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Fragmentado

Chapter 4: Capítulo 4

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

**

 

James Potter estava cansado. Não cansado de treinos de quadribol, de puxões de orelha de McGonagall ou de inventar desculpas convincentes pra justificar porque Sirius aparecia constantemente com cheiro de álcool e ervas no dormitório. Não, ele estava cansado de algo muito mais exaustivo: ser o namorado oficial de Severus Snape.

Oficial, claro, só na cabeça de Snape. E, aparentemente, na de metade dos professores e de até alguns alunos que, por algum motivo, haviam decidido vigiar a situação como se fosse parte do currículo escolar.

O problema é que fingir ser namorado de alguém envolvia… logística. James nunca tinha se dado conta disso. Era flores, presentes, olhares carinhosos, ou, no caso de Snape, revistas de beleza roubadas de alguma aluna inocente. James ainda sentia uma dor física toda vez que lembrava da conversa sobre o “shampoo avançado”.

Shampoo! Ele, James Potter, o maior talento do quadribol de Hogwarts, aquele cujo sorriso derretia corações, agora se via obrigado a atravessar o Beco Diagonal com frequência pra comprar diversos tratamentos capilares pro cabelo oleoso de Snape e mais um tanto desproporcional de diversos produtos.

Ele jamais esqueceria quando ele foi obrigado a escolher e comprar meias quentes pro sonserino.

Não tinha como afundar mais.

— Eu juro por Merlin, Prongs — Sirius resmungou, andando ao lado dele pelo corredor do sexto andar. — Se você comprar mais uma poçãozinha de brilho pro Snape, vou mandar bordar “Consultor de Beleza” na sua capa de quadribol. Por Merlin, tenha um pouco de dignidade, você é um homem ou um rato?

— Ei! — Peter gritou pouco atrás deles.

Remus, ao lado, soltou um riso abafado, mas ninguém deu muita importância pro descontentamento de Peter sobre aquele comentário.

— Você devia considerar isso como um estágio extracurricular. Vai que o time de quadribol cai, sempre pode abrir um salão. Seu pai ficaria orgulhoso.

— Cala a boca, vocês dois. — James respondeu com um fio de voz. — Eu já estou vivendo um pesadelo, não preciso de comentários adicionais.

— Pesadelo? — Peter, arregalou os olhos. — Mas você não gosta dele agora? Tipo… você às vezes é bastante convincente?

James fechou os olhos, respirou fundo e tentou não explodir.

— Peter. — ele começou, com a paciência de quem estava a um fio de um colapso — Eu não gosto dele. Eu sobrevivo a ele. É diferente.

O grupo seguia pelos corredores como se estivesse atravessando território inimigo. Cada esquina, cada sombra podia esconder Snape, pronto pra aparecer com mais uma ideia genial que inevitavelmente acabaria no bolso de James. E, claro, não ajudava que Snape parecia ter desenvolvido uma habilidade sobrenatural pra surgir justamente quando eles menos esperavam.

— Aposto dez galeões que ele vai brotar atrás daquela armadura — Sirius sussurrou, apontando pra um corredor lateral.

Todos prenderam a respiração. Silêncio. Nenhum Snape.

— Hah! — Sirius comemorou. — Ele não é onipresente. Eu disse que estava certo.

Dois segundos depois, uma voz melosa ecoou atrás deles:

— Jamie.

James sentiu a alma deixar o corpo. Ele se virou devagar, com o coração já na garganta. Lá estava Severus, abraçado a um livro enorme, o rosto iluminado por um sorriso doce e seus cabelos mais limpos e brilhantes do que nunca.

— Ah, Merlin, me leva logo. — James murmurou, baixo o bastante pra só Remus ouvir.

— Olá, meninos. — Snape sorriu pro seus amigos e estendeu um pequeno embrulho pra Remus e Peter. — Eu estava na cozinha e os elfos fizeram doces de mel, estão muito bons. Trouxe um pouco pra vocês. — Então o sonserino se virou pra James, o rosto vermelho. — James, pensei que poderíamos dar uma volta.

