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Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2025-08-26
Updated:
2025-09-19
Words:
37,886
Chapters:
25/27
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104
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215
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7,014

A Lady de Pedra do Dragão

Summary:

"Eu nunca serei um filho"

Rhaenyra decide se preparar para a possibilidade de ser tirada da sucessão por um filho homem quando o pai decide se casar de novo.

 

Minhas inspirações:

Dragonstone de ciemai

Greatness in Black Silk de RedandBlack

Dragon dreams and how they Create and Destroy Dynastie's de amberpopcornuts

Amo demais o conceito delas e quis escrever algo que mistura as 3, e em português para os que não tem acesso as fics em inglês do fandom

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Chapter 1: Prólogo

Notes:

Alto valiriano em itálico

Chapter Text

Ano 112 d.C.

— Seja com minha filha ou com outra pessoa, seu pai se casará novamente em breve. A nova esposa dele produzirá novos herdeiros, e as chances são maiores do que nunca de que um deles seja menino, e quando esse rapaz atingir a maioridade e seu pai tiver falecido, os homens do reino esperarão que ele seja o herdeiro, não você. Porque essa é a ordem das coisas.

Décadas depois de ser passada para trás na frente de todo o reino por um homem que não tinha seu preparo nem um dragão, Rhaenys tinha se tornado uma mulher cética, e não podia deixar de sentir pena daquela princesa que estava em uma posição tão semelhante.

Rhaenyra era jovem, e não tinha tido a mesma educação que Rhaenys teve como herdeira, mas ela sabia reconhecer a sabedoria de suas palavras, a dor em meio ao realismo que dizia.

— Você tem razão, claro, princesa — disse a jovem — Mas no fim das contas, vivemos a mercê dos caprichos do rei. E já que estamos sendo honestas uma com a outra velma — Rhaenyra arriscou o termo mais íntimo em alto valiriano, já que na prática não tinha muito contato com Rhaenys — Precisa saber que Alicent Hightower esteve visitando meu pai tarde da noite, usando vestidos de mulher adulta, desde a morte da minha mãe.

Ela tinha descoberto isso por acidente, as criadas estavam fofocando baixo e rindo entre si, sem saber que a princesa estava por perto. Depois disso foi fácil confirmar a veracidade, só bastou esperar escondida perto dos aposentos do seu pai para que visse Alicent, a fervorosamente devota Alicent, passando com um vestido de um estilo que nunca tinha a visto usar antes, que mostrava sua clavícula e ombros.

Rhaenys levantou uma sobrancelha — A sua dama de companhia? Aquela coisinha?

Rhaenyra suspirou derrotada. Estava completamente desiludida, com a corte, com as pessoas, com o mundo.

— Meu pai ama Otto Hightower mais do que o próprio irmão, já há rumores na Fortaleza Vermelha sobre as visitas de  Alicent — que ela tinha feito questão de espalhar mais, estava desiludida mas ainda era uma Targaryen, sua raiva queimava como lava — Quando meu pai souber disso vai querer protegê-la, por causa de sua relação com a Mão.

— Você está dizendo — A voz de Rhaenys assumiu um tom de incredulidade — Que acha que o rei vai escolher uma ândala, a filha de um segundo filho cujo tio nem é Lorde de uma Casa Paramount, ao invés da minha filha, uma valiriana com linhagem impecável, bisneta do rei Jaehaerys?! Viserys nunca seria tão tolo.

— Ele foi tolo o suficiente para nomear a filha como herdeira mesmo após a decisão do Grande Conselho, e depois decidir se casar de novo ameaçando a sucessão da herdeira que ele acabou de nomear. Já desisti de tentar achar razão nas escolhas de meu pai, e prefiro esperar o pior.

Rhaenys bufou, mas não tirou a razão da jovem princesa.

— Se isso acontecer, vai ser ainda pior para você — disse a princesa mais velha — Otto Hightower é uma cobra das piores que já passou por essa corte e ele não vai descansar até que o sangue dele chegue no trono.

— Mas o que podemos fazer mesmo sabendo que seremos preteridas?

— Podemos nos preparar para isso. Casei-me com um dos homens mais ricos do reino, mesmo contra a vontade do Rei e da Rainha, e agora me encontro em uma posição confortável. Claro, na época eu me casei porque pensava que ele seria um bom consorte, mas acabou sendo ao meu favor de qualquer jeito. O que você pode fazer pelo seu futuro, princesa?

Rhaenyra suspirou, aquele era um assunto que já estava cansando de ouvir do seu pai.

— Você está dizendo que eu deveria me casar bem, é claro, eu sabia disso. No final, ainda serei uma princesa, humilhada, mas ainda assim, eles não me casariam com qualquer um.

— Estou dizendo que você deve escolher seu próprio marido, alguém que você sabe que cuidará de você — Rhaenys se curva ligeiramente para frente — Você tem uma vantagem que eu não tinha, Viserys é diferente de Jaehaerys, ele é muito mais emotivo e te ama, você pode obter muito mais dele do que eu.

— Mais? O que mais posso conseguir?

Rhaenys se levanta, dá uma última olhada para sua filha Laena e seu primo Viserys caminhando pelo jardim e estende seu braço para Rhaenyra.

— Me acompanhe para um lugar mais privado Valonqranna

Chapter 2: Capítulo 1

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Objetivos

1 Conseguir controle da minha mão em casamento

2 Garatia monetária

3 Pedir pelas minhas próprias terras (Pedra do Dragão é a melhor opção)

4 Que minhas terras e minha linhagem sejam independentes da Coroa

5 Conseguir que me entreguem os pertences da Rainha Aemma


 

Ano 112 d.C.

 

"Você precisa pedir muito para garantir o seu futuro mesmo após a morte de Viserys mas não pode ser ambiciosa demais, ou ele vai recusar" tinha lhe dito Rhaenys

Ela tinha lhe elogiado quando Rhaenyra admitiu ter ajudado a espalhar os rumores das visitas noturnas de Alicent ao seu pai. "Mas não é o suficiente, para manchar a reputação de uma rainha é preciso mais que fofocas em sussurros de criados"

Então elas tinham planejado um escândalo. Rhaenyra foi visitar o pai tarde da noite com a desculpa de ter tido um pesadelo sobre a sua mãe, ao chegar nos aposentos do rei os Capas Brancas na porta se olharam hesitantes mas obedeceram e a deixaram entrar.

Rhaenyra nunca tinha se imaginado uma boa atriz, mas a visão de Alicent com aquelas roupas junto ao seu pai, que estava com suas vestes de dormir, foi o suficiente para que a sua indignação fosse real, ainda que a surpresa não.

— Alicent?! O que está fazendo aqui?! — gritou

Os dois se levantaram surpresos — Rhaenyra?!

— Pai por que você e minha dama de companhia estão se encontrando sozinhos, tarde da noite?! E Alicent! Nunca a vi usando roupas tão ousadas! — Seu tom de voz ainda estava alto, era sua intenção que muitas pessoas escutassem e viessem checar o que estava acontecendo, quanto mais testemunhas melhor.

Ela continuou gritando, que o período de luto da mãe não tinha passado e aquilo era um grande desrespeito, chamou Alicent de traidora, de prostituta, tudo que estava entalado na sua garganta.

Não demorou muito para as pessoas aparecerem. Rhaenys e Corlys foram um dos primeiros a chegar, afinal Rhaenys fora avisada com antecedência do que ia acontecer, e era completamente plausível já que eles se hospedavam na ala da família real.

Infelizmente Otto também apareceu, algum dos seus espiões deve ter ido chamá-lo na Torre da Mão. Ele logo ordenou a guarda do rei que tirassem a princesa "histérica" dali.

Ela foi levada à força até seu quarto, mas no caminho continuou gritando para que toda a Fortaleza Vermelha soubesse o que tinha acontecido. No dia seguinte, ninguém mais se preocupava em sussurar, e não apenas os criados mas também os nobres falavam apenas de Alicent, o Rei e oh a pobre princesa, ainda de luto pela mãe e traída pela dama de companhia.

Não demorou muito para que chegasse ao ouvidos do povo, suas criadas lhe disseram que tem uma música que ficou popular em nas ruas de Porto Real, chamada "A dama no quarto do Rei", mas se recusaram a cantar para ela pois a letra não era apropriada para os ouvidos de uma princesa. Rhaenyra já podia deduzir do que se tratava.

Enquanto tudo isso acontecia, Rhaenys ajudou Rhaenyra a fazer o esboço de um contrato, e depois que a Lady Velaryon voltou para Derivamarca elas continuaram a trabalhar nele por corvo.

Todas as suas esperanças para seu futuro estavam na aposta de que seu pai aceitaria esse contrato por seu amor a ela e por sua culpa por tirar o seu trono.

Se Viserys fosse Jaeherys, ele nunca aceitaria exigências de uma menina, especialmente sendo seu direito como Rei nomear seu herdeiro como achasse melhor.

Se Viserys fosse competente, iria ler o contrato meticulosamente antes de sequer pensar em aceitá-lo. Se Viserys fosse um Rei de mão firme, nunca iria aceitar dar a ela um dos maiores símbolos da família, Pedra do Dragão, e nem abriria mão de poder usar o matrimônio de uma princesa para os interesses da Coroa.

Mas Viserys não era competente, ele era um Rei fraco, algo que (Rhaenys havia lhe explicado) muitos tinham tirado proveito, principalmente a Mão. Agora era a vez dela.

Para o seu desapontamento mas que não foi nenhuma surpresa, seu pai se casou com a sua dama de companhia, Alicent Hightower. Quando ele lhe deu a notícia pessoalmente, ela não expressou nenhuma emoção e apenas perguntou — Por que?

O Rei parecia incomodado com sua reação — Rhaenyra, você já sabia que é meu dever me casar novamente.

— Não era essa minha dúvida — respondeu a princesa — Por que Alicent? Ela não traz nenhum benefício a Coroa.

O rosto de seu pai ficou vermelho — Rhaenyra! Ela é sua amiga!

— Ela era minha amiga, mas até uma princesa mimada como eu entende que ela é filha de um segundo filho, cujo tio nem é o lorde de uma Grande Casa, ela não tem nem um bom dote, terras ou poder militar a oferecer.

— Rhaenyra — seu pai disse, parecendo cansado — Uma grande injustiça foi feita, você tirou conclusões erradas naquela noite, nada estava acontecendo entre ela e eu, mas por causa dos rumores se eu não me casar com ela ela estará arruinada!

— Ela estava no quarto de um homem viúvo que não é sua família, sozinha e usando roupas que mostravam mais dos que os vestidos que ela normalmente usa, que outra conclusão poderia se chegar?! — respondeu — O senhor é o rei e ela não traz nada a coroa, pode fazer dela sua amante oficial se quiser e se casar com Laena, ou uma das netas do Lorde Baratheon.

— Amante oficial? Ousas proferir tal insulto?!

Rhaenyra bufou, a pessoa que ele não queria insultar era Otto ao considerar aquela opção. Seu pai se rencostou na cadeira, um silêncio pesado pairando entre os dois por um tempo.

— Laena é nova demais — resmungou o Rei, que não esperava ser interrogado pela filha — as meninas Baratheon tem idade semelhante, eu aprendi a lição com a sua mãe, infelizmente nos casamos cedo demais e fui aconselhado que essa pode ter sido a razão dos problemas da minha amada Aemma.

Rhaenyra aprendera a traduzir "fui aconselhado" para "Otto me disse", e seu pai tinha mesmo a coragem de chamar sua mãe de forma amorosa considerando a conversa que estavam tendo?! O período de luto nem tinha terminado ainda e ele já decidira sua próxima esposa!

— Existem outras opções no reino com a idade apropriada que trazem muito mais benefícios a Coroa.

Nisso, seu pai perdera a paciência.

— Rhaenyra! Eu sou o seu Rei e pai e tomei a minha decisão, não é seu direito me questionar! — e Viserys saiu bufando.

Assim, Rhaenyra nada pode fazer ao ver a garota que lhe servia casando com seu pai, que a engravidou rapidamente. Alicent tentou várias vezes falar com ela, para tentar se explicar sem dúvidas, mas a princesa não queria ouvir nenhuma das suas desculpas.

Rhaenyra via Alicent indo ao septo dentro da Fortaleza Vermelha todos os dias, rezando por um herdeiro. Um menino.

A princesa não pode deixar pensar como seria um príncipe Targaryen criado por Alicent Hightower, a maior devota dos Sete que já tinha conhecido que não fosse uma septa. Além de apenas meio Valiriano, ele seguiria a fé dos Sete? O pensamento lhe deu um arrepio.

"Um Targaryen apenas em nome!" ela pensou, o que lhe deu uma ideia para uma nova cláusula para o contrato.

O Fosso dos Dragões em Porto Real tinha apenas um dragão não vinculado, Dreamfyre, e claro todos os vários ovos que ela tinha colocado. Pedra do Dragão tinha vários dragões não vinculados e ninhadas de ovos de Vhagar e Silverwing.

Se ela conseguir Pedra do Dragão, não fazia sentido que os dragões e ovos lá sejam dela também?

Ela sabia que era pedir muito, que provavelmente seu pai iria recusar essa cláusula, mas talvez se a escondesse no meio do contrato entre várias cláusulas entediantes? Ou se expresasse com palavras mais sutis, porém que não deixassem brechas?

Determinada a limitar o acesso a dragões ao seu irmão meio valiriano e quaisquer outros filhos de Alicent, Rhaenyra andou a passos rápidos a seu quarto. Tinha aprendido muito com Rhaenys e sabia como escrever aquilo da forma certa.

 


 

Esteve estudando mais diligentemente nos últimos tempos do que em toda sua vida.

Não que fosse ruim nos estudos antes, mas as lições com a sua Septa eram tediosas e ela tinha facilidade em memorizar os livros fazendo com que ela sentisse pouca vontade de se dedicar. Não era mais o caso.

Assim que teve a chance, ela abordou o seu pai com a ideia de receber lições mais específicas com seu novo papel de herdeira, coisas que um herdeiro homem aprende (apesar de ela não ter usado essas palavras em específico). Seu pai viu isso como um sinal de que ela estava finalmente amadurecendo e concordou animadamente, ordenando que agora recebesse lições de um dos maesters da Fortaleza.

Não era o Grande Maester Mellos, graças às Quatorze Chamas, mas um de seus subordinados. No entanto era nítido que ele estava lá à força e não tinha a menor intenção de lhe ensinar nada de útil, mas tinha que fingir que estava pelas ordens do rei.

Maester Orwile era muito ruim em manter esse delicado balanço de incompetência planejada e obediência ao rei, então ele acabou sendo bastante útil para ela. Ele se recusava a ser um bom professor, mas suas indicações de leitura eram boas e ela de fato aprendeu muito e teve muitas ideias para quando tivesse seu próprio território.

Todas as suas ideias (principalmente aquelas eram muito específicas para Pedra do Dragão) ficavam em um caderno dentro de uma caixa com cadeado, por pura precaução. Ela era a Princesa de Pedra do Dragão, ninguém deveria achar estranho que ela estivesse querendo desenvolver um território que lhe pertencia.

Ser a herdeira também lhe dava amplas razões legítimas para visitar Pedra do Dragão. Ela explorou a ilha inteira de cima voando com Syrax até conhecê-la como a palma da sua mão, também falou com o castellan Alfred Broome para que ele lhe mostrasse os livros contábeis.

Broome se recusou a obedecê-la, alegando que como não era maior de idade ela ainda não era sua mestra. Logo depois que ele saiu Maester Gerardys se ofereceu para mostrar os livros já que era ele quem trabalhava neles a maior parte do tempo.

Tinha sido bom saber aonde ela poderia encontrar lealdade e competência. Alfred Broome seria o primeiro que ela iria se livrar assim que governasse Pedra do Dragão oficialmente, seja como herdeira ou não.

O incidente com Broome lhe lembrou que também precisava encontrar pessoas leais para trabalhar com ela. Não podia deixar de se lembrar do seu tio Daemon, que apesar de caótico e odiado por muitos membros da nobreza, podia identificar e inspirar lealdade como ninguém mais que havia conhecido. Inclusive ele já tinha mencionado vagamente o nome do Maester Gerardys, o que indicava que seu tio gostava dele ou nem iria se referir a ele pelo nome.

Foi isso que lhe deu a coragem de ser um pouco mais direta, quando ela e o maester estavam checando os livros de Pedra do Dragão.

— Maester? Tenho uma pergunta que não é sobre os livros.

O velho olhou para ela surpreso, mas indicou que continuasse.

— Queria saber se há outros aqui na ilha que pensam como o Ser Broome. Sei que o problema dele comigo não é minha idade.

O maester suspirou — Princesa, não deve ser nenhuma surpresa que muitos compartilhem da opinião dele.

— É claro, mas eu gostaria de uma lista, se possível. No futuro irei viver aqui como Princesa de Pedra do Dragão e não posso viver entre pessoas que não sejam absolutamente leais.

— Posso fazer uma lista princesa, mas serão muitos nomes e essas pessoas precisarão ser substituídas por outras ou o castelo não tem como funcionar.

— Sim, é verdade — suspirou Rhaenyra, que nem sabia por onde começar a procurar por pessoas leais a ela, que não se importariam em serem governados por uma mulher, talvez devesse escrever Rhaenys.

— Se não se importar em ouvir um conselho meu sua alteza — disse Gerardys — o amor do seu tio por você é conhecido por todos aqueles já o serviram, e até além. Ele tem muitas pessoas leais em Porto Real e aqui na ilha, seria inteligente usar essa conexão para trazer essas pessoas para o seu lado.

Rhaenyra sorriu, se apoiar na força do nome de Daemon era algo que ela já fez várias vezes na vida, só que apenas para coisas banais. Seria muito diferente agora?

Daemon não lhe escrevera nenhuma carta desde que fora para guerra e ela também não por puro orgulho. Ela teria que engolir o seu ego e lhe escrever para receber indicações de pessoas leais.

Falando em Daemon...

— Maester, Pedra do Dragão tem recursos para enviar para guerra em Passopedras? As últimas notícias que ouvi foram de que precisavam de mais homens e suprimentos.

Geradys voltou seus olhos para os livros contábeis — Não somos como Derivamarca, então não temos homens nem navios extras para enviar, mas talvez possamos enviar suprimentos. Infelizmente princesa precisará da autorização do seu pai para fazer isso, já que como dito por Ser Broome, ainda não é maior de idade.

Rhaenyra bufou — Não tem como fazer isso sem o meu pai saber?

— Tais coisas precisam ser organizadas pelo castellan, sua alteza.

Ela afundou na cadeira. Pretendia enviar alguma ajuda como agradecimento a Rhaenys, e também para que seu tio visse sua carta com bons olhos. Não sabia se a falta de correspondência era apenas por conta da guerra ou se ele estava bravo com ela por ter substituído ele como herdeira.

Teria que lhe enviar apenas a carta e torcer para que ele não a ignorasse.

Notes:

Rhaenyra vai tirar dos Verdes 2 dragões, 3 se Aemond não montar Vhagar, mas vamos ver....

Sobre Alicent: Sim, nesse ponto ela é uma vítima do pai, a religião e a criação dela a ensinaram a obedecer a pai e marido acima de tudo. Rhaenyra não foi ensinada as mesmas coisas, na visão dela como sua dama de companhia a lealdade de Alicent deveria ser a ela acima de todos, por isso Nyra vê o que ela fez como uma traição. Vamos lembrar também que Rhaenyra tem 14 anos nesse ponto da história (esta é uma fanfic da série não dos livros, e acredito que ela tenha essa idade durante esses acontecimentos. Durante o tour de pretendentes é mencionado que ela tem 16 e Aegon já tem 2 anos)

Rhaenyra está dando duro! Tanto na série quanto no livro ela é retratada como uma princesa mimada, queria que a conversa com Rhaenys desse uma sacudida tão forte na visão de mundo dela que ela começasse a mudar.

Sim, sei que Ser Broome não era castelão de Pedra do Dragão e sim Ser Robert Quince, mas mudei por razões de plot.

Chapter 3: Capítulo 2

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 112d.C

 

Byka zaldrīzes,

Consegui sentir a sua raiva pela minha falta de correspondência só de ver a sua caligrafia, ainda que não tenha mencionado nada. Uma guerra como essa não deixa tempo para nada além do necessário, e em nossos suprimentos temos que dar foco a coisas mais práticas para os soldados do que papel e tinta. Por sorte, Lorde  Corlys  foi generoso em me dar parte de sua porção particular que usa para se comunicar com Derivamarca.

Admito que fiquei surpreso com o assunto que te fez me escrever, Rhaenyra, mas orgulhoso também. Foi esperto de sua parte pedir ajuda ao Maester Gerardys, ele é o único rato que conheci que é realmente leal e útil. Sim, tenho pessoas leais a mim em Porto Real e Pedra do Dragão, mas muitas das minhas pessoas não são da estirpe de que possam servir a uma princesa. Mas os capitães dos Capas Douradas são confiáveis e vão te servir bem, fale com Ser Harwin Strong se precisar.

ñuha tala , se puder comece a cultivar a lealdade do povo. Acredito que mulheres da nobreza fazem isso com caridade, mas você é realeza Targaryen e é esperado que vá além.


Valonqranna ,

Lealdade é em sua maioria conquistada, Daemon entende isso e é por isso que a sua influência em Porto Real é formidável. Há maneiras de mulheres nobres fazerem isso, primeiramente através de damas de companhia para honrar as casas nobres, quando nobres se sentem reconhecidos eles são leais e tais damas podem ser suas aliadas na corte.

Entendo que, com o que aconteceu com a sua última e única dama de companhia você deve estar hesitante em trazer outras damas para o seu lado. Mas entenda que isso é uma parte importante de ser da realeza, e Alicent Hightower é uma exceção não a regra.

A relação entre vocês duas não era normal, uma princesa nunca deveria ter apenas uma dama de companhia e por causa de sua amizade você permitia que ela tomasse liberdades com você que normalmente damas não possuem. Acredito que essa situação tenha sido deliberada.

Escreva a sua prima Lady  Jeyne   Arryn  e para a Lady Celtigar, que está comandando Ilha da Garra enquanto o marido está nas Passopedras, pedindo por indicações tanto para dama de companhia como para  criadagem . Pergunte na Fortaleza Vermelha o que houve com as criadas da sua mãe, lembro que ela trouxe um bom número delas do Vale.


Rhaenyra estava quase soltando fogo como Syrax quando soube que a Mão tinha dispensado todas as criadas da sua mãe assim que Alicent se tornara rainha, as substituindo por gente leal a ele com certeza.

Ela estava frustrada consigo mesma acima de tudo, porque tudo que Otto tinha feito eram movimentações que ele obviamente ia fazer, mas até Rhaenys levantar a questão das criadas da sua mãe aquilo nem tinha lhe passado a cabeça.

Ainda tinha muito que aprender.

Recontratá-las para servir a ela era simples, tinha controle pelo menos dessa parte de sua vida sem precisar de permissão do Rei mesmo com sua idade. O problema era que mais de 6 meses tinham passado desde que elas foram dispensadas, como a maioria delas não tinham o dinheiro para a viagem de volta ao Vale acabariam tendo que se virar como podiam em Porto Real, mas não tinha como contatá-las.

No fim, teve de se informar através dos servos da Fortaleza que as conheceram para entrar em contato com elas. Uma princesa andando pelo castelo falando com servos que passavam, chegando até a assustar alguns pois nunca tinham falado com realeza, foi alvo de vários comentários de zombaria da Corte.

Não importava, ela agora estava cercada de pessoas que a viram crescer. Adicionando elas as suas criadas originais e ela tinha bem mais do que precisava então tinha ordenado que algumas fossem para Pedra do Dragão.

O próximo passo era mais difícil. Damas de companhia.

Lady Jeyne indicou Alayne Waynwood e falou favoravelmente da sua personalidade. Os Waynwood não eram uma Casa muito proeminente no Vale, mas não haviam candidatas entre os Arryn e a dama de idade correta da casa de maior proeminência depois deles era Alayne Royce. Considerando quão próxima Rhaenyra era do seu tio, provavelmente não era uma boa ideia e explicava porque Jeyne não havia a indicado.

Já Lady Celtigar como não tinha filhas recomendou a sobrinha, filha do irmão mais novo de seu marido, Jaenara Celtigar.

O fato de Daemon ter mencionado Ser Harwin Strong em sua carta lhe lembrou que Lorde Strong tinha duas filhas, Liora e Claere. Lionel Strong era um dos melhores servos da Coroa, suas contribuições no Pequeno Conselho eram sempre imparciais, seria bom honrá-lo dessa forma.

Eram bons nomes e eram boas casas, mas Rhaenyra não conseguia dar o próximo passo. Como poderia convidar essas pessoas que nem conhecia para um lugar tão próximo de si, tão facilmente explorado?

Mas damas de companhia tinham um papel importante no poder político de um membro da realeza dentro da Corte. Elas não estavam lá apenas para serem sua companhia, como o nome sugere, mas também eram uma forma de exercer influência.

Era seu dever cuidar das suas roupas e joias, garantir que sua correspondência chegue em suas mãos e seja enviada de forma correta, sua comida deveria sair do provador até as mãos de uma de suas damas que garantiria que nada foi envenenado no caminho até a princesa. Sem falar que era normal que coletassem ou espalhassem rumores na Corte para ela.

Não era nem preciso dizer que Alicent não fazia nada disso. Ela a acompanhava nos seus deveres e lhe ajudava a se vestir e com o seu cabelo, mas era só.

Era importante pra ela como princesa e como herdeira ter damas de companhia de verdade, com contratos e tudo como deveria ser. Então enviou os pedidos para as casas Celtigar e Waynwood, e falou com o Mestre da Lei pessoalmente.

Lorde Strong aceitou sua proposta com entusiasmo, pois significava que suas filhas estariam agora perto dele morando na Fortaleza Vermelha. Também recebera uma resposta positiva à suas cartas.

Não demorou muito para que a primeira delas, Jaenara Celtigar, chegasse.

"Vai ficar tudo bem desde que eu não me aproxime demais" pensou Rhaenyra. Alicent sempre fora mais sua amiga do que uma dama de companhia, não cometeria o mesmo erro.

Notes:

Byka zaldrīzes - pequeno dragão
Ñuha tala - minha sobrinha/filha de meu irmão (ou minha filha, é a mesma palavra, assim como kepa/kepus)
Valonqranna - sobrinha/filha do seu irmão mais novo

Decidi que vou usar "Lady" quando me referir ao título e "dama" para as demais mulheres da nobreza.

Esse capítulo foi mais para preparar o terreno pois no próximo capítulo haverá um Time Jump.

Alayne Waynwood e Jaenara Celtigar são OCs, as irmãs Strong existiram mas não se sabe o nome delas então eu dei a elas os nomes Liora e Claere.

Chapter 4: Capítulo 3

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 115 d.C

 

Viserys Targaryen acreditava em sonhos.

Na Antiga Valiria, haviam 40 famílias que dominavam dragões e brigavam entre si pelo controle do Império. Dentre elas os Targaryen eram os mais insignificantes, não tinham os maiores dragões, as maiores riquesas nem os melhores guerreiros. Mas havia uma coisa na linhagem que nenhuma das outras possuía, e no final fora o que fizera toda a diferença.

Sonhos de Dragão.

Ele sempre soube que nunca seria um guerreiro, desde jovem nunca fora talentoso com a espada e assim que Daemon teve idade o suficiente para começar a aprender ele foi rapidamente ofuscado.

Por um único voo, ele teve o maior e mais lendário dragão de todos. Mas foi por pouco tempo, e ele teve que aceitar que não seria mais um cavaleiro de dragão.

Mas ele tinha sonhos. Ele sabia que eram Sonhos de Dragão e ninguém poderia tirar isso dele.

Quando ele era jovem, sonhou com um filho seu sentado no Trono de Ferro, ouvia rugidos de dragões altos como trovões enquanto ele sentava no trono. Acreditava que era uma boa previsão, que teria um filho que traria glória à Casa Targaryen.

Mas a cada bebê que ele e Aemma perdiam, mais ele começou a duvidar de si mesmo. A duvidar de que o sonho fosse real.

A pressão por um herdeiro atrelada a vontade de fazer o sonho virar realidade o fez tomar a pior decisão de sua vida. A morte de Aemma seria para sempre seu pior arrependimento.

Ele eventualmente desistiu, Viserys não era Daenys, não era Aegon O Conquistador. Então nomeou sua filha, a única coisa que lhe restou de Aemma, como herdeira.

Foi no retorno das comemorações do segundo aniversário do pequeno Aegon que Viserys teve outro sonho.

Ele viu momentos, cenas uma atrás da outra que pintavam um futuro sombrio.

Aegon se tornando O Usurpador seguido de uma terrível guerra, dragões se enfrentando e se matando, dragões sendo mortos pelo povo no Fosso, sua preciosa filha perdendo os filhos um por um até restar apenas dois, sendo morta pelo dragão do irmão na frente do filho de forma horrível.

Viserys acordou com um grito.

Ser Harrold, o membro da Guarda do Rei que estava do lado de fora da sua porta, entrou no recinto alarmado. Ao ver o Rei ofegante na cama ele decidiu chamar um maester mas foi impedido por Viserys, que o assegurou de que foi apenas um sonho.

Apenas um sonho.

O Rei passou o resto da noite acordado.


Viserys levou dias refletindo o que tinha sido revelado a ele, e como impedir aquela tragédia. A conclusão que ele chegou iria abalar seu relacionamento com Rhaenyra para sempre, talvez ela nunca o perdoasse, mas ao lembrar da terrivel cena da sua morte ele se agarrou a convicção de que, como pai, era um sacrifício que valia a pena.

Em seu sonho, Rhaenyra fora usurpada pelos lordes do reino que preferiam um Rei a uma Rainha. Era a tradição ândala e não havia como mudar as suas mentes.

Sua morte causaria uma guerra e só havia um jeito de mudar isso.

— Me chamou, pai?

O rei olhou para sua linda filha, agora com 16 anos ela era realmente o Deleite do Reino! Tinha amadurecido muito também, foi-se o tempo que sua filha fugia das lições com a Septa para voar em Syrax, foi-se o tempo da criança temperamental que falava sem pensar com os nobres da Corte.

Rhaenyra tinha levado seu papel de herdeira à serio. Ela vinha lhe dando tanto orgulho...

— Sente-se, minha querida. Achei que poderíamos jantar juntos hoje hm? Só nós dois!

Na mesa estava uma seleção de todas as comidas preferidas de Rhaenyra. A princesa reparou nisso e sentou-se já temendo o assunto da conversa, se seu pai estava querendo lhe bajular, não era coisa boa.

Eles começaram a comer e falar sobre os assuntos de sempre, coisas discutindas no Pequeno Conselho, como estavam as caridades de Rhaenyra, algumas fofocas dos lordes do reino. Quando estavam na sobremesa, Rhaenyra estava degustando seu bolo de limão quando seu pai limpou a garganta.

— A verdade, minha filha, é que a chamei aqui para que pudéssemos falar em privado — disse o Rei de forma hesitante — Eu tomei a decisão de que, para a paz do reino, Aegon será o meu herdeiro.

A princesa encarou o pai em silêncio, sua expressão vazia. Viserys, achando que ela estava muito chocada para reagir, continuou falando.

— A tradição ândala é que herdeiros sejam os filhos homens e eu temo, minha querida, de que os lordes não irão aceitá-la no trono e que isso possa acarretar uma guerra.

Rhaenyra continuou a encarar o Rei sem expressão enquanto falou — Se pretendia me substituir quando tivesse um filho, por que me nomeeou herdeira? Vossa graça tem noção da humilhação que irei passar?

O uso de "Vossa graça" ao invés de "pai" foi deliberado, e a princesa viu que atingiu Viserys em cheio.

— Admito que não planejava substituí-la, mas recentemente percebi que se eu não o fizer haverão conflitos de sucessão — admitiu — Irei recompensá-la por isso, eu prometo.

— Promete mesmo? — Rhaenyra então se levantou da cadeira abruptamente — Peço permissão para buscar algo no meu quarto, serei rápida.


