpheus escureceu, uma sombra de possessividade endurecendo suas feições. "Sua família? Eles não são nada comparados a mim, Briely. Você é minha, e sempre será. Essa cerimônia garantirá que você esteja ligada a mim é de todas as maneiras possíveis."

Briely secou as lágrimas com as costas da mão, o peito subindo e descendo em respirações curtas e irregulares. "Morpheus, você, você mentiu para mim. Você disse que ia me ajudar a voltar para o meu universo original," acusou, a voz carregada de dor e traição.

Ele se levantou, caminhando até a janela com passos medidos, seu perfil recortado contra a luz fraca e fantasmagórica do Sonhar, um reino onde até a luz parecia dobrar-se à sua vontade. "Eu nunca tive a intenção de ajudá-la a voltar,meu amor" Desde que ficamos presos juntos, venho planejando isso. Durante aqueles três meses, eu me apaixonei por você. E cada momento que passamos juntos desde então só intensificou esse sentimento."

A desolação a envolveu como uma névoa densa, a certeza de sua impotência diante de um Perpétuo esmagando qualquer resquício de esperança. "Morpheus, por favor... me dê uma chance. Me deixe voltar, Eu, eu só quero voltar para casa," sussurrou, a voz quase inaudível, quebrada.

Ele se virou, os olhos brilhando com uma intensidade que a fez recuar instintivamente, o corpo encolhendo-se na cadeira. "Sua casa é comigo agora, Briely. E eu farei de tudo para garantir que você nunca mais deseje deixar meu lado. Nós criaremos nossa própria família após o casamento. Nossos próprios filhos."

O pensamento a fez estremecer, o estômago se contraindo com um novo tipo de medo. "Filhos? Morpheus, eu... eu só tenho dezesseis anos eu, eu não estou pronta para isso," gaguejou, a voz vacilante, os olhos arregalados de pavor.

Ele se aproximou com passos lentos, mas determinados, uma força inevitável que parecia sugar todo o ar ao seu redor. Com um gesto gentil, mas firme, ele a pegou no colo, sentando-a em seu regaço, os braços envolvendo-a como correntes disfarçadas de afeto.

Briely fechou os olhos, lágrimas frescas escorrendo por seu rosto enquanto sentia o calor de seu corpo contrastando com o frio em seu coração. Morpheus inclinou-se, os lábios roçando suas lágrimas, beijando-as com uma suavidade que a fez engasgar com a contradição de sua ternura e controle.

Segurando seu rosto entre as mãos, ele a beijou profundamente, a língua invandindo sua boca com uma fome possessiva que a deixou sem fôlego.

Ela tentou recuar, mas não havia espaço, o gosto dele enchendo seus sentidos enquanto a saliva escorria entre suas bocas, um selo visível de sua dominação. Quando ele finalmente se afastou, encostou a testa na dela, seus olhos como um abismo que a engolia inteira.

"Nós teremos príncipes e princesas lindos, Briely. Filhos que carregarão nosso legado. Você será a mãe perfeita, e eu serei o pai protetor. Ninguém poderá nos separar," murmurou, cada palavra um decreto que parecia gravado em pedra.

Briely sentiu o peso de seu destino se fechar ao seu redor, um arrepio de resignação e terror percorrendo sua espinha. Não havia como escapar, não havia como lutar contra a vontade de um ser como ele.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Morpheus conduziu Briely até a sala do trono, um espaço vasto e opressivo, onde colunas de obsidiana se erguiam como sentinelas de um pesadelo eterno, e o trono, esculpido em pedra negra, parecia pulsar com uma energia sombria.

Ele a sentou em seu colo, os braços envolvendo-a com uma firmeza que não deixava espaço para movimento, fazendo-a sentir-se minúscula e vulnerável contra a imensidão de seu poder.

Luciene os aguardava, sua expressão uma máscara de seriedade e obediência, os olhos baixos em deferência ao senhor do Sonhar.

"Luciene," começou Morpheus, a voz ecoando pelo salão como um trovão contido, carregada de autoridade, "prepare os preparativos para o casamento imediatamente. Quero que tudo esteja perfeito."

"Sim, milorde," respondeu ela, inclinando a cabeça com respeito absoluto. "Vou cuidar de tudo."

Morpheus baixou o olhar para Briely, os olhos penetrantes como lâminas que cortavam através de qualquer barreira que ela tentasse erguer. "Meu amor, você tem alguma preferência para o nosso casamento?"

Ela permaneceu em silêncio, os pensamentos girando em um turbilhão de desespero e resignação. Não conseguia formar palavras, a mente presa na inevitabilidade do que estava por vir. Morpheus suspirou, um som pesado que reverberou com uma ponta de impaciência e descontentamento.

"Muito bem," disse ele, dispensando Luciene com um gesto seco da mão. "Você pode ir. Cuide de tudo."

Luciene saiu da sala em silêncio, os passos quase inaudíveis contra o chão polido, deixando Briely sozinha com a presença avassaladora de Morpheus. Ele se levantou, ainda segurando-a com firmeza, e a levou de volta ao quarto, cada passo ecoando como o tique de um relógio que marcava o tempo até sua rendição final.

Ao chegarem, ele a depositou na cama com uma delicadeza calculada, mas seus olhos não deixavam margem para conforto.

"Este será o nosso quarto a partir de agora, Briely," declarou, a voz carregada de uma possessividade que parecia impregnar o próprio ar. "Você vai descansar um pouco. Amanhã será um novo dia, um dia maravilhoso para o nosso casamento. Mais tarde, passarei para ver como você está."

Briely percorreu o quarto com os olhos, a opulência sombria das cortinas de veludo e dos móveis entalhados em ébano sufocando-a. Algo que antes passara despercebido chamou sua atenção, um detalhe que agora parecia gritante.

"Morpheus," perguntou, a voz trêmula, quase se quebrando sob o peso da descoberta, "por que o meu quarto antigo estava ao lado do seu? Isso tinha algum significado?"

Ele se virou para ela, um sorriso enigmático curvando seus lábios, os olhos brilhando com uma satisfação cruel. "Este era o quarto da rainha, Sempre ao lado do rei. Agora, você entende?"

Um nó se formou em sua garganta, a compreensão caindo sobre ela como uma avalanche. Como pôde ser tão cega? Cada gesto, cada olhar, cada toque gentil que ele lhe dispensara não era afeto desinteressado, mas parte de um plano meticulosamente traçado para aprisioná-la.

As memórias de como ele a tratava com um carinho aparente, como parecia estar sempre atento aos menores detalhes, agora se retorciam em sua mente como armadilhas disfarçadas. Ela estava presa, enredada em uma teia da qual não havia saída.

Morpheus se aproximou, os movimentos suaves, mas carregados de determinação. Puxando-a para perto, ele capturou seus lábios em um beijo profundo e possessivo, a intensidade quase sufocante, roubando o ar de seus pulmões enquanto sua respiração acelerava. Quando se afastou, a saliva reluzia entre suas bocas, um marca visível de sua reivindicação. Ele encostou a testa na dela, os olhos fixos nos seus, um poço sem fundo de controle e desejo.

"Descanse, meu amor. Amanhã será um dia maravilhoso," sussurrou, a voz um misto de promessa e ameaça.

Com um movimento fluido, ele se dissolveu em uma nuvem de areia negra e dourada, o ar tremulando com sua partida, deixando Briely sozinha no quarto que agora seria deles. Ela se deitou na cama, puxando as cobertas até o queixo como se pudessem protegê-la da realidade. Fechou os olhos, mas as memórias da noite anterior a assaltaram, vívidas e cortantes como lâminas – o momento em que Morpheus a dominou no chão de uma floresta, a sensação de impotência gravada em cada fibra de seu ser.

"Por favor, não," sussurrou para o vazio, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto revivia cada toque, cada palavra. "Eu só quero voltar para casa."

Mas a realidade era implacável, um peso esmagador que a sufocava. Com um soluço baixo, ela deixou as lágrimas a consumir até que o cansaço a levou ao sono, um refúgio frágil e temporário de sua prisão.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

"Acorde, meu amor," sussurrou, a voz um murmúrio carregado de afeto possessivo, ressoando como um comando que permeava até os recantos mais profundos de sua mente. "É hora."

Briely despertou devagar, os olhos pesados de sono, a mente enevoada enquanto tentava se situar. Morpheus sorriu, um brilho de desejo dançando em seu olhar enquanto a observava naquela vulnerabilidade desprotegida.

"Você é adorável ao acordar," murmurou, a voz grave, cada palavra tingida de um prazer sombrio ao vê-la tão exposta. "Luciene estará aqui em breve para ajudá-la a escolher o vestido e se arrumar para a cerimônia."

Ainda grogue, mas movida por um instinto de fuga que pulsava em seu sangue, Briely tentou se afastar, os braços movendo-se desajeitadamente para se erguer da cama. "Não," murmurou, a voz fraca, quase perdida no silêncio opressivo do quarto.

Mas Morpheus foi mais rápido, uma força inevitável que se impôs sobre ela. Segurando-a pelos braços, seu corpo alto e dominante pairava sobre o dela, os olhos azuis como um abismo que engolia qualquer resistência. A proximidade dele trazia um aroma de escuridão e sonhos antigos, intoxicante e sufocante ao mesmo tempo.

"Eu não estou lhe perguntando," declarou, a voz firme, cada sílaba um decreto inquestionável. "Estou afirmando. Você vai se casar comigo hoje."

Ele se inclinou, selando suas palavras com um beijo gentil nos lábios dela, um contraste perturbador com a intensidade de sua determinação. Quando se afastou, soltou seus braços com uma lentidão calculada, mas manteve o olhar fixo, garantindo que ela sentisse o peso de sua vontade.

"Nem pense em fugir," acrescentou, a voz descendo a um tom baixo e ameaçador, cada palavra como uma lâmina roçando sua pele. "Se você tentar, farei amor com você até você nem sequer sentir as pernas. Ficará sem andar por vários dias, e ainda assim, se casará comigo."

Briely engoliu em seco, um arrepio de medo percorrendo sua espinha enquanto as palavras se assentavam como grilhões. "Eu entendi," sussurrou, a voz trêmula, quase inaudível. "Não farei nada."

Morpheus assentiu, um brilho de satisfação cruel curvando seus lábios. "Bom. Tome um banho e se prepare. Luciene estará aqui em breve com seu café da manhã e para ajudá-la a se arrumar."

Ele se inclinou mais uma vez, depositando um beijo suave em sua testa, um gesto que deveria ser reconfortante, mas que deixava um formigamento de posse onde seus lábios tocaram. "Verei você em breve, meu amor."

Com um movimento fluido, ele se teletransportou em uma nuvem de areia que reluzia em tons de negro e dourado, o ar tremulando com sua partida. Briely permaneceu sozinha, os pensamentos girando como um redemoinho, cada batida de seu coração amplificada pelo silêncio.

Sabendo que não havia escapatória, ela se levantou com movimentos pesados, dirigindo-se ao banheiro, o chão gelado sob seus pés um reflexo do vazio que sentia por dentro.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Apos terminar de se banhar, o vapor ainda pairando no ar enquanto se envolvia em um roupão macio, o tecido um conforto vazio contra sua pele marcada por memórias dolorosas. Sentou-se na penteadeira, os olhos fixos no vazio do espelho, tocando no pescoço as imagens da noite anterior voltando à sua mente.

Uma batida suave na porta quebrou seu devaneio, a voz de Luciene soando do outro lado, gentil, mas carregada de um respeito formal. "Minha rainha, posso entrar?"

Briely demorou alguns segundos, perdida em seus pensamentos, antes de responder, a voz monótona. "Sim, pode entrar."

Luciene entrou, trazendo consigo uma bandeja com uma variedade de alimentos – pães recém-assados, frutas frescas que brilhavam como joias, e um chá cujo aroma tentava, sem sucesso, trazer algum conforto. Ela depositou a bandeja sobre a mesa e se virou para Briely, os olhos cheios de uma compaixão contida, mas incapaz de oferecer qualquer alívio real.

"Sinto muito, minha senhora," disse Luciene suavemente, a voz baixa como se temesse ser ouvida por ouvidos invisíveis. "Vim para ajudá-la a se preparar para o grande dia."

Briely se levantou da penteadeira e caminhou até a mesa, pegando um pedaço de pão e uma fruta com movimentos mecânicos, comendo sem saborear, os olhos evitandom os de Luciene. Cada mordida era um esforço, um gesto de sobrevivência mais do que necessidade.

Luciene se aproximou, hesitante, a voz baixando ainda mais. "Posso conversar com você, minha senhora?"

Briely assentiu, o silêncio entre elas pesado, carregado de palavras não ditas.

"Minha senhora," começou Luciene, cada palavra escolhida com cuidado, "talvez seja para o melhor. O mestre Morpheus não vai aceitar que você o negue."

"Eu sei," sussurrou Briely, a voz quase se quebrando enquanto memórias de sua jornada ao inferno com Morpheus voltavam à tona.

Ela se lembrou de suas palavras frias sobre a mulher que o desafiou e foi condenada a dez mil anos de tormento, um lembrete brutal de seu poder absoluto. "Lembro-me de quando fomos ao inferno. Ele disse que condenou uma mulher por dez mil anos porque o desafiou."

Luciene assentiu, o peso da situação gravado em sua expressão. "Você não deveria ter confiado nele, minha senhora. Deveria ter desconfiado. Agora, agora ja é tarde demais."

Lágrimas ameaçaram escapar dos olhos de Briely, mas ela as conteve, apertando os lábios para não mostrar mais fraqueza do que já demonstrara. Luciene, percebendo a tensão, mudou de assunto com uma praticidade forçada. "Eu trouxe os vestidos para você escolher e experimentar."

Ela caminhou até o armário e retirou três vestidos de casamento, cada um mais opulento que o outro, todos em um preto profundo que parecia engolir a luz, adornados com detalhes em prata e pedras preciosas que brilhavam como estrelas em um céu sem lua. Ao lado, colocou um conjunto íntimo negro sobre a cama, o tecido delicado contrastando com a gravidade do momento.

Briely se aproximou, os dedos hesitantes roçando os tecidos suaves, a beleza dos vestidos contrastando com o entorpecimento que a envolvia. Parecia estar assistindo a tudo de fora de si mesma, uma espectadora de sua própria prisão.

"Escolha aquele que mais gosta, minha senhora," incentivou Luciene, a voz gentil, mas incapaz de mascarar a inevitabilidade do que estava por vir. "Vou ajudá-la a se vestir."

Briely escolheu o mais simples dos três, um vestido com um decote em V profundo e uma saia longa e fluida, como se quisesse ao menos evitar o peso de mais adornos. Luciene assentiu em aprovação, ajudando-a a vestir-se com mãos habilidosas, ajustando cada detalhe até que o tecido caísse com uma elegância sombria ao redor de seu corpo.

"Agora, sente-se na penteadeira, por favor," disse Luciene, guiando-a até a cadeira com uma delicadeza quase maternal. "Vou pentear seu cabelo e fazer sua maquiagem."

Briely obedeceu em silêncio, sentando-se enquanto Luciene começava a trabalhar em seus cabelos, criando um penteado elaborado com tranças laterais e cachos soltos que emolduravam seu rosto, pontuados por pequenos rubis que brilhavam como gotas de sangue contra a escuridão.

Em seguida, aplicou a maquiagem com precisão, uma base leve que realçava a pele morena de, um delineado escuro que intensificava seu olhar, e um batom vermelho profundo que dava um ar de poder que ela não sentia.

Por fim, Luciene colocou um colar de rubis ao redor de seu pescoço, os brincos combinando completando o visual. As joias reluziam contra sua pele, transformando-a em uma figura régia, mas distante, uma rainha de um reino que nunca desejou.

"Pronta, minha senhora," murmurou Luciene, dando um passo atrás para admirar seu trabalho. "Você está deslumbrante. Morpheus ficará encantado."

Briely se encarou no espelho, mal reconhecendo a mulher que a fitava de volta. Parecia uma estranha, uma figura distante que carregava o peso de uma coroa invisível. Com um suspiro baixo, virou-se para Luciene, a voz quase inaudível. "Obrigada, Luciene. Por tudo."

Luciene ofereceu um sorriso triste, os olhos carregados de uma empatia que não podia mudar nada. "É meu dever, minha senhora. Agora, vamos nos apressar. A noite está chegando, e com ela, o seu destino."

Aproximando-se mais uma vez, sua expressão tornou-se séria, a voz baixando a um sussurro conspiratório. "Minha senhora, tente amá-lo, ou pelo menos, finja. Ninguém aqui no Sonhar tem permissão para ajudá-la a fugir. É para o melhor."

Briely assentiu, o peso em seu coração esmagador, uma prisão que não precisava de barras para contê-la. Sabia que não havia escolha, que estava completamente à mercê de Morpheus. Com um suspiro resignado, levantou-se, pronta para enfrentar o futuro que a aguardava, cada passo carregado de uma inevitabilidade que a sufocava.

Chapter Text

Os convites para o casamento de Morpheus e Briely continuaram a ecoar suas reverberações entre os deuses do panteão grego, cada reação carregada de camadas de significado e emoção.

**Hera e Afrodite:**

Hera e Afrodite, ainda imersas em sua conversa, trocaram olhares que carregavam tanto apoio quanto preocupação. Hera, com seu porte régio, dobrou o convite cuidadosamente, como se quisesse guardar até mesmo o peso daquele momento. "Morpheus é um ser de profundos mistérios. Que ele não permita que suas sombras ofusquem a luz de Briely," murmurou ela, quase para si mesma.

Afrodite, brincando com uma mecha de seus cabelos dourados, inclinou a cabeça. "Sim, mas há algo na dor dela que me toca. Talvez, em meio a tudo isso, o amor ainda possa florescer. Ou, pelo menos, uma compreensão mútua. Sinto que ela carregará um peso, mas também uma força que poucos enxergam."

**Zeus:**

Zeus, sentado em seu trono de trovões, girou o convite entre os dedos, o papel quase insignificante em suas mãos poderosas. Um leve franzir de sobrancelhas cruzou seu rosto enquanto ele pensava nos desdobramentos daquele enlace. "Um Perpétuo e uma semideusa... Um jogo de poder ou uma união verdadeira? Só o tempo dirá se Morpheus joga com o destino ou se é apenas mais uma peça no tabuleiro," refletiu ele, sua voz ecoando em um tom grave, como o rumor distante de uma tempestade.

**Ares:**

Ares, com sua armadura reluzente refletindo a luz, deu uma gargalhada rouca ao ler as palavras no pergaminho. Ele bateu com o punho na mesa, fazendo os cálices de vinho tremerem. "Morpheus, seu estrategista ardiloso! Ele luta suas batalhas com sonhos e não com espadas. E a Briely... bem, que ela tenha o fogo necessário para enfrentar um ser como ele. Quero ver como essa guerra particular se desenrola!"

**Atena:**

Atena, com sua lança reluzente encostada ao lado, analisou o convite como se fosse um mapa de guerra. Seus olhos cinzentos, sempre calculistas, brilharam com um misto de interesse intelectual e cautela. "Um enlace entre dois indivíduos tão distintos... Será que a sabedoria poderá guiar Briely em um reino feito de sonhos e ilusões? Ou será que Morpheus a moldará como faz com suas visões? Preciso observar isso de perto," pensou ela, traçando mentalmente as possíveis consequências.

**Poseidon:**

Poseidon, ainda segurando o convite com mãos trêmulas, deixou que a brisa marinha imaginária em seus pensamentos acariciasse sua mente. Ele fechou os olhos por um instante, como se pudesse ouvir o som das ondas, lamentando que deveria ter levado Briely para longe, para a segurança de Atlântida. "Minha pequena filha... minha unica, minha pequena joia do oceano... Como deixei que o Sonhar a engolisse? Se Morpheus ousar machucá-la, nem mesmo os confins de seu reino o protegerão da minha fúria," murmurou ele, o tom carregado de uma mistura de dor e ameaça, enquanto uma lágrima salgada escorria por seu rosto.

**Morte, Destino, Delírio, Desespero e Desejo:**

**Morte:** Sentada em um canto, Morte girava uma pequena flor negra entre os dedos enquanto lia o convite. Seu sorriso era gentil, mas carregava uma melancolia antiga. "Morpheus, meu irmão... Você encontrou alguém para dividir seus fardos. Mas será que Briely está pronta para carregar os pesadelos que vêm com você? Desejo-lhe luz, mesmo que eu saiba o quão pesada pode ser a escuridão ao seu lado."

**Destino:** Destino, com seu capuz cobrindo parte do rosto, apenas folheou as páginas invisíveis de seu livro eterno. Um leve arquejo de interesse escapou de seus lábios. "Briely não estava nas linhas que tracei... mas agora sua existência entrelaça-se com Morpheus. Que intrigante desvio. Cada passo deles será um novo capítulo, e eu estarei aqui para lê-lo com atenção."

**Delírio:** Delírio dançava em círculos, segurando o convite como se fosse um brinquedo. Seus cabelos multicoloridos flutuavam ao seu redor enquanto ela ria prazerosamente. "Casamento! Flores, sonhos, bolhas de alegria! Morpheus vai ter alguém pra brincar de sonhar junto. E Briely... ah, ela é como um arco-íris que não sabe que brilha! Vamos encher tudo de purpurina!"

**Desespero:** Desespero, com suas mãos marcadas por arranhões auto-infligidos, olhou para o convite com um olhar vazio, quase inerte. Um sussurro escapou de seus lábios. "Briely... pobre alma. Que ela encontre um fiapo de esperança em meio às correntes do Sonhar. Que não se afogue na melancolia que meu irmão por vezes tece sem perceber."

**Desejo:** Desejo, com um sorriso provocador nos lábios, traçou o nome de Briely no convite com a ponta do dedo, quase como um toque sedutor. "Morpheus, você sempre foi um mestre em desejar o inatingível. Agora tem sua joia. Mas será que ela também deseja você, ou será apenas mais um peão em seus jogos? Mal posso esperar para ver as faíscas que voarão entre vocês dois."

as reaçoes dos deuses e Perpétuos adicionava mais camadas à intrincada tapeçaria daquele evento, um casamento que parecia tanto uma celebração quanto um presságio. A tensão pairava no ar como uma névoa, envolvendo todos os presentes em uma expectativa quase palpável.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Luciene, após ajudar Briely com os últimos retoques em seu vestido, deu um passo atrás, admirando o resultado com um sorriso suave. "Espere só um instante, minha senhora. Vou buscar algo para completar seu visual," disse ela, antes de sair apressadamente do quarto, deixando Briely sozinha com seus pensamentos turbulentos.

Briely, sentada na beira da cama, alisava o tecido delicado de seu vestido, sentindo o peso de cada bordado como se fosse uma corrente. Seus pensamentos eram um redemoinho de dúvidas e resignação quando a batida na porta a trouxe de volta ao presente. "Entre," disse ela, a voz vacilante ecoando no silêncio.

Poseidon entrou, sua presença imponente contrastando com a ternura em seus olhos. Ele parou por um momento, apenas observando-a, como se quisesse gravar aquela imagem em sua memória. "Minha filha, você está deslumbrante," disse ele, sua voz rouca de emoção, enquanto uma sombra de tristeza cruzava seu rosto. "Permita-me o privilégio de levá-la ao altar."

Briely sentiu um nó apertar ainda mais em sua garganta, mas conseguiu assentir. Poseidon estendeu o braço, e ela o aceitou, seus dedos tremendo levemente ao toque da pele áspera e salgada do pai. Juntos, caminharam até a imensa porta fechada, atrás da qual o destino de Briely a esperava.

"Veio muita gente?" perguntou ela, suas palavras quase engolidas pelo nervosismo que a consumia.

Poseidon lançou-lhe um olhar reconfortante, embora seus próprios olhos traíssem sua preocupação. "Sim, alguns dos maiores nomes do nosso panteão estão aqui, além dos irmãos de Morpheus. É uma união que ninguém quer perder... por razões diversas," respondeu ele, sua voz firme, mas com um tom de cautela.

A porta se abriu com um rangido grave, revelando um salão repleto de rostos que a observavam. Briely sentiu o peso de cada olhar como uma onda esmagadora. Hera e Afrodite a encararam com compaixão velada, enquanto Zeus mantinha uma expressão impassível, quase julgadora.

Atena, com sua postura sempre alerta, parecia analisar cada detalhe, e Ares deu um leve aceno de cabeça, um gesto que parecia ao mesmo tempo de respeito e diversão. Briely desviou os olhos, sentindo o calor subir às suas bochechas, como se estivesse exposta a um julgamento silencioso.

Poseidon a guiou com passos firmes até o altar, onde Morpheus esperava, envolto em uma aura de sombras e mistério. Seus olhos a fixaram com uma intensidade que a fez estremecer. "Você está magnífica," disse ele, sua voz baixa, mas carregada de posse, enquanto tomava sua mão com uma firmeza que não admitia hesitação.

Poseidon, com relutância, soltou a mão da filha, depositando um beijo gentil em sua testa. Seus olhos, profundos como o oceano, encontraram os de Morpheus por um breve instante, transmitindo um aviso silencioso antes de se retirar para se sentar ao lado de Anfítrite. Mesmo à distância, Briely podia sentir o olhar de seu pai sobre ela, como uma maré que nunca recuava.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A cerimônia avançou, o ar denso com o peso de cada palavra pronunciada pelo oficiante, um ser cuja presença parecia transcender o próprio tempo. Sua voz, quase hipnótica, ressoava pelo salão. "Hoje, celebramos a união de Morpheus, o Perpétuo dos Sonhos, e Briely, uma semideusa de rara essência. Este não é apenas um casamento, mas um vínculo eterno, uma fusão de suas almas que nenhum poder poderá desfazer."

Morpheus e Briely trocaram olhares, e ela sentiu um arrepio gelado descer por sua espinha, como se algo profundo dentro dela reconhecesse a irreversibilidade daquele momento. O oficiante prosseguiu, cada frase carregada de um peso ancestral.

"Morpheus, você aceita Briely como sua esposa, para guiá-la, protegê-la e uni-la a você por toda a eternidade?"

Sem tirar os olhos dela, Morpheus respondeu com uma certeza inabalável. "Aceito."

"Briely, você aceita Morpheus como seu esposo, para caminhar ao seu lado, honrá-lo e uni-lo a você por toda a eternidade?"

O coração de Briely disparou, cada batida ecoando em seus ouvidos. Ela hesitou, o silêncio parecendo eterno, enquanto olhava para Morpheus. A intensidade em seus olhos era quase sufocante, e o leve aperto em sua mão parecia um lembrete de que não havia escolha.

"Aceito," disse ela por fim, sua voz clara, mas carregada de uma emoção que não podia esconder.

O oficiante assentiu, um sorriso etéreo cruzando seus lábios. "Com estas palavras, o primeiro laço está formado. Agora, passemos ao ritual de união."

Ele avançou, retirando uma faca cerimonial de lâmina reluzente de sua veste. Com um movimento preciso, cortou a palma de Morpheus, permitindo que gotas escuras, quase oníricas, caíssem em um cálice prateado que parecia pulsar com uma luz própria.

Em seguida, ele repetiu o gesto com Briely, o corte ardendo em sua pele enquanto seu sangue, de um vermelho vivo, misturava-se ao de Morpheus, criando um líquido que parecia conter estrelas em sua essência.

"Bebam agora do cálice da união, enquanto as palavras antigas selam seu destino," instruiu o oficiante, sua voz ganhando um tom ainda mais profundo.

Morpheus tomou do cálice sem hesitação, seus olhos nunca deixando os de Briely enquanto bebia. O gesto parecia quase desafiador, como se ele a convidasse a seguir sem medo.

Briely, por sua vez, olhou ao redor por um instante, buscando algum conforto nos rostos dos convidados. Seus olhos encontraram os de Morte, na primeira fileira, cujo olhar era ao mesmo tempo acolhedor e distante. Outros Perpétuos a observavam, suas expressões indecifráveis, mas carregadas de algo que ela não conseguia nomear.

Sentindo o peso do momento, ela pegou o cálice das mãos de Morpheus, suas mãos trêmulas enquanto o levava aos lábios. O gosto metálico e estranho do sangue misturado queimou sua garganta, deixando um rastro de calor e desconforto.

O oficiante ergueu as mãos, pronunciando as palavras finais em uma língua que parecia ecoar dos confins do universo. Cada sílaba parecia vibrar no ar, envolvendo os dois em um manto invisível. "Agora, vocês são um só. Sua união é eterna, e inquebrável, forjada nos fios do destino."

Os aplausos ecoaram pelo salão, alguns calorosos, outros contidos, enquanto Morpheus puxou Briely para um beijo profundo, seus lábios frios, mas exigentes contra os dela. Quando ele a soltou, uma onda de calor subiu pelo corpo de Briely, como se algo dentro dela estivesse se transformando, queimando-a de dentro para fora.

"O que está acontecendo?" perguntou ela, sua voz trêmula, enquanto se agarrava ao braço de Morpheus para se firmar.

Ele a encarou, um sorriso enigmático curvando seus lábios, seus olhos brilhando com algo entre posse e promessa. "Está tudo bem, minha esposa. É apenas o vínculo se estabelecendo. Essa sensação passará após nossa noite de núpcias. Não se preocupe, apenas confie em mim."

Sem mais palavras, ele a guiou pelo corredor, agora oficialmente marido e mulher, enquanto os olhos dos convidados os seguiam, alguns com admiração, outros com preocupação velada. O futuro que os aguardava era uma tapeçaria ainda a ser tecida, mas cada fio já parecia carregado de mistério e destino.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O salão da recepção estava imerso em uma atmosfera que oscilava entre o encantamento e a inquietação. Lanternas etéreas flutuavam pelo ar, lançando uma luz suave que parecia dançar com as sombras projetadas pelos convidados.

Morpheus conduziu Briely até a mesa reservada para os noivos, um espaço adornado com detalhes oníricos — flores que pareciam feitas de névoa, taças que refletiam sonhos distantes e um tecido que parecia pulsar como um coração vivo.

Briely observou o ambiente, cada detalhe parecendo amplificar sua sensação de estar em um mundo que não era inteiramente seu. Hera e Afrodite, em um canto, trocavam sussurros enquanto lançavam olhares discretos em sua direção, como se tentassem decifrar o que sua união significava.

Zeus e Poseidon, em uma conversa tensa, pareciam discordar sobre algo, os gestos de Poseidon carregados de uma frustração mal contida enquanto Zeus mantinha sua usual postura de autoridade.

Atena, sentada sozinha, segurava um cálice de néctar, mas seus olhos não se fixavam na bebida — ela observava Briely, como se tentasse resolver um enigma.

Ares, já com o rosto corado pelo vinho, soltava gargalhadas estrondosas, claramente pouco preocupado com as sutilezas do momento.

Morpheus segurou a mão dela com firmeza, um gesto que parecia tanto de proteção quanto de posse, enquanto os Perpétuos se aproximavam para prestar suas felicitações.

Morte foi a primeira, sua presença sempre reconfortante de uma maneira estranha. Ela apertou a mão de Morpheus com força, um gesto de irmandade, antes de se virar para Briely. O abraço que deu nela foi inesperadamente quente, contrastando com a frieza de seu título. "Bem-vinda à nossa família, Briely. Que você encontre seu lugar entre nós, mesmo que o caminho pareça nebuloso no começo," disse ela, suas palavras carregadas de uma sinceridade que tocou Briely profundamente.

Destino aproximou-se em seguida, sua presença quase sufocante com o peso do inevitável. Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse vendo algo além do que os outros podiam enxergar. "Parabéns, Morpheus e Briely. Que sua jornada juntos seja... esclarecedora. O destino raramente revela seus planos, mas sei que vocês estão destinados a traçar um caminho único," falou ele, sua voz como o sussurro de páginas sendo viradas.

Desespero veio logo após, sua figura curvada e sua aura densa envolvendo o espaço ao seu redor. Ela olhou para Briely com olhos que pareciam carregar todas as dores do mundo. "Parabéns, jovem semideusa. Que você nunca conheça o verdadeiro peso da desesperança, mesmo ao lado de meu irmão. E você, Morpheus, cuide para que os sonhos não se tornem pesadelos para ela," disse ela, antes de se afastar, deixando um rastro de melancolia no ar.

Delírio praticamente pulou em direção aos noivos, sua energia caótica iluminando o espaço ao seu redor. Ela abraçou Morpheus com força, quase derrubando um arranjo próximo, e então envolveu Briely em um abraço apertado, cheirando a algo doce e indefinível. "Que felicidade! Um casamento! Amor, sonhos, estrelas caindo em espiral! Briely, você é tipo uma borboleta de névoa agora, voando no Sonhar com meu irmão! Vamos pintar o mundo com risadas!" exclamou ela, batendo palmas antes de girar para longe, deixando um rastro de confetes invisíveis.

Por fim, Desejo aproximou-se, cada passo calculado para atrair atenção. Seus olhos brilharam com uma mistura de diversão e provocação enquanto ele parava diante de Morpheus. "Parabéns, irmão. Você sempre soube como conseguir o que deseja, não é? E Briely... bem, que você também encontre o que seu coração anseia, mesmo nas profundezas do Sonhar," disse ele, sua voz como um veludo carregado de intenções ocultas, antes de se curvar levemente e se misturar à multidão.

Quando os Perpétuos se dispersaram, Morpheus levou a mão de Briely aos lábios mais uma vez, o gesto tão íntimo quanto controlador. O toque frio de seus lábios contra sua pele a fez estremecer, lembrando-a do vínculo que agora os conectava de maneira irreversível.

Ela olhou ao redor do salão, tentando ancorar-se em algo familiar. Seus olhos captaram Luciene em uma conversa animada com Caim e Abel, os três rindo de algo que ela não conseguiu ouvir. Maverin, sempre atencioso, embalava o pequeno bebê Gárgula goldie em seus braços, murmurando algo gentil enquanto o pequeno ser batia suas asas débeis de contentamento.

"Onde está Matheus?" perguntou Briely, a ausência do corvo de Morpheus subitamente pesando em sua mente, como se sua presença pudesse oferecer algum tipo de conforto.

Morpheus voltou seu olhar para ela, um leve brilho de irritação cruzando seus olhos antes de se suavizar. "Matheus continua vigiando o vórtice no mundo desperto. Seu papel é indispensável, e ele não pode se permitir distrações, mesmo para algo como isto," respondeu ele, seu tom indicando que não havia espaço para mais perguntas sobre o assunto.

Briely assentiu, entendendo que certas coisas no reino de Morpheus estavam além de seu alcance, pelo menos por enquanto. Ele se inclinou para mais perto, sua voz baixando a um sussurro quase hipnótico. "Você deveria comer um pouco mais, minha esposa. A noite ainda guarda muitas horas, e você precisará de toda a sua força para o que está por vir."

Briely pegou outro pedaço de bolo, o sabor doce contrastando com a amargura de seus pensamentos. Enquanto mastigava lentamente, seus olhos vagavam pelo salão, observando os deuses e Perpétuos que se misturavam em uma dança de celebração e intriga. Cada sorriso, cada olhar, parecia carregar um significado escondido, um segredo que ela ainda não conseguia desvendar.

A festa continuava ao seu redor, uma sinfonia de vozes e risadas que ecoava como um sonho do qual ela não conseguia acordar. Ela sabia, no fundo de sua alma, que sua vida havia mudado irrevocavelmente, e que cada passo a partir dali seria um mergulho mais profundo no desconhecido abismo do Sonhar.