Aquilo era outra coisa que os confundia em relação ao sonserino, Snape era sempre gentil com eles, especialmente com Peter e Remus, ele parecia gostar genuinamente dos dois. E contra todo o bom senso, os dois grifinórios também pareciam ter se acostumado com a presença de Snape e até a gostar dela.

— Dar uma volta. — Repetiu James, sem energia pra argumentar. — Sim, claro.

Snape o deu um sorriso tímido e James viu algo que só percebeu nas últimas semanas, Snape tinha covinhas.

Como os cabelos do outro estavam mais cuidados, o sonserino passou a usá-lo de diferentes formas e isso dava uma visão completa de seu rosto, que graças as poções que madame Pomfrey sempre o dava, estava mais gordinho e saudável.

Sirius tossiu alto pra disfarçar a gargalhada e isso tirou James de seus próprios pensamentos. Mas que merda ele estava fazendo reparando naquilo?

E foi assim que, minutos depois, eles se encontravam em uma parte afastada do jardim, com Snape confortavelmente instalado ao lado de James no banco de pedra, como se fosse o lugar mais natural do mundo. Sirius, Remus e Peter estavam de frente, fingindo observar as flores e as árvores ao redor, mas claramente espionando cada gesto.

James tentava manter distância, mas Snape parecia ser feito de imã. Não importava o quanto ele se inclinasse pra direita, Snape sempre encontrava um jeito de encurtar o espaço.

— Estava pensando… — Severus começou, mexendo nas próprias mãos com um ar pensativo. — Vocês sabem que minha memória está meio confusa, não é? Eu acho que comecei a me lembrar de algumas coisas.

O coração de James gelou. Ele lançou um olhar rápido pros seus amigos, que estavam agora muito, muito atentos. Remus se endireitou na cadeira. Até Peter parou de roer a unha. Sirius se debruçou levemente na direção deles.

— Lembrar? — James repetiu, tentando soar despreocupado, mas sua voz saiu dois tons mais agudos.

— Sim. — Severus olhou pro horizonte, ele entortou um pouco os lábios pra direita. Uma mania que Potter reparou que o outro sempre tinha quando estava confuso com algo. — Fragmentos, talvez sonhos. Não sei se são memórias reais.

James engoliu em seco. Desde que tudo começou, ele sonhava na possibilidade de Snape recuperar a memória. Isso poderia significar sua liberdade.

— Por exemplo… — Severus continuou, com a serenidade de quem não fazia ideia de que aquilo podia mudar tudo pra eles. — Eu sonhei que Sirius tentou me pregar uma peça usando um lobisomem.

O silêncio caiu como uma pedra. Sirius congelou. Remus arregalou os olhos. Peter deixou escapar um “oh” estrangulado.

James sentiu a espinha gelar.

— S-sonho — Ele disse rápido demais, como se tentasse apagar a palavra anterior. — Deve ter sido só um sonho!

Severus franziu o cenho, inocente.

— Pois é, pensei o mesmo. Afinal, somos todos amigos agora, não é? Não vejo Sirius fazendo algo tão cruel comigo. Nunca mereci ser tratado daquela forma, certo?

Severus olhou pra cada um deles, especialmente pra James e Sirius, como se esperasse que eles concordassem com aquilo.

— Foi um sonho. — A voz de Pads não passava de um sussurro. — E-eu não faria isso com n-ninguém.

Sirius falou enquanto olhava fixamente pro chão, o rosto pálido. Remus estava vermelho até as orelhas. Peter parecia pronto pra sair correndo.

— Claro que não! — James disse, a voz forçada demais. — Isso é… absurdo. Foi só um sonho, Sev.

— Sim, deve ter sido mesmo — Severus concluiu, com um sorriso satisfeito, apoiando o ombro contra o de James como se tivesse acabado de revelar uma lembrança boba da infância. — Afinal, eu me dou tão bem com vocês. Nem sei porquê mencionei isso.