Viserys não esperava que Rhaenyra fosse voltar com um contrato inteiro em mãos.

— Essas são minhas condições para abdicar do meu direito ao trono e aceitar Aegon pacificamente — disse a princesa ao entregar o documento ao pai.

Viserys arregalou os olhos ao ver aquilo, o contrato não perdia em nada por algo feito por um profissional, e o conteúdo não era o que esperava.

— Quando você preparou isso? — perguntou incrédulo

— A Princesa Rhaenys me aconselhou a estar preparada, ela também me ajudou a escrever o contrato.

Rhaenys, é claro. Agora tudo fazia sentido.

No documento Rhaenyra pedia os antigos pertences de sua mãe, incluindo as jóias que agora pertenciam ao Cofre Real e uma mesada até o fim de sua vida, que não era muito maior do que já recebia como princesa. Ela também pedia liberdade para escolher seu casamento, o que não o surpreendeu considerando a resistência dela ao tópico. Até aí, nada de muita dificuldade de conceder.

Mas o que lhe fez parar de ler e encarar a filha com surpresa foi o que se seguiu. Ela queria que Pedra do Dragão pertencesse a ela e seus descendentes e não a Coroa, e mais.

— Você quer criar um novo reino?

— Pedra do Dragão tem Casas juramentadas a ela, e o que eu quero é a liberdade e o status de uma Lady ou Lorde Paramount. Ainda sou uma princesa Targaryen afinal... Como não govenamos Dorne, o senhor será realmente rei dos Sete Reinos — adicionou com um tom de piada. — Se quiser, estou disposta a abrir mão do título de princesa para receber o título de Lady Paramount

Nisso Viserys acenou negativamente com a cabeça — Não! Você e filha de um Rei e uma Rainha, mas talvez seus filhos tenham que ser Lordes e Ladys.

A princesa assentiu — Eu esperava por isso, está tudo no contrato. Também diz que minha linhagem não estará na linha do trono.

Viserys passou os olhos no resto do documento, as próximas cláusulas eram todas descrevendo a relação da Coroa com Pedra do Dragão e os direitos da ilha, todos iguais aos de um Lorde ou Lady Paramount...

Abaixou o papel na mesa e lembrou do quanto sua filha tinha estudado e lhe dado orgulho nos últimos anos, ela teria sido uma incrível Rainha e merecia um território para que seus esforços não fossem em vão.

— Nos traga cera e pena — Viserys ordenou um dos criados que estavam por perto lhe atendendo durante seu jantar. O atendente voltou com os itens pedidos e com a sua adaga Viserys fez um corte no dedo esquerdo e com a mão direita passou a pena no ferimento e assinou as três cópias que Rhaenyra tinha trazido em sangue, depois usou a cera para marcar os papéis com seu anel. O Selo Real.

Rhaenyra estava incrédula. Foi como achou que seria, seu pai lera com cuidado apenas as primeiras cláusulas e depois só passou olho e assinou sem hesitar.

— Quando irá anunciar a mudança na sucessão? — perguntou a princesa pegando de volta os preciosos papéis.

— Vou esperar alguns dias, para preparar tudo, ainda nem falei para o Pequeno Conselho! — Viserys riu, e a princesa riu de volta mas por outros motivos. Sabia que seu pai queria ser conhecido depois de sua morte como Viserys O Pacífico, mas talvez ele seja Viserys O Bobo.

— Talvez seja melhor fazer isso amanhã cedo, pai. Uma cópia ficará com a Coroa, preciso entregá-la a Lorde Strong o quanto antes. A segunda irei enviar para a Citadela, e a terceira ficará comigo. — Ela também tinha cópias prontas para enviar a todas as Casas Paramount assim que o anúncio oficial fosse feito. Rhaenys disse que era importante que todos soubessem do conteúdo para que não pudesse ser distorcido.

— Se não se importar pai, irei me recolher, já terminei a sobremesa e preciso me preparar para os próximos dias.

— Claro minha querida! E tenha uma boa noite! — disse Viserys, feliz de ter encontrado uma solução que não destruísse o seu relacionamento com a filha.

 

Notes:

Quero deixar uma coisa clara aqui: sonhos não ficam mostrando detalhes, o que Viserys viu foi Aegon usurpando a coroa da irmã mas como isso aconteceu ele deduziu. Por isso ele chegou a uma conclusão apenas meio correta do que aconteceu.

Em Westeros, a maioridade é com 16 anos, então aqui Rhaenyra já é considerada adulta.

Sempre leiam contratos com muito cuidado antes de assinar pessoal!

Chapter 5: Capítulo 4

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 115 d.C

 

Rhaenyra fechou a porta do quarto e se recostou nela, sua mente uma bagunça de emoções.

Por um lado, tinha sido vitoriosa. Ela tinha conseguido tudo que queria e seu pai nem tinha lido o que lhe havia dado.

Os dragões e ovos de Pedra do Dragão estavam sob seu controle assim como toda sua herança valiriana na ilha. O dinheiro que a Coroa já manda para a manutenção do castelo iria continuar até o fim da sua vida, em adição a sua mesada (Isso tinha sido ideia de Rhaenys para que ela tivesse fundos para investir na ilha), além de 15 navios da frota Targaryen, que ela pretendia usar para comércio.

A Coroa e a família real não poderiam entrar na ilha sem permissão nem impor a presença do Lorde/Lady em Porto Real via decreto. A Coroa e a família real não teria o poder sobre os casamentos dos Targaryens de Pedra do Dragão.

Ela poderia nunca mais olhar para o rosto do seu pai, Alicent e os filhos dela. Ela poderia nunca mais pisar em Porto Real e naquela Corte cheia de pessoas asquerosas.

Ela estava livre.

Ao mesmo tempo, tinha uma parte dela, a parte que ainda era a menina que amava o pai e ainda era a princesa mimada e ingênua, que estava de coração partido.

Rhaenys tinha lhe aconselhado a estar no seu melhor comportamento para amaciar os sentimentos do Rei e facilitar com que ele aceitasse seus termos "Guarde a rebeldia para quando conseguir seus objetivos" ela disse. Mas Rhaenyra tinha ido além, a educação que ela procurou para ser uma boa Lady Paramount rapidamente evoluiu para coisas que fariam dela uma boa herdeira.

Ela passou dois anos controlando sua língua e seu temperamento e aprendendo a falar com os nobres da Corte do jeito que era aceitável, com sorrisos e elogios falsos e dizendo uma coisa insinuando outra.

Ela se ofereceu para cumprir os deveres tanto do Rei quanto da Rainha quando estavam indispostos, ela vivia atrás do Mestre da Moeda Lorde Beesbury e do Mestre da Lei Lorde Strong para que lhe ensinassem seus deveres. Lorde Beesbury felizmente era parcial a ela e chegou a deixá-la lhe ajudar com o livro de contas Real.

Ela tinha criado projetos de caridade que a deixaram popular com o povo. Ela tinha descoberto que eles não tinham acesso a maesters, que ou cobravam muito caro ou se recusavam a atender gente comum, então ela construiu uma Casa de Cura com curandeiros de Essos, totalmente fundada pela Coroa. Não havia um dia em que "A Balada do Deleite do Reino" não era ouvida pelas ruas da cidade, Ser Harwin tinha lhe dito.

Uma parte dela, lá no fundo sob todo o realismo que Rhaenys tinha gentilmente lhe ensinado, tinha esperanças de que se se esforçasse o suficiente ela seria reconhecida como merecedora. Pelo pai, pelo reino.

A princesa tocou o rosto ao perceber que lágrimas corriam pela sua bochecha. Não percebeu que tinha começado a chorar.

— Princesa! — Claere Strong, a mais velha das irmãs, foi quem lhe encontrou. Era ela quem lhe ajudava a se preparar para dormir toda a noite — O que aconteceu? Está machucada? Devo chamar um maester?

"Estou machucada, mas de um jeito que um maester não pode fazer nada sobre" pensou Rhaenyra antes de respirar fundo e limpar suas lágrimas com as mãos.

— Estou bem — respondeu, ajeitando sua postura — Mas preciso dormir, teremos muito o que fazer nos próximos dias.


Na manhã seguinte, ela convocou todas as suas damas de companhia e suas criadas.

— Estarei me mudando permanentemente para Pedra do Dragão — anunciou — Gostaria de levar todos comigo, mas sei que alguns tem família em Porto Real, e não me ofenderei se resolverem ficar.

Todos no recinto se olharam surpresos.

— Sua Alteza, por que tomou uma decisão tão drástica de repente? — perguntou Alayne Waynwood

— Ainda não posso revelar pois o Rei ainda irá anunciar para a Corte — respondeu Rhaenyra — Mas quando o anúncio for feito, eu quero estar pronta para partir, então precisamos começar a nos preparar o quanto antes.

Ela tinha muitos pertences para guardar, não recebeu o título de princesa mimada à toa, seus aposentos eram cheios de luxos, a maioria presentes de seu tio. Ainda havia os pertences da rainha Aemma, ela tinha que falar com o castellan Lorde Caswell para que fossem retirados de onde foram guardados e com Lorde Beesbury para ter as joias dela retiradas dos Cofres Reais.

Era bom que o pai dela fizesse o anúncio ao Pequeno Conselho ainda hoje, ela queria resolver logo tudo isso.

Quando mais cedo tudo estivesse resolvido, mais rápido ela deixaria aquele castelo para trás, e no momento não havia nada que quisesse mais.

Ela liberou os criados para começarem a trabalhar, viu Alayne e Jaenara os seguindo para cuidar dos seus vestidos e jóias. Rhaenyra se dirigiu a Liora Strong, que era responsável por suas mensagens.

— Isso é para a Princesa Rhaenys — disse mostrando o papel dobrado — Também preciso que mande uma mensagem para seu irmão para vir falar comigo.

— Farei isso imediatamente Sua Alteza — disse Liora que fez uma reverência e saiu apressada.

Claere, a única dama que ficou, olhou para Rhaenyra de forma hesitante.

— Princesa... o seu estado ontem a noite, tem alguma coisa haver...

— Sim Claere — cortou Rhaenyra — mas não estou em uma posição em que possa parar para me lamentar.

A jovem acenou com a cabeça

— Sua Alteza é pessoas mais forte que já conheci, tenho certeza que vai superar tudo isso — disse com os olhos brilhando de admiração, fez uma reverência e saiu.

Rhaenyra ficou parada no mesmo lugar. Nunca ninguém tinha dito algo assim para ela.


Ser Harwin não demorou para aparecer em seus aposentos, Liora deve corrido para chamá-lo tão rápido.

— O que posso ajudar, Sua Alteza?

— Ser Harwin, eu tenho uma oferta que gostaria que você passasse para seus Capas Douradas. Estarei me mudando permanentemente para Pedra do Dragão e precisarei de espadas para minha proteção.

— Permanentemente, minha princesa?

— Sim — ela não ofereceu nenhuma explicação, ele logo iria descobrir — Sei que os Capas Douradas são leais a meu tio e para mim isso faz deles confiáveis o suficiente, gostaria de oferecer aos seus homens um lugar em Pedra do Dragão, e para suas famílias também caso as tenha.

Ser Harwin parecia surpreso mas ficou em silêncio, então Rhaenyra continuou.

— Não posso oferecer um pagamento maior dos que eles já recebem, não agora, mas posso oferecer um ambiente de trabalho menos insalubre e também trabalho para suas famílias no castelo. Pode passar essa oferta para aqueles que possam se interessar? Conhece seus homens melhor que eu, afinal.

— É claro princesa. Como sei que é para a sua proteção, serei cuidadoso a passar sua oferta.

A princesa deu um brilhante sorriso

— Ótimo! Estarei me mudando em alguns dias, se forem rápidos podem acompanhar minha criadagem de navio, se não, basta chegarem em Pedra do Dragão com uma carta de recomendação sua, Ser Harwin. — disse Rhaenyra — Ah e estou querendo enviar apoio a meu tio para a guerra em Passopedras, precisarei de homens para isso também, me informe se tiver voluntários.

Quando Ser Harwin saiu Rhaenyra sentou de forma desengonçada na mesa aonde tomava café da manhã, o dia mal havia começado e ainda havia muito o que fazer.

Notes:

Esse capítulo foi trabalhoso pra mim pois sou impaciente e quero que as coisas aconteçam logo mas não quero que a história fique muito rápida e sem detalhes, então estou me forçando a não correr muito com o plot. O que acham?

Queria deixar claro que, mesmo esperando por isso e se preparando pra isso, a realidade de ser substituída pelo Aegon ainda machuca Rhaenyra, ela não é feita de pedra afinal.

Rhaenyra criando o SUS em Porto Real, eu votaria pra ela ser Rainha kkkkkkk

Chapter 6: Capítulo 5

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 115 d.C

 

Rhaenyra manteve a sua postura enquanto estava em pé em frente do Trono de Ferro, olhando para o nada enquanto seu pai anunciava um bebê de 2 anos como herdeiro ao invés dela para toda a Corte. Ela podia ver os nobres imediatamente sussurrando entre si, com expressões variando de satisfação até resignação.

Ela virou as costas para a Corte em direção ao Trono enquanto o rei a nomeava publicamente Lady de Pedra do Dragão pela perpetuidade, ela viu Otto Hightower em pé do lado direito do trono visivelmente feliz, o que a fazia pensar que ele ainda não devia ter lido o contrato. Até o momento apenas ela, o Rei e o Mestre da Lei o lera, além de quem quer que seja o maester da Citadela que recebeu a cópia que ela enviara para registro nos arquivos.

Imediatamente após o anúncio e testemunhar as expressões de surpresa dos nobres, ela saiu da sala do trono a passos largos, cabeça em pé, expressão impassível. Precisava se trocar para sua roupa de montaria e pegar a última sacola de pertences que ficou no seu quarto, que ela levaria pessoalmente.

Ela fingiu não ouvir a voz de Alicent chamando o nome dela. 

Tinha se despedido das pessoas que ela gostava da Fortaleza Vermelha no dia anterior, Ser Harrold, Ser Harwin, Lorde Strong e Lorde Beesbury. Agora ela andava até a carruagem sem olhar para ninguém, ignorando a todos.

Rhaenyra manteve a sua dignidade enquanto seus pertences eram levados aos navios, enquanto se despedia de suas damas e criados no porto pois eles levariam 3 dias para chegar em Pedra do Dragão.

Apenas deixou a máscara cair quando já estava no céu, longe de Porto Real e de qualquer um exceto a sua companheira de berço. Ela soltou gritos de dor e raiva nas costas de Syrax, que a respondeu com os próprios rugidos.

 



O céu estava encoberto quando Syrax rompeu as nuvens, suas asas douradas riscando as nuvens cinzentas. O vento salgado do mar castigava o rosto de Rhaenyra, mas ela não desviava os olhos. O castelo surgia no horizonte, uma fera adormecida esculpida em basalto negro, com muralhas como presas e torres como garras voltadas contra o céu.

Pedra do Dragão era um castelo que deixava muitos de Westeros desconfortáveis.

Construída no pé de um vulcão ativo em uma ilha com muitos ventos e tempestades, podia ser fria demais ou quente demais dependendo de onde você está no castelo, sem falar nos habitantes das cavernas de Monte Dragão - o fato de haver dragões sem montadores tão perto dava medo em muitos Westerosi. As pedras negras com que foi construído e as gárgulas e estátuas dracônicas davam calafrios em quem não estava acostumado.

O castelo era único em Westeros pois foi construído usando técnicas que foram perdidas na Perdição de Valiria, e claro, sua decoração era completamente inspirada em dragões.

A ilha em si era considerada incultivável e mesmo os seus ancestrais antes da Conquista viviam da riquesa que tinham trazido de Valiria e de impostos aos navios que passavam pelas suas águas para chegar a Westeros.

São poucas as suas Casas juramentadas, Velaryon, Celtigar, Seaworth, Bar Emmon e Sunglass. Mas juntos possuíam controle considerável da costa leste e eram uma conexão para o comércio com Essos. Havia uma razão para os Velaryon terem ficado tão ricos.

Rhaenyra chegou à ilha contemplando o lugar que seria sua nova casa, assim como de muitos Targaryens antes dela.

Syrax rugiu ao descer em espiral, as asas levantando redemoinhos de areia e espuma contra os rochedos. Quando suas garras colossais tocaram o pátio de Pedra do Dragão, o chão tremeu. Servos e cavaleiros recuaram, alguns cobrindo o rosto contra o vento quente.

Rhaenys Velaryon já a esperava na escadaria, em um vestido preto e prateado. Seus olhos acompanharam a sobrinha avançar.

— Pedra do Dragão lhe dá as boas-vindas.

Rhaenyra parou diante dela e brincou — Nada mal para um prêmio de consolação.

Rhaenys sorriu — Podem chamar apenas de consolação se quiserem. Eu chamaria de oportunidade. Este castelo foi erguido pelo fogo do dragão. Mais antigo que o próprio trono de ferro. Pedra do Dragão pode ser seu túmulo… ou seu trono.

Rhaenyra ergueu o queixo, os olhos fixos na fortaleza diante de si. Pedra do Dragão não a recebia como uma princesa rejeitada, e sim para ser reclamada.

— Então que seja meu trono — sua voz ecoou pelas pedras.

Rhaenys assentiu lentamente, um lampejo de orgulho nos lábios. — Agora começa sua verdadeira prova, princesa.


As portas se abriram com um rangido grave, e Rhaenyra adentrou Pedra do Dragão. O ar cheirava a sal e a cinza, impregnado de séculos de fogo. Tochas iluminavam os corredores feitos de pedra preta, projetando os dragões talhados nas paredes, de asas abertas, bocas cuspindo fogo, olhos eternamente famintos.

Rhaenys tinha lhe deixado depois de avisá-la para descansar. Mas Rhaenyra ainda se sentia inquieta então resolveu caminhar pela fortaleza.

Ao chegar no salão do trono viu a longa sala com um enorme pedaço maciço de vidro de dragão que formava o trono usado pelos seus ancestrais. Não havia embelezamentos como jóias ou ouro, apenas a pedra bruta, fria e eterna. Ainda assim, exalava mais majestade que qualquer coroa cravejada de jóias.

Rhaenyra subiu os degraus lentamente, a mão deslizou pelo braço do assento, sentindo a aspereza da pedra. Sentou-se. O peso não era físico, mas espiritual: um chamado que vinha das entranhas da fortaleza, como se cada pedra reconhecesse nela o sangue dos Targaryen.

Os olhos percorriam o salão vazio, as chamas refletindo nos dragões esculpidos. No fundo, escutava um som distante, um rugido abafado, profundo, como trovão.

— Os dragões — murmurou.

Guiada pela sua memória das outras vezes que visitou a ilha, a princesa desceu pelas escadas e corredores que culminavam dentro de Monte Dragão. O calor aumentava a cada passo, até que o ar se tornou pesado, quase sufocante. Quando as portas se abriram, o mundo se tingiu de vermelho-alaranjado: tochas e chamas iluminavam cavernas imensas. Os Cuidadores de Dragões lhe fizeram uma reverência e voltaram aos seus afazeres.

Syrax ergueu a cabeça ao vê-la, os olhos verdes brilhando como duas esmeraldas. Outras sombras se moviam nas profundezas, eram dragões mas ela não podia identificar quais pela luminosidade.

Os dragões não eram acorrentados em Pedra do Dragão, podiam estar em qualquer caverna na montanha, porque estavam ali com Syrax?

Rhaenyra avançou e encostou a mão nas escamas quentes de Syrax, e por um instante, a tristeza e a incerteza em seu peito cedeu lugar a algo maior - um chamado ancestral.

— Não sou apenas uma filha descartada — disse, baixinho, apenas para o dragão ouvir. — Sou fogo e sangue, sangue da Antiga Valiria, Lady de Pedra do Dragão.

Notes:

Essa fic é baseada na serie e não nos livros, mas Pedra do Dragão é TÃO MAIS LEGAL nos livros que vou usar essa versão e é isso kkkkk

Descobri que a palavra quem é de Westeros é westerosi, sabiam disso? Fiquei em dúvida entre usar isso ou "westeranos"

Chapter 7: Capítulo 6

Notes:

Alto valiriano em itálico

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ano 115 dC

Porto Real

 

Otto Hightower caminhava para a Torre da Mão, seus passos leves. Por um tempo ele achou que o tolo do rei iria manter Rhaenyra como herdeira por seu sentimentalismo, mas agora percebia que ele estava esperando para ver se Aegon sobreviveria ao berço, já que muitos dos filhos da Rainha Aemma morreram ainda bebês.

Seus planos tinham gerado frutos. Ele, um segundo filho sem nenhuma herança, teria seu sangue no trono.

A princesa mimada tinha aproveitado para pedir mais coisas ao rei, como se ela já não tivesse o suficiente. Seus espiões lhe informaram que os pertences da rainha Aemma foram levadas junto com as coisas da princesa, por direito eles pertenciam a sua filha agora, mas era algo previsível que ela fosse pedir.

Dar a ela Pedra do Dragão foi um exagero na sua opinião, mas tudo bem. O castelo era mais simbólico que qualquer outra coisa, o verdadeiro centro de poder era a Fortaleza Vermelha, o trono de ferro.

Entrou em seu escritório e viu que algum servo tinha deixado na sua mesa a cópia do contrato que pedira a Lorde Strong mais cedo. Sentou-se para ler.

Quanto mais lia mais emoções passavam dentro dele. Incredulidade. Indignação. Por fim, raiva.

— Aquela maldita!


Pedra do Dragão

 

Naquela noite, Rhaenyra Sonhou.

Ela estava em Pedra do Dragão, mas não no quarto onde dormia - o que pertencera a Rainha Rhaenys e era o mais opulente dos antigos quartos dos conquistadores. Mas sim no quarto da Rainha Visenya.

— Olá, descendente de Rhaenys

Rhaenyra se virou surpresa, e lá estava ela. Cabelos loiro-brancos e olhos violetas, usando uma armadura de cota de malha e com Irmã Sombria na sua cintura. Apenas uma mulher tinha usado aquela espada, não havia como confundi-la.

— Rainha Visenya — respondeu se curvando a figura que mais admirava.

— Sangue do meu sangue. Herdeira do meu fardo.

Rhaenyra avançou, hesitante — Por que estou aqui?

— Um erro foi cometido pelos deuses. Tessarion errou em pensar que seu pai se voltaria contra os Hightower depois dos sonhos que ela lhe concedeu — Visenya tinha uma expressão de desaprovação — Seu pai aprende todas as lições erradas dos sonhos que recebe.

Rhaenyra bufou — Nisso, Sua Graça, eu acredito

— Felizmente não é um erro que não possa ser corrigido — continuou Visenya — Mas você, descendente de Rhaenys, é a chave para isso. Hen aōha ānogar māzigon se kivio dārilaros bona istan.

Rhaenyra arregalou os olhos

— Então é a minha linhagem... não a de Aegon, que trará o príncipe prometido... Mas minha linhagem não está mais na linha do trono, como...

— Isso pode ser resolvido mais tarde, em outra geração — respondeu a rainha — O seu papel será em fortalecer a sua linhagem de tal modo que impeça nossos inimigos de nos enfraquecer. Os Targaryen e os dragões precisam estar no pináculo de sua força quando a ameaça do Norte chegar.

O coração de Rhaenyra parecia estar em chamas, se sentia honrada mas também não podia deixar de sentir o peso daquela responsabilidade.

— Como posso fazer isso, Sua Graça?

— Você já está no caminho certo, mas estou aqui para te dar as ferramentas que vão lhe ajudar — disse Visenya — Sabe aonde estamos?

— No seu antigo quarto.

— Exato — ela se virou indicando uma parece, onde nela estava esculpido um grande dragão em relevo, voando e rugindo, seus dentes afiados a mostra.

Visenya apontou para um dos dentes — Se apertar este aqui, abrirá a passagem para minha câmara particular, onde praticava minhas orações aos deuses, onde praticava magia... e também onde guardei os textos que julguei muito importantes ou perigosos para a biblioteca.

Rhaenyra olhava de boca aberta, haviam passagens secretas em Pedra do Dragão assim como na Fortaleza Vermelha! Será que também haviam túneis?

— Toda a informação lá dentro é sua para usar, mas eu lhe aconselho a não mexer com coisas que não está preparada, tudo cobra um preço — continuou — E eu lhe deixo com um último aviso, que você deve passar para frente aos seus descendentes: Dragões não devem se enfrentar, quando os dragões dançam, todos queimamos, e as criaturas inferiores se aproveitam para devorar os nossos restos.

 


 

Quando Rhaenyra acordou o Sol ainda não tinha nascido, ela se levantou apressada, ascendeu uma vela, e caminhou até os antigos aposentos da Rainha Visenya.

O quarto não estava exatamente como era em seu sonho, provavelmente a versão em que ela conversou com a Rainha era como o recinto era quando Visenya o utilizava.

Mas a parede estava ali, com seu dragão esculpido.

Ela apertou o dente designado.

E um pedaço da parede abriu, lenta e pesadamente como uma porta que não era utilizada há um século. A sala que havia do outro lado não tinha janelas e estava extremamente suja. Rhaenyra viu velas nas paredes que ela rapidamente ascendeu com a sua para espantar a extrema escuridão.

De um lado da sala haviam várias estantes de livros, tudo que ela conseguia ver com uma rápida análise era que eles eram todos em Alto Valiriano e alguns deviam ser de antes da Perdição. Verdadeiras relíquias.

Do outro lado havia o que ela só podia descrever como um templo, mas não era nada como os septos que ela já tinha entrado. Havia quatorze altares de pedra em um semi círculo, em cada um havia um candelabro com uma vela de vidro de dragão e no centro havia outro altar.

O altar do centro estava vazio, mas havia manchas vermelhas por toda parte. "Sangue" sua mente completou.

Nisso, ela se virou para os livros. Ela focaria naquele lado primeiro, o outro era pra quando ela tiver conhecimento o suficiente.

Quando amanheceu, Rhaenyra ordenou que seus aposentos fossem mudados dos de Rhaenys para os de Visenya. Opulência não se comparava ao que tinha naquela sala, e ela queria ficar por perto.

 


 

— Dormiu bem, valonqranna? — cumprimentou Rhaenys

— Bem o suficiente — Rhaenyra estava sentada no seu escritório e na frente dela havia uma mesa cheia de papéis.

— Então me diga o que você já fez — disse Rhaenys se sentando em uma cadeira na frente de Rhaenyra.

— Já enviei as cópias do contrato para todas as Casas Paramount, também fiz outra cópia que pretendo enviar para Daemon — respondeu — Também já enviei mensagens para as Casas juramentadas a Pedra do Dragão para virem jurar fidelidade a mim como suserana.

Rhaenys assentiu com a cabeça.

— Agora você precisa focar em como fazer a ilha ser lucrativa a longo termo, o dinheiro da Coroa só durará durante a sua vida e você precisa pensar em como deixar ilha autossuficiente até lá.

— Com sorte, teremos muitos anos para esse projeto — falou Rhaenyra com humor — Com a experiência de ser Lady de Derivamarca, o que me aconselha, velma?

— Precisa pensar no que você pode exportar e com quem você pode conseguir o que precisa importar. Também recomendo anunciar publicamente que está procurando por maneiras de gerar renda para ilha, e que quem trouxer uma ideia que se prove bem sucedida será bem recompensado.

— Não sabia que isso era algo que se fazia, é comum?

— Não muito com lordes Paramount, pois estes já estão nos seus territórios por muito tempo e já possuem suas fontes de renda. Mas com lordes menores e principalmente novos lordes, sim.

— Bem, sou definitivamente nova no cargo — disse Rhaenyra — Vou fazer como recomendou.

Rhaenyra passou os dias que levaram para os barcos que traziam seus pertences, seus criados e suas damas chegarem trabalhando arduosamente com a Princesa Rhaenys e o Maester Gerardys para limpar Pedra do Dragão de pessoas não leais.

Ser Broome esperneou, lhe xingou e ameaçou ir reclamar com o Rei mas não teve escolha a não ser sair da ilha. Se ele realmente fosse reclamar com o Rei por ter sido "dispensado sem motivos" ela iria rir muito, oh a cara dele quando descobrisse que ela tinha total poder sobre quem era empregado ou não em Pedra do Dragão e não precisava se explicar a ninguém!

Os cuidadores de dragões eram uma ordem completamente leal ao bem estar das criaturas que eles cuidavam, ela podia ficar tranquila com eles.

Os Capas Douradas que aceitaram trabalhar ali ainda não haviam chegado, mas Pedra do Dragão tinha guardas e ela precisava garantir que eram leais também, assim como a criadagem.

Foi um trabalho minucioso e honestamente uma grande dor de cabeça, mas uma necessária. No final, o castelo estava com falta de pessoas o suficiente para funcionar quando os navios chegaram.

Notes:

Hen aōha ānogar māzigon se kivio dārilaros bona istan - Do seu sangue virá o príncipe/princesa prometido/a

Existe muitos rumores relacionados a Visenya, o que pode ter acontecido porque a Fé dos Sete e a Citadela não gostavam dela. Na verdade, muita gente não gostava dela, ela ia contra tudo que Westeros diz que uma mulher deve ser.

Tem rumores de que ela usava magia negra e de que Maegon foi fruto de magia (ela levou muitos anos para engravidar, e só teve um filho). Que ela envenenou Aenys I. Que ela era séria, rígida e impiedosa. E até que tinha inveja da esposa do filho.

Para essa história, resolvi considerar o primeiro rumor como verdadeiro, não me admira nada os maesters considerarem o uso de magia algo sempre negativo e falassem que tudo era "magia negra"

Sobre o nascimento de Maegor, também vou considerar que ela usou magia, e daí vem o aviso dela para a Rhaenyra "tudo cobra um preço".

"Herdeira do meu fardo" - Pois o papel que Visenya tinha era o mesmo que ela está dando agora a Rhaenyra: fortalecer a Casa. Se ela teve sucesso ou não, isso vai da interpretação de cada um.

Chapter 8: Capítulo 7

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 115 d.C.

Pedra do Dragão

 

Os navios chegaram trazendo ex-Capas Douradas e suas famílias inteiras, incluindo as vezes pais e sogros, para o alívio de Rhaenyra que tinha muitas posições para preencher dentro do castelo.

Rhaenyra usou o ouro que tinha se acumulado nos cofres de Pedra do Dragão (por não ter sido todo usado na manutenção do castelo) para comprar suprimentos para enviar ao seu tio em Passopedra nos navios que tinha recebido como parte do contrato. Rhaenys sabia do que precisavam mais, e ela pretendia enviar voluntários entre os Capas Douradas de Porto Real também, não seria difícil fazer os navios darem um pequeno desvio para Porto Real para buscá-los.

Os números da Patrulha da Cidade nas ruas certamente ficariam diminutos. Mas Otto estava há anos tentando cortar os fundos da Guarda argumentando que seus altos números eram desnecessários. Vamos ver o que ele achava disso na prática.

Junto dos navios, ia uma carta dela para Daemon. Ela não sabia se ele já recebeu a notícia estando na guerra, mas ele merecia saber de tudo que aconteceu por ela. Ela o devia quase tanto quanto devia a Rhaenys, ela tinha usado da sua influência em Porto Real descaradamente, e agora novamente ao buscar apoio dos ex-Capas Douradas (que ela transformou em Capas Vermelhas, os guardas da Casa Targaryen de Pedra do Dragão).

Rodeada de gente leal, Rhaenyra sentia que podia respirar. Nunca percebeu o quão tensa sempre estava na Fortaleza Vermelha onde sempre se sentia observava e poucos poderiam ser confiados.

Ela logo recebera respostas dos lordes das Casas juramentadas a Pedra do Dragão então ela colocou seu pessoal para trabalhar no seu primeiro desafio: organizar um banquete para receber todos como sua nova Lady.

O grande salão de Pedra do Dragão fora preparado. As mesas estavam postas com vinhos de Lys, peixe recém-trazido do mar e pão ainda quente. Não era Porto Real, mas Rhaenyra pensava que tinham feito um bom trabalho.