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A festa estava em pleno andamento, o som pulsante da música preenchendo o salão enquanto os convidados dançavam e riam, suas vozes misturando-se ao tilintar de taças.

Morpheus e Briely estavam sentados à mesa dos noivos, um ponto de destaque em meio à multidão. Ele mantinha uma mão firme no encosto da cadeira dela, um gesto quase imperceptível de posse, enquanto observavam a celebração ao redor. De repente, Poseidon emergiu da multidão, sua presença imponente calando murmúrios por onde passava, seus olhos fixos em Briely.

“Morpheus,” ele começou, a voz grave como o ronco de ondas distantes, “posso levar minha filha para dançar?”

Morpheus hesitou, os dedos se crispando levemente no encosto da cadeira. Seus olhos se estreitaram por um instante, mas ele acabou assentindo, um movimento curto e seco.

Briely, aliviada por qualquer pretexto para se afastar da mesa e do peso do olhar de Morpheus, levantou-se quase tropeçando na pressa. Poseidon ofereceu o braço, e ela o aceitou, sentindo a força bruta sob a manga do tecido enquanto se dirigiam à pista de dança. Seus passos ecoavam incertos contra o piso polido.

“Eu não sei dançar, pai,” Briely sussurrou, o nervosismo fazendo sua voz vacilar enquanto tentava acompanhar o ritmo.

“Não se preocupe, querida. Isso é só uma desculpa para tirá-la dali por um momento. Queria falar com você. Não tivemos tempo antes da cerimônia,” ele respondeu, guiando-a com uma mão firme na cintura, os movimentos fluidos como se a pista fosse água sob seus pés.

“Como você está se sentindo após a cerimônia?” perguntou, o tom suavizado por uma preocupação genuína, os olhos buscando os dela.

“Senti um calor estranho, como se algo queimasse por dentro, mas diminuiu um pouco agora,” ela confessou, baixando o olhar para os ornamentos reluzentes do traje dele, evitando o peso de sua atenção.

“Sinto muito, Briely. Não posso fazer nada por você nesse processo. Mas lembre-se, Atlântida está sempre de portas abertas. Se precisar de refúgio, estarei lá,” ele disse, a voz carregada de um pesar antigo, quase tangível.

“Obrigada, pai,” ela murmurou, assentindo devagar, enquanto um leve tremor percorria seus ombros.

Antes que pudesse dizer mais, Afrodite se aproximou, o ar ao seu redor parecendo brilhar com sua presença. Seus olhos faiscavam de curiosidade e algo mais profundo, quase insondável. “Briely, posso falar com você um instante?”

Poseidon inclinou a cabeça em permissão, soltando-a com um último aperto reconfortante no braço. Afrodite entrelaçou o seu no de Briely, o toque de sua pele quente como um raio de sol, e a levou até a mesa de doces, onde o aroma doce de mel e frutas cristalizadas impregnava o ar.

“Senti o laço entre você e Morpheus durante o jantar. Deveria ter dito algo, mas de que adiantaria? Ele faria o que quisesse de qualquer forma,” Afrodite falou, a voz baixa, mas cheia de uma sabedoria afiada, enquanto pegava uma pequena fruta cristalina, girando-a entre os dedos antes de devolvê-la ao prato.

“Você está preparada para essa noite?” perguntou, o tom agora mais suave, quase maternal, enquanto seus olhos penetrantes fixavam os de Briely.

Briely balançou a cabeça, um movimento rápido e inquieto, sentindo o estômago se contorcer com a pergunta. Seus dedos apertaram a borda da mesa de madeira polida.

“Após a noite de núpcias, você se tornará uma deusa, ao completar o ritual,” Afrodite explicou, inclinando-se um pouco mais perto, o perfume floral dela envolvendo Briely como uma brisa de primavera. “Não há volta. É a transformação final.”

Antes que Briely pudesse responder, Desejo surgiu ao seu lado, os olhos brilhando com uma malícia divertida, os lábios curvados num meio-sorriso provocador. “Posso falar com minha nova cunhada?” perguntou, a voz aveludada, mas com um corte sarcástico que fez os ombros de Briely enrijecerem.

Afrodite assentiu, afastando-se com um último olhar de alerta. Desejo aproximou-se, o calor de sua presença quase sufocante, e deslizou um pequeno frasco de vidro em sua mão, o líquido rosado dentro dele capturando a luz em tons hipnóticos.

“Beba isso antes das núpcias. Vai ajudá-la a… suportar,” sussurrou, o tom carregado de segundas intenções, os olhos reluzindo enquanto se inclinava para mais perto, o hálito quente roçando sua orelha.

“O que é isso?” Briely perguntou, os olhos arregalados enquanto segurava o frasco, o vidro frio contrastando com o calor de sua palma.

“Meu irmão sempre foi teimoso. E egoísta. Apenas cuide de si mesma,” ele retrucou, a voz baixa e carregada de algo que parecia ressentimento genuíno antes de se afastar, desaparecendo na multidão com um último olhar de cumplicidade.

Morpheus surgiu logo em seguida, sua presença como uma sombra densa que parecia sugar a luz ao redor. Seus olhos cravaram-se em Desejo por um instante antes de se voltarem para Briely. “O que ele disse a você?” perguntou, a voz firme, cada palavra afiada como uma lâmina.

“Nada de mais,” ela respondeu, deslizando o frasco para dentro de uma dobra do vestido com um movimento rápido, o coração disparado sob o peso daquele olhar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Morpheus a pegou pelo braço com uma firmeza sutil, mas inquestionável, levando-a de volta à mesa dos noivos. Eles se sentaram novamente, e ele retomou a conversa em um tom mais baixo, tentando acalmá-la, os dedos ocasionalmente roçando os dela sobre a mesa. Mas, com o passar do tempo, Briely sentiu o calor estranho retornar, subindo como uma chama lenta por seu peito.

Ela ofegou baixinho, tentando disfarçar, o rosto virando para o lado enquanto uma gota de suor deslizava por sua testa. Morpheus, sempre atento, notou imediatamente.

“Você está bem?” perguntou, a voz suavizada por uma preocupação que não mascarava a intensidade de seus olhos escuros.

Briely assentiu, mas seu rosto estava tenso, os lábios apertados enquanto respirava fundo, tentando controlar a sensação de queimação que parecia pulsar sob sua pele.

“Beba um pouco de água,” ele sugeriu, empurrando uma taça de cristal em sua direção, o líquido dentro reluzindo sob as luzes do salão.

Ela bebeu, o gosto fresco aliviando por um instante, mas o calor persistiu, rastejando por seu corpo como uma corrente invisível.

Seus dedos tremeram ao devolver a taça à mesa, o som do vidro contra a madeira soando mais alto do que deveria em seus ouvidos.

Morpheus inclinou-se para frente, os olhos fixos nos dela, uma determinação sombria em sua expressão. “Está na hora,” disse, a voz baixa, mas carregada de uma certeza inabalável.

Ele fez um gesto sutil para Luciene, que se aproximou com passos rápidos e precisos, o vestido escuro ondulando atrás dela. “Cuide dos convidados. Vamos nos ausentar,” instruiu, o tom suave, mas carregado de autoridade, enquanto se levantava.

“Claro, Mestre,” ela respondeu com uma reverência breve antes de voltar sua atenção para o salão, já começando a organizar os convidados com um sorriso polido.

Morpheus pegou a mão de Briely, os dedos dele firmes ao redor dos dela, e com um sussurro quase inaudível de energia, eles se teletransportaram para o quarto.

O ar ao redor deles pareceu vibrar por um instante, deixando para trás apenas alguns grãos de areia que brilharam brevemente no chão do salão antes de desaparecerem.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

No quarto, a luz suave de velas lançava sombras dançantes pelas paredes, o ar pesado com o cheiro de cera derretida e algo mais primal. Briely colocou a mão sobre o estômago, sentindo o calor crescer como um incêndio contido.

“O que está acontecendo comigo?” perguntou, a voz trêmula, os olhos buscando os dele em busca de respostas.

Morpheus aproximou-se, os passos silenciosos no chão de pedra polida, os olhos fixos nos dela com uma intensidade que parecia atravessá-la.

“É o ritual, esposa. Você está se unindo a mim, se transformando em uma deusa. Esse calor… é parte do processo,” explicou, a voz suave, mas carregada de uma certeza implacável.

Briely sentiu um arrepio descer por sua espinha, o medo e a incerteza misturando-se ao calor que crescia dentro dela. Respirou fundo, tentando se ancorar, mas sabia que não havia escapatória do destino que Morpheus havia traçado.

O ar parecia mais denso, cada inspiração trazendo uma nova onda de sensação que ela mal compreendia.

Ela respirou fundo novamente, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto o calor se intensificava.

Morpheus a guiou até a cama, os lençóis de seda escura contrastando com a palidez de sua pele. Mas antes que ele pudesse deitá-la, ela o interrompeu, a voz frágil.

“Espera, eu preciso ir ao banheiro antes,” pediu, os olhos desviando dos dele, as mãos apertando o tecido do vestido com nervosismo.

Morpheus hesitou, uma sombra de impaciência cruzando seu rosto, os lábios se apertando por um instante. Mas ele assentiu, um movimento curto, quase relutante. Briely correu para o banheiro, fechando a porta com um clique suave atrás de si.

Encostou-se na pia de mármore frio, encarando seu reflexo no espelho. Suas bochechas estavam ruborizadas, gotas de suor brilhavam em sua testa, e os olhos pareciam mais selvagens, quase irreconhecíveis. Com mãos trêmulas, pegou o frasco que Desejo lhe dera, o vidro escorregando um pouco em sua palma úmida.

Abriu a tampa e bebeu o líquido doce, um sabor que lembrava frutas maduras e algo proibido. Segundos depois, o calor voltou com uma força avassaladora, sua pele ardendo como se tocada por chamas invisíveis, as bochechas ficando ainda mais rubras.

Seus sentidos pareciam amplificados, cada som e toque ecoando em seu corpo. Ela percebeu, tarde demais, que era um afrodisíaco, e o desejo pulsava dentro dela, misturando-se ao medo.

Morpheus bateu na porta, o som seco reverberando no pequeno espaço. “Você está bem?” perguntou, a paciência desgastando-se na borda de sua voz.

“Sim, sim, estou bem,” ela respondeu rapidamente, a voz um pouco mais alta do que pretendia. Jogou o frasco vazio na lixeira com um movimento trêmulo e abriu a porta, tentando esconder o tremor em seus joelhos.

ele a encarou por um longo momento, notando o rubor intenso em seu rosto e o brilho de suor em sua pele. Sem dizer uma palavra, pegou-a no colo com facilidade, os braços fortes envolvendo-a como se ela não pesasse nada.

Levou-a de volta à cama, deitando-a sobre os lençóis com uma gentileza que contrastava com a intensidade de seus olhos. Inclinou-se sobre ela, capturando seus lábios num beijo profundo, possessivo, a língua explorando-a com uma ânsia que a fez ofegar.

Suas mãos deslizaram por seu corpo, traçando cada curva com uma precisão quase reverente, mas carregada de desejo bruto. Briely gemeu baixo, o calor dentro dela explodindo em resposta ao toque, amplificado pelo afrodisíaco que corria em suas veias.

“Você é minha, esposa. Vou te provar isso,” ele sussurrou, a voz sombria, quase um rosnado enquanto os lábios roçavam sua orelha, o hálito quente enviando arrepios por sua espinha.

Com movimentos deliberados, começou a tirar o vestido dela, o tecido caro deslizando por sua pele como água, revelando a lingerie preta que abraçava suas curvas. Ele a removeu com uma lentidão torturante, os dedos roçando a pele sensível enquanto sutiã e calcinha caíam no chão.

Depois, desfez-se das próprias roupas, o tecido caindo com um som abafado, expondo o corpo esculpido, a pele marcada por linhas de força pura. Seus olhos nunca deixaram os dela, um predador fixado em sua presa.

Ajoelhou-se entre suas pernas, os dedos deslizando por sua intimidade, explorando a umidade que já a traía. Inclinou-se para beijá-la novamente, a boca devorando a dela enquanto os dedos brincavam, preparando-a, cada movimento arrancando suspiros dela.

Os lençóis se amassaram sob suas mãos enquanto ela os agarrava com força, o corpo arqueando em resposta.

“Vou te provar agora, esposa,” murmurou, a voz grave, quase ritualística, antes de descer, a boca substituindo os dedos. Ele a explorou com a língua, sugando e lambendo com uma intensidade que a fez gemer mais alto, as pernas tremendo enquanto o prazer a atravessava como relâmpagos.

Ele continuou, implacável, até que ela estivesse à beira do colapso, os sons que escapavam de seus lábios ecoando no quarto silencioso.

Virou-a de costas com facilidade, as mãos traçando as curvas de suas nádegas e subindo pelas costas, os dedos firmes deixando marcas leves na pele sensível. Posicionou-a com as pernas sobre seus ombros, os olhos cravados nos dela enquanto a penetrava lentamente, permitindo que ela sentisse cada centímetro.

Começou a se mover, os quadris batendo contra os dela num ritmo que começou gentil, mas logo se transformou em algo feroz, implacável. Briely gritou seu nome, os sons abafados contra o travesseiro enquanto ele a beijava com uma fome voraz, as mãos explorando cada pedaço de pele que podia alcançar.

“Vou gozar,” ele rosnou, a voz rouca e carregada de tensão, e então o fez, o calor de sua liberação enchendo-a enquanto ela se contorcia sob ele.

Briely, ofegante, recuperou um fragmento de lucidez, a mente lutando contra o torpor do desejo. “Não… por favor, não…” implorou, a voz fraca, quase um sussurro, mas Morpheus ignorou, os olhos escurecidos por algo além de simples desejo.

Ele continuou, os movimentos firmes, o corpo dominando o dela enquanto a beijava com uma intensidade que apagava qualquer pensamento de resistência. Sentiu-o gozar novamente, o calor a preenchendo mais uma vez, e sua mente girou, perdida entre prazer e desespero.

Ele a reposicionou de quatro, as mãos firmes em seus quadris enquanto a penetrava por trás, cada estocada arrancando gemidos que ela não conseguia mais conter. A boca dele encontrava a dela em beijos ferozes, os dentes roçando seu lábio inferior enquanto continuava, o ritmo implacável.

As horas se arrastaram, e ele a tomou em posições que a faziam sentir cada músculo de seu corpo tensionar e ceder, o afrodisíaco amplificando cada toque até que o prazer beirasse a dor.

Exausta, Briely desmaiou em seus braços, a respiração ofegante, o corpo pesado como chumbo. •°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°• Quando acordou, horas mais tarde, encontrou-se aninhada contra o peito dele, os braços fortes envolvendo-a de forma quase protetora. Moveu-se levemente, sentindo a rigidez em seus músculos, e ele notou imediatamente, os olhos se abrindo para encontrá-la.

“Bom dia, esposa,” disse, a voz ainda rouca do sono, antes de depositar um beijo suave em sua testa, um contraste gritante com a intensidade da noite anterior.

“O que aconteceu?” perguntou ela, a voz frágil, tentando organizar os fragmentos em sua mente enquanto um latejar persistia em seu corpo.

“O ritual foi concluído,” ele respondeu, o tom firme, quase solene. “Estamos completamente ligados agora. Você não é mais humana, Briely. Seu corpo é o de uma deusa.”

Briely olhou para as próprias mãos, notando como a pele parecia brilhar suavemente, como se banhada por luz interna. Uma força nova corria por suas veias, algo poderoso e desconhecido. Ergueu os olhos para Morpheus, a confusão misturada a um respeito relutante. “O que isso significa?”

“Significa que estamos ligados para sempre, minha esposa,” ele respondeu, os olhos fixos nos dela, a voz carregada de uma posse que não deixava espaço para dúvidas.

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Após a confirmação de Morpheus, a realidade caiu sobre Briely como uma onda fria. Ela percebeu que nunca mais voltaria para casa, nunca mais veria sua mãe, seu irmão gêmeo Percy, nem Grover, nem mesmo seu pai verdadeiro. Nico, seu melhor amigo, e os rostos familiares do Acampamento Meio-Sangue também estavam agora além do seu alcance. As lágrimas brotaram sem controle, escorrendo por seu rosto em trilhas quentes e salgadas, manchando a pele ainda sensível da noite anterior.

“Eu nunca mais vou ver minha família, meus amigos,” ela soluçou, a voz rasgada, quase sufocada pelo peso da dor. “Eu nunca quis ser uma deusa, nem mesmo no meu universo original. Eu nunca quis isso.”

Morpheus a envolveu em seus braços, a força de seu aperto contrastando com a suavidade de seus gestos. Seus dedos roçaram a base de sua nuca enquanto ele a puxava contra o peito, o calor de seu corpo um escudo contra o vazio que a consumia. Ele depositou beijos leves em sua testa, cada toque uma tentativa de apaziguar a tempestade dentro dela.

“Você é minha esposa agora,” ele sussurrou, a voz firme como rocha, mas com um traço de calor. “E eu vou cuidar de você. Você nunca mais estará sozinha.”

Briely se agarrou a ele, os dedos crispados no tecido de sua roupa, como se pudesse ancorar-se a algo sólido em meio ao turbilhão de confusão e perda. “Eu não quero isso,” murmurou, a voz trêmula, quase inaudível contra o peito dele. “Eu não quero ser uma deusa. Eu não quero estar aqui.”

Morpheus inclinou o rosto dela para si com um toque delicado no queixo, seus olhos escuros capturando os dela antes que seus lábios se encontrassem num beijo profundo, quase sufocante. Suas mãos deslizaram por suas costas, traçando linhas de posse e proteção enquanto a segurava mais perto.

“Você é minha, Briely,” disse, a voz sombria, carregada de uma intensidade que parecia reverberar no ar. “E eu vou te proteger, te amar, e te fazer feliz. Você nunca mais estará sozinha. Eu prometo.”

Briely chorou até que suas lágrimas se esgotassem, o corpo tremendo de exaustão enquanto os soluços diminuíram. Finalmente, ela se acalmou nos braços dele, o peso da realidade se assentando em seu peito como uma pedra. Sabia que sua vida havia mudado para sempre e que nunca mais seria a mesma.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após ela se acalmar, Morpheus a levou para tomar banho. Ele a guiou até uma banheira ampla, a água já preparada, vapor subindo em espirais delicadas, carregando um leve aroma de ervas. Ele a ajudou a entrar primeiro, depois se acomodou atrás dela, a água ondulando suavemente ao redor deles. O silêncio entre os dois era confortável, mas denso, preenchido apenas pelo som ocasional de gotas caindo na superfície. Morpheus a abraçou por trás, os braços envolvendo-a com firmeza, o peito pressionado contra suas costas enquanto repousava o queixo na curva de seu pescoço, o hálito quente roçando sua pele.

Briely não disse nada, os olhos fixos na água, o reflexo distorcido de seu rosto encarando-a de volta, perdido e vazio. De repente, um impulso a fez erguer a mão, os dedos tremendo levemente enquanto uma gota de água se elevava, flutuando no ar como uma joia translúcida. Ela a observou por um momento, depois a deixou cair de volta na banheira, o pequeno impacto criando ondulações mínimas. Um leve sorriso curvou seus lábios, uma fagulha de alegria ao perceber que seus poderes ainda funcionavam, um fragmento de quem ela costumava ser.

“Temos o dia pra passarmos juntos,” Morpheus disse, a voz suave, mas com um tom que parecia ancorar o momento. “Já se passou um dia do nosso casamento.”

Briely se assustou ligeiramente, os olhos arregalando-se enquanto virava a cabeça para ele, a água movendo-se ao redor dela. Não tinha noção de que tanto tempo havia passado, o peso das últimas horas borrando sua percepção.

“Passamos a noite do casamento e o próximo dia na noite de núpcias,” ele explicou, os olhos fixos nos dela, um brilho de intensidade atravessando o olhar sombrio.

Ele então perguntou, a voz ganhando um tom mais sério, “O que era aquele frasco que você usou no banheiro?”

Briely congelou por um instante, os ombros enrijecendo enquanto tentava se fazer de desentendida, desviando o olhar para a borda da banheira. Mas Morpheus não cedeu, inclinando-se ligeiramente para frente, o rosto mais perto do dela. “Eu sei que você tomou o conteúdo,” disse, a voz agora assustadoramente calma, mas com uma borda cortante. “E notei que era um afrodisíaco bastante potente. Quem te deu?”

Briely engoliu em seco, o medo apertando seu peito enquanto os olhos dele pareciam perfurá-la. “Foi o seu irmão, Desejo, que me deu. Eu não sabia o que era até beber,” confessou, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto suas mãos se apertavam debaixo da água.

Morpheus a encarou, a fúria reluzindo em seus olhos como uma tempestade contida, os músculos da mandíbula se tensionando por um instante. “E você bebeu sem saber o que era,” ele disse, a voz firme, cada palavra carregada de repreensão.

“Não faça mais isso,” ordenou, o tom sombrio, quase um trovão baixo. “Isso foi perigoso. Eu não quero que você tome nada que não saiba o que é. Eu não quero que você se machuque.”

Briely assentiu, o peso da culpa apertando seu peito enquanto baixava os olhos, a água refletindo o tremor leve de suas mãos. “Eu não sabia, Morpheus. Eu sinto muito,” murmurou, a voz frágil.

Ele a abraçou novamente, puxando-a contra si, o calor de seu corpo contrastando com o frescor da água. “Tudo bem, esposa. Estou aqui para protegê-la,” disse, a voz suavizada, mas ainda firme. “Agora, vamos aproveitar o nosso dia juntos.”

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após o banho, Morpheus a levou para dar uma volta no Sonhar. Ele a guiava por caminhos sinuosos, os pés descalços de Briely roçando contra o solo macio, enquanto jardins exuberantes se abriam ao redor deles como visões de um sonho eterno. Seus braços a envolviam de forma protetora, um dos ombros dela encostado ao peito dele enquanto caminhavam. O dia estava quente, mas uma brisa fresca acariciava a pele, trazendo consigo o aroma doce de flores silvestres e grama recém-cortada. Pássaros cantavam ao longe, suas melodias misturando-se ao farfalhar das folhas, enquanto borboletas dançavam no ar, asas coloridas capturando raios de luz.

“Tem um presente para você,” Morpheus disse, a voz suave, carregada de um mistério que fez Briely erguer os olhos para ele por um instante. “Algo que eu acho que você vai gostar. Vou dar a você mais tarde.”

No caminho, eles encontraram alguns residentes do Sonhar, figuras etéreas que se curvavam com respeito, os olhos brilhando de curiosidade enquanto desejavam parabéns novamente. Morpheus os agradeceu com um aceno firme, o tom educado, mas distante, antes de continuar a jornada. Briely ofereceu um sorriso polido, os lábios curvando-se sem calor, o coração pesado como se estivesse apenas desempenhando um papel. Sentia-se como uma boneca, movida de um lado para o outro, sem controle sobre os próprios passos.

Eles passaram o dia explorando cada recanto do Sonhar, com Morpheus mostrando a Briely lugares de beleza indescritível. Ele a levou a jardins secretos onde flores brilhavam como estrelas, a fontes de águas cristalinas que cantavam melodias suaves, a florestas densas onde a luz mal penetrava entre as copas, e a montanhas altas de onde o horizonte parecia se estender ao infinito. Briely se impressionou com a beleza do lugar, os olhos arregalando-se com cada nova visão, mas a inquietação permanecia, um vazio que a magnificência ao redor não preenchia. Sentia-se como um objeto, algo para ser possuído e exibido.

Depois de um tempo, ele a conduziu até uma sala escondida. Ao entrarem, Briely prendeu o fôlego ao ver um jardim particular, um oásis de paz que parecia pulsar com vida própria. Flores coloridas explodiam em tons vibrantes ao redor de um pequeno lago de águas cristalinas, o reflexo da luz do sol dançando na superfície como diamantes líquidos. Árvores frutíferas inclinavam-se suavemente, carregadas de frutos maduros, o aroma doce impregnando o ar.

“O que é isso?” perguntou ela, a voz suave, mas sem o entusiasmo que o lugar talvez merecesse, o olhar percorrendo o espaço com uma curiosidade distante.

“É um presente meu para você, minha esposa,” Morpheus respondeu, os olhos fixos nos dela, um brilho de orgulho em sua expressão. “Um lugar só seu, onde você pode relaxar e se conectar com a natureza. Espero que goste.”

Briely o encarou, os olhos cheios de uma admiração forçada, mas sem amor verdadeiro. “É lindo,” disse, a voz suave, quase mecânica, enquanto seus dedos roçavam distraidamente a borda de uma folha próxima. Sentia-se como se estivesse atuando, pronunciando palavras esperadas, mas sem senti-las.

“Chame-me de marido ou esposo de agora em diante,” Morpheus disse, a voz firme, mas sem a gentileza que talvez ela esperasse, os olhos fixos nos dela exigindo conformidade.

Briely hesitou, o coração apertando enquanto as palavras pairavam no ar. “Obrigada, marido,” pronunciou finalmente, o termo estranho em sua língua, carregado de um desconforto que não conseguia esconder. Sentia-se forçada a aceitar algo que rejeitava por dentro.

Morpheus a beijou profundamente, os braços a envolvendo com uma força que parecia tanto proteger quanto possuir. Seus lábios eram quentes, insistentes, enquanto suas mãos pressionavam suas costas, trazendo-a para mais perto. “Você é minha esposa agora, Briely. E eu vou cuidar de você, protegê-la, e amá-la para sempre,” disse, a voz grave, ecoando como um juramento irrevogável.

Briely se lembrou, com um peso no peito, que, querendo ou não, ele era agora seu marido. Sabia que sua vida havia mudado para sempre, mas não conseguia enxergar isso como algo positivo.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após a visita ao jardim, Morpheus a levou para a sala do trono. O salão era grandioso, com paredes altas de pedra esculpida e colunas imponentes que pareciam sustentar o próprio céu. O teto era adornado com pinturas intricadas de cenas antigas, representando histórias de poder e dominação, os pigmentos ainda vivos sob a luz tremulante das tochas.

O chão de mármore polido refletia cada chama, criando um brilho quase sobrenatural que ecoava com cada passo deles. Briely olhou para o centro da sala e viu um segundo trono ao lado do dele, esculpido com detalhes tão intrincados quanto o primeiro, mas com um ar de novidade, como se tivesse sido feito apenas para ela.

“Este trono é para você, minha esposa,” Morpheus disse, a voz suave, mas carregada de uma firmeza inabalável. “Você é a rainha do Sonhar agora, e merece um trono digno de sua posição.”

Briely assentiu, um movimento pequeno e hesitante, o desconforto apertando seu peito enquanto tentava esconder a inquietação. Sentia os olhos dele sobre ela, avaliando cada reação. Eles se sentaram nos degraus que levavam aos tronos, Morpheus puxando-a para seu colo com facilidade. Ela repousou a cabeça contra o peito dele, o calor de seu corpo e o som constante de sua respiração quase hipnóticos.

Ele pegou um livro antigo de uma mesa próxima, o couro gasto exalando um cheiro de tempo e poeira, e começou a ler para ela uma história de um reino antigo, de um rei poderoso e uma rainha sábia que governavam com justiça e amor. Sua voz era suave, mas carregada de uma cadência que parecia envolver os sentidos, transportando Briely para outro tempo e lugar.

“Como vai a situação do vórtice?” ela perguntou após um tempo, a voz baixa, mas tingida de curiosidade. Não conseguia evitar pensar no mundo exterior, no que acontecia enquanto estava confinada no Sonhar, um desejo latente de reconectar-se com algo além daquele reino.

“Não se preocupe com isso, minha esposa,” Morpheus respondeu, a voz firme, cortando qualquer tentativa de aprofundar o assunto. “Eu cuidarei de tudo. Matheus está vigiando no mundo desperto. Você não precisa se preocupar com nada.”

Briely baixou os olhos para as mãos em seu colo, os dedos entrelaçando-se inquietos. O peso de sua nova realidade parecia crescer a cada palavra dele, um lembrete constante de que seu mundo, agora, era aquele, e apenas aquele.

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O ar no Sonhar parecia carregado com um peso silencioso enquanto Matthew, o corvo leal de Morpheus, retornava do mundo desperto. Suas asas cortaram o céu onírico antes de ele pousar na entrada da sala do trono, os olhos afiados percorrendo o ambiente com uma mistura de curiosidade e desconforto.

Ele percebeu a presença de Briely imediatamente, sentada ao lado de Morpheus nos degraus que levavam aos tronos. Algo parecia... diferente. O ar entre os dois era mais íntimo, mais carregado de uma conexão que ele não conseguia ignorar.

Matthew inclinou a cabeça, um grasnido baixo escapando enquanto ele se aproximava, pousando em uma das colunas próximas. “Mestre Morpheus, voltei do mundo desperto. O vórtice, Rose Walker, está causando ondulações, como esperado.” Sua voz áspera ecoou no salão, mas seus olhos não saíram de Briely.

Ele a conhecia bem o suficiente para saber que algo estava errado. Ela sempre vira Morpheus como um amigo, um guia, nada mais. E ele, por sua vez, sempre suspeitara do interesse de Morpheus por ela, mas nunca a ponto de... isso.

Lucienne, parada perto de uma estante com um tomo nas mãos, lançou um olhar cortante para Matthew. Seus olhos diziam tudo: não insista. O corvo percebeu o peso daquele olhar, suas penas se eriçando por um momento antes de ele abaixar a cabeça. “E... parabéns pelo casamento, Mestre. E a você, Briely,” disse, a voz tingida de surpresa, mas com um tom contido. Ele não insistiu, não perguntou mais nada. O olhar de Lucienne o calou, e ele permaneceu em silêncio, apenas observando.

Morpheus não respondeu, apenas inclinou a cabeça de leve em reconhecimento, enquanto Briely ofereceu um sorriso fraco, quase forçado, sem dizer uma palavra. O desconforto de Matthew era palpável, mas ele sabia que não era seu lugar questionar. Não agora.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

na sala do trono do palácio, Morpheus e Lucienne discutiam os eventos recentes. Briely estava presente, mas um pouco afastada, os olhos distantes enquanto ouvia a conversa.

“Jed Walker ainda está no reino dos vivos, mas não consigo encontrá-lo,” disse Morpheus, sua voz grave ecoando no salão. Seus olhos escuros pareciam perscrutar algo além do que estava diante dele, como se tentasse tocar o próprio tecido dos sonhos.

“Nem eu, meu senhor,” respondeu Lucienne, ajustando os óculos com um movimento preciso. “Todos os humanos estão conectados ao Sonhar. Eles passam um terço de suas vidas aqui. Romper essa conexão exigiria conhecimento. E poder.”

Briely franziu o cenho, sua curiosidade despertando mesmo que sua mente estivesse em outro lugar. “Como isso é possível?” perguntou, a voz suave, quase hesitante, enquanto brincava com o colar que Morpheus lhe dera, os dedos traçando as bordas delicadamente.

Lucienne virou-se para ela, o rosto sério. “Talvez lhe interesse saber que o último pesadelo que Jed Walker teve antes de desaparecer foi com Gault.”

Morpheus cerrou o maxilar, uma sombra de irritação passando por seus olhos. “Você acha que ela o separou do Sonhar?”

“Eu faço,” confirmou Lucienne, a voz firme. “Porque ele não é uma criança qualquer, não é? Ele é irmão de Rose Walker. Ela é o vórtice.”

Briely sentiu um arrepio subir por sua espinha, mas não disse mais nada. Seus pensamentos começaram a vagar novamente, fixando-se em sua mãe, em Percy, seu irmão gêmeo. A saudade apertava seu peito como uma garra invisível. Ela mal percebeu que Morpheus a segurava pela cintura, o braço firme ao seu redor enquanto ele continuava a ouvir Lucienne.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A sala do trono estava imersa em uma quietude tensa enquanto Lucienne relatava mais detalhes sobre Jed Walker. Morpheus e Briely estavam sentados nos degraus, o braço dele ainda ao redor dela, um gesto de posse e proteção que parecia natural para ele. Briely, no entanto, estava perdida em seus pensamentos, os dedos girando o colar em seu pescoço enquanto imagens de sua antiga vida dançavam em sua mente. Ela quase não ouvia as palavras de Lucienne, até que a atmosfera do salão mudou abruptamente.

Uma presença nova e inesperada invadiu o espaço, uma energia vibrante e descontrolada. Rose Walker. Briely ergueu os olhos, surpresa, enquanto a jovem se materializava diante deles, os olhos arregalados de confusão e determinação.

Rose olhou ao redor, claramente desorientada, antes de focar em Morpheus. Mas, por um breve momento, seu olhar recaiu sobre Briely. Ela notou a melancolia em seus olhos, uma tristeza profunda que parecia contrastar com sua beleza etérea.

Havia algo de cativante naquela mulher, algo que a fazia parecer deslocada, quase como se não pertencesse inteiramente àquele lugar. Rose não sabia quem ela era, mas sentiu um estranho eco de empatia antes de desviar o olhar para Morpheus.

Morpheus, por sua vez, percebeu o olhar de Rose sobre sua esposa. Seus olhos escureceram por um instante, e ele apertou levemente o braço ao redor dela antes de se levantar, sua presença imponente preenchendo o salão. Ele se dirigiu a Rose com uma voz firme, carregada de autoridade.

“Você é bem-vinda aqui, Rose Walker.”

Rose franziu o cenho, ainda confusa. “Quem é você?”

“De alguma forma, você conseguiu uma audiência com Lorde Morpheus, o Rei dos Sonhos,” respondeu Lucienne, sua voz cortante como sempre.

Rose olhou ao redor, tentando absorver tudo. “Que lugar é esse?”

“Você está no Sonhar, o lugar para onde as pessoas vêm quando dormem,” explicou Morpheus, seus olhos fixos nela, analisando cada reação.

“Então, estou dormindo agora? Estou sonhando?” perguntou Rose, a voz tingida de incredulidade.

“Sim, e eu gostaria de saber como você me encontrou,” disse Morpheus, o tom carregado de curiosidade e uma ponta de suspeita.

Rose hesitou por um momento, antes de sua determinação voltar. “Ouvi você falando do meu irmão. Ele está aqui?”

“Não,” respondeu Morpheus, sem rodeios.

“Você sabe onde ele está?” insistiu ela.

“Não. Mas acho que ele pode estar com um dos meus Pesadelos desaparecidos.”

Rose franziu o cenho. “Ela é um pesadelo?” perguntou, apontando para Briely, a confusão clara em sua voz.

Morpheus voltou-se para Briely por um instante, seu olhar suavizando de leve antes de retornar a Rose. “Não. Esta é Briely, minha esposa.” Ele não ofereceu mais explicações, seu tom final indicando que o assunto estava encerrado.

Rose assentiu devagar, ainda intrigada, mas não insistiu. Seus olhos voltaram para Morpheus. “O que ela iria querer com Jed?”

“Não sei,” admitiu Morpheus. “Mas tenho a sensação de que tem algo a ver com você.”

“Eu? Por quê? O que eu fiz?” perguntou Rose, a voz carregada de frustração e medo.

“Não é o que você fez. É o que você é,” respondeu Morpheus, enigmático como sempre.

“Desculpe. Não entendo nada disso,” confessou Rose, os ombros caindo levemente.

“Não. Os vórtices dos sonhos são em grande parte incompreensíveis,” disse Morpheus, a voz calma, mas com um peso subjacente.

“O que é um vórtice de sonho?” perguntou ela, desesperada por respostas.