O silêncio que seguiu foi sufocante. James podia sentir a tensão pairando sobre eles. Sirius mordia o lábio até quase sangrar. Remus mexia nervosamente nas mangas. Peter não conseguia parar de piscar enquanto olhava pra Snape.

Snape, por sua vez, parecia perfeitamente confortável, o retrato da inocência, como se não tivesse acabado de cutucar a maior ferida aberta deles.

James tentou rir, mas saiu como um soluço.

— Sonho engraçado, não é? — Ninguém respondeu, com exceção de Snape o respondeu, o sonserino apenas acenou com a cabeça com um pequeno sorriso.

No fundo, James sabia que o clima estava oficialmente arruinado.

Snape, ao seu lado, pegou um livro e uma pena, como se nada tivesse mudado.

James fechou os olhos, sentindo a cabeça latejar.

 

*

 

O dormitório da grifinória estava um caos silencioso. Não o tipo de caos barulhento que envolvia explosões de poções clandestinas de Sirius ou brigas de travesseiros que terminavam com Peter engasgando com penas. Era um caos pesado, sufocante..

Dois dias tinham se passado desde que Snape, com aquele maldito sorriso inocente, soltou a bomba sobre o sonho da pegadinha de Sirius. Dois dias e ninguém falava direito com ninguém.

Sirius passava as horas deitado de barriga pra cima, girando a varinha entre os dedos, olhando fixamente pro teto como se esperasse que ele desabasse a qualquer momento. Remus estava enterrado em livros, mas James sabia que ele não lia de verdade, só mexia nos mesmos parágrafos, os olhos piscando rápido demais. Peter evitava todos, como se estivesse tentando se tornar invisível.

E James… James estava à beira de um ataque.

Ele nunca suportou o silêncio prolongado, ainda mais vindo de seu grupo. O quarteto era barulho, era risada, era confusão, era planos absurdos às três da manhã. Agora, tudo o que restava era esse clima de velório.

Se ele não soubesse da real situação de Snape, ele até poderia acreditar que aquela conversa tinha sido de propósito, apenas pra fazê-los ficar distante um dos outros.

James rolou na cama pela enésima vez, até que finalmente sentou-se de uma vez, os óculos escorregando pelo nariz.

— Isso não dá. — Ele murmurou pra si mesmo, mas alto o bastante pra que todos escutassem.

Sirius mexeu a varinha, mas não respondeu. Remus fingiu virar a página. Peter fingiu dormir, embora James tivesse certeza de que ele estava com os olhos abertos.

James inspirou fundo, se levantou e começou a andar de um lado pro outro.

— Se continuarmos assim, Snape vai viver como o príncipe da inocência eterna e nós vamos apodrecer aqui dentro. Eu vou apodrecer, o nosso ano não falta muito pra acabar, o que me resta depois? Eu vou ter que me casar com ele?! É ridículo.

— E qual é a alternativa, Prongs? Pelo menos, por enquanto não temos nada a fazer. — Sirius retrucou, sem tirar os olhos do teto. — Contar pra ele a verdade? Que eu, Sirius Black, fui idiota o bastante pra quase jogá-lo na boca de um lobisomem? Contar pra ele que o lobisomem é Moony?

Remus estremeceu ao ouvir aquilo, e James percebeu o quão cruel foi Sirius verbalizar de forma tão direta.

— Não — James respondeu, firme. — A alternativa é descobrir quem envenenou ele em primeiro lugar.

Isso fez todos erguerem os olhos.

— O que você quer dizer? — Remus perguntou, finalmente fechando o livro.

— Quero dizer que nada disso teria acontecido se alguém não tivesse colocado a mão no Snape e feito essa porcaria de misturar várias poções. Ele não esqueceu ou confundiu metade da vida sozinho. Isso foi consequência de um atentado calculado, foi planejado. E eu quero saber quem fez isso.

Sirius soltou um riso curto, quase sem humor.