Rhaenyra ocupava o trono de Vidro de Dragão, as chamas dançavam em seus olhos, e apesar da juventude, sua postura transmitia força. Os lordes e suas famílias eram recebidos e ali mesmo faziam seus juramentos.

— Pedra do Dragão não será lembrada como presente de consolação — proclamou Rhaenyra, erguendo uma taça. — Mas como o coração do sangue do dragão. Aqueles que se ajoelham aqui não servirão a uma filha descartada, mas à chama que jamais se apaga. Os verdadeiros Targaryen.

Não era mais a herdeira do Trono de Ferro, mas tampouco parecia uma jovem derrotada. Os olhos violeta ardiam com a mesma chama que iluminava a fortaleza. Lembrava-se da responsabilidade dada a ela pela Rainha Visenya, do presente que ela havia lhe dado na forma de conhecimento, e jurava a si mesma que não iria falhar.


Passopedras

O ar das Passopedras era pesado de sal, fumaça e sangue. As praias estavam coalhadas de cadáveres, e o estandarte do Caranguejo se erguia ainda em alguns rochedos, desafiando os homens de Westeros. Daemon Targaryen limpou a lâmina de Irmã Sombria no manto rasgado de um inimigo, os olhos ardiam tanto quanto seus pulmões.

Atrás dele, Caraxes rugia, sua sombra avermelhada tingindo as ondas.

Enquanto inspecionava o campo, um mensageiro aproximou-se, sujo de poeira e exaustão. Curvou-se de forma apressada.

— Meu príncipe… reforços chegaram. Navios com o estandarte Targaryen.

Daemon arqueou a sobrancelha, desconfiado — Targaryen? — sua voz gotejava ironia — Desde quando meu irmão manda homens para as guerras que ele mesmo não ousa lutar?

O mensageiro engoliu em seco — Não foi o rei, senhor. Foram enviados de Pedra do Dragão. Em nome da princesa Rhaenyra.

O silêncio que seguiu foi cortado apenas pelo som distante das ondas contra os rochedos. Daemon estreitou os olhos.

— Rhaenyra? — murmurou, como se provasse o nome na boca.

O mensageiro estendeu um envelope com um selo do dragão tricéfalo em cera vermelha. Dentro, uma carta escrita pela própria mão da princesa e outro papel.

"Kepus,

Meu pai decidiu ceder aos sanguessugas da Corte e as tradições ândalas. Não sou mais sua herdeira e sim Aegon.

Mas esse não é o fim, enviei junto a essa carta o contrato que o Rei assinou para que eu aceitasse essa mudança. Acho que vai ficar orgulhoso de mim, kepus.

Enviei os suprimentos que podia com o ouro que tinha, mas temo que não poderei enviar mais por um bom tempo, então faça durar ou acabe logo com essa guerra.

E lembre-se de que você será sempre bem vindo em minha casa.

Princesa Rhaenyra Targaryen, Lady de Pedra do Dragão"

Daemon releu o contrato duas vezes, antes de rir, meio incrédulo, meio satisfeito. Sua sobrinha arrancou do Rei tudo que podia, mas ainda assim era uma vitória agridoce.

— Então é isso — Guardou o pergaminho junto ao peito — Aegon herdeiro… Rhaenyra Lady de Pedra do Dragão. O rei distribui coroas como quem distribui moedas.

O maldito Otto Hightower tinha vencido, percebeu, seu sangue estaria no trono. Só de imaginar naqueles meio-valirianos criados por ândalos sentando no trono de Aegon O Conquistador fez sua bile subir.

Caminhou até o porto improvisado onde seus navios atracavam, podia ver as velas negras com a insígnia Targaryen, os soldados estavam descarregando os suprimentos trazidos pelos navios animados. É claro, suprimentos significava comida fresca.

Em cima do navio, no entanto, viu uma pessoa que não esperava.

— Ser Luthor?!

— Príncipe Daemon! — O alto homem logo se virou para desembarcar do navio e ir até o príncipe.

— Meu olhos certamente me enganam — falou Daemon quando o homem parou na sua frente — Tenho certeza que deixei você no comando dos meus Capas Douradas. Não me diga que os abandonou?

Ser Luthor revirou os olhos — Deve se lembrar, meu príncipe, que tem outros capitães além de mim, além disso alguém tinha que acompanhar os que decidiram vir lutar por você aqui.

Os olhos de Daemon arregalaram, ele olhou ao seu redor e reconheceu vários rostos, todos veteranos da Patrulha da Cidade. Vestiam ainda fragmentos de suas antigas armaduras negras com a capa dourada.

— Foi ideia da Princesa Rhaenyra, ela mandou seus navios especialmente para Porto Real nos buscar. Não são muitos, mas fomos treinados pelo senhor, seremos de alguma ajuda.

— "Alguma ajuda" um ova. Serão melhores do que eu estive tendo que lidar aqui, com esses soldados Velaryon.

Sua sobrinha iria merecer um presente quando tudo aquilo acabasse.


Pedra do Dragão

 

Dentre todos os seus afazeres, Rhaenyra conseguiu tempo para começar a ler os livros da biblioteca de Visenya. Normalmente de madrugada, já que ela já não dormia muito mesmo.

O primeiro livro que ela pegou era sobre dragões. Haviam muitas lendas sobre a origem deles, mas a verdade é que tinham sido criados com magia de sangue, misturando várias espécies e amarrando o resultado ao sangue dos magos responsáveis pela sua criação, esses magos tiveram ao todo 40 filhos, correspondendo as 40 famílias que dominavam dragões.

Dragões e magia de sangue estavam ligados diretamente.

Os livros também explicavam detalhes sobre sua anatomia que ela tinha certeza que os Cuidadores de Dragões matariam para saber, mas o que mais lhe interessou foi sobre fertilidade. Como os dragões e as famílias que os montavam estavam ligados por sangue a fertilidade dos dragões estava ligada a fertilidade das mulheres das famílias, o que atualmente seria as mulheres Targaryen.

Ela lembrou de Dreamfyre, o dragão que mais gerou ovos entre todos, mas fazia muitos anos desde de sua última ninhada. Será que podia estar relacionado aos problemas de fertilidade que sua família esteve tendo? Daella e Alissa Targaryen morreram no parto, sem falar na sua mãe.

Ela também leu o diário de Elaena Targaryen, a mãe de Daenys A Sonhadora. Sua ancestral não apenas descrevia como era a vida em Valiria, como anotou vários feitiços, quase como se fossem "receitas". Incapaz de conter sua curiosidade, seu próximo livro era sobre magia valiriana.

Os dedos de Rhaenyra tremiam ao percorrer as páginas. O texto falava de encantamentos que ligavam cavaleiro e dragão, de feitiços que moldavam pedras, e de sacrifícios que alimentavam o poder. Havia até mesmo instruções, incompletas, para acender fogo com palavras e sangue, e para se tornar imune ao fogo.

Os "não queimados" eram uma lenda entre os descendentes de Valiria depois da Perdição. Os que acreditavam neles consideravam que era uma benção dos deuses. Seja verdade ou não, ela agora descobria que era algo que podia ser adquirido com feitiço.

Seu coração estava acelerado, queria testar as coisas que lera, que seus ancestrais praticavam. Mas lembrou do aviso de Visenya e se segurou.

Notes:

Tomei muita liberdade criativa com a magia valiriana, mas minha fanfic minhas regras!

Chapter 9: Capítulo 8

Notes:

Alto valiriano em itálico

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Chapter Text

Ano 115 d.C.

Porto Real

 

Otto Hightower estava de pé junto à janela, olhando para as luzes da cidade lá embaixo, os dedos cruzados atrás das costas. Quando falou, sua voz foi baixa, mas carregada de gravidade.

— Pedra do Dragão nunca foi apenas um presente de consolação. Foi uma tolice.

Alicent levantou os olhos para ele, cansada, mas atenta — Fala de Rhaenyra?

— Falo de dragões — Otto virou-se — Enquanto ela controlar os dragões de lá, nenhum título que Aegon receba estará seguro.

Alicent acariciou o ventre de forma instintiva — Há dragões e ovos no fosso de Porto Real, o ovo de Aegon pode ter esfriado mas ele pode receber outro.

— Há um dragão. Dreamfyre, o resto são ovos que podem ou não nascer.

— Rhaenyra não está mais na linha de sucessão, ela não tem nenhuma reivindicação contra o trono de Aegon.

Otto se aproximou lentamente, apoiando-se na cadeira junto à cama — O reino não teme títulos, teme asas, dentes e fogo. Rhaenyra tem Syrax e os dragões dos Velaryon que são sua Casa juramentada. E em Pedra do Dragão descansam outros dragões… e ovos, que ela pode distribuir a quem desejar. Imagine, minha filha, se ela decide presentear outros com o que deveria pertencer apenas à coroa?

Alicent arregalou os olhos — Apenas Targaryens conseguem domar dragões.

— Sangue Targaryen doma dragões, que graças a Rhaenys os Velaryons possuem. Que os filhos de Rhaenyra irão possuir.

Otto se lembrou da forma firme que o Rei Jaehaerys controlava o acesso aos dragões, não permitindo que as filhas reivindicassem um a não ser que se casassem com outro Targaryen. Rhaenys foi uma exceção por ser herdeira de Aemon, e Leanor por ser o herdeiro dela, e olha no que isso gerou. Dragões deveriam pertencer apenas à Coroa.

Alicent desviou o olhar, incerta — Ela ainda é jovem, não deve ter desejado abrir mão de ter autoridade depois de anos a tendo como herdeira.

— Jovem, sim — Otto inclinou-se, fixando os olhos nos dela — Mas os dragões não perguntam a idade do seu cavaleiro antes de incendiar um exército.

O silêncio caiu pesado. Alicent alisava o ventre, como se buscasse conforto. Finalmente, falou em voz baixa:

— Quer que eu a convença a ceder o controle dos dragões? Ou que fale com o rei?

Otto hesitou um instante, o rei não voltaria atrás e não havia o que fazer sobre o contrato.

— Quero que esteja preparada. Não podemos ignorar que nossa maior ameaça é Pedra do Dragão. Agora que garantimos a herança de Aegon, nossa prioridade é conseguir para ele um dragão. Isso é essencial.

Ele pousou a mão sobre a de Alicent, num gesto raro de ternura, mas seus olhos continuavam frios, distantes, já traçando cálculos.

— Lembre-se, filha… dragões não são apenas criaturas. São armas.


Pedra do Dragão

 

Seu próximo desafio era desenvolver Pedra do Dragão economicamente.

Primeiramente, podia cobrar impostos dos navios que atracarem na ilha, como seus antepassados faziam, mas eram poucos principalmente depois que Pedra do Dragão foi deixada em segundo plano para a Fortaleza Vermelha. Também tinham os impostos que suas Casas juramentadas tinham que pagar a ela agora como Lady Paramount, que antes iriam direto para Coroa.

Rhaenyra sorriu de canto de boca. Que fortuito era que no contrato especificava que Pedrão do Dragão pagaria apenas valores ínfimos de impostos a Coroa.

O maior problema com agricultura e pecuária na ilha era o espaço reduzido, as fortes tempestades que podiam destruir plantações e claro o risco de dragões selvagens. Os habitantes da ilha consumiam tudo que conseguiam produzir, não gerando sobras que pudessem ser vendidas.

Ela tinha ordenado a construção de uma casa de vidro para o castelo, planejando usar vidro de dragão, queria que fosse grande o bastante para o castelo ser auto suficiente em comida. Talvez ela devesse enviar uma carta a Lorde Stark oferecendo casas de vidro especiais aos lordes do Norte? Ela sabia que apenas Winterfell e Castle Black tinham uma.

A recomendação de Rhaenys de anunciar que ela estava procurando ideias para gerar renda na ilha não demorou a gerar frutos.

Um homem nativo da ilha apareceu falando das propriedades das cinzas vulcânicas, que podiam ser vendidas para melhorar a fertilidade da terra. Era interessante, mas ela precisava de provas que isso era verdade e pediu para o maester Gerardys organizar uma pesquisa.

A ideia de criar jóias com vidro do dragão veio de uma das suas damas, Alayne Waynwood, que se impressionou ao ver a quantidade de cores que apareciam quando se colocava o vidro na luz.

A oferta mais interessante veio de um homem de Essos. Ela nem imaginava como a sua oferta tinha chegado tão longe. O homem, Syricho de Pentos, falou de uma técnica para tirar o sal da água do mar.

Aquilo despertou a atenção dela imediatamente. Sal era muito valioso em Westeros, principalmente no Norte onde eles lidavam com invernos mais rigorosos, e atualmente o único fornecedor era em Saltpans. Se ela pudesse oferecer sal por um preço mais barato, eles comprariam dela.

Ela imediatamente ordenou que Syricho provasse que a técnica funcionava, enviou acólitos do maester Gerardys e alguns guardas para testemunhar o feito e reportar a ela.

Se funcionasse, poderia ser a resposta dos seus problemas.


Rhaenyra estava na sala secreta de Visenya.

Acendia as velas da esquerda pra direita dos altares em semi circulo, como diziam as instruções do livro sobre a religião valiriana, recitando os nomes dos deuses começando por Syrax e terminando em Balerion. Quando terminou pegou uma adaga que tinha achado entre as coisas de Visenya, e fez a um corte na mão. Na mesma ordem que acendeu as velas ela deixou cair uma gota de sangue em cada chama.

Quando terminou, parou em pé no centro do semi círculo, os deuses valirianos não exigiam que se ajoelhasse.

Quatorze chamas… — murmurou em alto valiriano, os olhos fixos nas chamas. — Força de nossos ancestrais, sangue do fogo que moldou dragões e impérios… escutem-me.

O fogo estalou, como se respondesse. A princesa sentia o ar pesado, como se pelo o peso da presença dos deuses na sala.

Concedam-me a chama da visão, para que eu veja o caminho além da escuridão — continuou — Esta descendente de Valiria pede pela sua proteção, e pela sua orientação.

As chamas das velas cresceram mais e mais e mais até o calor se assemelhar a dentro das cavernas do Monte Dragão, até que em um instante voltaram ao normal.

Rhaenyra estava ofegante. Só havia ido em septos antes, nunca havia tido a experiência de ter uma comprovação de que os deuses tinham lhe ouvido. Que estavam ali.

Notes:

Vamos ter outro Time Skip no próximo capítulo? Vamos!

Chapter 10: Capítulo 9

Notes:

Alto valiriano em itálico

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Chapter Text

Ano 116 d.C.

Porto Real

 

A sala do Pequeno Conselho estava bem iluminada pelo Sol da manhã. Nela os lordes já estavam sentados em seus respectivos lugares e o Rei na cabeceira estava tentando aparecer atento as conversas.

— Notícias de Pedra do Dragão, sua graça — A voz de Otto soava contida, mas cada palavra era afiada — Rhaenyra convocou ajuda de essosi, ampliou o porto da ilha e construiu novos navios. Envia enxofre e vidro de dragão para Essos. Envia Sal para o Norte e o lorde das Saltpans nos enviou uma reclamação por ela estar interferindo nos negócios dele.

Viserys suspirou, recostando-se, os dedos tamborilando no braço da cadeira — É bom ouvir que minha filha está indo bem. Pedra do Dragão sempre foi esquecida, e agora floresce.

Otto fechou o pergaminho devagar — Com todo respeito, senhor… não é apenas florescimento. É independência. Rhaenyra age como se estivesse aumentando sua base de poder.

Viserys franziu o cenho, irritado — Pedra do Dragão é posse dos Targaryen há séculos, é independente desde antes da Conquista, não há nada de estranho nisso. E minha filha está construindo um novo reino como Lady Paramount, é esperado que queira gerar renda para sua terra.

Otto inclinou-se um pouco, o tom mais baixo — Sua Graça… Rhaenyra controla dragões. Controla ovos. E agora controla navios, portos e riquezas. Isso é perigoso para a Coroa, para o seu herdeiro.

— Bobagem! — disse Viserys indignado, e um pouco ofendido pela insinuação — Minha filha abriu mão do trono para ela e sua linhagem, em contrato! Sua preocupação com prevenir conflitos sempre me serviu bem, Otto, mas cuidado para não virar uma paranoia!

Otto segurou a língua e não respondeu, sabendo que não conseguiria nada do Rei. Ele era cego em relação a filha, mesmo depois do puxão de tapete que ela passou nele com aquele contrato.

— Mudando de assunto —falou Lorde Tyland Lannister, Mestre dos Navios — A Guerra nas Passopedras acabou com Daemon e os Velaryon vitoriosos.

— Ora, outra boa notícia! — exclamou o Rei

— Então Príncipe Daemon está retornando? — perguntou Lorde Strong — A Patrulha da Cidade está com dificuldades de manter a ordem, sei que vários seguiram Daemon para a guerra, seria bom tê-los de novo.

— Desertores! — exclamou Otto — Melhor ficarem nas Passopedras, não são bem vindos de volta.

— Mas com os atuais números da Patrulha, não têm como manter a paz na cidade...

— Paz? Daemon ensinou a eles sua selvageria, causavam mais violência que qualquer outra coisa. Podemos recrutar novos, cavaleiros de casas honradas, para o seu lugar.

Era de conhecimento geral que Daemon aceitara na Patrulha qualquer um com a habilidade suficiente, seja plebeu ou nobre. A fala de Otto sugeria mudar isso.

— Sobre Daemon... — continuou Lorde Tyland — Parece que ele está ferido da última batalha, então não acho que ele deve aparecer até melhorar.

— Daemon sempre fica bem, é a força de estar ligado a um dragão. Lembro que Rhaenyra nem doente ficava! — disse o Rei com humor

Os lordes da mesa se entreolharam pela falta de preocupação do Rei com a notícia que o irmão estava ferido, mas não comentaram.


Derivamarca 

 

Syrax cruzou o céu, o rugido ecoando sobre o mar, planando até pousar em um dos patios de Maré Alta, perto de onde Seasmoke estava descansado. Derivamarca não tinha um Fosso e os dragões ficavam livres, assim como em Pedra do Dragão.

Rhaenyra desmontou sem esperar ajuda com a destreza de alguém que montava um dragão desde os sete anos.

Quando soube que Daemon foi ferido gravemente na última batalha pelas Passopedras ela correu para Syrax imediatamente. Sabia que guerra sempre vinha com riscos, e que seu tio era um homem impulsivo e não tinha medo do perigo. Mas na cabeça dela seu tio era como uma entidade lendária, invencível. Ser confrontada com a mortalidade dele foi um choque.

Seus passos eram apressados, quase desesperados. Servos curvaram-se, mas ela não parou, seguindo diretamente aos aposentos onde Daemon provavelmente fora levado, os do maester de Maré Alta.

O cheiro de ervas e sangue fresco enchia o ar. Corlys Velaryon estava de pé à porta, o semblante grave.

— Ele resiste, mas a flecha o atingiu fundo — disse o Seasnake.

Rhaenyra entrou sem pedir permissão.

Daemon jazia sobre a cama, o rosto pálido, o peito enfaixado com sangue seco. Seus olhos estavam semicerrados, respirando com dificuldade. Ainda assim, quando a viu, um sorriso torto lhe surgiu nos lábios.

— A Lady de Pedra do Dragão… — murmurou, a voz fraca, mas zombeteira como sempre — Veio me vigiar… ou se certificar de que não estou morto?

Rhaenyra sentou-se ao lado da cama, o olhar endurecido pela dor — Vim porque não suporto a ideia de te perder.

Daemon riu baixinho, tossindo em seguida, manchando de vermelho a bandagem.

Ela tomou sua mão, firme, e pela primeira vez não tentou esconder o tremor — Descansa. Não foste feito para morrer em uma cama.

Ele apertou de volta, com a pouca força que lhe restava.

E naquela noite, em Derivamarca, Rhaenyra compreendeu que o destino de sua Casa estava entrelaçado não só ao poder de dragões e fortalezas… mas também ao coração de um homem que teimava em viver contra todas as probabilidades.


Os dias em Derivamarca arrastaram-se. Daemon Targaryen repousava em seus aposentos, envolto em bandagens, sua respiração irregular.

Rhaenyra passava horas ao seu lado. Lia trechos de crônicas valirianas, trazidas de Pedra do Dragão ou o alimentava com caldos preparados pelos mestres. Às vezes apenas permanecia em silêncio, observando-o dormir, os dedos entrelaçados aos dele como se pela força do toque pudesse impedir a morte de levá-lo.

— Nunca pensei… que veria a Princesa de Pedra do Dragão… reduzida a enfermeira — disse ele, a voz rouca, mas com um sorriso provocador.

Rhaenyra bufou — Não aconteceria se não fosse tão descuidado com a sua vida. Já ouvi de Lorde Corlys o plano suicida que te deixou assim, e não estou feliz com você.

— Que... medo... — zombou ele, mas sua mão apertou a dela.

No fim, os deveres de Rhaenyra em seu próprio castelo não permitiram que ela ficasse mais tempo em Derivamarca. Após conseguir que Lorde Corlys concordasse em enviar Daemon para Pedra do Dragão assim que ele estivesse bom o suficiente para aguentar a viagem, ela partiu em Syrax.


Pedra do Dragão 

 

Quando Daemon conseguiu erguer-se pela primeira vez sem desmaiar de dor, Corlys cumpriu o combinado e o enviou de navio para Pedra do Dragão. Caraxes seguindo a embarcação como um sentinela.

Quando chegou, Daemon foi levado com cuidado pelos corredores até os aposentos preparados, onde Maester Gerardys, já aguardando com suas poções e ervas, começou os atendimentos.

— Pode deixar comigo, princesa — disse Gerardys, inclinando-se respeitosamente.

Rhaenyra permaneceu alguns instantes junto à cama, os olhos fixos em Daemon, que a olhava de volta, cansado mas ainda cheio de fogo no olhar — Desculpe por te fazer passar por essa viagem kepus, mas confio mais no maester Gerardys, descansarei melhor sabendo que está sob os cuidados dele.

— Conheço maester Gerardys sobrinha, ou esqueceu que fui eu que o indiquei como confiável? — respondeu Daemon, sua voz baixa mas sua respiração regular — Também prefiro estar em território Targaryen.

Rhaenyra sorriu e deixou Daemon para que o maester pudesse trabalhar em paz. Ela caminhou para aos seus aposentos, onde logo que entrou foi em direção a sala secreta.

As quatorze velas continuavam acesas, o livro que lera sobre como cultuar os deuses valirianos dizia para não apagá-las, Rhaenyra parou no centro delas.

Senhores do Fogo — murmurou em alto valiriano — vós que outrora guiaram nossos ancestrais através do mar e nos salvaram da Perdição… olhai por ele.

Fechou os olhos, sentindo o calor das velas em sua pele.

Daemon é fogo e sangue, como eu. E sei que a chama não pode ser contida, apenas alimentada. Dê a ele forças para que se erga outra vez, para que juntos possamos acender o que foi apagado em nossa Casa.

O fogo das velas crepitou mais alto, e logo voltaram ao normal

Rhaenyra abriu os olhos, e a certeza queimava em seu peito. Daemon ficaria bem.

Notes:

Viserys não dá o devido valor ao Daemon. No Grande Conselho de 101dC Daemon não só apoiou Viserys como levantou um exército em nome dele. Pensem, de um lado Rhaenys tem Meleys e a frota marítima dos Velaryon, do outro tem Viserys.... que não tem dragão mas o irmão que o apoia tem, e o exército que o mesmo irmão levantou. Acredito que o apoio de Daemon foi essencial para Viserys ter sido escolhido.

Por anos, Viserys e Daemon estão em um ciclo de Viserys bane Daemon, Daemon fica um tempo fora e depois volta. Viserys vê Daemon como alguém que "sempre vai voltar".

Chapter 11: Capítulo 10

Notes:

Alto valiriano em itálico

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Chapter Text

Ano 116d.C

Pedra do Dragão 

 

Naquela manhã, Maester Gerardys avisara Rhaenyra: dois criados recém-chegados, supostamente enviados por lordes menores das Ilhas Velhas, haviam sido flagrados tentando sondar os depósitos de provisões da fortaleza. Um deles carregava moedas com o selo da Mão do Rei.

Rhaenyra não perdeu tempo. Mandou que fossem levados diante dela no salão principal, onde as tochas tremeluziam como olhos vigilantes.

— Dizem servir a Casa Velaryon — disse a princesa, andando lentamente diante dos acusados — Mas as moedas em suas bolsas vêm de Porto Real.

O mais velho dos homens abriu a boca para falar, mas Rhaenyra ergueu a mão, calando-o. Syrax rugiu do lado de fora, como se sentisse a tensão.

— Pedra do Dragão não é território para cobras — continuou ela, a voz firme — É ninho de dragões. E todo dragão devora serpentes. 

Um gesto de sua mão, e os guardas os arrastaram para longe. Ninguém no salão ousou perguntar o que seria deles. O silêncio era resposta suficiente.

 


 

Naquela noite, ela encontrou Daemon em seus aposentos. O príncipe já conseguia andar com certa firmeza, apoiado em uma bengala improvisada. Seus olhos brilhavam, vivos e zombeteiros.

— Vejo que começa a governar pela força, já está se saindo melhor que seu pai — disse ele, erguendo uma taça de vinho — Mandou um recado a Porto Real sem precisar escrever carta alguma.

Rhaenyra sentou-se diante dele, cruzando os braços — Otto não ficará quieto. Tentará novamente, sempre.

Daemon sorriu — Então deves aprender três coisas. Primeiro: lealdade é moeda mais rara que ouro. Mantenha seus lordes próximos, mas nunca entregue a coleira. Segundo: medo é tão útil quanto amor. Se apenas te respeitam, podem te trair. Se também te temem, pensarão duas vezes.

Ele se inclinou para frente, os olhos fixos nos dela — E terceiro: nunca mostre fraqueza.

Rhaenyra o ouviu em silêncio. Parte dela queria contestar, ainda se via jovem, e a ideia de governar pela dureza lhe parecia pesada. Mas em seu íntimo sabia: a fraqueza do seu pai foi o que o tornou um rei marionete, não podia cometer os mesmos erros.

 


 

Tomando coragem, abriu o pequeno livro valiriano que encontrara na biblioteca de Visenya. As páginas, frágeis e queimadas nas bordas, traziam palavras que pareciam arder na língua: fórmulas de invocação, orações de ligação.

No altar no centro do semi círculo de velas, ela fez um corte na mão e usou seu sangue para desenhar as runas como indicado no livro. Depois, Rhaenyra começou a recitar o encantamento.

Drakarys īlva ānogrose… gevives īlva qogrondo…

Enquanto murmurava, as runas no altar começaram a brilhar em vermelho incandescente. O ar aqueceu, e o cheiro de enxofre invadiu seus pulmões.

Do lado de fora, Syrax rugiu, e o som ressoou como se estivesse dentro da sala. A conexão entre ambas, sempre forte, agora pulsava como se um novo elo tivesse sido forjado.

Rhaenyra caiu de joelhos, sentindo a pele queimar mas sem dor, apenas pela energia do dragão correndo por suas veias. Fechou os olhos, e de repente, viu pelos olhos de Syrax: as asas abertas sob a lua, as escamas refletindo o fogo, o mundo inteiro lá embaixo tão pequeno.

Ela arfou, e lágrimas escorreram de seus olhos. Pela primeira vez, não era apenas cavaleira de dragão. Era parte dela.

Ēdruta ñuha zaldrīzes… — sussurrou, em transe.

E Syrax respondeu, batendo as asas com um rugido que fez tremer as muralhas da fortaleza.

Quando finalmente a energia cedeu, Rhaenyra caiu para trás, ofegante, mas sorrindo. Sua ligação com Syrax não era apenas de sangue e comando. Agora era de alma e magia.

Ao descer novamente para os pátios, encontrou Syrax à sua espera. A dragão curvou a cabeça até o nível da princesa, os olhos verdes fixos nela. Rhaenyra tocou-lhe a escama quente e sentiu uma resposta imediata, um fluxo de pensamentos, de instintos, como se partilhassem a mesma respiração.

— Nunca mais estarei só — murmurou, encostando sua testa na do dragão — Porque somos uma.

O rugido de Syrax ecoou pela noite.

 


 

Na manhã segunte, Syrax lhe esperava no pátio do castelo, inquieta, como se soubesse que algo diferente aconteceria.

Rhaenyra caminhou até ela, o coração batendo como tambor. Desde o ritual, sentia Syrax dentro dela, como uma chama no seu interior.

Hoje veremos o resultado do nosso elo melhorado — murmurou em alto valiriano, acariciando a escama dourada do pescoço do dragão.

Syrax respondeu com um barulho que mais parecia um gato ronronando.

Com um salto ágil, Rhaenyra montou, e juntas levantaram voo, cortando as nuvens carregadas. No alto, onde até as gaivotas não ousavam voar, Rhaenyra fechou os olhos e deixou a magia fluir entre as duas.

Syrax abriu a boca, e de suas entranhas saiu não apenas uma labareda comum, mas uma torrente incandescente que mais parecia ter saído de Vhagar do que de um dragão jovem.

No pátio lá embaixo, soldados e servos estavam aterrorizados e maravilhados. Nunca tinham visto um dragão cuspir fogo daquela maneira.

Daemon, que tinha saído com o objetivo de ver Caraxes, estava entre eles. Ainda apoiado na bengala, olhava para o céu com olhos arregalados.

— Por Balerion… — murmurou o príncipe — Como...?

Quando Rhaenyra desceu, ainda tomada pela energia, seus olhos brilhavam como brasas. Saltou de Syrax e pousou diante de Daemon. Ela riu dos seus olhos arregalados, Daemon sempre foi o maior especialista em dragões da família, não era fácil chocá-lo.

— Venha comigo, kepus — a princesa ofereceu um braço para o tio se apoiar — Vou te mostrar um segredo que descobri no castelo.

Daemon iria adorar a sala de Visenya.


Porto Real

 

A noite caíra sobre Porto Real, e a Fortaleza Vermelha estava em silêncio. O pequeno conselho já havia se dispersado, mas Otto Hightower permanecia em sua câmara, rodeado por pergaminhos, mapas e cartas trazidas por corvos. 

Diante dele, um mapa do mar Estreito. Marcadas em tinta vermelha estavam as rotas comerciais, e em torno de Pedra do Dragão, Otto já via o que mais temia: influência crescendo, como um veneno se espalhando pela água.

— Rhaenyra fará de Pedra do Dragão um trono, mesmo sem coroa — murmurou para si mesmo.

Um movimento na porta: lorde Larys Strong, o Coxo, entrou sem ser anunciado, apoiando-se na bengala. Seu sorriso era o de sempre, oblíquo, cheio de segredos.

— Vejo que o lorde Mão não encontra sono — disse Larys, a voz baixa como serpente.

Otto ergueu os olhos, irritado pela interrupção, mas não surpreendido. Sabia bem qual era o jogo do segundo filho dos Strong — Enquanto Rhaenyra tiver dragões, não haverá sono para mim.

Larys aproximou-se, olhando o mapa — Nem para o reino.

Otto apoiou as mãos na mesa — Pedra do Dragão deve ser isolada. Se os mercadores de Essos a enriquecem, devemos oferecer-lhes caminhos mais lucrativos em Porto Real. Se Velaryon envia navios, devemos garantir que sua frota esteja ocupada… ou dividida.

Larys sorriu, como quem saboreia uma intriga — E se uma chama pequena puder ser apagada antes de se tornar incêndio?

Otto estreitou os olhos. — Não falemos de assassinatos. Não ainda. Rhaenyra é filha do rei, e Viserys jamais perdoaria.

Larys inclinou-se, a voz ainda mais baixa — Às vezes, meu senhor, não é preciso matar para destruir. Bastam rumores. Bastam alianças envenenadas.

Otto ficou em silêncio, os olhos fixos na chama da vela que tremeluzia sobre o mapa. Então, lentamente, assentiu.

— Espalhe o que for preciso. Que Essos a veja como instável, que os lordes a temam. Rhaenyra deve ser contida… antes que se torne rainha sem coroa.

Larys sorriu como quem já imaginava o caos futuro.

Notes:

Drakarys īlva ānogrose… gevives īlva qogrondo… — Fogo é minha alma... vida é meu sangue...