“Você é. Veja bem, uma vez a cada poucos milhares de anos, um mortal nasce com uma capacidade de sonhar tão poderosa que ele pode viajar através dos sonhos dos outros. Aparentemente, todo o caminho até a minha sala do trono.”

Rose balançou a cabeça, incrédula. “Eu só estava procurando meu irmão.”

“Se você puder me encontrar no Sonhar, você poderá encontrar seu irmão. Não importa onde Gault o escondeu,” disse Morpheus, o tom carregado de uma promessa sombria.

“Como? Como faço isso?” perguntou Rose, a voz quase um sussurro.

“Por enquanto, continue procurando seu irmão no mundo desperto. Matthew cuidará de você lá,” respondeu ele, acenando para o corvo, que inclinou a cabeça em reconhecimento.

“Ao seu dispor, Rose,” grasnou Matthew.

“Quando ele está com você, eu estou com você,” continuou Morpheus. “Então, esta noite, quando você dormir, você e eu iremos juntos procurar Gault e seu irmão. Nos seus sonhos.”

Rose hesitou, os olhos voltando brevemente para Briely, ainda intrigada com a presença silenciosa e melancólica dela, antes de assentir para Morpheus. “Ela é apenas um pesadelo, certo? Ela não pode machucá-lo, pode?”

Morpheus não respondeu imediatamente, seus olhos escurecendo com um pensamento que ele não compartilhou. Briely, por sua vez, permaneceu calada, os dedos ainda brincando com o colar, sua mente distante, perdida em um mar de memórias e saudades que nem mesmo o Sonhar poderia apagar.

O ar na biblioteca do Sonhar parecia mais denso enquanto Morpheus folheava as páginas de um tomo antigo, sua presença imponente dominando o espaço.

Lucienne estava ao lado, ajustando os óculos enquanto discutia os detalhes sobre Rose Walker, e Briely permanecia um pouco afastada, tentando se ancorar na conversa, ainda que sua mente vagasse para lugares mais sombrios. Ela sentia o peso de sua nova realidade, o peso de uma decisão que não era exatamente sua, mas que agora precisava aceitar.

“É tudo o que temos sobre Rose Walker?” perguntou Morpheus, o tom grave enquanto virava uma página com um movimento quase impaciente. “E Jed Walker. Mas não creio que haja algo ali que você já não saiba. Exceto talvez—” Ele fez uma pausa, os olhos fixos em uma passagem, antes de levantar o olhar para Lucienne. “Exceto talvez pelo motivo de ela ter conseguido entrar na minha sala do trono. O que você acha? Por que Gault escolheu o irmão dela e não ela?”

Lucienne respondeu com sua habitual precisão. “É difícil dizer, meu senhor. Gault é um pesadelo, e suas ações frequentemente desafiam a lógica. Suspeito que ela viu algo em Jed, talvez uma vulnerabilidade que Rose não possui. Ou quis atingir Rose indiretamente, sabendo que a ligação entre irmãos é poderosa o suficiente para desestabilizá-la.”

Briely interveio, a voz hesitante enquanto tentava contribuir, mais para se distrair do que por convicção. “E se Gault soubesse que Rose é o vórtice? Não seria mais fácil manipular alguém próximo a ela, alguém que ela faria qualquer coisa para proteger?” Suas palavras carregavam uma empatia que vinha de sua própria dor, de tudo que havia perdido.

Morpheus voltou-se para ela, os olhos escurecendo com um misto de curiosidade e algo mais profundo, mais possessivo. “Possível,” disse ele, a voz suavizando ao se dirigir a ela. “Um vórtice é uma força imprevisível, mesmo para um pesadelo como Gault. Usar Jed como ferramenta seria uma estratégia... inteligente.” Ele pausou, antes de retornar ao tomo.

“Você leu sobre Unity Kincaid?”perguntou Lucienne. “meu senhor. No dia em que você foi preso, havia pessoas no mundo todo que dormiram e não conseguiram acordar. Unity Kincaid é a única sobrevivente do que eles chamam de ‘doença do sono’. No dia em que você voltou, ela acordou. Rose Walker é sua bisneta.”

Briely franziu o cenho, tentando acompanhar. “Então... Rose está ligada a isso? A tudo o que aconteceu enquanto você estava ausente?” perguntou, os olhos buscando os de Morpheus, procurando clareza, mas também uma distração de seus próprios pensamentos.

Ele a olhou por um momento, respondendo com um peso que parecia carregar séculos. “Parece sugerir que minha ausência causou o nascimento de um vórtice. Isso não é uma possibilidade?”

Lucienne balançou a cabeça. “Vórtices são fenômenos naturais, meu senhor. Ninguém sabe por que acontecem. Nem mesmo você. Mas sei que elas não são causadas ou criadas. Elas simplesmente acontecem.”

“Então tudo isso é uma coincidência?” retrucou Morpheus, a irritação sutil em sua voz. “E não uma ameaça iminente? Meu instinto diz que não, mas esta noite, quando Rose Walker dormir, verei com mais clareza.”

Briely sentiu um arrepio, mas seu foco não estava inteiramente na conversa. Dentro dela, uma batalha silenciosa se desenrolava. Ela sabia que não havia mais volta. Mesmo que houvesse um caminho para seu universo original, nada seria igual. Ela não era mais a mesma. Agora, uma deusa, ligada a Morpheus por algo que ia além de sua vontade. E, apesar de tudo — do modo como ele a havia forçado a se casar com ele, da violência de sua obsessão que a arrancara de sua antiga vida —, ela decidiu, relutantemente, aceitar. Não por amor, não por desejo, mas porque não havia outra escolha. Ninguém poderia ajudá-la agora. O Sonhar era sua prisão e seu lar, e lutar contra isso só a faria sofrer mais.

Ela se lembrava dos tempos em que via Morpheus como um amigo, antes de tudo se transformar. Pelo menos da parte dela, havia afeto genuíno, uma conexão que ela valorizava.

E ele, à sua maneira, sempre fora carinhoso — um carinho presente nos pequenos gestos, no modo como a protegia, mesmo que essa proteção agora viesse com correntes. Briely não o amava, não da forma como ele a amava, com uma intensidade que a sufocava. Mas tentava corresponder, por medo, sabendo que irritá-lo poderia trazer consequências que ela não estava disposta a enfrentar. Então, forçava um sorriso, mantinha a voz suave, tentando apaziguar a tempestade que sabia que ele podia ser.

Morpheus aproximou-se dela, percebendo o esforço em seus olhos, a maneira como ela tentava se encaixar no mundo dele. Um brilho de satisfação passou por seu rosto, uma felicidade contida, mas genuína, ao ver que ela começava a ceder, a aceitar seu lugar como sua esposa. Ele deu um passo mais perto, sua mão alcançando a dela, os dedos entrelaçando-se com uma firmeza que transmitia um desejo de conexão. “Eu vejo o quanto você está tentando,” murmurou ele, a voz grave, mas carregada de uma suavidade que era só para ela. “E isso me traz uma alegria que palavras não podem expressar.”

Briely abaixou os olhos, o coração apertado, mas forçando um pequeno sorriso. “Não há mais para onde ir,” disse ela, a voz baixa, quase tremendo. “Então, vou ficar. Aqui. Com você, marido.” As palavras saíram com dificuldade, mas ela as pronunciou, sabendo que precisava manter a paz, mesmo que fosse uma fachada.

Os olhos de Morpheus brilharam com uma intensidade que a fez prender a respiração. Ele ergueu a mão para tocar seu rosto, os dedos frios deslizando por sua bochecha com uma delicadeza que contrastava com sua natureza imponente. Sem dizer nada, ele inclinou-se, os lábios encontrando os dela em um beijo lento, profundo, cheio de uma emoção que ele raramente deixava transparecer.

Era um gesto de posse, mas também de alívio, como se o ato de tê-la ali, aceitando sua vida ao lado dele, fosse uma vitória que ele havia aguardado por eras. Ele se afastou apenas o suficiente para encará-la, os olhos fixos nos dela, e falou com uma intensidade que fez o ar parecer mais pesado. “Eu te amo mais do que tudo. Você é meu mundo.”

Briely sentiu o peito apertar, as palavras dele ecoando dentro dela como um peso que não sabia como carregar. Ela não retribuiu o sentimento, não da mesma forma, mas inclinou-se levemente, permitindo que ele a puxasse para um abraço. Os braços dele a envolveram com firmeza, um calor frio que era ao mesmo tempo protetor e sufocante. Ela descansou a cabeça contra o peito dele, forçando-se a relaxar no gesto, sabendo que precisava manter essa fachada, mesmo que seu coração permanecesse distante.

Lucienne desviou o olhar para os livros, dando-lhes um momento de privacidade. Morpheus, no entanto, não parecia se importar com a presença dela. Ele manteve Briely contra si, uma mão subindo para acariciar seus cabelos, o toque gentil, mas carregado de uma necessidade de reafirmar que ela estava ali, com ele. “Você não está sozinha,” murmurou ele, a voz quase um sussurro contra o topo de sua cabeça. “Nunca mais estará.”

Briely engoliu em seco, sentindo o peso dessas palavras. Ela não respondeu, apenas permaneceu ali, no abraço dele, tentando se ancorar naquela nova realidade que, por mais que doesse, era agora tudo o que ela tinha.

Chapter Text

O ar na biblioteca do Sonhar parecia se dissipar lentamente enquanto Morpheus fechava o tomo antigo com um gesto deliberado, os olhos ainda fixos em um ponto invisível, como se pudesse enxergar além das paredes de seu reino.

Briely permanecia perto, sentindo o peso de sua nova realidade, o silêncio entre eles carregado de uma tensão que ela tentava ignorar. Lucienne, percebendo a mudança no ar, inclinou a cabeça respeitosamente antes de se retirar, deixando o casal sozinho.

Morpheus voltou-se para Briely, os olhos escurecendo com uma intensidade que parecia sugar a luz ao redor. Ele se aproximou, cada passo ecoando no vasto salão como um lembrete de sua autoridade, de seu domínio sobre tudo ali — sobretudo sobre ela. “Esta noite, quando Rose Walker dormir, entrarei em seu sonho para encontrar Gault,” disse ele, a voz grave, quase um murmúrio, mas carregada de uma certeza absoluta. “E você virá comigo esposa.”

Briely ergueu os olhos para ele, um tremor sutil percorrendo seu corpo. “Eu... não sei se sou útil nisso,” começou ela, hesitante, a voz baixa, temendo desencadear uma reação que não poderia prever.

Mas antes que pudesse continuar, a mão de Morpheus se ergueu, tocando seu queixo com uma firmeza que não deixava espaço para recusa. Ele inclinou o rosto dela para encará-lo, os olhos dele perfurando os dela como se pudessem ver cada pensamento que ela tentava esconder.

“Você é minha esposa,” falou ele, cada palavra impregnada de uma reivindicação absoluta, um tom profundo que parecia ecoar nas paredes do Sonhar. “Aonde eu for, você estará ao meu lado. Não permitirei que nada nos separe. Nem mesmo suas dúvidas.” Havia uma devoção intensa em suas palavras, uma necessidade de tê-la perto que a envolvia como uma sombra, mas também um compromisso inabalável de mantê-la sob sua guarda.

Briely engoliu em seco, sentindo o coração acelerar, mas forçou um leve aceno de cabeça, sabendo que resistir só tornaria as coisas mais difíceis. “Está bem,” murmurou ela, os olhos baixando para evitar o peso do olhar dele. “Eu irei.”

Um brilho de satisfação passou pelo rosto de Morpheus, e ele soltou o queixo dela, mas não antes de deslizar os dedos por sua bochecha, um gesto que misturava ternura e controle. “Ótimo,” disse ele, a voz suavizando apenas o suficiente para soar como um elogio, mas ainda carregada de determinação. Ele deu um passo para trás, mas manteve os olhos nela, “Prepare-se. Quando a noite cair no mundo dos humanos, partiremos.”

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Horas depois, quando o mundo desperto cedeu ao domínio dos sonhos, Morpheus e Briely se encontraram na vasta paisagem onírica que se formava ao redor deles.

O céu acima era um caos de cores impossíveis, e o chão sob seus pés parecia mudar a cada passo — ora um campo vasto, ora uma rua esquecida de uma cidade distante. Rose Walker estava ali, em algum lugar, sonhando, e com ela, a promessa de Gault.

Briely caminhava ao lado de Morpheus, sentindo o peso de sua presença como uma corrente invisível. Ele não a deixava se afastar mais do que um braço de distância, a mão ocasionalmente roçando a dela, como se precisasse reafirmar que ela estava ali, sob sua constante vigilância. “Fique perto,” ordenou ele, os olhos varrendo o ambiente com uma intensidade predatória. “Este sonho pode ser instável.
Um vórtice não é algo para se subestimar. Se algo ameaçar você...” Ele parou, a voz cortando como uma lâmina, antes de continuar em um tom mais baixo, mais íntimo. “Não deixarei nada chegar perto. Nenhuma sombra ou perigo cruzará seu caminho enquanto eu estiver aqui.”

Ela assentiu, sentindo o coração apertado, mas forçou a voz a soar firme. “Estou bem. Eu... só quero ajudar.” Era uma meia-verdade, dita mais para apaziguá-lo do que por convicção. Morpheus a encarou por um longo momento, como se pudesse ler a hesitação em seus olhos, mas então desviou o olhar, focando na paisagem à frente.

De repente, uma figura familiar emergiu do nevoeiro do sonho. Rose Walker estava ali, sua expressão uma mistura de confusão e determinação. Morpheus avançou, e Briely o seguiu, o corpo tenso sob o olhar vigilante dele.

“Ela está perdida?” perguntou Rose, a voz carregada de preocupação enquanto olhava a menina e olhando ao redor, tentando se ancorar naquele mundo estranho.

Morpheus respondeu com sua calma habitual, mas havia uma frieza em sua voz que parecia refletir os ventos gelados do Sonhar. “Ela está em casa aqui. É isso que a maioria das pessoas busca quando sonha. Lar. Você sabe onde fica isso para Jed?”

Antes que Rose pudesse responder, um som cortou o ar — corvos grasnando, ecoando como um aviso sombrio. Briely sentiu um arrepio, e instintivamente deu um passo para trás, apenas para sentir a mão de Morpheus agarrar seu pulso com força. “Não se afaste,” murmurou ele, os olhos fixos nela por um instante, intensos como abismos, antes de voltar a atenção para Rose. “Você conhece esse lugar?”

Rose olhou ao redor, a memória iluminando seus olhos. “Essa era a nossa casa quando éramos crianças. Olha.

Você conseguiu. Você encontrou o sonho do seu irmão. Agora, encontramos Gault.”

Um alarme ecoou de repente, estridente e fora de lugar no sonho, e a paisagem começou a tremer, como se algo estivesse se aproximando. Morpheus se posicionou à frente de Briely, o corpo tenso, um escudo entre ela e qualquer ameaça que pudesse surgir. “Fique atrás de mim,” ordenou ele, a voz carregada de uma autoridade que não admitia desobediência. Briely engoliu em seco, mas obedeceu, o coração disparado enquanto observava a cena se desdobrar.

De dentro do nevoeiro, uma nova figura emergiu — Jed, o irmão de Rose, mas havia algo errado, algo distorcido em sua presença. Ele olhou para Morpheus com um misto de medo e desafio.

“Ele não é membro da minha galeria de vilões. Ele é o inimigo mais poderoso que já enfrentamos. O Rei dos Pesadelos. E ele veio para me tirar de você.disse goult

Não vou deixar isso acontecer,” declarou Jed, a voz cheia de bravura infantil. “Obrigado, Sandman. Mas essa batalha é minha. E somente minha.”respondeu goult

Morpheus inclinou a cabeça, os olhos estreitando-se.Briely, ainda atrás dele, sentiu a mão de Morpheus apertar levemente ao redor de seu pulso, como se estivesse se certificando de que ela não se moveria, não se arriscaria.

Rose tentou alcançar Jed, a voz desesperada. “Jed, Jed, volte, por favor. Qual é o nosso próximo passo? Como o encontramos?”perguntou Rose

 

“Jed?” Rose chamou novamente, o desespero crescente. “Eu sou o Guardião dos Adormecidos. Eu sou o Senhor do Domínio dos Sonhos. Eu sou o Sandman,” proclamou jed.

“Você é o Sandman?” morpheus retrucou, incrédulo. “Foi isso que ela te disse? Onde ela está? Seu mestre?”

“Fique para trás,”jed avisou, o tom cortante.

Jed, não estamos aqui para te machucar falou Rose

"É a mim que você quer. Não a ele.”respondeu goult

Rose interveio, o choque em sua voz. “Meu Deus. Mãe?”

Mas Morpheus foi rápido em corrigir. “Aquela não é sua mãe, Rose.”

“Rosa? É você?” A figura ilusória falou, a voz carregada de uma falsa ternura. “Eu estive procurando por você em todos os lugares.”

“Mãe, é a Rose. Ela já cresceu,” Jed murmurou, emocionado.

 

“Jed! Jed, olhe para mim,” Rose implorou. “Ela não é nossa mãe. Nossa mãe não está aqui, mas eu estou, e preciso que você me diga onde está.”

“Estou bem aqui,” Jed respondeu, ainda preso à ilusão.

“Não, Jeddy, isso é um sonho. Quando você acordar, onde estará?” Rose insistiu.

“Olha. Você escreveu isso?” rose apontou para algo invisível no sonho. “O tio Barnaby disse que vai quebrar todos os ossos do meu corpo.”

“Quem é Barnaby?” Rose perguntou, a preocupação crescente. “Tia Clarice não conseguirá detê-lo.”

“Onde estão a tia Clarice e o tio Barnaby?” Rose continuou, tentando extrair informações. “Eles estão em casa. Eles estão na Pátria. Onde fica isso? Onde fica a Terra Natal, Jed?”

Antes que Jed pudesse responder, uma figura sombria emergiu por completo — Gault.

“Vamos, Gault. Temos que ir,” morpheus falou.

“Sinto muito, Sandman,” Gault disse, a voz carregada de um desafio sutil. “É hora de acordar, Jed.”

“Espera, não!” Rose gritou.

“Adeus, Rose Walker" respondeu Morpheus

Pare! Ainda não. Jed, me diga onde você está.”

“Rosa? Rosa? Rosa!” Jed chamou, sua voz ecoando enquanto o sonho começava a se desfazer.

De volta ao mundo desperto, uma campainha tocou. “Você está esperando alguém?” uma voz perguntou no plano físico.

“Não,” veio a resposta.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

De volta ao Sonhar, Morpheus e Briely retornaram, a tensão ainda palpável no ar. Morpheus segurava a mão de Briely com firmeza.

Gault estava diante deles, agora aprisionada, desafiando-o com os olhos. Antes de falar diretamente com Morpheus, porém, seus olhos se voltaram para Briely, que permanecia ao lado dele, quase colada à sua presença imponente. Gault inclinou a cabeça, um brilho de curiosidade e compreensão cruzando seu olhar sombrio.

“Então, os murmúrios são verdadeiros,” começou Gault, a voz carregada de um tom quase reverente, mas com um toque de provocação. “A filha de um deus, unida ao Perpétuo do Sonho. Nunca imaginei que veria o Senhor do Sonhar tão... apegado. Ele não tira os olhos de você, não é? Como deve ser, carregar o peso de um olhar como o dele? Ou talvez você goste disso?”

Briely não respondeu de imediato, o coração batendo mais rápido sob o escrutínio de Gault. Antes que pudesse formular uma resposta, Morpheus deu meio passo à frente, bloqueando parcialmente a visão de Gault sobre ela, seu corpo uma barreira protetora.

“Cuide de suas palavras, Gault,” advertiu ele, a voz gélida, cortando o ar como uma lâmina afiada. Seus olhos, porém, não deixaram Briely por mais do que um instante, como se precisasse confirmar que ela ainda estava ali, ao alcance de sua mão.

Gault apenas sorriu, um gesto que parecia desafiar e reconhecer ao mesmo tempo, antes de voltar sua atenção para Morpheus.

“Você tem alguma ideia de como é a vida dele no mundo real?” prosseguiu ela, a voz agora carregada de acusação.

“Os humanos não podem viver em sonhos. Enquanto ele permaneceu ali, a criança não teve vida nem chance de ter uma.

O menino está sendo abusado. Ele está sofrendo.

Você abusou desse sofrimento para construir um Sonho que você pudesse governar.”

“Eu não tinha vontade de governar,” Gault rebateu, desafiadora. “Eu apenas desejo ser um Sonho e não um Pesadelo. Para inspirar e não para assustar.”

“A escolha não é sua,” Morpheus declarou, a voz implacável. “Nós não escolhemos ser criados. Nem escolhemos como somos feitos.”

“Isso é verdade. Mas podemos mudar,” Gault insistiu.

“Não,” Morpheus cortou, inflexível. “Cada um de nós nasce com responsabilidades. Nem eu sou livre para escolher ser diferente do que sou. Ninguém também.”

“Se isso fosse verdade, por que todos os outros Sonhos e Pesadelos escolheram deixar este lugar quando você foi embora?” Gault retrucou.

“Nem todos nós escolhemos partir e quase todos retornaram falou Lucienne

Você acha que eles voltaram por amor? Ou porque tinham medo do que você faria com eles se não o fizessem? Porque eu não tenho medo.”

“Você deveria estar,” Morpheus avisou, a voz carregada de uma ameaça gélida. “O propósito de um Pesadelo é revelar os medos do sonhador para que ele possa enfrentá-los. Talvez alguns milhares de anos na escuridão revelem seus medos. Melhor isso do que deixar os outros com medo.”

“Até um pesadelo pode sonhar, meu senhor,” Gault murmurou, quase como um último desafio.

Morpheus voltou-se então para Lucienne, que observava em silêncio, e Briely, ainda ao seu lado, sentia o aperto da mão dele como uma constante lembrança de sua presença vigilante. “Você acha que a punição dela foi injusta?” perguntou ele a Lucienne, a voz mais calma, mas ainda carregada de autoridade.

“Eu costumava ser outra coisa. Antes de você me tornar seu bibliotecário,” Lucienne respondeu, cuidadosa. “Todos nós mudamos, senhor. Até você, talvez. Um dia.”

“Lucienne, percebo que na minha ausência você foi obrigada a tomar decisões em meu lugar, e sou grato a você,” Morpheus falou, o tom formal, mas firme. “Mas agora estou de volta. Você pode retornar à biblioteca.”

Lucienne assentiu, inclinando a cabeça em respeito antes de se retirar.

Morpheus, no entanto, voltou sua atenção para Briely, os olhos suavizando apenas para ela, mas ainda carregados de uma devoção que não se dissipava. Ele ergueu a mão, tocando o rosto dela com uma delicadeza que contrastava com sua natureza imponente, os dedos traçando a linha de sua bochecha como se quisesse memorizar cada detalhe. “Nada neste reino ou além dele chegará perto de você,” murmurou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “Eu estarei sempre aqui, guardando cada passo seu. Você é minha.”

Antes que ela pudesse responder, ele inclinou-se, seus lábios encontrando os dela em um beijo firme, carregado de uma intensidade que a envolveu completamente. Era um gesto que selava sua promessa, uma marca de sua dedicação inabalável, deixando-a sem fôlego por um momento. Quando se afastou, seus olhos ainda a prendiam, um brilho feroz neles que parecia garantir que, enquanto ele existisse, nada a tiraria de seu alcance.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Após os turbulentos acontecimentos do dia no Sonhar, Briely, exausta, olhou para Morpheus com olhos pesados. “Eu... preciso descansar um pouco antes do jantar,” murmurou ela, a voz fraca, quase sumindo no ar.

Morpheus a encarou por um instante, seus olhos insondáveis como o abismo de um sonho esquecido. Ele assentiu, a expressão suavizando apenas o suficiente para transmitir preocupação. “Como desejar,” disse ele, a voz grave.

Com um gesto sutil de sua mão, o ar ao redor deles ondulou, e em um piscar de olhos, estavam nos aposentos que compartilhavam, uma vasta câmara de tons sombrios e etéreos, onde a luz parecia dançar em padrões impossíveis.

Briely sentiu uma leve tontura ao se materializarem, o mundo girando por um momento. Ela cambaleou, e instintivamente segurou o braço dele para se equilibrar.

Morpheus franziu o cenho, a preocupação agora evidente em seu rosto. “Está bem?” perguntou, o tom carregado que parecia atravessar a alma dela.

“Sim,” respondeu ela rapidamente, forçando um aceno de cabeça, embora seu estômago ainda parecesse se revirar. “Só... cansada.”

Ele a observou por mais um longo momento, como se pudesse enxergar além de suas palavras, mas acabou cedendo. Inclinou-se, seus lábios tocando os dela em um beijo breve, mas firme, antes de se afastar. “Descanse. Estarei na sala do trono se precisar de mim.” Com isso, ele desapareceu em um redemoinho de areia e sombras, deixando-a sozinha no silêncio opressivo do quarto.

Briely caminhou até a cama imensa, deitando-se com a esperança de que o mal-estar passasse. Não era a primeira vez que se sentia assim.

Desde que se casou com Morpheus, esses episódios vinham acontecendo em momentos aleatórios, quase sempre quando estava sozinha. Ela fechou os olhos, tentando ignorar a sensação, e acabou adormecendo em meio a pensamentos desconexos.

Quando acordou, porém, o mal-estar havia piorado. Um enjoo terrível a atingiu como uma onda, e seu corpo parecia fraco, suando frio. Com o coração disparado, ela correu para o banheiro, mal conseguindo chegar ao vaso antes de vomitar. Horas se passaram ali, o corpo tremendo, a mente turva.

Cada vez que tentava se levantar, uma nova onda de náusea a derrubava de volta. Ela se encostou ao vaso, ofegante, o suor escorrendo por sua testa, sem forças para sequer chamar por ajuda.

Enquanto isso, no salão do jantar, Morpheus percebeu a ausência de sua esposa. O tempo passava, e ele sentia, através de sua conexão com o Sonhar, que ela não estava mais dormindo havia horas. Uma inquietação cresceu em seu peito, algo que raramente sentia. Ele chamou Mervyn, o fiel servo com cabeça de abóbora, e ordenou com voz cortante: “Vá até os aposentos reais e chame minha esposa. Diga-lhe que a espero para jantarmos juntos.”

Mervyn assentiu e partiu, batendo na porta dos aposentos com seus dedos nodosos. “Senhora? O mestre solicita sua presença para o jantar.” Não houve resposta. Ele bateu novamente, mais forte, mas o silêncio persistiu.

Preocupado, ele decidiu não arriscar a ira de Morpheus por falhar em sua tarefa e correu até Lucienne, a bibliotecária do Sonhar, que sempre parecia saber o que fazer em situações delicadas.

“Lucienne, algo está errado. A rainha não responde,” disse Mervyn, sua voz rouca cheia de urgência. “Não sei o que fazer. Pode me ajudar?”

Lucienne franziu o cenho, ajustando os óculos enquanto uma sombra de preocupação cruzava seu rosto. “Vou até lá agora. Informe o mestre Morpheus que estou cuidando disso.” Sua voz era calma, mas firme, escondendo a inquietação que sentia. Briely era sua rainha agora, e qualquer problema com ela era uma questão de extrema importância.

Chegando aos aposentos, Lucienne bateu na porta com delicadeza. “Senhora? Sou eu, Lucienne. Está tudo bem?” Novamente, apenas silêncio. Alarmada, ela decidiu entrar, abrindo a porta com cautela. O quarto estava vazio, a cama desfeita, mas a porta do banheiro estava entreaberta. Ao se aproximar, seu coração apertou ao ver Briely encostada ao vaso, o rosto pálido e suado, os olhos semicerrados de exaustão.

“Senhora!” Lucienne correu até ela, ajoelhando-se ao seu lado. “O que houve? Isso não deveria estar acontecendo. Você não tem mais um corpo humano... você é uma deusa agora, imortal. Não deveria adoecer, não mais.”

Sua mente disparou, buscando explicações, até que uma possibilidade emergiu, clara e inevitável. “A não ser que... esteja grávida,” pensou, mas guardou a suspeita por um momento, não querendo alarmá-la sem certeza.

Com suavidade, Lucienne segurou os ombros dela. “Diga-me exatamente o que está sentindo. Cada detalhe. Preciso entender.”

Briely, com a voz fraca e entrecortada, descreveu o enjoo, a tontura, a fraqueza que parecia drená-la. Enquanto falava, os olhos de Lucienne se estreitaram com compreensão. Finalmente, com um tom gentil, quase maternal, ela disse: “Minha senhora... há uma chance de que você esteja grávida. Esses sintomas, eles se alinham com isso.”

O choque atravessou o rosto de Briely como um raio. “Não... não pode ser,” sussurrou ela, os olhos arregalados. Mas então, memórias de conversas antigas com sua mãe sobre os sinais de gravidez começaram a surgir, cada palavra ecoando como um martelo em sua mente. E, pior, ela lembrou das vezes que Morpheus fez sexo com ela, sem jamais se preocupar com proteção — nem na noite de casamento, nem em qualquer outro momento desde então.

Ele havia dito, antes mesmo do casamento, com uma certeza fria, que teriam filhos. O pânico cresceu como uma tempestade dentro dela, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto sua respiração se tornava rápida e descontrolada. “Não, não, não...” murmurou, o corpo tremendo em um ataque de pânico.

Lucienne tentou acalmá-la, as mãos gentis em seus ombros. “Respire, minha senhora. Estou aqui com você. Vamos resolver isso juntas.” Mas as palavras pareciam se perder no caos da mente de Briely, que apenas chorava mais, o peito apertado, incapaz de se controlar.

Naquele momento, a porta do quarto se abriu com força, e Morpheus entrou, sua presença preenchendo o espaço como uma sombra viva. Seus olhos imediatamente encontraram Briely, em pânico no chão do banheiro, com Lucienne ao seu lado tentando, sem sucesso, acalmá-la. Ele atravessou o quarto em passos rápidos, ajoelhando-se diante dela. “O que aconteceu?” perguntou, a voz baixa, mas carregada de urgência, enquanto lançava um olhar penetrante para Lucienne.

Lucienne hesitou, sabendo que não era seu lugar revelar a suspeita de gravidez sem certeza ou sem o consentimento de Briely. “Ela está se sentindo mal, senhor. Muito mal. Isso não deveria acontecer, como o senhor sabe.” Sua resposta foi cautelosa, deixando os detalhes para o momento apropriado.

Morpheus franziu o cenho, a preocupação misturando-se com frustração. “Isso não é possível. Ela não deveria...” Ele parou, os olhos voltando-se para Briely, que ainda tremia, as lágrimas caindo livremente. “Lucienne, chame alguém. Agora. Traga quem puder ajudar.” Lucienne assentiu rapidamente e saiu, deixando-os sozinhos.

Com cuidado, Morpheus tentou erguê-la do chão, segurando-a pelos braços para levá-la de volta à cama. “Venha comigo,” murmurou ele, a voz mais suave, mas ainda autoritária. No entanto, o toque pareceu desencadear algo em Briely. Ela se debateu, empurrando-o com uma força nascida do desespero. “Não! Me deixe!” gritou, a voz rouca de tanto chorar, o corpo ainda fraco, mas movido por puro pânico.

Morpheus não a soltou, segurando seus pulsos com firmeza, mas sem machucá-la. Ele a puxou para mais perto, os olhos escuros fixos nos dela. “Acalme-se, esposa,” disse ele, a voz como um comando que parecia tentar alcançar o âmago de sua alma. “Respire comigo. Olhe para mim.” Ele manteve o tom firme, mas havia uma urgência nele, uma ânsia de trazê-la de volta do abismo de medo em que ela parecia estar afundando.

Briely continuou a tremer, as lágrimas ainda caindo, mas a força de seus movimentos diminuiu enquanto o peso da presença de Morpheus a ancorava, mesmo contra sua vontade.

Ela o encarou, o peito subindo e descendo rapidamente, sem saber se queria lutar ou se render, enquanto o medo da possibilidade de estar grávida continuava a devorar seus pensamentos.

 

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Morpheus segurou os pulsos dela com firmeza, mas sem brutalidade, seus olhos escuros fixos nos dela como se pudesse enxergar através do pânico que a dominava. “Acalme-se. Estou aqui.
Não vou deixar nada acontecer com você,” disse ele, a voz grave, quase hipnótica, tentando trazer ordem ao caos que se desenrolava dentro dela.

“Respire comigo. Olhe para mim.” Ele manteve o tom autoritário, mas havia uma urgência contida, um desejo de puxá-la de volta do abismo de medo que parecia engoli-la.

Briely tremia, as lágrimas ainda escorrendo por seu rosto, o coração disparado enquanto lutava contra o peso das palavras de Lucienne e a realidade que se formava em sua mente. Seus empurrões contra ele enfraqueceram, não por falta de vontade, mas por pura exaustão.

O corpo dela parecia pesado, como se carregasse o peso de um futuro que ela não queria encarar. Ela o encarou, a respiração ainda irregular, dividida entre o impulso de fugir e a necessidade de se ancorar em algo, mesmo que fosse na presença opressiva dele.

Ele a puxou com cuidado, levantando-a do chão frio do banheiro e guiando-a até a cama. Cada passo era hesitante, o corpo dela ainda tenso, mas incapaz de resistir completamente. Morpheus a deitou sobre os lençóis escuros, sentando-se ao seu lado, uma mão ainda segurando a dela, como se temesse que ela pudesse desaparecer. “Diga-me o que está acontecendo,” pediu, a voz mais baixa agora, quase um murmúrio, enquanto seus olhos a estudavam com uma intensidade que parecia atravessar barreiras.

Ela virou o rosto, evitando o olhar dele, o peito apertado enquanto as palavras de Lucienne ecoavam em sua mente. Grávida. A possibilidade era como uma lâmina cravada em seus pensamentos, cortando qualquer esperança de fuga ou controle sobre sua própria vida. “Eu... eu não sei,” mentiu, a voz fraca, quase um sussurro, enquanto tentava engolir o novo surto de lágrimas que ameaçava surgir.

Morpheus franziu o cenho, claramente insatisfeito com a resposta. Ele inclinou-se mais perto, a mão livre tocando de leve seu rosto, virando-o para que ela o encarasse. “Você não está bem. Isso não deveria acontecer. Fale comigo,” insistiu, o tom carregado de uma mistura de preocupação e impaciência. Havia algo em sua voz, uma nota que fez o estômago dela se revirar ainda mais.

Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu novamente, e Lucienne retornou acompanhada de uma figura alta e esguia, envolta em vestes que pareciam tecidas de luz e sombra. Era alguém do Sonhar, talvez um curandeiro ou um conhecedor das leis que regiam corpos imortais. Lucienne lançou um olhar preocupado para Briely antes de se dirigir a Morpheus. “Senhor, esta é Elyndra. Ela tem conhecimento sobre condições... incomuns, mesmo para seres como nós.”

Morpheus assentiu brevemente, levantando-se para dar espaço à recém-chegada, mas seus olhos nunca deixaram Briely. Elyndra aproximou-se da cama, seus movimentos fluidos, quase como se deslizasse pelo ar. Seus olhos, de um tom cinzento como tempestade, fixaram-se em Briely, e sua voz saiu suave, mas firme. “Minha rainha, preciso que me diga exatamente o que sente. Não esconderei nada de você, assim como espero que não esconda de mim.”