— Você acha mesmo que alguém teria coragem de mexer com poções avançadas só pra ferrar o Snape? Logo o Snape? O mesmo cara que quase arrancou sua orelha com um feitiço que ele mesmo criou.

James estremeceu ao se lembrar daquele feitiço, ele teve sorte de ter tido apenas um leve corte na bochecha e que Snape foi obrigado a dizer o contrafeitiço. Ele, sinceramente, não queria ver o que aquele maldito feitiço era capaz de fazer com alguém.

— Você mesmo já fez coisas piores só pra rir. — James rebateu sem pensar muito.

Sirius se calou.

Remus coçou a nuca, pensativo.

— Se você descobrir quais ingredientes foram usados, talvez os professores consigam reverter.

— Exato. — James apontou pra ele como se tivesse acabado de ganhar um debate. — É isso. Eu não aguento mais esse teatro. Eu quero minha vida de volta.

Peter resmungou da cama.

— Mas como você vai descobrir isso?

James respirou fundo, como quem se prepara pra anunciar um plano suicida.

— Eu vou entrar na comunal da Sonserina.

O efeito foi imediato. Sirius sentou-se na cama de um pulo. Remus arregalou os olhos. Peter engasgou no travesseiro.

— Você enlouqueceu! — Sirius quase gritou. — Vai entrar lá sozinho? Isso é pedir pra voltar em pedacinhos. Ninguém lá gosta de você.

— Eu tenho intuição. — James disse, firme. — Se o responsável está em algum lugar, é lá.

— Intuição?! — Sirius repetiu, indignado. — A sua intuição já nos fez correr de um trasgo pelado, James!

— Esse dia foi engraçado. — Peter murmurou, mas se calou ao ver o olhar mortal de Sirius. — Desculpe.

Remus respirou fundo, tentando manter a calma.

— Prongs, isso é perigoso. Você nem sabe a senha da comunal deles.

— Ah, mas eu tenho métodos. — James sorriu de canto, ajeitando os óculos.

Todos sabiam o que ele queria dizer. A capa da invisibilidade, o Mapa do Maroto, e muita audácia e coragem.

— Você vai acabar morto. — Sirius insistiu.

— Não seja exagerado. — James deu de ombros, a coragem mascarando o frio na barriga que começava a sentir. — Mas alguém tem que fazer alguma coisa. Os professores não parecem muito preocupados com isso, eles acreditam que fui eu o responsável. Tenho que fazer alguma coisa.

Todos ficaram em um silêncio que parecia eterno, mas Remus foi o primeiro a ceder.

— Se você encontrar qualquer coisa, qualquer ingrediente, traga direto pra mim. Vou analisar.

James assentiu.

Sirius balançou a cabeça, incrédulo, mas no fim suspirou.

— Você é um idiota, Prongs. Mas… quer que eu vá com você?

— Não, não é necessário. — James piscou, pegando a varinha.

 

*

 

O castelo à noite era o local favorito dos marotos, sempre era tão animado, mas naquela noite James não sentia a mesma empolgação de sempre. Enquanto deslizava sob a capa da invisibilidade, cada sombra parecia maior, cada barulho ecoava mais do que deveria.

O mapa estava aberto em suas mãos, as manchas de alunos se movendo pelos corredores. Ele observava as passadas lentas de Filch, ele até passou por Pirraça, até que ele finalmente chegou ao vazio absoluto perto das masmorras.

Perfeito, pensou James, engolindo em seco.

Chegar à entrada da sonserina foi simples. O difícil seria entrar. A parede de pedra cinzenta estava ali, impassível, sem sinal de senha ou mecanismo. Ele esperou, imóvel, até que um grupo de sonserinos se aproximou rindo baixo.

— Sangue Frio. — Uma das garotas disse.

A parede se abriu como uma boca silenciosa, revelando a comunal verde-escura. James se esgueirou atrás deles, o coração batendo alto demais.

A sala era sombria, iluminada apenas pela luz verde que vinha do lago através de janelas grossas. Estantes cheias de livros escuros, sofás de couro, e a sensação de estar em território inimigo.