Ēdruta ñuha zaldrīzes… — Erga-te meu dragão

Chapter 12: Capítulo 11

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

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Ano 116d.C 

Pedra do Dragão

 

Daemon devorou os livros da biblioteca de Visenya como um homem faminto. Ele tinha muito mais tempo livre que Rhaenyra e com dificuldade de locomoção, não podia nem treinar ou voar em Caraxes. 

Ele mostrava bem menos interesse que ela em aprender a cultuar os deuses valirianos, o que não a surpreendeu, era bem como ele ser irreverente até ao divino. Mas seu interesse por magia foi imediato, e apesar de Rhaenyra lhe passar os mesmos avisos de Visenya para que tivesse cautela, Daemon era uma criatura muito mais impulsiva e sem medo que ela.

Logo ele quis fazer o mesmo feitiço que Rhaenyra tinha feito para aumentar a sua ligação com Syrax. Daemon e Caraxes sempre pareceram compartilhar uma só mente mesmo antes do ritual, agora os dois eram de fato um só.

Daemon também logo começou a falar de ir além.

— Tem que ter alguma coisa aqui pra impedir aqueles meio-Hightowers de terem dragões — disse Daemon enquanto folheava um tomo da grossura de um tijolo. Para Daemon, dragões eram mais que criaturas mas a herança da sua Casa, e ele não queria que nenhum fantoche Targaryen de Otto Hightower os tivessem.

— Eu já encontrei um feitiço de deserdação, mas tem que ser feito pelo chefe da Casa, nesse caso meu pai.

— Sem chances então.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas com o som das folhas sendo viradas.

— Tem alguma passagem nos livros que especifique o que é um "chefe da Casa", porque se for por herança do primogênito a Chefe é Rhaenys — começou Rhaenyra

— Hmm é algo difícil de dizer, a herança na Antiga Valíria raramente era por primogenitura, cada Casa tinha suas regras mas no geral era pela lei do mais forte.

— Então não tem como saber quem é de fato o chefe da nossa Casa pela visão Valiriana?

— É mais provável que seja Viserys mesmo — Daemon suspirou — Mas se existe um ritual para fortalecer o laço entre cavaleiro e dragão, deve existir algo que faça o oposto.

— Você quer dizer.... para mesmo que consigam dragões, seu controle sobre eles será fraco? — disse Rhaenyra — Ainda assim terão dragões.

Daemon concordou com a cabeça, seus olhos nunca se desviando do livro.

— As 40 famílias da Antiga Valiria que domavam dragões viviam em competição uma com a outra por poder, inclusive internamente entre a própria família. Não duvido que um feitiço para impedir que eles tenham dragões exista, só precisamos achar.

 


 

Não demorou muito para que os homens leais a Daemon nas Passopedras o seguissem para Pedra do Dragão. Os navios que os traziam também traziam a parte de Daemon nos despojos de guerra, todos os tesouros dos piratas foram recolhidos e divididos entre as Casas que lutaram na guerra.

No cais de Pedra do Dragão, os homens desembarcaram. Muitos usavam armaduras quebradas, outros traziam cicatrizes recentes. Apesar de ainda não estar totalmente recuperado, Daemon fez questão de descer até o cais para recebê-los.

Quando os primeiros veteranos o viram, ajoelharam-se. Eles trouxeram uma coroa improvisada, feita de ossos.

— Meu príncipe — disse o homem que segurava a coroa — as Pedrapassos são suas.

— Minhas? — Daemon levantou uma sobrancelha — Me pergunto o que Lorde Corlys pensa sobre isso.

— Ele concordou meu príncipe — disse Ser Arthor Celtigar, um dos filhos mais novos de Lorde Celtigar e que tinha lutado na guerra — Não teríamos vencido a guerra sem o senhor, e isso o Seasnake não pode negar.

Daemon pegou a coroa de ossos e a analisou, pensativo. Então olhou para trás, Rhaenyra estava observando tudo há alguns metros dele, tendo o acompanhado na descida até o Porto, preocupada.

Ele tomou a sua decisão. Mancou em direção a ela e ajoelhou-se na sua frente com dificuldade.

— Princesa Rhaenyra Targaryen, Lady de Pedra do Dragão — A voz de Daemon ecoava pois todos ficaram em silêncio quando viram o príncipe se ajoelhar — Eu lhe ofereço as Passopedras e apenas peço pela honra de poder cortejá-la.

Sons de surpresa ecoaram por todo lado, e a própria princesa estava de olhos arregalados. 

— Você é casado.

— Ah então minha Princesa não soube? A Vadia de Bronze morreu em um acidente de caça enquanto eu estava na guerra. Estou livre para buscar uma esposa de verdade — enfatizou.

Rhaenyra respirou fundo. A notícia não havia chego a ela, ela não estava preparada para esta porta aberta, para essa possibilidade que ela tanto desejava enquanto crescia.

— Então eu aceitarei o seu cortejo, kepus, e as Passopedras — depois de uma breve pausa, a princesa continuou — Como Lady Paramount eu nomeio Daemon Targaryen como Lorde das Passopedras. Você está livre para construir as fortificações que achar necessárias para proteger a ilha, e um castelo para si se isso é o que desejar.

Daemon estava boquiaberto. Aquela era uma grande responsabilidade e mostrava a confiança que ela tinha nele.

— Eu aceito, minha Lady Paramount.

E ao fundo, os soldados das Passopedras batiam espadas e lanças no chão, jurando agora lealdade não apenas a Daemon, mas à Lady de Pedra do Dragão.

 


 

— Eu espero que me fazer lorde das Passopedras não tenha sido um convite para me retirar, princesa.

— É claro que não, kepus, como disse antes você sempre será bem vindo aqui. Mas precisamos das rotas comerciais garantidas, Pedra do Dragão agora faz comércio com Essos.

No final do dia os dois escolheram jantar juntos, em privado com exceção dos criados. Não era estritamente apropriado agora que estavam cortejando, mas ninguém em Pedra do Dragão ligava.

— Hmm e nosso cortejo? Eu estava falando sério sobre isso

— Daemon, eu vou ser sincera, me casar com você seria a realização de todos os meus sonhos de menina. Mas não vou recusar ser cortejada primeiro.

— É o que você merece — Daemon tinha poucos sorrisos sinceros, e eles era reservados para Caraxes e Rhaenyra.

— Já tem algum plano para as Passopedras? — disse a princesa colocando sua taça de vinho de volta na mesa.

— Tenho muitos. Você sabe como sou, ambicioso — Daemon virou a cabeça de lado, e Rhaenyra não conseguia não lembrar de Caraxes, que tinha o mesmo hábito — Acredito que as ilhas tenham potencial de virar um ponto comercial, um lugar onde mercadorias de Westeros e Essos se encontram.

— Você sempre sonha alto, kepus. Acho que está certo sobre o potencial mas vai precisar muito para chegar lá.

— Eu não sou de negar desafios — sorriu Daemon — Mas primeiro, a prioridade é a proteção da ilha, tenho minha própria fortuna no Banco de Braavos, os Essosi estão sempre enfrentando ameaças e pagavam bem pela ajuda de um dragão, pretendo usar para construir fortificações, e também queria construir duas mansões, em duas ilhas diferentes.

— Não esperava que tivesse pensado tão a fundo! Espero que não esteja pensando em usar essas mansões para fugir de mim — brincou Rhaenyra, apontando um garfo em direção a ele.

— Vais ter que me arrancar do teu lado, princesa — respondeu Daemon — Eu estava pensando em deixar as Passopedras como herança para nossos filhos, os que não serão o herdeiro é claro.

Rhaenyra escondeu seu sorriso com uma taça de vinho. Daemon Targaryen, que passou 12 anos em um casamento sem filhos, agora estava planejando não só em ter filhos como vários. O que a Corte falaria se soubesse, pensou rindo.

 


 

Naquela noite, Jaenara Celtigar entrou nos aposentos de Rhaenyra com trepidação.

— Minha Princesa.... trago notícias.

Jaenara tinha se tornado sua Mestre dos Sussurros não-oficial, ela tinha um dom de sempre saber de tudo que acontecia no castelo e fora dele.

— Parece que os mercadores trouxeram rumores de Porto Real... sobre sua alteza.

— Rumores? — A princesa perguntou sentada na frente de sua penteadeira, estava se preparando para dormir e Claere Strong arrumava seu cabelo — Que tipo de rumores?

Notes:

Larys Strong começa a mostrar as suas garrinhas hauahuahau e será que Mysaria estará envolvida?

Chapter 13: Capítulo 12

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 116 d.C

Pedra do Dragão

 

“Dizem que a princesa pratica magia negra.”
“Que ela fala com dragões como se fossem pessoas.”
“Que faz sacrifícios em altares de pedra para fortalecer seu dragão.”
"Ela reza para demônios"
"A Bruxa de Pedra do Dragão"

Rhaenyra ouviu os ecos pela boca de Jaenera. No dia seguinte, Rhaenys entrou em seus aposentos com expressão grave.

— O povo começa a te temer, menina. Não por ser uma Targaryen com um dragão, mas por ser algo além disso.

Rhaenyra ergueu-se da cadeira, irritada. — É verdade que estudo livros da Antiga Valiria. É verdade que rezo às Quatorze Chamas. Mas não sacrifico inocentes nem danço nua com demônios, como murmuram.

Rhaenys a olhou com severidade. — A verdade pouco importa quando a mentira é mais doce de acreditar.

— E por que deveria me preocupar com que pensam de mim?

— Não seja tola! Sua reputação afeta o comércio da ilha, mercadores não irão querer parar os seus navios aqui por medo de uma maldição. Lordes pararão de comercializar contigo com medo de punição dos Sete.

Elas foram interrompidas por batidas na porta, o guarda anunciou que Daemon estava ali. Ele entrou no quarto com um sorriso de canto de boca, e uma caixa em mãos.

O sorriso dele morreu ao ver a tensão entre as duas princesas.

— O que aconteceu?

— Alguém está fazendo uma campanha de difamação contra Rhaenyra — respondeu Rhaenys, que se virou para a outra princesa — Acredito que tenha se originado daqui, você e Syrax não foram discretas, mas o que começou como um conto de admiração foi deturpado ao chegar em Porto Real.

— O que estão falando?

— Estão dizendo que pratico magia negra, que faço sacrifícios humanos a demônios, que sou uma bruxa — respondeu Rhaenyra, achando os rumores até engraçados, pois apesar de exagerados não estavam longe da realidade.

— Posso falar com meus contatos em Porto Real, descobrir o responsável — Daemon já queria sangue, como sempre.

— Se puder fazer isso kepus, eu fico agradecida.

— Apenas identificar a fonte e pará-la não será o suficiente. Rumores são como pragas e isso já está a solta, logo toda Westeros terá ouvido — avisou Rhaenys

Pela primeira vez, Rhaenyra percebeu que não bastava dominar dragões. Precisava aprender a dominar também as serpentes.

 



— Com toda essa confusão, talvez esse não seja o melhor momento — disse Daemon assim que Rhaenys saiu — Mas queria te dar o seu primeiro presente de cortejo.

Rhaenyra sorriu, feliz pela distração. — O segundo. O primeiro foram as Passopedras.

— Claro, como me esquecer — ele entregou a caixa em suas mãos para a princesa, era feita de madeira e possuia decorações de um estilo que ela nunca vira antes, talvez de algum lugar de Essos?

Ela abriu a caixa. Dentro estava uma intrínseca Tiara toda cravejada de esmeraldas de vários tamanhos.

— Pertenceu a uma Imperatriz de Leng — disse Daemon orgulhoso.

— Daemon! Eu não tenho nem palavras... é lindo! De Leng você disse? Como conseguiu algo tão valioso?

— É segredo — Daemon piscou para ela, completamente satisfeito consigo mesmo.

Depois de alguns instantes, seu humor esfriou, e ele disse — Sobre os rumores... como alguém que carrega as alcunhas de Príncipe Rebelde e Lorde da Baixada das Pulgas desde a adolescência, recomendo que os transforme em sua armadura para que não possam ser usados contra você.

Rhaenyra ficou um tempo pensativa, e depois se virou para Daemon — Acho que tenho uma ideia, mas precisaremos fazer preparativos antes.

 



Rhaenyra ordenou que uma cerimônia pública aos deuses valirianos fosse preparado em Pedra do Dragão. Ela queria mostrar que sua ilha era um local seguro para as pessoas de diferentes religiões.

A maioria dos habitantes eram sementes de dragão e descendentes de pessoas que seguiram a família Targaryen quando saíram de Valiria. Claro que haviam pessoas que seguiam os Sete, inclusive entre suas pessoas de confiança como seus guardas e suas damas, mas ela os tinha consultado e nenhum deles parecia ter problemas.

Foi tudo preparado em uma semana. Enquanto isso, os boatos continuavam a se espalhar. Alguns riam, outros temiam. Houve até marinheiros que se recusaram a desembarcar em Pedra do Dragão, temendo cair sob maldição.

O pátio de Pedra do Dragão fora decorado tecidos vermelhos e pretos, com quatorze tochas e altares de obsidiana. Rhaenyra usava um vestido negro bordado com fios escarlates que lembravam chamas. Tomou sua posição no centro das tochas, ao seu redor outros valirianos como Daemon, Rhaenys, os Cuidadores de Dragões e até alguns sementes de dragão. O resto do povo ficou mais a distância, hesitante em se aproximar demais do desconhecido mas muito curiosos para não vir.

Diante do todos ela ergueu as mãos ao fogo.

— Chamam-me bruxa, — anunciou — Mas o que chamam de feitiçaria eu chamo de herança. Sou descendente de cavaleiros de dragão da Antiga Valiria. Assim como os Conquistadores a quem Westeros se curvou. Não temo o fogo, pois ele está no meu sangue.

E então, para espanto de todos, mergulhou a mão nua em uma brasa fumegante do altar. Retirou-a lentamente, sem gritar, e mostrou a palma avermelhada, intacta de queimaduras.

Um suspiro coletivo percorreu a multidão. Alguns se ajoelharam, murmurando orações em valiriano; outros choraram, tocados pelo espetáculo.

Rhaenyra viu as reações com satisfação. Talvez nunca pudesse se livrar da alcunha de bruxa, de feiticeira, mas transformaria aquilo em força.

 


P orto Real


As notícias chegaram rápidas, levadas por marinheiros e mercadores: a Lady de Pedra do Dragão havia feito um ritual diante do povo, colocado a mão no fogo e saído intacta. Em Porto Real, as reações foram tão variadas quanto as ruas da cidade.

Na Baixada das Pulgas, cantores de rua já entoavam versos:

"Bruxa ou Lady, dragão ou serpente,
Rhaenyra com fogo domina a gente."

No Septo da cidade, porém, o Alto Septão pregava inflamado:

— Blasfêmia! A princesa renega os Sete e busca reerguer magias malditas que os deuses derrotaram!

Na Corte, lordes sussurravam uns aos outros, incertos se deveriam rir ou tremer.

— Se não teme o fogo, — disse Tyland Lannister, preocupado — talvez os dragões realmente a obedeçam de maneiras que não compreendemos.

— Apenas um truque, nada mais — rosnou Grande Maester Mellos, embora seus olhos não escondessem inquietação.

Rainha Alicent, pálida, ouviu em silêncio antes de perguntar ao pai — E se o povo acreditar que ela é escolhida pelos deuses antigos de Valíria?

Otto não hesitou — Então devemos lembrá-los de que os Sete são os únicos deuses em Westeros.

Enquanto isso, no Crispinhos (bairro de prostíbulos), marinheiros brindavam:

— Bruxa ou não, ela mergulhou a mão no fogo na frente de todos! — gargalhava um deles. — Se isso não é uma rainha, não sei o que é!

E assim, em cada rua de Porto Real, em cada salão de lordes, o nome de Rhaenyra queimava como brasa: ora reverenciada, ora amaldiçoada.

Notes:

"que os transforme em sua armadura para que não possam ser usados contra você" - essa frase é do Tyrion na primeira temporada, roubei mesmo porque acho boa demais.

Enfim, ainda haverá algumas consequências dos rumores mas os próximos capítulos terão outro foco.

Chapter 14: Capítulo 13

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 116 d.C

Pedra do Dragão 

 

Daemon encarava um pedaço de papel na sua mão. Era uma mensagem de um dos seus contatos em Porto Real, que apontavam a possível origem dos rumores sobre Rhaenyra.

O "Verme Branco" parecia ser aonde várias informações vindas de Pedra do Dragão foram exageradas para assustar a população. Mysaria era muito corajosa em trair uma pessoa como ele. Daemon gostaria de matá-la lentamente ele mesmo, mas ele tinha coisas mais importantes ali em Pedra do Dragão, então ele teria que pagar alguns dos seus contatos mais decadentes para fazer isso, não seria bom manchar a reputação dos Capas Douradas.

De qualquer forma, ele tinha boas notícias para sua querida sobrinha e iria focar nisso.

Ele pegou o tomo que estava estudando e caminhou até o solar da princesa. Seu corpo tinha melhorado bastante e apesar de ainda não estar liberado para treinar ele não precisava mais de uma bengala.

Rhaenyra estava rodeada de papelada na sua mesa quando ele entrou.

— Alguma novidade ñuha tala?

— Terminamos a nossa casa de vidro, estou tentando conseguir sementes de Essos para cultivar lá — Rhaenyra tirou os olhos do seu trabalho — E também... maester Gerardys me entregou isso esta manhã.

Ela lhe passou um pequeno pedaço de pergaminho. Daemon pegou para ler.

"Arrepende-te da heresia, ou arderás como a própria Valíria."

— Quem enviou isto? — Daemon soava irritado.

— Chegou de corvo, sem assinatura, não tem como saber além do fato de que é alguém com acesso a um maester.

Daemon estalou a língua, inflamado — É só um covarde então — Ele amassou o papel e jogou na lareira acesa — Eu trouxe algo que pode melhorar o seu humor.

— Hmm é mesmo?

— Se quiser pode até considerar um presente de cortejo.

— Algo além de todas as joias e tecidos caros que já recebi? Estou curiosa.

— Achei a resposta dos nossos problemas com os meio-Hightowers.

Aquilo arrancou um som de surpresa de Rhaenyra — Me mostre!

Daemon colocou o tomo na mesa, sem se preocupar com os papéis embaixo, e o abriu na página correta.

Rhaenyra franziu o cenho enquanto lia o conteúdo.

— Isso cobra sacrificio.

— Mas não vale a pena? — Daemon levantou uma sobrancelha — Precisaremos de um ovo de dragão frio, um animal para sacrificar, e o sangue de seu pai e da vadia Hightower. E nossa família não precisará se preocupar com nossa herança de sangue nas mãos de falsos Targaryen.

— Como conseguiremos o sangue do meu pai e de Alicent?

— Deixe isso comigo — Daemon sorriu de lado.

Rhaenyra ficou alguns instantes em silêncio olhando para o texto, até que se decidiu.

— O animal para sacrificar, pode ser uma cobra?

 


 

Porto Real

 

Otto Hightower estava no escritório do Rei. O ovo de Aegon tinha esfriado há quase um ano, e aquilo lhe preocupava. Alicent estava muito ocupada com Haelena, que era um bebê difícil, para lutar por Aegon. Esse papel caberia a Otto.

— Sua Graça, como o senhor sabe o ovo de Aegon esfriou, seria possível dar a ele mais uma chance?

Viserys fez o gesto negativo com a cabeça.

— Não tem necessidade. A maioria dos ovos não nascem no berço, é apenas tradição. Desde a conquista apenas Rhaenyra teve um dragão nascido no berço! Aegon terá sua chance mais tarde.

Otto, porém, estreitou os olhos.

— Ainda assim, majestade, talvez fosse prudente conceder outro ovo ao príncipe. Não há filhotes para ele reivindicar no Fosso, há apenas Dreamfyre. A Casa Real não deve parecer fraca com um herdeiro sem dragão.

Viserys ficou irritado. A verdade era que depois de ver a filha sendo queimada viva pelo dragão de Aegon em seu sonho, ele não estava muito ansioso para que o menino tivesse um dragão.

— Basta. Um ovo é o suficiente. Meu filho tem o sangue do dragão, o nome Targaryen. É legitimidade o suficiente. Eu mesmo não tenho um dragão e fui escolhido no Grande Conselho.

Otto segurou a língua. Não seria bom mencionar o papel que Daemon e seu dragão tinha tido na escolha do Grande Conselho.


Pedra do Dragão

 

Daemon acionou Queijo, o responsável por controlar a população de ratos na Fortaleza Vermelha e que conhecia os túneis de Maegor quase tão bem quanto Daemon, para coletar sangue do Rei e da vaca Hightower enquanto dormiam. Claro também acionou criados leais a ele para colocar sonífero na bebida do Rei e da Rainha, para que entrassem em sono tão profundo que nem percebessem o que estava acontecendo.

Demorou algumas semanas para que os frascos de sangue estivessem na suas mãos. Muito por conta da distância entre eles e Porto Real, todas as transações demoravam mais.

Então ali estavam ele e Rhaenyra de volta a sala de Visenya, onde eles usariam o altar central para o ritual. Nele havia uma tigela cerimonial, que Rhaenyra acreditava que Visenya tinha usado em seus próprios feitiços, era toda decorada em grifos valirianos.

Em uma gaiola de metal no chão, estava uma cobra que tinham mandado capturar na ilha. Não tinha veneno e não era muito grande, mas iria servir.

O ovo que escolheram era de uma das raras ninhadas de Vhagar, que infelizmente tinha esfriado.

E com Daemon, estavam os frascos de sangue do seu irmão e sua esposa.

Nas mãos de Rhaenyra estava a adaga cerimonial de Visenya, ela fez como sempre fazia antes de um ritual, cortava a mão e deixava cair uma gota de sangue em cada chama de cada vela, e pedia a proteção dos deuses.

Depois, ela aproveitou o corte para desenhar grifos valirianos no altar com o próprio sangue.

O feitiço começava colocando o ovo frio na tigela, enquanto entoavam os cânticos como descritos no livro.

 

Ñuhys vēzos Valiriot ñemagon

Āeksio hāros daor morghūltas

 

Daemon retirou a cobra da gaiola e Rhaenyra (ela insistiu que precisava fazer isso) a matou. O sangue da cobra jorrou e cobriu o ovo, Daemon deixou o corpo cair na tigela.

Agora era a parte principal. Daemon pegou os dois frascos de sangue e despejou um deles no outro, e sacudiu para ter certeza de que os dois sangues estavam misturados.

 

Vezof jin azantys ñuhys lentrot zaldrīzes

Ābrar udra vēzos pryjagon

Ābrar udra gevives prūmāzmo lentrot

 

E a união do sangue de Viserys e Alicent foi derramada encima do ovo, do sangue da cobra.

Imediatamente, a tigela pegou fogo. Como era feita de aço valiriano, não havia com o que se preocupar. Ainda sim, o efeito surpreendeu tanto Daemon quanto Rhaenyra.

Depois de alguns instantes, o fogo sumiu. Sem deixar rastros como se nunca tivesse estado ali.

— O livro diz que precisamos nos despejar dos ingredientes em lava ou no mar — Rhaenyra quebrou o silêncio que tinha se instaurado entre os dois.

— Mar é mais fácil. Só é uma pena ter se desfazer de um ovo de dragão.

— Se tiver funcionado, vai valer a pena.

Notes:

Tradução do valiriano:

 

Ñuhys vēzos Valiriot ñemagon - Eu invoco o fogo de Valíria

Āeksio hāros daor morghūltas - As chamas que nunca se apagam

Vezof jin azantys ñuhys lentrot zaldrīzes - Fogo que arde no meu sangue

Ābrar udra vēzos pryjagon - Retire o fogo dos impuros

Ābrar udra gevives prūmāzmo lentrot - Retire os dons dos que têm esse sangue

Chapter 15: Capítulo 14

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 116 d.C

Pedra do Dragão

 

Na sala de Visenya, o cheiro de cera queimada e sangue seco ainda pairava, mesmo depois de terem limpo tudo. Rhaenyra voltou a estudar o tomo que Daemon havia trazido. Suas mãos tremiam levemente, mas seus olhos estavam famintos por respostas.

— O livro diz que, se o ritual for bem-sucedido, o próximo dragão a nascer em nossa linhagem será marcado pela pureza do fogo.

Daemon se aproximou por trás, repousando as mãos nos ombros dela.

— Então teremos a certeza de que nenhum Hightower manchará nosso legado.

Ela fechou o tomo devagar, respirando fundo.

— Se for verdade, Daemon... o preço foi pequeno.

Ele riu baixo, inclinado ao ouvido dela:

— Eu disse que seria um presente de cortejo.

Rhaenyra virou-se, os lábios quase roçando nos dele. Mas antes que qualquer palavra fosse dita, um rugido profundo ecoou vindo das cavernas dos dragões. Não era comum ouvir aquele som à noite, ainda mais de vários dragões ao mesmo tempo.

Eles se entreolharam, alarmados.

— Os dragões sentiram — Rhaenyra sussurrou, os olhos arregalados. — Algo mudou.

O rugido ecoou novamente, reverberando pelas muralhas e atravessando os corredores de Pedra do Dragão. Os servos se encolheram, murmurando preces, pois nunca haviam ouvido tantos dragões clamarem juntos naquela intensidade.

Daemon e Rhaenyra apressaram-se até a varanda voltada para a montanha. A lua, quase escondida por nuvens, iluminava fracamente as silhuetas imensas que se moviam no alto do vulcão. Caraxes ergueu o pescoço, cuspindo uma labareda curta, inquieto, e Syrax respondeu com um rugido agudo. Outros se juntaram, como se um coro invisível tivesse dado a ordem.

— Eles não rugem em uníssono sem motivo — Daemon murmurou, com o semblante sério. — Isso é uma resposta.

Rhaenyra apoiou as mãos na pedra fria da sacada. Seu coração acelerava, não de medo, mas de excitação.

— Então funcionou... — sussurrou.

Syrax então se aproximou e pousou na varanda, a engenharia valiriana permitindo que aguentasse o seu peso. Pela sua ligação ela sentiu que sua companheira queria que a montasse.

— Daemon, Syrax quer mostrar alguma coisa para mim — Rhaenyra já estava indo em direção ao dragão, ela estava de vestido mas subiria na cela mesmo assim. Daemon a seguiu.

— Eu vou com você — com apenas um pensamento, Daemon chamou Caraxes que pousou na varanda assim que Syrax voou.

Syrax levou sua montadora até a caverna que usava, e que recentemente começou a dividir com Caraxes. Rhaenyra desceu do seu dragão confusa, sem conseguir enxergar muito na escuridão.

Daemon estava logo atrás, ele era mais acostumado a explorar as cavernas de Monte Dragão então seus olhos se adaptaram mais rapidamente.

— Rhaenyra.... olhe

No fundo da caverna, ainda úmidos de fluídos, haviam três ovos.

— Ela deve ter acabado de colocá-los — Daemon soava maravilhado. 

Um dos ovos de Syrax era vermelho com detalhes em amarelo e laranja, era nítido para Rhaenyra e Daemon. Aquele era o dragão marcado pelo fogo.

Ela estendeu a mão para tocá-lo. Estava quente, tão quente que se ela não tivesse feito o feitiço pra se tornar uma "não queimada" ela teria se machucado.

Ñuha Rhaenyra... temos nossa resposta.

Eles levaram os ovos de Syrax até os Cuidadores de Dragão, com quem os ovos ficariam seguros em suas câmaras de aquecimento. 

 


 

Porto Real

 

Alicent Hightower foi despertada no meio da madrugada pelas babás de Aegon. O bebê chorava inconsolavelmente e estava todo suado apesar de sua pele não estar quente. O maester fora chamado e Alicent passou a noite acompanhando o filho. De manhã, ele parecia melhor, apesar de exausto.

Quando teve a certeza de que o filho ficaria bem ela foi para o quarto do Rei, esperando que já estivesse acordado e encontrou Viserys roncando profundamente, mais pálido do que o normal. Aproximou-se, tocou o pescoço dele e sentiu a pele fria, úmida. Igual a Aegon.

Um arrepio percorreu sua espinha.

Será alguma doença que passou dele para o filho?”, pensou, mas não ousou dizer em voz alta. Em vez disso, chamou discretamente pelo maester.

Otto notou que o rei parecia estranhamente debilitado, como se algo tivesse sido drenado dele durante a noite.

Quando Alicent foi ao berçário ver Haelena, suas babás lhe informaram satisfeitas que pela primeira vez a menina tinha dormido a noite toda.

 


 

Pedra do Dragão

 

As chamas das velas tremeluziam no solar de Rhaenyra, refletindo nos tecidos escarlates e prateados espalhados pela mesa central. Entre joias, pergaminhos e símbolos valirianos, a princesa se reunia com suas damas de companhia.

Claere Strong, com a voz suave e delicada, ajeitou os rolos de tecido sobre a mesa.

— Se for para honrar Valíria, o vestido deve refletir o fogo e o sangue. Escarlate e prata, bordado em rubis. Assim como as rainhas guerreiras das histórias.

— Será bom para o banquete depois, mas para a cerimônia usarei vestes tradicionais — Rhaenyra inspecionava os tecidos luxuosos, a maioria presentes de Daemon — Encontramos elas bem guardadas nos depósitos do Castelo, acreditamos que podem ter sido usadas por Aegon, Rhaenys e Visenya no casamento deles.

— Isso é tão emocionante! Se tiver sorte poderei usar o vestido da minha mãe no meu casamento, mas ela era uma mulher com bem mais curvas... — suspirou Liora Strong.

— Ainda tens muito o que crescer Liora, e alterações podem ser feitas se quiser realmente usar o vestido da sua mãe — Alayne Waynwood colocou a mão no ombro de Liora.

A sua irmã mais velha, Claire, bufou — Preocupe-se em conseguir alguém para se casar primeiro!

A damas riram.

Jaenara Celtigar, de cabelos brancos e olhos azuis, inclinou-se em direção a Rhaenyra.

— O Alto Sacerdote das Quatorze Chamas já partiu de Ilha Garra — anunciou em tom baixo. — Meu pai garantiu que viajará sob disfarce, acompanhado apenas de homens de confiança. Ninguém em Porto Real saberá antes da hora.

Os Celtigar, apesar de serem a Casa Valiriana de Westeros com menos poder, eram os bastiões da cultura valiriana. A maioria dos Cuidadores de Dragão vinham de lá e antes de Rhaenyra receber Pedra do Dragão, Ilha Garra era o único lugar onde os deuses valirianos eram cultuados abertamente, com um templo com sacerdotes e sacerdotisas. A princesa pretendia construir outro em sua ilha no futuro.

Rhaenyra assentiu, satisfeita.

— Era necessário. Nenhuma cerimônia perante os Sete valeria de alguma coisa para nós. Apenas os deuses de Valíria poderiam unir Daemon e eu.

Ao lado dela, Alayne, sempre séria e de postura impecável, ergueu o cenho.

— É arriscado, princesa. Otto Hightower transformaria isso em escândalo se isso chegar aos ouvidos da corte. Principalmente já que o rei, a rainha e seus irmãos não foram convidados.

— Que o faça... depois que já estivermos casados.

— Também existe a possibilidade da Corte negar a legitimidade do seu casamento — disse Liora, era a mais nova do grupo mas sua mente era perspicaz.

Rhaenyra sorriu de canto, os olhos faiscando com convicção.

— A nobreza do norte se casa sob os ritos dos Antigos Deuses, nunca ninguém questionou a validade dos casamentos só porque não foi uma cerimônia dos Sete — Rhaenyra já tinha pensado muito sobre isso — Além disso, meus bisavós se casaram em segredo em uma cerimônia valiriana, questionar a legitimidade do meu casamento será questionar o casamento dos grandes Jaeherys e Alyssane.

Alayne parecia convencida — São bons precedentes se quiserem questionar por virtude de religião.

Jaenera acrescentou em tom mais ousado — Nenhum septão ousará negar um juramento selado pela força dos dragões. É suicida.

As palavras fizeram o ar pesar na sala. Por um instante, o vento marinho que entrava pelas janelas pareceu trazer o eco distante dos dragões.