Briely hesitou, o medo apertando sua garganta, mas sob o peso de todos aqueles olhares — de Morpheus, de Lucienne, de Elyndra — ela acabou cedendo. Com a voz trêmula, descreveu o enjoo, a fraqueza, as tonturas que vinham e iam como sombras. Enquanto falava, percebeu os olhos de Elyndra se estreitarem, uma compreensão silenciosa surgindo em seu rosto.

Quando ela terminou, Elyndra ficou em silêncio por um momento, como se pesasse cada palavra. Então, voltando-se para Morpheus, mas ainda com a atenção em Briely, falou: “milorde, minha rainha... os sintomas que ela descreve não são de uma doença comum, não para alguém que agora compartilha a essência do Sonhar. Há uma possibilidade, uma forte possibilidade, de que ela esteja carregando uma vida dentro de si.”

O ar no quarto parecia congelar. Briely sentiu o chão desaparecer sob ela, o pânico voltando com força total, enquanto as palavras confirmavam o que ela temia. Seu olhar disparou para Morpheus, buscando sua reação, mas o rosto dele era uma máscara indecifrável, os olhos brilhando com algo que ela não conseguia interpretar — seria surpresa, satisfação, ou algo mais sombrio? O coração dela batia tão rápido que parecia que ia explodir, e ela só conseguiu murmurar, quase para si mesma: “Não... por favor, não.”

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

O silêncio pesava no quarto após as palavras de Elyndra. O ar parecia denso, carregado de tensão, enquanto Briely tremia na cama, os olhos arregalados, as mãos apertando os lençóis escuros como se pudesse se ancorar na realidade.

Morpheus permaneceu imóvel por um instante, o rosto uma máscara de emoções mistas, até que fez um gesto sutil com a cabeça para Elyndra e Lucienne. “Deixem-nos,” ordenou, a voz grave e firme, sem desviar os olhos dela.

Lucienne hesitou, lançando um olhar preocupado para Briely, mas acabou saindo com Elyndra, fechando a porta atrás delas. O som do clique ecoou no silêncio, deixando os dois sozinhos. Briely sentiu o enjoo subir novamente, uma onda de náusea que fez sua cabeça girar. Ela se curvou, uma mão na boca, o corpo fraco.

Morpheus aproximou-se, pegando um pequeno cálice de prata que Lucienne havia deixado sobre a mesa ao lado da cama. Um aroma herbal, sutil mas reconfortante, vinha do líquido dentro dele. “Beba isso,” disse ele, a voz mais suave agora, enquanto se sentava ao lado dela. “Lucienne preparou. Vai ajudar com o enjoo e acalmar você.”

Ela o encarou, hesitante, as lágrimas ainda brilhando nos olhos, mas acabou pegando o cálice com mãos trêmulas. O líquido estava morno, com um leve gosto de ervas amargas, mas após alguns goles, a náusea começou a recuar, mesmo que só um pouco. Ele observava cada movimento dela, os olhos escuros fixos, e, por um momento, algo novo brilhou neles — uma mistura de fascínio e alegria contida.

Ele se inclinou mais perto, as mãos envolvendo os ombros dela com uma ternura inesperada. “Você... vai me tornar pai,” murmurou, a voz carregada de emoção, quase reverente. Seus lábios encontraram os dela em um beijo profundo, possessivo, enquanto a puxava para um abraço apertado, como se quisesse fundi-la a si mesmo. “Minha rainha, você carrega nosso futuro.”

Briely congelou no abraço, o coração disparando, o peso daquelas palavras esmagando-a. Ela se afastou abruptamente, o rosto molhado de lágrimas frescas, a voz quebrada. “Não. Eu não quero isso. Eu não escolhi essa gravidez.” As palavras saíram sufocadas entre soluços, enquanto ela balançava a cabeça. “A culpa é sua. Você fez isso comigo.”

Morpheus franziu o cenho, a expressão endurecendo, mas ainda havia um brilho de compreensão em seus olhos. Ele respirou fundo, a voz baixa, quase um sussurro. “Sempre esperei que você carregasse meu filho. Mas não tão cedo, admito. Achei que teríamos mais tempo... para você se acostumar a isso, ao Sonhar, a mim.”

Ela o encarou, o desespero tomando conta, as mãos instintivamente indo à barriga, como se pudesse rejeitar o que estava acontecendo. “Eu não quero! Não quero ter esse bebê!” gritou, a voz rasgando o ar, lágrimas escorrendo sem controle. “Eu não posso... por favor, não me faça passar por isso.”

O rosto dele escureceu, a fúria surgindo como uma tempestade em seus olhos. Ele se levantou da cama, a postura rígida, a voz subindo em tom. “Você vai ter nosso filho. Isso está acontecendo, quer você queira ou não. É nosso destino, nossa ligação. Você não pode negar isso.” Cada palavra era cortante, carregada de uma autoridade que não admitia discussão.

Briely soluçou mais alto, o corpo encolhendo-se sobre a cama, as mãos ainda na barriga, como se pudesse proteger-se daquela realidade. O peso da raiva dele a esmagava, misturando-se ao seu próprio medo e desespero. Ela não conseguia parar de chorar, os ombros tremendo violentamente.

Morpheus ficou em silêncio por um momento, a respiração pesada, antes de suavizar a expressão. Ele se aproximou novamente, sentando-se ao lado dela e puxando-a para seus braços, mesmo que ela tentasse resistir de leve. “Shh... vai ficar tudo bem,” murmurou, a voz agora mais calma, quase consoladora, enquanto acariciava seus cabelos. “Você não está sozinha nisso. Estou aqui. Vamos passar por isso juntos.”

Mas as palavras, embora gentis, não conseguiam apagar o peso da sua determinação anterior. Briely continuou chorando em seu peito, o corpo frágil contra a força dele, dividida entre o medo do futuro e a inescapável presença dele ao seu lado.

Chapter Text

O silêncio no quarto era pesado, interrompido apenas pelos soluços baixos de Briely, ainda aninhada contra o peito de Morpheus. Ele a segurava com firmeza, mas uma suavidade rara transparecia em seus gestos, como se temesse que ela pudesse se desfazer em suas mãos. A revelação da gravidez pairava entre eles, um peso que nenhum dos dois sabia como carregar completamente.

De repente, um estrondo distante ecoou pelo Sonhar, fazendo as paredes dos aposentos reais tremerem. Briely se encolheu, seu corpo tenso, enquanto Morpheus ergueu a cabeça, os olhos estreitando-se com uma mistura de irritação e urgência. Ele hesitou por um momento, o conflito claro em seu semblante. Não podia deixá-la sozinha, não agora, não depois de descobrir sobre a gravidez. Com cuidado, ele a deitou de volta nos travesseiros, mas não se levantou de imediato.

“Não posso ficar agora,” disse ele, a voz grave, mas carregada de um tom mais brando. “Mas não a deixarei sozinha.” Ele chamou pela porta, “Elyndra!”

A curandeira entrou rapidamente, seus movimentos fluidos como sempre, inclinando a cabeça em respeito. “Meu senhor?”

“Fique com ela,” ordenou Morpheus, seus olhos fixos em Briely. “Ajude-a. Cuide para que ela tenha o que precisa enquanto resolvo os distúrbios no Sonhar.”

Elyndra assentiu, aproximando-se da rainha com uma expressão de compreensão. Morpheus, então, inclinou-se sobre ela, seus lábios tocando suavemente a testa de Briely em um beijo inesperado, cheio de carinho. Sua mão desceu até a barriga dela, acariciando-a com uma ternura que a fez prender a respiração. “Eu voltarei,” murmurou ele, antes de se levantar e deixar o quarto com um último olhar intenso.

Briely ficou em silêncio, o toque dele ainda reverberando em sua pele, enquanto Elyndra se sentava ao seu lado, oferecendo uma presença calma, mas que mal disfarçava a tensão no ar.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto atravessava os corredores do palácio, Morpheus sentiu outro tremor, mais forte, como se o tecido do Sonhar estivesse sendo rasgado. Ele encontrou Lucienne na biblioteca, os livros tremendo nas estantes enquanto pequenos fragmentos de vidro caíam de uma janela próxima.

“Meu senhor,” Lucienne começou, ajustando os óculos com uma calma tensa. “Os distúrbios estão piorando. Presumi que fosse algo que o senhor…”

“Não sou eu,” ele a interrompeu, a voz como um trovão baixo. “Diga-me, Lucienne, você tem alguma teoria sobre a origem disso?”

Ela hesitou, os lábios apertados, antes de responder. “Falando estritamente como bibliotecária, sim. Mas o senhor não vai gostar.”

“Prossiga,” ordenou ele, os olhos fixos nela.

“Sei que está esperando que o vórtice o leve até os Arcanos desaparecidos, como o Corinthian e o Fiddler’s Green. Mas enquanto espera, ela está rachando as fundações deste reino. Rose Walker pode não ter causado danos antes, mas algo mudou. Algo novo está aqui, e se não foi o senhor quem o criou… como chegou ao Sonhar?”

Morpheus ficou em silêncio por um momento, o rosto uma máscara de pedra. Então, com um aceno breve, disse, “Diga a Matthew que preciso de notícias de Rose Walker. Imediatamente.” Lucienne assentiu, e ele partiu, a mente dividida entre os problemas do reino e a imagem de Briely em seus aposentos.

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Morpheus confrontou Lyta e Hector Ele entrou no sonho onde os dois estavam, sua presença imponente enchendo o espaço. Lyta, grávida e assustada, segurava Hector, um fantasma que se recusava a abandonar o Sonhar.

Lyta, você se lembra que eu te contei sobre Lorde Morpheus, o Rei dos Sonhos?" disse Rose, tentando mediar, mas a tensão já era palpável

“O que você quer?” perguntou Lyta, a voz trêmula, mas desafiadora.

“Quero que vão embora,” respondeu Morpheus, sua voz fria e implacável. “Um fantasma não pode escapar de seu destino se escondendo no Sonhar. Nenhum ser humano vivo pode fugir de sua dor aqui. Vocês não veem o dano que sua presença causa a este reino? Não posso permitir que fiquem.”

Hector olhou para Lyta, os olhos cheios de dor. “Há algo que possamos fazer?”

“Vocês pertencem aos mortos. Devem ir ao local designado para vocês. Sinto muito, mas precisam se despedir agora,” declarou Morpheus, sem ceder.

“Não,” Lyta soluçou, agarrando-se a Hector. “Não vou perder você de novo.”

“Eu te amo muito,” murmurou Hector, sua voz embargada. “Você não vai a lugar nenhum.”

Mas Morpheus não se moveu. “Saiam da nossa casa,” gritou Lyta, desesperada. “Lyta—” tentou Hector, mas foi interrompido.

“Suficiente,” cortou Morpheus, sua voz como um decreto final. “Diga… diga ao bebê que eu—” Hector começou, mas sua forma começou a se desfazer, dissolvendo-se no ar enquanto Lyta gritava. “Não! Por favor! Pare! Hector!”

Rose, que observava horrorizada, implorou, “Sonhe, por favor, pare! Não! Hector!” Mas era tarde demais. Lyta caiu de joelhos, soluçando, enquanto Hector desaparecia completamente.

Morpheus olhou para ela, os olhos fixos em sua barriga. “Seu marido morreu há muito tempo. Ele era um fantasma, e isso é um sonho. O bebê é seu… por enquanto.”

“O que você quer dizer?” perguntou Lyta, a voz trêmula, cheia de medo.

“A criança foi concebida no Sonhar. Ela e minha. E um dia, eu irei buscá-la,” declarou ele, sua voz carregada de uma certeza inabalável.

“Não, você não vai,” retrucou Lyta, mas Morpheus apenas a encarou, sem resposta, Rose intervinha, furiosa. “Você matou meu amigo na frente da esposa dele e depois ameaça tirar o bebê dela? Não quero que chegue perto de mim ou dos meus amigos nunca mais!”

“Rose, me escute,” tentou Morpheus, mas ela o cortou.

“Não! Não pedi nada disso. Deixe meu universo em paz!”

“Este sonho acabou,” finalizou ele, encerrando a interação, mas com um peso novo em seus pensamentos.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

De volta ao Sonhar, Morpheus retornou aos aposentos reais, sua presença enchendo o quarto antes mesmo de ele falar. Elyndra, que ainda estava ao lado de Briely, levantou-se imediatamente. “Meu senhor,” disse ela, inclinando a cabeça.

"Pode nos deixar, Elyndra," ele ordenou, a voz firme, mas sem hostilidade. Ela assentiu, saindo silenciosamente e fechando a porta atrás de si.

Briely o encarou, os olhos ainda vermelhos de lágrimas, mas com uma curiosidade cautelosa. "Onde você esteve?" perguntou, a voz fraca, mas firme o suficiente para exigir uma resposta.

Morpheus sentou-se ao seu lado, o rosto sério. “Há algo que você deve saber. No mundo desperto, uma mulher chamada Lyta ficou grávida em um sonho, por causa do vórtice. Eu não esperava por isso. O vórtice está enfraquecendo as paredes entre os reinos de formas que não previ.”

Briely arregalou os olhos, chocada. “Uma humana… grávida em um sonho? Como isso é possível?”

“É o poder do vórtex, Rose Walker,” explicou ele, a voz baixa. “Ele distorce as barreiras do Sonhar, criando possibilidades que não deveriam existir.”

Ela engoliu em seco, processando a informação. “E o que você vai fazer com ela agora? Com essa mulher, Lyta?”

Morpheus a olhou diretamente nos olhos. “Deixarei o bebê com ela, por ora. Mas ele foi concebido no Sonhar. Pertence a mim. Um dia, irei buscá-lo.”

Briely ficou em silêncio, o coração apertado. Não discutiu com ele, mas sentiu uma profunda pena de Lyta, uma mulher humana enfrentando algo tão além de sua compreensão ou controle. Seus olhos baixaram para suas próprias mãos, que descansavam sobre a barriga, o paralelo entre as duas situações a atingindo com força. Ela não disse nada, apenas assentiu levemente, perdida em seus pensamentos.

Morpheus, percebendo a sombra em seu semblante, aproximou-se mais. Ele a envolveu em um abraço, seus braços firmes, mas gentis, e inclinou-se para beijar suavemente a barriga dela, um gesto que carregava gentleza, e também um grande afeto. Erguendo o rosto, ele perguntou, a voz mais suave, “Você está melhor?”

Ela hesitou por um momento, mas respondeu, “Estou melhor do que antes.”

Ele assentiu, satisfeito com a resposta, e então a beijou nos lábios, um beijo profundo, mas contido, como se ainda testasse os limites da conexão entre ambos. Briely retribuiu, ainda incerta, mas permitindo-se, por um instante, buscar conforto naquela proximidade, mesmo que temporária.

O silêncio voltou ao quarto, mas os tremores distantes do Sonhar continuavam, um lembrete constante de que os problemas estavam longe de serem resolvidos — tanto no reino quanto entre eles.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

O silêncio no quarto era um bálsamo após a tempestade emocional que haviam enfrentado. Briely, ainda recostada na cama, parecia mais calma, o rosto menos pálido, os olhos menos carregados de tensão.

Morpheus a observava com um olhar que misturava preocupação e algo mais profundo, algo que ele raramente deixava transparecer. Ele segurou a mão dela por um momento, o toque firme, mas gentil. “Você precisa descansar,” disse ele, sua voz como um murmúrio baixo, quase hipnótico. Ele a ajudou a deitar completamente, ajustando os travesseiros sob sua cabeça com cuidado

Briely não resistiu, exausta demais para protestar, seus olhos já começando a se fechar enquanto o peso do dia a puxava para o sono. Morpheus inclinou-se sobre ela, seus lábios tocando suavemente a testa dela em um beijo leve, carregado de uma ternura silenciosa.

Ele permaneceu assim por um instante, como se quisesse gravar aquele momento, antes de se levantar. Sem olhar para trás, deixou o quarto, o manto escuro ondulando atrás dele como uma sombra viva. Havia assuntos no Sonhar e no mundo desperto que exigiam sua atenção, e ele não podia mais adiar.

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Algum tempo depois, Briely despertou sozinha no vasto quarto real do Sonhar. A luz suave que fluía pelas janelas parecia pulsar com uma energia onírica, e ela se levantou devagar, sentindo o corpo mais leve, mas ainda carregado de uma inquietação que não conseguia nomear.

Ela caminhou até o closet, seus pés descalços tocando o chão frio, e abriu as portas de madeira entalhada. Seus olhos recaíram sobre um vestido azul-escuro, de tecido fluido e delicado, que parecia chamá-la. Ela o vestiu, o tecido abraçando seu corpo com suavidade, e ao se olhar no espelho, notou uma pequena, mas perceptível, saliência em sua barriga.

Sua mão repousou ali por um instante, um misto de surpresa e apreensão atravessando seu rosto. Suspirando, ela decidiu que não ficaria confinada ao quarto. Precisava de respostas.

Briely dirigiu-se à biblioteca do Sonhar, o coração da sabedoria e dos segredos do reino. Ao entrar, o aroma de pergaminhos antigos e o som de páginas sendo viradas a recebeu. Lucienne estava lá, conversando com uma mulher mais velha de presença serena, mas marcada por uma vida de experiências profundas—Unity Kincaid.

Quando Lucienne percebeu a chegada de Briely, seus olhos se estreitaram com preocupação, mas ela inclinou a cabeça em respeito. “minha rainha, você deveria estar descansando,” disse Lucienne, sua voz firme, porém gentil.

Briely ofereceu um leve sorriso, ajustando o vestido azul que caía elegantemente sobre seus ombros. “Não preciso. Estou me sentindo bem, Lucienne. De verdade.” Unity, que até então observava em silêncio, ergueu uma sobrancelha, claramente surpresa.

“Rainha? Então você é a esposa do Rei dos Sonhos?” Seus olhos percorreram Briely, notando o vestido incomum—diferente dos trajes típicos do Sonhar—e a beleza etérea que parecia envolver a jovem como uma aura. “Você é... diferente. Há algo em você que não consigo definir, mas é belo.”

Briely corou ligeiramente, desconfortável com a atenção, mas grata pela gentileza. “Obrigada. Não me sinto muito como uma rainha, para ser sincera. Mas... onde está meu marido? Preciso falar com ele.” Lucienne hesitou por um momento antes de responder, sua expressão se tornando mais grave.

“Ele está resolvendo a situação do vórtex. Uma questão delicada e perigosa, minha rainha.” “Delicada como?” perguntou Briely, franzindo a testa, sentindo um aperto no peito. “Ele pretende... terminar issoRose Walker, o vórtex, precisa ser detida. Ele planeja matá-la para salvar o Sonhar e o mundo desperto,” explicou Lucienne, com um tom de relutância, sabendo o peso que aquelas palavras teriam.

Briely congelou, os olhos arregalados. “Matar? Não... isso não pode estar certo. Ele não pode fazer isso. Eu preciso falar com ele. Agora.” Unity, ainda observando, colocou uma mão reconfortante no ombro de Briely. “Se você acha que pode ajudá-lo a encontrar outro caminho, então vamos.

Eu também tenho assuntos a resolver com ele.” Lucienne assentiu, embora claramente preocupada. “Muito bem. Vamos encontrá-lo juntas.”

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No caminho para encontrar Morpheus, as três mulheres caminharam pelos corredores oníricos do Sonhar, onde a realidade parecia se curvar a cada passo.

Unity, ao lado de Briely, notou a maneira como a jovem ocasionalmente tocava sua barriga, um gesto quase inconsciente. Ela inclinou a cabeça, curiosidade misturada com empatia em seu olhar. “Você está... esperando um filho, não está?” perguntou Unity, sua voz baixa para não atrair demasiada atenção, embora Lucienne, que caminhava um pouco à frente, pudesse ouvir.

Briely hesitou, mas acabou assentindo, os olhos baixos. “Sim. Não foi algo que planejei. Meu casamento com Morpheus... não foi por escolha. Fui forçada a isso. E agora, estou carregando um filho dele. Não sei o que fazer, nem como me sinto sobre isso.” Unity franziu os lábios, pensativa, enquanto Lucienne, embora em silêncio, lançou um olhar de compreensão por cima do ombro. “Às vezes, querida, as coisas que não escolhemos trazem algo inesperado, algo que pode nos dar força,” disse Unity suavemente.

“Mas sei que não é fácil. Só... não deixe o medo consumir você.” Briely ofereceu um sorriso frágil, grata pelas palavras, mesmo que ainda carregasse um peso no coração.

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

Quando finalmente encontraram Morpheus, ele estava no meio de um confronto tenso, a presença de Rose Walker próxima marcando o ar com urgência. Seus olhos se desviaram para sua esposa assim que ela entrou no espaço, e um vislumbre de preocupação atravessou seu rosto normalmente impassível.

Ele avançou até ela, suas mãos segurando-a pela cintura com firmeza, trazendo-a para perto de si. “esposa, o que você está fazendo aqui?” perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de uma intensidade protetora. “Você deveria estar descansando.” “Eu não podia ficar lá sem saber o que está acontecendo,” retrucou ela, encontrando o olhar dele. “Lucienne me contou sobre Rose.

Você não pode matá-la, Morpheus. Deve haver outro caminho.” “Não há escolha. O vórtex deve ser detido, ou tudo estará perdido,” respondeu ele, o tom firme, mas com uma pontada de dor em seus olhos ao ver a angústia no rosto dela. “Eu não desejo isso, mas todos nós temos responsabilidades. Esta é uma das minhas.”

Antes que Briely pudesse argumentar mais,lucienne interveio, dando um passo à frente. “Meu senhor, pare. Esta é Unity Kincaid."

Eu sou bisavó da Rose. E de acordo com este livro, eu deveria ser o vórtex desta era. Mas como você foi aprisionado e excluído do Sonhar, esse destino foi passado aos meus descendentes.”

“Eu não entendo,” confessou Morpheus, enquanto Unity ria suavemente. “Você não é muito inteligente, né? Vem cá, Rose. Quero que você alcance seu interior e me dê o que quer que seja que faz de você o vórtex.”

“Mas c-como?” perguntou Rose, confusa. “Você está sonhando, querida. Tudo é possível,” respondeu Unity, enquanto Rose entregava o poder do vórtex. “Isso? Ah, obrigada, Rose, querida. Agora sou o vórtex, Rei dos Sonhos, como deveria ter sido há muito tempo. Então, deixe minha bisneta em paz.” Unity gemeu suavemente, o peso do vórtex tomando seu corpo, e quando o momento chegou, ela caiu.

Briely, com lágrimas nos olhos, correu até ela, envolvendo-a em um abraço apertado. O corpo frágil de Unity tremia, mas ela conseguiu sussurrar no ouvido de Briely, sua voz fraca, mas cheia de intenção. “Não tenha raiva, querida. Nem do bebê, nem dele. Às vezes, o que começa com dor pode se tornar algo belo. Cuide de si mesma... e dele. Encontre um caminho para vocês dois.” Briely assentiu, as lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto segurava Unity até o último suspiro dela.

Quando finalmente se levantou, ela se voltou para Rose, que observava tudo em um silêncio atordoado. Briely se aproximou dela, colocando as mãos suavemente em seus ombros. “Cuide-se, Rose. E cuide do seu irmão. Vocês merecem paz depois de tudo isso,” disse Briely, sua voz carregada de emoção sincera.

Rose assentiu, os olhos ainda úmidos, antes de murmurar um “obrigada” baixo. Morpheus, ao lado de Briely, observava a cena em silêncio, mas sua mão encontrou a dela, um gesto pequeno, mas significativo, enquanto se despediam de Rose.

“Você e seu irmão são filhos dos Perpétuos. Você já sofreu o suficiente. Você pode sair deste lugar. Adeus, Rose,” disse Morpheus, finalizando a despedida.

Chapter Text

Morpheus segurava a mão de Briely com firmeza enquanto se despediam de Rose Walker. O ar ainda estava pesado com a emoção do momento, mas o Rei dos Sonhos sabia que não podia se demorar.

 

Ele lançou um olhar para sua esposa, a preocupação evidente em seus olhos normalmente impassíveis. “Vamos voltar ao castelo,” disse ele, sua voz um murmúrio baixo, mas carregado de proteção.

 

Briely assentiu, exausta, deixando que ele a guiasse através dos corredores oníricos do Sonhar. O caminho de volta foi silencioso, mas a presença de Morpheus ao seu lado era uma âncora, mesmo que ainda houvesse uma tensão não resolvida entre eles.

 

Ao chegarem ao castelo, ele a deixou brevemente no quarto real, assegurando-se de que ela estivesse confortável, antes de partir. “Fique aqui,” pediu ele. “Há algo que preciso resolver.”

Ele se dirigiu à galeria de Desejo, o ar ao seu redor parecendo se curvar à sua determinação. Quando chegou, Desejo estava recostado em um trono dourado, um sorriso provocador nos lábios. “Ora, doce Sonho. Que surpresa. Quase um evento, eu diria,” sibilou Desejo, os olhos brilhando com malícia.

 

“Estou de passagem,” respondeu Morpheus, sua voz fria como o vazio. “E não desejo nada de você, exceto respostas.”

 

Desejo inclinou a cabeça, o sorriso crescendo. “Ooh, isso é um teste?

 

Unity Kincaid deveria ter sido o vórtex desta era. Mas alguém se aproveitou da minha prisão e teve um filho com ela, sabendo muito bem que ele se tornaria o vórtex, e eu seria forçado a matá-lo.

 

Fui tão óbvio?”

“Não. Você cobriu seus rastros muito bem,” admitiu Morpheus, o tom cortante. “Mas o que você realmente pretendia? Que eu deveria derramar sangue de família? Com tudo o que isso implicaria?”

 

Desejo riu, um som afiado e cruel. “Desta vez quase funcionou, meu irmão.

 

Nós, dos Eternos, somos servos dos vivos, não seus mestres. Existimos apenas porque eles sabem, no fundo de seus corações, que nós existimos. Não os manipulamos. Na verdade, eles nos manipulam. E você, Desespero, e até mesmo o pobre Delírio fariam bem em se lembrar disso.”

 

Morpheus deu um passo à frente, sua presença sufocante. “Mexa comigo ou com os meus de novo e eu vou esquecer que você é da família. Você se considera forte o suficiente para me enfrentar? Contra a Morte? Contra o Destino?”

 

Desejo sibilou, o brilho nos olhos diminuindo por um instante. “Ah, pobre Dream. Eu realmente te irritei dessa vez, não é? Da próxima vez, vou tirar sangue.”

 

Antes dele partir, Desejo lançou um último comentário, o tom carregado de veneno. “A propósito, sua esposa gostou do presente de casamento que dei a ela? Espero que tenha... aquecido as coisas entre vocês.”

 

Os olhos de Morpheus se estreitaram, a raiva queimando dentro dele. Ele sabia do que Desejo falava — um afrodisíaco que Briely havia consumido sem saber, algo que ele só descobriu depois. “Fique longe da minha esposa e da minha família, Desejo. Não vou tolerar mais interferências. Se chegar perto dela novamente, não haverá perdão. Nem mesmo para um dos Eternos.”

 

Sem esperar resposta, Morpheus virou-se, o manto escuro ondulando atrás dele como uma tempestade, deixando Desejo com um sorriso que escondia um leve tremor.

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

Alguns dias após o confronto com Desejo, Morpheus e Briely estavam na biblioteca do Sonhar, um lugar de imenso poder onde segredos se revelavam em tomos antigos. Lucienne os conduziu até uma mesa onde um livro pulsava com uma luz suave, quase viva. Briely, ainda sem notar qualquer mudança significativa em seu corpo, franziu a testa ao ver o livro aberto por Lucienne.

“Meu lord, minha rainha,” começou Lucienne, sua voz calma, mas com um toque de reverência. “Este tomo revela verdades do Sonhar. Hoje, ele mostra algo... extraordinário.”

Morpheus aproximou-se, seus olhos estreitando-se enquanto imagens tomavam forma na página. Briely segurou a mão dele, sentindo um aperto no peito ao ver duas pequenas formas brilhantes dentro de uma representação etérea de si mesma. “Gêmeos?” sussurrou ela, a voz carregada de surpresa.

“Sim,” respondeu Lucienne, ajustando os óculos. “Dois herdeiros do Sonhar. Mas há mais. A gravidez não segue o tempo do mundo desperto. Aqui, no Sonhar, ela é acelerada. O que seriam meses no mundo mortal podem ser semanas ou até dias. Vocês verão mudanças rápidas.”

Briely tocou a barriga instintivamente, ainda achando difícil acreditar. Morpheus apertou sua mão, seu olhar normalmente distante agora cheio de algo mais suave. “Nós os protegeremos,” murmurou ele. “E a você.”

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Naquela mesma tarde, enquanto descansava no quarto real, um pergaminho surgiu magicamente sobre a mesa.

Briely o pegou, reconhecendo o selo do tridente. Era uma carta de seu pai, Poseidon. Com as mãos trêmulas, ela leu as palavras escritas em tinta azul profunda:

*Minha querida filha, ouvi sobre sua gravidez e estou cheio de alegria. Meus primeiros netos! Saiba que, mesmo de longe, envio minhas bênçãos do fundo dos oceanos. Que eles cresçam fortes como as marés e tão destemidos quanto você. Seu pai, Poseidon.*

Lágrimas rolaram por seu rosto ao ler a mensagem, sentindo uma conexão com seu pai, mesmo que ele não fosse seu pai de verdade e sim sua contraparte do seu pai daquele universo. Morpheus, ao entrar no quarto, notou sua emoção e se aproximou, colocando uma mão em seu ombro. “Boas notícias?” perguntou ele, suavemente.

“Sim,” respondeu ela, mostrando a carta. “Meu pai... ele está feliz por nós.”

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

Algumas semanas depois, Briely, agora com o que pareceria quatro meses de gravidez no mundo desperto, estava sozinha no jardim onírico do castelo.

Sentada sob uma árvore de flores luminescentes, ela sentiu um movimento leve, mas inconfundível, dentro de si. Um chute. Depois outro. Sua mão voou para a barriga, e uma onda de emoção a atingiu. Lágrimas escorreram enquanto ela sussurrava para si mesma: “Eu sinto muito. Eu... pensei em rejeitar vocês. Mas agora, sentindo-os aqui, não consigo. Sou uma idiota por ter pensado nisso. Lembro da minha mãe dizendo que ficou tão feliz quando soube de mim e do Percy. Quero ser como ela para vocês.”

Naquele momento, ela decidiu que os amaria, independentemente de como vieram ao mundo. Quando Morpheus a encontrou ali, viu as lágrimas e se ajoelhou ao seu lado. “O que houve?” perguntou, a voz carregada de preocupação.

“Eles se mexeram,” disse ela, sorrindo entre lágrimas. “Eu os senti. E... prometo que vou ser uma boa mãe.”

Ele a abraçou, um gesto raro, mas genuíno. “Você será. E estarei com você.”

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Conforme o tempo passava, Briely começou a se apegar a Morpheus, mesmo que questionasse seus próprios sentimentos, temendo ser vítima da síndrome de Estocolmo.

Ele, por sua vez, demonstrava um cuidado incessante. À noite, ele se sentava ao lado dela na cama, lendo contos do Sonhar em voz baixa, sua mão repousando na barriga dela, acariciando suavemente enquanto as palavras enchiam o silêncio.

Em manhãs de enjoo, ele estava lá, segurando seu cabelo enquanto ela vomitava, trazendo um pano úmido para seu rosto. “Você está bem?” perguntava ele, sempre com aquele tom grave, mas gentil.

“Sim, só... um pouco fraca,” respondia ela, agradecendo com um sorriso tímido.

Quando ela tinha desejos estranhos, como querer frutas que não existiam no Sonhar, ele moldava sonhos para recriá-las, entregando-lhe uma bandeja com sabores que só poderiam existir na imaginação. “É o suficiente?” perguntava ele, observando-a comer com um brilho de satisfação nos olhos.

“Mais do que suficiente,” ria ela, lambendo os dedos.

Durante caminhadas na praia onírica, ele a segurava pela cintura, guiando-a enquanto ela molhava os pés nas águas que brilhavam como estrelas líquidas. “Cuidado,” murmurava ele, certificando-se de que ela não escorregasse.

Em um momento de vulnerabilidade, enquanto tomavam banho juntos em uma banheira de mármore negro preenchida com água quente e fragrâncias oníricas, ele lavava seus cabelos com cuidado.

Ela inclinou a cabeça para trás, deixando-o beijá-la no pescoço. O beijo se aprofundou, e ela, surpreendentemente, correspondeu com fervor, suas mãos encontrando os ombros dele. “Você quer isso?” perguntou ele, a voz rouca contra sua pele.

“Quero,” respondeu ela, quase sem pensar, enquanto a água os envolvia. Ele a puxou para mais perto, as mãos deslizando por suas costas molhadas, explorando cada curva com desejo contido. Ela gemeu baixo quando ele a levantou levemente, posicionando-a contra a borda da banheira. O ritmo era lento, mas intenso, seus corpos se movendo juntos na água, o som dos suspiros misturando-se ao barulho das pequenas ondas que criavam. “Você é tão... perfeita,” sussurrou ele, beijando-a novamente enquanto alcançavam o auge, ofegantes e entrelaçados.

Depois, enquanto se secavam, ela riu de si mesma. “Acho que tenho síndrome de Estocolmo. Como posso gostar de você assim?”

Ele apenas sorriu, um raro toque de humor em seus olhos.

 

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

 

Semanas depois, com Briely já exibindo uma barriga de sete meses no tempo onírico, eles estavam deitados juntos na cama do quarto real.

A luz suave pulsava ao redor enquanto ela se virava para ele, os olhos cheios de emoção crua. “Preciso falar sobre tudo,” começou ela. “Você me forçou a casar, Me estuprou naquela floresta, Me tirou da minha vida. E eu Fiz sexo com você, mesmo achando que talvez seja só minha mente me enganando. Mas... eu te perdoo por tudo. Eu so Quero paz para nós e para nossos filhos.”

Ele a ouviu em silêncio, então segurou seu rosto. “Eu não posso desfazer o passado. Mas prometo um futuro digno de você e deles.” Ele a beijou, e ela não resistiu, aprofundando o contato.

Logo, estavam entrelaçados novamente, a roupa sendo descartada com cuidado. Ele a posicionou de lado, cuidando da barriga volumosa, suas mãos explorando-a com um misto de reverência e desejo. “Me diga se estiver desconfortável,” murmurou ele, enquanto se movia dentro dela, lento, mas firme.

“Não estou,” respondeu ela, ofegante, as mãos agarrando os lençóis enquanto o prazer crescia. Ele acelerou um pouco, respondendo aos gemidos dela, beijando seu ombro enquanto atingiam o clímax juntos, os corpos tremendo de intensidade.

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Alguns dias depois, Briely, agora com uma barriga que parecia de oito meses, acompanhava Morpheus em uma praia onírica dentro do Sonhar.
O vestido azul fluía ao vento, acentuando sua gravidez. Morpheus moldava novos sonhos com gestos precisos, enquanto ela o observava, sentada em uma rocha próxima, os pés descalços na areia etérea.

De repente, Lucienne apareceu, caminhando rapidamente pela areia, sua expressão séria, mas com um toque de alívio. “Meu lord, desculpe incomodá-lo enquanto está trabalhando, mas...”

Morpheus parou, virando-se para ela com uma sobrancelha erguida. “Há algo errado?”

“Não, na verdade é algo adorável,” respondeu Lucienne, um leve sorriso surgindo. “Um novo livro apareceu na biblioteca esta manhã, escrito por Rose Walker.”

