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The Reason I Hate Everyone

Chapter 2: Helianthus

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Oak havia sido convocado para uma reunião com seu superior, o qual ele achava um tanto estranho, mas não ousava contrariar. Andava pelos corredores estreitos e mal iluminados do QG principal com pressa. Não se esforçava para cumprimentar ninguém, mesmo mantendo a cabeça reta e em prontidão.

Ele não se interessava pelas pessoas e só se empenhava para não se interessarem por ele também, o que nem sempre era possível; o porte físico e beleza que possuía não eram algo de que tinha controle, mesmo assim, sempre tentava se “estragar” quando tinha a oportunidade. Não fugia de brigas de rua, tinha hábitos nada saudáveis com lâminas quando bêbado, dormia apenas o estritamente necessário e fumava bem mais do que deveria. Se destacar por coisas das quais ele não podia controlar não era o que almejava.

Chegou no local da reunião um pouco antes do horário combinado, sabia que o líder da facção da cidade demoraria, e seu superior mais ainda. O silêncio e a solidão lhe eram reconfortantes, porém, se seu chefe, Marble, chegasse antes do líder, Oak teria os 10 ou 20 minutos mais barulhentos de sua semana. Gostava de pensar que se dava bem com o doido meio desfigurado, já que nunca foi ameaçado por este nem coisa pior, mas a realidade é que não saberia dizer se ele sequer lembrava seu nome.

A cidade em que viviam era dividida entre duas facções. A SSC, sigla para Soberania do Submundo da Capital, controlava o lado mais organizado, seu líder era chamado de Diamond e todas as gangues desse lado eram subsidiárias dele, mesmo que tivessem suas desavenças entre si. Marble era o chefe da maior dessas gangues, mas o grupo não possuía um nome pelo simples fato dele não ter se importado em criar um. Não que precisasse, seus capangas eram conhecidos por todo o território.

Do outro lado havia o CCA, ou Comando do Caos Armado. Desde que o líder dessa facção foi morto em uma ação policial há alguns anos atrás, aquele é o lado mais perigoso da cidade. O CCA já era violento, mas sem uma liderança para manter as pequenas gangues em ordem, aquilo virou um verdadeiro *caos*.

A porta da sala se abriu, Oak se virou. Como esperado, o líder, Diamond. Era um homem alto de costas largas, tinha cabelos bem grisalhos, mesmo estando em seus 40 e poucos anos e sempre usava óculos baixos. Era o tipo de homem que com certeza não precisava de guarda-costas, mas para a surpresa do ruivo, dessa vez ele veio acompanhado. Logo depois dele entrar, alguém com uma estatura e aparência infantis pulou para dentro da sala, algo definitivamente inesperado, mas que não gerou nenhuma mudança na expressão gélida de Oak.

A pessoa pequena andava no encalço do mais velho e Oak pensou o quão irritante seria se aquilo acontecesse com ele. Por que havia alguém assim em uma reunião séria como aquela, afinal? E quanto tempo demoraria até seu superior chegar? “O imbecil não tem respeito algum”, reclamou em sua mente, e pela expressão no rosto das outras pessoas presentes, pôde pressupor que pensavam a mesma coisa.

Passaram-se por volta de 5 minutos, e a porta da sala foi aberta mais uma vez.

— Desculpem o atraso, cavalheiros. Houve um contratempo!

O superior e chefe de Oak arrumava as roupas apressadamente e de qualquer jeito, suas mãos estavam levemente sujas de vermelho, o que muito provavelmente era sangue mal lavado. Ele se sentou na grande cadeira atrás da grande mesa em sua sala e sorriu para todos como uma criança animada.

— Diga logo o porquê de estarmos aqui, Marble. — pediu Diamond, enquanto cruzava os braços impacientemente.

— Claro, chefe, como quiser. Oak, a partir de hoje o Chalk aqui será seu... parceiro. Cuide dele como se fosse eu, entendeu?

As palavras o atingiram como um caminhão; já odiava pessoas no geral e agora teria que ser babá daquele pirralho com roupa de boneca? Juntou forças para contrariar a decisão repentina.

— Fui promovido a cuidar de crianças?