Rhaenyra passou os dedos sobre um grifo valiriano desenhado no pergaminho aberto diante dela.

— Apenas vocês, os membros das Casas juramentados de Pedra do Dragão e meus parentes Arryn estarão presentes. Ninguém mais. O casamento será pequeno, mas solene. Quando o sol nascer e a Corte souber, já será tarde demais.

As quatro damas trocaram olhares cúmplices. Alayne, Claere e Liora estavam conscientes do privilégio de testemunhar tal evento. Um rito que não era testemunhado por não-valirianos há muitos anos, provavelmente desde antes da Conquista.

Rhaenyra ergueu o queixo e deixou que a luz da vela dançasse em seus olhos lilases.

— Não me caso apenas como mulher. Caso-me como Lady Paramount de Pedra do Dragão, um lugar que pertenceu ao Império Valiriano, que ainda pertence a valirianos. Que os septões me chamem herética. Minhas promessas não são a eles.

Jaenara sorriu discretamente.

— Mas ao fogo.

— E ao sangue — completou Rhaenyra, num sussurro que fez suas damas estremecerem.

Notes:

Só o que se sabe sobre o casamento de Jaehaerys e Alyssane é que se casaram em segredo em Pedra do Dragão. Meu headcanon é que foi um casamento valiriano, antes de Jaeherys começar a querer agradar a Fé dos Sete.

O que acharam do momento de Rhaenyra com suas damas? Rhaenyra nunca se permitirá ser tão próxima delas quanto de foi de Alicent, mas acredito que é possível que tenham se tornado boas amigas.

Pra quem tem curiosidade com as atuais idades:

Alayne Waynwood - 19 anos

Rhaenyra Targaryen - 17 anos

Jaenara Celtigar - 16 anos

Claere Strong - 16 anos

Liora Strong - 13 anos

Alguém pegou o detalhe de Haelena ter dormido bem?

Talvez o próximo capítulo demore um pouco mais, já que esse era último rascunho que tinha guardado hauahauah

Chapter 16: Capítulo 15

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 116 d.C

Pedra do Dragão

 

A noite caiu sobre Pedra do Dragão, o vento trazia consigo o cheiro de enxofre do Monte Dragão, e no céu a lua parecia manchada de vermelho pelas cinzas que escapavam da montanha.

No pátio interno, diante das muralhas negras, tochas ardiam em fileiras, mas eram pequenas diante do brilho das escamas de Syrax e Caraxes, que vigiavam a cerimônia. 

Poucos estavam presentes. Apenas os lordes juramentados de Pedra do Dragão, alguns Celtigar que haviam acompanhado o sacerdote, e os parentes Arryn de Rhaenyra. As damas de companhia — Jaenara, Alayne, Claere e Liora — se mantinham próximas, testemunhas de um rito que poucos ousariam sequer sonhar em presenciar.

O Alto Sacerdote das Quatorze Chamas surgiu entre colunas de fogo, trajando um manto escarlate que refletia as labaredas como se fosse tecido com brasas vivas. Em suas mãos trazia apenas uma taça com vinho.

Rhaenyra surgiu com um usando as vestimentas tradicionais valirianas, uma túnica bege que transicionava para vermelho no fim das mangas e nos pés, na sua cabeça um adereço tradicional que fora usado por suas ancestrais em seus casamentos. Seus cabelos prateados brilhavam à luz das tochas, e seus olhos lilases ardiam de convicção.

Daemon a aguardava, vestindo as mesmas roupas tradicionais. Tinha um punhal de aço valiriano à cintura, reluzindo como sombra viva.

O sacerdote ergueu a voz, falando em Alto Valiriano, cada sílaba ecoando como um cântico ancestral:

Hen zaldrīzoti, hen Āegio, hen ēdruta perzys, īlva ābrazȳrys ēdruta. (Diante dos dragões, diante do Sangue, diante do Fogo Eterno, vosso casamento é celebrado.)

Daemon desembainhou o punhal e fez um delicado corte vertical nos lábios de Rhaenyra, depois entregou a lâmina para a princesa que fez o mesmo.

Enquanto isso, o sacerdote entoava:

Hen lentoti ānogar (Sangue de dois)

Va synoti vāedroma (Unidos como um)

Daemon passou um dedo no próprio sangue que escorria dos seus lábios e machou a testa de Rhaenyra. Em seguida, a princesa fez o mesmo e machou a testa de Daemon com seu sangue.

Mēro perzot gīhoti (Chama fantasma) 

Elēdroma iārza sīr (e canção das sombras)

O sacerdote estendeu a taça de vinho entre os dois. Daemon então cortou a palma da mão sem hesitar.

Izulī ampā perzī (Dois corações como chamas)

Prūmī lanti sēteksi (Forjados nas quatorze chamas)

Rhaenyra o seguiu, firme mesmo com a dor do corte.

Hen jeny māzīlarion (Um futuro prometido em vidro)

Qēlossa ozūndesi (Com as estrelas como testemunha)

O sacerdote então entrelaçou as mãos dos dois, o sangue dos cortes fluindo juntos, misturados, caiu dentro da taça de vinho.

Um após o outro, o casal tomou um gole da taça.

Syndroro ōñō jēdo (A promessa dita através do tempo)

Ry kīvia mazvestraksi (de luz e escuridão)

A cerimônia foi então celada com um beijo.

Os dragões rugiram em uníssono, Syrax cuspindo uma labareda ao alto, e Caraxes respondendo com outra, formando um arco de fogo sobre o pátio.

O sacerdote ergueu as mãos e proclamou:

— O fogo aceitou. O sangue foi unido. Pelas Quatorze Chamas, sois marido e mulher, dragão e dragão.

A multidão restrita ficou em silêncio, quebrado apenas pelo rugido ensurdecedor dos dragões. As damas de Rhaenyra se curvaram discretamente, e Jaenara Celtigar murmurou um verso antigo que aprendeu nos templos de Ilha Garra.

No dia seguinte, Maester Gerardys enviou a seguinte mensagem para todos os lordes Paramount (exceto os Arryn, que estavam presentes) e para Porto Real:

 

"Aos Lordes do Reino e à Corte de Sua Graça, o Rei Viserys I Targaryen,

Relato um acontecimento que testemunhei com meus próprios olhos.

Em Pedra do Dragão, sob a presença dos lordes juramentados da ilha e dos honrados parentes da Casa Arryn, celebrou-se o matrimônio de Sua Alteza Real, a Princesa Rhaenyra Targaryen, Lady de Pedra do Dragão, e de Sua Alteza Real, o Príncipe Daemon Targaryen, Lorde das Passopedras pelo Alto Sacerdote do Templo Valiriano de Ilha Garra.

A consumação foi confirmada e os lençóis serão enviados para serem apresentados a corte, como manda a tradição.

Escrita e selada em Pedra do Dragão, sob meu nome e selo,

Maester Gerardys

Servidor da Casa Targaryen em Pedra do Dragão."

 


 

Porto Real

 

Ainda era cedo quando um corvo vindo de Pedra do Dragão pousou nos pátios da Fortaleza Vermelha. O selo vermelho com o dragão tricéfalo foi levado às mãos de Otto Hightower, que já aguardava no salão do conselho.

Ele rompeu o lacre e percorreu o pergaminho com os olhos rápidos. A cada linha, seu rosto se tornava mais rígido, até que por fim ergueu-se, a voz grave ecoando pela sala:

— Rhaenyra e Daemon… casaram-se. Em Pedra do Dragão. Sob ritos valirianos.

Um silêncio espesso recaiu sobre o conselho. Ser Tyland Lannister foi o primeiro a explodir:

— Sacrilégio! Sem bênção dos Sete, é uma farsa!

Como Mestre das Leis, Lyonel Strong replicou:

— Não tão depressa. Não é a primeira vez que tal coisa acontece. Recordem que Jaehaerys e Alysanne, os mais reverenciados de nossos reis, casaram-se em segredo também com ritos valirianos. Nenhum homem ousou negar-lhes a legitimidade.

As palavras pairaram como uma lâmina afiada. Otto franziu o cenho, mas nada respondeu de imediato. Precedente ou não, o contexto dos dois casamentos era diferente. Jaeherys e Alyssane estavam se escondendo de Maegor e a Casa Targaryen estava em guerra com a Fé Militante. Jaeherys fez muito pela paz da Coroa com a Fé dos Sete depois disso, mais que se redimindo aos olhos dos fiéis.

Na ponta da mesa, o Rei apenas suspirou. Daemon e Rhaenyra tinham se casado da mesma forma em seus sonhos, parecia que algumas coisas eram destinadas a acontecer.

Otto e Lyonel continuaram debatendo.

— Ainda assim, é um casamento realizado sem a permissão de Sua Graça.

— De acordo com o contrato, a Princesa Rhaenyra é livre para decidir seu próprio casamento.

— A Princesa sim, mas não o Príncipe Daemon — Otto parecia triunfante em achar essa brecha para se opor ao casamento.

— Basta! — Viserys se irritou — Daemon nunca iria se casar com alguém da minha escolha de qualquer forma, no primeiro casamento ele tinha 16 anos e foram preciso quatro cavaleiros para segurá-lo no altar e minha avó disse os votos por ele. Acham que hoje, como um guerreiro experiente em guerra e cavaleiro de Caraxes, seria mais fácil? — Viserys deu um grande gole em sua taça de vinho.

— Se vossa Graça o ordenasse, ele teria que obedecer — Grande Maester Mellos se expressou pela primeira vez.

Lyman Beesbury segurou o riso — E desde quando Daemon obedece alguém?

— Todas as vezes que Sua Graça o baniu, ele obedeceu — lembrou Ser Tyland

— Considerando o quanto o príncipe gosta de se aventurar por Essos, acredito que ele tenha ido porque queria. Se ele quisesse ficar, o que faríamos? Ele tem Caraxes. A princesa Rhaenys tem Meleys mas há muito ela tem uma relação fria com a Coroa e Syrax por muito tempo era pequena demais para ser de qualquer ameaça — Lorde Lyman era, como sempre, a voz da razão no Pequeno Conselho.

— Preciso me repetir novamente? Basta desse assunto! Minha filha se casou, anunciaremos na Corte e é isso. — Viserys se levantou da cadeira e saiu da sala, cansado daquelas discussões que, para ele, eram inúteis.

Naquele mesmo dia, quando Viserys sentava no trono para ouvir as petições, ele anunciou o casamento da filha, deixando claro para a Corte que ele estava feliz por ela. Nos seus sonhos, ele lembrava de dois meninos que tinham sido deixados sozinhos no fim da guerra e uma menina que não conseguiu nascer, ele esperava que dessa vez eles tivessem outro destino.

Mais tarde, a rainha Alicent foi visitar o Rei em seus aposentos vestida em verde profundo, os olhos brilhando de fúria contida.

— Me diga que isto é mentira. — Sua voz trêmula revelava tanto indignação quanto medo — Eles desafiam os Sete, a corte… e a sua autoridade Viserys!

Antes que pudesse continuar, Viserys a interrompeu. — Chega, Alicent. Sempre soube que este dia chegaria.

— O que quer dizer?

— Já sabia dos sentimentos da minha filha pelo meu irmão, ela nunca os escondeu. Acredito que você devesse saber também, considerando o quanto eram próximas.

Alicent o encarou, atônita — Sentimentos?! É disso que falas, enquanto eles mancham a família real com feitiçarias e casamentos heréticos?

O rei fechou os olhos, cansado. — Não é heresia, Alicent. É nossa herança. Foi assim com Aegon, Rhaenys e Visenya, foi assim com Jaehaerys e Alysanne, e assim será outra vez. O casamento é válido e negar sua legitimidade é negar os próprios alicerces da Casa Targaryen. Esqueça esse assunto.

Silêncio caiu entre eles. Alicent, branca como mármore, tremia de indignação.

Naquela mesma tarde, a notícia correu pela Fortaleza Vermelha e logo percorreu a cidade e além, por todo o continente. 

Várias músicas eram ouvidas sobre o acontecimento nas regiões mais habitadas. Os bardos de Porto Real pagos por Daemon fizeram um bom trabalho em compor canções românticas que grudavam na mente, logo a maioria do povo estava encantado e as músicas se espalharam rapidamente.

Entre a nobreza de Westeros as opiniões eram divididas. Para os devotos, foi um insulto à Fé. Para outros, um ato romântico que espelhava Jaehaerys e Alysanne.

Notes:

E lá fui eu reassistir a cena do casamento de Daemon e Rhaenyra na série pra descrever tudo o mais próximo possível, até o valiriano é o mesmo.

Chapter 17: Capítulo 16

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 116 d.C

Porto Real

Nos aposentos da Rainha, Alicent Hightower se encarava no espelho de sua penteadeira, a mente muito distante dali.

Ela tremia só de pensar no casamento de Rhaenyra.

A princesa sempre fora mimada e indisciplinada. Alicent fizera de tudo para que ela agisse como uma verdadeira princesa quando ainda era sua dama. Quando Alicent se tornou Rainha, as duas se afastaram, mas a princesa mudou. Tornara-se tudo aquilo que seu pai queria como herdeira: uma verdadeira princesa. Alicent sentiu orgulho dela.

Apesar de tudo, a Rainha ainda nutria afeto pela jovem. Ainda que fossem muito diferentes, tinham passado muitos anos tendo apenas uma à outra como companhia.

Alicent ficou triste por Rhaenyra quando o inevitável aconteceu. Pelas leis dos deuses e dos homens, era claro que isso se daria cedo ou tarde, mas ela tinha certeza de que o Rei encontraria para a filha um bom marido, e que a princesa poderia continuar vivendo no conforto e no luxo a que estava acostumada.

As exigências de Rhaenyra a surpreenderam, assim como a disposição do Rei em aceitá-las. Mas, de certo modo, fazia sentido: fora mimada por ele a vida inteira.

Agora, Alicent sentia que seus olhos estavam abertos. Não sabia se era o orgulho ferido pela rejeição ou se a princesa nunca havia mudado, apenas fingido. Mas Rhaenyra estava pior do que nunca. Sempre fora indiferente às regras, mas virar as costas para os deuses? A bile subia em sua garganta só de pensar.

E não bastava isso: decidira-se a casar com um homem devasso e sanguinário, seu próprio tio! Uma parte de Alicent não conseguia evitar desejar que Daemon a tratasse como tratara Rhea Royce, que Rhaenyra se arrependesse da própria escolha.

A reação do Rei também a chocou. Viserys não parecia enxergar nada de errado no que acontecia, como se Rhaenyra não tivesse cuspido no rosto dos deuses e de todos os devotos de Westeros.

Foi então que Alicent começou a compreender a raiz do problema: os próprios Targaryen eram hereges, forasteiros que seguiam deuses que deveriam ter sido abandonados junto à Perdição. Westeros deveria ser governado por fiéis, para que o reino pudesse ser banhado pelas bênçãos dos Sete.

Ela finalmente entendia qual era o seu papel, o seu dever. A razão de ter se tornado Rainha. Colocou a mão sobre a leve protuberância em sua barriga. Seus filhos — o futuro da dinastia — seriam criados como devotos dos Sete, e assim ela salvaria o reino da fúria divina.

A parte vaidosa de Alicent não pôde evitar imaginar como seria retratada nos livros de história: “Rainha Alicent, a Devota, que trouxe os Targaryen para a luz dos Sete”. O título soava muito bem aos seus ouvidos.

 



Ano 117d.C.

Pedra do Dragão

 

Apesar de tudo o que havia amadurecido, permanecia em Rhaenyra um medo do parto que ela não conseguia evitar — não depois de ter passado a infância testemunhando o sofrimento da própria mãe.

Ela compartilhara seus temores com Daemon que, tendo perdido a própria mãe para o parto, os levou a sério. Ele lhe ofereceu a opção de tomar Chá de Lua até que se sentisse pronta.

— Os nobres irão dizer que herdei os problemas de minha mãe se eu demorar a conceber.

— Deixe que falem. As opiniões de ovelhas não afetam os dragões.

E assim ficou decidido.

De Porto Real, tudo o que receberam foi uma carta de seu pai, parabenizando-a pelo matrimônio — para sua total surpresa.

Rhaenyra estava mais do que feliz em dedicar seu tempo ao desenvolvimento da ilha e aos prazeres de estar casada com Daemon. Seu marido também dedicava boa parte do tempo às Passopedras. Fortes e torres estavam em construção, e de tempos em tempos ele sobrevoava o local com Caraxes para supervisionar os trabalhos.

Com tantas ocupações, um ano se passou num piscar de olhos.

Nesse meio-tempo, Alicent dera ao Rei mais um filho. Dessa vez, porém — Rhaenyra e Daemon riram muito ao receber a notícia — o bebê puxara completamente à mãe, sem nenhuma característica valiriana. Viserys o nomeou Aemond, o que deixou Daemon meio ofendido: seu irmão havia dado a um Hightower um nome que soava como anagrama do seu.

O bebê recebeu um ovo de dragão em seu berço, como Aegon e Helaena. Mas, segundo as babás, que murmuravam aos outros servos, o recém-nascido — incapaz de sequer se virar sozinho — tentava afastar-se do ovo e não dormia bem em seu berço, apenas em outros lugares.

Os espiões de Daemon na Fortaleza Vermelha relatavam que ninguém parecia notar nada de estranho. Alicent estava feliz de ter um bebê parecido consigo, e não com os “estranhos Targaryen”. Otto parecia satisfeito de haver um segundo menino, um herdeiro sobressalente para solidificar a herança de Aegon e o domínio de sua família. Provavelmente tinha esperanças para o ovo também, que ainda não havia esfriado.

Rhaenyra pressentia que ainda teria muitas razões para rir daquela família no futuro.

O mais surpreendente que lhe aconteceu naquele ano foi receber uma carta da própria Saera Targaryen. A missiva a parabenizava pela conquista de Pedra do Dragão e pelo casamento com “seu sobrinho preferido”. Rhaenyra sequer sabia que Daemon e Saera se conheciam.

— Passei muito tempo em Essos, e eu e Caraxes não somos exatamente discretos — Daemon respondeu quando ela o indagou. — Quando estive em Volantis, foi fácil para ela me encontrar.

— Ela foi procurar você? Achei que devia odiar nossa família… e Westeros.

— Westeros, sim. A família? Nem todos. — Os olhos de Daemon se voltaram para a carta nas mãos da esposa, e depois para o rosto dela. — Claramente.

Rhaenyra então começou a se corresponder com sua tia-avó, descobrindo que Saera era uma grande empresária. O fato de seus negócios serem bordéis não lhe importava. Logo já planejavam viajar a Volantis assim que fosse possível.

Após longas conversas com Maester Gerardys, nas quais discutiram as possíveis causas dos problemas de sua mãe — desde a idade em que começara a engravidar até a falta de períodos de descanso entre cada gestação —, Rhaenyra decidiu interromper o Chá de Lua.

Precisaria enfrentar seus medos mais cedo ou mais tarde. Precisava deixar o título para alguém — e não seriam os falsos Targaryen de Porto Real. Gerardys a deixou confiante de que estaria em boas mãos. Daemon ofereceu-se para trazer as melhores parteiras de Essos, e ela o fez prometer que, se um dia tivesse de escolher entre ela e o bebê, ele escolheria ela.

 



Ano 118 d.C

Porto Real

 

"À Sua Graça, o Rei Viserys I Targaryen, ao Pequeno Conselho e à todos os Lordes do Reino,

Venho por meio desta, sob o selo e fé da Cidadela, notificar o nascimento do herdeiro da Casa Targaryen de Pedra do Dragão.

Em Pedra do Dragão, no décimo quarto dia do primeiro mês do ano cento e dezessete após a Conquista, Sua Alteza Real, a Princesa Rhaenyra Targaryen, Lady de Pedra do Dragão, deu à luz um filho robusto, saudável e forte, fruto de sua união com Sua Alteza Real, o Príncipe Daemon Targaryen, Lorde das Passopedras.

O menino recebeu o nome de Aenar Targaryen, em honra ao seu ancestral Aenar o Exilado que acreditou na filha Daenys A Sonhadora e salvou a Casa Targaryen da Perdição de Valíria.

O parto ocorreu sob bons presságios, testemunhado por damas de confiança da princesa, as parteiras de confiança do príncipe e por este maester. A criança demonstrou vigor ao nascer e encontra-se em bom estado, assim como sua mãe.

Escrita, selada e enviada de Pedra do Dragão,

Maester Gerardys
Servidor da Casa Targaryen em Pedra do Dragão."

Otto leu o pergaminho em voz alta para o Pequeno Conselho. Ao seu lado, o Rei estava com os olhos marejados.

Não haviam recebido notícia da gravidez. Na verdade, após mais de um ano de casamento sem herdeiros, muitos já murmuravam que Rhaenyra era infértil como a mãe — o que seria conveniente para Otto. Sem conseguir infiltrar seus agentes na ilha, ele também desconhecia a gestação. Raios! Se ela estivesse em Porto Real, seus maesters leais poderiam ter interferido, como fizeram com Aemma. Agora, era um desastre.

Um bebê ainda era frágil, poderia morrer. Mas nos últimos anos o maldito Daemon tornara-se o responsável pela segurança da ilha e do castelo, e era praticamente impossível encontrar uma falha que pudesse ser explorada.

Rhaenyra tinha acesso a ovos de dragão. Com certeza aquela abominação incestuosa receberia um no berço. Restava rezar aos Sete para que não vingasse. O ovo de Aemond havia esfriado, e o Rei, como fizera com Aegon, não autorizara a busca de outro.

Alicent estava grávida novamente, como era seu dever, e Otto só podia esperar que dessa vez desse à luz um herdeiro de aparência valiriana. Gostando ou não, a aparência era um sinal de legitimidade. Sem ela — e sem dragão — Aemond teria dificuldade em ser visto como Targaryen.

O Rei, sentimental como sempre, não via a ameaça que um ramo da Casa, ainda que sem direito legítimo ao trono, poderia se tornar ao possuir mais dragões que o ramo principal. Não aprendera nada com os Velaryon.

— Meu primeiro neto! Oh, tal ocasião precisa ser celebrada! Talvez um torneio? Um banquete?

Lorde Beesbury pigarreou. — Não creio que eles comparecerão a qualquer celebração, Sua Graça.

A comunicação da princesa com o Rei vinha sendo fria e protocolar. De fato, Ladies Paramount não tinham obrigação de comunicar gravidezes, apenas nascimentos. Isso explicava por que não foram informados antes.

Viserys pareceu murchar por um instante, mas logo a empolgação retornou.

— Um presente, então! Algo de raízes valirianas, talvez? Sei que há cobertores nos Cofres Reais usados por príncipes e princesas do passado.

Viserys se levantou e deixou a sala do Conselho, animado. Os lordes apenas se entreolharam e tomaram aquilo como sinal de que estavam dispensados. Otto Hightower saiu de cara fechada.

Notes:

Eu sei que pouca gente se importa com as datas, mas eu cometi um erro no ano do capítulo 3 (pois falhei em considerar que crianças demoram 9 meses pra nascer, então Aegon provavelmente nasceu em 113, o que faz do aniversário de dois anos dele em 115) e isso mudou os anos da história toda. Já consertei isso.

Passam-se 3 anos em um capítulo! E haverá mais um Time Skip no próximo capítulo. Eis da onde meu hiperfoco nas datas veio, comecei a fazer as contas e a matemática não batia sabe?

Chapter 18: Capítulo 17

Notes:

Alto valiriano em itálico

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ano 128 d.C

Porto Real

 

Daeron se lançou nos braços da mãe em prantos. Alicent tentava ao máximo confortar o filho mais novo, passando as mãos ternamente pelos cachos castanho-avermelhados.

Naquele dia, Daeron fora ao Fosso tentar reivindicar um dragão. Além de Dreamfyre, havia dois dragões nascidos de ovos que haviam chocado nas câmaras aquecidas.

Quando chegara a notícia do nascimento do primeiro filhote, batizado pelos Cuidadores como Kastamili, um lampejo de esperança acendeu-se nos corações da família. Seu pai não perdeu tempo em mandar o neto mais velho visitar o Fosso e tentar reivindicar a fera. Com sete anos e nenhum sinal de dragão para Aegon, os nobres da Corte já começavam a murmurar.

A criatura, porém, não apenas teve a audácia de rejeitar o herdeiro do Trono de Ferro, como ainda tentou atacá-lo! Só a presença dos Cuidadores impediu que algo pior acontecesse com seu filho, graças aos Sete. Mesmo assim, Alicent ficou furiosa. Nem Dreamfyre tentara atacar Aegon; era claro para ela que aquele filhote era defeituoso e precisava ser abatido.

Viserys, apático como sempre, apenas disse que riscos faziam parte da tentativa de domar dragões, e que ela deveria estar ciente disso ao mandar o menino ao Fosso.

"Mesmo filhotes têm garras e dentes afiados!" riu, como se não fosse seu próprio filho em perigo.

Otto se irritou com o fracasso de Aegon, mas logo ordenou que Helaena tentasse também. Alicent protestou. Helaena não tinha razão alguma para montar uma fera daquelas! Imagine: sua filha — criada para ser a princesa perfeita, tudo que Rhaenyra nunca fora — sujeita àquilo? Helaena era delicada demais para se tornar cavaleira de dragão.

Mas a Mão do Rei não se importou. O importante era que a Coroa mantivesse dragões.

Incapaz de recusar seu pai, Alicent levou Helaena, então com apenas cinco anos, ao Fosso, para garantir a segurança dela pessoalmente. Helaena falhou, para alívio da mãe e aborrecimento de Otto.

Alguns anos depois, um segundo filhote nasceu, nomeado Palefyre. Otto reacendeu suas esperanças, mas o resultado foi o mesmo: um a um, seus netos tentaram, e um a um fracassaram.

Agora, aos oito anos, Daeron recebera enfim permissão da mãe para tentar — os “filhotes” já não eram tão pequenos, e Alicent sempre temera pela segurança dos filhos. O menino voltou não apenas sem dragão, mas com uma queimadura nas costas. A Rainha estava furiosa, mas sabia que o marido não moveria um dedo. A culpada era a própria Dreamfyre.

O Grande Meistre Mellos já tratara das costas do menino, mas Daeron ainda sentia dor e chorava nos braços da mãe. Mellos advertira que leite de papoula não era recomendado para crianças, mas Alicent considerava pedir uma exceção para aliviar o sofrimento do filho.

Quando finalmente conseguiu fazê-lo dormir, saiu do quarto com o coração pesado. Não sabia qual seria a reação de seu pai, que nos últimos anos estava obcecado em conseguir um dragão para os netos.

Nos próprios aposentos, encontrou Otto já à sua espera.

— Me diga, Alicent — rugiu a Mão, erguendo-se da cadeira —, como é possível que todos os seus filhos sejam um fracasso?!

— Como isso pode ser culpa minha?!

— Até Viserys conseguiu domar uma besta, a maior de todas! — Otto pressionou os dedos contra as têmporas. — E você fracassou no único dever que tinha!

— Meu dever era dar filhos ao Rei, e isso cumpri com sobra!

— Filhos inúteis não bastam! Precisávamos de filhos capazes de continuar a dinastia sem serem usurpados por uma irmã mais poderosa!

Alicent arregalou os olhos. — Rhaenyra renunciou ao trono!

— Isso pouco importará quando Viserys morrer e não tivermos dragões para nos defender. E ela, com muitas bestas sob seu comando, verá a fraqueza do meio-irmão e a explorará — Otto gritava, enojado com a estupidez da filha. — E mesmo que não faça nada, Westeros se curvou por causa dos dragões. Os lordes do reino podem muito bem aproveitar essa fraqueza para se rebelar!

A Rainha cobriu a boca com as mãos, assustada. Ao ver que a filha levava o assunto a sério, Otto suspirou e prosseguiu em tom mais controlado:

— E mesmo que nada disso aconteça, quem garante que, no futuro, algum descendente de Rhaenyra não tome o trono à força? Foi assim que ele foi forjado, afinal. Está na natureza dessa família. Ramos sobressalentes sempre foram perigosos em casas reais. Mas um ramo com todos os dragões e outro sem nenhum? É pedir para sermos usurpados.

O silêncio caiu pesado sobre o quarto, enquanto Alicent absorvia as previsões do pai e Otto buscava pensar no que restava fazer.

— Não temos escolha... — murmurou de repente, quebrando o silêncio. — Teremos que negociar com os próprios demônios.

 


 

Pedra do Dragão

 

Muito bem, Aenar! — gritou Daemon do lombo de Caraxes, guiando o filho em algumas manobras aéreas.

Aenar, com dez anos, estava cada vez melhor na arte de montar dragões. O seu nascera em seu berço quando tinha apenas um ano de idade, e desde então os dois eram inseparáveis. Suas escamas lembravam as chamas, e por isso fora batizado de Arrax, em homenagem ao deus do Fogo e rei dos deuses.

De uma das sacadas do castelo, Rhaenyra observava pai e filho com satisfação, acariciando a barriga já saliente. Nunca imaginara que poderia ser tão feliz quanto fora nos últimos dez anos. Amava ser mãe, amava ver Daemon sendo pai. Amava os filhos como nunca amara nada no mundo — às vezes parecia que o coração fosse explodir de tanto amor.

Quando vou poder fazer isso, mãe? — perguntou o menino que a acompanhava. Se Aenar era cópia do pai em aparência, Rhaegal puxara mais à mãe, com cabelos ondulados e olhos de um violeta mais claro.

Você acabou de começar a montar, Rhaegal. Tudo a seu tempo.

Rhaegal também recebera um ovo de Syrax, do qual nascera um dragão verde e marrom. As cores lembravam uma floresta, e assim o batizaram de Draxtar, em homenagem ao deus da vida e da natureza.

Eu quero montar logo em Aegarax! — esbravejou Visenya, de seis anos, do outro lado da princesa. Ela herdara os cabelos ondulados da mãe e os olhos mais escuros do pai.

Ela ainda precisa crescer, e já falamos sobre isso — respondeu Rhaenyra. Aegarax nascera quando Visenya tinha quase dois anos, e ainda não era grande o suficiente para ser montada.

Visenya soltou um som agudo de protesto, típico dos choramingos que precediam suas birras.

Eu não quero esperar!

Prevendo o início de um escândalo, Rhaenyra pegou a filha pela mão e começou a caminhar em direção ao pátio, ouvindo os passos de Rhaegal atrás de si.

Já que estão se sentindo deixados de fora, que tal visitarmos os dragões, hmm?

Foram palavras mágicas. Rhaegal e Visenya sorriram de orelha a orelha.

 


 

Rhaenyra encarava incrédula a carta que recebera — de Otto Hightower, de todas as pessoas. Claro, alegava escrever em nome do Rei, mas isso era questionável.

Na carta, Otto pedia que os filhos de Alicent pudessem visitar Pedra do Dragão e tentar reivindicar dragões. Algo ao qual a Coroa e a família real não tinham direito algum, de acordo com o contrato, mas parecia que Otto desistira de tentar enviar espiões para roubar filhotes e decidira apelar para sentimentalismos.

Mencionava a saúde cada vez mais frágil de Viserys, os meio-irmãos tristes por não terem dragões, e insinuava que ela, também Targaryen, poderia se compadecer do vazio que sentiam.

Provavelmente fazia sentido, em sua mente, que ela, sendo mulher, cairia facilmente nesse tipo de manipulação. Rhaenyra bufou de desgosto: Otto devia estar desesperado.

Ainda assim, a carta a fez refletir. Seus meio-irmãos nunca conseguiriam reivindicar dragões, então por que não deixá-los tentar? Se negasse, os Hightower sempre poderiam alegar que teriam conseguido, caso tivessem tido acesso à ilha. Se aceitasse, e eles falhassem miseravelmente, a quem poderiam culpar?

A maior dificuldade seria convencer Daemon.

 

Notes:

As falas em itálico são em valiriano, faz sentido pra mim a família de Daemon e Rhaenyra só se comunicarem em alto valiriano uns com os outros.