“E como é?” perguntou ele, curioso.

“Você pode discordar da representação do rei na história, mas... eu adorei.

Ela é uma filha dos Perpétuos com uma grande história para contar.”

Morpheus assentiu, pensativo, enquanto Briely sorria ao ouvir a notícia. Depois que Lucienne se retirou, ela se aproximou dele, tocando seu braço. “Marido, por que não dá uma chance a Gault? Transforme-a em um novo Sonho. Ela quer mudar, você viu isso.”

Ele olhou para Gault ao longe, então para Briely, um leve sorriso curvando seus lábios. “Você tem um coração bondoso, minha esposa. Talvez eu deva ouvir mais suas sugestões.” Ele caminhou até Gault, enquanto Briely assistia, satisfeita, sentindo os bebês chutarem dentro dela. Pela primeira vez, sentiu que o Sonhar poderia realmente ser um lar.

Chapter 17

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

O Sonhar estava envolto em uma calma aparente naquela tarde, mas o ar parecia carregado de eletricidade, como se algo estivesse à espreita. Briely, já sentindo o peso avançado da gravidez, estava em uma câmara especial dentro do castelo, usada para rituais e visões.

Sua conexão com a água, um poder herdado de sua linhagem divina, vinha se intensificando, mas também se descontrolando. Pequenos riachos surgiam do nada ao seu redor, e o ar ficava úmido sempre que ela se agitava ou sentia fortes emoções.

Lucienne, com sua habitual compostura, conduzia um ritual onírico para tentar "visualizar" os bebês. Morpheus estava presente, de pé, braços cruzados e expressão indecifrável, mas seus olhos não deixavam sua esposa por um segundo.

Uma bacia de água onírica, que refletia visões como um espelho, estava no centro da sala. Lucienne murmurava palavras antigas, e a superfície da água começou a ondular.

Briely, sentada com dificuldade por causa da barriga, segurava as bordas da bacia com tensão. “E se não conseguirmos ver nada?” perguntou, a voz carregada de ansiedade.

Uma pequena onda surgiu na bacia, ecoando seu nervosismo, e gotas de água começaram a flutuar ao seu redor, sem controle.

Morpheus deu um passo à frente, colocando uma mão firme no ombro dela. “Relaxe meu amor. Seus poderes estão reagindo a você. Controle sua respiração.” Sua voz era um comando suave, e cheia de preocupação ali.

Ela respirou fundo, tentando se acalmar, e aos poucos as gotas de água caíram. Lucienne continuou o ritual, e finalmente a água na bacia formou imagens. Duas pequenas figuras, envoltas em brilhos, começaram a se revelar.

Uma era um pouco maior, com traços mais definidos, e a outra, menor, parecia mais delicada. Lucienne sorriu levemente. “É um menino e uma menina. O menino é o mais velho, e a menina, a mais nova.”

Briely sentiu lágrimas brotarem nos olhos, um sorriso iluminando seu rosto. “Um menino e uma menina... eu sabia que eram dois, mas agora... agora é real.”

Ela riu, uma risada de pura alegria, mas a emoção fez com que uma pequena onda de água surgisse da bacia, molhando o chão ao redor. “Desculpe, não consigo controlar isso.”

Morpheus não se moveu, mas sua expressão suavizou por um breve momento. “Não se preocupe com isso minha querida esposa.” Ele não disse mais, mas permaneceu ao lado dela, observando enquanto Lucienne anotava os detalhes do ritual.

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Alguns dias depois, o Sonhar foi abalado por uma presença inesperada. Um portal de água espumante se abriu nos portões do castelo, e de lá emergiu Poseidon, o deus dos mares, com sua postura imponente e tridente reluzente.

Sua presença era como uma tempestade contida, o ar ao seu redor carregado de sal e fúria. Ele não havia sido convidado, mas isso claramente não o deteve.

Morpheus, alertado pelos dos guardas, apareceu diante do portão antes que Poseidon pudesse avançar mais. Seu manto escuro parecia absorver a luz ao redor, e sua expressão era de frieza absoluta. “Poseidon. Sogro, a que devo a intrusão?” perguntou, a voz cortante como uma lâmina.

O deus dos mares o encarou, os olhos brilhando profundo e perigoso. “Não vim por você, Sonho. Vim ver minha filha. Não me faça esperar.” Ele bateu o tridente no chão, fazendo o solo do Sonhar tremer levemente, água surgindo em poças ao seu redor.

Morpheus cerrou os punhos por um instante, mas seu rosto permaneceu impassível. “Você não foi convidado. Mas, por ela, permitirei que a veja. Siga-me. E Controle sua tempestade.” Havia um aviso claro em suas palavras, mas Poseidon apenas deu um sorriso sombrio, seguindo-o pelo castelo.

Briely estava no jardim, sentada sob uma árvore onírica que emitia uma luz suave. Sua gravidez estava avançada, e ela parecia cansada, mas os olhos brilharam de felicidade ao ver a figura de Poseidon se aproximando. “Pai!” exclamou, levantando-se com dificuldade, um sorriso genuíno no rosto.

Embora soubesse que ele era a contraparte do pai de seu universo, o laço emocional que sentia era real.

Poseidon correu até ela, apoiando-a com uma mão forte e gentil. “Minha menina, olhe para você. Tão forte, e carregando vida.” Ele a abraçou com cuidado, e ela sentiu lágrimas de emoção.

“Trouxe algo para você e para meus netos.” Ele tirou de seu manto dois pequenos amuletos feitos de coral e conchas, pulsando com energia marítima. “Para protegê-los. E para você, um bracelete. Que a força do mar esteja sempre com você.”

Briely pegou os presentes, os olhos brilhando. “Obrigada, pai. E... eu descobri algumas semanas atrás. É um menino e uma menina.” Sua voz estava cheia de orgulho.

O rosto de Poseidon se iluminou com um sorriso largo, quase infantil. “Um menino e uma menina! Meus primeiros netos! Que os mares os abençoem com força e coragem.” Ele riu, um som grave como o rugido das ondas, e passou a mão pela cabeça dela com carinho.

Antes de partir, Poseidon se aproximou de Morpheus, que observava a cena de longe com um olhar gélido. O deus dos mares baixou a voz, mas o tom era puro veneno. “Escute bem, Sonho.

Não te perdoo pelo que fez com ela. Forçá-la a isso, é também a esse casamento, depois de tudo... Se eu descobrir que a machucou de novo, ou que algo acontece aos meus netos, nem o Sonhar te protegerá. Vou arrastar você até o fundo do oceano e fazer você sentir cada onda como uma lâmina. Está avisado.”

Morpheus não se moveu, os olhos fixos nos de Poseidon. “Cuide de suas ameaças, deus do mar. Ela e minha esposa, assim como os filhos dela são meus filhos também. Se veio apenas para isso, sua visita terminou.” Sua voz era um murmúrio perigoso, mas ele não recuou.

Poseidon bufou, mas voltou-se para sua filha,seu rosto suavizando imediatamente. “Cuide-se, minha filha. Logo virei para conhecer meus netos.” Ele a abraçou mais uma vez, beijando sua testa, antes de lançar um último olhar cortante para Morpheus.

“Cuide bem dela e dos meus netos, Sonho. Ou não haverá reino que te salve.” Com isso, ele abriu um portal de água e desapareceu, deixando o ar carregado de sal e tensão.

Briely olhou para Morpheus, com a troca de olhares, mas não disse nada. Ela apenas segurou os presentes de Poseidon contra o peito, um sorriso ainda nos lábios enquanto voltava a se sentar.

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Os dias seguintes foram de crescente inquietação no Sonhar. Os poderes de água de Briely estavam cada vez mais instáveis.

Pequenas tempestades se formavam ao seu redor sem motivo aparente, e riachos brotavam do chão do castelo sempre que ela sentia dor ou ansiedade.

As contrações, agora mais frequentes, só pioravam a situação. O próprio Sonhar parecia reagir a ela, o céu onírico frequentemente coberto por leves chuvas e nuvens escuras.

 

alguns dias depois, Briely estava no escritório de Morpheus, tentando se distrair com um livro enquanto ele trabalhava. Uma contração forte a atingiu de repente, fazendo-a largar o livro e segurar a borda da poltrona com força.

“Ahh...” gemeu ela, tentando respirar, mas então sentiu um jorro quente entre as pernas. A bolsa havia estourado.

“Morpheus!” gritou, o pânico tomando conta. Água começou a se formar ao seu redor, um pequeno redemoinho girando no chão, refletindo seu descontrole emocional.

Ele se virou instantaneamente, abandonando o trabalho, e estava ao lado dela em um piscar de olhos. “O que aconteceu?” perguntou, a voz firme, mas os olhos percorrendo-a com urgência.

“Minha bolsa... estourou. Os bebês, Eles estão vindo agora!” disse ela, a voz tremendo, enquanto outra contração a fez se curvar de dor.

O redemoinho ao seu redor cresceu, e gotas de chuva começaram a cair dentro do escritório, como se o próprio Sonhar sentisse sua agonia.

Morpheus a pegou no colo, um braço sob os joelhos, outro nas costas, carregando-a com facilidade. “Respire. Estou aqui. Vai ficar tudo bem,” disse ele, enquanto a levava para a câmara preparada.

Sua voz tentava ser um ponto fixo no caos, mas Briely mal conseguia ouvi-lo por causa da dor. Ele chamou: “Lucienne! Elyndra!” O eco de seu comando ressoou pelo castelo.

Enquanto a carregava, a chuva no Sonhar se intensificou. O céu onírico, antes apenas nublado, agora despejava uma tempestade, raios cortando o horizonte.

Os ventos uivavam, e os sonhos de muitos mortais começaram a refletir a turbulência, cheios de inundações e mares revoltos. Os poderes dela, descontrolados, moldavam o reino à sua volta.

No quarto, Lucienne e Elyndra já esperavam. Elyndra, com seus cabelos de névoa e olhos de luz, aproximou-se imediatamente.

“Minha rainha, vamos ajudá-la. Confie em nós,” disse, a voz como um sussurro calmante, enquanto colocava as mãos sobre a barriga dela, tentando estabilizar a dor.

Briely foi deitada na cama, a dor das contrações a fazendo gritar. “Dói tanto... não consigo parar isso!” soluçou, enquanto a chuva entrava pela janela aberta da câmara, molhando o chão.

Sua mão apertava a de Morpheus com força desumana. Entre os gritos, a raiva e o desespero transbordaram. “Isso é culpa sua, Morpheus! Por que você fez isso comigo? Eu não estaria sofrendo assim se não fosse por você!” gritou ela, lágrimas de dor e frustração escorrendo pelo rosto enquanto outra contração forte a atingia, fazendo-a chorar alto. “Eu te odeio por isso!”

Morpheus não recuou, mesmo com as palavras cortantes. Ele se inclinou sobre ela, beijando sua testa suavemente, o gesto carregado de uma ternura. “Eu sei, eu sei meu amor. Mas vai ficar tudo bem. Estou aqui. Você está indo bem, esposa. Continue,” murmurou ele, segurando firme sua mão, sem soltá-la por um segundo. Seus olhos, estavam fixos nos dela, cheios de uma intensidade.

Lucienne orientava os movimentos, enquanto Elyndra canalizava energia para aliviar a dor. “Empurre agora minha rainha!” comandou Lucienne, a voz firme. Briely obedeceu, gritando com o esforço, o corpo tremendo. O Sonhar rugia lá fora, a tempestade em perfeita sintonia com seus gritos.

Após horas de agonia, o primeiro choro cortou o ar. Elyndra pegou o bebê, limpando-o com um tecido. “É o menino, o mais velho,” anunciou, entregando-o a um servo para que fosse limpo. Mas não havia tempo para alívio. Briely gritou novamente, a dor do segundo nascimento ainda mais intensa.

“Não para... por favor, ajudem!” implorou, exausta, enquanto a chuva se tornava um dilúvio do lado de fora, rios se formando nos corredores do castelo. Elyndra colocou as mãos sobre ela novamente, murmurando encantamentos para acalmar lá, mas até sua magia tinha limites contra o descontrole de Briely.

Morpheus continuou ao lado dela, a voz rouca de emoção contida. “Só mais um pouco meu amor. Você consegue. Estou aqui.” Ele não deixou que ela desviasse o olhar, mantendo-a ancorada enquanto beijava sua testa mais uma vez. “Você está indo bem. Continue.”

Finalmente, após um esforço que quase a fez desmaiar, o segundo choro ecoou. Lucienne segurou a pequena figura. “A menina. Estão ambos bem,” disse, aliviada. Elyndra ajudou a preparar os bebês, envolvendo-os em tecidos que brilhavam suavemente, antes de colocá-los gentilmente na cama ao lado de Briely.

Com um leve aceno respeitoso, Elyndra, Lucienne e os outros servos recuaram, saindo da câmara em silêncio para deixar os pais a sós com os recém-nascidos.

Briely, exausta e pálida, olhou para os bebês ao seu lado na cama, lágrimas de alegria e alívio misturando-se no rosto. “Vocês... vocês estão aqui,” sussurrou, a voz entrecortada por soluços. Ela estendeu as mãos trêmulas, querendo tocá-los, mas mal tinha forças.

Morpheus sentou-se na cama ao lado dela, inclinando-se para beijá-la suavemente na testa mais uma vez. “Você foi incrível esposa,” disse ele, a voz baixa, cheia de algo que parecia admiração. Ele pegou a menina no colo com um cuidado quase reverente, enquanto Briely pegava e segurava o menino, trazendo-o para perto de seu peito. Seus olhos se encontraram por um momento, um silêncio carregado de emoções entre eles.

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Ele observou os bebês, claramente encantado, os traços suavizando ao notar as semelhanças. “Eles se parecem tanto conosco,” murmurou, quase para si mesmo.

O menino tinha os olhos intensos de Morpheus, enquanto a menina carregava os traços delicados de Briely, mas com um brilho que parecia ecoar o Sonhar. Ele passou o braço pela cintura de Briely, puxando-a gentilmente para mais perto, o gesto protetor e íntimo. Inclinou-se e a beijou nos lábios, um beijo lento, carregado de emoções.

Depois, ele afastou-se apenas o suficiente para passar a mão pelo cabelo do menino no colo da esposa, acariciando-o com carinho.

“Eles são perfeitos,” disse, a voz quase um sussurro, os olhos voltando-se para a menina em seus braços, como se não pudesse acreditar que eram reais.

Briely apoiou a cabeça no ombro dele, ainda chorando suavemente, mas agora de felicidade. O Sonhar, lá fora, havia se acalmado, a tempestade dando lugar a uma brisa suave e a um céu limpo, como se refletisse a paz que, pelo menos por aquele momento, tomava conta da câmara.

Briely, ainda com a respiração ofegante e os olhos marejados de felicidade, levantou a cabeça apenas o suficiente para olhar para a menina no colo de Morpheus. Um sorriso fraco, mas genuíno, curvou seus lábios. “Ela é tão linda,” sussurrou, a voz carregada de emoção.

Com um movimento lento e cuidadoso, ela estendeu os braços, pedindo silenciosamente para segurá-la também.

Morpheus entregou a menina com um cuidado quase solene, seus dedos demorando um pouco ao passar a pequena para os braços da mãe. Em troca, ele pegou o menino do colo de Briely, segurando-o com firmeza, mas com uma ternura.

Enquanto olhava para o rosto do bebê, seus pensamentos se voltaram para um lugar de certeza absoluta. Eles eram uma família agora, completa, e nada, nem qualquer força do universo — os separaria. Ele segurou o menino mais perto, como se pudesse proteger aquele momento para sempre.

Briely, com ambos os bebês agora em seus braços, ajustou-se na cama com dificuldade, o corpo ainda exausto do parto. Morpheus percebeu e se aproximou ainda mais, ajudando-a a se posicionar. “Deixe-me ajudar,” murmurou, a voz baixa enquanto suas mãos guiavam os bebês para que ela pudesse amamentá-los.

Ele ficou ao lado dela, um braço ao redor de seus ombros como um pilar de apoio, enquanto ela, mesmo trêmula, conseguia alimentar os pequenos.

Os bebês eram quietos, quase angelicais, fazendo pequenos sons suaves enquanto se aconchegavam a ela. Seus rostinhos eram fofos, redondos, com traços delicados que misturavam os pais de uma forma que parecia quase mágica.

“Eles são tão calmos,” disse Briely, a voz fraca, mas cheia de espanto. Ela olhou para Morpheus, os olhos brilhando com uma ideia. “Eu... eu tenho nomes em mente para eles. O que acha de...” Ela hesitou, como se quisesse ouvir a opinião dele

antes de continuar, mas antes que pudesse terminar, um bocejo profundo a interrompeu. Seus olhos começaram a pesar, o cansaço finalmente vencendo a adrenalina do momento.

Morpheus notou imediatamente. Ele inclinou-se para perto, os lábios roçando suavemente a testa dela em um beijo gentil. “Descanse agora meu amor. Você fez mais do que o suficiente,” disse, a voz quase um sussurro, carregada de um carinho que raramente demonstrava abertamente. “Eu cuido de tudo.”

Briely tentou protestar, mas suas pálpebras já se fechavam. “Só... só um pouco,” murmurou, antes de ceder completamente, adormecendo com os bebês ainda em seus braços. Seu rosto, mesmo no sono, parecia em paz, um contraste gritante com a agonia de horas antes.

Com um cuidado infinito, Morpheus pegou os bebês, um em cada braço, para que ela não fosse perturbada. Ele se levantou devagar, levando a esposa no colo com uma força que parecia não exigir esforço.

Caminhou até o quarto deles, os corredores do Sonhar agora silenciosos, a tempestade de antes reduzida a uma brisa calma lá fora. Ele a deitou na cama com delicadeza, ajeitando os cobertores ao redor dela para que ficasse confortável. Depois, voltou sua atenção aos bebês.

No canto do quarto, um berço duplo que ele mesmo havia preparado semanas antes esperava, moldado a partir de sonhos de aconchego e segurança. Era feito de um material onírico que parecia madeira estrelada, com detalhes que brilhavam suavemente como constelações.

Ele colocou os bebês ali, um ao lado do outro, ajustando os tecidos que os envolviam para que ficassem aquecidos. Por um longo momento, ele apenas ficou ali, parado, olhando para eles.

Seus dedos roçaram de leve a bochecha do menino, depois a da menina, como se quisesse se convencer de que eram reais. “Vocês são a minha força agora,” murmurou, a voz tão baixa que mal era audível, apenas para eles.

Seus olhos, estavam cheios de algo que parecia vulnerabilidade. Ele ficou ali, vigiando os pequenos, o peso de ser pai — e tudo o que isso significava em um reino como o Sonhar — começando a se instalar em seu peito. Pela primeira vez em eras, Morpheus sentiu algo além do dever ou da eternidade: ele sentiu propósito.

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Morpheus permaneceu ao lado do berço por horas, os olhos fixos nos bebês como se estivesse guardando um tesouro. A luz suave do Sonhar refletia nos rostinhos deles, e ele não conseguia desviar o olhar, fascinado por cada pequeno movimento, cada respiração tranquila.

Era mais do que proteção. Eles eram a prova de que Briely era sua. Ele moldou secretamente um sonho para ela enquanto dormia, um sonho doce e vívido de sua nova família, os quatro juntos.

Ele sorriu para si mesmo, um sorriso frio e calculista, enquanto plantava as imagens em sua mente, garantindo que até em seus sonhos, ela só pensasse nele e no que ele havia construído para ela.

Quando Briely acordou, horas depois, seus olhos ainda estavam pesados, mas um brilho de contentamento pairava neles, um resquício do sonho que Morpheus havia tecido.

Ela se levantou devagar, o corpo dolorido, e o viu ao lado do berço. Ele a observou com um olhar intenso. Sem dizer uma palavra, ele se aproximou, puxando-a para seu colo enquanto se sentava em uma cadeira próxima ao berço.

Ela não resistiu, acomodando-se contra ele, enquanto seus olhos se voltavam para os bebês adormecidos.

Morpheus repousou o queixo no ombro dela, os braços envolvendo-a por trás em um abraço. Seu toque era gentil, mas havia uma firmeza que lembrava a ela quem estava no controle.

Em sua mente, um pensamento sombrio se formou, tingido de uma certeza doentia. “Agora ela nunca mais tentará me deixar. Nunca. Esses bebês, essa família... ela está presa a mim para sempre.” Ele apertou um pouco mais os braços ao redor dela, como se pudesse fundi-la a si mesmo, um gesto que parecia amor, mas carregava a sombra de sua obsessão.

Ele respirou fundo contra o pescoço dela, então falou, a voz baixa e carregada de intenção. “Vamos tomar banho. Você precisa se cuidar agora.” Ele não esperou por uma resposta, levantando-se com ela ainda nos braços, levando-a para o banheiro anexo ao quarto.

O espaço era vasto, moldado pelo Sonhar, com uma banheira de bordas escuras que parecia mais um lago onírico, a água já quente e fumegante, como se ele houvesse preparado tudo antecipadamente.

Eles entraram juntos, a água envolvendo seus corpos enquanto Morpheus se posicionava atrás dela, os braços envolvendo sua cintura com cuidado, mas sem soltá-la por um segundo.

Ele descansou o queixo no ombro dela novamente, “Você mencionou nomes para eles,” murmurou, a voz suave, mas com um tom que parecia testar cada palavra dela. “Quais são?”

Briely hesitou por um momento, sentindo a presença dele tão próxima, quase sufocante, mas respondeu com um sussurro. “Eu sempre gostei do nome Helena... Quero dalo para a nossa filha.”

Ele inclinou a cabeça levemente, os lábios roçando a pele dela enquanto pensava. ”Helena. É bonito, eu Concordo. Helena será o nome dela.” Sua voz tinha um tom de aprovação, mas era claro que ele só secretamente aceitava porque o nome não carregava nenhuma ameaça, nenhum eco do passado dela.

“E para o nosso filho?” perguntou, os dedos traçando círculos leves na cintura dela, um gesto carinhoso.

Ela respirou fundo, sabendo que precisava escolher as palavras com cuidado. “Tenho algumas opções em mente... Perseu, em homenagem ao meu irmão gêmeo, Ethan, Lucerys... ou Luke.”

No instante em que ela pronunciou “Luke”, os dedos de Morpheus se cravaram em sua cintura, um aperto súbito e possessivo que a fez congelar.

Seus olhos escureceram, e a tensão no ar se tornou palpável. Ele sabia exatamente quem era Luke — o nome de alguém que ela havia amado no passado, no universo dela, alguém que, felizmente, estava morto há muito tempo. “Não,” disse ele, a voz cortante, sem espaço para discussão. “Nosso filho não terá esse nome.”

Briely virou o rosto para ele, tentando justificar, a voz trêmula. “Mas... é só um nome, eu só achei que—”

“Não,” ele interrompeu, o tom mais duro, os olhos brilhando com uma ira contida, mas crescente. “Eu disse que não. Não vou permitir que o nome de outra pessoa manche o que é nosso.” Seu aperto relaxou apenas o suficiente para não machucá-la, mas a mensagem era clara. Ele não toleraria nenhum resquício do passado dela, nem mesmo em algo tão pequeno quanto um nome.

Percebendo a raiva que se formava nele, Briely tentou apaziguá-lo rapidamente, o medo misturado com a exaustão em sua voz. “Então... que tal Perseu? Em homenagem ao meu irmão. Que tal? Só isso. Por favor.”

Morpheus ficou em silêncio por um momento, avaliando as palavras dela, os olhos percorrendo o rosto dela como se procurasse qualquer sinal de resistência. Então, assentiu, a expressão suavizando apenas um pouco. “Perseu. Sim, pode ser. Em homenagem ao seu irmão.” Ele aceitou, mas havia uma frieza em sua concessão, uma lembrança de que até isso era uma permissão dada por ele, não uma escolha livre dela.

A conversa terminou ali, o silêncio pesado entre eles enquanto terminavam o banho. Ele a ajudou a se secar e trocar, Depois, eles voltaram juntos ao quarto, aproximando-se do berço onde os bebês ainda dormiam pacificamente.

Briely os observou, um sorriso frágil nos lábios, enquanto acariciava a cabeça de cada um com delicadeza. Morpheus ficou ao lado dela, a mão deslizando para sua cintura, segurando-a com firmeza enquanto a puxava mais para perto de si.

“Preparei um quarto para eles,” disse ele, a voz baixa, quase um teste para ver a reação dela.

Ela assentiu, mas logo acrescentou, hesitantemente. “Podemos... podemos deixá-los aqui conosco por um tempo? No nosso quarto? Só por enquanto.”

Ele olhou para ela, os olhos estreitando-se por um breve segundo, mas então suavizaram. Incapaz de negar algo tão simples a ela — não quando isso a mantinha ainda mais perto dele —, ele cedeu. “Está bem. Por enquanto, eles ficam aqui.” Sua voz era gentil, mas havia um brilho sombrio em seus olhos, uma satisfação.

Briely se inclinou um pouco mais sobre o berço, os dedos ainda acariciando os cabelos finos dos bebês. “Helena,” murmurou para a menina, depois virou-se para o menino, “e Perseu.” Sua voz era doce, cheia de amor, mas também carregava uma melancolia que Morpheus percebia, mesmo que não comentasse.

Ele ficou ao lado dela, o braço em sua cintura se apertando levemente.

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Briely permaneceu inclinada sobre o berço, os dedos suaves deslizando pelos cabelos finos de Helena e Perseu. Seus olhos refletiam uma ternura que parecia desafiar o ambiente opressivo do quarto

Ele estava ao lado dela, o braço firme em sua cintura, um lembrete constante de sua posse. O silêncio entre eles era denso, mas, para ela, havia algo mais profundo, algo que ia além do medo e da resignação.

Mesmo depois de tudo que ele havia feito, a estuprar, aprisioná-la, arrancar dela qualquer chance de voltar ao seu mundo, forçala a se casar com ele, o coração bondoso dela ainda buscava uma forma de reconciliar-se com a situação, de encontrar paz onde não parecia haver nenhuma.

Ela se endireitou devagar, virando o rosto para ele. Seus olhos encontraram os abismos negros dele, cheios de uma obsessão que nunca diminuía, e por um momento, ela hesitou. Então, com uma voz baixa, quase um sussurro, falou algo que ecoava um sentimento que já tinha expressado antes.

“Eu já te perdoei uma vez, você sabe disso. Quando eu estava grávida... eu te disse que não queria viver com ódio, eu queria paz e precisava deixar isso para trás por mim e por eles. E eu ainda sinto o mesmo. Não posso carregar raiva para sempre. Não quero que isso me destrua. Então, eu te perdoo de novo, ou melhor, eu reafirmo isso. Por eles, é Por mim.”

Morpheus a encarou, os olhos se estreitando por uma fração de segundo, como se estivesse revisitando aquele momento meses atrás, durante a gravidez, quando ela, com lágrimas nos olhos e exaustão no corpo, havia pronunciado palavras similares.

Ele lembrava vividamente da vulnerabilidade dela naquela época, da forma como sua voz tremia enquanto dizia que o perdoava, mesmo que ele nunca tivesse pedido por isso.

Naquele dia, ele havia sentido algo próximo a triunfo, mas também uma pontada de incompreensão. Como alguém podia perdoar tanto depois de ter tudo tirado? Agora, ouvindo-a reafirmar aquele perdão, ele sentiu o mesmo misto de satisfação e estranheza.

Sua mão na cintura dela se apertou levemente, um movimento instintivo de posse, antes de relaxar. Um sorriso frio e calculado curvou seus lábios. “Você me perdoa esposa ... de novo,” repetiu, a voz baixa, quase como se estivesse saboreando as palavras. Ele inclinou a cabeça, o rosto tão perto do dela que ela pôde sentir a frieza de sua presença.

“Você é um enigma, minha querida esposa. Tão disposta a abrir mão de sua raiva, mesmo quando eu não peço por isso. Mesmo quando eu não me arrependo de nada.”

Ela baixou o olhar por um instante, as mãos ainda perto do berço, como se tocar os filhos pudesse ancorar seus sentimentos tumultuados. “Eu sei que você não se arrepende,” murmurou, a voz carregada de uma tristeza resignada.

“E eu não estou dizendo isso porque acho que você vai mudar. Não é sobre você... é sobre mim. Quando eu estava grávida, percebi que odiar você só me machucava mais. Eu estava tão... tão assustada, mas carregar esse peso no coração não mudava nada.

Então, decidi te perdoar. E agora, com eles aqui, eu preciso manter essa escolha. Não por você, mas para que eu possa ser uma mãe para eles sem estar quebrada por dentro.”

Morpheus a observou em silêncio por um longo momento, os olhos percorrendo cada traço do rosto dela, como se tentasse dissecar aquela bondade que parecia tão alheia a ele.

Então, ele a puxou mais para perto, os braços envolvendo-a por completo enquanto enterrava o rosto no pescoço dela, inspirando profundamente, um gesto que era tanto de afeição quanto de domínio. “Sua bondade é... desconcertante,” disse contra a pele dela, a voz rouca. “Você me perdoou antes, no auge da sua vulnerabilidade, carregando meus filhos, e agora de novo, mesmo sabendo que não vou soltá-la nunca.

Eu não entendo isso, mas aceito. " E vou usar esse perdão para mantê-la ainda mais perto. Você é minha, e agora, com Helena e Perseu, esse laço é inquebrável. Seu coração bondoso só torna isso mais doce.” pensou ele.

Ela sentiu um arrepio, não de conforto, mas da percepção clara de que seu perdão, para ele, era apenas mais uma ferramenta, mais uma prova de que ela estava se rendendo ao mundo que ele havia construído ao seu redor.

Ainda assim, não retrucou. Apenas assentiu quase imperceptivelmente, os olhos voltando para os bebês no berço. “Eu só quero que eles sejam felizes,” sussurrou, a voz cheia de um desejo tão puro que parecia deslocado ali. “Quero que eles tenham algo bom, mesmo aqui.

"Algo que eu não tive por um tempo.” Era uma confissão, um eco da dor de ter sido arrancada de sua vida, da chance de voltar pra casa pra sua família, o Acampamento Meio-Sangue, de seus amigos, de tudo que conhecia, mas ela também tem uma esperança teimosa que seu bom coração se recusava a abandonar.

Morpheus ergueu a cabeça, o sorriso ainda presente, os olhos brilhando com uma satisfação sombria. “Eles terão tudo o que precisarem. Eu garanto. Assim como você terá tudo... comigo.

Não há mais nada além disso, além de nós.” Ele depositou um beijo lento na testa dela, um gesto que parecia carinhoso, mas que carregava o peso de uma reivindicação.

Na mente dele, o perdão dela, tanto o primeiro quanto este, era um troféu, uma vitória silenciosa. Quando ela o perdoou pela primeira vez, grávida e vulnerável, ele viu aquilo como o começo do fim de sua resistência.

Agora, essa reafirmação só solidifica sua crença de que ela estava se moldando a ele, de que o passado dela estava se dissolvendo. Ele secretamente usaria essa bondade contra ela, transformaria cada pedaço de sua vontade até que só restasse o que ele queria que restasse.

Enquanto permaneciam diante do berço, o silêncio voltou a cair sobre eles. Briely sentiu o aperto do braço dele em sua cintura, a proximidade sufocante de seu corpo, e, por um instante, deixou-se acreditar que talvez pudesse sobreviver ali, que seu perdão, mesmo sendo uma escolha para si mesma, poderia trazer algum tipo de paz para sua nova realidade.

Mas no fundo, sabia que isso não mudava a essência de sua situação: apesar de tudo Morpheus nunca a deixaria escapar.

Ele, enquanto isso, observava os bebês com um olhar de posse inabalável. O perdão dela, repetido agora, era mais um degrau na escada que ele havia construído para mantê-la presa.

“Vocês são meus,” sussurrou, tão baixo que ela não ouviu, os olhos fixos em Helena e Perseu, mas a mente centrada nela. “Todos vocês. Para sempre.”

Notes:

Conhecemos os pequenos gêmeos perseu e Helena ✧

Chapter Text

Os dias seguintes ao nascimento de Helena e Perseu trouxeram uma nova energia ao Sonhar, algo que parecia quase tangível, reverberando pelas paisagens oníricas e pelos corredores do castelo.

A notícia do nascimento dos filhos do Senhor dos Sonhos se espalhou rapidamente, um murmúrio que ecoava entre os habitantes do reino. Dos corvos aos sonhos e pesadelos que habitavam os domínios de Morpheus, todos sabiam que algo monumental havia acontecido.

Briely, nesses primeiros dias, parecia transformada. A melancolia que antes pesava em seus ombros, que a fazia parecer uma sombra de si mesma, havia sido substituída por uma luz suave, um brilho de esperança que ela carregava nos olhos ao olhar para seus bebês.

Pela primeira vez em muito tempo, havia um sorriso genuíno em seus lábios, um que não era forçado ou tingido de resignação.

Ela passava horas com Helena e Perseu, ninando-os, cantando baixinho melodias que lembrava de sua mãe cantando pra ela na infância, enquanto Morpheus a observava de perto, sempre presente, o braço constantemente em sua cintura ou ombro, como se temesse que ela pudesse desaparecer.

Naquela manhã, o castelo estava mais animado do que de costume. Os moradores do Sonhar, curiosos e respeitosos, vieram prestar suas homenagens. Briely, com um bebê em cada braço, desceu as escadas de mármore negro do salão principal, seus passos leves, quase dançantes, enquanto exibia seus filhos.

Morpheus caminhava ao lado dela, a mão firme em sua cintura, os olhos brilhando com uma mistura de posse e um orgulho genuíno que poucos no Sonhar haviam visto antes. Seu manto negro ondulava atrás dele como uma sombra viva, mas seu rosto, normalmente impassível, carregava um leve sorriso, quase imperceptível, enquanto observava a esposa e seus filhos.

“Venham, quero que conheçam Helena e Perseu,” disse ela, a voz cheia de entusiasmo enquanto se aproximava de um pequeno grupo que os aguardava. Matthew, o corvo de olhos afiados, estava empoleirado em um candelabro próximo, inclinando a cabeça com curiosidade.

Mervyn, o zelador rabugento, estava ao lado de Lucienne, a bibliotecária de expressão serena, enquanto Cain e Abel, sempre em sua dinâmica de conflito e reconciliação, trocavam olhares ansiosos.

“Olha só isso,” crocitou Matthew, voando para mais perto e pousando no ombro de Morpheus, que não pareceu se importar. “Dois pequenos Sonhos! Quem diria, hein?”

Briely riu suavemente, ajustando Perseu em seu braço esquerdo para que todos pudessem ver seu rostinho. “Este é Perseu, e esta,” ela inclinou o braço direito com ternura, mostrando a menina, “é Helena. Meus pequenos.”

Morpheus, com um movimento fluido, estendeu as mãos e pegou Helena gentilmente do braço da esposa, segurando-a contra o peito com um cuidado que contrastava com a intensidade de seu olhar.

A menina bocejou em seus braços, os olhinhos fechados, e ele a observou com uma devoção quase tangível. “Minha pequena Helena,” murmurou, baixo o suficiente para que apenas Briely ouvisse, mas o tom carregava uma posse inquestionável.

Lucienne, ajustando os óculos com um leve sorriso, deu um passo à frente. “Eles são adoráveis, minha senhora. É bom vê-la tão feliz.” Havia uma sinceridade em suas palavras, mas também uma pitada de alívio.