James prendeu a respiração.

Ele precisava de pistas. Poções, frascos, pergaminhos. Algo que apontasse pro culpado.

Enquanto os sonserinos iam pro dormitório, ele correu até uma mesa próxima à lareira. Vários pergaminhos abertos, anotações sobre ingredientes, frascos pequenos com restos de líquidos brilhantes.

Mas no fundo ele sabia que seria inútil, o culpado não deixaria qualquer prova solta daquele jeito. Quem poderia ter sido? Talvez ele pudesse entrar em alguns dormitórios.

Ele começou a andar pelos corredores dos dormitórios, com sorte algum estaria aberto e vazio, e então ele poderia entrar. James estava tão perdido em seus próprios pensamentos que não notou um corpo vindo em sua direção, quando ele menos percebeu estava no chão frio com alguém parcialmente em cima dele.

Porra.

Ele estava lascado.

Com a queda, a capa escorregou um pouco, revelando suas pernas. Respirando fundo ele se preparou.

— Mas que desgraça é essa? — A voz de Avery estava alta e até meio desesperada enquanto via apenas as pernas do grifinório. O sonserino praticamente pulou pra longe dele, rapidamente passos foram ouvidos se aproximando, olhando pra cima, ele viu o rosto confuso de Snape, Wilkes e Mulciber. — O que é isso? O que é isso Seveurs?!

A voz de Avery parecia quase que com medo enquanto se levantava e se aproximava dos amigos.

Suspirando, James decidiu que não teria escolha. Se levantando e saindo de baixo da capa, ele deu o melhor sorriso pra Snape.

— Surpresa, morceguinho! — Ele o deu o seu maior e melhor sorriso pro outro enquanto via a expressão confusa de Snape e os olhares confusos dos outros. De onde surgiu aquele apelido? Ele era tão idiota.

Merda, ele queria morrer.

O silêncio que se instalou foi tão pesado que James quase podia ouvi-lo tilintar contra o vidro grosso das janelas submersas. O coração dele batia alto, quase abafando o som das bolhas subindo do fundo do lago.

Mulciber foi o primeiro a reagir, dando um passo à frente com a varinha já na mão.

— Você perdeu a cabeça, Potter? — Ele se aproximou, os olhos estreitados, cheios de ódio. — Entrar aqui? Sem ser convidado.

James ergueu as mãos num gesto teatral, como se não fosse nada demais.

— Vim só fazer uma visita pro meu namorado… e vocês são péssimos anfitriões, devo dizer.

Wilkes não riu. Ninguém riu. Avery parecia ainda mais nervoso, como se tivesse visto um espectro. Seus olhos iam de James pra Snape, quase suplicantes por alguma explicação.

Snape, por outro lado, permanecia imóvel. O olhar dele, escuro e frio, atravessava James como lâminas. Não havia surpresa genuína ou aquele brilho inocente, apenas uma análise cuidadosa, perigosa. James franziu as sobrancelhas, era como se ele estivesse de frente ao velho Snape, o que costumava o odiar.

Mas aquele olhar foi embora tão rápido quanto surgiu. Em questão de segundos, o olhar do sonserino mudou pra algo alegre. Potter duvidou de si mesmo.

— Você é ainda mais bobo do que eu pensava, Jamie. — A voz de Snape soou baixa, animada enquanto ele se aproximava e abraçava um de seus braços. — Entrar aqui, sozinho... você poderia ter me dito que queria me ver.

James respirou fundo, engolindo a vontade de soltar alguma piada ainda mais idiota. Ele estava ferrado e sabia disso, mas não podia deixar que vissem. Então, inclinou a cabeça, o sorriso ainda no rosto.

— Talvez eu só queria fazer uma surpresa pra ver você, morceguinho.

— Bom, sendo assim… — O rosto de Snape estava vermelho. — Boa noite garotos, vejo vocês amanhã.

Com isso o sonserino puxou James pro seu dormitório, Potter queria sair correndo.