Os filhotes de dragão em Porto real são Vermax e o Arrax original de Lucerys, que vem de ovos de Dreamfyre, mas eles não receberam esses nomes pois claro não nasceram nos berços de Jacaerys e Lucerys, então receberam nomes dados pelos Cuidadores de Dragões. Vermax agora é Kastamili que significa VerdeVermelho em Alto Valiriano (eles não são conhecidos por serem criativos) e Arrax é Palefyre.

Depois de uma rápida pesquisa no Google vi que é recomendado que mulheres esperem a partir de 18 meses há 2 anos entre uma gravidez e outra. Gerardys informou isso a Rhaenyra e a mulher levou a SÉRIO, sempre tomando Chá de Lua até ser seguro engravidar de novo, ela não brinca quando se trata de gravidez e parto.

Filhos Daemyra:

Aenar (nascido em 118d.C). 10 anos - Dragão Arrax, ovo de Syrax, vermelho amarelo e laranja.

Rhaegal (nascido em 120d.C). 8 anos - Dragão Draxtar, ovo de Syrax, Verde e marrom.

Visenya (nascida em 122dC.). 6 anos - Dragão Aegarax, ovo de Syrax, branco e azul claro.

Baela (nascida em 126 d.C) 2 anos. - Recebeu um ovo de Silverwing, mas ele esfriou.

Chapter 19: Capítulo 18

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 127d.C 

Pedra do Dragão

 

O mar estava cinzento mas calmo, e o vento frio trazia o cheiro salgado das ondas que quebravam contra o casco do navio real. No convés, a família do rei se reunia.

O rei Viserys estava sentado em uma cadeira alta, embrulhado em mantos pesados apesar do verão tardio. Sua pele pálida e seus olhos cansados denunciavam o avanço da enfermidade que o consumia pouco a pouco. O balanço do mar parecia exauri-lo, mas sua atenção vagava, perdida entre o horizonte e as memórias de outrora.

Alicent permanecia ao seu lado, as mãos repousando sobre o regaço, os dedos inquietos apertando o tecido verde da saia. Os olhos castanhos ora se voltavam para o marido adoentado, ora para os filhos, ora para o pai que fitava, imóvel, a névoa adiante.

Otto Hightower, a Mão do Rei, mantinha-se ereto como uma lança. O rosto, austero e impassível, escondia a ansiedade que lhe queimava por dentro. Pedra do Dragão erguia-se em sua mente não como uma ilha, mas como um baluarte inimigo — um ninho de dragões que ainda escapava ao seu controle.

As crianças reagiam cada qual à sua maneira.

Aegon, o mais velho, bocejava e se apoiava na amurada, entediado, como se a travessia não fosse nada além de um fardo. Seus olhos semicerrados fitavam as ondas com desdém, e de tempos em tempos, ele soltava um riso nervoso, zombando do enjoo de algum cavaleiro que vomitava ao fundo.

Helaena, ao contrário, estava fascinada. Ela nunca tinha saído da Fortaleza Vermelha na vida. Seus olhos azuis encaravam a paisagem com admiração.

Aemond mantinha-se rígido, de braços cruzados, o queixo erguido. Havia nele uma seriedade precoce, e seus olhos ardentes percorriam o mar como se buscassem sinais de dragões voando sobre as ondas. Desde que se lembrava, carregava o peso de não se parecer com um Targaryen e não ter um dragão próprio. Agora, com o destino da viagem, poderia consertar uma dessas coisas e as pessoas o veriam como um verdadeiro Targaryen.

Já Daeron, o mais novo, permanecia colado às saias da mãe. O menino olhava para o mar com receio, as costas ainda doloridas pela queimadura recente. Seus olhos marejados refletiam a insegurança que ele mal conseguia esconder.

Foi então que, através da névoa, ela surgiu.

Pedra do Dragão.

A ilha ergueu-se diante deles como um titã adormecido no mar, negra e imponente, coroada pelo vulcão fumegante que cuspia colunas finas de cinza para o céu. Toda a costa da ilha estava protegida por uma muralha, espalhado por ela haviam torres e fortes operados pela Guarda de Pedra do Dragão, que usavam armaduras negras e capas vermelhas.

Torres afiadas de basalto cortavam as nuvens, lembrando presas de uma fera adormecida. O castelo se aparecia lentamente através da névoa, entre a montanha e o mar, toda feita de pedra negra fundida — trabalhada em formatos que não pareciam que foi feito por humanos.

O silêncio caiu sobre o convés. Até Aegon parou de zombar, e até o riso nervoso cessou. A visão de Pedra do Dragão esmagava qualquer bravata.

Viserys respirou fundo, os olhos marejados, como se visse a própria alma da sua Casa materializada naquelas muralhas escuras.

Otto franziu o cenho, a mão apertando o bastão de Mão. Para ele, não era um símbolo de glória, mas de ameaça — um lugar de chamas e feitiçarias, uma fortaleza que não se curvava facilmente.

— Lá está ela — murmurou o Rei, com a voz rouca, quase como uma prece. — O coração do poder Targaryen...

Alicent fechou os olhos por um instante. Para ela, Pedra do Dragão não era uma ilha, mas um pesadelo. Um lugar de onde vinha a sombra da mulher que ameaçava tudo o que ela construíra para os filhos.

Aemond foi o primeiro dos jovens a falar, a voz carregada de fervor contido:

— Um dia... um desses dragões será meu.

O barco balançou forte quando atracou no porto de Pedra do Dragão. Aemond se manteve firme, mesmo quando outros cambalearam. Não deixaria que o mar o envergonhasse, não diante da fortaleza que o fitava como uma fera vigilante.

O ar era mais quente ali. O cheiro de enxofre e cinzas pesava sobre a brisa, misturando-se ao sal do mar. Ao longe, o vulcão soltava uma coluna fina de fumaça, como se para lembrar a todos que do que ainda era capaz.

Aemond foi o primeiro entre os irmãos a descer a prancha. Seus olhos castanhos percorriam as torres negras, os arcos esculpidos em formas que lembravam dentes e garras. Cada pedra parecia sussurrar histórias de dragões, e ele sentiu o sangue correr mais rápido em suas veias.

Aqui é onde eles nascem. Aqui é onde pertencem.

Pisou na pedra dura do cais com uma firmeza que contrastava com a hesitação de Daeron, que desceu logo atrás, encolhido e pálido. Aemond ergueu o queixo. Estava em território inimigo, mas também no lugar que poderia lhe dar o que mais desejava.

E então os viu.

Rhaenyra e Daemon os aguardavam no alto da escadaria que levava até o castelo. Ela trajava um vestido roxo e prateado que refletia a luz cinzenta do céu, e sua mão repousava sobre a curva discreta da barriga. Diferente dele e seus irmãos, ela não precisava se vestir sempre de preto e vermelho para lembrar as pessoas de que era uma Targaryen, ela tinha a aparência valiriana perfeita e seu dragão nasceu no berço, ela era a montadora de dragões mais jovem da história.

Daemon, ao lado, parecia uma sombra viva: capa vermelha esvoaçando, a espada à cintura, os olhos avaliando cada um deles como se já os tivesse condenado.

Atrás deles, soldados com o dragão tricéfalo bordado nos mantos. Mas foi o som que realmente fez o coração de Aemond estremecer. Um rugido. Longo, profundo, ecoando das profundezas da ilha. Não se via a fera, mas sabia que estava ali, observando.

Aemond sentiu um arrepio percorrer a espinha. Não era medo. Era desejo.

Queria aquele poder. Queria aquele rugido para si.

Enquanto Aegon descia rindo nervosamente e Helaena descia da forma delicada que fora ensinada, Aemond manteve o olhar fixo nos dragões invisíveis. Sentia que eles também o olhavam. Sentia que o julgavam.

Não falharei”, pensou, os punhos cerrados. “Nem que eu tenha que entregar a minha alma.”

E, ao encarar Rhaenyra no alto da escadaria, teve a impressão de que ela sabia exatamente o que ele pensava. Ela sorria, e não parecia ser um sorriso gentil.

 


 

A escadaria de Pedra do Dragão parecia mais longa do que nunca para Viserys. Cada degrau arrancava um suspiro cansado de seus pulmões sua bengala batia contra a pedra negra num ritmo lento, pesado. Atrás do Rei vinham Otto, rígido como sempre, e Alicent, com os filhos reunidos em torno dela como um pequeno cortejo, além dos Guardas do Rei escolhidos para acompanharem a família real.

Quando o Rei enfim alcançou o último degrau, Rhaenyra avançou dois passos e inclinou-se num gesto de respeito.

— Pai — sua voz soou firme, sem o tremor que talvez esperassem dela. — Pedra do Dragão lhes dá as boas-vindas.

Viserys fitou a filha com olhos marejados, a emoção quebrando por um instante o véu de dor que o consumia.

— Minha querida… — murmurou, estendendo a mão, que Rhaenyra tomou e beijou com solenidade. — Quanto tempo.

Daemon permaneceu imóvel, observando o gesto. Só depois inclinou levemente a cabeça, um cumprimento mínimo.

— Vossa Graça — disse, sem calor na voz.

Otto estreitou os olhos, como se o ar entre os irmãos fosse pólvora prestes a explodir. Alicent, em silêncio, manteve-se ereta, uma mão protetora sobre o ombro de Helaena, enquanto Aegon e Aemond trocavam olhares ansiosos.

E assim, o Rei e sua comitiva foram conduzidos para dentro da fortaleza.

 


 

— Tudo aqui é tão sombrio… parece melancólico ter que viver neste lugar. — Aegon rodava um copo de vinho entre os dedos. Aemond não sabia de onde ele o havia tirado e suspeitava que o trouxera escondido.

— As decorações são assustadoras! — Daeron encolheu-se na cadeira, o rosto meio perdido.

— Se acha imagens de dragões assustadoras, como pretende domar um? — retrucou Aegon, com um sorriso torto.

— Aegon! — gritou sua mãe do outro lado do quarto, onde ainda se arrumava diante do espelho.

A família real e sua comitiva haviam sido instaladas na Torre do Dragão-Marinho, o que ofendera profundamente a Rainha. Alicent esperava ocupar a Torre Tamborpedra, onde tradicionalmente se hospedara a linhagem Targaryen. Mas Viserys a repreendeu de pronto:

"São os aposentos da família, e nós somos visitas. Quando visitamos um lorde, não exigimos a ala reservada à sua casa." O Rei falara em tom condescendente, o mesmo que usava sempre que lembrava a esposa das falhas em sua educação — educação de filha de um segundo filho, não de rainha.

Um jantar havia sido marcado para aquela noite, ocasião em que o Rei conheceria os netos. Alicent ordenara que todos os filhos se reunissem em seus aposentos antes de descer ao salão da Torre Tamborpedra.

Ela já os preparara antes da viagem, repetindo-se durante os três dias no mar. A reunião agora provavelmente tinha o mesmo propósito. Relembra-los de que estavam em território inimigo, de que Rhaenyra era rancorosa e jamais perdoaria o fato de que Aegon herdaria o trono — ainda que fosse a lei dos deuses e dos homens. Que a recepção podia esconder dissimulações. Que deviam estar atentos a armadilhas. Que Rhaenyra era herege e bruxa, e Daemon um sanguinário sem piedade, mesmo diante de crianças.

Aemond, porém, só pensava em dragões. Desde muito pequeno os amava. Lera tudo que encontrara sobre eles na biblioteca de Porto Real, até tentara aprender valiriano para falar com os Cuidadores do Fosso. Mas os maesters só liam, não falavam a língua, e sua mãe logo descobrira, arrancando os livros de suas mãos. Chamara o idioma de “língua herege”, entre outros insultos.

Helaena foi a última a chegar, trajando um vestido branco e azul pastel — cores que Aemond sabia serem suas favoritas. Perto da penteadeira, uma criada trazida de Porto Real terminava de ajeitar os cabelos da sua mãe num penteado que seguia a moda da corte.

Poucos minutos depois, Otto Hightower entrou. Alicent não lhes avisara que o avô se juntaria a eles.

— Ótimo, estão todos aqui.

Aegon e Aemond se enrijeceram. Helaena e Daeron baixaram os olhos. Otto inspirava respeito, mas sobretudo medo. Os dois mais velhos sentiam com mais força o peso de suas expectativas, e a sombra fria de sua decepção.

A Rainha ergueu-se da penteadeira. Vestia verde-escuro, severa, e trazia ao peito um colar de ouro com uma grande estrela de sete pontas. Cumprimentou o pai com uma reverência contida e virou-se para os filhos.

— Não preciso repetir os riscos deste lugar. Mas vocês são príncipes e princesa deste reino. Não deixem que as aberrações a que Rhaenyra deu à luz os diminuam.

Otto balançou a cabeça, em desaprovação. A filha focava no que, para ele, era o menos importante.

— A prioridade são os dragões. — Sua voz cortou a sala. — Não hesitem em bajular sua irmã ou seus sobrinhos, se isso lhes abrir o caminho. Acima de tudo, não criem inimizades. Isso seria perigoso agora, e ainda mais no futuro. Quando Aegon for rei, é preferível que os dois ramos da família mantenham ao menos termos cordiais. — O olhar da Mão recaiu sobre cada neto, duro, implacável, deixando claro que falhas não seriam toleradas.

 

Notes:

Esse e os próximos capítulos serão altamente inspirados pelo 1° capítulo de "Dragonstone" por ciemai no Ao3.

Alguém curioso para ver o Aemond com aparência Hightower? Fiz essa edição num app bem capenga, mas dá pra pegar a visão:

https://pin.it/3RRqAWXJ6

E a título de curiosidade, aqui está o mapa de Pedra do Dragão que estou usando para me orientar enquanto escrevo:

https://pin.it/20IZIf5Fo

Chapter 20: Capítulo 19

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Ano 128 d.C

Pedra do Dragão

 

A Torre Tamborpedra era a ala mais bem guardada de Pedra do Dragão. Ali ficavam os antigos aposentos dos Conquistadores e a sala da mesa esculpida em formato de Westeros, de onde Aegon e suas irmãs haviam traçado a guerra da Conquista. Também abrigava o salão de jantar da família — onde Rhaenyra e Daemon costumavam comer com os filhos — e que, por aquela noite, receberia a família real. Poucos convidados, o que não era o suficiente para justificar o uso do Grande Salão.

O ambiente estava intensamente iluminado por velas. Nas paredes, relevos dracônicos talhados na pedra se misturavam a tapeçarias que retratavam cenas da Antiga Valíria, lembrando a todos que ali era território dos dragões.

Quando Viserys e sua família chegaram, os Targaryen de Pedra do Dragão já os aguardavam. Rhaenyra ergueu-se de sua cadeira na ponta da mesa, em sinal de respeito ao pai. Daemon, no entanto, permaneceu sentado, a atenção voltada para Baela, de apenas dois anos, acomodada numa pequena cadeira especial. Ao lado dela estavam Visenya, Rhaegal e Aenar, alinhados em ordem, deixando o outro lado da mesa livre para os recém-chegados.

— Pai. Madrasta. Lorde Mão. Meus irmãos. — Rhaenyra falou com cortesia, a voz clara, porém fria como aço. — Sejam bem-vindos. Espero que seus aposentos estejam de vosso agrado.

— Oh, é claro, minha filha! — Viserys respondeu, o rosto iluminado por um sorriso nostálgico. — É reconfortante estar aqui outra vez. A última vez foi quando morei nesta fortaleza, como herdeiro de Jaehaerys.

Com a bengala apoiando seus passos pesados, o Rei dirigiu-se não ao assento que lhe caberia na ponta da mesa, mas ao lugar vago junto de Rhaenyra, de frente para Daemon. Como monarca, sabia que deveria ocupar o lugar de honra na outra extremidade, mas recusava a se sentar tão distante da filha.

Alicent reprimiu uma careta de desgosto, mas não teve escolha senão o seguir e tomar o assento ao seu lado, como lhe cabia por dever de esposa. Otto sentou-se junto da filha. Aegon, apressado, lançou-se à ponta oposta da mesa, o mais longe possível do avô. Aemond tomou o lugar ao lado do irmão, seguido por Helaena. Restou a Daeron, infeliz, sentar-se ao lado da Mão.

A cena tinha peso próprio: em uma ponta, Rhaenyra; na ponta contrária, Aegon.

— Permita-me apresentar meus filhos — disse a princesa. — Meu primogênito, Aenar, com dez anos.

Ao ouvir a mãe, Aenar se levantou e fez uma reverência breve ao avô.

— Vossa Graça.

Aemond percebeu que se sentara justamente diante do herdeiro de Pedra do Dragão.

— Ele é o retrato do pai, posso ver — murmurou Viserys, os olhos brilhando ao contemplar o neto.

— Meu segundo filho, Rhaegal, com oito anos. — O menino repetiu a saudação do irmão. — Nossa primeira filha, Visenya, com seis. E a mais nova, Baela, com apenas dois anos.

— Uma alegria conhecer a todos! — exclamou o Rei, emocionado. — Aegon, é claro, já conheces, mas veja como cresceu! — Indicou o primogênito com um gesto afetuoso. Aegon, porém, parecia querer afundar-se no copo que segurava. — E estes são seus irmãos: Aemond, Helaena e Daeron.

— É um prazer conhecê-los. Espero que tenham apreciado os presentes de aniversário que enviei — disse Rhaenyra, a voz impecável, embora ela própria jamais enviara nada. Suas damas de companhia providenciavam presentes em seu nome, sempre apropriadas, sempre impessoais. Aparências precisavam ser mantidas.

— Eu gostei muito do espelho decorado com joias, princesa — respondeu Helaena, com doçura educada.

Com um sinal de Rhaenyra, os criados se apressaram em servir a refeição. Pães dourados, carnes assadas em mel e especiarias, frutos do mar, frutas da estação e vinho de Arbor encheram a mesa. O som das travessas sendo colocadas contrastava com o silêncio tenso dos convidados.

Daemon, recostado de maneira quase displicente em sua cadeira, observava a todos com um leve sorriso nos lábios, como se se divertisse com a situação. Alicent, por sua vez, mantinha o queixo erguido, o semblante severo, os olhos passando pelos filhos como se quisesse lembrá-los de cada advertência feita antes do jantar.

— Pedra do Dragão nunca perde seu caráter imponente — comentou Otto, quebrando o silêncio. — Embora eu sempre tenha pensado que suas paredes são um tanto sombrias.

Daemon ergueu a taça de vinho, girando o líquido devagar antes de beber um gole.

— Sombras são apenas o reflexo da chama, lorde Mão. E aqui, como pode ver, chama não nos falta.

Alicent pousou a mão no braço do marido, forçando um sorriso diplomático.

— Nem todos apreciam viver cercados de fogo, príncipe. Alguns preferem a claridade dos deuses, que ilumina sem consumir.

Daemon arqueou a sobrancelha, divertido.

— A claridade dos deuses? — disse em tom baixo, quase um sussurro cortante. — Engraçado, achei que tivesse sido o fogo dos dragões que uniu Westeros sob a Casa Targaryen, e não os sermões da Fé.

Viserys pigarreou alto, erguendo a mão com esforço, o olhar buscando apaziguar.

— Estamos em família! — disse, tentando soar caloroso. — Nada de debates sobre deuses ou dragões esta noite. Quero apenas desfrutar de meus filhos e netos reunidos.

Rhaenyra, que até então se mantivera em silêncio, pousou os olhos sobre a madrasta com serenidade fria.

— É verdade, pai. Afinal, há tanto tempo não nos visitam. Esta noite deve ser de união, não de discórdias.

As palavras eram cordiais, mas seu olhar permanecia cravado em Alicent, firme e inabalável.

Aegon soltou uma risada abafada, já meio embriagado, atraindo olhares de censura da mãe e do avô. Aemond, em silêncio, mantinha os olhos fixos em Aenar, como se estudasse cada movimento do primo mais velho.

Enquanto os adultos se ocupavam com falas medidas e olhares afiados, os filhos começavam a trocar palavras em tom baixo, acreditando que passariam despercebidos.

Visenya, com a curiosidade típica da idade, encarava Haelena sem pudor. — Gosto do seu vestido. São as cores do meu dragão, sabia? Só que ela é mais branca que azul.

Haelena, surpresa, piscou algumas vezes antes de responder num sussurro suave:

— Obrigada… eu gosto dessas cores.

Rhaegal, ao lado da irmã, se inclinou na direção de Aegon e Aemond — Vocês não têm dragões, não é? Muña disse que é por isso que vieram

Aemond enrijeceu, os olhos se estreitando — Ainda não. Mas terei.

— Não é tão fácil assim — retrucou Rhaegal, a voz inocente mas certeira. — Alguns não são escolhidos nunca. Alguns demoram muitos anos, kepa tinha 16 quando reinvidicou Caraxes.

Aegon soltou um riso curto, carregado de vinho — Ouvi dizer que até mesmo os ovos rejeitam eles. Talvez prefiram virar pedras de enfeite a terem cavaleiros com aparência comum.

O comentário fez Daeron enrubescer e baixar os olhos para o prato.

Antes que Aemond pudesse rebater, Aenar falou com firmeza, a voz mais alta do que pretendia:

— Você também não tem um dragão. Não precisa zombar de seus irmãos.

O silêncio que se seguiu àquela frase foi pesado. Alguns dos adultos ergueram os olhos da comida, percebendo que as provocações já começavam a se espalhar para além das taças e facas da mesa.

Daemon, observando a cena, deixou escapar um sorriso satisfeito, enquanto Rhaenyra mantinha a expressão serena — mas seus olhos brilhavam com o mesmo fogo dos filhos.

Aemond não conseguia afastar os olhos dos filhos de Rhaenyra. Todos eles tinham a pele clara, cabelos prateados e olhos que reluziam em tons de lilás e violeta, a marca indiscutível dos Targaryen. Ao lado deles, ele e Daeron pareciam intrusos — fios castanho-avermelhados herdados da mãe, olhos ordinários.

E não bastava a aparência. Aenar falava do próprio dragão com a segurança de quem nascera para aquilo. Rhaegal se gabava dos primeiras voos curtos, e até a pequena Visenya parecia convencida de que o ovo ter eclodido em seu berço a ligava para sempre àquela criatura escamosa que ainda crescia aonde quer que fosse o Fosso daquele lugar.

Aemond sentia a garganta arder. Um peso o esmagava por dentro, um misto de inveja e raiva. "Eles têm tudo o que eu deveria ter. Aparência valiriana, dragões, respeito."

Quando Aenar comentou em tom quase casual — mas que para Aemond soou como escárnio — que Arrax já o obedecia com um simples gesto, o menino não conseguiu se conter.

— Obedecer? — disse, a voz mais alta do que pretendia. — Dragões não obedecem. Vocês só acham que mandam neles porque nasceram com o cabelo certo.

O silêncio caiu sobre a mesa. Rhaegal franziu a testa, confuso, mas Aenar estreitou os olhos, como se tivesse entendido perfeitamente a provocação.

— O cabelo certo? — respondeu Aenar, o tom controlado, mas firme. — Nossos dragões nos escolheram. São eles quem escolhem, e se não escolheram vocês não é nossa culpa.

Aemond sentiu o rosto pegar fogo. Levantou-se da cadeira tão rápido que a madeira rangeu.

— Um dia vou ter o maior dragão de todos, e então veremos quem é digno!

— O maior dragão do mundo pertence a tia Laena! — Visenya falou indignada.

Rhaenyra lançou um olhar para a filha para que parasse de escalonar a discussão. Daemon, ao contrário, parecia se divertir com a cena, os olhos faiscando de prazer mal disfarçado.

Viserys, porém, não compartilhou da mesma indulgência. Bateu a bengala no chão com força, a mesa inteira vibrando.

— Basta!

O eco da voz do rei percorreu o salão, gelando o sangue das crianças. Aemond ainda tremia, mas baixou os olhos, sem coragem de enfrentar o pai.

— Somos uma família — continuou Viserys, a respiração pesada — e não vou permitir que nos devoremos à mesa como cães brigando por ossos. Se houver mais insultos, juro pelos Sete que pessoalmente mandarei cada um de vocês para seus aposentos sem jantar!

O silêncio se prolongou. Até Daemon se inclinou para trás, escondendo um sorriso sob o cálice.

Aemond sentou-se de novo, rígido, os punhos cerrados sob a mesa. Por dentro, no entanto, o fogo só ardia mais forte.

"Eu vou provar que sou mais do que todos eles. Um dia, eles vão se curvar diante de mim."

O jantar seguiu em silêncio constrangedor, mas para Alicent cada segundo parecia uma tortura. Ela mantinha os olhos fixos no prato, tentando ignorar o olhar satisfeito de Daemon e a frieza de Rhaenyra. Mas por dentro queimava de fúria — não contra Aemond, mas contra a situação inteira.

Assim que a refeição terminou e os filhos foram levados por criados para os aposentos, Alicent se aproximou de Aemond. Encontrou-o no corredor, o rosto ainda ruborizado, os olhos marejados de vergonha e raiva.

— Você não deve se sentir inferior a eles, meu filho — disse, ajoelhando-se diante do menino para ficar à sua altura. Seus dedos afagaram os cabelos castanhos, uma ternura que contrastava com o veneno em sua voz. — Eles podem ter dragões, mas você tem algo muito mais importante. Você tem honra. Você tem fé.

Aemond não respondeu, apenas apertou os lábios, os punhos ainda cerrados. Alicent suspirou, pressionando-o contra o peito.

Foi então que Otto se aproximou, com aquele olhar frio que sempre fazia os netos se encolherem. Alicent ergueu os olhos para o pai, esperando palavras de consolo — mas não foi o que recebeu.

— Fé não monta dragões — murmurou ele, seco, encarando Aemond como se avaliasse um cavalo que não cumprira seu propósito. — Se quiser sobreviver neste mundo, menino, terá que conquistar o que é seu. Seja com astúcia… ou com força.

Aemond ergueu os olhos para o avô, e por um instante algo brilhou ali — uma mistura perigosa de ressentimento e determinação.

Alicent levou a mão ao ombro do filho, tentando protegê-lo da dureza das palavras. Mas Otto apenas se virou e se afastou pelo corredor, deixando atrás de si uma sombra mais pesada que antes.

A rainha beijou a fronte de Aemond, sussurrando com fervor:

— Não ligue para ele, meu amor. Você provará seu valor. Um dia, todos verão.

E no silêncio da fortaleza, o coração de Aemond ardia. 

 


 

Naquela noite, depois que os filhos adormeceram nos aposentos destinados a eles, Alicent permaneceu em frente à janela, os dedos entrelaçados sobre o peito, rezando em silêncio. A escuridão de Pedra do Dragão parecia mais densa do que em Porto Real, como se cada pedra do castelo estivesse impregnada de segredos antigos.

A porta rangeu quando se abriu, e ela não precisou virar o rosto para saber quem entrava. Otto se aproximou em passos firmes, o rosto iluminado apenas pela chama da lamparina que carregava.

— Eles são um desastre — disse sem rodeios, depositando a lamparina sobre a mesa.

Alicent fechou os olhos, a dor atravessando-lhe o peito como uma lâmina. — Não diga isso. Eles ainda são crianças.

— Crianças? — Otto bufou. — O herdeiro de Rhaenyra já voa em céus com dez anos! O outro já treina a montaria dele. E até a pequena Visenya fala de dragões como se fossem brinquedos que lhe pertencem.

Ele se aproximou, a sombra dele engolindo a figura delicada da filha. — Enquanto isso, os seus… — ele parou, o tom carregado de desdém — um bêbado que mal consegue se manter de pé, um menino ressentido que não passa de um fardo, e o caçula… um bebê chorão.

— Basta! — Alicent girou sobre os calcanhares, os olhos verdes faiscando de fúria. — Você fala deles como se não fossem seu sangue! Como se não fossem meus filhos!

Otto não recuou. — E é justamente por serem seus filhos que a responsabilidade é maior. Você os deu à coroa, Alicent, mas até agora, nenhum deles serve ao propósito.

Ela engoliu em seco, a voz tremendo. — Haelena… Haelena é tudo o que uma princesa deve ser.

— Haelena não tem um dragão. — A resposta veio seca, sem espaço para ilusões. — Sem dragão, o que é ela além de uma boneca bem vestida?

O silêncio caiu entre os dois, pesado, sufocante. Alicent sentiu as lágrimas arderem nos olhos, mas não permitiu que corressem.

— Eu rezo — disse, a voz firme, apesar do nó na garganta. — Eu rezo todos os dias para que os Sete deem forças aos meus filhos. Para que guiem Aegon a ser o rei que deve ser. Para que deem a Aemond o que ele deseja.

Otto a observou longamente, o olhar duro suavizando apenas um pouco. Aproximou-se e pousou a mão sobre o ombro da filha.

— Reze o quanto quiser, Alicent. Mas dragões não respondem a preces.

Ela cerrou os lábios, encarando o pai com uma chama teimosa nos olhos. — Então vamos encontrar alguma outra forma. Não permitirei que Rhaenyra triunfe sobre nós.

Otto inclinou a cabeça, satisfeito, e deixou os aposentos. Mas quando a porta se fechou, Alicent finalmente deixou as lágrimas escorrerem.

Notes:

Idades dos filhos de Alicent:

Aegon - 15 anos
Haelena - 13 anos
Aemond - 11 anos
Daeron - 9 anos

Idade dos filhos de Rhaenyra:

Aenar - 10 anos
Rhaegal - 8 anos
Visenya - 6 anos
Baela - 2 anos

E a mulher ainda está grávida então vem mais por aí hauahauhaua

Chapter 21: Capítulo 20

Notes:

Alto valiriano em itálico

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ano 128d.C 

Pedra do Dragão

 

Na manhã seguinte, o ar de Pedra do Dragão parecia mais pesado do que nunca. O vento que vinha do mar trazia o sal e o rugido distante de criaturas aladas que se ocultavam nas nuvens. Aemond acordara cedo, o coração batendo com força — aquele era o dia que ele esperava desde que se entendia por gente.

Os Cuidadores de Dragões, homens de fala baixa e roupas queimadas pelo tempo e pelo fogo, conduziram os filhos da Rainha pelos corredores até uma passagem que descia em direção ao ventre de Monte Dragão. As paredes de pedra estavam marcadas por garras antigas, e o ar se tornava cada vez mais quente e sulfuroso. 

É aqui que guardamos o futuro da casa Targaryen — murmurou um dos Cuidadores, em valiriano. Aemond entendeu apenas o nome Targaryen, mas bastou para inflamar sua ansiedade.

A passagem desembocava em uma vasta caverna. O chão era de pedra negra, rachada por veios incandescentes que exalavam fumaça. Ali estavam os ovos, dispostos sobre nódulos de rocha aquecida, cada um irradiando um calor próprio, e ali também dormiam os filhotes — dragõezinhos com asas frágeis, que guinchavam baixo em sonhos agitados.

Aemond avançou primeiro, o peito inflado de expectativa. Era como se finalmente fosse completar o que lhe faltava. Os olhos fixaram-se em um dragãozinho de escamas azuis que roía um osso fumegante. Aproximou-se, a respiração curta.

— É meu — murmurou para si mesmo, erguendo a mão.

O filhote ergueu a cabeça, as pupilas como fendas douradas, e soltou um silvo estridente. O cheiro de enxofre ardeu nas narinas de Aemond. O pequeno monstro cuspiu uma labareda curta, o suficiente para chamuscar a manga da túnica do príncipe. O garoto recuou, o orgulho ferido.

Atrás dele, Daeron já havia tentado se aproximar de outro filhote — este cinzento e cheio de manchas pretas no corpo — mas o dragãozinho se virou, as asas abertas, e soltou um guincho que ecoou pela caverna. Daeron correu de volta, os olhos marejados.

Aegon, entediado, sequer tentou. Balançava a cabeça, com a ressaca ainda estampada no rosto. — São só lagartos cuspidores de fogo. Não vejo por que tanto alarde — disse, provocando um olhar de desgosto de Haelena.

Ela, delicada e cuidadosa, aproximou-se de um dos ninhos. Tocou o ovo com a ponta dos dedos, murmurando palavras suaves. Mas não houve canto, nem brilho, nem sinal algum de aceitação. O ovo continuou quieto, inerte, como se tivesse adormecido para sempre.