Lucienne, que testemunhara os dias sombrios de Briely no Sonhar, sabia que aquele sorriso era uma raridade, um vislumbre de luz em meio à escuridão que a cercava.

“Obrigada, Lucienne,” respondeu Briely, seus olhos brilhando enquanto acariciava a cabecinha de Perseu. “Eles... eles mudaram tudo.”

Morpheus, ainda segurando Helena com um braço, voltou sua atenção para a esposa. Seus olhos percorreram o rosto dela, absorvendo cada traço de sua felicidade, e um pensamento sombrio, mas cálido, formou-se em sua mente.

*Ela está radiante. Essa luz... eu quero mais disso. Mais dela. Mais filhos nossos, para que essa felicidade nunca desapareça, para que ela nunca pense em nada além de mim e do que construímos.* Ele inclinou a cabeça levemente, os lábios curvando-se em um sorriso calculado, enquanto a outra mão apertava a cintura dela com firmeza.

“Você está magnífica, minha querida,” disse, a voz baixa e cheia de intenções que só ele compreendia por completo. “Ver você assim, com nossos filhos... é um presente.”

Briely, sentindo o peso de seu olhar, mas não retrucou, apenas desviou os olhos para Perseu, como se buscasse refúgio na presença do filho. Morpheus, no entanto, não tirou os olhos dela, sua mente já girando com planos, com o desejo de expandir ainda mais o laço que os unia.

De repente, ele ergueu a voz, chamando a atenção de todos no salão. “Haverá uma celebração,” anunciou, o tom firme, mas carregado de uma alegria controlada. “Um banquete, uma festa em honra ao nascimento dos meus filhos, Helena e Perseu. O Sonhar inteiro deve comemorar este momento.”

Lucienne assentiu imediatamente, sempre prática. “Deixarei tudo preparado, meu senhor. Os convites serão enviados, os salões decorados, e cuidarei de cada detalhe para que a celebração esteja à altura de tal ocasião.”

“Excelente,” respondeu Morpheus, seus olhos ainda fixos em Briely, como se o resto do mundo fosse irrelevante. Ele se inclinou para ela, depositando um beijo suave em sua testa, um gesto que parecia doce para os outros, mas que carregava o peso de sua posse.

“Quero que todos vejam o que construímos, minha amada. Quero que saibam que você é minha, e que nossos filhos são a prova disso.”

Briely sentiu um arrepio com suas palavras, mas forçou um sorriso, tentando manter o foco na felicidade do momento. “Será bom ter uma festa,” disse suavemente, ajustando Perseu em seu braço. “Quero que Helena e Perseu sejam bem-vindos por todos aqui.”

Mervyn resmungou algo sobre ter mais trabalho para limpar depois, mas até ele parecia incapaz de resistir ao charme dos bebês, lançando um olhar quase terno na direção deles.

Cain e Abel, por sua vez, começaram a discutir sobre quem daria o melhor presente para as crianças, mas logo se calaram ao perceberem o olhar cortante de Morpheus.

Enquanto os habitantes do Sonhar se dispersavam, cada um voltando a suas tarefas ou comentando sobre a festa que viria, Morpheus puxou Briely para mais perto, ainda segurando Helena com um braço.

“Você está feliz, não está?” perguntou, a voz rouca, quase como se estivesse buscando uma confirmação que já sabia que teria. “Com eles, conosco... com tudo isso.”

Ela hesitou por um instante, os olhos voltando-se para Perseu, depois para Helena nos braços dele. Então, assentiu lentamente. “Sim... estou. Eles me fazem feliz. Mesmo aqui, mesmo depois de tudo... eles são minha luz.”

Os olhos de Morpheus brilharam com uma satisfação sombria. Ele inclinou-se mais uma vez, os lábios roçando a orelha dela enquanto sussurrava.

“E eu farei de tudo para que essa luz nunca se apague. Farei de tudo para que você nunca precise de nada além de mim e do que temos. Mais filhos, mais laços... tudo o que for preciso.”

Briely congelou por um momento, sentindo o peso de suas palavras, mas não respondeu. Apenas apertou Perseu um pouco mais contra o peito, como se buscasse conforto na presença de seu filho, enquanto Morpheus a segurava com firmeza, seu olhar fixo no futuro que ele já estava planejando para eles.

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O dia da grande festa no Sonhar amanheceu com uma energia vibrante, os ventos oníricos carregando sussurros pelos corredores do castelo.

Horas antes do evento, o quarto de Briely e Morpheus estava envolto em uma calma temporária, quebrada apenas pelos sons suaves dos bebês e pelos movimentos delicados dela enquanto os arrumava. Helena e Perseu, ainda tão pequenos, pareciam alheios à grandiosidade que os aguardava, descansando em seus berços enquanto a mãe se preparava para vesti-los.

Briely, com um vestido simples mas elegante de tons azulados que remetiam ao mar de sua linhagem, pegou dois pequenos amuletos que repousavam sobre uma mesinha ao lado do berço.

Eram os presentes que Poseidon,ele havia lhe dado durante a gravidez — dois objetos de coral e conchas, pulsando com uma energia marítima que parecia viva, quase como se o próprio oceano estivesse encapsulado neles.

“Para protegê-los,” ele havia dito com sua voz profunda e retumbante, e ela segurava os amuletos agora com um carinho reverente, sentindo a conexão com seu pai e seu passado.

Com delicadeza, ela colocou um amuleto ao redor do pescoço de Perseu, ajustando a fina corrente para que não o incomodasse, e depois fez o mesmo com Helena, murmurando baixinho enquanto o fazia.

“Que o mar os proteja sempre, meus amores.” Seus olhos brilharam com uma mistura de saudade e esperança, e então ela olhou para a penteadeira, onde descansava o bracelete que Poseidon também havia lhe dado.

Ele era feito do mesmo material, mas mais intricado, com detalhes que lembravam ondas e tritões, um lembrete constante da força que corria em seu sangue.

Antes que pudesse colocá-lo, a porta do quarto se abriu suavemente, e Morpheus entrou, sua presença imediatamente preenchendo o espaço com uma intensidade palpável.

Ele caminhou até ela, os olhos escurecendo ao notar os amuletos nos bebês e o bracelete sobre a penteadeira. Por um breve momento, uma sombra de desagrado cruzou seu rosto, mas ele rapidamente a mascarou, aproximando-se da esposa com passos calculados.

Sem dizer uma palavra, ele envolveu a cintura dela por trás, os braços firmes, e depositou um beijo lento no pescoço dela, seus lábios frios contra a pele quente. “Você está radiante, minha querida,” murmurou contra sua orelha, enquanto ela segurava Helena nos braços, ajustando um delicado vestidinho azul como o céu ao amanhecer sobre a menina.

Briely sorriu levemente, sentindo o calor de sua presença, mas também a tensão que sempre o acompanhava. “Obrigada. Estou quase terminando de arrumar a Helena. Pode me ajudar com o Perseu?”

Morpheus assentiu, soltando-a com relutância para pegar o menino do berço. Ele o vestiu com um pequeno conjunto preto, um reflexo de suas próprias vestes escuras, o tecido parecendo quase uma extensão de sua sombra.

Quando terminou, segurou Perseu contra o peito por um momento, os olhos brilhando com posse e orgulho.

Briely, ao ver isso, não pôde evitar um comentário, a voz carregada de um tom brincalhão, mas com um fundo de curiosidade. “Você o vestiu igual a você. Preto como a noite. Não acha que é um pouco... sombrio para um bebê?”

Ele virou-se para ela, um sorrisinho frio e calculado curvando seus lábios. “Ele é meu filho. Carrega minha essência. Não há nada de sombrio nisso, minha amada esposa.” O tom era final, e Briely, percebendo que não valia a pena insistir, apenas balançou a cabeça com um leve suspiro, voltando sua atenção para Helena.

Morpheus se aproximou novamente, agora com Perseu ainda nos braços, e a beijou nos lábios, um beijo profundo e possessivo que a fez corar. “Você está maravilhosa,” disse ele, os olhos percorrendo-a de cima a baixo como se pudesse devorá-la com o olhar.

Então, com cuidado, colocou Perseu de volta no berço e, pegando Helena gentilmente dos braços de Briely, fez o mesmo com a menina.

Sem dar espaço para que ela se afastasse, ele a tomou pela mão e a guiou até a cama, sentando-se e puxando-a para seu colo.

Ela se acomodou contra ele, a cabeça repousando em seu peito, enquanto os dedos dele deslizavam por seus cabelos, acariciando-os com uma ternura que contrastava com a intensidade de seus olhos.

“Os preparativos estão prontos,” murmurou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “O Sonhar inteiro celebrará nossos filhos esta noite.”

Briely ergueu o rosto para encará-lo, uma pergunta hesitante nos lábios. “Você... convidou meu pai? Ou alguém da minha família?”

O rosto de Morpheus endureceu por um instante, os olhos se estreitando com um brilho de desagrado. “Não,” respondeu, o tom cortante, mas controlado. “Este é um evento do Sonhar. Não vi necessidade de envolvê-los.”

Ela franziu o cenho, uma onda de indignação subindo em seu peito. “Mas são meus filhos também. Meu pai... Poseidon... ele tem o direito de estar aqui, de conhecer os netos dele. Não acho justo que não tenha sido chamado.”

Morpheus suspirou, o som carregado de impaciência, mas também de uma concessão relutante. Internamente, ele pensou que, convocando-os em cima da hora, era quase certo que nenhum dos deuses gregos apareceria — um insulto velado, já que tais seres valorizavam protocolo e tempo.

*Que venham se puderem. Duvido que o orgulho deles permita uma aparição tão tardia,* refletiu com um toque de satisfação sombria. Ainda assim, forçou um tom mais suave ao responder. “Tudo bem, minha querida. Se é tão importante para você, resolverei isso. Mandarei uma mensagem a ele e à sua família.”

Briely o encarou, surpresa pela concessão, mas ainda com um traço de dúvida nos olhos. Antes que pudesse dizer mais, Morpheus a puxou para si, beijando-a ferozmente, os lábios exigentes e possessivos.

O beijo a deixou um pouco desgrenhada, o cabelo escapando do penteado simples que ela havia feito, e o coração acelerado pela intensidade do gesto.

Quando ele finalmente se afastou, seus olhos brilhavam com uma mistura de desejo e controle. Com um toque gentil, mas firme, ele a ajudou a arrumar o cabelo, os dedos deslizando pelos fios com precisão. “Está perfeito agora,” murmurou, quase para si mesmo, antes de se levantar, ainda segurando-a pela cintura por um momento. “Vou mandar a mensagem para eles. Não se preocupe com isso.”

Ela assentiu, sentindo o peso de sua presença mesmo quando ele se afastou, deixando o quarto com passos silenciosos, mas determinados.

Sozinha por um instante, Briely voltou-se para os bebês no berço, tocando os amuletos que repousavam contra seus pequenos peitos. “Espero que ele venha,” sussurrou para si mesma, um desejo quieto por uma conexão, com seu pai, mesmo sabendo que, no Sonhar, tudo parecia girar ao redor da vontade de Morpheus.

•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°••°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

A festa no Sonhar estava em pleno esplendor, o salão principal do castelo transformado em um cenário de sonhos impossíveis.

 

Lustres de luz estelar pendiam do teto, refletindo tons de azul profundo e prata, enquanto o chão parecia pulsar com uma energia viva, como se fosse feito de nuvens ou de um mar onírico.

Criaturas de todas as formas e naturezas — desde figuras etéreas de sonhos até pesadelos disfarçados de beldades — enchiam o espaço, suas vozes misturando-se em um coro de murmúrios que ecoava como um vento distante.

Tudo era uma celebração aos novos herdeiros do Sonhar, Helena e Perseu, cujos berços dourados estavam posicionados em um canto elevado do salão, guardados por sombras leais de Morpheus.

Briely caminhava pelo salão ao lado do marido, o bracelete de coral e conchas reluzindo em seu pulso, harmonizando com o vestido azul que parecia ondular como água a cada passo.

Ela sentia os olhares de todos sobre si, não apenas como a consorte do Senhor dos Sonhos, mas como um eco do oceano que corria em seu sangue. No entanto, uma inquietação a impedia de se entregar completamente à celebração.

Seus pensamentos giravam em torno da mensagem que Morpheus havia prometido enviar a Poseidon e à sua família. Será que ele realmente a enviara? Ou seria apenas mais um de seus jogos sutis de controle?

Morpheus, ao seu lado, estava impecável em vestes escuras que pareciam absorver a luz ao seu redor, um contraste gritante com a vivacidade do ambiente. Seus olhos percorriam o salão com uma mistura de satisfação e vigilância, como se cada detalhe da festa estivesse sob seu comando absoluto.

Ele segurava a mão da esposa com uma firmeza possessiva, os dedos frios contra a pele quente dela, quase como se temesse que ela pudesse escapar. “Está tudo como deve ser,” murmurou, a voz baixa, quase hipnótica contra o ruído da multidão. “Nosso reino celebra nossos filhos. Você deveria estar orgulhosa, minha amada.”

Ela esboçou um sorriso, mas seus olhos varriam as entradas do salão, ansiando por um sinal de sua família. “Eu estou,” respondeu, a voz suave, mas com um traço de hesitação. “Mas... você mandou mesmo a mensagem ao meu pai? Aos outros? Ainda não vi nenhum sinal deles.”

O rosto de Morpheus permaneceu impassível, mas uma sombra de irritação cruzou seus olhos. Ele inclinou a cabeça, como se pesasse a pergunta, antes de responder com um tom frio e cortante. “Eu fiz o que prometi, meu amor.

Enviei a mensagem. Mas os deuses têm seus próprios caprichos e tempos. Não posso forçar a presença deles” Havia um leve desdém em suas palavras, uma crítica velada ao orgulho dos deuses gregos, mas ele suavizou a expressão rapidamente, apertando a mão dela de forma quase sufocante. “Eles virão se quiserem. Ou não. Isso não muda o que esta noite representa para nós.”

Briely franziu o cenho, a frustração crescendo em seu peito. Sabia que Morpheus era mestre em manipular com palavras, em apaziguar sem ceder. “Não é só sobre eles quererem vir,” retrucou, mantendo a voz baixa para não atrair atenção. “É sobre terem a chance.

Se a mensagem foi enviada tão tarde, como você mesmo disse que poderia ser, então talvez eles nem tenham tido tempo de se preparar. Isso não é justo.”

Ele virou o rosto para ela, os olhos escurecendo com uma intensidade que a fez tremer. O salão inteiro pareceu silenciar por um instante, como se o Sonhar respondesse ao humor sombrio de seu senhor. “Justiça,” repetiu ele, a palavra saindo como um sussurro afiado.

“Você fala de justiça no meu reino, onde eu sou a lei? Se seu pai ou qualquer outro sentir que foi desprezado, que venham até mim e reclamem.

Mas esta noite não é sobre eles. É sobre você, sobre mim, e sobre nossos filhos.” Ele aproximou o rosto do dela, os lábios quase roçando os seus enquanto falava, o tom carregado de desejo e posse. “Não deixe que isso ofusque o presente, minha amada.”

Ela sentiu o calor de sua respiração, a força avassaladora de sua presença, e por um momento quase cedeu àquela intensidade.

Mas o peso do bracelete em seu pulso, o pulsar da energia marítima contra sua pele, a lembrava de sua própria identidade. “Eu só quero que eles os conheçam e meus filhos os conheçam também” insistiu, a voz firme, mas emocionada. “Não só a sua, mas a minha também.

Morpheus a encarou por um longo momento, os olhos estreitados, como se dissecasse cada palavra. Então, um sorriso frio e enigmático curvou seus lábios. “Eles conhecerão,” respondeu, a voz agora mais suave, mas carregada de uma promessa ambígua. “Eu assegurei isso. Mas por agora, deixe isso de lado. Esta noite é de celebração, não de conflito.”

Antes que ela pudesse retrucar, um murmúrio percorreu o salão, e os dois se voltaram para a entrada principal.

Uma figura alta, envolta em vestes que pareciam feitas de espuma do mar, carregando um tridente reluzente com poder antigo, cruzou o limiar.

Poseidon. O deus do mar havia chegado, sua presença tão avassaladora quanto a de Morpheus, mas de uma natureza diferente — não onírica, mas tangível, como uma tempestade prestes a desabar. Seus olhos, encontraram os de Briely quase imediatamente, e um sorriso raro, carregado de afeto, suavizou sua expressão dura.

Ao lado dela, Morpheus enrijeceu, os dedos apertando a mão de Briely com mais força por um instante. Internamente, ele fervia com indignação.

Como ousava Poseidon aparecer, mesmo com um convite enviado em cima da hora? Ele havia calculado que o orgulho do deus do mar o impediria de comparecer a um evento tão tardiamente anunciado, mas ali estava ele, desafiando as expectativas do Senhor dos Sonhos.

Morpheus mascarou sua irritação com uma expressão neutra, mas seus olhos brilhavam com um desagrado contido enquanto observava a aproximação do deus.

Briely, por sua vez, sentiu o coração disparar, uma mistura de alívio e alegria, e deu um passo à frente, quase esquecendo a mão possessiva de Morpheus.

Ele, no entanto, não a soltou de imediato, sua relutância evidente antes de finalmente afrouxar o aperto, como se doesse deixá-la ir.

“Parece que sua preocupação era desnecessária,” murmurou, o tom carregado de uma frieza cortante que escondia um toque de desgosto. “Seu pai está aqui. Vamos recebê-lo, então.”

Juntos, eles caminharam em direção a Poseidon, o salão abrindo caminho para os dois poderes que ali se confrontavam. O deus do mar inclinou a cabeça em um cumprimento formal para Morpheus, mas seus olhos logo se voltaram para Briely, cheios de calor.

“Minha filha,” disse ele, a voz profunda ecoando como o rugido das ondas. “É uma honra estar aqui para celebrar o nascimento dos meus netos.” Então, com um leve brilho de humor nos olhos e um tom que carregava uma alfinetada sutil, ele acrescentou, dirigindo-se a Morpheus: “Devo dizer, Senhor dos Sonhos, que um convite tão... repentino é quase um teste à paciência de um deus.

Mas eu não perderia esta ocasião por nada. Meus irmãos do Panteão, no entanto, não puderam comparecer por causa do curto prazo. Mais eles enviaram presentes e mensagen.”

Morpheus esboçou um sorriso fino, os olhos estreitando-se perigosamente, mas ele não respondeu à provocação diretamente.

Em vez disso, assentiu com uma cortesia gélida. “Sua presença é... apreciada,” disse, a palavra saindo com um peso que deixava claro o quanto ele desejava que não fosse. Ele puxou a esposa um pouco mais para perto de si, o gesto sutil, mas carregado de posse, como se marcasse seu território diante do deus do mar.

Enquanto isso, Lucienne, a fiel bibliotecária do Sonhar, aproximou-se com um carrinho repleto de presentes e pequenas cartas, a expressão séria, mas com um brilho de curiosidade nos olhos.

“Milorde, minha rainha” disse ela, inclinando a cabeça para ambos. “Os presentes do Panteão Grego chegaram, assim como outros de... fontes inesperadas. Posso mostrá-los?”

Morpheus franziu o cenho, mas acenou para que ela continuasse, enquanto guiava Briely até uma mesa próxima, onde poderiam inspecionar os itens com mais privacidade.

Poseidon se afastou por um momento para observar os bebês nos berços, agora sob os cuidados atentos de Matthew. Briely abriu os pacotes com cuidado, suas mãos tremendo levemente de emoção.

De Atena, havia um pequeno elmo de bronze em miniatura, um símbolo de sabedoria, acompanhado de uma carta que parabenizava os “novos membros do Panteão” e mencionava, com um toque de humor seco, que “esperava um convite mais antecipado na próxima vez”.

Hera enviara um colar de pérolas, com uma nota afetuosa para sua sobrinha, mas com uma linha sutil de desaprovação pela “pressa do evento”.

Apolo, por sua vez, presenteou os bebês com uma lira em miniatura, sua carta cheia de poesia e uma leve sátira sobre os “sonhos que chegam tarde demais para serem vividos”.

Briely sorriu ao ler as mensagens, sentindo uma conexão, mas não pôde ignorar a tensão que emanava de Morpheus ao seu lado.

Ele pegou uma das cartas, seus dedos quase esmagando o pergaminho delicado, enquanto lia as palavras com um silêncio gélido. Cada linha parecia um insulto velado a ele, e seu olhar escureceu ainda mais quando Lucienne revelou outros presentes — não apenas do Panteão Grego, mas de outras fontes.

De seus irmãos, os Eternos, vieram presentes e mensagens que o pegaram de surpresa, já que ele deliberadamente não os convidara somente a sua irmã morte.

Morte enviara duas pequenas flores prensadas que nunca murcham, com uma nota calorosa para a cunhada, parabenizando-a pelos bebês e pela sua força e resiliência, quase como se soubesse das dificuldades que ela enfrenta.

 

Destino mandou um livro em branco, suas páginas ainda por serem preenchidas, com uma frase enigmática: “Para os caminhos que os aguardam.”

 

Delírio enviou um mobile colorido e caótico, que parecia mudar de forma a cada olhar, acompanhado de rabiscos quase ilegíveis que desejavam aos seus sobrinhos “os melhores sonhos malucos”.

 

Desespero enviou dois espelhos pequenos, opacos e frios, com uma nota de parabéns que parecia mais um lamento.

E então, de Desejo, veio um presente que fez Morpheus cerrar os dentes: um par de anéis de ouro com pedras que mudavam de cor, junto a uma carta endereçada diretamente a Briely.
“Para a mulher que capturou o coração do meu irmão, de uma forma ou de outra,” dizia a mensagem, o tom provocador e carregado de duplo sentido, uma alfinetada leve, mas afiada, que lembrava a todos os Eternos — que sabiam da história sombria do início do relacionamento de Morpheus e Briely — sem mencioná-la diretamente.

 

Morpheus amassou a carta de desejo com um gesto brusco, os olhos brilhando com uma raiva contida, antes de forçar um sorriso tenso para Briely. “Meus irmãos parecem... inusitadamente generosos,” murmurou, a voz carregada de desdém.

Entre os presentes, Briely notou algo que a fez hesitar: uma pequena caixa preta, envolta em um tecido que parecia brilhar com uma luz fria.

Quando abriu, encontrou uma estrela em miniatura, pulsando suavemente com energia, e uma nota escrita em uma caligrafia elegante: “Para os novos herdeiros do Sonhar, com os cumprimentos da Estrela da Manhã."

O nome de Lúcifer estava assinado no final. Briely ergueu os olhos para Morpheus, surpresa, mas ele apenas encarou o presente com um olhar de puro desgosto, antes de virar-se para Lucienne com uma ordem cortante. “Guarde todos esses... itens em uma sala segura. Não quero distrações esta noite.”

Lucienne assentiu, recolhendo os presentes rapidamente, enquanto Morpheus puxava Briely para mais perto, os braços envolvendo-a de forma protetora e possessiva, como se quisesse apagar qualquer influência externa sobre ela.

“Vamos aos nossos filhos,” murmurou ele, a voz baixa, quase um comando, enquanto a guidava até os berços onde Helena e Perseu descansavam, ainda sob a vigilância de Matthew.

Chegando lá, Morpheus pegou Perseu com um cuidado que contrastava com a intensidade de seus olhos, segurando o menino contra o peito como se declarasse ao mundo inteiro que ele era seu.

Briely pegou Helena, um sorriso suave iluminando seu rosto ao sentir o peso leve da filha nos braços. Juntos, eles se voltaram para o salão, e Morpheus ergueu a voz, poderosa e ressonante, para apresentar os herdeiros do Sonhar a todos os presentes.

“Meus súditos, meus sonhos, meus pesadelos... estes são Helena e Perseu, meus filhos, herdeiros de meu reino. Que todos os reconheçam e os honrem!”

O salão explodiu em murmúrios de reverência, e Briely sentiu uma onda denervosismo. Morpheus, satisfeito, guiou-a até uma das mesas próximas, sentando-se com ela enquanto ainda segurava Perseu.

Ele observava a esposa com um olhar intenso, notando a felicidade em seu rosto enquanto ela olhava para os sonhos dançando pelo salão, suas formas etéreas girando em padrões hipnóticos.

Uma faísca de ciúme brilhou em seus olhos — ele queria toda a atenção dela para si. Com um gesto, chamou Lucienne novamente, entregando Perseu a ela com um cuidado relutante, mas firme.

“Cuide deles por um momento,” ordenou, antes de se levantar e estender a mão para Briely, os olhos escuros brilhando com desejo e posse. “Venha comigo, minha amada esposa. Vamos dançar.”

Briely hesitou por um instante, mas o peso de seu olhar a puxou como uma corrente. Ela deixou Helena com Lucienne e aceitou a mão dele, sentindo o frio de seus dedos contra os seus enquanto ele a conduzia ao centro do salão.

 

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O salão principal do Sonhar vibrava com uma música etérea, um som que parecia nascer dos próprios sonhos, flutuando como névoa entre os presentes. Morpheus guiou Briely até o centro do espaço, sua mão firme na cintura dela, os dedos pressionando levemente contra o tecido fluido de seu vestido azul-marinho. O gesto, tão casual para ele, fez um murmúrio surpreso percorrer os habitantes do Sonhar. Sonhos e pesadelos, criaturas de luz e sombra, trocaram olhares incrédulos, sussurrando entre si. Até mesmo Poseidon, que observava de um canto do salão com seu tridente repousando ao lado como um cetro, ergueu uma sobrancelha, os olhos oceânicos estreitando-se em curiosidade.

Nunca, em toda a história do Sonhar, Morpheus havia dançado publicamente. Nem mesmo com Calliope, sua esposa anterior, ele se permitira tal demonstração de intimidade diante de outros. Era um ato tão fora de sua natureza fria e distante que os habitantes do reino não podiam evitar o choque. Um pesadelo de garras afiadas murmurou a um sonho de asas translúcidas: “O Senhor dos Sonhos... dançando? Será que o mundo desperto desabou?” Outro, uma figura de névoa, apenas balançou a cabeça, incapaz de processar.

Briely, alheia aos olhares por um momento, sentiu o peso da mão de Morpheus guiando-a. Ele a posicionou com precisão, uma mão firme em sua cintura, a outra segurando a dela com uma delicadeza que escondia sua força. Seus olhos, negros e insondáveis como o vazio, fixaram-se nos dela, e um leve sorriso curvou seus lábios pálidos. “Siga-me,” murmurou, a voz baixa, quase um comando, mas carregada de uma promessa.

A música os envolveu, e eles começaram a se mover. Morpheus dançava com uma graciosidade impossível, cada passo fluido, cada giro calculado, como se ele próprio fosse a personificação de um sonho elegante. Seu corpo se movia como sombra líquida, os pés mal parecendo tocar o chão polido do salão, a capa negra esvoaçando suavemente atrás dele. Briely, por outro lado, era um contraste hilário. Apesar de toda a sua herança divina, ela não tinha a mesma coordenação para algo tão... terreno quanto uma dança. Seus passos hesitavam, e não demorou muito até que seu pé encontrasse o dele pela primeira vez.

“Ah! Desculpe, desculpe!” ela exclamou, o rosto corando de vergonha enquanto tentava ajustar o ritmo, seus olhos baixando para os pés dele como se temesse que eles pudessem retaliar. “Eu não quis, juro, é que... eu sou péssima nisso!”

Morpheus apenas inclinou a cabeça, os olhos brilhando com um raro toque de diversão. “Não há dano, minha querida esposa,” disse, a voz suave, mas com um fundo de indiferença que mostrava que ele realmente não se importava. “Continue.”

Ela tentou, de verdade, mas não passou nem meio minuto antes que seu pé esbarrasse no dele novamente, dessa vez com mais força. “Ai, não, de novo!” gemeu, parando por um segundo, as mãos apertando as dele enquanto o encarava com uma mistura de horror e constrangimento. “Eu vou acabar quebrando seu pé, ou sei lá, te fazendo tropeçar na frente de todo mundo! Desculpe mesmo, eu sou um desastre!”

Ele riu — um som baixo, quase imperceptível, mas genuíno o suficiente para surpreendê-la. “Meu pé sobreviverá, meu amor. E eu não tropeço. Nunca.” Ele a puxou mais para perto, eliminando qualquer espaço entre seus corpos, o peito firme contra o dela, enquanto continuava a guiá-la. “Relaxe. Deixe-me conduzir.”

Ela bufou, ainda nervosa, mas tentou relaxar nos braços dele. A mão dele em sua cintura a mantinha firme, enquanto a outra guiava a dela com paciência infinita. Ele a girou suavemente, o movimento tão preciso que por um instante ela se sentiu elegante, parte do sonho que ele criava ao seu redor. Mas então, inevitavelmente, ela pisou nele de novo — pela terceira, ou talvez quarta vez, ela já tinha perdido a conta.

“Por favor, me diz que você não sentiu isso,” implorou, os olhos arregalados enquanto tentava não rir de si mesma. “Eu não sou tão desajeitada, mas aqui... parece que meus pés têm vida própria!”

“Eu senti,” respondeu ele, o tom seco, mas os olhos suavizando enquanto a olhava. “E ainda assim, não me importa. Você está aqui comigo. Isso é o que importa.” Ele inclinou o rosto mais para perto, a voz baixando a um sussurro possessivo. “Deixe os outros assistirem. Deixe-os verem que você é minha.”

As palavras a fizeram, o coração disparar, mas ela não teve tempo de responder. Ele continuou a dançar, os movimentos suaves e hipnóticos, mesmo enquanto ela tropeçava ocasionalmente. Cada passo dele parecia compensar os erros dela, puxando-a de volta ao ritmo, os corpos movendo-se em uma sincronia imperfeita, mas estranhamente complementar. A capa dele roçava contra o vestido dela a cada giro, e os olhares dos habitantes do Sonhar pesavam sobre eles, mas Morpheus parecia alheio a tudo, exceto a ela. Poseidon, do outro lado do salão, observava com uma expressão indecifrável, os dedos apertando o tridente enquanto via sua filha nos braços do Senhor dos Sonhos.

Quando a música finalmente desacelerou, chegando a um final melancólico, Morpheus parou, mas não a soltou. Em vez disso, inclinou-se sobre ela, uma mão subindo para segurar seu queixo enquanto a outra permanecia firme em sua cintura. Seus olhos brilharam com uma intensidade predatória, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a beijou — um beijo feroz, possessivo, que parecia reivindicar cada parte dela diante de todos os presentes. Seus lábios eram exigentes, movendo-se contra os dela com uma fome que a fez perder o fôlego, o corpo dobrando-se ligeiramente sob a força do gesto. Ele não se importava com os olhares, com os sussurros, ou com o pai dela observando a distância. Naquele momento, o Sonhar inteiro poderia ter desmoronado, e ele ainda a teria beijado da mesma forma.

Quando finalmente se afastou, Briely estava ofegante, os lábios inchados e o rosto vermelho, os olhos marejados de surpresa e algo mais profundo. Ele a encarou, um sorriso sombrio curvando seus lábios, antes de murmurar contra sua pele. “Minha. Sempre.”

Ela engoliu em seco, ainda atordoada, enquanto os habitantes do Sonhar desviavam os olhares, alguns com constrangimento, outros com fascínio. Poseidon, no canto, soltou um grunhido baixo, quase inaudível, mas não se moveu, apenas observando enquanto o Senhor dos Sonhos marcava seu território de maneira tão descarada.

Briely, tentando recuperar a compostura, deu um passo hesitante para trás, mas a mão de Morpheus em sua cintura a manteve perto. “Vamos voltar para os nossos filhos,” sugeriu ela, a voz um pouco trêmula, mas com um toque de humor. “Antes que eu pise no seu pé de novo e estrague o resto da noite.”

Ele deu um meio-sorriso, deixando-a guiá-lo de volta ao berço ornamental onde Helena e Perseu descansavam, mas sua presença ao lado dela era uma promessa silenciosa de que a noite ainda não havia terminado.

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O salão do Sonhar ainda pulsava com a energia da festa, os ecos da música etérea misturando-se aos murmúrios dos habitantes do reino. Briely caminhava ao lado de Morpheus, os braços de ambos carregando os frutos de sua união — ele segurava Helena com um cuidado quase reverente, a pequena cabeça da bebê repousando contra seu peito, enquanto ela carregava Perseu, o peso quente do filho aconchegado contra si. Seus passos eram lentos, quase como se o momento exigisse uma pausa, uma reflexão, enquanto se aproximavam do berço ornamental onde os bebês haviam descansado mais cedo.

Morpheus lançou um olhar de soslaio para Briely, notando a sombra que cruzava seus olhos verdes como o mar. Ela parecia distante, perdida em pensamentos que ele não podia alcançar, e isso o inquietava mais do que gostaria de admitir. Briely, enquanto olhava para Perseu, sentiu uma onda de melancolia apertar seu peito. Seus dedos acariciaram suavemente os cabelos do bebê, mas sua mente estava longe, pensando no seu universo, nas pessoas que deixara para trás. *Mamãe... Sally,* pensou, o coração pesado. *Percy. Como eu queria que estivessem aqui, que pudessem conhecer Helena e Perseu. Que pudessem me ver agora, mesmo que eu mal me reconheça.*

Ela nunca imaginara que sua vida tomaria esse rumo. Ser forçada a casar com um Perpétuo, um ser de um universo tão distante do dela, era algo que jamais cruzara seus sonhos mais selvagens. Ter filhos com ele, tão jovem, ainda tentando entender quem era... e então, tornar-se uma deusa, elevada por um matrimonio que não escolhera. O peso disso tudo a esmagava em momentos como este, quando a alegria da festa era ofuscada pela saudade do que perdera.

Seu transe foi interrompido por um toque gentil e inesperado. Morpheus, ainda segurando Helena, inclinou-se e pressionou um beijo leve em sua testa, o gesto a fez congelar por um instante. Seus olhos negros a estudaram, inquisitivos, enquanto ele murmurava, “O que tanto ocupa sua mente, minha querida?”

Briely piscou, o coração acelerando com medo de que sua resposta pudesse irritá-lo. Ela sabia como ele podia ser possessivo, como qualquer menção ao seu passado ou às pessoas que deixara para trás podia acender algo sombrio nele. “Nada,” disse rapidamente, forçando um sorriso fraco enquanto ajustava Perseu no colo. “Não é nada, de verdade. Só... estou com fome. Podemos ir comer algo?”

Ele a observou por um momento, claramente não convencido, mas não insistiu. Em vez disso, assentiu, a expressão suavizando apenas o suficiente para mostrar que cederia a ela. “Venha, então,” disse, oferecendo o braço livre enquanto ainda segurava Helena com o outro. Juntos, caminharam até uma das mesas cobertas de iguarias oníricas, os habitantes do Sonhar abrindo espaço para eles com reverência.

Briely sentou-se ao lado dele, Perseu ainda em seus braços, enquanto seus olhos percorriam a mesa. Havia alimentos que só poderiam existir no Sonhar — frutas que mudavam de cor a cada mordida, bebidas que pareciam capturar estrelas líquidas. Mas algo pequeno e familiar chamou sua atenção: um prato de balinhas azuis, vibrantes como o mar que tanto amava. Um sorriso genuíno curvou seus lábios enquanto ela as pegava, lembrando-se de um jantar há muito tempo, quando ainda era apenas uma convidada no Sonhar. Naquela noite, sentada à mesa com Morpheus, ela mencionara casualmente que gostava de comidas azuis — uma peculiaridade de sua criação, um traço de sua conexão com sua mãe e com Percy.