— Severus? — Wilkes chamou o outro, sua voz parecia alarmada.

— Eu estou bem, Will. — Snape acenou com a mão pro outro sonserino.

James mal conseguia raciocinar enquanto era puxado por Snape pelos corredores silenciosos até o dormitório individual dele. Cada passo ecoava, e cada fibra de seu corpo gritava que aquilo era uma péssima ideia.

A porta se fechou atrás deles com um estalo abafado. O quarto era escuro, com cortinas pesadas e verdes, móveis antigos e a luz bruxuleante de velas espalhadas, lançando sombras estranhas pelas paredes. James olhou em volta, tentando absorver tudo, a mesa coberta de frascos, livros empilhados de forma meticulosa, um pequeno caldeirão ainda soltando fumaça no canto. O cheiro era uma mistura de ervas amargas, metal e algo doce, quase sufocante.

— Uau — disse James, aproximando-se da estante. — É como se você tivesse trazido toda a biblioteca pra cá. Você tem até… uma coleção de caldeirinhos minúsculos?

Desde quando Snape tinha dinheiro pra aquilo?

— Eles foram presentes de Narcisa, ela me deu no meu aniversário de treze anos. — Snape o respondeu com um leve sorriso brincava nos cantos de seus lábios. — E você, Potter, se perde nos detalhes ao ponto de esquecer que está comigo. Pensei que tinha vindo me ver.

— E eu vim ver você. — James respondeu, dando alguns passos, olhando cada frasco e pergaminho. — Mas… tudo em você é tão interessante que é difícil não observar o seu quarto. Interessante… você tem… Perfume de Rosas Noturnas? Gosta de rosas?

— É pra ocasiões especiais — Snape respondeu, a voz baixa e quase brincalhona.

James engoliu em seco.

— Ah… sim. Entendo. — Ele sorriu de canto, nervoso. Merlin, ele precisava sair dali.

O silêncio caiu por um instante, mas, surpreendentemente, não era desconfortável. James não viu com nitidez, mas podia sentir cada músculo do corpo reagir à proximidade de Snape. Pelo canto do olho ele viu a sombra do sonserino se inclinar levemente, James virou a cabeça, e sem que nenhum dos dois percebesse direito, os lábios se tocaram num selinho acidental, ambos ficaram alguns segundos com os lábios encostados e olhos arregalados.

— Merda. — James falou, surpreso ao se afastar.

O rosto do sonserino tinha perdido aquele sorriso alegre, agora sua boca estava levemente aberta e seus olhos arregalados enquanto seu rosto pálido ia ficando cada vez mais vermelho.

James percebeu que nunca havia visto o outro com tanta vergonha. E ele próprio não deveria estar muito diferente, por algum motivo idiota, um frio se instalou em seu estomago enquanto seu coração acelerava.

— Isso… não era… intencional. — Murmurou Snape, desviando o olhar e se afastando de James enquanto levava as mãos até os lábios finos.

— Sim, claro… — James respondeu, nervoso enquanto olhava ao redor.

Snape respirou fundo, os olhos ainda desviados, corando enquanto brincava com os dedos.

— Bem… talvez seja… educativo. Um… exercício. E somos namorados, não é?

Os olhos de James se arregalaram ainda mais. Porra.

— D-depois. — Os olhos de James, sem o seu consentimento, caíram sobre os lábios rosados de Snape. Merda, merda. O que ele estava fazendo? Balançando a cabeça e batendo em seu próprio rosto ele se distanciou do outro, Snape agora o olhava como se ele fosse louco. — N-não, e-eu tenho que ir-

Potter não esperou por respostas, ele apenas correu, o mais rápido que pôde.

 

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Notes:

A única coisa boa de ser uma "escritora jardineira" é que eu vou descobrindo o enredo da fic junto com vocês 🫠que ódio kkk

Obrigada por lerem. Até a próxima 🖤

Notes:

Obrigada por lerem. Até a próxima 🖤