Determinado, Aemond tentou se aproximar de todos os filhotes, todos os ovos. Haelena fez o mesmo. Já Daeron ficou muito assustado depois do primeiro e não tentou mais.

Um dos Cuidadores pigarreou, desconfortável. — Nem todos são escolhidos, Altezas. Às vezes leva tempo… às vezes nunca acontece.

Eles não entenderam o que foi dito, mas Aemond identificou o tom de pena na voz do homem. Ele pensou nos sobrinhos que não estavam ali, mas que já voavam sobre os céus em suas montarias. Sentiu a humilhação queimar em seu peito. Não era apenas por não ter dragão. Era por ser sempre menos do que os outros. Menos do que os filhos de Rhaenyra.

Na saída da caverna, os quatro irmãos estavam em silêncio. Aegon apenas suspirava, impaciente por voltar ao vinho. Haelena parecia absorta, tocando a palma da mão ainda quente dos ovos que havia acariciado. Daeron fungava, com a vergonha ainda fresca nos olhos.

Mas em Aemond, algo diferente havia nascido. Não um dragão. Mas um ódio fervente, uma chama que crescia dentro dele, queimando mais do que qualquer fogo que cuspisse das entranhas do monte.

 


 

No salão de Tamborpedra, o jantar estava servido, mas o clima era outro. Viserys estava com o cenho franzido, apoiado em sua bengala. Os filhos de Alicent voltaram silenciosos da caverna, e todos percebiam que algo havia dado errado.

— Então? — perguntou o Rei, a voz carregada de esperança. — Algum de vocês foi escolhido?

Aegon, ainda de má vontade, encolheu os ombros. — Não.

Daeron abaixou os olhos, Haelena apenas suspirou, e Aemond, rígido como uma lança, não respondeu.

O silêncio que se seguiu foi esmagador. Viserys respirou fundo, desapontado. Alicent pousou a mão sobre o braço do marido, como quem queria poupá-lo da vergonha, mas Otto mantinha o olhar fixo nos netos, com a frieza de um juiz.

Foi então que Rhaenyra quebrou o silêncio, sua voz calma mas com um fio de ironia:

— Não precisam desanimar, meus irmãos. Se não tiveram sucesso com os filhotes talvez estejam destinados a um dragão adulto. Se desejarem, podem tentar escalar o Monte Dragão. As cavernas da montanha são seus lares. Os Cuidadores podem guiá-los e instruí-los.

Escalar o Monte Dragão não era um feito para crianças — nem para homens comuns. Era um risco, mas também uma honra.

Alicent ergueu o queixo. — Meus filhos não são camponeses para escalar rochedos como mineradores.

Daemon soltou uma gargalhada seca, cruzando os braços. — Cunhada, você acha dragões ficam em lugares de fácil acesso, esperando para serem reivindicados? Se quiserem dragões, tem que ir até eles. Os Cuidadores daqui têm experiência em explorar as cavernas, eles também podem instruir seus filhos na forma correta de se reivindicar um dragão adulto.

Viserys pigarreou — Isso talvez seja um pouco difícil Daemon. Veja, os Cuidadores só falam em Alto Valiriano....

Daemon levantou uma sobrancelha — E? Não ensinou nossa língua materna a seus filhos? — disse a última frase em alto valiriano.

Viserys negou com a cabeça — Minha saúde não é mais a mesma, não pude me envolver na educação deles diretamente, deixei para os maesters.

— Maesters! Até os essosi com seu valiriano bastardo falam melhor que eles — Daemon riu zombeteiro — Um Targaryen que não fala nossa língua materna pode se chamar de Targaryen?

Naquilo, Alicent não conseguiu ficar mais calada — Meus filhos nasceram em Westeros, como Westerosi a língua materna deles é a nossa!

— Então dê logo a eles o sobrenome Hightower, vai se encaixar melhor — Daemon gargalhou

— Daemon! — repreendeu o Rei, seguido pela princesa.

Valzȳrys, a educação dos meus irmãos não é nossa responsabilidade, deixe a decisão com os pais deles.

Aemond apertou os punhos debaixo da mesa. Sentia cada olhar sobre si, cada gargalhada abafada dos primos. O som da língua valiriana enquanto eles falavam entre si era como uma barreira erguida entre eles. Ele era Targaryen… mas não o suficiente.

Daemon murmurou algo em alto valiriano, fazendo seus filhos rirem baixo, entendendo cada sílaba. O som dessa língua parecia zombar dos filhos de Alicent mais do que qualquer palavra em comum poderia.

Rhaenyra e Daemon então começaram a ter uma conversa em Alto Valiriano. Aemond não entendia nada mas Daemon parecia perder o seu bom humor.

— É falta de educação conversar em uma língua que nem todos na mesa podem entender — murmurou a sua mãe, mais para si do que qualquer outra coisa. Viserys se virou para ela.

— Rhaenyra está tentando convencer Daemon a guiar nossos filhos em Monte Dragão, ele conhece as cavernas tão bem quanto os Cuidadores.

Aemond arregalou os olhos, mas Alicent pareceu ficar ainda mais desconfiada — Daemon sozinho com meus filhos? Nem pensar!

Aemond se virou em direção a mãe — Mas um dragão... não podemos perder essa oportunidade!

Otto assentiu — O filho tem mais senso que a mãe... se a oportunidade surgir, eles vão Alicent.

A Rainha bufou, mas aceitou — Apenas se homens da Guarda do Rei forem com eles.

A discussão entre Daemon e Rhaenyra pareceu chegar a uma conclusão. Daemon suspirou obviamente irritado.

— Se vamos fazer isso, vocês têm que prometer que vão obedecer. Se aproximar de um dragão adulto, ainda que jovem, é perigoso. Não podem se afastar de mim e ir explorar sozinhos se amam a sua vida.

Aemond foi o primeiro a assentir, sério. Daeron e Haelena também o fizeram, a memória do que aconteceu com Daeron ao tentar reivindicar Dreamfyre ainda fresca. Aegon não queria ir, mas sabia que não teria escolha, e concordou também.

 

Notes:

Estão prontos para o Aemond perder um olho?

Os filhotes que rejeitaram eles foram Tessarion e Moondancer.

Valzȳrys significa Marido

Chapter 22: Capítulo 21

Notes:

Alto valiriano em itálico

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Chapter Text

Ano 128d.C 

Pedra do Dragão

 

Me lembre de novo, por que estou fazendo isso? — Daemon estava usando roupas confortáveis e resistentes.

Era uma manhã raramente ensolarada em Pedra do Dragão, perfeito para subir uma montanha. Como se os próprios deuses tivessem aprovado o plano de Rhaenyra.

Porque, e pode me chamar de rancorosa, quero olhar na cara de Alicent e Otto quando não tiver mais nenhuma alternativa para o sangue deles conseguir dragões — Rhaenyra abraçou o marido, ainda com sua roupa de dormir — É para isso que eu os permiti vir para nossa ilha, porque quero que eles e meus meio irmãos vejam que nós, e nossos filhos, somos melhores do que eles.

Daemon riu baixinho — Eu adoro esse seu lado impiedoso

Eu sei

Eu ainda vou querer uma recompensa por ter que aguentar aqueles pirralhos o dia todo — Daemon flertou, passando os braços pela cintura da esposa.

Eu prometi, não foi? Só não os deixe morrer, ou vão nos culpar

 


 

A subida de Monte Dragão era árdua, o terreno íngreme e coberto de pedras negras que queimavam sob as botas. Daemon caminhava à frente, o passo firme e a espada em sua cintura refletindo o brilho avermelhado das fumarolas que escapavam das fendas da montanha. Atrás dele, seguiam os filhos de Alicent, protegidos por cavaleiros da Guarda Real.

— Ainda falta muito? — Aegon resmungou pela terceira vez, limpando o suor da testa com a manga da túnica. Sua respiração era curta e impaciente. — Essa maldita montanha não acaba nunca.

Daemon lançou-lhe um olhar de desprezo por cima do ombro. — Se não aguenta andar, muito menos aguentará um dragão. — A voz dele gotejava ironia.

Daeron, menor e mais frágil, tropeçava frequentemente, mas fazia esforço para não reclamar. Haelena caminhava em silêncio, observando as formações de rocha, como se procurasse padrões escondidos. Já Aemond mantinha o queixo erguido, os olhos fixos na trilha que se abria adiante. Seu silêncio não era fadiga, mas determinação.

Depois de quase uma hora de escalada, o grupo alcançou a entrada de uma caverna larga. O ar dali era pesado, carregado de enxofre. Daemon ergueu a mão, mandando que parassem.

Do fundo da escuridão, veio um som grave, quase como o rugido distante de trovões. Dois olhos dourados brilharam na sombra, e logo o corpo escamado de um dragão emergiu à luz. Suas asas se abriram, refletindo tons de ouro polido.

— Sunfyre — murmurou Daemon, em um tom quase reverente. — Jovem ainda, mas grande o bastante para carregar um cavaleiro.

Os príncipes arregalaram os olhos. O coração de Aemond disparou. Era essa a chance que ele tanto esperara.

Daemon avançou alguns passos e virou-se para eles. — Ouçam bem: Aproximem-se devagar. Falem baixo. Se a fera mostrar os dentes, fujam. — Sua expressão endureceu. — Dragões não têm piedade.

Ele então ensinou algumas palavras simples em alto valiriano, repetindo até que cada um fosse capaz de pronunciar ao menos de forma compreensível: “Dohaeris” (servir), “Lykirī” (calma), “Umbās” (não tema) e, caso conseguissem montar a criatura, "Sōves" (voe).

Um a um, os filhos de Alicent tentaram. Aegon avançou primeiro, mais por desafio do que por coragem. — Lykir… lykirī, maldita fera — disse, a voz arrastada. Sunfyre ergueu a cabeça, bufando fumaça. Aegon recuou imediatamente, empalidecido.

Haelena tentou em seguida, os olhos baixos, a voz trêmula mas doce. O dragão inclinou a cabeça, curioso por um instante, antes de soltar um estalo das mandíbulas que a fez correr de volta em pânico.

Daeron hesitou, mas forçou os pés a se moverem. Murmurou as palavras como Daemon ensinara, mas sua voz mal era audível. Sunfyre sequer se incomodou em responder, voltando a se aninhar sobre a pedra quente.

E por fim Aemond. Ele caminhou mais do que os irmãos ousaram, os olhos fixos na criatura dourada. — Dohaeris — disse, a voz firme. Mas Sunfyre virou o pescoço, liberando uma baforada de fumaça tão quente que fez o ar tremer. Daemon o puxou de volta antes que fosse engolido pelas chamas.

— Não hoje — disse o príncipe, os olhos semicerrados. — Sunfyre não quer nenhum de vocês.

A jornada prosseguiu. Mais acima, uma nova abertura se revelou, exalando calor quase insuportável. Daemon parou diante dela, sério.

— Aqui não. — Sua voz era cortante. — É a toca de Vermithor… e de Silverwing. São velhos, enormes e perigosos. Não arriscaremos. Continuem.

Ele retomou a marcha, e os cavaleiros da Guarda seguiram. Mas Aemond ficou para trás. Seu coração ardia em fúria. Quantas vezes seria rejeitado? Até quando teria que assistir os filhos de Rhaenyra ostentarem dragões e orgulho valiriano, enquanto ele não passava de um meio-sangue sem chama?

Os olhos azuis se fixaram na escuridão da caverna. Ele respirou fundo e avançou.

O ar ali dentro era sufocante, o chão coberto de ossos e cinzas. De repente, uma sombra colossal moveu-se. O rugido que veio depois sacudiu as paredes. Vermithor, o Fúria de Bronze, abriu suas asas como muralhas vivas, os olhos como dois sóis incandescentes.

Aemond tentou repetir as palavras que Daemon ensinara, mas a língua tropeçou em sua boca. — D-dohae… Umbās…

A resposta foi um rugido ensurdecedor. Chamas explodiram do fundo da garganta da besta, iluminando a caverna em vermelho e ouro. Aemond tentou correr, mas o chão tremeu com o avanço do dragão. Uma garra desceu como um raio, atingindo-lhe o rosto. A dor foi lancinante, o sangue escorreu, e tudo virou caos.

Foi nesse instante que Ser Criston Cole surgiu, espada em punho. — Príncipe! — gritou, correndo até ele. Agarrou Aemond pelos ombros e o puxou com força. O calor das chamas lambeu a capa do cavaleiro, que a jogou para trás, erguendo o escudo para proteger o menino.

Vermithor rugiu novamente, cuspindo fogo contra as paredes, mas Criston conseguiu arrastar o príncipe para fora da caverna. O cheiro de carne queimada e enxofre enchia o ar.

Do lado de fora, os cavaleiros se ergueram em alarme quando viram Criston e o príncipe ensanguentado. O olho esquerdo de Aemond estava coberto de sangue, a pálpebra rasgada. Ele gritava de dor, mas se debatia para se levantar, como se ainda quisesse voltar.

Daemon observava a cena, os olhos estreitos e impiedosos. — Garoto estúpido. — Sua voz soou baixa, mas cortante. — Dragões não são brinquedos para meninos ambiciosos.

 


 

O salão da Torre Tamborpedra ficou em silêncio quando a Guarda Real entrou às pressas, carregando o príncipe Aemond. O garoto gritava de dor, o rosto coberto de sangue, o olho esquerdo aberto em um corte horrível. Ser Criston vinha ao lado, capa queimada e fuligem nos cabelos, cambaleando de dor das queimaduras que obteve.

Viserys levantou-se com esforço, apoiado em sua bengala, o semblante abalado. — Meus deuses… Aemond! — Ele cambaleou até o filho, tentando tocar-lhe o rosto, mas os cavaleiros já o deitavam sobre a mesa para que o maester o atendesse.

— O que aconteceu?! — Alicent rompeu em prantos, correndo até o menino. O vestido verde arrastava-se pelas pedras do chão, a estrela dos Sete em seu peito tremia. — O que fizeram com o meu filho?!

Daemon, encostado à parede com os braços cruzados, não se moveu. Seus olhos frios acompanharam a cena, mas sem compaixão.

Foi Ser Criston quem respondeu, ainda ofegante: — Vossa Graça, o príncipe Aemond… desobedeceu. Príncipe Daemon ordenara que passássemos adiante, pois a caverna era perigosa. Mas o príncipe entrou sozinho. Tentei salvá-lo… e consegui arrastá-lo para fora antes que Vermithor o queimasse vivo.

Um murmúrio correu pelo salão. Otto cerrava a mandíbula, o olhar sombrio.

Viserys fechou os olhos, exalando um suspiro cansado. — Quantas vezes disse a vocês… que reivindicar um dragão é correr risco de vida? Que até mesmo nós, filhos do fogo, não temos garantias? — Sua voz embargou, mas logo se endureceu. — Você foi tolo, Aemond. Tolo e imprudente! Este ferimento é consequência dos seus próprios atos.

— Pai… — gemeu o menino, a voz arrastada, tentando erguer-se. — Eu só queria… um dragão…

Viserys pousou a mão em seus cabelos, a tristeza pesando em cada gesto. — E por isso você quase perdeu a vida.

— Não! — Alicent gritou, a voz histérica, ecoando pelas paredes de pedra. — Não, não foi culpa dele! Isso foi armado! — Seus olhos flamejavam ao se voltarem para Daemon e Rhaenyra, que observava a cena em silêncio, os lábios cerrados. — Vocês o conduziram até a morte! Foi um plano para matar o meu filho!

Daemon soltou uma gargalhada breve, sem humor. — Se eu quisesse matá-lo, rainha, não o teria trazido de volta.

— Cale-se, demônio! — Alicent tremia de fúria. — Ele perdeu um olho! Um olho por nada! — Virou-se para o marido, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Exijo reparações! Olho por olho! Que um dos filhos dela… que uma das aberrações incestuosas dela… perca um olho também!

O silêncio caiu como uma lâmina. Rhaegal e Visenya, que estavam junto das amas ao fundo, recuaram instintivamente. Aenar estava ao lado da mãe, que colocou um braço protetor em seus ombros.

Viserys fechou o punho, a voz erguendo-se em tom de comando. — Basta, Alicent! Já chega! — Ele virou-se para a esposa, os olhos marejados mas duros. — Você perdeu a razão. Os cavaleiros são testemunhas: Aemond entrou por vontade própria, contra as ordens. Não haverá reparações. Não haverá vingança.

Alicent arfava, o rosto ruborizado pela ira e humilhação. — Você escolhe ela, sempre ela! — apontou um dedo trêmulo para Rhaenyra, a voz quase um soluço. — Essa bruxa maldita!

Nesse momento, Rhaenyra ergueu-se de sua cadeira. Seu olhar era frio como gelo e sua postura, de uma rainha em pleno comando.

— É o suficiente. — Sua voz cortou o ar como lâmina. — Não permitirei que minha família seja ameaçada em minha própria casa. Vocês vieram à minha ilha como hóspedes, e eu os recebi com cortesia. Em troca, acusam, exigem sangue e semeiam discórdia.

Ela fez uma pausa, os olhos percorrendo um a um os presentes. — Basta. Recolham-se. Ao amanhecer, partirão de Pedra do Dragão.

Daemon sorriu de canto, satisfeito. Otto estreitou os olhos, mas nada disse. Alicent, em lágrimas, agarrou a mão do filho ferido. Viserys, derrotado, deixou-se cair na cadeira, a sombra da dor gravada em seu semblante.

 

 

Notes:

E essa foi a visita dos Verdes em Pedra do Dragão! foi tudo aquilo que vocês esperavam?

Sabe que foi agora que percebi que Ser Criston nem tinha sido mencionado na fic? Bem, nessa história ele foi escolhido pela Nyra para ser parte da Guarda do Rei, mas não chegou a ser seu escudo pessoal (foi durante o tempo dela como herdeira e ela confiava mais em Ser Harwin, que foi aprovado por Daemon), enfim, ele é só mais um cavaleiro da Guarda sem um relacionamento mais próximo com a Nyra. Sem importância como sempre deveria ser hauahauahahah

Também recebi um comentário (não lembro quem nem se foi no wattpad ou no ao3, me desculpe) perguntando sobre a Mysaria. Talvez eu tenha deixado implícito demais, mas Daemon mandou matarem ela quando descobriu que ela estava envolvida nos rumores contra Rhaenyra. Infelizmente ele não descobriu o envolvimento de Larys, o cara é bom em sumir com seus rastros.

Chapter 23: Capítulo 22

Notes:

Alto valiriano em itálico

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Chapter Text

Ano 127d.C

Porto Real

 

A viagem de volta a Porto Real fora silenciosa. O vento carregava o cheiro do mar, mas no convés do navio real não havia canto nem riso. Alicent permanecera ao lado de Aemond, cuidando de seu ferimento, repetindo juras de vingança a cada oração sussurrada aos Sete. Aegon, entediado, buscava o vinho sempre que podia. Haelena se distraia com as costuras que bordava. Daeron seguia a sombra de um dos membros da Guarda Real, sem voz própria.

Mas era Otto quem mais se mantinha desperto, os olhos fixos no horizonte, como se buscassem nas ondas as respostas que Pedra do Dragão lhe negara. Dragões estavam fora de alcance. Então, era hora de recorrer às armas mais antigas: alianças, ouro e lealdade jurada.

No salão da Torre da Mão, em Porto Real, Otto desenrolou os mapas de Westeros sobre a mesa. Pontos de cera marcavam os castelos que realmente importavam.

— O Mar Estreito pertence ao Serpente Marinha — disse ele em voz baixa, como quem conversa consigo mesmo. — Sua frota é a maior e eles têm dragões, mas a esposa e os filhos são próximo demais de Rhaenyra. E Corlys é muito ambicioso, ele não aceitará nada menos que sangue dele no trono. Não… não posso dar a ele essa vantagem.

Seus olhos pararam sobre Rochedo Casterly. A terra dourada dos Lannister, onde o ouro brotava das pedras como água de fonte. Otto assentiu para si mesmo.

— Dinheiro vence guerras. Dinheiro compra espadas, navios, lealdades. — Ele traçou uma linha com o dedo até Porto Real. — Aegon será prometido a Jeyelle Lannister, filha de Lorde Jason. Assim, as Terras Ocidentais e Porto Real estarão unidos.

Mais ao sudeste, sobre Ponta Tempestade, Otto fixou outro ponto de cera.

— Os Baratheon podem levantar dez mil homens ao estalar dos dedos. Rudes, mas fiéis quando bem atados. Aemond terá Floris Baratheon, a mais nova, mais próxima em idade.

Ele ficou em silêncio por um instante, olhando o mapa. Restava Haelena. A menina perfeita aos olhos da mãe, mas sem dragão nem armas próprias além da fertilidade e o sangue valiriano que Otto pretendia usar como moeda.

— Os Tully são senhores das Terras Fluviais em nome, mas não têm total controle da região. Os Tyrell têm campos férteis, mas a Coroa já tem ligação com a Campina através dos Hightower. E os Stark… famosos pelos seus guerreiros e sua lealdade, mas distantes e desinteressados com Sul. — Ele suspirou, batendo levemente os dedos na mesa. — Para Haelena será preciso mais cálculo. Um presente que ainda não sei a quem dar.

Quanto a Daeron, Otto mal concedeu ao nome um segundo de pensamento.

— O terceiro filho pouco vale no jogo do poder. Melhor criá-lo em Vila Velha, onde aprenderá disciplina e fé entre seus tios Hightower. Mais tarde… pode ser útil. — Sorriu de canto, frio como aço. — Ou descartável.

A porta abriu-se suavemente. Alicent entrou, o rosto ainda marcado pelo pranto, mas os olhos firmes.

— E o que será de Aemond, pai? — perguntou ela, aproximando-se. — Sem um olho, sem dragão…

Otto ergueu o olhar para a filha, e seus olhos cinzentos faiscaram com a luz das tochas.

— Ele terá uma esposa Baratheon, e com ela milhares de espadas atrás de si. — Sua voz não admitia hesitação. — Exércitos marcham sem se importar com olhos. Não temos dragões, mas com ouro, ferro e fé, manteremos o trono de Aegon.

Alicent respirou fundo, os lábios trêmulos. — E quando a hora chegar? E se Rhaenyra se recusar a se ajoelhar a Aegon?

Otto apoiou as mãos sobre a mesa, inclinando-se. Era raro sua filha trazer um bom ponto, principalmente um no qual ele ainda não tinha pensando antes — Talvez precisemos de uma aliança com Dorne.

Ele já sabia como iria usar Haelena.

 


 

Pedra do Dragão

 

No último mês do ano, os sinos de Pedra do Dragão soaram em júbilo. Entre as paredes de basalto da antiga fortaleza dos Conquistadores, Rhaenyra deu à luz a outro menino. Chamaram-no Aerion, em memória do primeiro cavaleiro de dragão das lendas valirianas, um nome digno da linhagem que buscava preservar.

O berço do recém-nascido fora adornado com ouro e seda escarlate. Sobre os lençóis repousava um ovo reluzente, manchado de preto e azul, era de uma ninhada de Silverwing, como o ovo de Baela, pois Syrax não tinha gerado outra ninhada. 

Ela esperava que esse fosse nascer, pois ela sabia por experiência própria que nada se comparava a crescer com sua alma ligada a um dragão. Mas, se como Baela isso não acontecesse, haviam muitos dragões na ilha para ele reivindicar, quando fosse a hora.

Daemon observava a criança em silêncio, as chamas das tochas refletindo em seus olhos. Rhaenyra, cansada mas serena, acariciava a cabeça do filho. — Ele terá fogo nas veias, como seus irmãos — murmurou ela. — E não se curvará diante de ninguém.

Mas a alegria da chegada logo se entrelaçou às sombras trazidas por corvos vindos de Porto Real. Os espiões de Daemon eram discretos, homens e mulheres comprados pelo ouro ou pelo temor, e suas mensagens vinham sempre cifradas. Naquela noite, ao lado da mesa esculpida em forma de Westeros, o casal leu os pergaminhos.

— Aegon prometido a uma Lannister. Aemond a uma Baratheon. — Rhaenyra deixou escapar uma risada fria. — Otto constrói muralhas de alianças porque não pode erguer dragões para defendê-lo.

Daemon ergueu uma taça de vinho, divertido. — Mandar Daeron para Vila Velha é quase cruel. O menino parece mais uma sombra que uma criança, nem dá para acreditar que ele tem a mesma idade de Rhaegal — Bebeu um gole e apoiou a taça sobre o mapa. — Otto planta espinhos para disfarçar o vazio que são os filhos de Alicent.

Mas nem tudo trazia motivo de escárnio. No último pergaminho, a caligrafia era apressada, quase trêmula: Otto Hightower buscara contato com Dorne. Possível noivado para a princesa Haelena.

Rhaenyra silenciou, o olhar se fixando na chama da vela mais próxima. — Dorne… o reino que lembrou ao mundo que até dragões podem cair. Foi ali que Meraxes tombou, que a Rainha Rhaenys pereceu. — Ela apertou o pano sobre os ombros, como se o frio da lembrança a tocasse. — Se eles ainda sabem forjar escorpiões, Otto poderá nos ferir sem jamais ter dragões.

Daemon inclinou-se sobre a mesa, os dedos tamborilando o continente de pedra. — Então temos que parar isso enquanto ainda está em fase inicial. — Seu sorriso era um corte de navalha. — Podemos até usar a arma preferida de Otto, os sussurros.

Rhaenyra ergueu o olhar, decidida. — Que nenhum tratado seja assinado. Que nenhum juramento seja feito. Nós apagaremos a chama antes que se acenda.

Naquela noite, ordens foram enviadas em segredo. Mensagens ocultas em remessas de vinho, sinais gravados em moedas, palavras ditas por mercadores. Os espiões de Pedra do Dragão deveriam se espalhar pelo sul, prontos para semear desconfiança entre o príncipe de Dorne e o Trono de Ferro, para que nenhum acordo florescesse.

Enquanto isso, Aerion dormia tranquilo em seu berço, o ovo de dragão aquecido ao seu lado. A inocência do recém-nascido contrastava com o fogo e a escuridão que se acendiam além das muralhas.

 


 

Ano 128d.C 

Porto Real

 

O casamento de Haelena com o Príncipe Qoren Martell poderia selar um pacto capaz de equilibrar a balança contra Pedra do Dragão. Dorne era o único reino que nunca se curvara à conquista. Suas lanças afiadas e lembranças amargas do sangue de Rhaenys ainda pesavam sobre todos os Targaryen. Para Otto, unir o Sol de Dorne à coroa era dar ao seu neto Aegon uma fundação inabalável.

Mas o que se planeja em silêncio pode ser destruído pelo que se sussurra em mercados.

Os primeiros boatos surgiram discretos, carregados por mercadores que cruzavam a Passagem. “A princesa Haelena é bela, sim, mas delicada demais. Seus ossos não suportariam o calor de Dorne.” Outros diziam que seus pulmões frágeis se definhariam no ar seco do deserto, que não sobreviveria a uma gravidez sequer, e muito menos às exigências de um leito nupcial dornês.

As palavras ganharam vida nas feiras de Lançassolar, nos pátios de Jardim de Areia e nos acampamentos dos senhores nômades. Logo, o rumor já era mais forte que qualquer promessa escrita.

Havia ainda algo mais sombrio. Vozes anônimas espalhavam que a Casa Real estava marcada pela mão dos deuses. “Veja: filhos sem dragões, ovos que esfriam nos berços, herdeiros rejeitados pelas feras aladas. Não é fraqueza, é maldição. Os próprios deuses deles se voltaram contra eles.”

Esses sussurros não vinham de nenhum emissário oficial, mas para o príncipe de Dorne bastava a dúvida. Pois se os deuses realmente amaldiçoavam a família, por que unir o Sol ao que estava condenado a definhar?

Em Porto Real, quando as respostas dornesas chegaram, Otto percebeu o golpe. A linguagem era cortês, mas as entrelinhas estavam frias: “Dorne não deseja alianças que tragam enfermidade ou desgraça às suas terras.

Alicent leu a carta em silêncio ao lado do pai, os dedos crispados sobre o pergaminho. Seus olhos marejados brilhavam de raiva. — Eles ousam chamar minha filha de frágil? Uma princesa de Dorne não é mais forte que ela!

Otto fechou os olhos, controlando o próprio ímpeto. Sabia que não fora acaso. Os rumores tinham sido forjados, lançados com precisão de lâmina.

O fracasso com Dorne não o faria desistir. A cada rumor espalhado, Otto jurava erguer um muro mais alto de alianças.

Notes:

Lembrando a todos que mesmo sem dragões os Targaryen continuaram no trono por uns 200 anos, acho? Foi preciso uma rebelião do Norte, Vale, Terras Fluviais e Terras da Tempestade (e no final as Terras Ocidentais se envolveram também) pra tirar eles do trono. Então é totalmente possível os Verdes conseguirem manter o trono mesmo sem dragões.

Nessa fic, Rhaenyra está mais interessada em fortalecer a linhagem, que foi a missão dada a ela por Visenya, e não está disposta a arriscar isso pela coroa. Só que Otto e Alicent não sabem disso, por isso estão loucos para tentar impedir que Rhaenyra usurpe Aegon (que irônico não é?).

Enfim, talvez haja mais um Time Skip no próximo capítulo. De acordo com o que eu planejei, a história deve terminar no Capítulo 26.

Chapter 24: Capítulo 23

Notes:

Alto valiriano em itálico

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ano 134d.C 

Pedra do Dragão

 

Rhaenyra apoiava o queixo na mão, os olhos fixos na moldura da janela que se abria sobre os jardins internos do castelo. O sol da tarde caía suave sobre a relva, dourando os cabelos prateados de seus filhos mais novos que corriam em meio às flores, rindo e gritando como se o mundo fosse apenas deles. Ao lado deles brincavam as filhas de Laena, e juntas as crianças transformavam o pátio em um reino de risos, onde a inocência ainda reinava.

O som era uma melodia para a princesa — doce, rara, preciosa.

Haviam se passado seis anos desde a visita de seu pai a Pedra do Dragão. Seis anos de paz, de estabilidade, de felicidade familiar como jamais havia experimentado.

Três anos atrás, o destino lhe dera o presente mais inesperado: gêmeos. Um menino, Maelys, e uma menina, Alyssa. A pequena nascera com olhos de duas cores — um violeta profundo, o outro verde como esmeralda — herança da avó que lhe dera o nome. 

Mas não era apenas sua família que florescia. Pedra do Dragão prosperava como nunca.

Os antigos livros valirianos, descobertos e estudados com cuidado, haviam revelado segredos das artes construtivas que permitiram a Valíria erguer suas maravilhas. Com eles, reconstruíram a pequena cidade da ilha. Onde antes existiam cabanas frágeis, agora se erguiam casas simples, mas firmes, de pedra moldada, que protegiam do frio e refrescavam no calor.

As ruas haviam sido pavimentadas com lajes polidas, um sistema de esgotos mantinha a cidade limpa, e até uma casa de banho fora construída, com águas aquecidas pelo vulcão.

Daemon, inquieto como sempre, levara a ambição além. Inspirados por Pedra do Dragão, eles haviam começado a erguer um castelo em Pedra Sangrenta, a maior das ilhas de Passopedra. Era uma fortaleza de formas dracônicas, moldadas em pedra como se a ilha tivesse dado à luz a própria construção. Rhaegal aceitara com orgulho o título de futuro Lorde das Passopedras, e os pais moldavam as ilhas para que um dia ele governasse com segurança e prosperidade.

No presente, Passopedras vivia de impostos cobrados dos navios que aportavam em sua rota entre Essos e Westeros. Mas pouco a pouco colonos se fixavam nas ilhas. Talvez, quando chegasse o tempo de Rhaegal, o sonho de Daemon — transformar aquelas rochas solitárias em um centro de comércio — viesse a se concretizar.

Mas nem apenas de pedra e comércio viviam seus dias.

A missão que lhe fora dada pela Rainha Visenya jamais saíra de sua mente. A fé antiga, esquecida ou temida, precisava renascer. O septo de Pedra do Dragão fora transformado em um templo dedicado aos deuses valirianos. Outro templo erguera-se na cidade, e sacerdotisas vindas da Ilha Garra agora guardavam seus altares, mantendo as chamas acesas e os cânticos vivos.