Ela pegou algumas balinhas, colocendo uma na boca. O sabor doce e ligeiramente ácido explodiu em sua língua, trazendo um conforto inesperado. Morpheus a observava, os olhos fixos em cada movimento dela, a intensidade de seu olhar quase tangível. Ele não disse nada, mas a curva sutil de seus lábios sugeria que lembrava daquela conversa tanto quanto ela.

Briely olhou ao redor, distraindo-se momentaneamente enquanto mastigava. Viu seu pai, Poseidon, conversando com alguns habitantes do Sonhar a distância, seu tridente repousando como um símbolo imponente de sua autoridade. Outros sonhos e pesadelos circulavam pelo salão, suas formas mudando e se adaptando como a própria natureza do reino.

Depois de comer mais algumas balinhas, ela se virou para Morpheus, hesitante. “Podemos ir até meu pai?” perguntou, a voz suave, quase temendo uma recusa. “Quero passar um tempo com ele e quero que ele conheça a Helena e Perseu.”

Ele a encarou por um longo momento, claramente pouco inclinado a dividir a atenção dela com Poseidon. Mas algo em seu olhar suplicante o amoleceu, ou talvez ele simplesmente não conseguisse negar-lhe algo tão pequeno. Com um suspiro quase inaudível, ele assentiu. “Como desejar,” disse, oferecendo o braço novamente. Ele segurava Helena com o outro, enquanto Briely carregava Perseu, e juntos caminharam até onde Poseidon estava.

O deus do mar os viu se aproximar, seu rosto severo suavizando ao pousar os olhos na filha e nos netos. “minha filha,” cumprimentou, a voz grave e gentil. Ele se inclinou para olhar os bebês, um leve sorriso quebrando sua fachada rígida. “E meus pequenos Netos.”

Briely sorriu, ajustando Perseu para que ele pudesse vê-lo melhor. Poseidon estendeu o braço, convidando-a a caminhar com ele pelo salão, longe o suficiente de Morpheus para que pudessem falar em privacidade, mas ainda sob o olhar vigilante do Senhor dos Sonhos. Morpheus ficou para trás, os olhos estreitados, segurando Helena com uma tensão que não escondia seu desagrado.

Enquanto pai e filha caminhavam lado a lado, Poseidon começou a falar em grego antigo, a língua fluindo como água de seus lábios. “Os membros do nosso panteão estão... digamos, indignados com seu marido,” disse, o tom carregado de um humor ácido. “Eles não o suportam, para ser honesto. E eu, bom, não sou exatamente um fã, como você pode imaginar.”

Briely riu, o som leve e genuíno, mesmo que um pouco amargo. “Bem feito para ele,” respondeu, também em grego, lançando um olhar rápido para Morpheus, que os observava como um falcão. “Ele não faz questão de ser querido, não é?”

Poseidon bufou, uma risada curta. “Não, de fato. Mas você, minha filha, eles adoram. Todos nós. Esperávamos ter mais tempo com você, antes que tudo... mudasse.” Havia uma tristeza em sua voz, um peso que ecoava o que ela própria sentia.

Ela baixou os olhos, a melancolia voltando por um instante. “Eu queria que isso tivesse acontecido,” murmurou, apertando Perseu contra si. “Se ao menos eu tivesse aceitado sua proposta, de ir morar com você em Atlântida quando perguntou... Talvez tudo fosse diferente.”

Poseidon parou de andar por um momento, voltando-se para ela. Seus olhos, profundos como o abismo do oceano, carregavam uma dor antiga. “Eu me lembro daquele jantar, quando a conheci. O jeito que ele te olhava, como se já tivesse decidido que você era dele. Eu não deveria ter te deixado com ele, Briely. Deveria ter lutado mais.”

Ela balançou a cabeça, um sorriso triste nos lábios. “Não tinha como, pai. Independente do que acontecesse naquele dia, Morpheus nunca me deixaria em paz. Ele daria um jeito de conseguir o que queria. Ninguém poderia impedi-lo. Nem você, nem o panteão inteiro.”

Poseidon grunhiu, claramente insatisfeito, mas não refutou suas palavras. Ele sabia, no fundo, que ela estava certa. O Senhor dos Sonhos era uma força além até mesmo dos deuses do Olimpo, um ser de um universo que não se curvava às leis deles. Ele segurou o braço dela com mais força, como se pudesse protegê-la agora, mesmo que tarde demais, e continuaram a caminhar, os bebê entre eles como um lembrete agridoce do que fora perdido e do que ainda poderiam construir.

A distância, Morpheus os observava, os dedos apertando levemente ao redor de Helena. Ele não podia ouvir o que diziam, mas o jeito como Poseidon segurava o braço dela, como ela ria com ele, acendia algo sombrio em seu peito. Ainda assim, permaneceu onde estava, no salão iluminado, esperando o momento em que ela voltaria para ele — porque ela sempre voltaria. Ele garantiria isso.

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Poseidon guiou Briely de volta pelo salão do Sonhar, os passos firmes, mas carregados de uma relutância silenciosa. Ele sentia o peso do olhar de Morpheus sobre eles, como uma sombra fria que parecia perfurar a distância. Antes de se separarem, ele se inclinou para a filha, a voz baixa e carregada de afeto em grego antigo. “Se decidir me visitar, ou se precisar escapar por um tempo das portas do Sonhar, saiba que sempre terá um lugar comigo. Eu a acolheria, e aos pequenos, sem hesitar.” Ele fez uma pausa, um brilho astuto nos olhos. “Tenho uma casa no mundo desperto, uma bela residência à beira do mar. Quero dá-la a você, como presente. Um refúgio, se precisar respirar fora deste reino.”

Ela sorriu, o humor do pai aliviando um pouco da tensão que carregava no peito. “Obrigada, pai. Isso significa muito,” respondeu, também em grego, o tom suavizado por uma genuína gratidão.

Poseidon riu baixo, o som ressoando como ondas suaves. “Agora, acho melhor voltarmos antes que seu marido me mate com os olhos. Ele tem me fuzilado desde que começamos a conversar.” Ele lançou um olhar rápido para Morpheus, cujos olhos negros pareciam de fato carregados de uma intensidade mortal.

Briely assentiu, rindo de leve enquanto caminhava ao lado do pai de volta até onde Morpheus aguardava. Ele estava de pé como uma estátua de obsidiana, segurando Helena nos braços com uma rigidez que traía sua impaciência. Poseidon se aproximou com um sorriso diplomático, mas os olhos brilharam com um toque de provocação. “Posso segurar meus pequenos netos por um momento?” perguntou, estendendo os braços.

Briely sorriu, feliz com o pedido, e entregou Perseu ao pai com cuidado. Ela olhou para Helena, ainda nos braços de Morpheus, e percebeu a careta quase imperceptível que cruzou o rosto dele, um leve franzir de sobrancelhas que não passou despercebido por ela. Com um gesto gentil, ela pegou a filha dos braços do marido e a entregou a Poseidon, que pareceu radiante ao segurar os dois bebês, murmurando algo carinhoso em grego para eles.

Ela se virou para Morpheus, a voz suave, mas firme. “Deixe-os um pouco a sós com meu pai. Só um momento.”

Ele a encarou, claramente pouco satisfeito com a ideia, mas depois de um instante de silêncio, assentiu. “Tudo bem,” disse, o tom baixo, quase relutante, mas cedendo a ela como sempre acabava fazendo.

Briely tomou a iniciativa, pegando a mão dele e o puxando gentilmente para longe, em direção a uma das mesas carregadas de doces. Enquanto caminhavam, Morpheus fez um gesto sutil com a cabeça, e Matthew, seu fiel corvo, pousou discretamente perto de Poseidon, os olhos atentos do pássaro fixos no deus do mar. Briely percebeu o movimento e não pôde evitar um sorriso divertido. “Sério? Mandando Matthew vigiar meu pai?” perguntou, levantando uma sobrancelha.

“Precaução nunca é demais,” respondeu ele, o tom seco, mas com um brilho de humor sombrio nos olhos.

Chegando à mesa, Briely se deixou levar pela tentação dos doces, pegando pequenos bolos, trufas e pedaços de chocolate que pareciam brilhar com um toque de magia. Ela comia com uma felicidade quase infantil, esquecendo por um momento as tensões do salão. Morpheus a observava, os olhos fixos em seus movimentos, a intensidade de seu olhar quase tangível. Em um gesto inesperado, ele estendeu a mão, o polegar roçando os lábios dela para limpar um traço de chocolate derretido. Sem desviar os olhos dos dela, ele levou o dedo à própria boca, provando o doce com uma lentidão deliberada.

Antes que ela pudesse reagir, ele se inclinou e a beijou, os lábios firmes contra os dela, o gosto do chocolate misturando-se ao calor de sua boca. O beijo era profundo, possessivo, como se ele estivesse reivindicando não apenas ela, mas até mesmo o sabor que ainda permanecia em sua língua. Quando se afastou, os olhos negros brilharam com algo que era tanto desejo quanto satisfação. “Os bebês receberam muitos presentes hoje,” murmurou, a voz baixa, quase um sussurro. “Até de quem não foi convidado.”

Ela piscou, ainda um pouco atordoada pelo beijo, mas conseguiu sorrir. “Quem não foi convidado conseguiu mandar presentes? Como?” perguntou, curiosa, enquanto pegava mais um pedaço de chocolate.

Ele deu um meio-sorriso, misterioso como sempre. “O Sonhar tem suas maneiras de receber mensagens, mesmo de reinos distantes. Digamos que Helena e Perseu já têm admiradores em lugares que você nem imagina.”

Briely riu suavemente, balançando a cabeça enquanto mordia outro doce. Por um instante, ali, com o sabor do chocolate na boca e o calor do olhar de Morpheus sobre ela, as tensões do dia pareceram se dissipar. •°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°••°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•°•

Enquanto Briely mordiscava outro doce, o sabor açucarado ainda dançando em sua língua, Morpheus inclinou-se ligeiramente para ela, a voz baixa e firme. “Terminaremos a comemoração em breve,” disse, os olhos negros fixos nos dela, não deixando espaço para objeções.

Ela não discutiu, apenas assentiu, sentindo o peso de sua autoridade no tom dele. Enquanto mastigava, ele se aproximou mais, a presença dele como uma sombra inevitável. “O que você e Poseidon conversaram há pouco?” perguntou, a voz carregada de uma curiosidade cortante.

Briely hesitou, sentindo o olhar dele perfurar suas defesas. “Não foi nada de mais,” respondeu, tentando soar casual enquanto engolia o doce. “Só ele dizendo que está feliz com os netos.”

Ele estreitou os olhos, o rosto pálido endurecendo com uma desconfiança evidente. Ele sabia que ela estava mentindo, e não fez questão de esconder isso. Inclinando-se até que seus lábios roçassem a concha de sua orelha, ele sussurrou, “Conversaremos sobre isso mais tarde, minha querida.”

Um arrepio frio desceu por sua espinha ao ouvir o tom sombrio e promissor na voz dele. Ela sabia exatamente que tipo de “conversa” seria — não uma troca de palavras, mas algo muito mais íntimo e controlador. Tentando ganhar algum terreno, ela murmurou, o tom nervoso, “Eu dei à luz há poucos dias, você sabe...”

Ele não se moveu, mas a mão dele encontrou sua cintura, puxando-a para mais perto com uma força possessiva que a fez prender o fôlego. “Está tudo bem,” disse, o rosto muito perto do dela, os lábios roçando sua pele enquanto falava. “Você não tem mais um corpo humano, lembra? Não precisa mais se preocupar com essas limitações.” Ele fez uma pausa, a voz baixando ainda mais, quase um ronronar. “Mal posso esperar para dar mais irmãos aos nossos filhos.”

O coração dela disparou, um misto de choque e medo apertando seu peito. “Não quero mais filhos,” deixou escapar, a voz trêmula, os olhos arregalados enquanto o encarava. “Não agora, por favor.”

Ele apenas sorriu, um sorriso pequeno e perigoso, enquanto a mão em sua cintura apertava ligeiramente. “Não se preocupe com isso ainda,” murmurou, o tom carregado de uma certeza que a fez sentir um nó no estômago.

Antes que pudesse responder, a voz grave de Poseidon cortou o momento como uma onda quebrando na costa. “filha, os pequenos estão um pouco agitados. Estão começando a chorar,” disse, aproximando-se com Helena e Perseu nos braços, os rostinhos deles contorcidos em desconforto.

Ela se levantou rapidamente, o alívio misturado ao temor ainda pulsando em suas veias. “Eu vou alimentá-los,” falou, pegando os bebês com um cuidado gentil, mas apressado, como se precisasse de algo para se ancorar. Olhou para Morpheus por um momento, depois para o pai. “Vou me despedir aqui, pai. Preciso descansar um pouco.”

Poseidon assentiu, os olhos cheios de preocupação, mas não disse mais nada. Ele apenas tocou a testa dela com um gesto afetuoso antes de se afastar. Morpheus, sem perder tempo, sinalizou para Lucienne, que estava por perto. “Encerrar a festa,” ordenou, a voz cortante. A bibliotecária assentiu, movendo-se para organizar o fim da celebração.

Ele então guiou Briely para fora do salão, a mão firme em suas costas enquanto caminhavam pelos corredores oníricos até o quarto deles. Os bebês ainda choramingavam, os sons ecoando no silêncio do caminho. Ela tentava acalmá-los, murmurando docemente enquanto os ninava contra si, mas sua mente estava em turbilhão.

Ao chegar ao quarto, a escuridão aconchegante os envolveu. Briely removeu o vestido um pouco com um movimento rápido, e se sentou na cama ampla, o torso nu enquanto preparava os seios para amamentar. Morpheus ficou ao lado dela, os olhos fixos em seu corpo com uma intensidade. Ele se aproximou, pegando Perseu e ajudando-a a posicionar Helena em um dos seios. Então, com uma lentidão deliberada, ele roçou os dedos no outro seio, o toque quente contra a pele sensível, antes de guiar Perseu para mamar ali.

“Estão ainda maiores do que durante a gravidez,” comentou, a voz baixa, um pequeno sorriso curvando seus lábios enquanto a encarava.

Ela desviou o olhar, o rosto queimando sob a atenção dele. “Sim, eu acho que sim,” murmurou, focando nos bebês para evitar o peso daquele olhar.

Ele não disse mais nada, apenas se levantou e caminhou até o closet, deixando-a sozinha com os filhos. Enquanto os bebês mamavam, o silêncio do quarto a envolveu, e um pânico silencioso começou a crescer em sua mente. Ela olhou para Helena e Perseu, os rostinhos calmos agora que estavam sendo alimentados, e sentiu um aperto no peito. *Ele quer mais filhos,* pensou, o medo rastejando como uma sombra. *E eu não posso lutar contra ele. Não posso fugir. Se ele decidir que quer isso, ele pode me engravidar de novo, querendo eu ou não.*

Seus dedos tremblaram levemente enquanto acariciava a cabeça de Perseu, os pensamentos girando em um ciclo de impotência. O Sonhar era o domínio dele, e ela, mesmo sendo uma deusa agora, ainda era uma prisioneira de sua vontade. O peso disso a esmagava, mesmo enquanto segurava os filhos nos braços, sabendo que Morpheus sempre conseguiria o que queria, independente de seus desejos.

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Após amamentar Helena e Perseu, Briely sentiu o alívio de vê-los finalmente adormecerem, os pequenos corpos relaxando em seus braços. Com cuidado, ela os colocou no berço ornamentado ao lado da cama, ajustando os cobertores delicados que brilhavam com um toque de magia do Sonhar. Seu corpo ainda estava tenso, a mente girando com os eventos do dia e as palavras de Morpheus ecoando como um presságio sombrio. Antes que pudesse se recompor, e ele retornou, segurando um robe negro de tecido fino, quase translúcido, que parecia absorver a escuridão do ambiente.

“Para você,” disse, a voz grave, estendendo o tecido com um olhar que prometia mais do que apenas descanso.

Ela pegou o robe, os dedos tremendo levemente, e murmurou um agradecimento baixo antes de se dirigir ao banheiro anexo ao quarto. Precisava de um momento sozinha, de água quente para lavar não só o corpo, mas também os pensamentos que a atormentavam. Despiu-se completamente, deixando o vestido anterior no chão, e entrou na banheira ampla, o vapor subindo ao seu redor enquanto a água morna a envolvia. Fechou os olhos por um instante, tentando encontrar paz, mas o som da porta se abrindo novamente a fez congelar.

Morpheus entrou, os olhos negros fixos nela como um predador que encontrou sua presa. Ele não pediu permissão, não hesitou. Caminhou diretamente até a banheira, o tecido de sua roupa escura roçando as bordas enquanto se ajoelhava ao lado dela. Antes que pudesse reagir, ele inclinou-se e capturou seus lábios em um beijo feroz, os lábios frios contrastando com o calor da água e de sua pele.

“Não,” ela tentou dizer, a voz fraca, empurrando-o com as mãos molhadas, tentando se afastar. “Eu só quero descansar.”

Ele não a deixou escapar. Seus braços a envolveram, segurando-a firmemente contra a borda da banheira, o corpo dele bloqueando qualquer tentativa de distância. “Shhh,” sussurrou contra sua boca, antes de beijá-la novamente, mais fundo, a língua invadindo sem piedade, dominando cada tentativa de resistência. Sua mão livre deslizou pela pele escorregadia dela sob a água, traçando um caminho lento e provocador ao longo de sua coxa, os dedos roçando a pele sensível até alcançarem sua vagina. O toque era deliberado, possessivo, enquanto ele acariciava a entrada com uma suavidade cruel que contrastava com a força de seu aperto.

Ela se contorceu, o corpo reagindo mesmo contra sua vontade, um gemido baixo escapando enquanto tentava se concentrar. “Por favor, eu só quero descansar,” implorou, ofegante, mas suas palavras eram engolidas pelo sorriso sombrio que curvava os lábios dele.

“Você não precisa de descanso como os humanos,” murmurou, a voz como um ronronar sombrio no ouvido dela, enquanto dois de seus dedos longos e frios deslizavam dentro dela com uma precisão implacável. Ela arqueou contra a borda da banheira, um gemido forçado saindo de sua garganta enquanto ele começava a movê-los, explorando-a sem hesitação, o ritmo firme e profundo. “Você é minha, em todos os sentidos.”

Ela tentou dizer não novamente, a palavra saindo como um sussurro frágil, mas o prazer que ele arrancava dela a deixava tonta, as sensações misturando-se com o medo e a impotência. Ele inclinou a cabeça, capturando um de seus seios na boca, a língua circulando o mamilo sensível antes de sugar, o sabor doce do leite materno enchendo sua boca. Ele gemeu baixo, o som quase animalesco. “Uma iguaria,” disse, levantando o olhar para ela, os olhos brilhando com algo entre desejo e obsessão. “Doce.”

“Morpheus,” ela gemeu o nome dele, o corpo tremendo enquanto os dedos dele continuavam seu ataque implacável, agora adicionando um terceiro, esticando-a ainda mais, o ritmo acelerando até que sua mente girasse de prazer e confusão.

“Chame-me de marido,” ordenou, a voz rouca contra sua pele, os dedos movendo-se mais rápido, mais fundo, enquanto o polegar encontrava seu clitóris, pressionando e circulando até que ela não pudesse mais lutar contra a onda que se construía dentro dela. Ela gritou, o corpo convulsionando enquanto gozava, o prazer a cegando por um momento, a mente nublada enquanto se agarrava à borda da banheira.

Mal teve tempo de notar quando ele a ergueu da água, os braços fortes a puxando para o colo dele. Só percebeu quando os dedos dele deixaram sua vagina, o vazio momentâneo a fazendo ofegar, até que sentiu algo mais quente, mais duro, pressionando contra sua entrada. O pau dele, já livre da roupa, cutucava sua carne sensível, a promessa de mais fazendo seu coração disparar de novo. Ela estava ofegante, o corpo ainda tremendo do orgasmo, quando ele a segurou pela cintura com uma mão e agarrou sua bunda com a outra, encaixando-a sobre ele com uma determinação brutal.

Ela o sentiu por inteiro de uma só vez, o tamanho dele a preenchendo de forma avassaladora, um gemido alto escapando enquanto suas unhas arranhavam as escápulas dele, marcando a pele pálida com linhas vermelhas. Ele grunhiu, os olhos escurecendo ainda mais com o prazer da dor que ela infligia. “Hoje você vai me cavalgar,” disse, a voz carregada de comando enquanto se recostava contra a borda da banheira, as mãos firmes em sua cintura, movendo-a para cima e para baixo sobre ele, o ritmo implacável desde o início.

“Mova-se, minha querida,” murmurou no ouvido dela, os lábios roçando sua orelha antes de descerem para morder levemente o lobo. “Quero sentir você me apertando, me engolindo inteiro. Você é minha, e vai me dar tudo o que eu quiser.” As palavras sujas, ditas em um tom baixo e sedutor, a faziam corar e tremer, o corpo obedecendo mesmo que sua mente gritasse por controle. Ele a movia com força, cada estocada profunda e possessiva, os sons de pele contra pele misturando-se ao splash da água que transbordava da banheira.

Horas pareceram se passar, o ritmo nunca diminuindo, o prazer e a exaustão se misturando até que ela perdesse a noção de tempo. Ele gozou dentro dela várias vezes, mais do que ela podia contar, o calor de cada liberação a preenchendo até que sentisse que não poderia conter mais nada. Mas ele não parou. A levantou da banheira, a água escorrendo de seus corpos enquanto a levava para outros cantos do banheiro, tomando-a em posições que a deixavam ainda mais vulnerável à sua vontade.

Primeiro, ele a pressionou contra o balcão de mármore frio, as costas dela arqueadas enquanto ele a penetrava por trás, uma mão segurando seus quadris e a outra puxando seus cabelos molhados, inclinando sua cabeça para trás para que pudesse beijar e morder seu pescoço. “Olhe para si mesma,” ordenou, apontando para o espelho embaçado à frente, onde ela mal conseguia distinguir seu reflexo ofegante e submetido. “Veja como você é perfeita para mim.” Cada estocada era punitiva, o corpo dele colado ao dela, os gemidos dela ecoando no espaço fechado.

Depois, ele a levantou contra a parede do chuveiro, as pernas dela envolvendo sua cintura enquanto ele a segurava como se ela não pesasse nada, movendo-se dentro dela com uma força que fazia os azulejos tremerem sob suas costas. A água morna ainda caía sobre eles, misturando-se ao suor e ao calor de seus corpos, enquanto ele sussurrava mais obscenidades contra sua pele. “Você vai me dar mais filhos,” dizia, a voz rouca de desejo. “Seu corpo foi feito para isso, para mim. Sinta como você me quer, como você se aperta ao meu redor.”

Por fim, de volta à banheira, ele a colocou de bruços sobre a borda, metade de seu corpo ainda na água enquanto ele se posicionava atrás dela, segurando seus pulsos acima de sua cabeça com uma mão enquanto a outra guiava seu pau de volta para dentro dela. O ângulo era devastador, cada movimento acertando pontos que a faziam gritar seu nome, o prazer beirando a dor enquanto ele a tomava sem pausa, sem piedade. “Você é minha rainha,” grunhiu, os dentes roçando sua nuca. “E este reino será preenchido com nossa linhagem, quer você queira ou não.”

Quando finalmente pararam, ela estava exausta, o corpo mole e trêmulo, sentindo-se cheia de uma forma que era tanto física quanto emocionalmente esmagadora. Enquanto ele a segurava contra a parede do banheiro, beijando-a com uma fome que parecia nunca saciar, ela viu pequenas linhas brancas de sêmen escorrendo por suas pernas, misturando-se à água que ainda pingava de sua pele. O contraste contra sua pele a fez sentir algo entre vergonha e rendição, sua respiração irregular enquanto tentava se ancorar em algo além da presença esmagadora dele.

Com um cuidado surpreendente depois de tanta intensidade, ele a banhou, as mãos agora gentis enquanto limpavam sua pele, retirando os vestígios de sua união. Ele pegou o robe negro que trouxera mais cedo, envolvendo-a no tecido macio. Então, sem dizer uma palavra, ele a levantou no colo, os braços fortes a segurando como se ela fosse uma criança, e a levou de volta ao quarto.

Colocou-a na cama ampla, o colchão afundando sob seu peso enquanto a deitava com cuidado. Ele se juntou a ela, puxando-a contra seu peito, o calor de sua pele contrastando com a frieza de sua essência. Ela estava exausta demais para lutar, para pensar, e enquanto o sono a reivindicava, a última coisa que sentiu foi o batimento constante do coração dele sob sua cabeça, um lembrete de que, no Sonhar, ela nunca estaria verdadeiramente livre de sua vontade.

A escuridão do quarto os envolveu como um manto, e mesmo em seus sonhos, ela sentia o peso da presença dele, uma sombra que a perseguia até nos recantos mais profundos de sua mente. O futuro que ele queria para ela — mais filhos, mais laços — pairava como uma ameaça inevitável, e mesmo enquanto dormia, seu corpo ainda tremia com os ecos do que haviam feito, um lembrete cruel de que, no reino de Morpheus, o desejo dele sempre prevaleceria.

Chapter 19

Notes:

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Chapter Text

Ela acordou com o corpo meio dolorido, cada músculo reclamando da intensidade da noite anterior. Sua cabeça repousava no peito de Morpheus, o calor da pele dele contrastando com a frieza de sua essência.

O batimento constante do coração dele sob seu ouvido era quase hipnótico, mas a sensação de desconforto a fez se mexer, tentando se soltar dos braços que a envolviam como uma prisão de ferro.

Ele a segurou com mais força, os braços apertando ao redor dela antes que pudesse se afastar. Os olhos negros se abriram, fixando-se nos dela com uma intensidade que a fez engolir em seco. "Onde vai?" perguntou, a voz grave ecoando no quarto escuro.

"Quero ver os nossos filhos... e me trocar," respondeu ela, a voz rouca, tentando manter um tom firme apesar da exaustão que pesava em cada palavra.

Um sorriso lento curvou os lábios dele enquanto ele se inclinava, capturando a boca dela num beijo que começou suave, mas logo se aprofundou, a língua invadindo sem hesitação, explorando-a com uma fome que parecia nunca se saciar.

Antes que ela pudesse reagir, ele rolou sobre ela, o peso do corpo dele a prendendo contra o colchão macio, o movimento fazendo-a ofegar.

Ofegante, ela conseguiu desviar o rosto, interrompendo o beijo. Rapidamente, enterrou a cabeça no peito dele, abraçando-o com força, os dedos apertando as costas pálidas.

"Não faça isso... os bebês estão no berço, aqui no quarto," murmurou, a voz trêmula, tentando encontrar qualquer desculpa para deter o avanço dele.

Ele a puxou com facilidade, os dois agora sentados na cama, com ela ainda o abraçando, o corpo dela colado ao dele.

Uma das mãos dele deslizou para os cabelos dela, acariciando as mechas com um toque quase terno, enquanto a outra repousava em sua cintura. "Antes de você acordar, levei os pequenos para o quarto que preparei para eles," disse, a voz baixa, carregada de uma calma perigosa. "Designuei Matthew para vigiá-los enquanto dormem."

Ela ergueu a cabeça do peito dele, os olhos buscando o berço vazio ao lado da cama, a ausência dos filhos confirmando as palavras dele. Ele inclinou a cabeça, o olhar fixo nela com um brilho possessivo. "Este quarto é todo nosso agora," murmurou, os lábios roçando a têmpora dela.

"Estou dolorida... da noite passada," confessou ela, a voz quase um sussurro, na esperança de que isso o fizesse recuar, de que pudesse ter um momento de respiro.

"Então serei gentil," respondeu ele, a voz rouca, mas carregada de uma promessa suave. Ele inclinou a cabeça, depositando beijos leves e delicados ao longo do pescoço dela, cada toque enviando pequenos choques de calor por sua pele.

Com cuidado, ele a deitou de volta na cama, o corpo dele pairando sobre o dela, mas sem o peso opressivo de antes. Suas mãos a acariciavam suavemente, deslizando pelos ombros, descendo pelos braços e voltando para os quadris, os dedos traçando padrões leves que faziam sua pele arder com uma sensibilidade agridoce.

Desta vez, ela não tentou negá-lo, o medo de que ele voltasse atrás em sua palavra de gentileza a mantendo quieta, o corpo tenso, mas submisso sob o toque dele.

Ele sorriu contra a pele dela, notando a rendição silenciosa, e seus dedos desceram mais, encontrando a umidade entre suas pernas.

Com movimentos lentos e deliberados, ele os deslizou dentro dela, apenas dois a princípio, explorando-a com uma suavidade que contrastava com a intensidade da noite anterior.

Ela não pôde conter o gemido baixo que escapou de seus lábios, o corpo reagindo mesmo enquanto a dor ainda ecoava sob o prazer. "Isso mesmo," murmurou ele, a boca ainda roçando seu pescoço enquanto os dedos se moviam em um ritmo constante, entrando e saindo com uma paciência que a deixava à beira da sanidade. "Deixe-me ouvir você."

Ele ergueu a cabeça, capturando a boca dela em um beijo profundo, a língua dançando com a dela enquanto seus dedos aceleravam apenas o suficiente para fazê-la se contorcer de prazer sob ele.

Ela gemeu contra os lábios dele, o som abafado pelo beijo, e sussurrou o nome dele entre arfadas, "Morpheus..." O som parecia alimentá-lo, seus movimentos tornando-se um pouco mais firmes, mas ainda controlados, os dedos curvando-se dentro dela para acertar aquele ponto que a fazia tremer.

Ela gozou nos dedos dele com um grito abafado, o corpo arqueando contra a cama enquanto ondas de prazer a atravessavam, deixando-a ofegante e trêmula. Ele retirou os dedos lentamente, os olhos fixos nos dela com um brilho de posse, e os levou à boca, lambendo-os com um prazer evidente.

Ela corou, o rosto quente sob o olhar predatório dele, enquanto ele saboreava o gosto dela. "Divino," disse ele, a voz grave, um sorriso sombrio curvando seus lábios. "Seu sabor é sempre divino."

Sem desviar o olhar, ele alcançou o robe negro que a cobria, desatando o tecido com dedos ágeis e puxando-o para longe, deixando-a completamente nua sob ele.

O ar fresco do quarto roçou sua pele sensível, fazendo-a estremecer enquanto ele se livrava de sua própria roupa escura, o tecido caindo ao lado da cama, revelando a dureza de seu desejo. Ele se posicionou entre as pernas dela, o pau já pulsando contra a entrada dela, quente e insistente. "Vou devagar," prometeu, a voz baixa enquanto se inclinava para beijar a clavícula dela, e então começou a entrar, centímetro por centímetro, o estiramento lento e deliberado fazendo-a ofegar.

Ele estocava suavemente, cada movimento controlado, mas profundo, preenchendo-a de uma forma que misturava prazer e uma doce dor residual. Lágrimas de prazer escorreram pelos cantos dos olhos dela, o corpo sobrecarregado pela intensidade lenta, enquanto ela entrelaçava as pernas ao redor da cintura dele, puxando-o mais para perto instintivamente.

Seus braços subiram, envolvendo o pescoço dele, os dedos se perdendo nos cabelos escuros enquanto, surpreendentemente, ela tomava a iniciativa e o beijava, os lábios buscando os dele com uma urgência que não conseguia conter.

Ele hesitou por uma fração de segundo, os olhos piscando com surpresa diante da ação dela, mas logo um sorriso mental curvou sua mente, uma satisfação sombria tomando conta dele.

Ele segurou a nuca dela com uma mão, os dedos firmes enquanto aprofundava o beijo, a língua reclamando cada canto da boca dela com uma possessividade que a fez gemer.

Ele continuava a estocá-la lentamente, os quadris movendo-se em um ritmo que era quase torturante de tão preciso, cada investida fazendo-a sentir cada detalhe dele dentro dela.

Ela gemeu no ouvido dele, a cabeça caindo contra o ombro dele enquanto o prazer a deixava tonta, a mente girando com a sensação. "Marido..." sussurrou, a palavra escapando entre gemidos, carregada de rendição e êxtase.

O som pareceu acender algo nele, os olhos escurecendo ainda mais enquanto ele mantinha o ritmo, o corpo dela tremendo sob ele.

Ela gozou novamente, o orgasmo a atingindo como uma onda, seu interior apertando ao redor dele, extraindo um grunhido baixo da garganta dele. Mas ele não parou, as estocadas ainda lentas, mas agora mais profundas, prolongando a sensação para ela. "Não consigo mais," murmurou ela, a voz fraca, os olhos marejados de tanto prazer, a boca entreaberta enquanto um fio de saliva escorria pelo canto dos lábios, o corpo mole sob ele.

"Você aguenta mais um," disse ele, a voz rouca, inclinando-se para lamber a lágrima que rolava pelo rosto dela. "Vamos gozar juntos. Só mais um pouco, minha querida. Aguente para mim." Ele segurou os quadris dela com mais firmeza, mas sem perder a gentileza prometida, os movimentos agora um pouco mais rápidos, o som de pele contra pele enchendo o quarto enquanto ele se aproximava do limite.

"Estou vindo," grunhiu, os dentes cerrados enquanto o prazer o tomava, e ele gozou dentro dela, o calor de sua liberação a preenchendo enquanto ela o seguia, o corpo convulsionando com um último orgasmo que a deixou ofegante, os gemidos ecoando no silêncio do quarto.

Ela suspirou, o corpo exausto, enquanto ele a puxava para cima de seu peito, ainda dentro dela, o calor de seus corpos misturando-se enquanto ele a segurava contra si.

Uma das mãos dele deslizou para a bochecha dela, o toque surpreendentemente gentil enquanto ele a olhava, os olhos negros brilhando com algo que parecia amor, ou pelo menos a versão dele disso. "Você foi perfeita," murmurou, a voz carregada de satisfação enquanto se inclinava para depositar um beijo suave na testa dela, o gesto contrastando com a intensidade de momentos antes.

Ela não respondeu, apenas fechou os olhos, a respiração irregular enquanto tentava se ancorar na sensação do peito dele subindo e descendo sob sua cabeça.

 

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Após alguns minutos de silêncio, o quarto permanecia envolto em uma quietude densa, apenas o som da respiração dela, ainda irregular, quebrava o vazio.

Deitada sobre o peito de Morpheus, ela sentia o calor da pele dele contra sua bochecha, o batimento constante de seu coração como uma âncora em meio à exaustão que pesava sobre seu corpo.

Ele a segurava com firmeza, os braços ao redor dela como uma jaula invisível, mas havia um certo conforto naquela prisão, um paradoxo que ela não conseguia — ou não queria — decifrar.

Ele quebrou o silêncio primeiro, a voz grave ecoando suavemente no espaço escuro. “Quer ficar deitada mais um pouco?” perguntou, os dedos deslizando preguiçosamente pelas costas dela, traçando padrões que enviavam pequenos arrepios por sua pele sensível.

Ela assentiu, o movimento quase imperceptível contra o peito dele, e murmurou um “Sim” fraco, a voz carregada de cansaço.

Seus olhos já pesavam, as pálpebras lutando para não se fecharem completamente, mas a presença dele, tão imponente e inescapável, a mantinha em um estado de semi-alerta, mesmo na exaustão.

Morpheus inclinou a cabeça, os lábios curvando-se em um leve sorriso, embora seus olhos negros permanecessem insondáveis, como poços infinitos de escuridão. “Então durma mais um pouco,” disse ele, a voz um comando disfarçado de sugestão. Com um movimento fluido, ele puxou o lençol negro sobre os dois, o tecido macio roçando a pele nua dela enquanto ele a guiava para deitar de lado.