Ouviu a risada estridente, característica de Marble.

— Você é engraçado, Oak! Mas se anime! Este é o garoto que todos estão comentando por aqui. Você não sabe, já que não fala com ninguém, mas este jovem vem se destacando pelos seus grandes feitos no nosso ramo. E ele é ótimo com bombas, isso seria interessante para os trabalhos que te coloco, não acha?

Tudo que ele falava era verdade, e mesmo que suas ordens fossem lei, como ocupante do cargo de braço direito, Oak tinha algum direito em se opor.

— Ele é tão importante assim?

— Ele é. Por quê? Planejava matá-lo quando eu não estivesse olhando?

Marble se tornou sério de repente, e sempre que sua face “brincalhona” desaparecia, era melhor não o atormentar mais. Oak se lembrou de um momento que presenciou em que não se havia levado a fala do superior a sério. Se limitou apenas à lembrança de como Marble limpava o fluido cerebral da ponta de uma simples caneta, que até aquele dia ainda descansava em sua mesa.

— Não, senhor.

— Ótimo! Bem, a reunião com nós quatro era apenas para apresentar os dois formalmente e tornar oficial. Parabéns a ambos, e boa sorte! Agora saiam.

O garoto, que aparentemente se chamava Chalk, se levantou e foi para perto de Oak, o cutucou no ombro e fez um sinal como se dissesse para segui-lo. E ele foi, se segurando para não revirar os olhos.

Após saírem da sala e deixarem Marble e Diamond a sós, Oak foi surpreendido pela visão do garoto fazendo uma reverência. Depois de alguns segundos ele voltou a se endireitar e sorriu inocentemente, o que já irritou o mais velho profundamente.

— Marble disse que você gostaria disso, mas não vá se acostumando, hein? Fazer isso dói as costas!

Ele riu de uma forma desengonçada, quase sem sair som. Sua voz era fina, mas rouca, do tipo que não se esquece facilmente. Seus olhos eram um pouco esticados, claros quase em um tom arroxeado, o cabelo tinha um corte estranho, as roupas, que pareciam ter sido retiradas de uma boneca de porcelana, cheias de acessórios e babados, estavam impecáveis.

Oak, visivelmente cansado, suspirou pesadamente e foi se dirigindo para a saída. Só queria chegar em seu apartamento, encher a cara de bebida e ficar desmaiado até o alarme tocar na manhã seguinte. Porém, por perceber o mais novo o seguindo, já concluiu que seus planos seriam frustrados.

— O quê?

— Hum? Está falando comigo? Eu *tô* indo para casa, ué!

Ele achou estranho, mas não contestou, podia ser apenas uma coincidência os dois estarem caminhando exatamente para o mesmo lugar.

A cidade era como qualquer outra capital, lotada demais, suja demais, cheia de aflição, miséria, fome, riqueza, poder, tudo junto e misturado numa massa de corpos desesperados por qualquer coisa. Naquele mundo, o que você poderia se tornar era designado no momento do seu nascimento.

O primeiro nome de alguém seria o início de sua evolução. Uma criança chamada Acorn, que era quieta e reservada, transformou sua impaciência e raiva encapsuladas em força física e frieza para realizar trabalhos sujos, se tornando Oak, o braço direito mais temido de toda a capital. O pequeno e abandonado Limy transformou seu tempo livre em aprendizado, sua fome em talento e sua aparência inocente em seu ponto forte para cometer seus crimes; e agora como Chalk, fora promovido.

Esse mundo está cheio de possibilidades, mas, para eles, todas pareciam levar ao caminho mais distante do que seria considerado o correto perante a lei. Oak pensava profundamente sobre todas as escolhas que o levaram até onde está hoje, e não conseguia imaginar como estaria se tivesse sido diferente. “Muito pior”, concluiu. Só saiu de seus devaneios ao parar em frente à porta do apartamento e ainda ouvir o pequeno atrás de si, perguntando o que ele estava fazendo.

No final das contas, Marble havia deixado uma chave do apartamento de Oak com Chalk, sem mais nem menos e sem aviso prévio. Agora eles passariam a morar juntos.