No castelo, a sacerdotisa que servia no templo tornara-se também conselheira e mestra. Era ela quem ajudava a instruir os filhos da princesa, mostrando-lhes o caminho dos deuses e lembrando-lhes do sangue mágico que corria em suas veias.

Rhaenyra e Daemon haviam começado a ensinar Aenar, Rhaegal e Visenya sobre os segredos guardados nos livros da Rainha Visenya. Passavam-lhes lições de poder e cautela, para que soubessem que toda magia tinha um preço.

Um dia, pensava Rhaenyra, eles estariam prontos. Quando amadurecessem o bastante, seriam conduzidos à sala secreta onde os maiores segredos eram guardados. Ali, conheceriam o fardo e a glória de sua herança. Mas não antes. Ainda não.

Do jardim, as risadas das crianças subiam até a janela, puras como música. E Rhaenyra, por um instante, permitiu-se acreditar que a paz poderia durar para sempre.

— Minha princesa? Seu chá da tarde está servido — Uma garota magra de cabelos castanhos interrompeu as divagações de Rhaenyra.

— Estou indo Elinda — Com uma mão na leve protuberância na barriga, o começo de mais uma gravidez, Rhaenyra se virou para sentar a mesa.

O tempo passou e, como tudo em Westeros, até mesmo o círculo mais íntimo de Rhaenyra mudava.

Todas as suas antigas damas de companhia haviam se casado, deixando Pedra do Dragão para seguir o destino que a sociedade reservava às mulheres. Rhaenyra tinha investigado cada pretendente para ter certeza que elas seriam bem cuidadas, assim todas as suas damas tinhas se casado com pessoas de confiança. Mais notavelmente, Alayne tinha se casado com Ser Harwin Strong, seu leal escudo enquanto morava em Porto Real. O cavaleiro tinha solicitado sua saída da Patrulha da Cidade ao casar, para assumir seus deveres como herdeiro em Harrenhal.

Apenas uma permanecera ao seu lado: Jaenera.

Jaenera, tão leal quanto silenciosa, casara-se com um primo, filho de Lorde Celtigar. Não o herdeiro, mas um dos ramos secundários da família. O matrimônio não a afastara de Pedra do Dragão, pois seu marido, Ser Arthor, escolhera outro caminho. Havia lutado ao lado de Daemon durante as guerras nas Passopedras, ganhando seu respeito. Quando Rhaenyra se tornou Lady da ilha, Arthor aceitara com naturalidade ficar em Pedra do Dragão como parte da guarda do castelo. Assim, Jaenera não apenas continuava a servir a princesa, como o fazia com a segurança de ter o marido próximo, jurado à defesa de sua casa.

Mas mesmo a lealdade de Jaenera não bastava. O peso de Pedra do Dragão exigia que Rhaenyra tivesse um séquito digno de sua posição, tanto pela pompa como pela política. Assim, ela buscara novas damas de companhia entre as casas ligadas à Coroa.

Elinda Massey fora a primeira a se apresentar. A mais jovem entre elas, tinha apenas catorze anos. Rhaenyra via nela algo da si mesma de outrora — curiosidade ardente, desejo de aprender e uma centelha de ousadia que raramente se via em donzelas tão novas.

De seguida vieram as filhas solteiras das casas Sunglass e Seaworth, ambas enviadas por seus pais como sinal de lealdade à sua susserana.

Anysa Sunglass era de natureza calma, quase tímida, mas havia nela uma devoção discreta à família Targaryen, herdada de uma linhagem que servira fielmente os dragões desde a Conquista.

Ilyana Seaworth, por outro lado, trazia um frescor diferente. Jovem e sagaz, com o espírito prático de sua Casa que sempre prosperara no mar, mostrava-se atenta a tudo o que se passava à sua volta.

Juntas, as três compunham um círculo renovado. Não possuíam ainda a intimidade das damas anteriores, mas Rhaenyra via nas novas companheiras o início de laços que poderiam crescer com o tempo.

— Tem alguma notícia de lady Laena, princesa? — perguntou Jaenera, sentada à mesa com a serenidade que sempre carregava.

Rhaenyra ergueu os olhos de sua xícara. — Sei que continua suas aventuras em Essos, mas logo a saudade dos filhos deve bater.

— Certamente não é nenhum problema tê-los aqui, seus filhos os adoram — comentou Anysa Sunglass com um sorriso tímido, mas sincero.

Rhaenyra respondeu com a mesma ternura. — Laena é uma amiga querida, e Rhaenys, uma tia leal. É um prazer que meus filhos possam passar tempo com as crianças de Laena.

O destino da prima fora um dos mais discutidos dentro da Casa Velaryon. Por muito tempo, Laenor carregara o fardo das expectativas da família. Contudo, em certa noite, confessara aos pais uma verdade impossível de negar: nunca teria um herdeiro de sangue. Com franqueza dolorosa, contou que tentara no bordel de Derivamarca deitar-se com mulheres. Nada adiantara. Não importava os truques, as mãos habilidosas ou mesmo a presença de outro homem dividido entre eles — nenhum artifício conseguia fazer com que ele “terminasse o ato” necessário para gerar filhos.

Corlys, ainda que contrariado, foi obrigado a admitir o que todos já percebiam. Rhaenys, mais prática, aconselhou-o a desfazer o compromisso de Laena com o filho do Sealord de Braavos. O noivado, outrora prestigioso, perdera todo o valor com a morte do pai do rapaz. Restava apenas um contrato empoeirado sustentando a união.

O jovem braavosi, porém, era dado ao vinho. Bastou uma queda mal explicada de uma sacada alta — atribuída à bebida — para resolver o obstáculo de forma discreta. Ninguém em Derivamarca jamais voltou a mencionar seu nome.

Livre do contrato, Laena foi prometida a Dareon Velaryon, filho de Vaemond. Entre os primos, fora o mais jovem e menos ambicioso o escolhido, justamente por isso. Corlys e Rhaenys sabiam que um marido mais audaz poderia tentar reivindicar para si a herança de Laenor. Mas Dareon não — seu temperamento dócil era quase indiferente à política.

Mais do que isso, Dareon compreendia Laena. Ele aceitava sua natureza de sal e mar, mas também de fogo e sangue. Enquanto outros homens tentariam enjaular seus sonhos, ele não tinha qualquer intenção de impedir suas viagens no dorso do dragão.

Assim, Laena casou-se aos dezessete anos. Logo veio a gravidez, e com ela o suspiro de alívio da Casa Velaryon. Quando nasceu um menino saudável, Laenor não perdeu tempo em nomeá-lo seu herdeiro oficial. Chamaram-no Corryn, em homenagem a Lorde Corlys. Hoje, já treinava espadas com Aenar e Rhaegal nos pátios de Pedra do Dragão, sob a supervisão dos mestres de armas.

Anos depois, Laena deu à luz a gêmeas, Daenera e Rhaena. Com dez anos, eram inseparáveis companheiras de Visenya e Baela, compartilhando brincadeiras e segredos nos jardins e corredores do castelo. Suas gargalhadas ecoavam pelos salões de Pedra do Dragão como música, lembrando a todos que, apesar das intrigas e perigos, ainda havia espaço para a inocência.

Acariciando a barriga enquanto observava a conversa entre suas damas, Rhaenyra refletia em como o tempo passara rápido demais. Às vezes, quando se pegava observando os filhos, ainda se lembrava deles como pequenos no colo, com ovos de dragão nos berços. Agora, já eram quase homens e mulheres.

Aenar, com dezesseis anos, já não era mais menino. Montava o poderoso Arrax ao lado do pai, aprendendo a comandar com firmeza e, ao mesmo tempo, a ouvir o conselho dos mais velhos. Era sério e prudente, talvez o mais parecido com Rhaenyra em temperamento. Rhaegal, dois anos mais novo, despontava como um jovem ambicioso, sempre com o olhar voltado para as Passopedras, o domínio que herdaria. Montava Draxtar, um dragão de escamas verdes com detalhes marrons, e falava com naturalidade sobre impostos, comércio e sobre como tornar a ilha um centro florescente.

Corryn Velaryon, com quinze anos, seguia ao lado dos primos como se fosse mais um filho de Pedra do Dragão. Herdeiro do herdeiro de Derivamarca, ele se apegava mais aos Targaryen do que a qualquer outro. Corria pelos pátios com Rhaegal, como se fossem irmãos.

Visenya, a doce e impetuosa filha de Rhaenyra, tinha doze anos e já era cavaleira de dragão. Aegarax, o dragão branco com detalhes em azul, respondia a ela como se fosse parte de seu próprio coração. A menina dividia-se entre a espada e os adornos — podia tanto treinar horas no pátio como passar tardes inteiras experimentando joias herdadas das avós.

Baela tinha apenas oito anos, mas já mostrava seu caminho. Seus olhos ardiam quando se falava dos deuses ou da antiga magia valiriana. Rhaenyra sabia que o destino da filha talvez fosse mais próximo do templo do que da nobreza, mais bruxa e sacerdotisa do que Lady.

Já os ovos de Aerion, com seis anos, e dos gêmeos Maelys e Alyssa, de três, não haviam chocado. Mas em Pedra do Dragão isso nunca fora motivo de desespero. Havia dragões demais na ilha, alguns selvagens, outros ainda jovens, à espera de cavaleiros dignos. O tempo cuidaria disso.

As gêmeas de Laena, Rhaena e Daenera, completavam o círculo. Rhaena, de modos delicados e fala suave, parecia ter nascido para ser uma lady, cada gesto seu refletindo a educação paciente de Rhaenys. Daenera, ao contrário, rebelava-se contra qualquer etiqueta. Gostava do arco e flecha, da espada curta e das roupas mais práticas. Treinava escondida sempre que podia, e ria ao vencer escudeiros desavisados que a subestimavam.

Os laços entre eles eram fortes. Rhaegal e Corryn falavam sobre política e comércio como homens feitos. Visenya e as gêmeas passavam tardes entre dragões e jardins, oscilando entre brincadeiras inocentes e discussões sobre quem domaria primeiro os selvagens das cavernas do Monte Dragão. Baela, muitas vezes, retirava-se para ouvir as sacerdotisas no templo valiriano, absorvendo tudo que podia.

Entre todos, já se desenhavam futuros: Rhaegal prometido a uma das gêmeas Velaryon, talvez Rhaena pela suavidade ou Daenera pela força; Baela destinada aos deuses e à magia; Visenya caminhando entre a espada e a seda; e os mais novos, ainda cercados pela névoa das possibilidades.

Mas uma coisa unia a todos: o sangue de Valíria pulsava em seus corpos e, mesmo quando os ovos permaneciam frios, o chamado do fogo e da fumaça ecoava nos corações. Pedra do Dragão estava viva de novo, cheia de gargalhadas, asas e chamas — como nos dias antigos.

Com uma leve batida na porta, Daemon adentrou a sala de estar em que Rhaenyra estava reunida com suas damas de companhia.

— Boa tarde, damas, será que poderiam me dar um momento a sós com a minha esposa? — disse ele com a educação de um verdadeiro príncipe. Quem o visse agora não acreditaria que este era o mesmo Príncipe Rebelde, outrora conhecido por sua fúria e impulsos. Muitos diziam que Rhaenyra havia amolecido o guerreiro lendário. Que piada! Seu marido era um dragão — não podia ser domado. Mas a paternidade e a idade lhe haviam ensinado a arte de controlar as próprias chamas: saber quando soltar o fogo e, mais importante, contra quem.

As damas se levantaram, fizeram uma reverência rápida e deixaram o salão. Daemon caminhou até a esposa e se sentou ao seu lado, a mão repousando sobre a curva arredondada da barriga dela, gesto tão natural que já parecia hábito.

Como vocês estão? — perguntou em tom baixo, quase íntimo.

É a minha sétima gravidez, Daemon. Nesse ponto, eu sei como me cuidar — respondeu a princesa com um leve sorriso cansado.

Depois dos gêmeos, Rhaenyra havia decidido que bastava. Passara a tomar o Chá de Lua sem falhas, convicta de que sua família já estava completa. Grande fora a surpresa quando, três anos depois, mesmo com todo o cuidado, descobriu-se grávida outra vez. Maester Gerardys explicara que nenhum método era infalível, exceto o celibato. Mas abstinência não era algo que Rhaenyra jamais cogitaria. Daemon, por sua vez, divertira-se às custas do destino, rindo alto e dizendo a todos por dias que sua semente era mais forte que o Chá de Lua. Homens.

Estamos bem — completou ela, ajeitando-se na cadeira. — O que te fez interromper meu chá com as damas?

Daemon respirou fundo, os olhos escurecidos por um peso incomum. Quando falou, sua voz era grave, pesada como ferro.

— Recebi notícias de Porto Real… — ele fez uma pausa curta, como se medisse as palavras. — O Rei faleceu durante a noite.

Notes:

Ufa! Esse é o maior capítulo de todos que já escrevi para essa fic, mas foi necessário para atualizar vocês de tudo que vem acontecendo na vida da Nyra.
R.I.P. Viserys, só que não, espero que vá pro inferno depois do que fez com Aemma.

Chapter 25: Capítulo 24

Notes:

Alto valiriano em itálico

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Ano 134d.C 

Pedra do Dragão

 

Por sorte, Rhaenys estava na ilha para passar tempo com os netos. Rhaenyra mandou um criado chamá-la imediatamente. Pouco depois, a Rainha Que Nunca Foi entrou na sala de estar, onde a mesa ainda estava posta com chás e bolos intocados. Daemon e Rhaenyra permaneciam em silêncio, pesados pelo impacto da notícia.

Com exceção da visita do pai à ilha, Rhaenyra não falava com Viserys desde que fora afastada como herdeira do Trono. A verdade é que aquele homem era o responsável pela morte de sua mãe; fora ele quem a elevara ao maior status que uma mulher em Westeros poderia sonhar, e também quem a derrubara de forma humilhante e dolorosa.

Mas no fundo, parte dela lamentava. Lembrava-se do pai de sua infância: o homem sorridente que a enchia de presentes e elogios, que a deixava sentar no colo durante as reuniões do Pequeno Conselho. Talvez esse homem tivesse morrido há muito tempo — ou talvez nunca tivesse existido de verdade.

Para Daemon, o sentimento era ainda mais complicado. Recordava o irmão quando jovem: fraco, sim, mas de bom coração, curioso, interessado nos livros sobre a Antiga Valíria. Recordava também as lições de Baelon, que repetia aos filhos que irmãos deviam sempre se apoiar, como Baelon e Aemon se apoiaram até o fim.

Foi essa lição que sustentou a lealdade de Daemon a Viserys mesmo quando os defeitos do rei se tornaram impossíveis de ignorar. Ele sabia que o irmão era fraco, por isso passou a agir de forma agressiva, impulsiva, quase insensata, para compensar e evitar que a Casa Targaryen parecesse vulnerável. Mesmo quando Viserys dava mais ouvidos a Otto Hightower que a ele. Mesmo quando o exilava. Sempre ia embora, mas sempre voltava.

Porque era isso que Baelon lhe ensinara: irmãos permanecem juntos.

Mas Rhaenyra mudara isso. O amor que sentia por ela superava a responsabilidade que carregava por Viserys.

Agora que o rei se fora, o que restava em Daemon era apenas resignação. Esse fora o destino que Viserys escolhera: definhar cercado de cobras.

Assim que Rhaenys chegou, Daemon lhe deu a notícia. Os olhos dela arregalaram-se, e ela logo cruzou a sala para sentar-se ao lado de Rhaenyra.

Ābrazȳrys, você está bem? Está calada há muito tempo — disse Daemon, com certa preocupação. 

Eu estou bem, só... pensativa, minha mente tem estado distante desde de manhã, é como se eu soubesse que algo aconteceu.

Rhaenys inclinou-se para frente.

— Mais importante, Valonqranna, o que vai fazer agora?

Rhaenyra voltou o olhar para a janela. Os sons das crianças brincando no pátio chegavam até ela, acalmando-lhe o coração.

— Nada. Não faremos nada. Se a Coroa decidir fazer algo contra nós, vamos nos defender, mas até lá...

— É melhor estarmos preparados ao menos para essa possibilidade — acrescentou Daemon.

— Uma guerra conosco seria suicídio — disse Rhaenys. — Temos quatro dragões prontos para lutar na ilha. Se Laena e Laenor vierem, serão seis.

— E se eles conseguirem escorpiões? — Daemon retrucou. — Tentaram antes.

— Eu não quero guerra — insistiu Rhaenyra. — Há crianças nesta ilha. Um futuro que precisamos proteger.

— Não começaremos nada. Mas, se começarem contra nós, teremos de responder. — A voz de Daemon soava dura, inflexível.

Rhaenyra suspirou, exausta.

— Você é o especialista. O que sugere?

— Patrulhas navais no perímetro. Talvez também patrulhas aéreas, alternadas entre mim, Rhaenys e Aenar.

— Aenar? — Rhaenyra protestou de imediato.

— Ele tem dezesseis anos, é um adulto. Tinha sua idade quando se tornou Lady de Pedra do Dragão. Ele foi treinado por mim, e é um cavaleiro de dragão excepcional. — O tom de Daemon não admitia dúvidas. — Também quero começar a treinar nossos dragões para desviar de escorpiões.

Rhaenys arqueou uma sobrancelha.

— E como, pelas Quatorze Chamas, pretende fazer isso?

— Com flechas comuns. Não ferem o dragão, mas podem ensiná-lo a se esquivar.

— E podem ferir o montador — advertiu Rhaenys.

— Se não quiser, não treine. Eu e Caraxes faremos.

— Basta — interrompeu Rhaenyra, firme. — Se quiser, o faça. Mas não envolva as crianças. E assegure-se de que notícias sobre esses treinos não saiam desta ilha. Se Porto Real ou Dorne ouvirem, tomarão como desafio, como se estivéssemos nos preparando para guerra.

— O dilema de segurança — Rhaenys assentiu, entendendo o ponto da princesa mais nova.

— Dilema de segurança? — perguntou Daemon

— Imagine o seguinte cenário: Você vê que seu vizinho está comprando muitas espadas e escudos, ele pode estar só querendo se defender ou pode estar querendo te atacar, mas não tem como você saber. Na dúvida, você começa a se armar também. O vizinho vê você se armando e começa a comprar ainda mais armas, pois ele também não sabe se você está se armando para atacá-lo. É um ciclo que aumenta as tensões e pode gerar um conflito que nenhuma das partes queria.

— Entendi. Isso acontece o tempo todo nas Cidades Livres — disse Daemon. Voltou-se então para a esposa. — Garantirei que todas as nossas movimentações permaneçam em segredo.

Rhaenyra sorriu de leve, aceitando. Levantou-se devagar.

— Então está decidido. Agora, quero estar com meus filhos.

 


 

Porto Real

 

A morte de Viserys encheu a Fortaleza Vermelha de silêncio pesado. O corpo do rei foi colocado em uma pira no pátio da Fortaleza, cercado por nobres, septões e pela nobreza da corte. Mas, quando chegou o momento de acender as chamas, pairou no ar a lembrança incômoda de que não havia dragões a chamar — nem cavaleiros capazes de ordenar que uma fera cuspisse fogo em homenagem ao rei morto.

Assim, uma simples tocha foi trazida. O fogo se espalhou lentamente, consumindo o corpo de Viserys I Targaryen. Muitos sussurravam, nas sombras, que aquilo era um presságio sombrio: um rei da Casa do Dragão entregue às chamas por mãos mortais, e não pelo sopro de um dragão.

Dois dias depois, a cidade se encheu de alvoroço com a coroação. O septo da cidade estava lotado de lordes e damas, vindos às pressas de suas terras, para testemunhar a ascensão de Aegon. O príncipe foi conduzido em procissão pelas ruas, saudado por parte da população, ainda que o entusiasmo fosse forçado em muitos rostos.

Dentro do septo, Aegon foi coroado com a Coroa de Aegon, o Conquistador. Ao seu lado, Jeyelle Lannister recebeu a coroa da rainha. Alta, cabelos dourados como o sol, trazia consigo toda a imponência de Rochedo Casterly. Há seis anos casada com Aegon, dera-lhe apenas uma filha, a pequena Aelle, uma criança de cabelos loiros e olhos azuis que parecia uma Lannister não uma Targaryen.

Os boatos já corriam de salão em salão: as doenças que Aegon passara para a esposa graças a sua promiscuidade haviam marcado a rainha. Os maesters temiam que Jeyelle jamais pudesse conceber outro filho. Uma preocupação pesada pairava sobre a sucessão.

Entre os presentes, Aemond chamava atenção de todos. O jovem príncipe, agora com o lado esquerdo do rosto marcado por uma cicatriz profunda que o desfigurava — da testa até o queixo, presente de uma garra de dragão — exalava algo entre imponência e terror. Floris Baratheon, sua esposa, doce e submissa, seguia-o de perto. Grávida, ela parecia ainda mais frágil, quase apagada pela presença do marido. O olhar de Aemond raramente repousava sobre ela, mas quando o fazia, era como quem espera obediência, não carinho.

Haelena, por sua vez, não estava ali. A princesa permanecia em Jardim de Cima, ao lado do marido, Martyn Tyrell. Seu casamento, arranjado mas surpreendentemente tranquilo, dera frutos: gêmeos, um menino e uma menina, ambos herdando a aparência do pai. A ausência dela foi notada, mas comentada apenas em sussurros — alguns diziam que ela parecia mais feliz entre as rosas dos Tyrell do que jamais estivera em Porto Real.

Daeron também não compareceu. Com apenas quinze anos, ainda permanecia em Vila Velha, criado entre os Hightower. Muitos lordes murmuravam que ele já era mais leal àquela cidade do que ao próprio irmão.

A cerimônia terminou com gritos de “Viva o Rei Aegon, Segundo de Seu Nome!”. A multidão ecoou, mas os ecos pareciam vazios, como se até as pedras da cidade duvidassem da força daquele reinado.

Pois enquanto Aegon sorria, a coroa pesada em sua cabeça e a esposa ao seu lado, havia olhos frios observando. Otto Hightower, a poucos passos do novo rei, mantinha a expressão de triunfo contida, mas em seu peito o cálculo nunca cessava. Sabia que o trono era instável, que rumores sobre maldições, dragões ausentes e sucessões incertas já se espalhavam como fogo em palha seca.

A noite após a coroação foi marcada por um grande banquete no salão do Trono de Ferro. Longas mesas cobriam o espaço, lotadas de carnes assadas, vinhos caros de Dorne e especiarias vindas de Essos. Músicos tentavam preencher o ar com sons festivos, mas o peso da ocasião permanecia presente em cada palavra sussurrada e em cada olhar calculado.

Aegon, agora rei, ocupava o centro da mesa principal. Já embriagado antes mesmo do segundo prato, ria alto, gargalhadas que ecoavam pelo salão, enquanto chamava os servos com exigências incessantes. Jeyelle Lannister, ao seu lado, mantinha a postura de rainha, os ombros retos e o queixo erguido, ainda que seus olhos azuis evitassem cruzar com os do marido. A mão repousava suavemente sobre a pequena Aelle, sentada a seu lado, como quem recordava a todos que, pelo menos, dera à coroa uma filha.

Otto Hightower, com expressão controlada, observava em silêncio. Seu olhar deslizava por cada canto do salão, calculando quem estava presente, quem faltava, e o que cada ausência representava. Já previra que os sussurros sobre infertilidade e doenças de Jeyelle se espalhariam ainda mais naquela noite. Aquilo precisava ser contido, ou melhor, manipulado a favor da nova ordem.

Alicent, sentada próxima ao filho, mantinha a serenidade que aprendera a usar como máscara. Conversava em voz baixa com alguns lordes, sempre escolhendo as palavras com cautela. Ainda assim, vez ou outra seus olhos repousavam sobre Aegon, carregados de uma mistura de orgulho e desaprovação. Sabia que não era um rei ideal, mas também sabia que era o rei que ela havia ajudado a colocar no trono — e não permitiria que ninguém ousasse questionar isso.

Aemond foi talvez a figura mais imponente da noite. Seu rosto marcado pela cicatriz parecia ainda mais severo à luz das tochas. Bebia menos que o irmão e observava mais. Quando falava, era com voz firme e cortante, respondendo de forma seca a qualquer tentativa de bajulação. Ao seu lado, Floris Baratheon se esforçava para sorrir e manter-se agradável, acariciando instintivamente o ventre arredondado pela gravidez. Poucos notavam sua presença, apagada pela sombra do marido.

— Um brinde ao Rei Aegon, Segundo de Seu Nome! — proclamou Otto, erguendo sua taça.

As vozes ecoaram pelo salão, algumas fervorosas, outras hesitantes. Aegon riu alto, derramando vinho sobre a mesa, e ergueu sua própria taça.

— E que os dragões, mesmo que poucos restem, continuem a nos proteger! — disse com ironia.

Alguns riram nervosamente. Outros desviaram o olhar. Era um lembrete cruel de que não havia fogo de dragões em Porto Real, apenas ferro, intriga e ambição.

Mais tarde, enquanto a música tentava encobrir as conversas murmuradas, Alicent se aproximou do pai.

— Ele precisa se controlar — murmurou, em tom baixo, para Otto. — Cada gesto dele é observado.

Otto não desviou os olhos de Aegon, que gargalhava cercado de jovens lordes.

— Deixe-o rir — respondeu calmamente. — Que todos pensem que é apenas um jovem tolo com uma coroa. Quanto menos esperarem dele, mais fácil será movermos as peças.

Alicent fechou os olhos por um instante. Sabia que aquelas palavras eram verdadeiras, mas não deixavam de lhe trazer um peso no peito.

Do outro lado do salão, Aemond observava a cena. Seus dedos tamborilavam sobre a mesa, impacientes. O olhar fixo no irmão e no avô parecia esconder algo mais sombrio: uma promessa silenciosa de que, se Aegon falhasse, havia outro Targaryen pronto para assumir.

Enquanto Aegon ria alto e pedia mais vinho, a verdadeira música daquela noite não vinha dos músicos contratados, mas dos cochichos entre as mesas. O grande salão parecia pulsar com murmúrios, cada palavra carregada de especulação e veneno.

Os Lannister, por honra e sangue, eram agora os mais próximos da Coroa. Lorde Jason, sentado com o ar de quem havia vencido a maior das caçadas, sorria orgulhoso sempre que os olhos recaíam sobre sua filha coroada. 

— A coroa de ferro repousa sobre uma cabeça fraca, mas segura nos cofres do Rochedo — murmurou Lorde Merryweather a seu vizinho de mesa.

Os Baratheon, por sua vez, mantinham uma postura de vigilância. Lorde Borros, de peito estufado, bebia generosamente e ria das piadas de Aemond, orgulhoso de ver sua filha Floris carregando um herdeiro Targaryen no ventre. Ainda assim, os murmúrios eram inevitáveis:

— Se os dragões não voltarem a Porto Real, os trovões de Ponta Tempestade acabarão se tornando a verdadeira força por trás da coroa.

Mais ao fundo, um grupo de lordes das Terras Fluviais falava em voz baixa, sem disfarçar a preocupação.

— Sem dragões, o Trono de Ferro é apenas... ferro — disse um Blackwood, olhando em direção à mesa principal. — E ferro pode ser partido.

Outros lembravam com pesar de Pedra do Dragão.

— Rhaenyra ainda vive, e os filhos dela montam dragões. — A voz era baixa, mas carregada de peso. — Talvez seja melhor não esquecer que o fogo ainda arde na ilha.

Essas palavras se espalhavam como brasas escondidas sob a cinza.

Otto, em silêncio, ouvia o suficiente para compreender o quadro. Havia orgulho entre os aliados, sim, mas também medo, desconfiança e até mesmo desprezo velado. A legitimidade de Aegon fora selada pela coroa e pela cerimônia, mas não pelo fogo.

 


 

O Salão do Conselho estava mais frio que de costume. O luto ainda pairava sobre a Fortaleza Vermelha, mas, diante do trono recém-ocupado, os homens não podiam se dar ao luxo de lamentar. O velho rei estava morto, e o jovem rei precisava governar.

Otto Hightower, mais ereto do que nunca, tomou seu lugar à mesa, os olhos verdes atentos a cada detalhe. Ao seu lado, Alicent mantinha a compostura serena, mas os dedos inquietos sobre o tecido do vestido denunciavam sua tensão.

Aegon entrou sem pressa, com a coroa ainda mal ajustada sobre a cabeça e uma taça de vinho já na mão. O novo rei parecia mais interessado no peso dourado do anel do que nas responsabilidades que o esperavam.

— Sentem-se — ordenou ele, antes mesmo de se acomodar. — Vamos acabar logo com isso.

A mesa se compôs: Ser Criston Cole, agora Lorde Comandante da Guarda Real pois Ser Harrold tinha se aposentado; Lorde Jason Lannister era o novo Mestre da Moeda; Lorde Borros Baratheon era o novo Mestre da Lei; Grande Maester Orwyle; e Otto, como Mão do Rei.

Otto iniciou sem demora:

— Sua Graça, como já deve ter ouvido no banquete, há inquietação entre os lordes. Muitos ainda murmuram o nome de Rhaenyra. — Sua voz era calma, mas firme. — O sangue de dragão dela e de seus filhos é a ameaça mais visível ao seu reinado.

— Que murmurem mais alto, e eu lhes arranco a língua — retrucou Aegon, entediado, bebendo um longo gole de vinho.

Borros sorriu com aprovação. — É assim que um rei deve falar. Mas Otto está certo, meu rei. Uma coroa sem dragões pode parecer frágil.

— A coroa não precisa de dragões — Jason Lannister interveio, altivo. — Precisa de ouro. E disso, nós temos de sobra.

— Ouro não assusta soldados, Lorde Jason, nem derruba muralhas — cortou Criston Cole, a mão no punho da espada. — Homens seguem força. Dragões são força.

Um silêncio desconfortável caiu sobre a mesa. Até Aegon desviou os olhos do vinho.

Otto respirou fundo, aproveitando o peso do momento. — Não podemos inventar dragões, mas podemos forjar alianças. Já demos o primeiro passo: Rochedo Casterly e Ponta Tempestade estão conosco. Em breve, buscaremos também o apoio dos Tully, dos Arryn e dos Stark.

— Os Stark? — Aegon bufou, rindo. — Eles mal saem de suas tocas. O que me importa se o Lobo do Norte me reconhece ou não?

— Importa que ninguém siga Rhaenyra — Otto replicou, sem se deixar abalar. — Um só apoio a ela pode acender uma guerra.

Alicent, até então em silêncio, falou com suavidade, mas sua voz cortou como lâmina:

— O povo precisa ver estabilidade. Se murmuram sobre dragões, devemos mostrar-lhes que o rei governa com justiça e prosperidade. O ouro dos Lannister, os exércitos dos Baratheon, a fartura dos Tyrell... cada um pode ser um pilar. E enquanto isso, devemos sufocar os boatos de Pedra do Dragão antes que se tornem brasas.

Otto assentiu. — Mandaremos espiões a Pedra do Dragão e a Derivamarca. Nada do que Rhaenyra fizer pode nos pegar de surpresa.

O vinho já havia tomado a mente de Aegon, que ergueu a taça e sorriu preguiçoso.

— Muito bem. Vocês planejem o que quiserem. Desde que eu tenha minha taça cheia e minha cama quente, que o mundo faça sua reverência.

Otto disfarçou o aperto no maxilar. O verdadeiro fardo do reino cairia sobre ele, como sempre soubera. Mas agora, com a coroa sobre a cabeça do neto, recuar não era mais possível.

 

Notes:

O dilema da segurança é um conceito real de relações internacionais, eu nunca pensei que algum dia eu ia usar o meu curso em uma fanfic hauahauaua

Notes:

Alto Valiriano:

Velma: Tia (irmã mais velha de seu pai)

Valonqranna: sobrinha (filha de seu irmão mais novo ou filha de dois irmãos seus)

Sim elas não são tia/sobrinha, mas faz mais sentido elas se verem asim do que como primas, acho.