Eles ficaram frente a frente, os rostos a poucos centímetros de distância, o olhar dele fixo no dela com uma intensidade que a fez engolir em seco, mesmo sem forças para reagir.

Ele a puxou mais para perto, até que suas testas se tocassem, a pele fria dele contrastando com o calor febril que ainda queimava nas bochechas dela.

Seus braços a envolveram completamente, os dedos apertando levemente suas costas, como se temesse que ela pudesse escapar, mesmo naquele momento de vulnerabilidade total. “Durma,” sussurrou ele novamente, o tom baixo e hipnótico, quase como se estivesse moldando a própria essência do sono ao redor dela.

Ela não resistiu. Seus olhos se fecharam, o corpo finalmente cedendo ao peso do cansaço, a respiração ficando mais lenta e profunda enquanto mergulhava no sono.

Morpheus a observou por alguns instantes, o rosto impassível, mas os olhos brilhando com algo sombrio, algo que misturava posse e uma obsessão que parecia crescer a cada segundo que passava.

Ele esperou até ter certeza de que ela estava completamente adormecida, seu corpo relaxado contra o dele, antes de se mover.

Como o Senhor dos Sonhos, ele não precisava de esforço para entrar no reino etéreo que era sua verdadeira casa. Sua consciência deslizou para dentro do sonho dela com a facilidade de uma sombra atravessando a luz, seus sentidos se ajustando imediatamente ao cenário que se desdobrava diante dele.

Ele viu onde ela estava antes mesmo de compreender completamente o que via: Nova York, ou pelo menos uma versão onírica da cidade, pulsante com energia e caos controlado. As ruas estavam cheias de sons, de vozes e risadas, e ele a viu — sua esposa, sua amada, caminhando com um sorriso que ele não via há tanto tempo, um sorriso de liberdade, de uma leveza que ela não exibia no Sonhar, não ao lado dele.

A visão fez algo apertar dentro dele, uma sensação que ele não nomearia, mas que queimava como ácido em sua essência.

Ao lado dela, havia um homem que era quase um reflexo dela mesma, os mesmos traços, os mesmos olhos, mas com uma energia mais selvagem, mais indomada. Morpheus soube de imediato quem era: Percy, o irmão gêmeo dela, alguém que ela mencionara tantas vezes com um tom de saudade que o irritava profundamente.

A mulher que os acompanhava, de olhar afetuoso e gestos protetores, ele também reconheceu pelas descrições que ela fizera — a mãe mortal dela, que parecia ter um lugar permanente na mente e no coração de sua esposa.

Havia outros ao redor, um rapaz de aparência desleixada com cabelos desgrenhados e uma jovem de olhos penetrantes e postura determinada — figuras que ele não conhecia, mas que claramente significavam algo para ela, amigos ou aliados de um passado que ele não controlava.

Ele os observou com desdém, sua presença ali já o incomodando, mas o que fez sua raiva explodir, uma fúria visceral que distorceu até mesmo o tecido do sonho ao seu redor, foi o jovem ao lado dela.

Ele segura a mão dela com uma familiaridade que fez os olhos de Morpheus escurecerem como uma tempestade. Alto, de cabelos loiros bagunçados e um sorriso confiante, quase arrogante, o rapaz olhava para ela com algo que Morpheus reconheceu imediatamente: desejo, admiração, talvez até amor. E ela... ela retribuía aquele olhar, os dedos entrelaçados com os dele, o corpo relaxado, como se estar ao lado daquele mortal fosse o lugar mais natural do mundo.

O nome daquele homem bateu em sua mente como um trovão, lembrado de conversas fragmentadas que ela deixara escapar. Luke. O nome queimou em sua consciência, cada sílaba alimentando um ciúme tão profundo que o próprio sonho começou a tremer. As ruas de Nova York se distorceram, as cores desvanecendo para tons de cinza, o ar ficando pesado como se uma tempestade estivesse se formando.

Morpheus avançou no sonho como uma força da natureza, sua presença imponente e inevitável, e com um pensamento, ele fez Luke desaparecer.

Não apenas desaparecer — ele o destruiu, a figura do jovem se despedaçando em sombras escuras que se dissolveram no nada, um grito ecoando brevemente antes de ser silenciado. O caos se instalou no sonho, as outras figuras gritando, o pânico tomando conta enquanto o mundo ao redor dela desmoronava em escuridão.

Ela o notou então. Seus olhos se encontraram no meio do pesadelo que ele criara, e ele viu a semi-consciência brilhar neles, o reconhecimento misturado com medo.

Ela sabia que ele estava ali, sabia que isso não era apenas um sonho, mas uma manipulação, uma invasão. E, ainda assim, havia algo em seu olhar — uma rendição, um entendimento de que não havia como escapar dele, nem mesmo no reino dos sonhos.

Morpheus não se demorou no caos que criara. Com um gesto de sua vontade, ele moldou o sonho, arrancando-a daquele mundo que ele tanto desprezava e trazendo-a de volta para onde ela pertencia: ao lado dele, no Sonhar.

O cenário mudou, a escuridão dando lugar a um jardim vasto e etéreo, banhado por uma luz suave e irreal que parecia emanar de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo.

O jardim do Sonhar era um lugar de beleza impossível, com flores que brilhavam como estrelas e grama que parecia pulsar com vida própria.

No centro desse espaço, ele a viu, de pé, com um bebê em seus braços — um bebê que era a imagem exata dele, os olhos negros profundos mesmo na tenra idade, cabelos escuros caindo sobre a testa minúscula. E, visível sob o tecido leve de seu vestido, sua barriga estava inchada, marcando uma gravidez de cerca de cinco meses, um símbolo de sua ligação inquebrável com ele.

Ao redor dela, correndo e rindo com uma energia infantil e despreocupada, estavam seus outros filhos, Helena e Perseus, agora com a aparência de crianças de cerca de cinco anos.

Helena, com seus cabelos negros como os do pai, perseguia o irmão, que tinha os traços da mãe, mas os olhos de Morpheus, um brilho sombrio que contrastava com seu sorriso travesso. As risadas deles enchiam o ar, um som que deveria ser reconfortante, mas que, para ela, parecia carregar um peso, uma lembrança de que mesmo seus filhos eram moldados pela essência dele.

Ela suspirou, ainda atordoada pela transição abrupta do sonho anterior para este, o coração acelerado enquanto tentava se ancorar na nova realidade onírica.

Seus olhos passearam pelo jardim, pelos filhos, pelo bebê em seus braços, e finalmente pousaram na figura atrás dela. Morpheus estava lá, como sempre estivera, sua presença inevitável.

Ele se aproximou, os passos silenciosos sobre a grama, e ela viu o rosto dele — furioso, os olhos negros brilhando com uma raiva que parecia consumir até mesmo o tecido do sonho ao seu redor. O ciúme, a obsessão, a posse — tudo estava estampado em sua expressão, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mesmo sabendo que isso era apenas um sonho. Ou talvez, justamente porque sabia que não era apenas um sonho.

Sem dizer nada, ela se aproximou dele, os braços ainda segurando o bebê, e o abraçou. O gesto foi hesitante, quase instintivo, como se soubesse que precisava acalmá-lo, que precisava aplacar aquela tempestade antes que se tornasse algo pior.

O contato pareceu surtir efeito. A raiva nos olhos dele se suavizou, embora não desaparecesse completamente, e ele retribuiu o abraço, os braços envolvendo-a com uma força que era tanto protetora quanto possessiva. O calor do corpo dele contra o dela era quase sufocante, mas havia um alívio nisso, uma segurança distorcida que ela não conseguia evitar sentir.

“Você está aqui comigo,” murmurou ele, a voz grave e carregada de algo que parecia alívio, mas também uma advertência. “É aqui que você pertence. Comigo. Com nossa família.”

Ela não respondeu, apenas assentiu contra o peito dele, o bebê ainda aninhado entre eles. Ele a soltou apenas o suficiente para guiá-la até a grama, sentando-se com ela ao seu lado, o bebê agora no colo dela enquanto ele estendia uma mão para acariciar sua barriga inchada no sonho. O toque era surpreendentemente gentil, os dedos traçando a curva com uma reverência que contrastava com a fúria de momentos antes. Ele observava Helena e Perseus correndo à distância, suas risadas ecoando pelo jardim, e então voltou o olhar para ela, os olhos ainda carregados de uma intensidade que a fazia engolir em seco.

“Eles são lindos, não são?” perguntou ele, a voz baixa, quase hipnótica. “Nossos filhos. Nossa família. Nada mais importa além disso.”

Ela assentiu novamente, os olhos fixos nas crianças, tentando se ancorar na visão delas, no som de suas risadas, em vez de na presença opressiva ao seu lado. Mas então ele inclinou a cabeça, os lábios roçando a têmpora dela em um beijo suave, quase terno, que enviou um arrepio por sua pele. “Você é minha,” sussurrou contra sua pele, cada palavra carregada de uma certeza inabalável. “E eu não permitirei que nada, nem ninguém, tire você de mim. Nem mesmo em seus sonhos.”

O peso daquelas palavras a atingiu como um golpe, e no mesmo instante, ela sentiu algo mudar, uma sensação de tontura que indicava que estava acordando.

O jardim do Sonhar começou a desvanecer, as cores se misturando em borrões, as risadas dos filhos se tornando ecos distantes. O rosto dele foi a última coisa que ela viu antes de abrir os olhos, de volta ao quarto escuro, deitada ao lado dele na cama, o lençol ainda envolvendo seus corpos.

Ele a observava, os olhos negros fixos nos dela, um brilho de satisfação misturado com algo mais sombrio, mais perigoso. Ele sabia o que ela sonhara. Sabia o que ele fizera. E, mais importante, sabia que ela também sabia.

Um sorriso lento curvou seus lábios enquanto ele se inclinava para depositar um beijo leve em sua testa, o gesto carinhoso, mas carregado de um significado que a fez estremecer.

“Dormiu bem?” perguntou ele, a voz suave, mas com um tom de provocação que a lembrou de que, no reino do Sonhar ou fora dele, ela nunca estaria verdadeiramente livre de sua influência.

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Após o beijo leve na testa, ele recuou apenas o suficiente para encará-la, os olhos negros brilhando com um misto de satisfação e algo mais profundo, mais sombrio.

Um sorriso lento curvou seus lábios enquanto ele perguntava, a voz grave e carregada de uma curiosidade quase perigosa: “Dormiu bem?”

Ela engoliu em seco, sentindo o peso daquele olhar sobre si, mas assentiu, murmurando um “Sim” baixo, quase hesitante. Sua respiração ainda estava levemente irregular, o corpo pesado contra o peito dele, mas seus olhos não conseguiram sustentar o contato por muito tempo, desviando para o lençol que os cobria.

Ele sorriu mais abertamente, um gesto que não alcançou os olhos, e inclinou a cabeça, o tom de voz suavizando, mas ainda carregado de intenção. “E gostou do sonho?”

Ela hesitou por um instante, os dedos apertando levemente o tecido sob sua mão antes de responder, a voz baixa. “Sonhei com você... e com filhos.”

Os olhos dele brilharam, um lampejo de aprovação cruzando sua expressão, mas então ele se inclinou mais para perto, o rosto a poucos centímetros do dela.

“E o anterior? Gostou daquele também?” perguntou, o sorriso se alargando de uma forma que fez arrepios percorrerem a espinha dela. Havia algo ali, uma ira contida, uma tempestade pronta para explodir, mesmo por trás da fachada de calma.

Ela sentiu o coração acelerar, o medo misturando-se com a necessidade de apaziguá-lo. Sem pensar muito, inclinou-se para frente, os lábios encontrando os dele em um beijo rápido, quase desesperado. Quando se afastou, sua voz saiu trêmula, mas firme o suficiente para tentar desviar o foco. “Isso não importa.”

Ele a encarou por um longo momento, os olhos escurecendo ainda mais, mas então um som baixo, quase um grunhido de satisfação, escapou de sua garganta. “Não importa onde você vá, ou quanto tempo demore... eu a encontrarei. Até mesmo nos seus sonhos,” disse ele, cada palavra carregada de uma certeza inabalável, um aviso que parecia gravado no Sonhar.

Ela não respondeu com palavras, apenas se aproximou mais, os braços o envolvendo em um abraço apertado, a cabeça repousando contra o peito dele.

Sentiu os músculos dele relaxarem sob seu toque, a raiva dele se dissipando, substituída por uma satisfação palpável. Ele descansou o queixo sobre a cabeça dela, os dedos deslizando por suas costas em um gesto possessivo, mas momentaneamente calmo.

“Vamos tomar banho,” murmurou ele após alguns instantes, a voz mais leve agora, quase como se estivesse oferecendo um momento de trégua. Sem esperar resposta, ele se levantou, puxando-a junto com ele, o lençol deslizando de seus corpos enquanto a guiava em direção ao banheiro anexo ao quarto.

A banheira imensa dominava o centro, já cheia de água fumegante, como se o próprio ambiente soubesse das intenções dele antes mesmo de chegarem.

Ele a guiou até a borda, ajudando-a a entrar antes de se juntar a ela, a água envolvendo seus corpos com um calor reconfortante que contrastava com a frieza de sua essência.

Ele se sentou atrás dela, puxando-a para que se encostasse em seu peito, as mãos deslizando pelos ombros dela, massageando levemente os músculos ainda tensos. “Está melhor agora?” perguntou, a voz rouca, os lábios roçando a nuca dela enquanto falava.

“Sim... um pouco,” respondeu ela, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto fechava os olhos por um momento, deixando o calor da água e o toque dele aliviarem a dor persistente em seu corpo.

Ele deu um leve sorriso contra a pele dela, as mãos descendo para os braços dela, os dedos traçando padrões na pele molhada. “Você parece exausta. Vou tomar conta de você,” disse ele.

Ela apenas assentiu, deixando-o guiar os movimentos, enquanto ele começava a lavar a pele dela, os gestos gentis. “Você gosta disso, não é? De ser cuidada por mim,” comentou ele, o tom carregado de uma satisfação quase presunçosa.

“É... bom,” admitiu ela, hesitante, sentindo o rosto esquentar sob o olhar que sabia que ele tinha fixo nela, mesmo sem encará-lo.

Ele riu baixo, o som reverberando no espaço fechado, e inclinou-se para depositar um beijo leve no ombro dela. “Então deixe-me fazer mais por você.”

Após o banho, ele a ajudou a sair da banheira, envolvendo-a em uma toalha macia eantes de guiá-la de volta ao quarto.

Sem dizer muito, ele se dirigiu ao closet, Vestiu-se rapidamente, e deu a ela um vestido

 

Ela pegou o vestido, sentindo o tecido sedoso escorrer entre os dedos, e lançou um breve olhar a ele antes de começar a vesti-lo.

Ele se aproximou, as mãos ajustando o tecido sobre a pele dela com uma precisão calculada, os dedos roçando-a de forma intencional, marcando a cada toque.

“Você está impecável,” murmurou ele, a voz profunda, enquanto dava um passo atrás para admirá-la. Seus olhos negros, insondáveis como o vazio do Sonhar, fixaram-se nela com uma intensidade que a fez desviar o olhar. “Todos saberão a quem você pertence.”

“Parece com as suas roupas,” disse ela, a voz quase um sussurro, enquanto alisava o tecido sobre os quadris, tentando escapar do peso daquele olhar. O coração dela batia rápido.

Ele curvou os lábios num sorriso lento, inclinando a cabeça de leve. “Exatamente. Você carrega minha marca, em cada detalhe. Todos sabem isso.” Suas palavras carregavam, um lembrete de que ela estava irrevogavelmente ligada a ele, ao Senhor dos Sonhos.

Ela não respondeu, apenas sentiu o impacto da declaração enquanto ele a guiava até a penteadeira.

Sentou-se, pegando uma escova para deslizar pelos cabelos ainda úmidos do banho. Ele tomou assento ao lado dela, o corpo aparentemente relaxado, mas os olhos cravados no reflexo dela no espelho, como se pudesse decifrar cada pensamento que atravessava sua mente.

Quando terminou de arrumar os cabelos, deixou a escova de lado e virou-se para ele, os olhos encontrando os dele por um instante antes de vacilarem, tomados por uma hesitação familiar.

As mãos dela ficaram suspensas no ar por um momento, o coração acelerado com a tensão que sempre acompanhava a proximidade dele. Ainda assim, algo a impulsionou a seguir adiante. Lentamente, seus dedos tocaram o cabelo molhado dele, rearrumando uma mecha que caía sobre a testa, o gesto tímido, quase temeroso.

Ele inclinou a cabeça de leve, uma faísca de surpresa cruzando sua expressão normalmente impassível. Era raro que ela tomasse a iniciativa, que ousasse tocá-lo sem ser guiada por ele. Seus olhos se estreitaram por um segundo, mas logo um brilho de pura satisfação tomou conta deles, uma realização que parecia iluminá-lo por dentro. “Você está me tocando esposa,” disse ele, a voz grave, quase um ronronar de contentamento. “Por vontade própria. Isso significa que está se entregando a mim, não é? Que aceita plenamente o lugar ao meu lado.”

Ela engoliu em seco, as mãos tremendo por um instante antes de continuarem a ajustar o cabelo dele, evitando encará-lo enquanto o medo ainda apertava seu peito. “Eu... só pensei que precisava ajeitar isso,” murmurou, a voz tão baixa que mal se fez ouvir.

Ele soltou uma risada profunda, o som ecoando com uma alegria sombria. “Não finja comigo. Você quer estar perto de mim. E eu farei com que nunca deseje estar em outro lugar.” Ele capturou a mão dela, levando-a aos lábios para um beijo que parecia tanto uma promessa quanto uma reivindicação, os olhos nunca deixando os dela. “Continue. Toque-me quanto quiser. Estou aqui para você, como você está para mim.”

Ela hesitou, mas prosseguiu por mais alguns instantes, os dedos deslizando pelas mechas úmidas antes de finalmente baixarem as mãos. “Quero ver os nossos filhos,” disse, mudando o foco, a voz carregada de um anseio.

Ele assentiu de imediato, levantando-se e estendendo a mão com uma autoridade que não admitia recusa. “Vamos até eles.” Assim que os dedos dela tocaram os dele, uma nuvem de areia escura os envolveu, o Sonhar se moldando ao desejo dele.

O mundo ao redor dissolveu-se num turbilhão, e quando cessou, estavam em outro aposento, um espaço sereno envolto em uma luz suave e etérea, onde dois berços repousavam no centro. Mathew, vigiava os pequenos. Ao perceber a chegada deles, ele inclinou a cabeça em respeito. “Senhor. Senhora.”

“Obrigada por cuidar deles, Mathew,” disse ela, a gratidão genuína na voz enquanto o corvo batia as asas brevemente antes de se retirar deixando-os a sós.

Ela caminhou em direção aos berços, os passos leves como se temesse romper a quietude. Seus olhos suavizaram-se ao observar os bebês, seus rostos tranquilos envoltos em mantas delicadas.

Seus dedos roçaram a bochecha do perseu, a pele tão macia que parecia quase irreal. “Nunca vi crianças tão doces e quietas como eles,” sussurrou, a emoção transbordando em sua voz enquanto os encarava com um amor que parecia consumir cada canto de seu ser.

Morpheus aproximou-se, posicionando-se ao lado dela, a mão repousando na curva de suas costas com uma firmeza que a ancorava a ele.

“Eles são perfeitos, assim como você,” murmurou, a voz baixa, carregada de uma reverência que só ele poderia expressar. “Meus sonhos mais preciosos, todos aqui, ao meu alcance.” Seus olhos brilharam com uma intensidade, um lembrete de que ela e os filhos estavam sob seu domínio absoluto.

Ela o olhou por um instante, antes de voltar a atenção para os bebês, inclinando-se para depositar um beijo leve na testa de cada um, buscando consolo na presença deles.

 

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Eles ficaram sentados por alguns minutos, envoltos na quietude do quarto, os olhos fixos nos bebês que descansavam nos berços.

A luz do Sonhar dançava suavemente pelo ambiente, lançando sombras delicadas sobre os rostinhos tranquilos.

O silêncio era quase palpável, interrompido apenas pelo som suave da respiração dos pequenos.De repente, um barulhinho agudo cortou o ar.

Helena, com seus olhinhos brilhantes abertos, olhou diretamente para a mãe, erguendo as mãozinhas minúsculas em sua direção, emitindo gorgolejos animados.

Ela sorriu, um calor genuíno se espalhando pelo peito enquanto se levantava e se aproximava do berço. "Oi, minha pequena," sussurrou, pegando a filha no colo com um cuidado. Helena riu, um som doce que parecia iluminar o espaço, e ela a segurou mais perto, balançando-a suavemente. "Você acordou tão animada hoje."

Morpheus aproximou-se, seu corpo uma presença imponente ao lado delas. Ele estendeu a mão, os dedos longos e pálidos deslizando pelas mechas finas de cabelo de Helena, um toque delicado que contrastava com a intensidade de seus olhos. "Ela é perfeita," murmurou, a voz grave carregada de uma satisfação profunda. "Assim como a mãe dela."

Ela sentiu um arrepio com aquelas palavras, mas manteve o foco na filha, sorrindo enquanto Helena agarrava seu dedo com força surpreendente.

Logo, sentou-se novamente, ajustando a posição para amamentar a pequena. Helena se aninhou contra ela, os barulhinhos satisfeitos enchendo o ar enquanto começava a mamar.

Do outro berço, um leve choramingo ecoou. Perseu havia acordado, seus olhinhos curiosos procurando ao redor.

Morpheus foi até ele com uma rapidez quase instintiva, pegando o filho no colo com uma segurança que parecia natural.

O bebê sorriu ao ver o pai, um sorriso banguela e puro que suavizou a expressão normalmente impassível do Senhor dos Sonhos.

"Traga-o aqui," disse ela, a voz suave, mas com uma urgência maternal. "Quero alimentá-lo também."

Morpheus obedeceu sem hesitação, entregando Perseu a ela com um cuidado calculado. Quando Helena terminou, eles trocaram os bebês.

Ela acomodou Perseu para amamentá-lo, enquanto Morpheus segurou Helena com um braço, levantando-se e caminhando até uma prateleira próxima.

Ele pegou um ursinho de pelúcia em forma de corvo, com olhos negros brilhantes, e o balançou na frente da filha. Helena gargalhou, estendendo as mãozinhas para tentar agarrá-lo, os olhos cheios de fascínio.

"Veja como ela é determinada," falou ele, um sorriso curvando seus lábios enquanto movia o brinquedo fora do alcance dela, só para vê-la rir de novo.

Enquanto isso, ela observava Perseu mamar, mas seus olhos começaram a vagar pelo quarto, notando detalhes que antes haviam escapado.

O espaço era vasto, em sua perfeição, com prateleiras cheias de bichinhos de pelúcia, berços ornamentados, um cercadinho delicado e até um pequeno closet embutido com portas entalhadas. Tudo parecia cuidadosamente pensado, cada canto imbuído de uma estética que refletia o Sonhar – e, inevitavelmente, a influência de Morpheus.

Ele percebeu o olhar dela explorando o ambiente e virou-se, ainda segurando Helena e o ursinho. "Gostou do quarto dos nossos filhos?" perguntou, a voz carregada de uma curiosidade satisfeita, como se já soubesse a resposta.

Ela assentiu, os lábios se curvando num leve sorriso enquanto Perseu ainda mamava. "É... lindo. Tudo aqui é tão detalhado. Os bichinhos, os móveis... parece um sonho dentro do Sonhar."

"E é," respondeu ele, os olhos brilhando com um orgulho sombrio. "Tudo aqui foi moldado para eles. E para você."

Ela não respondeu de imediato, apenas levantou-se com Perseu ainda no colo, caminhando até uma das prateleiras.

Pegou um ursinho de pelúcia em forma de coelho, o tecido macio entre seus dedos, e o aproximou do filho. A atenção de Perseu desviou-se instantaneamente do peito dela para o brinquedo, os olhinhos brilhando enquanto ele largava de mamar para tentar pegá-lo.

Ela riu baixo, um som suave, e caminhou até Morpheus, sentando-se ao lado dele.

"Ele gostou desse coelho," disse ela, balançando o ursinho na frente de Perseu, que gargalhava, as mãozinhas se agitando no ar.

Morpheus observou a cena, um brilho de contentamento em seus olhos enquanto Helena ainda tentava pegar o corvo de pelúcia em suas mãos. "Ele tem bom gosto," comentou, a voz grave, mas com um leve toque de diversão. "Embora eu ache que o corvo seja mais... apropriado para os herdeiros do Sonhar."

Ela ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso brincando em seus lábios, mesmo com o peso constante do medo em seu peito. "Talvez. Mas um coelho também tem seu charme, não acha?"

Ele inclinou a cabeça, como se considerasse a ideia, o olhar fixo nela com uma intensidade que a fez desviar os olhos por um momento. "Se você diz, então deve ser verdade," respondeu.

Após um breve silêncio, ela falou novamente, a voz mais hesitante. "Onde estão os presentes que eles ganharam na festa? Gostaria de vê-los."

Morpheus assentiu, como se já esperasse a pergunta. "Lucienne os guardou em uma sala próxima. Podemos ir até lá quando estiver pronta."

"Quero vê-los agora," disse ela, o tom firme, mas ainda carregado de uma cautela ao falar com ele. "Mas primeiro, vou dar banho neles e trocá-los."

Ele não contestou, apenas levantou-se, ainda segurando Helena. "Vamos, então."

Juntos, eles caminharam até um banheiro adjacente, um espaço com uma banheira pequena, perfeitamente adaptada para os bebês, com detalhes de estrelas e luas entalhados nas bordas.

Ela começou a preparar a água, testando a temperatura com cuidado, enquanto Morpheus segurava Helena, observando-a com atenção.

Como mãe de primeira viagem, seus movimentos eram um pouco inseguros, e ele percebeu isso. Sem uma palavra, ele se aproximou, ajudando-a a ajustar a posição de Perseu enquanto ela o despia para o banho.

"Assim," murmurou ele, a mão guiando a dela com uma firmeza calma enquanto mergulhavam Perseu na água morna. O bebê riu, batendo as mãozinhas na água, espirrando gotículas que fizeram ela sorrir.

"Obrigada," disse ela, a voz baixa, quase inaudível, enquanto lavava Perseu com cuidado.

Ele apenas assentiu, pegando Helena, enquanto ela terminava com Perseu. Juntos, banharam os dois, os sons de risadas infantis enchendo o espaço. Quando terminaram, ela os enrolou em toalhas macias, levando-os de volta ao quarto.

"Vou pegar roupas para eles," disse, caminhando até o closet. Ao abrir as portas, notou que a maioria das roupas tinha tons escuros – preto dominava, com algumas peças em azul profundo e roxo.

Para Helena, ela escolheu um vestidinho azul delicado, com bordados sutis, e sapatinhos pretos. Para Perseu, pegou um conjunto preto simples, mas charmoso, com sapatinhos da mesma cor. Carregando as roupas, voltou até Morpheus, que já havia colocado as fraldas nos dois.

Enquanto vestiam os bebês juntos, com ele a auxiliando a ajustar as pequenas peças, ela falou, um tom leve, quase brincalhão, mas ainda com um pouco de cautela. "Sabe, eles precisam de um pouco mais de cor nas roupas. Especialmente Perseu. Ele não pode viver só de preto como o pai."

Morpheus ergueu o olhar para ela, um sorriso lento e sombrio curvando seus lábios enquanto terminava de ajustar o sapatinho de Helena. "Acha que o preto não combina com ele?, a cor do mistério. Ele é meu herdeiro."

Ela soltou uma risada baixa, quase nervosa, enquanto abotoava o conjunto de Perseu. "Sim, mas um pouco de verde, ou talvez amarelo, não faria mal. Ele não precisa parecer um mini Senhor dos Sonhos o tempo todo."

Ele inclinou a cabeça, os olhos brilhando com uma diversão enquanto pegava Helena no colo, já vestida. "Talvez eu permita uma ou duas cores. Mas só porque você pediu."

Ela segurou Perseu, agora vestido, e o aninhou contra o peito, sentindo o peso reconfortante do filho "Vamos ver os presentes agora?" perguntou, a voz suave, buscando manter o momento leve.

"Sim," respondeu ele, a mão repousando nas costas dela com aquela firmeza familiar, enquanto segurava Helena no outro braço. "Vamos."

 

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Eles caminharam pelo Sonhar, a presença de Morpheus guiando-a enquanto carregavam os bebês, até chegarem a uma sala

No centro, uma mesa longa exibia uma pilha de presentes meticulosamente organizados, separados com etiquetas e embrulhos que variavam de dourado reluzente a tons terrosos e marinhos.

Ela percebeu de imediato que Lucienne, sempre eficiente, provavelmente havia cuidado da arrumação.

Olhando para a mesa, seus olhos brilharam ao reconhecer os nomes nas etiquetas – membros do seu panteão. "Quero abrir esses primeiro," disse, apontando para os presentes com os nomes de Afrodite, Ares, Hermes, Zeus, Dionísio, Deméter, Ártemis, Hefesto e, claro, o de seu pai, Poseidon. Sua voz tinha um toque de nostalgia misturada com curiosidade.

Morpheus assentiu, o rosto impassível, mas com um brilho de resignação nos olhos negros. Com um leve gesto de sua mão, a areia do Sonhar se moldou em um berço temporário. Ele colocou Helena e Perseu ali, os bebês gorgolejando contentes enquanto se acomodavam. "Prossiga," murmurou, a voz grave, posicionando-se ao lado dela com os braços cruzados, observando-a com sua intensidade habitual.

Ela pegou o primeiro presente, de Afrodite, desembrulhando o tecido rosa-pérola para revelar um par de pulseiras minúsculas de ouro, incrustadas com pequenas pedras que brilhavam como lágrimas de orvalho. Junto, havia uma carta escrita em caligrafia elegante. Ela a abriu e leu em voz alta, um sorriso se formando enquanto as palavras ecoavam.

 

"Minha querida briely,
Parabéns pelo nascimento dos seus pequenos. Que eles herdem sua luz e beleza, e que cresçam sob os melhores ventos do destino. Quanto ao Senhor dos Sonhos, bem, parabéns a ele também, suponho – embora deva admitir que fomos pegos de surpresa com o convite de última hora. Espero que ele aprenda a nos avisar com mais antecedência da próxima vez. Com amor eterno,
Afrodite."

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Ela soltou uma risada baixa, o som escapando antes que pudesse contê-lo, enquanto olhava para Morpheus. Ele ergueu uma sobrancelha, a expressão endurecendo, claramente pouco satisfeito com o tom da carta. "Eles têm coragem de sobra para escreverem isso," murmurou, a voz gélida, mas ela apenas riu mais, achando graça na indignação dele.

"Não leve tão a sério," disse ela, ainda sorrindo, enquanto pegava o presente de Ares – um par de pequenos escudos decorativos, gravados com símbolos de força. A carta acompanhava o mesmo tom.

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"Prima amada,
Seus filhos são uma bênção, e espero que sejam tão ferozes quanto nossa linhagem. Parabéns, e ao seu... esposo, também, embora tenha sido um choque receber um convite tão apressado. Ele acha que somos guerreiros que marcham sem planejamento? De qualquer forma, meus melhores desejos.
Ares."

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A cada carta que ela lia, o desdém sutil por Morpheus ficava mais evidente, e suas risadas se tornaram impossíveis de conter.

As mensagens de Hermes traziam brincadeiras sobre a " lentidão onírica" de avisar os outros, enquanto Zeus, com sua habitual arrogância, parabenizava-a efusivamente, mas mal mencionava Morpheus além de um "parabéns relutante".

Dionísio enviou pequenos vasos de vinho doce para os pais, com um bilhete sugerindo que o Senhor dos Sonhos precisava "beber mais para relaxar e avisar as pessoas com tempo". Deméter ofereceu sementes encantadas para plantar no Sonhar, com um comentário ácido sobre a "pressa indelicada" do convite.

Ártemis enviou arcos minúsculos como enfeites, parabenizando os bebês, mas alfinetando que esperava "melhor organização na próxima celebração". Hefesto presenteou com brinquedos forjados de metal leve, sua carta igualmente mordaz sobre o aviso tardio.

Finalmente, o presente do seu pai, era um par de conchas que ecoavam o som do mar, com uma carta mais afetuosa, mas ainda carregada de desdém.

 

"Minha filha querida,
Seus filhos são a luz do oceano, e meu coração se enche de orgulho por você. Que eles cresçam fortes como as marés. Ao Senhor dos Sonhos, meus parabéns... acho. Embora, devo dizer, um aviso com antecedência teria sido mais digno de um rei como ele se diz ser. Com todo meu amor,
Poseidon."

 

Ela riu alto dessa vez, cobrindo a boca enquanto os olhos de Morpheus se estreitavam, o rosto uma máscara de irritação contida. "Eles realmente não gostam de você, não é?" provocou ela.

"Não me importo com a opinião deles," respondeu ele, a voz cortante como a borda de um sonho sombrio. "Mas parece que você está se divertindo com isso."

"Um pouco," admitiu ela, dando de ombros enquanto colocava as cartas de lado e examinava os presentes com um sorriso. "Mas eles adoram os bebês. Isso é o que importa."

Depois de esgotar os presentes do seu panteão, ela notou outra pilha menor, embrulhada em estilos que não reconhecia – tons de vermelho flamejante, preto profundo e dourado ofuscante, com nomes que não lhe eram familiares: Anúbis, Kali, Quetzalcóatl e outros que ela nunca havia encontrado. Franzindo a testa, virou-se para Morpheus. "De quem são esses? Não os convidamos para a festa."

Ele olhou para os presentes, um leve brilho de reconhecimento cruzando seus olhos. "Deuses de outros panteões," explicou, a voz neutra, mas com um toque de conhecimento que ela não possuía. "Eles sabem da existência dos meus herdeiros e enviaram tributos, mesmo sem convite. É... costume em alguns reinos reconhecer nascimentos de seres como os nossos filhos."

"E você os conhece?" perguntou ela, pegando um dos embrulhos – um pequeno amuleto de obsidiana com gravuras estranhas, de Kali, segundo a etiqueta.

"Sim," respondeu ele, o tom fechado, como se não quisesse se aprofundar. "Já cruzei caminhos com eles em eras passadas. Não os convidei porque não vejo necessidade de envolver todos os reinos no nascimento dos meus filhos. Mas aceito os presentes como cortesia."

Ela assentiu, ainda curiosa, mas decidiu não pressionar. Pôs o amuleto de volta na mesa, voltando a atenção para Helena e Perseu, que brincavam no berço conjurado. "Eles gostarão de todos esses presentes um dia," murmurou, mais para si mesma, enquanto um sorriso suave cruzava seu rosto.

Morpheus aproximou-se, a mão repousando nas costas dela com aquela firmeza familiar que sempre a ancorava a ele. "Eles terão tudo o que o Sonhar pode oferecer," disse, a voz baixa, mas carregada de uma promessa inabalável. "Assim como você."

Ela sentiu o peso daquelas palavras, mas apenas acenou em silêncio, os olhos fixos nos filhos enquanto tentava ancorar-se na paz daquele momento.

Notes:

A reunião dos perpétuos no próximo capítulo ✧⁠◝⁠(⁠⁰⁠▿⁠⁰⁠)⁠◜⁠✧,